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AVALIAÇÃO DAS MEDIDAS ESTÁTICAS AFERIDAS PELO POP-Q EM

MULHERES RIBEIRINHAS E URBANAS DA AMAZÔNIA


Por
 Aljerry Dias do Rêgo
 -
RC: 59097 -11/09/2020
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ARTIGO ORIGINAL

RÊGO, Aljerry Dias do [1], OLIVEIRA, Yasmin Cristina [2], NASCIMENTO, Lucas


Corrêa do [3], BATISTA, Thayna Almeida [4]

RÊGO, Aljerry Dias do. Et al. Avaliação das medidas estáticas aferidas pelo
POP-Q em mulheres ribeirinhas e urbanas da Amazônia. Revista
Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 08, Vol. 10, pp.
83-95. Agosto de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de
acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/medidas-estaticas

Contents [hide]
 RESUMO
 INTRODUÇÃO
 MATERIAIS E MÉTODOS
 RESULTADOS
 DISCUSSÃO
 CONSIDERAÇÕES FINAIS
 REFERÊNCIAS

RESUMO

As medidas estáticas são importantes para avaliar o grau de prolapso de órgão


pélvico feminino. O objetivo desse trabalho é avaliar o comprimento vaginal
total (CVT), hiato genital (HG) e corpo perineal (CP) aferidas pelo Pelvic Organ
Prolapse – Quantification (POP-Q) em mulheres das regiões urbana e ribeirinha
do Estado do Amapá, Brasil. Foi realizado estudo transversal com 380 mulheres
≥ 20 anos, divididas em 2 grupos: urbano (cidade de Macapá; n = 260) e
ribeirinho (arquipélago do Bailique; n = 120). Jovens (< 20 anos), grávidas,
portadoras de alterações anatômicas ou de fístulas urinárias foram excluídas. A
avaliação dos fatores de risco para prolapso e a aferição de CVT, HG e CP foram
realizadas pelo mesmo ginecologista. A idade média foi 37,10 (ribeirinho) e
38,00 (urbano) anos. Multiparidade (75,8% x 53,4%; p < 0,001), parto normal
(5,1 x 2,7; p < 0,001) e domiciliar (75,8% x 20,0%; p < 0,001) foram mais
prevalentes no grupo ribeirinho. Não houve diferença de HG (2,12±0,90 cm
urbanas x 2,10±1,25 em ribeirinhas, p = 0,123) e CP (3,07±0,49 cm urbanas x
3,08±0,49 cm ribeirinhas, p = 0,590), somente o CVT apresentou-se maior na
população ribeirinha (10,13±1,57 cm x 8,78±1,68 cm; p < 0,001). Por fim,
aspectos demográficos e fatores de risco para prolapso não alteram as medidas
estáticas aferidas pelo POP-Q entre mulheres moradoras de comunidades
urbana e ribeirinha da Amazônia Brasileira.

Palavras-chave: Períneo, população urbana, saúde da mulher, ecossistema


amazônico.

INTRODUÇÃO

O prolapso de órgão pélvico (POP) pode ser definido como a descida da parede
vaginal anterior e / ou posterior, bem como do colo do útero ou da cúpula
vaginal após histerectomia (HAYLEN et al., 2016; JELOVSEK et al., 2007).

Embora a etiologia do POP seja considerada complexa e multifatorial, alguns


fatores de risco classicamente predispõem ao seu surgimento, como
multiparidade, parto vaginal, menopausa, distúrbios do tecido conjuntivo,
predisposição genética, obesidade ou outros fatores ligados ao aumento da
pressão intra-abdominal (DIETZ, 2008; JELOVSEK et al., 2007; VERGELDT et
al., 2015).

O POP torna-se cada vez mais frequente à medida que a transição demográfica
avança, com o aumento da população idosa (SUBAK et al., 2001). Estima-se
que cerca de 75% das mulheres entre 45 e 85 anos de idade apresentem
algum grau de prolapso (HOVE et al., 2009) e sabe-se que a incidência durante
o exame clínico com o POP-Q pode variar de 14 a 50% (GLAZENER et al.,
2013; GYHAGEN et al., 2013; SMITH et al., 2010).

A prevalência de sintomas, porém, é muito menor (3 – 6%) (BARBER; MAHER,


2013). Quando presentes, os sintomas podem se associar às estruturas
envolvidas no prolapso, como ver ou sentir uma protuberância vaginal, ou à
disfunção do assoalho pélvico, como queixas urinárias, defecatórias ou sexuais
(JELOVSEK et al., 2007), e impõem um alto impacto negativo na qualidade de
vida das mulheres (SRIKRISHNA et al., 2008).

O grau de prolapso é frequentemente avaliado usando o sistema Pelvic Organ


Prolapse – Quantification  (POP-Q), conforme recomendado pela International
Continence Society (BUMP et al., 1996).

A avaliação do prolapso genital é feita a partir de um ponto anatômico fixo, a


carúncula himenal (posição zero). A partir desse ponto, as posições são dadas
em centímetros, com números negativos em locais acima do hímen e em
números positivos quando distais ao hímen. São avaliados 6 pontos dinâmicos: 
parede vaginal anterior (Aa/Ba) e posterior (Ap/Bp), cúpula ou colo uterino (C)
fórnice posterior da vagina (D). Os 3 pontos estáticos são:  hiato genital (HG),
corpo perineal (CP) e comprimento vaginal total (CVT) (BUMP et al., 1996;
HAYLEN et al., 2016).

O objetivo do presente estudo foi comparar as medidas estáticas pelo sistema


POP-Q em mulheres moradoras da cidade de Macapá e mulheres moradoras de
uma comunidade ribeirinha do estado do Amapá.

MATERIAIS E MÉTODOS

Esse é um estudo transversal comparando duas populações: mulheres


moradoras de um centro urbano (cidade de Macapá/AP) e de uma comunidade
ribeirinha (Bailique/AP).

O cálculo amostral foi realizado com base na população feminina com mais de
20 anos, sendo 163.759 em Macapá e 2.454 no Bailique. O grupo
urbano (Grupo 1) foi selecionado a partir de mulheres que foram à Unidade
Básica de Saúde da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) para coleta de
colpocitologia oncótica. O grupo ribeirinho (Grupo 2) foi selecionado a partir
de mulheres que foram ao posto de saúde na Vila Progresso, no Arquipélago do
Bailique, para coleta de colpocitologia oncótica. O Arquipélago de Bailique é um
conjunto de 8 ilhas com 42 comunidades e distante  185 km  de Macapá e com
acesso apenas por via fluvial (IBGE, 2012).
Os critérios de inclusão foram: sexo feminino, residência fixa no Arquipélago do
Bailique ou mulheres residentes na cidade de Macapá que procuram uma
Unidade Básica de Saúde (UBS) para coleta de colpocitologia oncótica e idade
maior ou igual a 20 anos. Foram excluídos desta pesquisa: mulheres gestantes,
menores que 20 anos, pacientes com restrição anatômica ou física, pacientes
com fístulas urinárias e grávidas.

As mulheres foram avaliadas por questionário geral para avaliação clínica e


identificação de fatores de risco e exame físico ginecológico para avaliação
anatômica dos órgãos pélvicos pela classificação POP-Q. No POP-Q, avaliou-se
somente as medidas estáticas: CVT, HG e CP.

Os dados foram coletados no período de fevereiro a novembro de 2013. O


projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade
Federal do Amapá, sob o nº. FR-347446/2011. Todas as mulheres assinaram o
Termo de consentimento previamente esclarecido – TCLE.

RESULTADOS

Neste estudo, foram analisados dados clínicos e físicos de 380 mulheres, sendo
260 do grupo 1 e 120 do grupo 2. Ressalta-se, porém, que 3 mulheres do
grupo 2 estavam menstruadas durante a coleta de dados no Arquipélago do
Bailique e, portanto, não foram submetidas ao POP-Q.

Na investigação clínica relacionada à prevalência de fatores de risco para POP


nas mulheres, constatou-se diferença significativa entre os grupos 1 e 2 apenas
em paridade, multiparidade, parto normal e parto domiciliar. A presença dos
demais fatores de risco, embora quantitativamente diferentes, foram
estatisticamente insignificantes. (Tabela 1)

Tabela 1. Fatores de risco do POP nos grupos urbanos e ribeirinho

Fator Urbano N = 260 Ribeirinho N = 120 p

Paridade 3,3 partos 5,2 partos <0,001*

Multiparidade 53,4% 75,8% <0,001***

Idade 38 anos 37,1 anos 0,529**


Parto normal 2,7 partos 5,1 partos <0,001*

Obesidade (IMC ≥ 30) 20,3% 18,4% 0,640***

Parto domiciliar 20,0% 75,8% <0,001***

Parto cesariano 1,4 parto 1,1 parto 0,329*

Peso do maior RN (kg) 3,3 Kg 3,4 Kg 0,117**

Menopausa 12,5% 17,3% 0,232***

Diabetes Mellitus 0% 1,5% 0,313****

Tabagismo 10,0% 7,6% 0,415***

Histerectomia abdominal 2,5% 0,8% 0,183****

Cirurgia vaginal 2,5% 3,5% 0,760****

Mann Whitney (*) T Student (**) Qui-Quadrado (***) Fisher (****)

A curva de distribuição das frequências relativas (FR) de HG foi similar entre os


grupos. O grupo 1, entretanto, apresentou menor frequência na medida de 1,5
cm em relação ao grupo 2 (22,69% x 27,79%) e maior frequência na medida
de 2,5 cm (28,46%% x 20,51%) e de 3,0 cm (3,08% x 0,85%%). Apenas o
grupo 1 apresentou medida de 3,5 cm (0,38%). A moda em ambos os grupos
foi de 2,0 cm (45,39% x 53,85%). Não foi encontrada diferença
estatisticamente significativa entre os grupos. (Tabela 2)

Tabela 2. Comparação das medidas do Hiato Genital (HG) entre mulheres do


grupo urbano (1) e do grupo ribeirinho (2):

HG Urbano n = 260 Ribeirinho n = 117

1,5 cm 22,69% 27,79%

2,0 cm 45,39% 53,85%

2,5 cm 28,46% 20,51%

3,0 cm 3,08% 0,85%

3,5 cm 0,38% –

p = 0,123*
Teste não-paramétrico de Mann-Whitney (*)

Nonparametric test Mann-Whitney (*)

Quanto às medidas do CP, os grupos 1 e 2 apresentaram percentuais similares


(5,77% x 4,27%) em relação à medida de 2,0 cm. No grupo 1, as medidas com
maior frequência foram as de 3,0 e 4,5 cm (38,08% x 33,08%), enquanto no
grupo 2 foram 2,5 cm e de 3,5 cm (25,64% x 46,15%). O grupo 1, embora
tenha apresentado a menor frequência na medida de 3,5 cm (33,08% x
46,15%), apresentou frequência maior nas medidas de 4,0 cm
(4,61% x 2,57%) e de 4,5 cm (0,38% x 0%). Não foi encontrada diferença
estatisticamente significativa. (Tabela 3)

Tabela 3. Comparação das medidas do Corpo Perineal (CP) entre mulheres do


grupo urbano (1) e do grupo ribeirinho (2)

CP Urbano n = 260 Ribeirinho n = 117

2,0 cm 5,77% 4,27%

2,5 cm 18,08% 25,64%

3,0 cm 38,08% 21,37%

3,5 cm 33,08% 46,15%

4,0 cm 4,61% 2,57%

4,5 cm 0,38% –

  p = 0,590*  

Teste não-paramétrico de Mann-Whitney (*)

Nonparametric test Mann-Whitney (*)

Mediante análise das medidas de CVT de ambos os grupos, constatou-se


diferença estatisticamente significativa (p < 0,001). O grupo 1 apresentou
maior amplitude de medidas (6,0 – 14,0 cm) que o grupo 2 (7,5 – 13,0 cm). As
medidas do CVT em maior frequência no grupo 1 foram 8,0 (22,70%) e 7,0 cm
(18,08%), enquanto no grupo 2 foram 9,5 (14,53%), 10,0 (12,82%) e 11
(12,82%) cm. (Tabela 4)
Tabela 4. Comparação das medidas do Comprimento Vaginal Total (CVT) entre
mulheres do grupo urbano (1) e do grupo ribeirinho (2)

CVT Urbano n = 260 Ribeirinho n = 117

6,0 cm 0,38% –

6,5 cm 0,38% –

7,0 cm 18,08% –

7,5 cm 9,62 5,13%

8,0 cm 22,7% 11,11%

8,5 cm 12,30% 10,26%

9,0 cm 7,30% 4,28%

9,5 cm 5,77% 14,53%

10,0 cm 3,46% 2,57%

10,5 cm 3,85% 12,82%

11,0 cm 4,63% 12,82%

11,5 cm 3,46% 6,84%

12,0 cm 2,70% 11,11%

12,5 cm 2,30% 5,13%

13,0 cm 1,92% 3,42%

13,5 cm 0,77% –

14,0 cm 0,38% –

p < 0,001*

Teste não-paramétrico de Mann-Whitney (*)

Nonparametric test Mann-Whitney (*)

As médias das medidas entre os grupos foram semelhantes quanto ao HG


(2,12±0,90 x 2,10±1,25) e CP (3,07±0,49 x 3,08±0,49) porem com diferença
estatisticamente significativa no CVT (8,78±1,68 x 10,13±1,57). (Tabela 5)
Tabela 5.  Medidas estáticas do POP-Q em mulheres de população urbana e
ribeirinha.

Medida População Média (cm) ± DP Mediana P

HG Urbana 2,12 ± 0,90 2,0 0,123

  Ribeirinha 2,10 ± 1,25 2,0

CP Urbana 3,07 ± 0,49 3,00 0,590

  Ribeirinha 3,08 ± 0,49 3,00

CVT Urbana 8,78 ± 1,68 8,0 <0,001

  Ribeirinha 10,13 ± 1,57 10,5

Teste não-paramétrico de Mann-Whitney

Nonparametric test Mann-Whitney

DISCUSSÃO

Este estudo demonstrou que o HG e CP tiveram a médias iguais entre os


grupos 1 e 2 (2,12 x 2,10 e 3,07 x 3,08, respectivamente), apesar de
significativa diferença de fatores de risco para prolapso genital no grupo 2
(multiparidade, parto normal e domiciliar). Além disso, o local de moradia
(beira dos rios x centro urbano) e estilo de vida são diferentes entre os grupos.
Porém, ao avaliarmos o  CVT, notamos diferença significativa entre os grupos,
pois entre as ribeirinhas essa medida foi 2,0 cm maior que nas urbanas.
Possivelmente, ambiente de residência, paridade e local do parto não
constituem fatores determinante para a medida de CVT, e sim fatores
constitucionais inerentes ao indivíduo.

Barnhart e colaboradores (2006), ao analisarem imagens por ressonância


nuclear magnética (RNM) derivadas de cinco ensaios clínicos, estabeleceram
que o comprimento vaginal, aferido do cérvix para o introito, mede
aproximadamente de 4,1 a 9,5cm, com média de 6,2 cm, portanto um pouco
menor que encontrado em nosso estudo (grupo 1 = 8,7 e grupo 2 = 10,1 cm).
Em outro estudo caso-controle com imagens reconstruídas por RNM, com 80
mulheres  assintomáticas quanto ao prolapso genital e com valores para os
pontos do POP-Q dentro da normalidade, não submetidas à cirurgia pélvica ou
histerectomia, grandes variações no comprimento e na forma da vagina foram
descritas, porém com fracas correlações entre dimensão vaginal e
características demográficas (LUO et al., 2016).

Poucos artigos demonstram influência de fatores demográficos no CVT. Grupos


étnicos diferentes apresentam CVT diferentes, como, por exemplo, em estudo
prospectivo realizado em asiáticas a média de CVT foi de 7,0 cm e em
ocidentais foi de 10 cm  (SEO; KIM, 2006). Tan e colaboradores (2006) em
estudo que analisou os determinantes de comprimento vaginal, destacaram que
as etnias hispânica e branca também alteram o CVT, com respectivos aumentos
de 0,26 cm e 0,13 cm. Populações ribeirinhas da Amazônia brasileira,
compostas de população com menor grau de miscigenação étnica que incluem
o componente indígena e o negro, poderiam justificar o achado diferencial
quanto à esta medida estática encontrada em nosso estudo.

Fatores como idade, peso, altura, histerectomia, terapia de reposição hormonal,


menopausa, atrofia vaginal e história de cirurgia pélvica podem ter influência
significativa no valor do CVT (TAN et al., 2006), porém não há consenso na
literatura. Pesquisa com 558 pacientes atendidas em clínica uroginecológica,
não encontrou correlação entre CVT e idade, paridade e menopausa (KIM et al.,
2007). Outro estudo com 185 coreanas, a partir do uso comparativo anatômico
com imagens de tomografia computadorizada, concluiu que o CVT e a
espessura vaginal não são alterados pela idade, paridade e características
físicas, apenas a largura vaginal sofre influência da idade e do modo de parto
(KIM; KIM, 2010). Em uma reanálise de estudo retrospectiva com 948
mulheres, notou-se diferença de 1 cm do CVT entre mulheres
histerectomizadas e não histerectomizadas (PATNAM et al., 2018).

Não foi encontrada diferença entre a medida do CP e HG entre os grupos 1 e 2,


mesmo com importante diferença quanto à paridade, à via e ao local do parto.
Pesquisa realizada no Havaí também não encontrou diferença desta medida
estática entre grupos étnicos que coabitam o mesmo espaço geográfico, com
mulheres primigestas de 18 a 45 anos de seis grupos étnicos (branco, filipino,
japonês, chinês, havaiano nativo e micronesiano) (TSAI et al., 2012).

Em estudo retrospectivo com cerca de 1.600 mulheres com idade média de


55,3 anos, demonstrou-se que a paridade aumenta os valores de medidas de
hiato genital, sem alterar o corpo perineal dentro de grupos de pacientes com
mesma classificação de prolapso genital de acordo com o POP-Q, ao passo que
a realização de histerectomia aumenta os valores de medida do corpo perineal
em mulheres sem prolapso ou de grau 1 e diminuem os de hiato genital nas
pacientes portadores de prolapsos graus 2 e 4 (DUNIVAN et al., 2016). Do
mesmo modo, em outro estudo retrospectivo com 780 mulheres de 18 a 85
anos com sintomas do trato urinário inferior ou disfunção do assoalho pélvico, o
comprimento do hiato genital é associado positivamente ao parto normal,
principalmente ao primeiro (ATAN et al., 2015). Outro trabalho mostrou que a
paridade é associada positivamente com o hiato genital e negativamente com o
corpo perineal (KIM et al., 2007)

As mulheres ribeirinhas estudadas, mesmo com maiores índices de


multiparidade e de parto normal, não obtiveram maiores valores de hiato
genital e corpo perineal. O parto é realizado em casa, com ajuda de parteiras e
posição do parto é de livre escolha das gestantes. A episiorrafia não é realizada
(MURRIETA, 2001). O estilo de vida da população ribeirinha pode justificar um
melhor desenvolvimento da musculatura pélvica e perineal. A coleta do açaí
escalando altas palmeiras, atividades de pesca e caça exigem coordenação de
contrações específicas musculares e tensões perineais, com equilíbrio em
superfícies vacilantes e alagadiças nas proximidades dos leitos dos rios e
destreza em meio ao ambiente de floresta equatorial, que funcionam como
atividades físicas permanentes para o desenvolvimento e manutenção da
integridade de tais grupamentos musculares (MURRIETA, 2001; SILVEIRA;
BASSALO, 2012).

Limitações desse estudo foram possíveis vieses de seleção das participantes


(mulheres que buscaram atendimento primário em unidade básica de saúde
para coleta de preventivo do câncer uterino) e de resposta, devido ao grau de
dificuldade da aplicação do questionário em mulheres ribeirinhas de baixo nível
de escolaridade.  Estudos futuros são necessários para definir qual fator de
proteção influenciou nas medidas do corpo perineal e do hiato genital na
população ribeirinha.

Aspectos demográficos ligados ao ambiente onde moram as mulheres do


presente estudo e fatores de risco para prolapso não se mostraram
determinantes para alterar, de forma significativa, as medidas estáticas
aferidas pelo POP-Q entre mulheres moradoras de um centro urbano e de uma
comunidade ribeirinha da Amazônia Brasileira.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os fatores de risco para prolapso genital, como multiparidade e via de parto


normal, não influenciaram em maiores valores de hiato genital e corpo perineal
nas mulheres ribeirinhas. O estilo de vida dessas mulheres, baseado em coletas
de açaí em palmeiras e atividades de caça e pesca, pode justificar o melhor
condicionamento da musculatura pélvica, por exigirem coordenações em
contrações musculares específicas. Não obstante, ainda são necessários
estudos posteriores para delimitar o fator protetor das medidas de corpo
perineal e hiato genital na população ribeirinha.

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[1]
 Professor MSc, Docente do Curso de Graduação em Medicina da Universidade
Federal do Amapá.

[2]
 Discente do Curso de Graduação em Medicina da Universidade Federal do
Amapá.

[3]
 Discente do Curso de Graduação em Medicina da Universidade Federal do
Amapá.
[4]
 Discente do Curso de Graduação em Medicina da Universidade Federal do
Amapá.

Enviado: Maio, 2020.

Aprovado: Agosto, 2020.

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