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ARTIGO ORIGINAL

SILVA, Jhonatas Ribeiro da [1]

SILVA, Jhonatas Ribeiro da. Participação nos lucros ou resultados: O caráter


interpretativo da Lei 14.020/2020. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do
Conhecimento. Ano. 06, Ed. 10, Vol. 05, pp. 97-118. Outubro 2021. ISSN: 2448-
0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/lei/o-carater-
interpretativo

Contents [hide]
 RESUMO
 1. INTRODUÇÃO
 3.1 FIXAÇÃO DE REGRAS CLARAS E OBJETIVAS
 3.2 POSSIBILIDADE DE COEXISTENCIA DE MÚTIPLOS PROGRAMA DE PLR
 3.3 MOMENTO DE ASSINATURA DOS INSTRUMENTOS DE NEGOCIAÇÃO DA
PLR
 3.4 PERIODICIDADE DOS PAGAMENTOS
 3.5 PARTICIPAÇÃO DO SINDICATO DE EMPREGADOS NA COMISSÃO
PARITÁRIA
 4. A MANUTENÇÃO DOS VETOS AO ARTIGO 37 DO PROJETO DE LEI DE
CONVERSÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA 936/2020
 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
 REFERÊNCIAS
 APÉNDICE – REFERÊNCIA NOTA DE RODAPÉ

RESUMO

A Participação nos Lucros ou Resultados (PLR) paga aos trabalhadores é um


importante mecanismo de integração entre o capital e o trabalho, sendo
amplamente adotada pelos mais diversos setores. Além de um benefício para os
trabalhadores, essa modalidade de remuneração é bastante interessante para os
empregadores, pois não possui reflexos trabalhistas (tais como nas férias e no
décimo terceiro), tampouco sujeita-se à incidência da contribuição previdenciária. A
PLR é regulamentada pela Lei 10.101/2000, que fixa os requisitos legais para que
ela não sofra reflexos trabalhistas e tributários. Embora a Lei 10.101/2000, seja
uma legislação bastante simples, ao longo dos anos, a Secretaria Especial da Receita
Federal tem interpretado suas disposições das mais variadas maneiras, sempre com
o propósito de caracterizar o descumprimento da legislação e exigir o recolhimento
da contribuição previdenciária sobre os valores pagos a título de PLR. Recentemente,
houve a publicação da Lei 14.020/2020, que esclarece diversas disposições da Lei
10.101/2000 e reduz a discricionariedade da Receita Federal, trazendo segurança
jurídica aos contribuintes. Adotando como metodologia a análise da legislação, da
doutrina e da jurisprudência, o presente artigo procura demonstrar que a Lei
14.020/2020 tem natureza interpretativa, sendo aplicável tanto aos fatos geradores
posteriores à sua publicação quanto aos fatos geradores anteriores.

Palavras-chave: Participação nos Lucros ou Resultados, Lei 10.101/2000, Lei


14.020/2020.

1. INTRODUÇÃO

Zenão de Eleia (490-430 a.C.) foi um discípulo de Parmênides (515-450 a.C.)


conhecido por seus paradoxos, cujo um dos mais famosos é o Paradoxo de Aquiles e
da Tartaruga. Nesse paradoxo, o herói Aquiles, ao apostar uma corrida com uma
lenta tartaruga, para garantir que a disputa fosse justa, concedeu-lhe a vantagem
de largar dez metros à sua frente. À primeira vista, seria fácil concluir que Aquiles
rapidamente alcançaria e ultrapassaria a tartaruga. No entanto, Zenão sugere
exatamente o oposto: quando Aquiles alcança a marca dos dez metros, a tartaruga,
tendo largado dez metros à sua frente, teria caminhado um metro; Aquiles segue
para completar mais esse um metro que o separa da tartaruga e, ao final, constata
que ainda teria a tartaruga à sua frente, por ela ter andado 1/10 de metro nesse
meio-tempo. Mais uma vez, Aquiles percorre esse 1/10 de metro, enquanto a
tartaruga já estaria a 1/100 de metro à frente de Aquiles, e como o espaço é
infinitamente divisível, essa dinâmica se estenderia continuamente, pois Aquiles
sempre precisaria cumprir um novo trecho antes de alcançar a tartaruga (PESSOA
JÚNIOR, 2019).

Assim como se passa com Aquiles, a busca por um objetivo inatingível também
parece afligir os contribuintes na aplicação da legislação que regulamenta a
Participação nos Lucros ou Resultado (PLR). Do mesmo modo que o herói tenta
alcançar a tartaruga, os empregadores buscam adequar-se aos ditames legais para
garantir a não incidência da contribuição previdenciária sobre os valores pagos a
título de PLR, mas sempre têm o Fisco à sua frente, reiteradamente estabelecendo
novos requisitos para a fruição do benefício, ao arrepio da legislação que rege a
matéria.

A Lei 10.101/2000 estabelece os requisitos para a não tributação dos pagamentos


feitos a título de PLR pela contribuição previdenciária e pelas demais contribuições
que têm a folha de salários como sua materialidade, doravante, por simplificação,
designadas simplesmente por contribuição previdenciária. No entanto, em que pese
a simplicidade da legislação, os contribuintes têm pouca segurança em sua adoção,
pois a todo instante os auditores fiscais da Secretaria Especial da Receita Federal do
Brasil (RFB) fixam novas condições não previstas na legislação.

Veja, por exemplo, a questão do momento da formalização do instrumento de PLR.


A Lei 10.101/2000, em sua redação original, previa o seguinte:

Art. 2.º A participação nos lucros ou resultados será objeto de negociação entre a


empresa e seus empregados, mediante um dos procedimentos a seguir descritos,
escolhidos pelas partes de comum acordo:

I – comissão escolhida pelas partes, integrada, também, por um representante


indicado pelo sindicato da respectiva categoria;

II – convenção ou acordo coletivo.

§ 1.º Dos instrumentos decorrentes da negociação deverão constar regras claras e


objetivas quanto à fixação dos direitos substantivos da participação e das regras
adjetivas, inclusive mecanismos de aferição das informações pertinentes ao
cumprimento do acordado, periodicidade da distribuição, período de vigência e
prazos para revisão do acordo, podendo ser considerados, entre outros, os seguintes
critérios e condições:

I – índices de produtividade, qualidade ou lucratividade da empresa;

II – programas de metas, resultados e prazos, pactuados previamente (BRASIL,


2000).

Da leitura do inciso II do § 1.º do artigo 2.º da Lei 10.101/2000 e de sua integração


aos demais dispositivos saltam aos olhos duas conclusões: a primeira, que as partes
podem escolher diversos mecanismos de avaliação para a fixação do programa de
PLR, entre os quais “índices de produtividade, qualidade ou lucratividade da
empresa” e “programas de metas, resultados e prazos, pactuados previamente”; e a
segunda, que, com relação aos “programas de metas, resultados e prazos”, a lei
exige a pactuação prévia, sem definir previamente a quê.
Pois bem, ao longo de muitos anos, diversas categorias de empregadores e
empregados celebraram os instrumentos para o estabelecimento da PLR com a data-
base fixada para a negociação das cláusulas econômicas da categoria, o que, em
muitos casos, pode ocorrer no segundo semestre do ano em curso, sem que a RFB
nem mesmo questionasse esse critério. No entanto, depois de vários anos dessa
prática, a RFB passou a questioná-la, esposando o entendimento de que o
estabelecimento de regras prévias deve se dar antes do início do período-base
(normalmente o exercício financeiro) a que a PLR se refere – sem qualquer previsão
legal nesse sentido e contrariando uma prática tolerada durante muito tempo pela
própria fiscalização.

Na medida em que não há qualquer regulamentação acerca do que se entenda por


“previamente pactuados” e sendo os destinatários primários da Lei 10.101/2000 as
partes convenentes (empregados e empregadores), o adequado é que essas partes
definam concretamente o que entendem por condições previamente pactuadas,
segundo a realidade em que se encontrem inseridas. É por essa razão que a Lei
10.101/2000 é composta por cláusulas abertas e que comportam integração, pois,
apesar dos reflexos tributários, trata-se de instituto do Direito do Trabalho e deve
ser interpretado de acordo com os princípios deste, notadamente a simplicidade e a
informalidade decorrentes da primazia da realidade e o respeito à autonomia privada
coletiva, representada pela capacidade que empregados e empregadores têm de
regular os próprios interesses (Martins, 2002, p. 721).

Entretanto, não é isso que ocorre sob a perspectiva da relação jurídico-tributária


resultante dessa relação de direito privado, pois a RFB e seus auditores
simplesmente ignoram aquilo que as partes convenentes estabeleceram e, segundo
o entendimento mais conveniente à arrecadação, reinterpretam a lei e os fatos de
modo a invalidar as regras e os critérios adotados pelas partes, como meio de
assegurar a cobrança da contribuição previdenciária.

Foi nesse contexto que a Lei 14.020/2020 introduziu algumas disposições na Lei
10.101/2000, explicitando o sentido original do texto legal e, conquanto não traga
expressa a cláusula de sua aplicação retroativa, é com esse vetor que ela deve ser
entendida, conferindo maior segurança jurídica e previsibilidade aos contribuintes
que adotaram e adotam a PLR como mecanismo de remuneração e integração de
seus empregados, permitindo alcançar a necessária segurança jurídica.
No presente artigo, tomando por metodologia a análise dos dispositivos da Lei
10.101/2000 e da Lei 14.020/2020, bem como da doutrina e da jurisprudência,
procuraremos demonstrar que a nova legislação é simplesmente interpretativa,
aplicando-se aos fatos geradores posteriores à sua publicação, mas também aos
fatos geradores anteriores, como medida de segurança jurídica.

2. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA E
CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA
A PLR não é um instituto recente, pois, como ensina Nascimento (2002, p. 343):

A origem da participação nos lucros, para alguns, é devida ao industrial Leclaire,


dono de uma fábrica, estabelecido em Paris, que em 1827 reuniu seus operários,
retirou de uma sacola dinheiro proveniente dos resultados do empreendimento e o
distribuiu entre os trabalhadores. Outros alegam que o seu pioneiro é Robert Owen,
que na Escócia, no princípio do século XX, fez uma experiência nesse sentido.
Também o industrial francês Godin teria dado provas de sustentar a mesma ideia,
chegando, em 1880, a ceder sua fábrica aos operários.

Mesmo no Brasil, a PLR não é algo novo, pois já era prevista na Constituição de
1946, assim como na de 1967. Na Constituição de 1988, a PLR está estabelecida no
artigo 7.º, XI, que expressamente reconhece sua desvinculação da remuneração,
revelando verdadeira hipótese de imunidade.

Após a promulgação da Constituição de 1988, a Lei 8.212/1991, que dispõe sobre a


organização da Seguridade Social e institui seu Plano de Custeio, estabelecendo
concretamente a hipótese de incidência tributária da contribuição previdenciária, na
forma da competência outorgada pela Constituição Federal à União, previu
expressamente a não tributação da PLR pela contribuição previdenciária, nos termos
da lei específica. Contudo, a Lei 8.212/1991 não disciplinou as condições para a
fixação das regras de pagamento da PLR, e não o fez pela seguinte razão: a PLR é
instituto do Direito do Trabalho, com reflexos tributários, e não o contrário, de onde
emergiria a inadequação de sua regulamentação em uma lei destinada a disciplinar
o custeio previdenciário.

Essa regulamentação veio por meio da Medida Provisória 794/1994, que, após
sucessivas reedições, foi finalmente convertida na Lei 10.101/2000, que disciplina a
matéria atualmente, dispondo no caput de seu artigo 3.º que a PLR “não substitui ou
complementa a remuneração devida a qualquer empregado, nem constitui base de
incidência de qualquer encargo trabalhista” (BRASIL, 1994).

É de notar que o Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto


3.048/1999 e a Instrução Normativa da Receita Federal do Brasil 971/2009 em nada
complementam ou explicitam o conteúdo ou a interpretação das disposições da Lei
10.101/2000, limitando-se a reiterar as disposições da Lei 8.212/1991.

Essa falta de regulamentação administrativa em torno do tema tem uma causa e


uma consequência. A causa repousa no fato de que a Lei 10.101/2000 em momento
algum previu a regulamentação de seus dispositivos por ato do Poder Executivo, o
que se mostra adequado a um instituto do Direito do Trabalho cujo um de seus
pressupostos é justamente o respeito à autonomia privada coletiva, como meio de
conferir maior liberdade negocial às partes. Por outro lado, a consequência dessa
falta de regulamentação é o arbítrio da RFB, na medida em que seus auditores
fiscais fazem as vezes das partes convenentes, imiscuindo-se naquilo que elas
acordaram e efetivamente legislando no caso concreto, como se as prerrogativas
asseguradas pelos artigos 194 a 200 da Lei 5.172/1966 (denominada Código
Tributário Nacional – CTN), conferissem-lhes tal capacidade legiferante.

Na medida em que a fiscalização da RFB passou efetuar o lançamento de ofício da


contribuição previdenciária incidente sobre os pagamentos feitos a título de PLR, os
contribuintes apresentaram suas impugnações e recursos administrativos e esses
casos chegaram ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), órgão
colegiado, paritário, integrante da estrutura do atual Ministério da Economia, com
atribuição de julgar recursos de decisões da primeira instância administrativa, bem
como recursos de natureza especial, nos termos do Decreto 70.235/1972.

Até aproximadamente 2015, ressalvada uma ou outra exceção, as decisões do CARF


eram razoáveis e corrigiam muitos dos erros cometidos pela fiscalização, sem, no
entanto, compadecer-se dos casos de abuso por parte do contribuinte.

No entanto, a partir da reformulação desse órgão depois da famigerada Operação


Zelotes, verificou-se uma guinada no entendimento administrativo, especialmente
em sua Câmara Superior e por meio do mecanismo do voto de qualidade
(mecanismo que confere ao presidente da turma de julgamento, indicado pela
Fazenda, o voto de desempate), quando os julgados do CARF passaram adotar uma
tônica pró-fisco, nitidamente arrecadatória.
Cabe aqui retomar o exemplo da questão da assinatura prévia, com relação à qual a
jurisprudência do CARF, que inicialmente acatava a assinatura dos instrumentos no
curso do período de apuração, foi modificada, passando a exigir que os instrumentos
fossem assinados anteriormente ao início do período-base. A Lei 13.988/2020,
recentemente introduziu o artigo 19-E na Lei 10.522/2002, para prever que, em
caso de empate no julgamento dos processos no âmbito do CARF, a questão será
resolvida favoravelmente ao contribuinte – esperamos que essa alteração contribua
para a superação desse cenário.

3. A LEI 10.101/2000 E AS ALTERAÇÕES


PROMOVIDAS PELA LEI 14.020/2020
A Lei 14.020/2020 modificou a Lei 10.101/2000 para explicitar o sentido dos
principais dispositivos utilizados pela fiscalização da RFB a fim de descaracterizar os
programas de PLR e exigir o recolhimento da contribuição previdenciária sobre os
pagamentos feitos a esse título.

Parte das disposições veiculadas pela Lei 14.020/2020 havia sido introduzida
anteriormente no ordenamento por meio da Medida Provisória 905/2019, a qual não
foi convertida em lei e teve sua vigência encerrada pelo Congresso Nacional.

Posteriormente, durante o processo de tramitação da Medida Provisória 936/2020,


os dispositivos da Medida Provisória 905/2019 que tratavam da PLR, com algumas
modificações, foram inseridos no projeto de lei de conversão e aprovados pelo
Congresso Nacional. Contudo, por ocasião da sanção presidencial, os dispositivos em
questão foram vetados, conforme Mensagem de Veto 377/2020, nos seguintes
termos:

Os dispositivos propostos, ao disporem, por meio de emenda parlamentar, sobre


matéria estranha e sem a necessária pertinência temática estrita ao objeto original
da Medida Provisória submetida à conversão, violam o princípio democrático e do
devido processo legislativo, nos termos dos arts. 1.º, caput, parágrafo único;
2.º, caput; 5.º, caput, e LIV, da Constituição da República e da jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal (ADI 4433, Relatora Min. Rosa Weber). Ademais, as
medidas acarretam renúncia de receita, sem o cancelamento equivalente de outra
despesa obrigatória e sem que esteja acompanhada de estimativa do seu impacto
orçamentário e financeiro, o que viola o art. 113 do ADCT, a Lei de Responsabilidade
Fiscal, bem como a Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2020 (Lei n.º 13.898, de
2019) (BRASIL, 2020d).

Oportunamente, cumpre observar que a Medida Provisória 936/2020 tratava de


matérias correlatas à emenda que introduziu as alterações na Lei 10.101/2000,
quais sejam, relações trabalhistas. Ademais, diversamente do que afirmou a
mensagem de veto, não há que falar em renúncia de receita, pois a PLR corresponde
a uma hipótese de não incidência do tributo – vale dizer, não há expectativa de
arrecadação frustrada, pois tal arrecadação nem mesmo seria esperada.

Esse veto foi parcialmente derrubado pelo Congresso Nacional em sessão realizada
em 4 de novembro de 2020, e em 6 de novembro houve a publicação dos
respectivos dispositivos. Em que pese, foi mantido o veto em relação ao artigo 37, o
qual assinalava expressamente o caráter interpretativo dos demais artigos, nos
seguintes termos:

Art. 37. Para efeito de aplicação do inciso I do caput do art. 106 da Lei n.º 5.172, de
25 de outubro de 1966 (Código Tributário Nacional), têm caráter interpretativo as
alterações promovidas pela presente Lei nos §§ 3.º-A, 5.º, 6.º, 7.º, 8.º e 9.º do art.
2.º da Lei n.º 10.101, de 19 de dezembro de 2000 (BRASIL, 2020d).

Tal natureza interpretativa é de extrema importância, pois ela permite a aplicação


retroativa dos dispositivos introduzidos pela Lei 14.020/2020, viabilizando sua
utilização nos processos em curso, bem como no tocante aos eventos ocorridos
anteriormente ao início da produção de efeitos da Lei 14.020/2020.

Em que pese a manutenção do veto ao artigo 37, nos tópicos seguintes


procuraremos demonstrar que os dispositivos introduzidos pela Lei 14.020/2020 na
Lei 10.101/2000 conservam seu caráter interpretativo, considerando sua redação,
bem como o contexto em que foram introduzidos.

Propositalmente, não trataremos do artigo 3.º-A da Lei 10.101/2000, introduzido


pela Lei 14.020/2020, para prever as condições dentro das quais as instituições sem
finalidade lucrativa podem efetuar o pagamento de PLR a seus empregados, pois tal
dispositivo suscita questões adicionais no tocante à compatibilização entre a PLR e
os requisitos para o gozo da imunidade subjetiva por essas entidades, merecendo
estudo específico.
3.1 FIXAÇÃO DE REGRAS CLARAS E OBJETIVAS

A Lei 10.101/2000, no § 1.º de seu artigo 2.º, estabelece que nos instrumentos
decorrentes da negociação da PLR

[…] deverão constar regras claras e objetivas quanto à fixação dos direitos
substantivos da participação e das regras adjetivas, inclusive mecanismos de
aferição das informações pertinentes ao cumprimento do acordado, periodicidade da
distribuição, período de vigência e prazos para revisão do acordo (BRASIL, 2000).

A finalidade desse dispositivo é proteger o empregado de eventuais abusos por parte


do empregador, de modo a assegurar que o hipossuficiente tenha condições de
entender as regras do programa e que possa acompanhar a regularidade de sua
aplicação. Nesse contexto, a clareza e a objetividade das regras estabelecidas
devem ser consideradas em face da realidade das partes convenentes
(empregadores e empregados), reais sujeitos da relação jurídica decorrente do
programa de PLR, e não conforme aquilo que o auditor fiscal, estranho à relação,
repute adequado.

Logo, caberia apenas a empregados e empregadores contestar a adequação do


programa de PLR ao preceito em questão, devendo ser defeso à autoridade fiscal
imiscuir-se no conteúdo dos acordos, exceto naquilo que a legislação expressamente
autorize, por exemplo, a elaboração de um programa de PLR baseado em índices de
acidentes do trabalho, o que poderia levar à subnotificação de tais eventos, e que
por essa razão é expressamente vedado pelo inciso II do § 4.º do artigo 2.º da Lei
10.101/2020.

Contudo, não é isso o que se vê na prática, pois a fiscalização da RFB entende ser
ela a destinatária da norma e que, por essa razão, caber-lhe-ia aferir se as regras do
plano de PLR são claras e objetivas. Como desdobramento dessa postura, surgem os
mais disparatados entendimentos, por exemplo: (i) a exigência de que a
pormenorização das regras conste no instrumento de negociação (o que é
impraticável em uma empresa que possua diversos departamentos ou funcionários);
(ii) o entendimento de que em grupos econômicos não pode ser considerado o lucro
consolidado, mas apenas o da entidade que emprega o trabalhador; (iii) a
necessidade de que sempre sejam fixadas metas individuais (SANTI, 2016, p. 483-
511).
Como aponta o estudo realizado pela Escola de Direito de São Paulo, da Fundação
Getulio Vargas, realizado a partir da análise de 36 acórdãos do CARF anteriores à
reformulação que se seguiu à Operação Zelotes, “é majoritário no CARF o
entendimento de que os critérios e condições mencionados pelo § 1.º do art. 2.º da
Lei n. 10.101/00 são meramente exemplificativos” (SANTI, 2016, p. 496). No que
toca à possibilidade de utilização de documentos complementares ao instrumento de
negociação, informa esse estudo que “foram analisados quatorze acórdãos, todos no
sentido de que as metas podem ser previstas em documentos apartados” (SANTI,
2016, p. 500). O mesmo estudo revela que a jurisprudência da época não era
conclusiva acerca da possibilidade de adoção da lucratividade de outras empresas do
grupo econômico como critério para a distribuição da participação, bem como que,
de modo geral, esse colegiado era rigoroso na comprovação dos mecanismos de
aferição eleito pelas partes (SANTI, 2016, p. 510).

Anteriormente à sua reformulação, o CARF corrigia várias das irregularidades


cometidas pela fiscalização, o que denota a adequação dos procedimentos adotados
pelos contribuintes.

A Lei 14.020/2020, em linha com a legislação então vigente, bem como com
respaldo em precedentes do CARF, introduziu o § 6.º no artigo 2.º da Lei
10.101/2000, o qual estabelece:

Art. 2.º […]

[…]

§ 6.º Na fixação dos direitos substantivos e das regras adjetivas, inclusive no que se
refere à fixação dos valores e à utilização exclusiva de metas individuais, a
autonomia da vontade das partes contratantes será respeitada e prevalecerá em
face do interesse de terceiros (BRASIL, 2020b).

Veja que o dispositivo citado não modifica o texto original e simplesmente traz a
lume o que é óbvio e já era inclusive observado pelo CARF anteriormente à sua
reformulação: as partes convenentes têm liberdade para fixar as regras da PLR e
cabe a elas dizer sobre sua adequação ao caso concreto, de modo que falta a
terceiros legitimidade para contestá-las. É a explicitação do respeito à autonomia
privada coletiva inerente ao Direito do Trabalho, como vetor de interpretação dos
programas de PLR, reduzindo a arbitrariedade da fiscalização.
3.2 POSSIBILIDADE DE COEXISTENCIA DE MÚTIPLOS
PROGRAMA DE PLR

A Lei 10.101/2000 determina que os programas de PLR podem ser estabelecidos por
meio de Acordo Coletivo, Convenção Coletiva ou Comissão de Empregados e
Empregador, composta também por um representante do sindicato da categoria,
nos seguintes termos:[2]

Art. 2.º A participação nos lucros ou resultados será objeto de negociação entre a


empresa e seus empregados, mediante um dos procedimentos a seguir descritos,
escolhidos pelas partes de comum acordo:

I – comissão escolhida pelas partes, integrada, também, por um representante


indicado pelo sindicato da respectiva categoria;

II – convenção ou acordo coletivo (BRASIL, 2000).

Com base em uma interpretação muito particular das regras gramaticais, há


diversos fiscais que sustentam que o termo “um” empregado pelo caput  do artigo
2.º da Lei 10.101/2000 tem a função de enumerar quantos procedimentos e
instrumentos negociais as partes podem adotar, correspondendo a “apenas um”, e,
nesse caso, empregados e empregadores somente poderiam estabelecer um único
programa de PLR, mediante a adoção de um único dos instrumentos previstos na
legislação.[3]

Não é incomum que o empregador seja alcançado por programa de PLR estabelecido
por meio de Convenção Coletiva, a qual, como se sabe, é negociada entre sindicatos
patronal e dos empregados. Dada a amplitude de tais instrumentos (que alcançam
diversos empregadores e empregados, dentro de um mesmo setor econômico), eles
fixam regras aplicáveis à generalidade das partes, sem, no entanto, definir regras
que se adéquem às especificidades de determinada empresa e de seus empregados.

Nesses casos, conquanto a empresa precise obedecer às disposições da Convenção


Coletiva da categoria, é de seu interesse, bem como do de seus empregados, a
adoção de condições adicionais, mais adequadas à sua realidade do que aquelas
estabelecidas na Convenção Coletiva e, em geral, mais favoráveis aos trabalhadores.
Em tais situações, adotam-se programas complementares de PLR, os quais são
celebrados por meio de Acordos Coletivos de Trabalho ou de Comissões Paritárias,
vinculando apenas essa empresa (ou grupo econômico) e seus funcionários, e que
determinam regras adicionais àquelas dispostas pela Convenção Coletiva de
Trabalho.

Essa negociação complementar àquela que foi objeto da Convenção Coletiva não é
uma especificidade dos programas de PLR, mas algo intrínseco ao próprio direito
coletivo do trabalho, sendo usual a fixação de cláusulas adicionais, aplicáveis apenas
às relações de determinada empresa com seus empregados (v.g., regras sobre
banco de horas, programa de demissão voluntária, estabilidade etc.).

Além disso, voltando ao termo “um” utilizado pelo caput do artigo 2.º da Lei
10.101/2000, seu emprego é com o significado de artigo indefinido, com sentido de
“algum”, “qualquer”, ou outros correlatos, o que é revelado pelo uso pluralizado da
palavra “escolhidos”: se os procedimentos descritos podem ser escolhidos pelas
partes de comum acordo, é porque quaisquer deles podem ser escolhidos, inclusive
conjuntamente, não havendo sentido, nem mesmo semântico, na restrição imposta
pela RFB.

Esse também é os sentido do § 1.º do artigo 2.º da Lei 10.101/2000, pois, quando
este diz que “Dos instrumentos decorrentes da negociação deverão […]” (BRASIL,
2000), ele está expressamente reconhecendo a possibilidade de utilização de mais
de um instrumento de negociação e, consequentemente, a permissão para a adoção
de mais de um programa de PLR.

É justamente essa a finalidade do § 5.º do artigo 2.º da Lei 10.101/2000,


introduzido pela Lei 14.020/2020: eliminar qualquer dúvida acerca da possibilidade
de se adotarem livremente os instrumentos de negociação, inclusive de forma
simultânea, bem como de que as partes podem estabelecer diversos programas de
PLR, desde que seja respeitada a limitação à quantidade de pagamentos dentro do
exercício e do trimestre. Eis o que diz o referido dispositivo:

Art. 2.º […]

[…]

§5.º As partes podem:


I – Adotar os procedimentos de negociação estabelecidos nos incisos I e II
do caput deste artigo, simultaneamente; e

II – Estabelecer múltiplos programas de participação nos lucros ou nos resultados,


observada a periodicidade estabelecida pelo § 2.º do art. 3.º desta Lei (BRASIL,
2000).

Salta aos olhos que o dispositivo em questão não inova na ordem jurídica, mas
apenas realça o sentido original do caput  do artigo 2.º da Lei 10.101/2000, trazendo
maior segurança jurídica para todos.

3.3 MOMENTO DE ASSINATURA DOS INSTRUMENTOS DE


NEGOCIAÇÃO DA PLR

Trata-se da questão apresentada no início deste texto, sobre qual o sentido que se
deve dar à expressão “pactuados previamente”, em face do entendimento
fazendário de que os instrumentos devem assinados previamente ao período-base a
que se refere o programa de PLR.

Como mencionado anteriormente, apenas programas baseados em metas,


resultados e prazos devem ser pactuados previamente (inciso II do § 1.º do artigo
2.º da Lei 10.101/2000), não havendo o mesmo comando para programas pautados
por índices de produtividade, qualidade ou lucratividade (inciso II do § 1.º do artigo
2.º da Lei 10.101/2000).

Além disso, a Lei 10.101/2000 não define o que é “pactuados previamente”, o que
pode abrir amplo espaço de interpretação. Novamente, a resposta a essa questão
está no § 1.º do artigo 2.º da Lei 10.101/2000, quando ele prevê que nos
instrumentos decorrentes da negociação deverão constar “prazos para revisão do
acordo”, sem trazer quaisquer limites quanto a tais prazos de revisão. Nesse
compasso, se é permitido que as partes revisem o acordo a qualquer tempo,
também elas podem estabelecê-lo no momento que entenderem mais adequado,
naturalmente, desde que seja antes do pagamento – sob pena de se propiciar a
requalificação de pagamentos feitos a outro título.

Vale aqui mencionar novamente o estudo realizado pela Escola de Direito de São
Paulo, da Fundação Getulio Vargas, que, analisando a questão do momento da
assinatura do instrumento em 36 acórdãos, identificou que em 30 deles “prevaleceu
o entendimento de que a negociação pode ocorrer durante o período de apuração da
PLR” (SANTI, 2016, p. 488).

Em que pese esse histórico favorável ao contribuinte, como se viu, posteriormente à


reformulação do CARF, sua Câmara Superior modificou o entendimento até então
consolidado.

Nesse compasso, a Lei 14.020/2020, mediante a introdução do § 7.º no artigo 2.º


da Lei 10.101/2000, em linha com a legislação anterior e com o entendimento
anteriormente adotado pelo CARF, estabelece que:

Art. 2.º […]

[…]

§7.º Consideram-se previamente estabelecidas as regras fixadas em instrumento


assinado:

I – Anteriormente ao pagamento da antecipação, quando prevista; e

II – Com antecedência de, no mínimo, 90 (noventa) dias da data do pagamento da


parcela única ou da parcela final, caso haja pagamento de antecipação (BRASIL,
2020b).

Vale observar que, embora a função desse dispositivo tenha sido explicitar o real
sentido da expressão “pactuados previamente”, a fim de assegurar a necessária
segurança jurídica e reduzir a discricionariedade da fiscalização da RFB, pode-se
dizer que ele restringiu a margem negocial das partes, pois, se antes era possível
sustentar que o limite para a fixação das regras era a data do pagamento feito a
título de PLR, agora está muito claro até quando elas devem ser estabelecidas.

Assim, se, por um lado, é possível afirmar que o dispositivo em questão até mesmo
restringiu direitos dos contribuintes (e nessa parte seu conteúdo não seria
interpretativo), por outro, é inafastável seu caráter interpretativo, não havendo
como asseverar que ele tenha introduzido um benefício adicional ao contribuinte,
que deva ser aplicado apenas prospectivamente.
3.4 PERIODICIDADE DOS PAGAMENTOS

O § 2.º do artigo 3.º da Lei 10.101/2000 veda o pagamento da PLR mais de duas
vezes no mesmo ano civil e em periodicidade inferior a um trimestre civil,[4] nos
seguintes termos:

Art. 3.º […]

[…]

§2.º É vedado o pagamento de qualquer antecipação ou distribuição de valores a


título de participação nos lucros ou resultados da empresa em mais de 2 (duas)
vezes no mesmo ano civil e em periodicidade inferior a 1 (um) trimestre civil
(BRASIL, 2000).

O referido dispositivo tem a nobre função de evitar a utilização da PLR como


substituto do salário, pois, se fosse possível o pagamento mensal a esse título,
haveria grande margem para fraudes de toda ordem.

No entanto, é importante observar que, sendo a PLR tema afeto ao Direito do


Trabalho, com reflexos tributários, compete à Justiça do Trabalho dispor sobre os
conflitos individuais e coletivos que se instaurarem entre empregadores e
empregados, e essa justiça especializada, em sua mais alta corte, já manifestou o
entendimento de que o pagamento mensal da PLR é regular.[5]

Não se quer aqui advogar pela possibilidade de que, com suporte na autonomia
negocial coletiva, as partes possam livremente contrariar disposição expressa de lei,
mas simplesmente definir qual a consequência da inobservância da periodicidade
fixada pela legislação. Em outras palavras, uma vez que o empregador tenha
pagado PLR em periodicidade superior às fixadas pela legislação, seriam todos os
pagamentos feitos a título de PLR irregulares ou apenas aqueles realizados em
desacordo com a legislação? Além disso, a irregularidade com relação a um conjunto
limitado de empregados estende-se aos demais?

Sendo a finalidade da limitação dos pagamentos evitar que a PLR substitua o salário,
é necessária a conclusão de que somente com relação àqueles empregados que
receberam o pagamento em desacordo com as limitações legais poderia haver
“substituição salarial”, mantendo-se hígidos os pagamentos feitos aos demais
empregados, pois com relação a eles não há qualquer irregularidade. Como a
própria Lei 10.101/2000 não define qual a consequência pelo descumprimento desse
requisito, pensar de modo diferente implicaria uma excessiva ampliação das
consequências do descumprimento da regra.

Pelas mesmas razões, apenas os pagamentos em desacordo com o requisito do §


2.º do artigo 3.º da Lei 10.101/2000, assim entendidos como os excedentes ao
terceiro pagamento anual ou ao primeiro pagamento dentro do mesmo trimestre
civil,[6] devem ser considerados irregulares.

A jurisprudência do CARF anterior à reformulação desse órgão vai ao encontro desse


parecer. Como bem observa o estudo realizado pela Escola de Direito de São Paulo
da Fundação Getulio Vargas, em um conjunto de 15 acórdãos que enfrentaram o
tema, apenas em um deles se esposou o entendimento de que a inobservância da
periodicidade mínima desnaturaria todo o plano de PLR (SANTI, 2016, p. 513-514.).

É exatamente esse o sentido dos §§ 8.º e 9.º do artigo 2.º da Lei 10.101/2000,
introduzidos pela Lei 14.020/2020:

Art. 2.º […]

[…]

§8.º A inobservância à periodicidade estabelecida no § 2.º do art. 3.º desta Lei


invalida exclusivamente os pagamentos feitos em desacordo com a norma, assim
entendidos:

I – Os pagamentos excedentes ao segundo, feitos a um mesmo empregado, no


mesmo ano civil; e

II – Os pagamentos efetuados a um mesmo empregado, em periodicidade inferior a


1 (um) trimestre civil do pagamento anterior.

§9.º Na hipótese do inciso II do § 8.º deste artigo, mantém-se a validade dos


demais pagamentos (BRASIL, 2020b).

Importa reiterar que não há, nos dispositivos em questão, qualquer comando novo
que não estivesse contido na redação anterior da Lei 10.101/2000, tanto assim que
o próprio CARF já o adotava de modo consistente, cabendo à Lei 14.020/2020
simplesmente explicitar-lhe o significado.

3.5 PARTICIPAÇÃO DO SINDICATO DE EMPREGADOS NA


COMISSÃO PARITÁRIA

Outro tema tratado pela Lei 14.020/2020 relaciona-se à participação do


representante do sindicato dos empregados, na hipótese de a PLR ser negociada por
meio de Comissão Paritária.[7] A questão que emerge é: O que ocorre se o sindicato
não enviar representante? O programa de PLR será válido?

Inicialmente, pontua-se que a Lei 10.101/2000 não disciplina como resolver essa
questão.[8] Também não é o caso de instauração do dissídio coletivo de que trata o
artigo 616 do Decreto-lei 5.452/1943 (Consolidação das Leis do Trabalho – “CLT”),
pois tal mecanismo de composição é próprio da negociação de Acordos e de
Convenções Coletivas, não sendo aplicável à Comissão Paritária prevista na Lei
10.101/2020.

Em tais situações, é comum que as negociações entre os representantes dos


empregados e os representantes da empresa prossigam, ainda que sem a
participação do sindicato devidamente convocado, o que, como era de esperar,
acaba gerando autuações.

Esse tema foi pouco explorado pela jurisprudência do CARF, tanto que a pesquisa
realizada pela Escola de Direito de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, cita
apenas dois acórdãos, ambos reconhecendo “que não pode ser desconsiderado o
plano de PLR nos casos em que o sindicato foi regularmente convidado, mas não
compareceu à reunião de negociação” (SANTI, 2016, p. 488).

Portanto, nem poderia ser diferente, afinal, ante a falta de remédio jurídico para a
correção da recusa ou omissão do sindicato de empregados em participar da
negociação, não podem empregados e empregador ser frustrados na expectativa de
negociar. Não se pode perder de vista jamais que os maiores interessados na
negociação do PLR não são os sindicatos nem as autoridades fiscais, e sim
trabalhadores e empregadores.
Diante desse problema, como meio de, ao mesmo tempo, trazer segurança jurídica
e disciplinar as condições a partir das quais as partes podem estabelecer programas
de PLR mediante Comissões Paritárias, nas hipóteses de recusa ou omissão do
sindicato de empregados, a Lei 14.020/2020 introduziu o § 10 no artigo 2.º da Lei
10.101/2000, para dispor que: “Uma vez composta, a comissão paritária […] dará
ciência por escrito ao ente sindical para que indique seu representante no prazo
máximo de 10 (dez) dias corridos, findo o qual a comissão poderá iniciar e concluir
suas tratativas” (BRASIL, 2000).

Novamente, conquanto haja a fixação de um prazo objetivo, trata-se de regra cujo


sentido já se extraía anteriormente, não havendo qualquer inovação por parte da
nova legislação. Não fosse o curto prazo de dez dias corridos, seria possível até
mesmo afirmar que a nova regra é restritiva com relação ao cenário anterior, em
que partes poderiam simplesmente comunicar o sindicato da instauração da
comissão paritária e assinalar um prazo ainda mais curto (v.g., 24 horas) para que
este indicasse seu representante.

Por essa linha de raciocínio é possível sustentar que a possibilidade de


prosseguimento das negociações por meio de Comissão Paritária ante a recusa ou
omissão do sindicato dos empregados não é uma inovação introduzida pela Lei
14.020/2020, mas algo que já se fazia presente na legislação anterior e que foi
apenas mais bem explicitado e detalhado pela nova lei.

4. A MANUTENÇÃO DOS VETOS AO ARTIGO 37 DO PROJETO DE


LEI DE CONVERSÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA 936/2020

Após essas considerações, a questão que se coloca é: a manutenção do veto


presidencial ao artigo 37 do Projeto de Lei de Conversão da Medida Provisória
936/2020, que expressamente declarava a natureza interpretativa dos dispositivos
anteriormente comentados, subtrai-lhes essa natureza e prejudica sua aplicação a
fatos anteriores à edição da Lei 14.020/2020?

Em face de tudo o que até aqui se expôs, a resposta é negativa, pois não é o artigo
vetado que confere a natureza interpretativa aos dispositivos em questão, mas o
modo como eles se harmonizam com o restante da Lei 10.101/2000, a qual, ainda
na redação anterior, já externalizava o entendimento plasmado pela Lei
14.020/2020. Isso é, em grande parte, confirmado pela jurisprudência
administrativa da época, o que denota a adequação da interpretação que ela
explicita.

Nesse sentido, é seguro dizer que o artigo 37 do Projeto de Lei de Conversão era
dispositivo expletivo, que apenas acentuava a natureza interpretativa das novas
disposições.

Poderão objetar alguns que o inciso I do artigo 106 do CTN estabelece que apenas a
lei expressamente interpretativa aplica-se a ato ou fato pretérito e que a
manutenção do veto externa o entendimento de que as novas disposições se
aplicam apenas prospectivamente. Contudo, essa não é a melhor leitura desse
dispositivo e, para tanto, importa reproduzi-lo em sua integralidade:

Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:

I – em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a


aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados;

[…] (BRASIL, 1966).

Da leitura do dispositivo em tela verifica-se que sua finalidade é dar efetividade à


garantia da irretroatividade da lei em matéria tributária, pondo a salvo o
contribuinte que, com base em outra interpretação possível, atuou de modo
contrário à interpretação posteriormente externada, o que é revelado pela sua parte
final (“excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados”).
Nesse sentido, vale reproduzir as palavras de Schoueri (2011, p. 680), para quem:

Ao dispor sobre a aplicação futura da legislação tributária, o Código Tributário


Nacional assume partido no tema da aplicação retroativa, vedando-a como regra.
Assim, não só a retroatividade da lei tributária que institui novo tributo ou majora
aquele existente é vedada (o que já se extrai do comando constitucional do Princípio
da Irretroatividade), mas qualquer lei tributária que verse sobre a hipótese de
incidência tem efeitos prospectivos.

Não se pode deixar de aplaudir a atitude do legislador complementar brasileiro,


principalmente tendo em vista que no Direito comparado, não se pode falar em
universalidade do Princípio da Proibição da Irretroatividade da lei tributária gravosa
[…].
Ora, se a finalidade do inciso I do artigo 106 do CTN é a de proteger o contribuinte
dos efeitos retroativos da lei tributária, apenas se a nova interpretação agravasse a
situação do contribuinte haveria necessidade de que a previsão expressa de sua
retroatividade constasse no texto legal, o que não é o caso da Lei 14.020/2020.

De outra banda, observa Amaro (2002, p. 193) que mesmo a lei omissa quanto à
sua aplicação a fatos passados pode ser invocada pelo seu aplicador ou intérprete
para a regulação de fatos pretéritos e que isso é legítimo em algumas situações.
Baleeiro (1999, p. 670) vai além, asseverando:

“Expressamente interpretativa”, todavia, não quer dizer que o novo diploma


empregue essas palavras sacramentais, apresentando-se como tal na ementa ou no
contexto. Basta que, reportando-se aos dispositivos interpretados, lhes defina o
sentido e aclare as dúvidas.

Assim, vai ao encontro do que afirma Baleeiro (1999) o fato de que a Lei
14.020/2020 não modificou a redação dos dispositivos da Lei 10.101/2000,
limitando-se a incluir dispositivos novos, os quais, por sua vez, a todo momento
fazem referência aos dispositivos interpretados.

Nesse sentido, em que pese o Congresso não ter derrubado o veto ao artigo 37 do
Projeto de Lei de Conversão, impõe-se o reconhecimento da natureza interpretativa
dos dispositivos que a Lei 14.020/2020 introduziu na Lei 10.101/2000 e, por
consequência, a possibilidade de sua aplicação a fatos pretéritos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A estabilidade das relações e a segurança jurídica são condições para a homeostase


da sociedade, e esta não se cumpre se os destinatários da norma forem
constantemente surpreendidos por interpretações despropositadas das autoridades
fiscais, o que leva a um inevitável ponto de inflexão em que ou se supera esse
cenário, ou se assiste ao declínio das relações jurídicas.

É nesse contexto que a Lei 14.020/2020 deve ser entendida: como a norma
introduzida em um ponto de inflexão acerca dos efeitos tributários da PLR, sem a
qual esse modo de integração dos trabalhadores correria o risco de perecer, tornado
ainda mais precárias as já deficientes relações de trabalho atuais.
Como vimos ao longo deste artigo, já se extraía da redação original das disposições
da Lei 10.101/2000 o sentido explicitado pela Lei 14.020/2020, como demonstra a
jurisprudência a que fizemos referência.

Vale dizer, a redação original da Lei 10.101/2000 privilegiava a autonomia das


partes contratantes (empregadores e empregados) na fixação das regras aplicáveis
aos programas de PLR, em detrimento dos entendimentos subjetivos da autoridade
fiscal. Do mesmo modo, sempre foram possíveis a adoção e a coexistência de
múltiplos programas de PLR no âmbito de uma mesma empresa, como demonstra a
redação original do caput do artigo 2.º da Lei 10.101/2000. Também no tocante ao
momento da assinatura dos programas de PLR baseados em metas, resultados e
prazos, a Lei 10.101/2000 permitia a assinatura durante o curso do período-base, e
a Lei 14.020/2020 manteve essa premissa, trazendo balizas mais assertivas acerca
desse momento. No tocante aos pagamentos excedentes aos limites legais, a Lei
10.101/2000 jamais previu que eventos isolados pudessem macular todo o
programa, o que é consentâneo com o tratamento dispensado pela Lei 14.020/2020.
Finalmente, com relação à participação do sindicato na comissão paritária, a Lei
14.020/2020 simplesmente aclarou o que já se defluía da própria Lei 10.101/2000:
que a negativa de participação do sindicato devidamente convocado não obsta a
formação da comissão, tampouco o estabelecimento do programa de PLR pelas
partes interessadas.

Por essa razão, ainda que não disponha expressamente acerca da natureza
interpretativa de suas disposições, esta deve ser extraída a partir do contexto em
que cada tema tratado se insere, tanto em face da legislação anterior quanto da
melhor jurisprudência de então. Além disso, sendo a finalidade da Lei 14.020/2020 a
de trazer maior segurança jurídica, não é cabível interpretá-la de modo a prestigiar
justamente o oposto.

REFERÊNCIAS

AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

BALEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense,


1999.
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das Leis do Trabalho. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
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BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 18 de setembro de


1946. Disponível em:
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30 set. 2021.

BRASIL. Lei n.º 5.172, de 26 de outubro de 1966 (Código Tributário


Nacional). Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de
direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm. Acesso em: 30 set.
2021.

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em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm. Acesso
em: 30 set. 2021.

BRASIL. Decreto n.º 70.235, de 6 de março de 1972. Dispõe sobre o processo


administrativo fiscal, e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d70235cons.htm. Acesso em: 30 set.
2021.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em:
30 set. 2021.

BRASIL. Lei n.º 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da


Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm. Acesso em: 30 set.
2021.

BRASIL. Medida Provisória n.º 794, de 29 de dezembro de 1994. Dispõe sobre


a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados das empresas e dá outras
providências.  Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/antigas/794.htm#:~:text=794&text=ME
DIDA%20PROVIS%C3%93RIA%20No%20794%2C%20DE%2029%20DE
%20DEZEMBRO%20DE%201994.&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20a%20participa
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set. 2021.

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Previdência Social, e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048.htm. Acesso em: 30 set. 2021.

BRASIL. Lei n.º 10.101, de 19 de dezembro de 2000. Dispõe sobre a


participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10101.htm.
Acesso em: 30 set. 2021

BRASIL. Lei n.º 10.522, de 19 de julho de 2002. Dispõe sobre o Cadastro


Informativo dos créditos não quitados de órgãos e entidades federais e dá outras
providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10522.htm. Acesso em: 30 set.
2021.

BRASIL. Instrução Normativa n.º 971, de 13 de novembro de 2009. Dispõe


sobre normas gerais de tributação previdenciária e de arrecadação das contribuições
sociais destinadas à Previdência Social e as destinadas a outras entidades ou fundos,
administradas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB). Disponível em:
http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idAto=15937.
Acesso em: 30 set. 2021.

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista 9500-


50.2004.02.0461. Relator: Ministro Lelio Bentes Corrêa. 06.08.2010.

BRASIL. Conselho Administrativo de Recursos Fiscais. Processo n.º


16327.001327/2010-36. Acórdão n.º 2401-002.250. Relatora: Conselheira Elaine
Cristina Monteiro da Silva. 20.03.2012.

BRASIL. Lei n.º 12.832, de 20 de junho de 2013. Altera dispositivos das Leis


n.ºs 10.101, de 19 de dezembro de 2000, que dispõe sobre a participação dos
trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa, e 9.250, de 26 de dezembro de
1995, que altera a legislação do imposto de renda das pessoas físicas. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12832.htm#art1.
Acesso em: 30 set 2021.

BRASIL. Medida Provisória n.º 905, de 11 de novembro de 2019. Institui o


Contrato de Trabalho Verde e Amarelo, altera a legislação trabalhista, e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2019/Mpv/mpv905.htm. Acesso em: 30 set. 2021.

BRASIL. Lei n.º 13.988, de 14 de abril de 2020a. Dispõe sobre a transação nas


hipóteses que especifica; e altera as Leis n.ºs 13.464, de 10 de julho de 2017, e
10.522, de 19 de julho de 2002. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/l13988.htm. Acesso
em: 30 set. 2021.

BRASIL. Lei n.º 14.020, de 6 de julho de 2020b. Institui o Programa Emergencial


de Manutenção do Emprego e da Renda; dispõe sobre medidas complementares
para enfrentamento do estado de calamidade pública reconhecido pelo Decreto
Legislativo n.º 6, de 20 de março de 2020, e da emergência de saúde pública de
importância internacional decorrente do coronavírus, de que trata a Lei n.º 13.979,
de 6 de fevereiro de 2020; altera as Leis n os 8.213, de 24 de julho de
1991, 10.101, de 19 de dezembro de 2000, 12.546, de 14 de dezembro de
2011, 10.865, de 30 de abril de 2004, e 8.177, de 1.º de março de 1991; e dá
outras providências. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-
14.020-de-6-de-julho-de-2020-265386938. Acesso em: 30 set. 2021.

BRASIL. Medida Provisória n.º 936, de 1.º de abril de 2020c. Institui o


Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e dispõe sobre
medidas trabalhistas complementares para enfrentamento do estado de calamidade
pública reconhecido pelo Decreto Legislativo n.º 6, de 20 de março de 2020, e da
emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus
(covid-19), de que trata a Lei n.º 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2020/mpv/mpv936.htm

BRASIL. Mensagem de Veto 377, de 6 de julho de 2020d. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/Msg/VEP/VEP-377.htm.
Acesso em: 30 set. 2021.
MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 28. ed. São


Paulo: LTr, 2002.

PESSOA JÚNIOR, Osvaldo. Filosofia da física clássica – Paradoxos de


Zenão. 2019. Disponível em:
https://opessoa.fflch.usp.br/sites/opessoa.fflch.usp.br/files/FiFi-19-Cap05.pdf.
Acesso em: 30 set. 2021.

SANTI, Eurico Marcos Diniz (coord.). Repertório analítico de jurisprudência do


CARF.  São Paulo: Fundação Getulio Vargas-Escola de Direito e Max Limonad, 2016.

SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. São Paulo: Saraiva, 2011.

APÉNDICE – REFERÊNCIA NOTA DE RODAPÉ

2. O texto reproduzido corresponde à redação original do dispositivo.


Posteriormente, por meio da Lei 12.832, de 2013, o inciso I teve sua redação
sutilmente alterada para “comissão paritária escolhida pelas partes, integrada,
também, por um representante indicado pelo sindicato da respectiva categoria”,
sem, contudo, modificar o sentido do dispositivo em questão (BRASIL, 2013).

3. Como exemplo desse entendimento, vale citar o Acórdão 2401-002.250, em que


o relator, indicado pelo Fisco, sustentou que “o pagamento de PLR com base de dois
acordos concomitantemente, encontra-se em desacordo com os preceitos da lei
10.101/2000, devendo incidir contribuição previdenciária, sobre a totalidade dos
pagamentos realizados” (BRASIL, 2012).

4. Esse dispositivo teve sua redação alterada pela Lei 12.832/2012. Em sua redação
original, ele já continha a vedação ao pagamento da PLR mais de duas vezes dentro
do mesmo ano civil, mas, em vez de liminar os pagamentos a um por trimestre, ele
os limita a um por semestre.

5. Nesse sentido, o seguinte trecho da ementa da Seção de Dissídios Individuais


(SDI) do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ao julgar o Recurso de Revista 9500-
50.2004.02.0461: “Tem prevalecido nesta SBDI-I entendimento majoritário no
sentido de reconhecer validade a acordo coletivo mediante o qual se avença o
pagamento parcelado da participação nos lucros, em periodicidade inferior a um
semestre civil, a despeito da vedação contida no artigo 3.º, § 2.º, da Lei n.º
10.101/2000. Nesse sentido, o pagamento mensal da participação nos lucros não
descaracteriza a sua natureza indenizatória, porquanto resultante de condição
livremente avençada com o Sindicato profissional, que não suprime o pagamento da
verba, apenas estabelece a periodicidade para o seu pagamento” (BRASIL, 2010).

6. Ou excedentes ao primeiro pagamento dentro do mesmo semestre civil, na


redação anterior.

7. Lei 10.101/2020: Art. 2.º A participação nos lucros ou resultados será objeto de
negociação entre a empresa e seus empregados, mediante um dos procedimentos a
seguir descritos, escolhidos pelas partes de comum acordo: I – Comissão paritária
escolhida pelas partes, integrada, também, por um representante indicado pelo
sindicato da respectiva categoria; […]” (BRASIL, 2000).

8. Ela prevê tão somente como tratar as situações em que a negociação resulte em
impasse, prescrevendo que nesses casos as partes poderão valer-se de mediação ou
de arbitragem (artigo 4.º), o que não se aplica à recusa ou mesmo à omissão do
sindicato em compor a Comissão Paritária.

[1]
 Mestrando em Direito Constitucional e Processual Tributário pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo; Especialista em Direito Tributário pelo Instituto
Brasileiro de Estudos Tributários; Bacharel em Direito pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie. ORCID: 0000-0002-8863-3691

Enviado: Outubro, 2021.

Aprovado: Outubro, 2021.

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