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PROPULSOR DA DENSIFICAÇÃO
PROCESSUAL ACUSATÓRIA
ARTIGO ORIGINAL
LIMA, Rayanne Ferreira de. SOARES, Taiguara Libano. O instituto do juiz das
garantias como propulsor da densificação processual acusatória. Revista
Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano. 07, Ed. 04, Vol. 07, pp. 74-
99. Abril de 2022. ISSN: 2448-0959, Link de
acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/lei/densificacao-processual-
acusatoria
RESUMO
A configuração política que permeou a edição dos dispositivos processuais penais
atribuiu características inquisitoriais ao Código de Processo Penal brasileiro, vigente
desde 1941. Por essa razão, a promulgação de novos parâmetros constitucionais,
em 1988, ensejou a transmutação da influência autoritária e a adequação ao regime
democrático. Assim, a incompatibilidade apresentada entre as normas e a
perspectiva democrática incitou diversas reformas legislativas, em especial,
apresentada pela Lei 13.964 de 2019, que teve como principal medida, a inserção
do instituto do juiz das garantias com vistas a alcançar o sistema processual penal
acusatório adotado pela Constituição. Assim, o presente artigo tem como problema
de pesquisa, esclarecer se a figura do juiz das garantias permitirá a convergência
entre o atual sistema processual penal e a ordem constitucional contemporânea.
Tendo como objetivo elucidar os reflexos que serão promovidos com a inserção do
instituto do juiz das garantias, para a compatibilização do modelo processual penal
acusatório insculpido na Constituição. Dessa forma, a otimização da contenda
judicial será elucida pelo método indutivo, com retórica de pesquisas bibliográficas e
será explicitada por fontes primárias e secundárias. Por fim, conclui-se que juiz das
garantias deve atribuir ao processo penal a legitimação da punição pelo poder
estatal, ao observar as regras do sistema processual acusatório, que é o precursor
do Estado democrático de direito.
Palavras-Chave: Juiz das garantias, Imparcialidade objetiva, Sistema processual
penal, Direitos e garantias fundamentais, Democracia constitucional.
1. INTRODUÇÃO
O Código de Processo Penal de 1941 (BRASIL, 1941), refletiu as escolhas políticas
da época, tendo sido inspirado em uma política de repressão social à margem do
indivíduo, orientado pelo jurista Francisco Campos. No entanto, pouco a pouco, as
insurgências sociais impulsionaram a constitucionalização do direito, centralizado na
dignidade da pessoa humana e em sua força vinculante (SANTORO; TAVARES,
2019, p. 87-88)
Constata-se que a figura do juiz das garantias motivará a cisão funcional dos juízes
e obstará a concentração de poder, e sua atuação estará subordinada ao impulso
das partes (NICOLITT, 2018, p. 129). Proporcionará a divisão entre as fases
preliminar, intermediária e o epílogo, corporificando o processo misto (SILVEIRA,
2019, p. 189-221).
2. CONTEXTO HISTÓRICO
O Código de Processo Penal brasileiro traduz a convergência normativa que
permeou a dominação política por Vargas, em 1930, com a inauguração da
Constituição Polaca. Assim, a elaboração do Código de Processo Civil e,
posteriormente, do Código Penal incitou a marcha de unificação da legislação
processual penal em 1941 (MORES, 2002).
Com isso, a sinuosidade provocada com a adoção das novas diretrizes jurídicas
contribuiu para a usurpação de poder pelo chefe do governo, que conduziu a
ditadura das massas à aparência de legalidade, bradou a elevação da tutela social
em detrimento das liberdades individuais, legitimando a supressão das autonomias
outrora asseguradas (MORES, 2002).
Nesta direção, Bettiol; Bettiol (2000) propõe que as oscilações sociais determinam a
integração entre a exteriorização da pretensão punitiva pelo Estado e sua
configuração, uma vez que revela a afluência do sistema processual penal
acusatório e o Estado democrático de Direito, visto que exprimem a valorização do
indivíduo (BETTIOL; BETTIOL, 2000).
Prado remete que o juiz poderá exercer sua liberalidade ao avaliar as provas
condicionadas à cognição orientada e à subsunção da normatividade penal, que
fundamentaram o arbitramento da punição, compreendidas racionalmente, sem que
para isso seja necessário se imiscuir na função acusatória (PRADO, 2005, p. 215-
225).
Com isso, as tensões promovidas pela tese defensiva facilmente são vencidas pelo
posicionamento judicial vinculado ao deferimento de medidas restritivas de direitos
fundamentais, firmado sob a perspectiva parcial do procedimento de investigação
administrativo, que fortalece, pouco a pouco, a sua convicção, contrariamente à
presunção de inocência do investigado.
Com isso, determina-se a solicitação prévia das partes para sua atuação, cabendo-
lhes a aplicação da lei cogente e vinculante que corporificará a coisa julgada.
Ademais, estes parâmetros devem ser precedidos pela definição de critérios, que
influam no conteúdo probatório, necessários para que o julgador admita a hipótese
provada, superando a presunção de inocência.
verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais
juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver
antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este
relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (BRASIL,
1941).
Por esse lado, Santoro e Bittencourt (2018) evidencia que os métodos ocultos de
obtenção de provas, em especial a interceptação telefônica, atingem a
imparcialidade judicial, pois o seu deferimento carece da oitiva das conversas
gravadas, indispensáveis à verificação da existência e da autoria do fato criminoso,
que influi em sua persuasão e marginaliza a decisão de mérito produzida em
contraditório.
Badaró permeia que o arcabouço probatório, na fase preliminar, será amparado por
elementos que direcionarão a conceituação abdutiva pelo investigador, que ampliará
as possibilidades fáticas e definirá os atos que serão eleitos para sua confirmação
durante a investigação criminal (BADARÓ, 2018, p. 56).
Temos que o juiz deverá conduzir a fase preliminar sopesando a proteção dos
direitos fundamentais do investigado e os meios de obtenção de provas a fim de
reunir os indícios de autoria e materialidade.
O juiz das garantias apresenta-se como uma norma processual geral descrita nos
arts. 3-A, 3-B, 3-C, 3-E, 3-F do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941).
Impõe-se que o deslinde das providências pendentes sejam concluídas pelo juiz
sentenciante, reservado, e claro, à sua independência. Não estará subordinado às
considerações iniciais do juiz das garantias, devendo dispender os esforços
necessários à reanálise da utilidade das medidas cautelares, descrito no art. 3-C
parágrafos 1º e 2º do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941).
Por essa razão, determina a atração das instituições democráticas aos valores
consagrados, uma vez que os poderes exortados emanam do povo, meramente
delegados, convergindo a tutela do princípio basilar do ordenamento jurídico, a
dignidade da pessoa humana, além de manter a autonomia dos poderes
constituídos, ao incitar a readequação da organização judiciária, de acordo com o
art. 3-F do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941).
No mais, a distinção formal das funções judicantes não atende à coercitividade das
garantias processuais penais ínsitas ao devido processo legal, que exteriorizam o
substrato legitimador da atividade judicial, a imparcialidade.
Dispensa-se a dilação probatória devendo sua violação ser definida frente à análise
dos atos judiciais praticados isoladamente ao longo do processo, em atenção ao
processo justo e legítimo, primando pelo início da cognição pelo órgão julgador que
decidirá o mérito, produzida em contraditório judicial.
Mesmo após a separação das funções, nas fases investigativas e de mérito, o juiz
das garantias, assim como o juiz da instrução, limita-se os mecanismos de
contenção de poderes, tendo em vista que, frequentemente, subjugam os
destinatários da norma, condescendentes a manipulação dos ilegalismos jurídicos e
a confirmação da linha acusatória, em alusão ao falso clamor de aniquilação dos
seus algozes (SOUTO, 2010).
Com isso, sua correção se dará com a cisão funcional dos juízes ao favorecer a
desvinculação da decisão final e centralizar a reconstituição dos fatos orientada pelo
princípio acusatório, uma vez que é impossível desconsiderar a influência dos
fatores sociais sobre os agentes do sistema penal, assim como as manifestações da
massa sobre a punição mais adequada, condicionada às restrições positivadas no
ordenamento jurídico (ASSIS, 2019).
7. CONCLUSÃO
A pesquisa propôs verificar como a inserção do instituto do juiz das garantias
subordinará a atuação jurisdicional ao delineamento do modelo processual penal
acusatório adotado pelo regime constitucional democrático brasileiro, ao deslocar o
protagonismo judicial para a motivação das decisões e preservação das
prerrogativas individuais, além de assegurar o controle da investigação criminal,
enquanto atribui ao órgão ministerial a destinação do material indiciário criminal e a
regulação da atividade policial, que será impulsionada pelo magistrado por
intermédio da construção dialética entre a defesa e a acusação. Assim, compete ao
magistrado a profusão do princípio do devido processo legal que verte sobre as
facetas do juiz imparcial, do processo justo, da paridade de armas entre as partes,
corporificando a igualdade substancial (ALBUQUERQUE; SOUZA, 2020).
Por essa razão, devemos considerar que a disposição de subsídios empíricos nos
permite aferir que o contato com elementos indiciários pelo magistrado durante a
investigação, responsáveis por fornecer os indícios de autoria e materialidade para
adoção de meios de obtenção de provas são limitadores de direitos, e revelam-se
elementares para o comprometimento da inicialidade da cognitiva judicial.
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ORCID: 0000-0002-4368-9675.
[2]
Orientador. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9383-5901.