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A DIFERENÇA NA CONTAGEM DO PRAZO DO

NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E DA LEI


DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS
ARTIGO ORIGINAL

OLIVEIRA, Ludmila Rocha Santos [1], SANTOS, Sueli Rocha [2]

OLIVEIRA, Ludmila Rocha Santos.  SANTOS, Sueli Rocha. A diferença na


contagem do prazo do novo código de processo civil e da lei dos juizados
especiais cíveis. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano.
07, Ed. 04, Vol. 07, pp. 148-161. Abril de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de
acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/lei/diferenca-na-contagem

CONTEÚDO DO ARTIGO CIENTÍFICO [OCULTAR]


 RESUMO
 1. INTRODUÇÃO
 2. O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E O SISTEMA DE CONTAGEM DE
PRAZOS
 2.1 OS OBJETIVOS PRINCIPAIS CONTIDOS NA LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS
CÍVEIS
 2.2 A RELAÇÃO ENTRE O PRINCÍPIO DA CELERIDADE PROCESSUAL E A
CONTAGEM DO PRAZO
 3. O POSICIONAMENTO DO FÓRUM PERMANENTE DE COORDENADORES DE
JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DO BRASIL PERANTE A DIVERGÊNCIA
COM O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
 4. A DESAGREGAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS ESTABELECIDOS ENTRE O NOVO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E A LEI 9.099
 5. CONCLUSÃO
 REFERÊNCIAS

RESUMO
Com a implementação e publicação do Novo Código de Processo Civil em 2015,
surgiram vários questionamentos sobre a sua aplicabilidade em conjunto com outras
legislações complementares já vigentes. Neste contexto, o presente artigo, tem
como questão norteadora: o prazo contado em dias úteis deve ser aplicado no
procedimento dos Juizados Especiais Cíveis? Desta forma, tem-se como objetivo
geral analisar a discussão existente no que se refere a contagem de prazos no
âmbito dos Juizados Especiais Cíveis e o Código de Processo civil, que quebrou o
paradigma anterior, uma vez que esse introduziu a contagem dos prazos através da
utilização apenas dos dias úteis. Através de leituras e da realização de uma
pesquisa baseada em regramentos aplicados nos sistemas dos juizados, fóruns
qualificados e a lei aplicada até então, foi possível notar que, embora exista nota
que discipline a matéria emitida pelo FONAJE (Fórum Permanente de
Coordenadores de Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Brasil), afirmando a
discordância pela recepção do novo método, a questão traz discordâncias entre os
legisladores e aqueles que trabalham diariamente com o tema. Assim, através
análise dos pontos abordados, foi possível concluir que a falta de legislação que
discipline essa questão pode ser preenchida através da aplicação da analogia entre
julgados e legislações congêneres, para, assim, dar prosseguimento ao cômputo do
prazo de forma ininterrupta no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, de modo a
rejeitar o procedimento inaugurado com a implementação do Código de Processo
Civil de 2015.

Palavras-Chaves: Código, Processo Civil, Juizados Especiais.

1. INTRODUÇÃO
Mediante a publicação do novo Código de Processo Civil e inauguração do novo
procedimento de contagem de prazo a ser instituído pelos aplicadores do direito, o
presente artigo, tem como questão norteadora: o prazo contado em dias úteis deve
ser aplicado no procedimento dos Juizados Especiais Cíveis?

Desta forma, o presente artigo tem como intuito trazer para o centro da discussão as
relações entre a contagem de tempo proposta pelo Código de Processo Civil
implementado em 2015 (BRASIL, 2015) e o procedimento regido pela Lei 9.099, Lei
dos Juizados Especiais Cíveis (BRASIL, 1995), uma vez que a partir do novo
regramento, os prazos processuais deverão ser computados em dias úteis, o que
ocasionaria um retardo no procedimento dos Juizados Especiais.

Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho é analisar a discussão existente no que
se refere a contagem de prazos no âmbito dos juizados especiais cíveis e o impacto
gerado pelo novo Código de Processo Civil, uma vez que este quebrou o paradigma
anterior, no momento que começou a impor a contagem dos prazos através da
utilização apenas dos dias úteis.

Para aprofundar os conhecimentos sobre esse assunto a pesquisa tem como


objetivos específicos: (a) identificar as mudanças dos mecanismos referentes a
contagem de prazo inaugurados pelo Lei 13.105, de 16 de março de 2015; (b)
indicar como os Juizados Especiais Cíveis instruem sobre a contagem de prazos em
seus processos; (c) verificar as consequências provocadas pela diferença dos
mecanismos existentes com a implementação dos dois regramentos.

Os procedimentos metodológicos utilizados para sistematizar o artigo foram de


caráter bibliográfico, sendo realizadas leituras e a realização de uma pesquisa
baseada em regramentos aplicados nos sistemas dos juizados, fóruns qualificados e
a lei aplicada até então.

O tema abordado nesse artigo é de relevância social, uma vez que com a
publicação do Novo Código de Processo Civil foi inaugurado mudanças
significativas nos procedimentos dos processos judiciais, necessitando de uma
preparação para os operadores do direito instrumentalizarem o Código e suas
diferenças com outras searas das causas cíveis.

2. O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E O


SISTEMA DE CONTAGEM DE PRAZOS
O novo Código sancionado pela Lei de número 13.105/15, causou debates entre a
comunidade jurídica por conta da inauguração de diversos procedimentos a serem
compreendidos e aplicados por todos de maneira imediata. Algumas mudanças
inauguradas a partir da Lei que entrou em vigor em março de 2015, foram: institutos
como o amicus curae, os parâmetros para a incidência da litigância de má fé, a
inversão do ônus da prova, a possibilidade da complementação das guias para o
recurso, e por fim, a contagem dos prazos em dias uteis (BRASIL, 2015).

Dessa maneira, como reflexo da quebra dos paradigmas anteriormente


consolidados através do Código de Processo Civil, instituído em 1973, pela Lei de
número 5.869, temos, como exemplo, a mudança na contagem. Nesse contexto,
verifica-se que o novo regramento retira o critério da contagem de prazo processual
em dias corridos, ou seja, considerando sábado e domingo, e inicia a aplicabilidade
do procedimento de contagem apenas em dias úteis, conforme é possível notar
através do trecho destacado abaixo:

Art. 218.  Os atos processuais serão realizados nos prazos prescritos em lei.

§ 1oQuando a lei for omissa, o juiz determinará os prazos em consideração à


complexidade do ato.

§ 2oQuando a lei ou o juiz não determinar prazo, as intimações somente obrigarão a


comparecimento após decorridas 48 (quarenta e oito) horas.

§ 3oInexistindo preceito legal ou prazo determinado pelo juiz, será de 5 (cinco) dias o
prazo para a prática de ato processual a cargo da parte.

§ 4oSerá considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo.

Art. 219.  Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz,
computar-se-ão somente os dias úteis.

Parágrafo único.  O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos


processuais. (BRASIL, 2015)

É importante salientar que para a sociedade contemporânea, a otimização do tempo


tem sido elemento basilar para a resolução de inúmeras situações judiciais. Assim,
é notório que o maior obstáculo brasileiro quanto a resolução dos processos
judiciários é em relação ao tempo, uma vez que as multiplicidades de
procedimentos acarretam a lentidão na resolução das demandas. De outro modo, é
válido chamar atenção para o papel dos advogados frente à grande demanda de
processos em trâmite, visto que é necessário a atuação deles para a ponderação
quanto às regras de procedimento em cada âmbito do direito e a reflexão, por fim,
sobre a multiplicidade existente em um mesmo ramo (GRINOVER et al., 1996).

Segundo a doutrina, a mudança de paradigma tem vários objetivos, entre eles


podemos destacar o papel de um dos operadores do direito, o advogado. A partir
dessa concepção, com a mudança inaugurada pelo código, seria assegurado aos
advogados uma contagem de prazo de acordo com o período de seu expediente
(JUNIOR, 2015).
Diante da metodologia antiga de contagem de prazos, os representantes das partes
não aproveitavam os dias referentes aos finais de semana, feriados ou recesso, pois
era necessário utilizá-los, por exemplo, para a elaboração das peças, ou ainda para
a continuação do trabalho em seu momento de descanso. Assim, muito embora seja
questionado o prolongamento do tempo para os prazos, há de se destacar certa
vantagem, já que em certos casos, dependendo da data específica para contagem,
o prazo tornou-se quase o dobro se comparado com a metodologia anterior ao Novo
Código (MESQUITA, 2016).

Outro ponto a ser discutido quanto a esse assunto, é sobre a efetividade da


representação. Com o novo sistema de contagem de prazo, é possível a dilação do
tempo para as partes processuais adotarem as medidas mais eficazes quanto às
suas demandas. Deste modo, tornou-se claro as diversas justificativas suscitadas
como razão para a mudança do paradigma supracitado elaborado pelo legislador do
Novo Código (GRINOVER,1988).

2.1 OS OBJETIVOS PRINCIPAIS CONTIDOS NA LEI


DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS
A lei de Juizado Especial foi criada no ano de 1995 para abrandar a crise
institucional em relação às causas de menor gravidade. Para isso, houve uma
adequação dos discursos jurídicos brasileiros que justificaram que o acesso à
justiça é a finalidade do Direito Processual. Sendo assim, é função deste apontar os
diversos tipos de procedimentos, apresentando a instância formal do Estado de
Direito para solucionar os conflitos nas áreas do direito público ou privado.

Os Juizados Especiais vêm promovendo grandes mudanças no Poder Judiciário


através da aplicação da Lei 9.099 (BRASIL, 1995). Assim, é possível notar que, no
artigo 2º da Lei dos Juizados Especiais Cíveis, onde se afirma que “o processo
orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia
processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a
transação”, considera-se, claramente, que o foco principal da Lei é finalizar o
processo de maneira rápida e eficiente, mas para isso faz-se necessário levar em
consideração alguns pontos deste regramento.

Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e


julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:

 I – As causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário-mínimo;

 II – As enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;

 III – a ação de despejo para uso próprio;

 IV – As ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado
no inciso I deste artigo.

§ 1º Compete ao Juizado Especial promover a execução:


 I – Dos seus julgados;

 II – Dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até quarenta vezes o salário-
mínimo, observado o disposto no § 1º do art. 8º desta Lei.

§ 2º Ficam excluídas da competência do Juizado Especial as causas de natureza


alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, e também as
relativas a acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das pessoas,
ainda que de cunho patrimonial.

§ 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito


excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação

Art. 5º O Juiz dirigirá o processo com liberdade para determinar as provas a serem
produzidas, para apreciá-las e para dar especial valor às regras de experiência
comum ou técnica.

 Art. 6º O Juiz adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime,
atendendo aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum.

 Art. 7º Os conciliadores e Juízes leigos são auxiliares da Justiça, recrutados, os


primeiros, preferentemente, entre os bacharéis em Direito, e os segundos, entre
advogados com mais de cinco anos de experiência.

 Parágrafo único. Os Juízes leigos ficarão impedidos de exercer a advocacia


perante os Juizados Especiais, enquanto no desempenho de suas funções.
(BRASIL, 1995)

Assim sendo, podemos citar o papel do juiz, que se torna o principal conciliador dos
processos de menor complexidade, onde se busca agilizar a resolução das
demandas através das possibilidades concedidas às partes. Vale ressaltar que, no
início da lei, este procedimento obteve aceitação entre os magistrados e tornou-se
um sucesso total, promovendo a conciliação de conflitos entre as partes, havendo
assim a conciliação e o juízo arbitral:

Art. 21. Aberta a sessão, o Juiz togado ou leigo esclarecerá as partes presentes
sobre as vantagens da conciliação, mostrando-lhes os riscos e as conseqüências do
litígio, especialmente quanto ao disposto no § 3º do art. 3º desta Lei.

 Art. 22. A conciliação será conduzida pelo Juiz togado ou leigo ou por conciliador
sob sua orientação.

Parágrafo único. Obtida a conciliação, esta será reduzida a escrito e homologada


pelo Juiz togado, mediante sentença com eficácia de título executivo.

 Art. 23. Não comparecendo o demandado, o Juiz togado proferirá sentença.

  Art. 24. Não obtida a conciliação, as partes poderão optar, de comum acordo, pelo
juízo arbitral, na forma prevista nesta Lei.
§ 1º O juízo arbitral considerar-se-á instaurado, independentemente de termo de
compromisso, com a escolha do árbitro pelas partes. Se este não estiver presente, o
Juiz convocá-lo-á e designará, de imediato, a data para a audiência de instrução.

§ 2º O árbitro será escolhido dentre os juízes leigos.

Art. 25. O árbitro conduzirá o processo com os mesmos critérios do Juiz, na forma
dos art. 5º e 6º desta Lei, podendo decidir por eqüidade.

Art. 26. Ao término da instrução, ou nos cinco dias subseqüentes, o árbitro


apresentará o laudo ao Juiz togado para homologação por sentença irrecorrível
(BRASIL, 1995).

2.2 A RELAÇÃO ENTRE O PRINCÍPIO DA CELERIDADE


PROCESSUAL E A CONTAGEM DO PRAZO
O sistema dos Juizados Especiais Cíveis possui como base uma série de
fundamentos sólidos. Dentre eles, um merece destaque devido a problemática
levantada neste estudo, qual seja, a prestação judiciária efetiva de maneira mais
simplificada. Desse modo, vale destacar um dos princípios mais latentes na Lei
9.099: o princípio da celeridade processual. Este princípio tem como objetivo
principal a prestação do serviço judiciário com mais fluidez, exigindo tempo menor
para a solução de uma demanda (BRASIL, 1995).

Para a efetivação desse princípio, a lei que regra o sistema dos Juizados, disciplina
procedimentos mais simplificados do que as causas que tramitam no procedimento
comum, a fim de escapar de alguns trâmites inviáveis e quebrar a morosidade do
sistema.

Resta observar, através de análise simples do texto da Lei dos Juizados Especiais,
que o Código de Processo Civil é citado em diversas passagens, como norma a ser
aplicada subsidiariamente, vide exemplo a seguir: “Art. 53. A execução de título
executivo extrajudicial, no valor de até quarenta salários-mínimos, obedecerá ao
disposto no Código de Processo Civil, com as modificações introduzidas por esta
Lei” (BRASIL, 1995).

Desta forma, qualquer modificação no formalismo contido no Código de Processo


civil (BRASIL, 2015) causa impacto no sistema dos Juizados Especiais, provocando
a investigação sobre a convergência dos dois regramentos ou o conflito entre eles.

Assim, diante da contenda entre os pontos existentes entre o Código de Processo


Civil (BRASIL, 2015) e a Lei 9.099 (BRASIL, 1995), tornou-se frequente a realização
de encontros entre operadores do direito para a discussão do assunto de modo
mais qualificado. Um exemplo disto, ocorreu no ano de 2011, momento em foi
atualizado os enunciados dos Juizados Especiais e redigido, por exemplo, o
enunciado de número 13:

Os prazos processuais nos Juizados Especiais Cíveis, contam-se da data da


intimação ou ciência do ato respectivo, e não da juntada do comprovante da
intimação, observando-se as regras de contagem do CPC ou do Código Civil,
conforme o caso (CNJ, s.d).

Neste mesmo sentido, com a inauguração dos procedimentos regrados pelo Novo
Código, que entrou em vigor em março de 2015, encontros foram realizados e
correntes doutrinárias se formaram a partir das discussões sobre a convergência
procedimental com a Lei dos Juizados Especiais (LINHARES e HONÓRIO, 2017).

Neste momento, importante frisar que um dos pontos de grande polêmica foi a nova
didática de contagem do prazo inaugurada pelo Código de Processo Civil, já que ela
quebrava a metodologia anterior e de certo modo se opunha com os objetivos
primordiais existentes nos sistemas dos Juizados Especiais.

Importante esclarecer que a Lei 9.099 é omissa quanto a disciplina de alguns


parâmetros para a sua operacionalização (BRASIL, 1995). Deste modo, o Código de
Processo Civil (BRASIL, 2015), que trata de forma ampla sobre os procedimentos
na seara cível, é aplicado através de uma das formas de suprimento das lacunas,
qual seja, a analogia. Dessa forma, através da analogia o aplicador do direito
utilizava os prazos de acordo com o Código de Processo Civil (BRASIL, 2015), uma
vez que a Lei 9.099 (BRASIL, 1995) não impunha nenhum método.

3. O POSICIONAMENTO DO FÓRUM PERMANENTE DE


COORDENADORES DE JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E
CRIMINAIS DO BRASIL PERANTE A DIVERGÊNCIA
COM O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
O Fórum Permanente de Coordenadores de Juizados Especiais Cíveis e Criminais
do Brasil (FONAJE), foi criado para melhorar o procedimento utilizado pelos
Juizados Especiais devido a existência de várias lacunas. Sendo assim, em 1997, o
FONAJE surge para promover a segurança dos operadores que tentam padronizar
os processos em discussão (LINHARES e HONÓRIO, 2017).

O Fórum Nacional de Juizados Especiais, criado para a discussão de temas


pertinentes aos serviços judiciários nos Juizados Especiais, realiza reuniões
constantes em busca da atualização dos trâmites e uniformização deles (LINHARES
e HONÓRIO, 2017).

O FONAJE, a partir de encontros que acontecem em uma periodização de seis


meses, busca criar enunciados com o objetivo de orientar os aplicadores dos
direitos e suprir algumas lacunas existentes, conforme preceito abaixo:

Art. 9º – O FONAJE reunir-se-á, ordinariamente, a cada semestre do ano, no local e


data escolhidos pelos membros presentes ao Encontro anterior e,
extraordinariamente, quando houver necessidade, por convocação do Presidente ou
pela maioria dos representantes dos Estados e do Distrito Federal (FONAJE, 2011).

Desta forma, diante da problemática da contagem de prazos, foi promovido o XXXIX


Encontro do FONAJE (Fórum Permanente de Coordenadores de Juizados Especiais
Cíveis e Criminais do Brasil), de 8 a 10 de junho, em Maceió, onde foi emitida uma
nota técnica estabelecendo o trâmite a ser seguido nos Juizados Especiais, quanto
a essa matéria. De acordo com a respectiva nota, não há compatibilidade entre o
procedimento do Novo Código de Processo Civil e a lei dos Juizados Especiais,
uma vez que o último é pautado primordialmente pelo princípio da celeridade
processual, conforme trecho abaixo colacionado:

Todavia, forçoso é concluir que a contagem ali prevista não se aplica ao rito dos
Juizados Especiais, primeiramente pela incompatibilidade com o critério informador
da celeridade, convindo ter em mente que a Lei 9.099 conserva íntegro o seu
caráter de lei especial frente ao novo CPC, não importando, por óbvio, a
superveniência deste em relação àquela (FONAJE, 2016).

Desta forma, muito embora o FONAJE discipline de forma objetiva o assunto, as


discussões ainda circulam sobre essa problemática no âmbito jurídico, devido a
existências de várias correntes sobre o tema e a viabilidade de mudanças dos
métodos adotados (FONAJE, 2016).

Porém, ainda que exista tal regramento, existem correntes discordantes sobre o
tema. É possível notar isso através das emissões de notas e enunciados elaborados
em outros encontros realizados no país sobre a seara cível e suas repercussões
(CNJ, s.d.).

Deste modo, podemos citar dois eventos de caráter notório onde foi defendido a
convergência entre a disciplina do Novo Código de processo Civil e a Lei os
Juizados, são eles o Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC) e a
Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento dos Magistrados (ENFAM).

4. A DESAGREGAÇÃO DOS PROCEDIMENTOS


ESTABELECIDOS ENTRE O NOVO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL E A LEI 9.099
É importante esclarecer que, conforme mencionado anteriormente, a técnica
aplicada para o suprimento da lacuna, qual seja, a analogia, vem a combater o
posicionamento corrente da parcela que afirma haver a inaplicabilidade do art. 219
do Novo Código de Processo Civil (BRASIL, 2015).

Uma questão a ser suscitada sobre esse assunto é quanto a aplicabilidade de


prazos contidos no Código de Processo Civil, já que a Lei dos Juizados, em
algumas de suas passagens, informa que determinados procedimentos devem estar
de acordo com o regramento maior, conforme podemos notar através da simples
leitura da passagem a seguir “Art. 48. Caberão embargos de declaração contra
sentença ou acórdão nos casos previstos no Código de Processo Civil” (BRASIL,
1995).

No exemplo citado, fica obscuro ao operador do direito qual o procedimento a ser


seguido, já que se ele tomar como parâmetro a disciplina contida no Código de
Processo Civil, terá que opor embargos nos parâmetros da contagem de prazos em
dias úteis, e não com respaldo, do Código já superado.

O tema abordado nesse artigo é de relevância social, pois fica consagrado aos
advogados o direito ao descanso nos finais de semana, sem falar da suspensão do
prazo entre os dias 20 de dezembro e o dia 20 de janeiro, caracterizado pelo
período de recesso do judiciário instituído no art. 220 do novo Código de Processo
Civil – (CPC), conforme podemos notar através do trecho abaixo citado:

Art. 220.  Suspende-se o curso do prazo processual nos dias compreendidos entre
20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive.

§ 1oRessalvadas as férias individuais e os feriados instituídos por lei, os juízes, os


membros do Ministério Público, da Defensoria Pública e da Advocacia Pública e os
auxiliares da Justiça exercerão suas atribuições durante o período previsto nocaput.

§ 2oDurante a suspensão do prazo, não se realizarão audiências nem sessões de


julgamento (BRASIL, 2015).

Para alguns profissionais da área jurídica, é possível que essa nova estrutura de
organização do tempo abra precedente para as decretações de revelias, já que o
novo código conta com mais de duzentos dispositivos que disciplinam o
cumprimento de prazo no novo código de processo civil (MESQUITA, 2016).

Importante salientar, ainda, que os advogados devem estar vigilantes para a


peculiaridade de cada município por conta de determinados feriados, já que a
depender do local em epígrafe o prazo continua a fluir normalmente em outra
comarca, conforme podemos observar através da orientação jurídica vigente:

Art. 222.  Na comarca, seção ou subseção judiciária onde for difícil o transporte, o
juiz poderá prorrogar os prazos por até 2 (dois) meses.

§ 1oAo juiz é vedado reduzir prazos peremptórios sem anuência das partes.

§ 2oHavendo calamidade pública, o limite previsto nocaput para prorrogação de


prazos poderá ser excedido.

Art. 223.  Decorrido o prazo, extingue-se o direito de praticar ou de emendar o ato


processual, independentemente de declaração judicial, ficando assegurado, porém,
à parte provar que não o realizou por justa causa.

§ 1oConsidera-se justa causa o evento alheio à vontade da parte e que a impediu de


praticar o ato por si ou por mandatário.

§ 2oVerificada a justa causa, o juiz permitirá à parte a prática do ato no prazo que lhe
assinar (BRASIL, 2015).

Por fim, cabe afirmar que o novo código excluiu a contagem de prazo de natureza
material, de forma que esse continua a ser contabilizado em tempo corrido. Porém,
configura-se uma difícil empreitada caracterizar o prazo de um processo como
sendo processual ou material, deixando, assim, a margem para desqualificação do
prazo.

Dessa forma, torna-se claro a particularidade existente na análise da metodologia a


ser aplicada no sistema dos Juizados Especiais, em que deve ser priorizada seus
princípios norteadores em detrimento do que foi inaugurado pelo Código de
Processo Civil de 2015 (BRASIL, 2015).

5. CONCLUSÃO
Ante ao exposto, é possível notar que a mudança do preceito para a contagem do
lapso temporal, ao integrar os prazos, inaugura uma quebra de antigos paradigmas.

A superação das lacunas, através da analogia aplicada, até o momento da vigência


do novo código, necessita de respaldo claro para a visão do sistema, conforme o
novo regramento jurídico, no que se refere à contagem dos prazos.

No momento em que aplicamos o código em epígrafe, associado à Lei dos Juizados


especiais, tem-se a dúvida se a contagem de prazo em dias úteis deveria ser
aplicada no procedimento dos Juizados Especiais Cíveis, sendo esta, portanto, a
questão que norteou este estudo.

Tendo em vista os princípios aderidos pelo procedimento da Lei 9.099, que garante
uma sucessão de atos jurídicos de menor complexidade, não deveria haver dúvidas
quanto a contagem de prazos em dias corridos aplicados no procedimento dos
Juizados Especiais Cíveis, em contraposição ao que preceitua o Código de
Processo Civil vigente.

É possível concluir, portanto, que o presente artigo possui o propósito de abordar a


discussão existente a partir da publicação do Código de Processo Civil em 2015 no
que se refere à contagem de prazos nos Juizados Especiais Cíveis. Ante a
problemática, é possível inferir que, para haver solução do embate, fica claro a
urgência de uma uniformização das discussões sobre a nova metodologia para a
contagem de prazos abordados pela Lei dos Juizados Especiais, de forma a
padronizar a contagem ininterrupta do prazo dentro do seu procedimento a fim de
atender os princípios norteadores dos processos de menor complexidade e rejeitar o
método de contagem de prazo aderido pelo Código de processo civil de 2015.

REFERÊNCIAS
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Civil. [S. l.], 16 mar. 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em:
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Especiais Cíveis: Dias úteis. Conteúdo jurídico, 2016. Disponível
em: http://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/46758/contagem-de-prazos-nos-
juizados-especiais-civeis-dias-uteis. Acesso em: 12/04/2022. 

 Pós-Graduada no curso de direito civil, pela Universidade Católica de Salvador e


[1]

pós-graduada no curso de direito penal, pela Faculdade de Paraiso do Norte e


graduada no curso de Bacharelado em Direito da Universidade católica de Salvador.
ORCID: 0000-0002-7048-2696

[2]
 Orientador. ORCID: 0000-0002-7773-5262

Enviado: Abril, 2022.

Aprovado: Abril, 2022.

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