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Psicologia da Educação - Unidade Nº 2 - Título da Unidade

Psicologia da
Educação

Unidade Nº 2 - O
desenvolvimento humano e o
processo de aprendizagem

Ana Cristina Bassler


Psicologia da Educação - Unidade Nº 2 - Título da Unidade

Introdução

Vamos dar início a mais uma unidade de aprendizagem. Teremos a

oportunidade de conhecer e ampliar o conhecimento sobre quatro estudiosos que


contribuíram de maneira relevante com a Psicologia da Educação e que trouxeram

uma nova perspectiva sobre o desenvolvimento humano, divergindo da ideia do


behaviorismo.

Em sua teoria, Jean Piaget fala sobre o desenvolvimento do sujeito em função


da sua interação com o contexto de vida nas diferentes etapas do desenvolvimento.
Vigotsky traz em sua teoria postulados sobre o funcionamento intelectual. Wallon
aponta os estágios do desenvolvimento.

Carl Rogers, em sua teoria do desenvolvimento do sujeito, nos faz refletir sobre
a saúde e o bem estar como centro das nossas relações, diferente dos demais

estudiosos que focavam na doença.


Preparado para conhecer novas teorias relacionadas à evolução do

aprendizado?

1. Piaget: psicogênese do desenvolvimento humano

Jean Piaget foi um estudioso que trouxe à luz a psicologia cognitiva, que tem

como base os processos mentais superiores como a percepção, formação de


conceitos, solução de problemas e tomada de decisão.

Diferente do behaviorismo, no qual os estudos se baseiam na observação do


comportamento, a psicologia cognitiva estudou como a energia dos acontecimentos

transforma as experiências em algo significativo para o indivíduo. Muitas experiências


com animais foram feitas também, mas tópicos de aprendizagem como a leitura e a

linguagem foram investigados em seres humanos, visto que não haveria como
investigar tais assuntos em ratos ou pombos.
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A teoria cognitiva demonstra como processos mentais trazem entradas e saídas

para nosso desenvolvimento, de que forma a mente entende as situações que lhe são
apresentadas e quais suas consequências.

Um dos pontos que representa esta teoria é a do processamento da informação


como se fosse um computador. Uma informação é recebida e transformada em outra

de acordo com quem a está recebendo e da forma como ele percebe e processa tal
informação.

Fonte: medium.com/neworder/seu-cerebro-nao-e-um-computador-7ee6a1d0d75a

Outros pontos que são fortemente considerados na teoria cognitiva são:

● a aprendizagem atual se baseia na aprendizagem anterior, ou seja, o que foi


aprendido anteriormente tem relevância na maneira como os conhecimentos

adquiridos posteriormente são interiorizados, diferenciando desta forma o


aprendizado para cada pessoa;

● como cada pessoa é única e possui características inatas, crenças, interesses e


experiências de vida singulares, em uma mesma situação cada um aprende

coisas diferentes.
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Como participante ativo no processo de aprendizagem, o indivíduo deve se

esforçar para descobrir e analisar novos conceitos e utilizar estratégias para absorver
o aprendizado.

Você quer ver? – Ao assistir o vídeo em espanhol “Cómo aprende nuestro cérebro”

você terá uma visão dos principais conceitos da teoria cognitiva. Acesse o vídeo aqui.

Piaget teve uma fantástica contribuição e influência na psicologia da educação.

Seus estudos estavam baseados na representação mental e no desenvolvimento


intelectual da criança. Mediante observações sistemáticas ele realizou pesquisas de

como as crianças elaboram seu processo de conhecimento para a construção da


inteligência e sua adaptação ao meio.

Lakomy (2012) aborda quatro fatores que Piaget considerou como responsáveis
pelo desenvolvimento cognitivo do aprendiz. O primeiro deles é o fator biológico que

faz referência à maturidade do intelecto para poder receber determinado


conhecimento. Por exemplo, uma criança só consegue desenhar uma letra se

apresentar prontidão para esta atividade.


O segundo aspecto é a vivência de exercícios e atividades que contribuem para

a ação da criança sobre os objetos. O terceiro aspecto relevante são as relações sociais
que acontecem por meio da linguagem e educação. Por fim, o equilíbrio necessário

para encontrar respostas para novos desafios. No processo de assimilação, há primeiro


um desequilíbrio para depois integrar o novo conhecimento.

Mas como acontece o desenvolvimento da inteligência, segundo Piaget?


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Quando a criança começa a se relacionar com as pessoas e cenários à sua volta,

ela começa a agir efetivamente na realidade que a envolve. Este agir não significa
somente uma ação externa. O pensamento e as conexões feitas mentalmente fazem

parte deste aspecto também.


Para agir é necessário o que Lakomy (2012) chamou de esquema de ação. Isto

significa que é necessário elucidar e organizar seus comportamentos para que,


repetidamente, coloque-os em prática em diferentes situações. Vamos imaginar a cena

do bebê jogando um objeto no chão quando a mãe, o pai ou a avó está por perto.
Cada um pode ter uma reação diferente e a mesma pessoa também pode apresentar

reações diferentes dependendo do dia. Ao realizar estas conexões o bebê começa a


mobilizar seus esquemas de ação e vai modificando-a.

Esta troca com o meio gera o desenvolvimento da inteligência por meio das
adaptações que vão sendo geradas. Quando a criança se depara com uma nova

situação há um desequilíbrio, pois ela não sabe como lidar. Então ela procura dentro
dos seus aprendizados anteriores de que maneira ela pode lidar com aquela situação,

adequando seu comportamento e voltando ao estado de equilíbrio.


Esta estabilidade depende de dois mecanismos – a assimilação e a acomodação.

Por assimilação podemos compreender a introjeção de novos conhecimentos gerados


pelas experiências vividas. A acomodação é uma reorganização daquilo que já foi

incorporado como aprendizado. Podemos fazer uma analogia como uma caixa que
contém vários brinquedos e é necessário guardar mais um, sendo necessário
reorganizar aqueles que já estão lá.
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Fonte: mundodesofia.pt/banco-caixas-vinho/

A cada etapa, a criança desenvolve uma série de habilidades e conexões


mentais que vão se somando até que sua estrutura cognitiva esteja completa.

1.1. Estágios do Desenvolvimento Infantil

Piaget definiu quatro estágios do desenvolvimento cognitivo, conforme


descrito abaixo:

Estágio Sensório-Motor: etapa que vai de 0 aos 2 anos. Aqui as ações


representam reflexos básicos já que não há estrutura para ligar a ação e as sensações

a uma representatividade mental. Importante porém ressaltar que é uma fase essencial
para o desenvolvimento das próximas.

Estágio Pré-Operatório: etapa que vai dos 2 aos 7 anos. A criança consegue
estabelecer a diferença entre o significante e seu significado. Por exemplo, ao ouvir o

latido de um cachorro ela pensa no animal e o imita.


Estágio das Operações Concretas: etapa que vai dos 7 aos 13 anos. A criança já

é capaz de realizar uma ação de maneira lógica que foi interiorizada em algum
momento. Já consegue ter um pensamento reversível como em contas matemáticas (

2 x 3 = 6 ou 6 ÷ 2 = 6) mesmo que ainda seja necessário o concreto. Já consegue


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coordenar esta possibilidade com outras ações, pois admite a possibilidade de uma

inversão e coordenação com outras intrínsecas. Mas ainda precisa do concreto para
realizar essas operações, embora já esteja apta a considerar o ponto de vista do outro,

sendo que está saindo do egocentrismo.


Estágio Operatório – Formal: etapa que vai dos 13 anos em diante. Nesta fase

vivida pelo adolescente já é possível pensar de maneira lógica, mesmo quando a


realidade não é compatível com o pensamento. Funções como proporções,

probabilidades, hipóteses e deduções complexas e abstratas acontecem de maneira


natural.

Por meio da construção e passagem por estes quatro estágios, a cognição é


desenvolvida e passa a ser utilizada em toda a vida adulta, desde que existam

estímulos que fortaleçam os ap

1.2. Reflexos da concepção construtivista no processo ensino-


aprendizagem

Para o construtivismo o conhecimento é edificado pelo resultado das


experiências do aluno. No aprendizado da língua portuguesa, Piaget foi claro ao dizer
que a origem do pensamento é anterior à linguagem. Sendo assim, somente a
linguagem não é suficiente para explicar o que se passa em nossa mente.

Durante o desenvolvimento da linguagem, cabe ao educador compreender o


material produzido e respeitar as ideias, estejam elas certas ou erradas,

compreendendo que é desta forma que se gera o progresso. Ler e propor atividades
que estimulem a escrita deve fazer parte deste cenário. A alfabetização não ocorre

isolada da escrita, portanto, introduzir a leitura de palavras sem a escrita não gera
aprendizado.
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Fonte: novaescola.org.br/conteudo/2491/por-que-as-criancas-devem-aprender-a-escrever-
com-letra-de-forma-para-depois-passar-para-a-cursiva

Cabe ao professor, como mediador do processo ensino-aprendizagem levar o


aluno na busca pessoal de novos conhecimentos, busca da solução de problemas e a

discussão das suas ideias em grupo, defendendo seu ponto de vista.

2. Vigotsky: o aprendizado como um processo social

Para Vygotsky, teórico contemporâneo de Piaget, o contexto social e o

desenvolvimento cognitivo caminham juntos. Dentre os vários conceitos e estudos, o


ponto alto foi demonstrar a importância da fala no desenvolvimento do indivíduo.

Durante todo seu estudo, ele busca compreender a maneira como os processos
psicológicos acontecem e de que forma a genética influencia no desenvolvimento

humano.
Ao longo do desenvolvimento da criança, a assimilação de novos conceitos é

transformada quando há uma interação com outras pessoas. Mas esta relação se
diferencia de acordo com o ambiente e cultura em que a criança está inserida.
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Outro ponto elencado por Vygotsky é que a cognição está vinculada à

maturidade orgânica representada por instrumentos de origem física e de origem


simbólica. Seus experimentos demonstram que a fala é tão necessária quanto as outras

formas de expressão e de ação.


Por meio de experimentos, ele concluiu que “os homens precisam de signos

para aprender” (Lakomy, 2012, pg 40). Símbolos ou sinais contribuem para um


aprendizado mais efetivo e são utilizados para lembrar o que é dito. Ao realizar

estudos com crianças a partir de figuras, a associação da linguagem com o objeto


acontecia de forma mais efetiva.

Fonte: https://www.ideiacriativa.org/2016/07/fichas-para-imprimir-com-figuras-

e.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed:+IdeiaCriativa+(IDEIA+C

RIATIVA)

Além disto, a linguagem orienta o comportamento social das crianças, ou seja,

a partir do momento em que há a correlação de um objeto à percepção do que este


objeto representa, ela começa a compreender a realidade à sua volta.

O desenvolvimento da fala ocorre em três fases:


Fase da fala social (até os 3 anos): de forma não estruturada, a fala acompanha as

ações infantis, demonstrando a dificuldade que existe para resolver problemas.


Fase da fala egocêntrica ( dos 3 aos 6 anos) : nesta fase a criança fala antes de

agir, informando o que irá fazer antes da ação efetiva.


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Fase da fala interior (após os 6 anos): já existe um ajuste entre a fala externa e

interna. Nesta fase, já existe a percepção do seu comportamento de acordo com


seu pensamento.

Outro conceito que veio por meio dos estudos de Vygotsky é a zona de
desenvolvimento proximal – espaço que existe entre o que a criança sabe e o que ela

precisa saber para se chegar naquele ponto do seu desenvolvimento. Neste contexto,
existe um espaço entre o real e o potencial, que deve ser trabalhado e estimulado pelo

professor.
Vamos pensar no exemplo de uma criança amarrando os sapatos. De acordo com

sua idade, ela precisará de ajuda para realizar esta atividade. Mas por volta dos 8 ou 9
anos ela já deverá ter habilidade suficiente para amarrar seus sapatos sozinha.

De acordo com Oliveira (2010), Vygotsky denomina esta capacidade de realizar


tarefas de maneira independente de desenvolvimento real, que tem como

característica principal aquilo que já foi conquistado pela criança. O desenvolvimento


potencial representa a capacidade de realizar tarefas com ajuda dos mais velhos.

Existem crianças que não têm condições de realizar determinada tarefa sem a
supervisão e auxílio de um adulto, com dicas ou exemplos.

2.1. Pensamento e linguagem: contribuições para a


compreensã
de sentidos e significados

Vygotsky deixou o legado de que a linguagem é o principal meio das relações

sociais, uma vez que é por meio das palavras que nosso pensamento se torna explícito.
A linguagem tem, além da função de contribuir para o convívio com outras pessoas, o

poder de compartilhar o pensamento, tornando-o geral e comum àqueles que estão


à nossa volta.
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Ao longo da construção da história do indivíduo, por meio do desenvolvimento

de funções psicológicas superiores, como por exemplo pensar e ponderar sobre o que
o pensamento representa, cada ser vai sendo formado.

De maneira oposta à teoria de Piaget, para Vygotsky o desenvolvimento –


principalmente o psicológico e mental – depende da aprendizagem, na medida em

que se dá por processos de internalização de conceitos, que são promovidos pela


aprendizagem social, principalmente aquela planejada no meio escolar.

Vamos voltar ao exemplo do amarrar os sapatos. Ensinar para uma criança que
já sabe como fazer não traz efeitos, assim como também não é efetivo ensinar esta

ação para uma criança de 6 meses, pois esta habilidade está muito distante do
desenvolvimento de suas funções psicológicas. Porém uma criança de 5 ou 6 anos será

beneficiada com este aprendizado, pois o processo de desenvolvimento deste


processo já se iniciou.

Você quer ver? O filme “Escola da Vida” demonstra como a relação entre professor e

aluno pode ser eficaz na construção do conhecimento individual. Assista o vídeo


acessando aqui.

Dentro do ambiente escolar este exemplo é fácil de ser observado, já que o


aprendizado é o impulsionador do desenvolvimento. Quando o professor conhece o

nível de desenvolvimento individual dos seus alunos, as atividades devem ser


direcionadas não para o que já foi alcançado, mas sim para o que ainda não foi.

Tomando como ponto inicial o desenvolvimento real do indivíduo, devem ser


determinados conhecimentos e habilidades para aquela faixa etária e apresentados

em forma de atividades individuais e em equipe. Deve-se levar em consideração


também o ambiente em que a criança está inserida. Se ela vive em um ambiente rural
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e tem contato com diversos animais como vacas e galinhas, é mais fácil ensinar

conteúdos referentes a estes animais do que para crianças que ainda não tiveram a
oportunidade de ver um desses bichos “ao vivo”.

Embora Vygotsky enfatize o papel da intervenção no desenvolvimento, seu


objetivo é trabalhar com a importância do meio cultural e das relações entre
indivíduos na definição de um percurso de desenvolvimento da pessoa
humana, e não propor uma pedagogia diretiva, autoritária. (OLIVEIRA, 2011, pg
64)

O brincar de faz de conta é outra atividade que contribui para o

desenvolvimento do pensamento e da linguagem infantil. Este momento de entrar em


contato com o imaginário desperta a relação do objeto com o que ele significa naquele

momento, e não necessariamente com o objeto em si. Se a criança tem uma tampa de
panela em mãos e na brincadeira ela representa um volante de carro, é assim que a

criança fará a relação do significado do objeto com seu pensamento.


Assim, promover atividades dentro do ambiente escolar que favoreçam o

envolvimento da criança em brincadeiras de “faz de conta” contribui de maneira


efetiva para a evolução dos processos psicológicos superiores.

Veremos no próximo tópico as contribuições de Henry Wallon para a psicologia


da educação.

3. A afetividade de Henry Wallon: desenvolvimento


intelectual pelo corpo e pelas emoções
Wallon desenvolveu a teoria da afetividade, trazendo esta dimensão ao lugar

central do processo de aprendizagem. Sua cooperação foi no sentido de entender


como a afeição contribui para o desenvolvimento pessoal e cognitivo do indivíduo,

fornecendo o primeiro e mais importante vínculo entre as pessoas. É por meio da

afetividade que a pouca habilidade cognitiva no início da vida provê a sobrevivência


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dos bebês. Nesta teoria, afetividade e inteligência se desenvolvem juntas desde o

primeiro ano de vida.

Wallon focaliza a afetividade em sua totalidade, considerando sua relação com

a emoção, o sentimento e a paixão, bem como o papel determinante no


desenvolvimento da personalidade.

Mas como a afetividade se manifesta?

O bebê, quando vem ao mundo, só consegue se comunicar pelo choro. O choro

pode ser interpretado de diferentes maneiras. Para Freud, o choro representa a


angústia da separação da mãe; já o fisiologista entende o choro como uma ação física
que acompanha os reflexos respiratórios. Mais tarde pode representar dor ou fome.

A influência que o choro provoca no ambiente em que o bebê vive acaba por

definir as ligações afetivas que são estabelecidas. Existe uma diversidade de emoções
que vão sendo demonstradas a partir da maturação funcional do ser. Justamente pela

etapa da maturação física, algumas manifestações como a agressão, a ameaça ou o


medo aparecem, mesmo em crianças que nunca foram agredidas ou ameaçadas.

A constituição da emoção é uma função arcaica e interna. Efeitos externos

podem sim despertar emoções reais e mobilizam reações que estão relacionadas à
situação que a gerou. É inevitável que as influências afetivas que rodeiam a criança

desde o berço tenham sobre sua evolução mental uma ação determinante,
despertando o desenvolvimento espontâneo das estruturas nervosas, gerando a fusão

do biológico com o social.

Um bom exemplo é o sorriso. No início, o sorriso nada mais é do que um


estímulo dos músculos faciais, que aos poucos vai passando a exprimir uma reação de

alegria e felicidade ao ver ou ouvir uma voz conhecida. Este ato aproxima as pessoas
do bebê, que aos poucos vai percebendo o efeito que o sorrir gera.
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3.1. Estágios do desenvolvimento

A partir de estudos, Wallon definiu estágios do desenvolvimento infantil

baseados na interação e não especificamente na cronologia.

1. Estágio impulsivo-emocional: estágio predominantemente afetivo, no qual a

criança está imersa no mundo e não consegue se distinguir dele. Apresenta


movimentos descoordenados, pois sua coordenação motora não está bem

desenvolvida. O ambiente facilita para que a mesma desenvolva suas habilidades

funcionais, passando da desordem gestual às emoções diferenciadas.

2. Estágio sensório-motor e projetivo: estágio predominantemente cercado dos

fenômenos cognitivos, no qual os pensamentos são demonstrados por atos motores.


A inteligência se apresenta de duas formas – a prática, obtida pela interação de objetos

com o próprio corpo, e a discursiva, que ocorre pela imitação e apropriação da


linguagem.

3. Estágio do personalismo: marcado pela constituição da autoconsciência e de

situações de oposição ao adulto. Nesta fase é comum surgirem crises negativas,


como “não quero”, “não vou”, “não faço”.

4. Estágio Categorial: período no qual se evidencia a abstração de conceitos

concretos e categorização dos processos mentais. Percebe-se que há mais razão


do que emoção nas ações.

5. Estágio da Adolescência: época das transformações físicas e psicológicas, na


qual a afetividade se torna mais ampla. Busca pela autoafirmação e

desenvolvimento sexual. Há muitos conflitos, sejam eles internos ou externos.


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Você quer ler? A leitura do livro Evolução psicológica da criança escrita por Henry

Wallon em 1941 vai ampliar o entendimento das particularidades do seu raciocínio e


estilo de seus textos. É um livro que apresenta de forma resumida os aspectos centrais

da sua teoria do conhecimento. Dividido em três partes, aborda sobre a infância e seu
estudo, as atividades da criança e sua evolução mental e os níveis funcionais

(afetividade, ato motor, inteligência, pessoa).

De acordo com Lakomi (2012, pg 65) “a afetividade dá lugar ao

desenvolvimento cognitivo quando a criança começa a construir sua realidade pela


inteligência prática os das situações”. Ou seja, há momentos totalmente afetivos e

outros totalmente cognitivos. Como precisa existir uma integração entre ambos para
que o desenvolvimento aconteça, pode haver momentos em que a afetividade se

racionalize, diferenciando sua forma de se manifestar.

A afetividade então passa a ser manifestada de forma oral e depois escrita. Na


adolescência, em que se exige respeito e igualdade de direitos, o jovem pode se sentir

não amado, se estas exigências não forem satisfeitas. Ao se definir como sujeito da
sua história e capaz de assumir diferentes papéis sociais a inteligência afetiva deve

direcionar suas escolhas.

3.2 Teoria da Afetividade na educação

Wallon entendia que a educação deveria considerar a criança como um ser


completo, trabalhando a parte motora, afetiva e cognitiva de forma conjunta. Quando

um dos campos não se desenvolve adequadamente, os demais sofrem o impacto.

Ao professor cabe a responsabilidade de observar e trabalhar com o


desenvolvimento da criança como a criança que é, e não sob o ponto de vista do

adulto. Autonomia, curiosidade, expressão de ideias são ações que devem permear as
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atividades educativas. A transformação do que se aprendeu e sua representatividade

deve ser sempre valorizada.

Outro ponto de atenção é lembrar que a criança se espelha em quem faz parte

da sua convivência, por meio da imitação e de referenciais. Portanto, é relevante que


o adulto observe se o comportamento da criança não é um reflexo do seu próprio

comportamento. A oposição às regras e situações impostas ao grupo podem surgir


como uma maneira de buscar a diferenciação baseada em suas próprias opiniões.

Assim, o adulto que conduz o processo de aprendizagem deverá estar atento e


consciente desta forma de agir do aprendiz.

Como mediador da educação, cabe ao professor conhecer e saber como agir

junto aos alunos e principalmente respeitar as características e peculiaridades das


mesmas, tendo-se também como referência seus estágios de desenvolvimento.

Veremos no próximo tópico mais uma teoria relacionada ao desenvolvimento

e a aprendizagem - a teoria humanista de Carl Rogers.

4. O humanismo de Carl Rogers: uma psicologia

voltada para o desenvolvimento da pessoa.

Uma nova teoria nascia em meados do século XX em contraposição às teorias

da aprendizagem que pregavam o determinismo ambiental ou os instintos mais


primitivos.

Carl Rogers trouxe à luz a teoria humanista que estava alicerçada na filosofia

existencialista, que tem como direcionador a busca individual para encontrar as razões
e motivos da existência pessoal, além de exercer liberdade com responsabilidade. Os

humanistas entendem que cada indivíduo tem capacidade e discernimento para fazer
as melhores escolhas para seu desenvolvimento pessoal.
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Para a teoria rogeriana a força motriz está na capacidade constante de

atualização e a busca pela autonomia. Comunidades se desenvolvem justamente pelas


forças independentes e do desejo de cada integrante se tornar cada dia melhor. Viver

em harmonia consigo mesmo, encontrando aquilo que necessita para seu bem estar
e com o entorno social, passa a ser o objetivo de vida, segundo este autor.

Porém, o ambiente tem a tendência de valorizar e atender as demandas se o


indivíduo provar que merece. Receber um abraço e um carinho pelo bom

comportamento é um exemplo desta consideração positiva condicional e gera um


parâmetro individual de valoração de si. Ao se sentir ameaçado e pressionada no

conflito “o que sou” versus “o que devo ser”, nascem a incongruência e as defesas
psicológicas do indivíduo.

Você quer ver? O desenho animado A Família do Futuro (2007) nos apresenta Lewis,
um jovem com muitas ideias à frente do seu tempo. Durante o filme fica evidente a

maneira como ele demonstra a capacidade de buscar de maneira criativa e inovadora


uma solução para seu problema, vivenciando os acertos e erros.

Considerando que todo indivíduo é bom, tem potencial para crescer e está em
busca do seu melhor sempre, Carl Rogers gerou um novo olhar sobre as teorias do
desenvolvimento, entregando a cada um a tarefa de buscar a evolução constante.

4.1 Método não diretivo

O método não diretivo representa o papel do professor como um facilitador e

com poucas interferências no processo de aprendizagem. Para que ele seja capaz de
assumir esta postura são necessários três requisitos, conforme Tavares (2007). Estes

requisitos são congruência, empatia e respeito.


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Estar em consonância com o aprendiz, compreender que ele possui

sentimentos, desejos e crenças diferentes dos demais e considerar estas diferenças de


maneira positiva são ações fundamentais para que o educador possa permitir ao aluno

se tornar uma pessoa que efetivamente possa exercer de maneira útil seu papel na
sociedade.

A valorização acontece pelo indivíduo, considerando o que ele faz, como ele
constrói os pensamentos e não apenas pela sua inteligência.

4.2 Educação formal

No contexto educacional, Rogers não determinou regras ou práticas de ensino.

O papel do educador é o de oportunizar novas experiências, gerar um ambiente onde


o aprendiz sinta-se seguro para viver e expressar seus desejos e intuições e

compreender a importância de viver o aqui e agora.

E como se processa o aprendizado nesta teoria? Cada um aprende o que


entende que deve aprender – seja por necessidade ou por desejo pessoal. Mais do

que acumular conhecimentos, o aprender gera mudanças no comportamento atual e


na direção de futuro.

A forma de avaliação, diferente das metodologias tradicionais, é a auto

avaliação, onde cada um faz uma análise pessoal e quantifica se o seu


desenvolvimento foi satisfatório ou não.

Por apresentar a característica não diretiva, algumas objeções foram levantadas,


como por exemplo :se o aluno é o responsável por determinar o que quer aprender,

poderá ser criado um ambiente com um limiar de liberdade muito amplo, gerando

indisciplina e desinteresse pelas aulas.


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Síntese

Chegamos ao fim de mais uma unidade de ensino. Diferentes pontos de vista


foram apresentados e pudemos entender um pouco mais sobre os conceitos e

contribuições das teorias construtivista, da afetividade e humanista para o


desenvolvimento e aprendizado.

Quanto aprendizado não é mesmo? Mas você consegue diferenciar cada uma
das teorias? Qual a importância de cada uma para o contexto escolar? Diante das

teorias apresentadas, qual delas é mais significativa para você?


No quadro abaixo vamos verificar os pontos principais de cada teoria, levando

em consideração o indivíduo, sua relação com o aprendizado e o papel do educador


neste cenário.

Autor Jean Piaget Vygotsky Wallon Rogers

Teoria Construtivista Construtivista Afetividade Humanista

Palavra chave Construção do Interação social Afeto Bem estar


conhecimento

Como o Utilizando os Do individual Do social para o Dos interesses


aprendizado se conhecimentos para o social individual pessoais para a
estabelece prévios sociedade

Responsabilidade Descentralizar o Intervir para que Respeitar a Apoiar as


do educador conhecimento o aluno se história do necessidades e
prévio para que o aproxime do seu aprendiz e ampliar as
aluno possa potencial entender as oportunidades de
ampliar seu expectativas de conhecimento.
conhecimento futuro

Fonte: produzido pela autora (2019)

O papel desempenhado pelo professor nos dias de hoje pode e deve se utilizar
de todos os estudos apresentados, trazendo para a sala de aula uma combinação das
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teorias. Pesquisas mostram que o aprendiz do futuro deve ter 3 competências

desenvolvidas:
1. Competência Cognitiva: relacionada às estratégias e processos de aprendizado que

levem à utilização da criatividade, memória e pensamento crítico.


2. Relações intrapessoais: relação com a capacidade de lidar com emoções e moldar

comportamentos para atingir objetivos.


3. Relações interpessoais: envolve a habilidade de expressar ideias, interpretar e

responder aos estímulos de outras pessoas.


Sendo assim, cabe ao professor buscar constante aperfeiçoamento e

desenvolvimento para contribuir com a formação do sujeito.

Na próxima unidade vamos conhecer os desafios da aprendizagem significativa


de David Ausubel e o ensino centrado no aprendiz. Veremos de forma bem detalhada

como a passagem pela fase da infância é determinante para a construção do futuro


do indivíduo. Te espero lá!
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Bibliografia

GALVÃO, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento


infantil/Izabel Galvão. - Petrópolis, RJ ; Vozes, 1995. - (Educação e conhecimento)

LAKOMY, Ana Maria. Teorias cognitivas da aprendizagem. Curitiba: Intersaberes, 2014.

OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-


histórico. 5ª ed. São Paulo: Scipione, 2010.

TAVARES, José at all. Manual de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem.


Porto, Portugal: Porto Editora, 2007

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