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força da Primavera Grega – e o que
faltou
Há dez anos, rebelião popular abalou políticas de “austeridade” da Europa
– e desembocou num grande não ao neoliberalismo. Mas, por não criar
alternativas, movimento foi engolido pelas forças conservadoras. O que
isso ensina ao Brasil
Há dez anos, a Grécia foi tomada por ocupações de espaços públicos que
expressavam oposição em massa às políticas de austeridade da União
Europeia. A força do movimento residia em sua capacidade de reunir os
gregos de fora da esquerda organizada -- mas acabou sendo derrotado por
sua falta de alternativa política clara.
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internacionalismo,
(https://outraspalavras.net/) ao apontar para práticas compartilhadas de solidariedade
Crise Orgânica
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Não vista desde
(https://outraspalavras.net/) os dias da ditadura militar (1967-1974) e suas consequências
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apresenta como a “verdadeira” Grécia, separando-se assim daqueles que
agem em seu nome. Esse colapso hegemônico também foi a origem de uma
oportunidade histórica para a esquerda radical. Pela primeira vez em
décadas, a esquerda de repente se viu em posição de lutar pela hegemonia,
uma oportunidade que raramente ocorre em um regime parlamentar
maduro.
O auge da mobilização popular foi alcançado nos três dias de greve geral, nos
dias 15, 28 e 29 de junho, com a adesão atingindo níveis nunca vistos desde a
década de 1970. Nesse sentido, o movimento grego seguiu um caminho
diferente dos Indignados espanhóis, que não tiveram uma interação
significativa com o movimento sindical, e se aproxima mais dos casos egípcio
e tunisiano.
Não é exagero dizer que a crise grega exibiu elementos de uma situação
revolucionária próxima da famosa definição de Lênin, também uma das
principais fontes da noção gramsciana de crise orgânica:
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os explorados
(https://outraspalavras.net/) quanto os exploradores).
OUTRASMas a condição ausente – e mais decisiva – era outra, menos notada, que
Lênin menciona nesta mesma passagem:
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que a maioria dos trabalhadores (ou pelo menos a maioria dos
trabalhadores conscientes, pensantes e politicamente ativos) deve
compreender plenamente que a revolução é necessária, e que eles devem
estar preparados para morrer por ela.
Em outras palavras, não pode haver revolução sem apoio de massa para
soluções revolucionárias, e esse apoio não é o resultado automático de um
movimento de massa. É necessário algum tipo de preparação e intervenção
política. Este tipo de consciência coletiva estava ausente de uma revolta cujo
horizonte era moldado pela rejeição visceral da troika e dos políticos no
poder e não pela vontade de derrubar a ordem social existente. Mas o fato é
que, pela primeira vez desde as grandes convulsões dos anos 1960 e 1970, a
possibilidade de uma ruptura no equilíbrio social e político de forças emergia
no país europeu que se tornava novamente o elo fraco dentro do continente
mais central do capitalismo.
O movimento das praças de 2011 faz parte de uma longa série de eventos
insurrecionais que pontuam a história grega moderna. Mas se isso explica
sua grandeza, o caráter repentino e explosivo do levante também o tornou
altamente contraditório. O “povo das praças”, em sua maioria, carecia de
experiência anterior de organização ou mesmo de participação na ação
coletiva e, portanto, apresentou o que Gramsci chamou de um conjunto de
demandas e práticas não coerentes.
O movimento das praças não conseguiu sintetizar essas ideias como base de
um projeto político alternativo, assim como não conseguiu produzir uma
reorganização econômica alternativa que fosse além de uma rejeição à
austeridade e à tutela da troika. Compartilhava, assim, o caráter “negativo”
das revoltas da última década, que Alain Badiou definiu como o fato de o seu
principal fator unificador ser a rejeição generalizada a quem manda.
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do qual, em
(https://outraspalavras.net/) última instância, os outros levantes o seguiram. Não se tratava
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desde o início, tais objetivos pareciam fora do alcance de um movimento
eruptivo e heterogêneo, cuja vida útil seria contada em semanas. A lacuna
decisiva foi não deixar como legado um quadro organizacional, ou mesmo
um projeto próprio, capaz de elevar a luta popular a um patamar superior.
A capitulação
Apesar do seu objetivo negativo (ou defensivo), que era acabar com a
austeridade e a tutela da troika, o partido foi percebido como uma tentativa
de superar o papel tradicional, mas subordinado, de oposição atribuído à
esquerda pelo sistema bipartidário e para enfrentar a questão do poder em
termos reais. Nesse aspecto, se fosse apenas isso, o Syriza surgia como o
agente que entendia a oportunidade que a crise orgânica oferecia. Esta é uma
lição fundamental de todo o período: a mobilização popular cria as condições
para um deslocamento à esquerda, mas para que essas condições se
materializem, é necessária uma proposta política potencialmente
hegemônica.
A capitulação do Syriza não significa que nada tenha acontecido ou que uma
aposta de significado histórico não tenha sido jogada (e perdida) durante o
primeiro semestre de 2015. Mas significa que o momento crucial não foi
tanto o sucesso eleitoral do Syriza em janeiro 2015, mas o fato de que esse
sucesso eleitoral intensificou o ciclo de conflito que começou em 2010, aliás,
contra a vontade das pessoas que trouxe para o governo. O momento da
verdade veio em julho de 2015 com o referendo sobre o pacote de
austeridade da UE. A “primavera quente” de 2011 foi ressuscitada, embora
brevemente, não na vitória eleitoral do Syriza em si, mas no comício de 3 de
julho de 2015 na Praça Syntagma e os 61,3% do “não” no referendo de 5 de
julho.
Este “não” retumbante causou espanto mundial, mas foi revertido apenas
alguns dias depois e tornou-se um “sim” à austeridade da UE nas mãos
daqueles que consideravam este voto um fardo insustentável. Enquanto
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Alexis Tsipras
(https://outraspalavras.net/) assinava um terceiro acordo, a Grécia passou da noite para o
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Portanto, é crucial que as lições dessa difícil experiência não sejam perdidas.
A primeira é que mesmo um movimento de massa de tal magnitude não
pode, por si só, fornecer soluções para os problemas colocados por seu
próprio surgimento. A política continua sendo um fator necessário e, em
última análise, decisivo, moldando o resultado de qualquer situação. Mas
também fica claro que não devemos ceder a nenhuma proposta política que
se apresente
Gostou como deContribua
do texto? esquerda, mas
parase manter
recuse teimosamente a imaginar
e ampliar nosso
como garantirá um resultado vitorioso.
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Stathis Kouvelakis
É filósofo e professor de teoria política no King's College de Londres. Trabalhou
no comitê central do partido grego Syriza.
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Líder camponês nos deixou aos 85 anos. Chile, laboratório do pós- Adeus, Otelo (1934-2021)
Liderou sua gente no interior do MA contra capitalismo? Morre o líder do levante que derrubou o
jagunços e fazendeiros e ajudou a fundar as Em transe desde o grande levante social de fascismo em Portugal, em 1974. Sua
Ligas Camponesas. Na ditadura, foi 2019, país elegeu uma Constituinte – trajetória convida a relembrar um
brutalmente torturado. Sua bravura é presidida por professora mapuche – e terá movimento incomum, que passou de
reconhecida mundialmente eleição decisiva em novembro. Roteiro para revolta militar a revolução democrática e
acompanhar a possível construção, na que, por 18 meses, desafiou a ordem
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