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RESUMO
Com a implementação e publicação do Novo Código de Processo Civil em 2015,
surgiram vários questionamentos sobre a sua aplicabilidade em conjunto com outras
legislações complementares já vigentes. Neste contexto, o presente artigo, tem
como questão norteadora: o prazo contado em dias úteis deve ser aplicado no
procedimento dos Juizados Especiais Cíveis? Desta forma, tem-se como objetivo
geral analisar a discussão existente no que se refere a contagem de prazos no
âmbito dos Juizados Especiais Cíveis e o Código de Processo civil, que quebrou o
paradigma anterior, uma vez que esse introduziu a contagem dos prazos através da
utilização apenas dos dias úteis. Através de leituras e da realização de uma
pesquisa baseada em regramentos aplicados nos sistemas dos juizados, fóruns
qualificados e a lei aplicada até então, foi possível notar que, embora exista nota
que discipline a matéria emitida pelo FONAJE (Fórum Permanente de
Coordenadores de Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Brasil), afirmando a
discordância pela recepção do novo método, a questão traz discordâncias entre os
legisladores e aqueles que trabalham diariamente com o tema. Assim, através
análise dos pontos abordados, foi possível concluir que a falta de legislação que
discipline essa questão pode ser preenchida através da aplicação da analogia entre
julgados e legislações congêneres, para, assim, dar prosseguimento ao cômputo do
prazo de forma ininterrupta no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, de modo a
rejeitar o procedimento inaugurado com a implementação do Código de Processo
Civil de 2015.
1. INTRODUÇÃO
Mediante a publicação do novo Código de Processo Civil e inauguração do novo
procedimento de contagem de prazo a ser instituído pelos aplicadores do direito, o
presente artigo, tem como questão norteadora: o prazo contado em dias úteis deve
ser aplicado no procedimento dos Juizados Especiais Cíveis?
Desta forma, o presente artigo tem como intuito trazer para o centro da discussão as
relações entre a contagem de tempo proposta pelo Código de Processo Civil
implementado em 2015 (BRASIL, 2015) e o procedimento regido pela Lei 9.099, Lei
dos Juizados Especiais Cíveis (BRASIL, 1995), uma vez que a partir do novo
regramento, os prazos processuais deverão ser computados em dias úteis, o que
ocasionaria um retardo no procedimento dos Juizados Especiais.
Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho é analisar a discussão existente no que
se refere a contagem de prazos no âmbito dos juizados especiais cíveis e o impacto
gerado pelo novo Código de Processo Civil, uma vez que este quebrou o paradigma
anterior, no momento que começou a impor a contagem dos prazos através da
utilização apenas dos dias úteis.
O tema abordado nesse artigo é de relevância social, uma vez que com a
publicação do Novo Código de Processo Civil foi inaugurado mudanças
significativas nos procedimentos dos processos judiciais, necessitando de uma
preparação para os operadores do direito instrumentalizarem o Código e suas
diferenças com outras searas das causas cíveis.
Art. 218. Os atos processuais serão realizados nos prazos prescritos em lei.
§ 3oInexistindo preceito legal ou prazo determinado pelo juiz, será de 5 (cinco) dias o
prazo para a prática de ato processual a cargo da parte.
Art. 219. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz,
computar-se-ão somente os dias úteis.
IV – As ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado
no inciso I deste artigo.
II – Dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até quarenta vezes o salário-
mínimo, observado o disposto no § 1º do art. 8º desta Lei.
Art. 5º O Juiz dirigirá o processo com liberdade para determinar as provas a serem
produzidas, para apreciá-las e para dar especial valor às regras de experiência
comum ou técnica.
Art. 6º O Juiz adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime,
atendendo aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum.
Assim sendo, podemos citar o papel do juiz, que se torna o principal conciliador dos
processos de menor complexidade, onde se busca agilizar a resolução das
demandas através das possibilidades concedidas às partes. Vale ressaltar que, no
início da lei, este procedimento obteve aceitação entre os magistrados e tornou-se
um sucesso total, promovendo a conciliação de conflitos entre as partes, havendo
assim a conciliação e o juízo arbitral:
Art. 21. Aberta a sessão, o Juiz togado ou leigo esclarecerá as partes presentes
sobre as vantagens da conciliação, mostrando-lhes os riscos e as conseqüências do
litígio, especialmente quanto ao disposto no § 3º do art. 3º desta Lei.
Art. 22. A conciliação será conduzida pelo Juiz togado ou leigo ou por conciliador
sob sua orientação.
Art. 24. Não obtida a conciliação, as partes poderão optar, de comum acordo, pelo
juízo arbitral, na forma prevista nesta Lei.
§ 1º O juízo arbitral considerar-se-á instaurado, independentemente de termo de
compromisso, com a escolha do árbitro pelas partes. Se este não estiver presente, o
Juiz convocá-lo-á e designará, de imediato, a data para a audiência de instrução.
Art. 25. O árbitro conduzirá o processo com os mesmos critérios do Juiz, na forma
dos art. 5º e 6º desta Lei, podendo decidir por eqüidade.
Para a efetivação desse princípio, a lei que regra o sistema dos Juizados, disciplina
procedimentos mais simplificados do que as causas que tramitam no procedimento
comum, a fim de escapar de alguns trâmites inviáveis e quebrar a morosidade do
sistema.
Resta observar, através de análise simples do texto da Lei dos Juizados Especiais,
que o Código de Processo Civil é citado em diversas passagens, como norma a ser
aplicada subsidiariamente, vide exemplo a seguir: “Art. 53. A execução de título
executivo extrajudicial, no valor de até quarenta salários-mínimos, obedecerá ao
disposto no Código de Processo Civil, com as modificações introduzidas por esta
Lei” (BRASIL, 1995).
Neste mesmo sentido, com a inauguração dos procedimentos regrados pelo Novo
Código, que entrou em vigor em março de 2015, encontros foram realizados e
correntes doutrinárias se formaram a partir das discussões sobre a convergência
procedimental com a Lei dos Juizados Especiais (LINHARES e HONÓRIO, 2017).
Neste momento, importante frisar que um dos pontos de grande polêmica foi a nova
didática de contagem do prazo inaugurada pelo Código de Processo Civil, já que ela
quebrava a metodologia anterior e de certo modo se opunha com os objetivos
primordiais existentes nos sistemas dos Juizados Especiais.
Todavia, forçoso é concluir que a contagem ali prevista não se aplica ao rito dos
Juizados Especiais, primeiramente pela incompatibilidade com o critério informador
da celeridade, convindo ter em mente que a Lei 9.099 conserva íntegro o seu
caráter de lei especial frente ao novo CPC, não importando, por óbvio, a
superveniência deste em relação àquela (FONAJE, 2016).
Porém, ainda que exista tal regramento, existem correntes discordantes sobre o
tema. É possível notar isso através das emissões de notas e enunciados elaborados
em outros encontros realizados no país sobre a seara cível e suas repercussões
(CNJ, s.d.).
Deste modo, podemos citar dois eventos de caráter notório onde foi defendido a
convergência entre a disciplina do Novo Código de processo Civil e a Lei os
Juizados, são eles o Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC) e a
Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento dos Magistrados (ENFAM).
O tema abordado nesse artigo é de relevância social, pois fica consagrado aos
advogados o direito ao descanso nos finais de semana, sem falar da suspensão do
prazo entre os dias 20 de dezembro e o dia 20 de janeiro, caracterizado pelo
período de recesso do judiciário instituído no art. 220 do novo Código de Processo
Civil – (CPC), conforme podemos notar através do trecho abaixo citado:
Art. 220. Suspende-se o curso do prazo processual nos dias compreendidos entre
20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive.
Para alguns profissionais da área jurídica, é possível que essa nova estrutura de
organização do tempo abra precedente para as decretações de revelias, já que o
novo código conta com mais de duzentos dispositivos que disciplinam o
cumprimento de prazo no novo código de processo civil (MESQUITA, 2016).
Art. 222. Na comarca, seção ou subseção judiciária onde for difícil o transporte, o
juiz poderá prorrogar os prazos por até 2 (dois) meses.
§ 1oAo juiz é vedado reduzir prazos peremptórios sem anuência das partes.
§ 2oVerificada a justa causa, o juiz permitirá à parte a prática do ato no prazo que lhe
assinar (BRASIL, 2015).
Por fim, cabe afirmar que o novo código excluiu a contagem de prazo de natureza
material, de forma que esse continua a ser contabilizado em tempo corrido. Porém,
configura-se uma difícil empreitada caracterizar o prazo de um processo como
sendo processual ou material, deixando, assim, a margem para desqualificação do
prazo.
5. CONCLUSÃO
Ante ao exposto, é possível notar que a mudança do preceito para a contagem do
lapso temporal, ao integrar os prazos, inaugura uma quebra de antigos paradigmas.
Tendo em vista os princípios aderidos pelo procedimento da Lei 9.099, que garante
uma sucessão de atos jurídicos de menor complexidade, não deveria haver dúvidas
quanto a contagem de prazos em dias corridos aplicados no procedimento dos
Juizados Especiais Cíveis, em contraposição ao que preceitua o Código de
Processo Civil vigente.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Institui o Código de Processo
Civil. [S. l.], 16 mar. 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em:
12 de abr. de 2022.
FONAJE. XXIX Fórum Nacional dos Juizados Especiais. Regimento. Fonaje, 2011.
Disponível em: https://www5.tjms.jus.br/fonaje/regimento.php Acesso em: 12 abr.
2022.
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Orientador. ORCID: 0000-0002-7773-5262