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Shirlei Massapust
6:1 Era uma vez, quando ʿadam se multiplicou sobre a face1 desta
terra (Israel) e teve descendentes de sexo feminino, 6:2 os
descendentes varões de elohim vigiaram as descendentes virago
de ʿadam, porque eram boas para desposar, e levaram dentre elas
todas as que haviam escolhido. 6:3 YHWH falou: “Não controlarei
o fôlego de ʿadam para sempre. Por esta razão minha própria
carne durará cento e vinte anos”. 6:4 Havia nefelîm no chão
naqueles dias e também, logo depois, quando os descendentes
varões de Elohim foram às descendentes virago de ʿadam e elas
engravidaram para dar filhos a eles. Estes foram nossos ʿgbōrîm,
os honoráveis homens longevos.
1 Quando Gênese 6:1 menciona a prosopopéia “face da terra” ()פני האדמה, lendo isto ao pé da letra, literalmente, seria
como se a forma feminina ʿadamah ( )אדמהtivesse um rosto tal como sua forma masculina ʿadam ( )אדםindicativa do
Homo sapiens. A principal diferença entre o barro vermelho ʿadamah ( )אדמהe a terra fértil comum ʿerets ( )ארץé o seu
uso em artesanato.
haʿelohim ( )בני האלהיםcom viragos filhas de ʿadam, categoria benoth haʿadam
()בנות האדם, também resulta na formação de ʿgbōrîm → ʿnefelîm.
Numa hipótese de união da mulher israelita com migrante ou emigrante
estrangeiro, longe de sucumbir à aculturação pela influência da alteridade, a
esposa mantém sua identidade educando filhos nos usos e costumes regionais.
Entretanto, talvez não seja sensato descartar a hipótese onde ʿelohim ( )אלהיםse
refira à entidade alienígena habitante do universo paralelo do mundo das ideias.
A narrativa se aproxima da conclusão em Gênese 6:3, com um comentário
de YHWH sobre a cenografia dada. A divindade pronuncia uma decisão que eu
não decifrei muito bem. Francamente, me parece que YHWH estava usando o
corpo de alguém ali como avatar e tal pessoa viveu cento e vinte anos (ou ʿadam
é um corpo controlado remotamente por YHWH, por prazo determinado).
Na obscura frase “não controlarei o princípio motor de ʿadam para sempre”
()לא־ידון רוחי באדם לעלם, o verbo controlar ( )דוןé o mesmo que denota o poder
de governo e/ou o poder judiciário. Numa hipótese onde YHWH fale em não mais
ditar mandamentos com força de lei, para o Homo sapiens ()אדם, por todo o
sempre, a deidade estipularia um prazo prescricional para suas disposições ou
proclamaria a vacância do cargo ocupado por si. Mais sensato seria conceber
uma hipótese alternativa onde YHWH não abandona a humanidade e sim
interrompe o controle de um determinado corpo humano ( )אדםdirigido por meio
do fôlego ou princípio motor, ruach ()רוח, inserido na carne, bašar ()בשר, durante
o longevo período de vida de cento e vinte anos ()מאה ועשרים שנה.
Se ʿelohim ( )אלהיםé algo que se condensa em ectoplasma, ruach ()רוח,
na intenção de entrar na carne, bašar ()בשר, do corpo físico, ʿadam ()אדם, então
nunca houve migrantes nem imigrantes. Eram todos nativos da região. Gente
incorporada, mas não por um breve momento. A divindade entra no feto e nele
permanece durante todo período de vida do corpo físico. Igual Kṛṣṇa. (Todos
somos deuses, desde que vivos, porque a vida é manifestação da divindade?)
tìrkm.yd.ìl.kym
wyd ìl.kmdb.
àrk.yd. ìl.kym
w.yd.ìl.kmdb.
2 GIBSON, J. C. L. Canaanite Myths and Legends. Londres, T& T Clark, 2004, p 125.
3 Seguindo hipótese de Gibson este Šaḥar (šḥr), filho de El, é o pai epônimo do clã Bnei Šaḥar ( בני שחרcitado no início
do documento 4Q298) ao qual pertencia o homem chamado Hylyl Ben Šaḥar ( היליל בן שחרmencionado em 1Q Isaª,
coluna XII, linha 14). Contudo, não há no texto o menor indício de conexão entre KTU 1.23 e 4Q298 e Isaías 14:12.
4 Tenho lido sugestões de que Šalem (šlm) seria a raiz do termo Jerusalém, talvez um hipotético padroeiro da cidade.
5 GIBSON, J. C. L. Op cit, p 126.
As raízes canaanitas dos Filhos de Deus nos proporcionam um
vislumbre, na antiguidade, dessas figuras e tornam claro que se
trata realmente de seres divinos. O uso da expressão pelos
israelitas tem sua origem no acervo do conhecimento tradicional
herdado dos canaanitas.6
O status de divindade eloha ()אלה, com plural comum e plural majéstico elohim
()אלהים, é uma forma hebraica atualizada do sufixo/prefixo ʾĒl ()אל, derivado do nome
próprio masculino singular ʾĒl na escrita cuneiforme e literatura cognata.
Elohim ( )אלהיםadjetiva os elementos não humanos que usaram a si mesmos
como protótipos a serem replicados em aparência na narrativa da criação dos bonecos
de argila industrializados que deram início à raça humana (Gênese 1:26-27).
Como Elohim ( )אלהיםconsegue gerar descendência, Bnei Elohim ()בני־האלהים,
se eloha é originalmente composto de ruach ()רוח, um corpo abstrato de ectoplasma7?
Quando o(s) pioneiro(s) vivifica(m) a matéria pela inserção de ruach em bašar, que é o
corpo humano, o ser vivo, ser movente, se torna apto a executar a função reprodutiva
pela união fecunda, gerando mais unidades de bašar para os Bnei Elohim ()בני־האלהים
que ainda não haviam tido oportunidade de encarnar (Gênese 6:3).
Não há perda de potência no lapso ente a primeira e a terceira geração. O
milésimo primogênito em linha sucessória ainda poderia ser alcunhado Ben Elohim se
não fosse pelo fato dos netos, bisnetos, etc., preferirem homenagear o contemporâneo
ʿEnaq ( )ענקcom novas alcunhas personalizadas: Bnei ha ʿEnaq ( )בני הענקe ʿEnaqim
()ענקים. Isto, claro, quando não se agrupavam noutros clãs.
Repare que há uma falha na hipótese supracitada, pois o pré-requisito da vida
humana excluiria a pré-existência de Bnei Elohim ( )בני־האלהיםtrabalhando na criação
do mundo (Gênese 1; Jó 38:7) e deliberando no conselho celeste (Jó 1:6 e 2:1; Salmos
89:7 e 29:1). Se eloha reproduzia-se enquanto tal, mesmo antes de encarnar, isto não
6 HENDEL, Ronald S. Quando os Filhos dos Deuses se Divertiam com as Filhas dos Homens. Em: SHANKS, Hershel
(Org) Para Compreender os Manuscritos do Mar Morto. Trd. Laura Rumchinsky. Rio de Janeiro, Imago, 1993, p 182-183.
7 Talvez não seja inútil mencionar um caso isolado de homofonia. Em aramaico, aṭma ( )אטמאsignifica “coxa”. Em
sânscrito, desde a cultura védica, ātmā (आत्म) é um corpo de ectoplasma capaz de transmigrar a um corpo humano.
é estéril como as forças antropomorfas da natureza na mitologia grega, todas incapazes
de gerar heróis sem parceria humana. Embora não haja ʿgbōrîm → ʿnefelîm sem pessoas,
verificamos dentro do contexto narrativo que de fato há Elohim em abundância.
A mais antiga versão do Deuteronômio 32:8 diz que YHWH repartiu as nações e
fixou fronteiras para os povos conforme o número dos Bnei Elohim ()בני אלהים. Por isso
YHWH é a única divindade de Israel.8 Há mais deles, porém não em território israelita.
É digno de nota o episódio9 no qual o rei Šaul sai do território israelita e viaja à
’Ên Dôr na intenção de consultar uma Baálat-ôv ()בעלת־אןב, título que designa a função
duma mulher especializada em conjurar os mortos ilustres. Ele lhe pede que entre em
contato com seu velho conhecido Šamuel ( )שמןאלe ela o faz anunciando: “Eu vi Elohim
saindo da terra” ()מן־הארץ עלים ראיתי אלהים. O que acontece em 1 Samuel 28:13? Um
humano finado consta entre os Elohim? Assim me parece. Desde que pessoas possam
vir a ser Elohim, terminamos com uma sucessão de metamorfoses valorativas e retorno
à condição original: ʿelohim → ʿgbōrîm → ʿnefelîm → refāim → ʿelohim.
ʿgbōrîm ()גברים
O adjetivo ʿgbōur ()גבור, plural ʿgbōrîm ()גברים, deriva do verbo ʿgbr ()גָּבַר, que
significa vigor e virilidade, descarga de adrenalina. De acordo com Raymond Van
Leeuwen, professor de Estudos Bíblicos, emérito da Universidade de Toronto, ʿgbr ()גבר
é o antônimo do verbo ḥlš ( )חלשe ambos representam, respectivamente, o aumento e
a diminuição do vigor físico e/ou mental de alguém, em qualquer situação10. Por
exemplo, em Êxodo 17:11 e 17:13 lemos que ʿgbr (בר
ַַ ָּ )גé a potência motivacional que
a liderança de Moisés confere ao exército de Israel, ao lutar contra a tropa de Amelek.
8 Ronald S. Hendel. “Quando os Filhos dos Deuses se Divertiam com as Filhas dos Homens”. In. Hershel
Shanks (Org) Para Compreender os Manuscritos do Mar Morto. Imago, Rio de Janeiro, 1993. Pág. 180.
9
O episódio de 1 Samuel 28:3-25 começa quando, num ato de intolerância religiosa, o rei Šaul expatria antepassados
ovôt ( )אבןתe conjuradores yideonim ()ידענים. Então YHWH deixa de responde-lo por intermédio dos profetas e ele fica
sem ter a quem consultar sobre uma guerra iminente.
10 LEEUWEN, Raymond C. Van. Isa 14:12, Ḥôlēš ‘al gwym and Gilgamesh XI, 6. Em: Journal of Biblical Literature, Vol.
99, Nº 2 (Jun., 1980), p 176-177.
Ezequiel 32:27 descreve militares ou mercenários11 que desceram à Šheol
()שאול, o lugar dos mortos, enterrados com suas armas de guerra ()כלי־מלחמתם, sendo
por isto conceituados pelo rótulo honorável ʿgbōrîm nefelîm ()גבורים נפלים.
Num contexto narrativo de elogio da guerra, tudo indica que nefelii ()נפלין, plural
nefelîm ou nōfelîm ()נפלים, deriva do verbo cair, nefel ()נפל, e descreve a boa morte.
Imagino que ʿgbōrîm nefelîm sejam heróis nacionais de Israel e arredores.
De acordo com Józef Tadeusz Milik (1922-2006), tradutor da editio princeps dos
fragmentos aramaicos do Livro dos Vigilantes, tal opúsculo chama os filhos dos
vigilantes de gibbor ( )גבריןe nefîlā ()נפיליא12. O autor de 4EnGiantsc inclui entre eles o
herói Guilgamés ( סימגלגou )גלגׁמיש13, personagem que leva o nome do rei de Uruk, o
qual a literatura cuneiforme contemporânea à ocupação de Tel Dan descrevia como
descendente direto dum gênio lillû (ab-ba-ni li2-la2).14
Outros registros de novelistas de Ḫirbet Qumrân somam os nomes do rei Aḥîram
()אחירם, que governou uma região mais ao norte da montanha, e dos carismáticos anti-
heróis Mahawai ()יוהמ, Ohyah ()היהוא, Hahyah ()היהה, Ḥôbabiš ( )שבבוחe Adk ()כדא.15
Era possível integrar a categoria sendo um trabalhador comum. Jeremias 6:15 informa,
sobre os cidadãos israelitas, que os justos jazem entre os nefelîm ()לכן יפלו בנפלים. Todos
que não causavam desgosto ( )הבעותe desapontamento ( )שובna comunidade eram
dignos de respeito e recebiam a visita de YHWH. Apenas a sanção penal ( )ידעוconferia
o estigma da indignidade.
O parágrafo de 1Q Isaª Col. XII, linhas 6-17, que expõe a causa da morte do
instrutor de madeireiros Hylyl Ben Šaḥar informa que ele teve a vida encurtada ao
fraturar a bacia num acidente de trabalho (queda de árvore). A proximidade dos verbos
nefelth ( )נפלתהe ḥlš ( )חלשsugere uma morte rápida. O corpo foi decentemente sepulto
numa cisterna funerária, um nível de terra acima do finado clã Kôchevêi ʾĒl” ()לכוכבי אל,
tendo o personagem ganho um trono ( )כסאentre os tronos ( )מכסאותםdos rafāim ()רפאים,
na necrópole Šheol ()שאול.
refāim ()רפאם
11 Um mercenário é alguém que aluga sua força física para trabalhar temporariamente como segurança, transportador
de cargas, estivador, soldado, caçador, etc. Ou seja, este profissional é o valoroso homem forte que faz um pouco de
tudo.
12 MILIK, J.T. The Books of Enoch: Aramaic Fragments of Qumrân Cave 4. Oxford, Oxford University Press, 1976, p 299.
13 MILIK, J.T. The Books of Enoch, p 29-313.
14 Epopéia de Gilgameš (iii 18). Em: SHIPP, R. Mark. Of Dead Kings and Dirges: Myth and Meaning in Isaiah 14:4b-21.
Atlanta, Society of Biblical Literature, 2002, p 92-93.
15 MILIK, J.T. The Books of Enoch, p 29 e 313.
Historicamente, o conceito de rafā ()רפא, plural refāim ()רפאם, é tão antigo que
antecede à cultura israelita. Eles formavam a classe aristocrática entre os mortos. R.
Mark Shipp transliterou e traduziu o Livro do Sacrifício aos Rafāim (RS 34.126/KTU
1.1161) do Rei Niqmaddu16. J. N. Ford compilou vasto material sobre o chamamento
dos refāim num artigo aceito no prestigioso periódico acadêmico Ugarit-Forschungen17.
Conforme exposto, no que concerne ao pano de fundo da cenografia bíblica,
numa ocasião feliz teríamos ʿgbōrîm se tornado ʿnefelîm e depois refāim.
A expressão Senhor dos Exércitos aparece dezenas de vezes na Bíblia. Isaías
1:24 explica claramente que a própria divindade vai à luta: “YHWH comanda o poderoso
exército de Israel” ()יהוה צבאות אביר ישראל. E comandava mesmo, na forma de vento
congelante, tornado, etc. Porém, o povo necessitava de treinamento intensivo para
conviver com uma natureza tão temperamental. Um dos títulos de YHWH é El Šadai
()אל שדי, conforme lido em Êxodo 6:3, o que pode ser traduzido literalmente como “Deus
Morto” ou “Deus Fantasma”; possivelmente semelhante a Indra (इन्द्र), personificação da
guerra entre povos arianos, ou ainda Yama (यम), a Morte na mitologia hindu.
O plural de šadai ( )שדיé šedim ()שדים. Parte da população firmou uma identidade
baseada nesta variante do culto, pois o novo clero averiguou que “eles faziam sacrifícios
para os šedim” ( )לשדים לשדיםe não para Elʾha Elohim ( )אלה אלהיםconforme o habito
dos antepassados (Deuteronômio 32:17). Extremistas sacrificavam filhos e até filhas
para šedim que tinham uma espécie de congá ( )עצביהםornado com estátuas produzidas
por artesãos regionais (Salmo 106:36-39).
Ignoro se a diferença entre šedim ( )שדיםe refāim ( )רפאיםera apenas o fato do
gênio familiar ( )שדser enterrado num cômodo da casa, na posição fetal, dentro de um
garrafão, enquanto o rāfā ( )רפאficava deitado num aconchegante sarcófago de madeira
enterrado na necrópole ()שאול. O deus de Israel é alcunhado El Šadai ( )אל שדיem Êxodo
6:3, mas também YHWH Rāfā ( )יהוה רפאem Êxodo 15:26. A cultura local associava seu
deus a todos os tipos de mortos.
16 SHIPP, R. Mark. Of Dead Kings and Dirges: Myth and Meaning in Isaiah 14:4b-21. Atlanta, Society of Biblical Literature,
2002, p 57.
17 FORD, J. N. The “Living Rephaim” of Ugarit: Quick or Defunct? Em: Ugarit-Forschungen, Band 24 (1992), p 73-101.
Monumento megalítico da segunda era do bronze (3000–2700 a.C.), na parte alta de Golan, feito
de pedras basálticas arrumadas na forma de quatro círculos concêntricos. O maior círculo possui
cento e cinquenta metros de diâmetro, com 2,4m de altura. Arqueólogos exploraram um cômodo
no centro parecido com um túmulo, contendo objetos que normalmente costumam ser deixados
em túmulos, mas nenhum esqueleto foi encontrado. Os habitantes da região o chamam por
diferentes nomes, sendo um deles Círculo dos Rafaʾīm ()גלגל רפאים.
18 Deuteronômio 3:10-11 diz o seguinte: “10Todas as cidades da planície, todo o Guilead, todo o Bashán até Salchá, e
Edrêi, eram cidades do reino de Og, em Bashán. 11Porque somente Og, rei de Bashán, foi que restou dos Refaim. Eis
aqui seu leito de ferro, de certo está em Rabat Amon; tem nove cúbitos de comprimento e quatro cúbitos de largura,
segundo o cúbito do homem”. O cúbito ou côvado era medido pela distância entre o cotovelo e as pontas dos dedos.
Segundo o rabino Meir Matzliah Melamed, “o exegeta Rashi disse que os cúbitos mencionados neste versículo se referem
aos cúbitos do rei gigante. E, segundo o Talmude (Berachot 54), Og arrancou uma imensa montanha de três milhas, o
que parece impossível fazer um homem que tem aproximadamente oito cúbitos daqueles de um homem normal”
(MELAMED, Rabino Meir Matzliah. Torá: A Lei de Moisés. São Paulo, Sêfer, 2001, p 512-513). Noutras fontes é dito que
Og seria o único sobrevivente dentre os rafāîm porque nadou ao lado da arca de Noé quando as águas do dilúvio subiram,
prometendo servi-lo e aos seus descendentes para sempre, em troca de alimento (Pirkei D’Rebbe Eliezer 23).
tamanho duma árvore conífera, mas um homem tão alto quanto meu finado tio Serafino,
que chegou à idade adulta com dois metros e trinta e dois centímetros de altura.
O problema é que não há registros médicos de alguém com 4,11m. Enfermos de
gigantismo crescem em média de 2,30m a 2,72m, faltando mais 1,30m para preencher
o caixão de Og.
19 MOSES MAIMONIDES. The Guide of the Perplexed. Trd. Shlomo Pines. Chicago, University of Chicago Press, 1963,
vol 2, p 407-408.
20 O fato de alguém descender de Rapā ()רפה, um fantasma, muito provavelmente significa que era órfão ou que o nome
do pai era Rapā mesmo. Afinal, o cognato Rafael é nome dado a muitos bebês ainda hoje.
A medicina sustenta que a causa do aparecimento do sexto dedo é uma herança
genética autossômica dominante.
21 HENDEL, Ronald S. Quando os Filhos dos Deuses se Divertiam com as Filhas dos Homens. Em: SANKS, Hershel e
outros. Para Compreender os Manuscritos do Mar Morto. Trad. Laura Rumchinsky. Rio de Janeiro, Imago, 1992, p 316,
nota 10.
Filhos dos homens grandes de Órion, nativos da terra prometida (Qiryat Arba)?
22 KOUTOUPIS, Petros. The Nephilim: Their Origins and Evolution, p 4. Publicado no portar Graham Hancock, em
12/04/2007. Link: <https://grahamhancock.com/nephilim-origins-koutoupis/> Acessado em 04/05/2017, às 12:23h.
Números 13:33 os ascendentes de ʿEnaq são adjetivados por um termo cognato à
nephîlā ()נפילא, nome de Órion no manuscrito 11Q10.
Poderemos então concluir que uma geração de personagens foi constituída de
avatares cujo princípio motor procedeu dum ponto específico no espaço sideral? Existe
pelo menos um conto tardio onde, à época do dilúvio mítico, os Bnei Elohim peticionam
a YHWH requerendo passagem deste planeta para Ursa Maior, porque tal lugar no
espaço lhes era preferível à morada nas Plêiades, Ursa Menor ou Órion.23
yelîde hāʿEnaq ()ילידי הענק, Bnei ha ʿEnaq ()בני הענק, ʿEnaqim ()ענקים
23 SEPHER REZIAL HEMELACH: The Book of the Angel Rezial. Trd. Steve Savedow. San Francisco, Weiser Books,
2000, p 111-112.
Caleb expulsou a família inteira de Qiryat Arba, renomeou a cidade como Ḥevron
e proibiu o comércio de livros24 no entorno. Os ʿEnaqim burlaram o ostracismo
retornando às montanhas de Israel quando a oportunidade surgiu, mas tornaram a ser
perseguidos durante a reforma religiosa de Josué. Apenas em Gaza, Gat e ʿAšdod
alguns sobreviveram (Josué 11:21-22).
Teriam dois filhos de ʿEnaq se tornado porteiros e tesoureiros do templo de
YHWH em Ḥevron? Teria um caso fortuito produzido um incêndio neste local cheio de
oferendas votivas crepitantes? O autor do Livro de Números achou que a ocorrência se
deu porque YHWH não estava feliz com o governo de Arba nem com a prestação de
serviço dos seus descendentes na cidadela. A balbúrdia foi tanta que os malditos
tiveram de migrar para o sul.
Em Deuteronômio 2:10-11 e Gênese 14:5 é dito que os descendentes de ʿEnaq
continuaram a ser chamados de ʿEnaqim ( )ענקיםa despeito da evolução numérica que
fez do clã uma tribo e da tribo uma nação. Em Šawe Qiryataym, cidadela ou
assentamento estabelecido em território moabita, ao sul de Israel, tal povo era
alcunhado ʿAmim ( )אמיםou ʿAimim ()אימים, plural de ʿAmh ( )אמהou ʿAimh ()אימה.
Também ali eles inspiravam temor reverencial. A população local formulava rezas tais
como a imprecação no Livro de Jó 13:21: “Tire sua mão de mim e não deixe que ʿAmh
me amedronte” ()כפך מעלי הרחק ואמתך אל־תבעתני.
O Deuteronômio 2:11 informa que, entre os descendentes de ʿEnaq, havia repāîm
( )רפאיםou, mais especificamente, que repāîm eram fabricados por eles (יחשבו אף־הם
)רפאים. Isso significa que tais pessoas mumificavam os mortos?
Em Gênese 14:5 uma coligação de reis promoveu um tipo de intervenção federal
no intuito de abafar protestos que culminaram numa guerra civil pela independência das
colônias da planície. Os descendentes de ʿEnaq residentes em Šawe Qiryataym
constavam entre os agitadores vencidos na ocasião da varredura que pôs um fim aos
repāîm ( )רפאיםde ʿAšterot Karnayim.
Este era o cemitério onde o impressionante mausoléu de Og ()עוג, rei de Bašan,
fazia a alegria de romeiros e turistas. Segundo o Deuteronômio 3:11, faltou espaço
numa gruta ou cisterna funerária para enterrar Og ()עוג, rei de Bašan, entre os repāîm.
Ele ficou na superfície, acima de todos, provavelmente na casa da cisterna onde
algumas poucas urnas funerárias ficavam visíveis para apreciação pública. Seu
24 Caleb prometeu sua filha em casamento a quem tomasse Qiryat Séfer. Otniel ( )עתיאלfoi o destruidor da “zona livreira”
onde presumivelmente trabalhavam escribas e fabricantes de pergaminhos. Ele desposou a princesa A¢sà (עכסה, talvez
cognato ao sânscrito ākāśa आकाश) e o lugar foi renomeado Devir ()דביר. (Josué 15:16, Juízes 1:12).
sarcófago de ferro ( )ערש ברזלtinha nove côvados (cerca de 4,11m) de comprimento e
quatro côvados (1,8m) de largura.
O exemplo de Arba e seus descendentes demonstra que os heróis de uma nação
automaticamente se revelam personae non gratae para os conquistadores da mesma
nação. De heróis, eles passaram a anti-heróis, formando bandos de opositores
desterrados e anarquistas.