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FILOSOFIA DVD do aluno

BIBLIOTECA DO ESTUDANTE • Leitura complementar


Maria Lúcia
PARTE 2 UNIDADE 5 Filosofia medieval
de Arruda Aranha
Capítulo 16 Razão e fé 1

BIBLIOTECA DO ESTUDANTE
16 . 4 Leitura complementar

O raciocínio tomista
O texto abaixo apresenta e comenta um exemplo do raciocínio elaborado na filosofia de Tomás de
Aquino, considerado o principal autor da escolástica. No exemplo selecionado, Aquino faz menção a
Aristóteles, filósofo que é referência fundamental para os escolásticos. Aristóteles será uma verdadeira
autoridade para os pensadores medievais. Assim como Agostinho de Hipona retomou o platonismo da
Antiguidade, Tomás de Aquino sofre a influência decisiva de Aristóteles.

Um exemplo dos raciocínios de Tomás de Aquino

“ As apreciações favoráveis a Santo Tomás de Aquino têm a sua razão de ser, em geral,
quando esse filósofo é estudado no seu ambiente, no contexto histórico-intelectual em que
viveu. Há quem tenha por válidos, até hoje, muitos dos seus ensinamentos. Mas, se ele
escrevesse em nossos dias, é discutível se encontraria numerosos leitores e admiradores.
Vejamos, por exemplo, a seguinte exposição [retirada da obra Suma Teológica], tal como
aparece numa das traduções mais credenciadas:
‘Parece que a prudência não conhece o particular.
1. Pois a prudência tem a sua sede na razão, como se disse. Ora, a razão tem por objeto
o universal, segundo Aristóteles. Logo, a prudência não conhece senão o universal.
2. Demais. As coisas particulares são infinitas. Ora, o infinito não pode ser compreen-
dido pela razão. Logo, a prudência, que é a razão reta, não conhece o particular.
3. Demais. O particular é conhecido pelos sentidos. Ora, a prudência não existe nos
sentidos, pois muitos têm os sentidos exteriores perspicazes e não são prudentes.
Logo, a prudência não conhece o particular.
Mas, em contrário, para o Filósofo [Aristóteles] a prudência não conhece só o universal,
mas há de conhecer também o particular.’
[...][As] citações, no texto acima, só dizem respeito a Aristóteles (‘o Filósofo’). Logo a
seguir, porém, é frequentemente evocada a opinião de Santo Agostinho, especialmente
nas várias páginas em que se aprofunda a pergunta: ‘a razão é ou não é uma virtude?’ Há
trechos em que as proposições são apresentadas como certas, não devido à observação
ou reflexão próprias, mas com base indiscutida na autoridade de pensadores os mais di-
versos, santos ou não, cristãos ou pagãos. [...]
Esse modo de encarar os problemas explicará, por certo, a queda de prestígio que, a
partir da Renascença, se manifestou em torno de Santo Tomás de Aquino, com grande
prejuízo para seu guia predileto: Aristóteles.
Apesar dessas observações, não se pode negar mérito ao ‘Doutor Angélico’ [...]. ”
LOBO, R. H. A filosofia e sua evolução.
São Paulo: Edições Populares, 1979. p. 143-144.

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