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TRATAMENTO COM CORTICOIDE INTRATIMPÂNICO NA DOENÇA

DE MÉNIÈRE E SEU IMPACTO NA QUALIDADE DE VIDA


Por
 Cibele Madsen Buba
 -
RC: 41124 -22/11/2019
0
1850

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ARTIGO DE REVISÃO

BUBA, Cibele Madsen [1], HAIDA, Kamila Satomi [2], TANNO, Gisela Andrea


Yamashita [3], D’URSO, Francisco Pierozzi [4], MELO, Carlos Eduardo Fernandes
Soares de [5]

BUBA, Cibele Madsen. Et al. Tratamento com corticoide intratimpânico na


doença de Ménière e seu impacto na qualidade de vida. Revista Científica
Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 11, Vol. 02, pp. 110-129.
Novembro de 2019. ISSN: 2448-0959, Link de
acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/corticoide-
intratimpanico

Contents [hide]
 RESUMO
 INTRODUÇÃO
 MÉTODO
 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
 APRESENTAÇÃO DOS CASOS
 DISCUSSÃO
 CONCLUSÃO
 REFERÊNCIAS

RESUMO

A Doença de Ménière foi primeiramente relatada em 1861 por Prosper Ménière.


A etiologia pode estar associada a processos infecciosos (virais ou bacterianos),
anomalias do desenvolvimento do osso temporal, predisposição hereditária ou
genética, trauma, doenças autoimunes, entre outras causas. O diagnóstico é
primordialmente clínico. É caracterizada por episódios de vertigem, perda
auditiva neurossensorial flutuante, plenitude aural e zumbido. O tratamento
pode ser cirúrgico ou clínico. O tratamento clínico consiste no alívio dos
sintomas através do uso de medicamentos, ainda em avaliação clínica, são
eles: diuréticos, vasodilatadores, moduladores de fluxo sanguíneo,
bloqueadores de canais de cálcio, antidepressivos, corticoides orais entre
outros. Quando o tratamento clínico não apresenta a resolução esperada, o
tratamento cirúrgico pode ser indicado como cirurgia do saco endolinfático. O
tratamento com corticoide intratimpânico tem sido utilizado como terapia
complementar ou adjuvante em pacientes que não responderam ao tratamento
com medicação oral. Avalia-se a possibilidade de uma grande melhora na
sintomatologia e na qualidade de vida dos pacientes com doença de Ménière,
com remissão do cenário clínico e menor intervenção quando comparado ao
tratamento cirúrgico. Este estudo tem como objetivo avaliar as implicações do
tratamento com corticosteroide intratimpânico em um grupo de pacientes
acompanhados no Serviço de Otorrinolaringologia de um hospital público de
São Paulo. Utilizamos os questionários desenvolvidos especificamente para
tonturas e zumbidos – o Dizziness Handicap Inventory (DHI) e o Tinnitus
Handicap Inventory (THI), respectivamente.

Palavras-chave: Doença de Mèniére, Betaistina, Corticoide intratimpânico.

INTRODUÇÃO

A tríade sintomática da Doença de Ménière – perda auditiva, zumbido e


vertigem, em episódios recorrentes – foi primeiramente relatada, em 1861, por
Prosper Ménière. É uma das mais frequentes labirintopatias, com prevalência
de 46 a 200 casos em cada 100 mil indivíduos 1. Conforme evidenciado por
Munhoz et al, não se nota diferença de distribuição entre os sexos e a
manifestação ocorre preponderantemente a partir da quarta década de vida 1.

A hidropsia endolinfática (HE) é o achado histopatológico da doença e é


caracterizado pela distensão do espaço endolinfático 1-3.

A etiologia da HE é variada, podendo estar associada a processos infecciosos


(virais ou bacterianos), anomalias do desenvolvimento do osso temporal,
predisposição hereditária ou genética, trauma, doenças autoimunes, entre
outras causas1–5,10.
O diagnóstico da Doença de Ménière é clínico. Caracteriza-se por perda auditiva
flutuante, do tipo neurossensorial, zumbido e plenitude aural e episódios
recorrentes de vertigem1–11. Em 1972, foram definidos os parâmetros para o
diagnóstico clínico da Doença de Ménière pelo Comitê de Audição e Equilíbrio da
Academia Americana de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço
(AAO-HNS). Em 1995, esses critérios foram aprimorados 1–11. De acordo com os
novos critérios da AAO-HNS, indivíduos com dois ou mais episódios
espontâneos de vertigem, que durem 20 minutos ou mais, com perda auditiva
documentada em pelo menos um episódio e presença de zumbido ou plenitude
aural são classificados clinicamente como portadores de Doença de Ménière
definida1–11. O Comitê de Classificação da Sociedade Bárany, em 2015, instituiu
alguns critérios para a Doença de Ménière definida e para a Doença de Ménière
provável1,12. A doença definida foi caracterizada por dois ou mais episódios de
vertigem, cada um com duração de 20 minutos até 12 horas; por avaliação
audiológica evidenciando perda auditiva neurossensorial antes, durante ou após
o episódio de vertigem e por sintomas auditivos flutuantes – hipoacusia,
zumbido ou plenitude aural1,12. A doença provável foi determinada por dois ou
mais episódios de vertigem ou tontura, que durem entre 20 minutos e 24 horas
cada e sintomas auditivos flutuantes na orelha ipsilateral 1,12. A certeza
diagnóstica só será possível por meio do estudo do osso temporal após o
óbito13.

As audiometrias sequenciais acabam por definir o diagnóstico, uma vez que


evidenciam a flutuação da audição. A perda auditiva neurossensorial ocorre
inicialmente nos sons mais graves e evolui gradativamente para o
comprometimento das demais frequências6.

O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico14. O tratamento clínico consiste no


alívio dos sintomas através do uso de medicamentos, ainda em elucidação
clínica, são eles: diuréticos, vasodilatadores, moduladores de fluxo sanguíneo,
bloqueadores de canais de cálcio, antidepressivos, corticoides orais entre
outros14.

O tratamento com corticoide intratimpânico (CI) vem sendo utilizado como


terapia complementar ou adjuvante, em pacientes refratários ao tratamento
com medicação via oral. Avalia-se a possibilidade de grande melhora da
sintomatologia e da qualidade de vida dos pacientes com Doença de Ménière,
com remissão do quadro clínico e menor intervenção quando comparado ao
tratamento cirúrgico. A injeção intratimpânica de corticoide oferece potencial de
uma terapia órgão especifica, administrada diretamente sobre a membrana da
janela redonda evitando todos os efeitos adversos da terapia com corticoide
sistêmico.

Em 1990, foi elaborado um questionário específico para tontura, o Dizziness


Handicap Inventory (DHI) (quadro 1), visando avaliar a autopercepção dos
efeitos incapacitantes, funcionais, emocionais e físicos, provocados pela
tontura5,16. Já o Tinnitus Handicap Inventory (THI) (quadro 2), por sua vez, é
um questionário que foi desenvolvido por Newman et al. 5,17 em 1996, sendo
constituído por 25 perguntas, com um escore que varia de 0 a 100 e quanto
maior o escore, maior é a repercussão do zumbido na qualidade de vida do
paciente. Ambos foram adaptados para a língua portuguesa e podem ser
facilmente aplicados na prática clínica para a avaliação dos pacientes com
tontura e zumbido, para a quantificação do incômodo relacionado a estes
sintomas e para avaliar a resposta ao tratamento otoneurológico, seja ele
medicamentoso, cirúrgico e/ou de reabilitação vestibular 5.

A identificação dos aspectos mais afetados nos pacientes em acompanhamento


pode auxiliar na escolha da terapia mais adequada.

Quadro 1. Dizziness Handicap Inventory (DHI) brasileiro


Quadro 2. Tinnitus Handicap Inventory (THI) brasileiro
MÉTODO

Trata-se de uma série de seis pacientes com diagnóstico definido da Doença de


Ménière, conforme os critérios diagnósticos da Bárány Society, com
refratariedade ao tratamento medicamentoso com betaistina (144 mg/dia) e
submetidos à corticoterapia intratimpânica (Dexametasona) conforme protocolo
de tratamento já utilizado neste serviço de otorrinolaringologia previamente
(aplicação semanal, com intervalo de sete dias, durante três semanas
consecutivas). Houve aprovação do estudo por comitê de ética em pesquisa
(Parecer 2.798.783) e os participantes assinaram o termo de consentimento
livre e esclarecido. Foram aplicados os questionários de referência (DHI e THI)
anteriormente e posteriormente à aplicação do corticoide intratimpânico. O
questionário inicial foi realizado antes da primeira aplicação do corticoide,
quando o paciente já estava em tratamento com betaistina em dose plena por
um período de no mínimo 60 dias. O questionário referente à avaliação da
sintomatologia foi aplicado aproximadamente 30 dias após a última e terceira
dose da Dexametasona intratimpânica (DI).

CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
Foram incluídos neste estudo pacientes com Diagnóstico definido da Doença de
Ménière, conforme os critérios diagnósticos da Bárány Society: apresentar 2 ou
mais episódios de vertigem com duração de 20 minutos a 12 horas; ter exame
audiológico com perda neurossensorial documentada em pelo menos um
episódio de vertigem (antes, durante ou depois); apresentar sintomas auditivos
flutuantes (zumbido, plenitude aural ou hipoacusia) e ter sintomas não
explicados por outra patologia vestibular. Os pacientes que participaram do
estudo deveriam ter registrados em prontuários exames de audiometria,
tomografia computadorizada de alta resolução ou ressonância nuclear
magnética, laboratoriais, eletrococlegrafia e avaliação otoneurológica. A
realização de tratamento com três injeções de CI (Dexametasona), em
semanas consecutivas também foi preponderante para a inclusão no presente
estudo.

CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Foram excluídos pacientes com diagnóstico de qualquer patologia


cocleovestibular; que tenham cirurgia otológica prévia e/ou patologias de
origem central e aqueles que se negaram a participar da pesquisa. Pacientes
menores de 18 anos e/ou com incapacidade de compreender o termo de
consentimento livre e esclarecido também foram excluídos deste estudo.

APRESENTAÇÃO DOS CASOS

1º Paciente: Sexo feminino, 56 anos, hipertensa e dislipidêmica. Histórico de


tontura rotatória intensa, plenitude aural e zumbido bilateralmente, há 3 anos.
Diagnóstico unilateral à esquerda definido da Doença de Ménière de acordo com
o Comitê de Classificação da Sociedade Bárany.

2º Paciente: Sexo feminino, 60 anos, hipertensa e dislipidêmica, em


acompanhamento no ambulatório de Otoneurologia do Hospital do Servidor
Público Municipal de São Paulo. Previamente acompanhada em outro serviço, a
paciente referia histórico de tontura rotatória e incapacitante, há
aproximadamente 2 anos, com associação de zumbido e hipoacusia à direita.
As crises tinham duração de horas com vômito intenso referido. Confirmado
diagnóstico unilateral à direita definido da Doença de Ménière de acordo com o
Comitê de Classificação da Sociedade Bárany.
3º Paciente: Sexo feminino, 48 anos, diabética do tipo II, em acompanhamento
no ambulatório de Otoneurologia do Hospital do Servidor Público Municipal de
São Paulo. História de tontura rotatória, zumbido e plenitude aural
bilateralmente, há 3 anos, com sintomas intensificados à direita.

O diagnóstico foi definido da Doença de Ménière bilateralmente, conforme o


Comitê de Classificação da Sociedade Bárany.

4º Paciente: Sexo feminino, 51 anos, hipertensa, em acompanhamento no


ambulatório de Otoneurologia do Hospital do Servidor Público Municipal de São
Paulo. Referia quadro clínico de hipoacusia e zumbido intenso referido à
esquerda, há aproximadamente 2 anos. Não apresentava tontura importante,
relatando ser do tipo rotatória e esporádica. O diagnóstico unilateral à esquerda
definido da Doença de Ménière foi evidenciado conforme orientações do Comitê
de Classificação da Sociedade Bárany.

5º Paciente: S.R.G.S., sexo feminino, 55 anos, previamente hígida. Histórico de


vertigem esporádica com duração de segundos, há aproximadamente 3 anos,
associada à plenitude aural e zumbido bilaterais. Realizado diagnóstico definido
à direita da Doença de Ménière de acordo com o Comitê de Classificação da
Sociedade Bárany.

6º Paciente: Sexo masculino, 55 anos, sem comorbidades. Referindo


sintomatologia há 3 anos de vertigem com duração de horas, hipoacusia
bilateral, zumbido bilateral – mais intenso à direita –, e plenitude aural
intermitente – também mais evidente à direita. Classificado como diagnóstico
definido unilateral à direita da Doença de Ménière de acordo com o Comitê de
Classificação da Sociedade Bárany.

DISCUSSÃO

Na Doença de Ménière, os pacientes referem dificuldade de concentração


mental e fadiga diretamente relacionados ao zumbido e à tontura. A
insegurança física gerada pelos sintomas pode resultar no medo de sair
sozinho, irritabilidade, temor do diagnóstico de uma doença séria, perda de
autoconfiança, além de pânico, depressão e ansiedade 5,18–20. As doenças que
afetam o sistema vestibular implicam não apenas em problemas físicos e
emocionais, mas também na incapacidade para o desempenho das atividades
socias, profissionais e domésticas, resultando em piora importante da qualidade
de vida (QV) e da saúde mental dos pacientes 21,22.

Os testes objetivos, tais como exames de imagem, audiometria,


eletrococleografia, avaliação otoneurológica e laboratorial, são incapazes de
avaliar os danos emocionais, psicológicos e o impacto sobre o cotidiano dos
pacientes que enfrentam o diagnóstico de Ménière e é nesse contexto que os
questionários são preponderantes no acompanhamento desses pacientes 5,23.

A Organização Mundial de Saúde apresenta a definição de QV como “a


percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto de sua cultura e
sistema de valores dos quais ele participa e em relação aos seus objetivos,
expectativas e preocupações”24.

Foram desenvolvidos os questionários, primordialmente na língua inglesa, para


avaliação da QV nos pacientes em tratamento para patologias que acometem o
labirinto. Na década de 1990, Jacobson e Newman 17 criaram um questionário
específico para tontura, o DHI, tendo como meta avaliar a autopercepção dos
efeitos incapacitantes impostos pela tontura 25.

O DHI e o THI foram os questionários escolhidos para adaptação cultural para o


Português Brasileiro, uma vez que mostraram-se instrumentos confiáveis e
utilizados em vários estudos 5,25–33.

A identificação dos aspectos mais afetados nos pacientes com tontura é


primordial na escolha da terapia mais adequada 5,34. Além disso, o DHI e o THI
vem sendo aplicados como métodos de avaliação dos efeitos e resultado do
tratamento, seja ele cirúrgico, medicamentoso ou de reabilitação
vestibular  5,26,28,35
.

O presente estudo teve como objetivo comparar a QV dos pacientes, através do


uso dos questionários THI e DHI, em tratamento prévio com dose plena de
betaistina antes da aplicação de CI, em relação aos pacientes após a aplicação
de CI.

Os questionários foram aplicados aos pacientes em dois diferentes momentos:


em tratamento com dose plena de betaistina, anteriormente à aplicação de CI e
após a aplicação das 3 doses.
Em comparação à literatura5,25, sobre a aplicação do questionário DHI em
labirintopatias, pode-se afirmar que os resultados sobre aspectos físico,
funcional e emocional foram bastante semelhantes, apesar do Diagnóstico
definido da Doença de Ménière e do tratamento intensivo com altas doses
medicamentosas.

Todos os pacientes deste estudo, em tratamento com betaistina e


anteriormente à aplicação de CI, relataram em suas respostas ao DHI
comprometimento do desempenho de atividades sociais. Estas atividades
referem-se aos aspectos funcionais avaliados pelo DHI, já relatados no estudo
conduzido por Ganança et al. (2004) 5,25, em que se comprova que resultados da
pesquisa então realizada vão ao encontro das afirmações de Yardley, Putman 18,
os quais referiram que muitos pacientes com tontura restringem
conscientemente a prática de atividades físicas, viagens e interação social,
visando à redução do risco de aparecimento destes sintomas diante de outras
pessoas. Os aspectos funcionais segundo o DHI averiguaram a interferência da
tontura na capacidade de desempenhar as atividades domésticas, profissionais,
de lazer e sociais, e na independência ao se realizar determinadas tarefas como
caminhar sem ajuda25.

Ainda segundo Ganança (2004)25, os aspectos emocionais avaliados pelo DHI


também se mostraram afetados pela tontura, indicando acometimento da
saúde mental dos pacientes na Doença de Ménière, que frequentemente
apresentam ansiedade associada a ataques de pânico e sentimentos de
despersonalização, ressaltando a relação entre as alterações vestibulares e os
aspectos emocionais5,25,36–39.

Os pacientes avaliados neste estudo em tratamento com dose plena de


betaistina apresentaram, previamente à CI, grande comprometimento físico,
funcional e emocional tanto no DHI quanto no THI (quadros 3 e 4).

Quadro 03. Resultados obtidos quanto aos aspectos físicos, emocionais e


funcionais e escore total, na aplicação do DHI brasileiro nos pacientes com
Doença de Ménière em tratamento com dose plena de Betaistina.
Quadro 04. Resultados obtidos quanto aos aspectos emocionais e funcionais e
escore total, na aplicação do THI brasileiro nos pacientes com Doença de
Ménière em tratamento com dose plena de Betaistina.
Previamente ao CI e já em tratamento com dose plena de betaistina, dos 6
pacientes acompanhados, 2 apresentaram comprometimento severo; 3,
comprometimento catastrófico e somente 1 apresentou grau leve para o DHI.
Para o THI, por sua vez, 3 pacientes apresentaram resultado severo, 1
resultado catastrófico e 2 apresentaram resultado leve.

Os questionários foram novamente aplicados aos pacientes deste estudo, 30


dias após a última dose de DI (quadros 5 e 6).
Quadro 05. Resultados obtidos quanto aos aspectos físicos, emocionais e
funcionais e escore total, na aplicação do DHI brasileiro nos pacientes com
Doença de Ménière após 3 doses de Dexametasona intratimpânica.

Quadro 06. Resultados obtidos quanto aos aspectos emocionais e funcionais e


escore total, na aplicação do THI brasileiro nos pacientes com Doença de
Ménière após 3 doses de Dexametasona intratimpânica.
Após as 3 doses de CI, para o DHI, 2 pacientes apresentaram resultado
desprezível, 1 resultado moderado, 2 apresentaram severo e 1 resultado
catastrófico.

Para o THI, por sua vez, foram evidenciados 3 resultados leve, 1 resultado
moderado, 1 resultado severo e 1 catastrófico.

Não existem estudos anteriores que possam ser comparados ao uso de CI e a


aplicação do DHI e THI.
Apesar de alguns autores inferirem mínima e pouco significativa melhora nos
testes objetivos – audiometria, eletrococleografia – para avaliação da Doença
de Ménière, o que se pode evidenciar através deste estudo é que há uma
melhora relatada por 5 dos 6 pacientes à aplicação do DHI e THI, sendo
descrita piora por somente 1 paciente submetido ao tratamento com CI.

Deve-se levar em consideração o caráter subjetivo dos questionários aplicados,


sendo as respostas oriundas dos sintomas relatados pelos pacientes.

Há, portanto, a necessidade de avaliar o estado emocional e psicológico dos


pacientes, os possíveis ganhos secundários (tais como maior atenção e
cuidados dos familiares, readaptação laboral em virtude dos sintomas).

O único caso avaliado em que houve piora dos testes subjetivos foi
contraditório às provas objetivas (que evidenciaram melhora em todos os
parâmetros) e o paciente mostrava-se visivelmente abalado psicologicamente
após a aplicação das injeções de CI.

CONCLUSÃO

Os pacientes com diagnóstico definido da Doença de Ménière habitualmente


relatam dificuldade de concentração mental, perda de memória e fadiga,
oriundos do zumbido e da tontura. A insegurança física gerada pela tontura e
pelo desequilíbrio pode conduzir à irritabilidade, perda de autoconfiança, medo
de sair sozinho, receio do diagnóstico de uma doença séria, vergonha das
manifestações e sintomas, além de ansiedade, depressão e pânico. Além de
gerar problemas físicos e emocionais, a Doença de Ménière pode resultar na
incapacidade para o desempenho das atividades profissionais, sociais e
domésticas, piorando a qualidade de vida.

O presente estudo evidenciou majoritariamente melhora da sintomatologia e


das queixas funcionais e emocionais dos pacientes após o uso de CI em
comparação à alta dosagem de betaistina. Ressalta-se a possibilidade de
aplicação dos questionários após um maior intervalo de tempo do tratamento
com CI, a fim de constatar se tais melhoras persistem por um longo período ou
se novas aplicações seriam necessárias.
Contudo, mais estudos são preponderantes para avaliação e elucidação da
efetividade terapêutico no uso de DI na Doença de Ménière.

Propiciar melhora da qualidade de vida dos pacientes em tratamento é


imprescindível, uma vez que a doença, quando em crises, pode ocasionar
alterações emocionais e psicológicas de grande prejuízo.

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36. Pratt RTC, Mckenzie W. Anxiety states following vestibular disorders. The
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38. Nobbs MB. Adjustment in Meniere’s disease. In: Kyle JG Adjustment to


Acquired Hearing Loss: Analysis, Change and Learning. Bristol: Centre for Deaf
Studies; 1988.

39. Grigsby JP, Johnston CL. Depersonalization, vertigo and Meniere’s disease.
Psychol Rep. 1989;64(2):527–534.

[1]
 Otorrinolaringologista pelo Hospital do Servidor Público Municipal de São
Paulo, HSPM, São Paulo, SP. Pós graduada em Atenção Básica em Saúde pela
Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Florianópolis, SC. Médica
graduada pela Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, RS.

[2]
 Otorrinolaringologista pelo Hospital do Servidor Público Municipal de São
Paulo, HSPM, São Paulo, SP. Médica graduada pela Faculdade Evangélica do
Paraná, FEPAR, Curitiba, PR.

[3]
 Mestre em Saúde da Comunicação pela Faculdade de Ciências Médicas da
Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP. Otorrinolaringologista
pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São
Paulo, São Paulo, SP. Médica graduada pela Faculdade de Ciências Médicas da
Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo, SP.

[4]
 Otorrinolaringologista pela Real e Benemérita Associação Portuguesa de
Beneficência de São Paulo. Médico graduado pelo Centro Universitário de Volta
Redonda, UniFOA, Volta Redonda, RJ.

[5]
 Pós graduado em Cirurgia Plástica da Face pelo Instituto Brasileiro de Pós
Graduação, IBPG: Otorrinolaringologista pelo Hospital do Servidor Público
Municipal de São Paulo, HSPM, São Paulo, SP. Médico graduado pela
Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, Recife, PE.

Enviado: Novembro, 2019.

Aprovado: Novembro, 2019.

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