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Professor Fabio Sabino

A Farsa do Sábado

Introdução.

O Sábado é uma criação do povo hebreu? A origem do Sábado foi uma adaptação
de algum registro anterior? Será que a origem do Sábado antecede os registros bíblicos?

Seria possível que os hebreus reformularam uma história mesopotâmica sobre


deuses que descansaram em um sétimo dia e transformaram este motivo em um
descanso de Deus no sétimo dia?

1. A origem do Sábado.

A origem do sábado certamente não se encontra com os próprios hebreus. Em


última análise, deve “ser rastreado aos ancestrais nômades dos hebreus e dos cananeus,
que prestaram principal “homenagem à lua”, cuja luz benigna guiava em suas jornadas
noturnas sobre as planícies do norte da Arábia”.1

A origem do sábado judaico foi considerada o dia de um festival lunar,


semelhante a um costume babilônico,2 assim como os documentos cuneiformes parecem
conter um termo Sabattu ou Sabattum, idêntico em forma e significado com a palavra
hebraica Sabbaton.3

Esta tabuinha de barro é um dos episódios da epopeia da criação. Narra como o


deus Anshar convoca os deuses juntos para um banquete. Eles celebram a nomeação do
deus Marduk como campeão; Marduk derrotou Tiamat no caos primitivo.4

1
Cf. Kent, Israel's Laws and Legal Precedents, p. 257
2
Cf. Schrader, Sultud u Krit., 1874
3
Cf. Journal of Biblical Literature, Vol. 18, No. 1/2 (1899), pag 190.
4
Da biblioteca de Assurbanipal em Nínive (atual província de Ninawa, Iraque), norte da Mesopotâmia .
Período neo-assírio, século VII a.C. (Museu Britânico, Londres).

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O Enuma Elish (também conhecido como As Sete Tábuas da Criação) é o mito da


criação da Mesopotâmia, cujo título é derivado das linhas de abertura da peça. O mito
conta a história da vitória do grande deus Marduk sobre as forças do caos e seu
estabelecimento da ordem na criação do mundo.

Todas as tábuas contendo o mito, encontradas em Ashur, Kish, biblioteca de


Assurbanipal em Nínive, e outros locais escavados, datam de 1200 a.C, mas seus
colofões indicam que todas são cópias de uma versão muito mais antiga do mito que
data muito antes da queda da Suméria em 1750 a.C.

Esta identificação é posta em causa por estudiosos,5 que defendem que no


Babilônico e Assírio o termo não significa “descanso,” mas “propiciação” (isto é, da
divindade).6

Outros estudiosos7 mantêm a identidade substancial das instituições babilônicas-


assírio e hebraico. Defende-se a escrita cuneiforme lendo Sabattum, o qual é
desenvolvido pela expressão hum nu 1ibbi (= dia da expiação), o qual é idêntico em
forma e significado com o vocábulo hebraico Sabbaton.8

Conclui-se que o Shabat hebraico era assim chamado porque nos dias da
Babilônia foi um dia de propiciação, uma cerimônia necessária pelas restrições ligadas a
eles. Os hebreus modificaram a concepção mais antiga do dia em duas indicações:
destacaram a partir da conexão com a lua, fazendo-a cair a cada sete dia em computação
contínua; e, ainda, descartaram outras condições, eles enfatizaram abstinência do
trabalho e, assim, se fez o dia do descanso, e, finalmente, uma instituição fundamental
da religião.

1.1. Adoração. O sábado provavelmente remonta à mais remota antiguidade semítica


como, sacrifício, adoração de ancestrais e similares, era evidentemente uma instituição
compartilhada por todos.

O nome, sábado, aparece pela primeira vez na Babilônia e como uma instituição
pode, de fato, ser rastreado até os primeiros habitantes pré-semitas daquela terra, os
“sumérios”.9 Isto é ainda sugerido por todas as referências ao sábado na literatura
babilônica que são atualmente conhecidos.10

5
Cf. Jensen (77imes SS, 16 de janeiro, 1892)
6
E que nem todo sétimo dia, mas apenas alguns dias no mês (dias, 7, 14, 19, 21 e 28) foram marcados
fora por regulamentações específicas de proibição; Ele acrescenta, porém, que estes dias têm uma
semelhança geral para o sábado judaico.
7
Cf. Jastrow, In the Amer. Journ of Theol., for April, 1898. HIis article contains a number of interesting
remarks.
8
A designação do sábado semanal, o primeiro e oitavo dia do festival da Colheita ou Tabernáculos, o dia
da expiação, e do Ano Sabático
9
Em uma tabuinha bilíngue, K. 6012 + K. 10684, contendo uma lista dos dias do mês, aparece a equação
U-XV-KAM= Sha-bat-ti (linha 13), i. e. o dia 15 do mês era conhecido na Babilônia como o Shabattu e,
além disso, é o único do mês que tem esse nome. Cf. Pinches, PSBA, 1904, pag 51. Agora o mês
babilônico era um mês lunar de aproximadamente 30 dias e o 15º dia, ou o meio do mês, seria o dia da lua
cheia. Inferiríamos, então, que o sabattu era idêntico ao dia da lua cheia e somente a ele.
10
Noutro texto bilíngüe, C. T. XII 6, 24, temos a equação U (Sumerian para "dia"), Sha-bat-tu, i. e. o
sábado era para os babilônios "o dia" por excelência, um dos grandes dias de festa do mês.

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Na obra, “a História da Criação”, 11 os sinais acima devem ser lidos Sha-bat-tu. Se


o sábado era o dia da “lua cheia” para os babilônios, se espera que fosse o mesmo com o
início do povo Hebreu, a quem foi mais ou menos indiretamente comunicado. Aqui,
novamente, a evidência parece confirmar as expectativas.12

O mandamento do sábado, cujo conteúdo mudou no decorrer dos séculos,


encontra-se em todas as fontes da Lei mosaica.13 Na antiga Babilônia, uma festa da lua
cheia também era realizada no dia 15 do mês. Neste dia o trabalho era interrompido
porque era um dia de azar e deveria ser gasto em penitência e oração.14

Este dia de lua cheia chamava-se shapattu.15 Existem conexões entre o shappatu
Babilônico e o sábado de Israel? Shappatu não era realizado todas as semanas, sua
datação estava ligada ao ciclo da lua, era o de um dia de penitência marcado por
proibições.

1.2. Os patriarcas. Não pode haver dúvida razoável, que algum tipo de sábado foi
observado antes de 2000 a.C., época em que Terá e sua família faziam suas emigrações
entre outros povos. Parece provável, que a casa de Naor estava em Acádia.

Ur Kasdim de Gênesis 11: 28 foi identificado com Ur das inscrições cuneiformes,


um lugar no sul da Babilônia. Esta Ur, pelas inscrições, era a sede do culto ao deus da
lua. A outra cidade mencionada na Bíblia como um local de permanência dessa família
é Haran na Messopotâmia.16 mesma fonte, era a sede do culto do deus da lua, Sin.

Assim, a primeira e a segunda casa dos ancestrais migrantes dos hebreus eram
lugares onde o culto da lua era especialmente cultivado, e onde o sábado em uma forma
desenvolvida ou germinal era provavelmente conhecido. Parece provável, então, que o
sábado hebraico e a divisão semanal do tempo seja uma instituição pré-mosaica muito
antiga, não originária dos israelitas, mas trazida por eles do sul da Babilônia.

Assiriólogos em relação a semana de sete dias, findos por um sábado, é tido como
uma instituição de origem babilônica. Na verdade o povo hebreu despojou o paganismo
do Sábado antigo aos seus fins éticos e religiosos.

11
Cf. He Creation Story, Tablet V 18
12
Cf. Isaias 14:4 e 24:8 onde o vocábulo dá o mesmo sentido para com o babilônico.
13
Cf. Exodo 34:21 (J); Exodo 23:12 (E); Exodo 20:8-11 e Deuteronomio 5:12–15 (Decálogo); Números
23:1–3; 19:3; 26:2 (H); Exodo 31:12–17; 35:1–3 (P). Cf. Cf. Budde Sabbath, pag 203.
14
Como ûm nu… libbi, “um dia de pacificação do coração (ou seja, dos deuses). Cf. Hehn Sabbatfrage,
pag 201.
15
Cf. T. G. Pinches, “Sapattu, the Babyl. Sabbath,” Proceedings of the Society of Bibl.. Archaeology, 26
(1904), pag 51–56.
16
Cf. Genesis 11:31.

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A origem do sábado certamente não se encontra com os próprios hebreus. Em


última análise, deve “ser rastreado até aqueles ancestrais nômades dos hebreus e dos
cananeus, que prestaram homenagem à lua, cuja luz benigna os guiava em suas
jornadas noturnas sobre as planícies do norte da Arábia”.17

1.3. As provas arqueológicas que a Bíblia não é o livro mais antigo do mundo.

Período Uruk III (cerca de 3200-3000 a.C).18

Ur (mod. Tell Muqayyar), 2900-2700 a.C.19

17
Cf. Kent, Israel's Laws and Legal Precedents, pag 257.
18
Publicação principal MSVO 1, 012 Autor(es)Englund, Robert K. & Grégoire, Jean-Pierre Data de
publicação1991 Publicações secundárias OUTUBRO 07, 098 Coleção Museu Britânico, Londres, Reino
Unido Museu nº. BM 116629 Nº de acesso Proveniência incerto (mod. Jemdet Nasr) Escavação nº.
Período Uruk III (cerca de 3200-3000 aC) Datas referenciadas Tipo de objeto tábua Observações Material
argila Língua indeterminado GêneroAdministrativo Subgênero Comentários CDLI Origem do catálogo
20011204 protocuneiform_catalogue fonte ATFEnglund, Robert K. Tradução sem tradução Biblioteca
UCLA ARK 21198/zz001q1xm6 Composto nº. Selo nº. Sx CDLI nº. P005079.
19
Museu Britânico, Londres, Reino Unido. Nisaba 25, 02

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2. O descanso dos deuses. Será que existe uma noção de deuses descansando no
sétimo dia nos mitos mesopotâmicos? Segundo o registro mesopotâmico todos os
deuses descansavam no sétimo dia, isso porque o homem havia perturbado o descanso
dos deuses com o seu “clamor”, e assim foram aniquilados pelas águas do diluvio, e do
silêncio resultante permitiu-os descansar.20

A ideia de descanso faz referência aos deuses. O Shabattum babilônico era um dia
de descanso para os deuses, isto é, quando os deuses descansavam de sua ira, quando
sua ira era aplacada.21 A noção bíblica de que Deus descansou no sétimo dia se vê em
Gênesis 2:2.

Gênesis 2:2 Gênesis 2:2 Gênesis 2:2


E, havendo Deus acabado καὶ συνετέλεσεν ὁ θεὸς ἐν ‫שּׁבִיעִי‬
ְ ‫ַויְכַל אֱֹלהִים בַּיּוֹם ַה‬
no dia sétimo a sua obra, τῇ ἡµέρᾳ τῇ ἕκτῃ τὰ ἔργα ‫ְמלַאכְתּוֹ ֲאשֶׁר ָעשָׂה ַויִּשְׁבּ ֹת‬
que tinha feito, descansou αὐτοῦ ἃ ἐποίησεν καὶ
‫שּׁבִיעִי ִמכָּל־ ְמלַאכְתּוֹ‬
ְ ‫בַּיּוֹם ַה‬
no sétimo dia de toda a sua κατέπαυσεν τῇ ἡµέρᾳ τῇ
obra, que tinha feito. ἑβδόµῃ ἀπὸ πάντων τῶν ‫ֲאשֶׁר ָעשָׂה‬
ἔργων αὐτοῦ ὧν ἐποίησεν

a) Deus descansou? Dizer que Deus terminou o trabalho no sétimo dia pode
parecer implicar que ele estava trabalhando naquele dia. Por esta razão, algumas versões
e comentaristas modernos mudaram o vocábulo “sétimo” para “sexto”.22

Entretanto isso estraga a repetição tríplice do vocábulo “sétimo” nos versículos 2-


3, e ignora a tradução do vocábulo ‫“ כלה‬e ele terminou”. O vocábulo hebraico ‫שׁבָּת‬ ַ
tem três sentidos intimamente relacionados: “deixar de ser”, “desistir do trabalho” e
“observar o sábado”.

O segundo sentido é central aqui, embora uma vez que Deus se absteve de
trabalhar no sétimo dia, posteriormente chamado de sábado, a ideia sabática também
está próxima.

No entanto, é impressionante que o sábado não seja mencionado pelo nome. E


isso sugere porque os babilônios chamavam o décimo quinto dia do mês, o dia da lua
cheia, Šapattu; então o escritor do Gênesis, não querendo confundir os dois, evitou o
termo.23

Foi sugerido que a observância do sábado se desenvolveu a partir de grandes


festivais, que geralmente duravam sete dias, e o costume de fazer o último dia de um
festival em um sábado foi posteriormente colocado em uma base semanal.24

20
O Dilúvio de Shuruppak
21
Cf. Jensens article on a battu in Zeitschriftfiir Assyriologie, IV, pag 274-5.
22
Cf. Newman, The Bible Translator 27 [1976], pag 101-4. GS lê no “sexto dia” (Jubileus, 2:16, e
Jerônimo).
23
De qualquer forma, na Mesopotâmia os dias 7, 14, 19, 21 e 28 de cada mês foram considerados por
alguns como azar. Parece provável que o sábado israelita tenha sido introduzido como um contra-ataque
deliberado a este ciclo regulado pela lua.
24
Cf. Stolz, Theologisches Handwörterbuch zum Alten Testament, ed. E. Jenni and C. Westermann
(Munich: Kaiser, 1971) 2:863- 69.

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3. O Sábado na Era Pré-Exílica.

O descanso absoluto do trabalho é ordenado pelo mandamento do sábado. Esta


ordem não pressupõe necessariamente condições agrícolas como as obtidas em Israel
somente após a conquista. Poderia muito bem ter sido observado por nômades. Portanto,
a guarda do sábado remonta aos primórdios da religião do Tetragrama.

A proibição do trabalho foi então transformada em uma santificação positiva do


sábado, e mais tarde foram dadas razões expressas.25 O benefício do descanso sabático
não é apenas para o israelita e sua família, mas também para escravos e animais
domésticos.26

Em Deuteronômio 5:15 o sábado não é baseado na obra da criação do Senhor e


seu descanso no sétimo dia, mas é dado um lembrete de que Israel era um escravo e o
Senhor o trouxe com mão poderosa e braço estendido.

“porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que


o Senhor, teu Deus, te tirou dali com mão forte e braço
estendido; pelo que o Senhor, teu Deus, te ordenou que
guardasses o dia de sábado.”

Assim como Senhor libertou o povo da escravidão no Egito, o escravo deve ser
libertado do trabalho no sábado.27 Os deveres para com Deus e o próximo são assim
fundidos para formar uma unidade indissolúvel.

4. O Sábado na Era Pós-Exílica.

O sábado, junto com a circuncisão, adquiriu maior importância. Em distinção dos


gentios, somente Israel guardava o sábado a cada sete dia como um dia santo ao seu
Deus.28

São dadas regras detalhadas sobre os números e tipos de sacrifícios a serem


oferecidos no sábado, quando as ofertas podem ser feitas novamente no templo.29

A legislação sacerdotal também atribui um significado especial ao mandamento


do sábado. Chama o sábado como um sinal entre o Senhor e Israel.30 Proíbe
categoricamente o trabalho com penas muito severas: aquele que profanar o sábado
deve ser morto.31

25
Cf. Êxodo 20 e Deuteronômio 5. O argumento no Exodo 20:8-11, que ecoa Genesis 2:2 ss., pts. fora
que Senhor fez o céu e a terra e tudo o que neles há em 6 dias, e então descansou no 7º dia, abençoando e
santificando o sábado, versículo 11. 16;. Deuteronômio 5:12–1517.
26
Cf. Êxodo 23:12.
27
Cf. Ibid.
28
Cf. Ezequiel 20:12 20:13, 16, 20, 24; 22:8, 26; 23:38.
29
Cf. Ibid 45:17; 46:4.
30
Cf. Êxodo 31:13, 17.
31
Cf. Ibid 31:14 s.; 35:2.

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O sábado deve ser santificado por Israel como uma ordenança perpétua (‫בּ ְִרית‬
‫)עוֹלָם‬.32 A proibição estrita do trabalho no sábado se dava na proibição de acender
fogo,33 carregar cargas,34 realizar comércio,35 pisar o lagar de vinho, percorrer estradas36
e de forma alguma profanar o sábado de qualquer outra forma.37

Um exemplo de advertência é dado para sublinhar a seriedade do mandamento; no


deserto um homem apanhava gravetos no sábado e foi executado.38 O que for necessário
no sábado deve ser coletado e preparado no dia anterior,39 pois o sábado era o dia mais
sagrado de descanso do Senhor40 para ser celebrado no santuário.41

Cada sábado o pão da proposição era renovado42 e dois cordeiros de um ano sem
defeito eram oferecidos junto com as ofertas de comida e bebida.43 Na comunidade pós-
exílica, o mandamento do sábado foi de fato a parte mais importante da lei divina.
Aquele que santificava o sábado e o chamava de seu prazer era agradável ao Senhor.44
Aquele que observava a aliança e fazia a vontade do Senhor teria o cuidado para não
contaminar o sábado.45

32
Cf. Ibid. 31:16.
33
Cf. Ibid 35:3.
34
Cf. Jeremias 17:21 f., 24, 27.
35
Cf. Neemias 10:32.
36
Cf. Isaías 58:13.
37
Cf. Ibid 56:2.
38
Cf. Números 15:32–36.
39
Cf. Êxodo 16:22–26, 29.
40
Cf. Êxodo 35:2.
41
Cf. Levítico 23:32; Ezequiel 46:1.
42
Cf. levítico 24:8; 1 Crônicas 9:32.
43
Cf. Números 28:9.
44
Cf. Isaias 58:13.
45
Cf. Isaías 56:1-7.

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