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IDENTIDADE VISUAL:

técnicas e processos de criação

Gaspar Pulgatti Corrêa1


Valéria Deluca Soares2

INTRODUÇÃO será observado como criadores de


agências de pequeno porte atuam no
E ste artigo aborda quais elementos
influenciam o processo criativo
de uma Identidade Visual. Trata sobre
desenvolvimento de uma nova Identidade
Visual. Acredita-se que o processo de
criação de uma marca pode ser feito
as técnicas utilizadas pelo Publicitário de maneira técnica - se utilizando das
do setor de Criação (layout, branding, teorias acadêmicas, ou de forma subjetiva
briefing3 do cliente, subjetividade, entre - levando em conta o briefing do cliente,
outros) para o desenvolvimento do design o gosto e os conhecimentos pessoais do
de uma Identidade Visual (logotipo/ criador - ou ainda, em um modo híbrido,
logomarca ou simplesmente logo). em que haja um ponto de equilíbrio entre
Tendo em vista a análise do as duas.
mercado publicitário porto-alegrense, A Identidade Visual remete a ‘signos’,
que irão produzir um determinado
1 Graduando de Publicidade e Propaganda no significado para quem for impactado por
Centro Universitário Metodista IPA. (gasparcorrea@ ela. Remete-se ao instinto humano da
outlook.com.br). curiosidade, que acompanha a humanidade
2 Professora Doutora no Centro Universitário desde tempos remotos, quando o homem
Metodista IPA. Orientadora metodológica do ar- primitivo era apenas um caçador que ao
tigo de Pesquisa em Comunicação (valeria.delu- encontrar uma pegada de animal podia
ca@metodistadosul.edu.br). fazer diversas interpretações, como o
3 BRIEFING é um conjunto de informações, uma tamanho do animal, sua espécie e etc.
coleta de dados para o desenvolvimento de um Para uma nova empresa/produto/
trabalho. Palavra inglesa que significa resumo em
serviço/marca (que será tratado daqui
português. É um documento contendo a descrição
da situação de uma marca ou empresa, seus em diante no texto apenas como ‘cliente’),
problemas, oportunidades, objetivos e recursos tudo começa pela Identidade Visual. Ela
para atingi-los. Disponível em: <https://www. será, provavelmente, o primeiro contato
significados.com.br/briefing/>. Acesso em: 7 de do cliente com seu público-alvo. Sendo
jun. 2018, às 14h50min.

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se necessário, pois ele será a gênese da
nova marca.
assim, tão importante quanto outros Esta pesquisa objetiva então,
processos e elementos que envolvem o verificar os aspectos considerados por
desenvolvimento de um novo negócio – publicitários das agências de pequeno
capital, fluxo de clientes, e etc. Deve-se de porte, para a criação de uma Identidade
alguma maneira estar ligada diretamente Visual, caracterizando assim o processo
ou indiretamente com a missão, a visão criativo e compreendendo o processo
e os valores da empresa. de criação como um todo. Determina-
Atualmente, vive-se em um mundo se quais as melhores técnicas a serem
globalizado onde constantemente adotadas pelo criativo para poder atingir
bombardeia-se os públicos através dos a expectativa do cliente, comunicando-se
meios eletrônicos de comunicação com adequadamente com o público-alvo, sem
informações, produtos e novas tendências. se desviar do mercado ao qual o cliente
O cliente precisa se destacar perante atua. Pretende-se identificar assim, os
a concorrência e uma Identidade Visual pontos que tornam o processo mais ágil
bem elaborada pode ser um trunfo na e preciso, além de compreender a relação
conquista do público. Marcas consolidadas entre a teoria e como esse processo se
no mercado, e que já tem uma longa desenvolve na prática.
história e um público consumidor fiel, Sendo assim, este estudo se justifica
tem facilidade na comunicação com para o pesquisador pelo fato de sua
os públicos, pois o simples uso da vivência no mercado demonstrar que no
logomarca em uma peça publicitária já processo de criação de uma Identidade
pode ser o suficiente para começar uma Visual há algum ruído que causa uma ou
comunicação com sua audiência. Acredita- várias “refações5”, tornando o processo
se assim, que esta marca já conseguiu mais dispendioso. Entende que há a
se estabelecer e criar uma relação com necessidade de se refinar o método
o cliente. Mas para uma nova marca, os baseado nas teorias e no mercado na
problemas podem começar na escolha tentativa de obter uma fórmula mais
do Naming,4 esse deve ter um estudo e simples e objetiva para a criação da
até mesmo a ajuda de um profissional, marca. Apresenta-se um estudo como
suporte para os profissionais (freelancers
ou de colaboradores) da área de criação,
4 NAMING é uma área do Branding que tem uma
das tarefas mais difíceis do marketing: nomear iniciantes e aqueles que já atuam há algum
marcas, produtos e serviços, traduzindo sua tempo no mercado, que tentam buscar
essência, princípios, posicionamento e valores. referências e experiências de outros
Um dos primeiros passos na estruturação da profissionais com mais conhecimento e
identidade de uma marca é definir o nome que
a acompanhará. Disponível em: <http://projetual.
com.br/naming/>. Acesso em: 7 de jun. 2018, às 5 REFAÇÃO é um termo informal que significa
15h18min. o ato de ter que refazer um trabalho.

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não o conseguem em muitos casos. Para Entrevistado 3. Os entrevistados serão
as agências de pequeno porte, busca-se citados conforme a relevância do assunto
nortear e facilitar o processo de criação, e a sua concordância ou não com o
diminuindo o tempo de aprovação do respondido pelos demais entrevistados e
trabalho. Também, busca-se elucidar o na ocorrência de suas respostas irem ao
cliente da complexidade do processo e encontro, ou não, com os autores utilizado
da necessidade do mesmo buscar um no referencial teórico do presente artigo.
profissional habilitado na hora de se O processo de coleta das entrevistas
elaborar uma nova Identidade Visual. realizou-se em dias alternados, sendo a
E, para que os estudos em ciência da primeira entrevista no dia 22 de maio de
comunicação, esta pesquisa pode se 2018, e a última no dia 30 de maio de
tornar uma fonte para eventuais futuras 2018. Foi elaborado um roteiro com doze
consultas dentro desse tema. perguntas que abordam três frentes: coleta
Para alcançar esta proposta, o de informações; conceituação e layout;
procedimento metodológico irá consistir e, apresentação e entrega ao cliente.
na coleta de entrevistas com três
profissionais da área de Criação que PROCESSO CRIATIVO
sejam responsáveis pela criação e
desenvolvimento de marcas, além do uso A Identidade Visual é um conjunto
de pesquisa bibliográfica e documental. de elementos (formas, cores, tipografias,
Esse estudo se caracteriza como signos e etc.) que diferenciam uma marca
exploratório e com abordagem qualitativa. da outra, dando assim uma singularidade
a cada uma (TEXEIRA, SILVA, BONA;
A fim de fazer um levante sobre 2012). No desenvolvimento de um logo
as estratégias empregadas e utilizadas são aplicadas diversas técnicas para
por profissionais de agências de se chegar num resultado definitivo.
pequeno porte de Porto Alegre, e definir Conforme Wheeler (2012, p.14), “A
os melhores processos de criação, identidade da marca é tangível e faz um
averiguando como teoria e prática apelo para os sentidos. [...] A identidade
são utilizadas no cotidiano do criativo, da marca alimenta o reconhecimento,
foram realizadas entrevistas com três amplia a diferenciação e tornar grandes
profissionais da área de criação. Sendo ideias e significados mais acessíveis”.
assim, as amostras coletadas durante Em consenso com está ideia, Teixeira,
o processo de entrevista, caracterizam- Silva e Bona (2012, p. 02) explicam que
se como não probabilísticas, sendo “uma identidade visual reúne toda a
escolhidas por critério de julgamento. referência visual que leva a identificar
A identidade dos entrevistados e suas uma empresa ou produto vinculando-os
respectivas agências serão preservadas em suas diversas variações”.
em sigilo. Sendo identificados apenas Portanto, a identidade visual tem
como: Entrevistado 1; Entrevistado 2; uma grande importância para um cliente,

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o início deve ser surpreendente e o fim
encantador”.
mesmo que, em alguns casos, ele não Em uma agência de propaganda, o
consiga perceber sua relevância para a responsável pela criação do layout de
organização. Cesar (2000, p.117) defere uma nova marca é o Diretor de Arte.
sobre esta importância da logomarca Um profissional geralmente formado em
ou logotipo “[...] são a identidade Publicidade e Propaganda, ou, como em
da empresa. É o que assina, o que alguns casos, em Design Gráfico. Em ambos
representa a qualidade e a competência os cursos, irá se adquirir conhecimentos
da empresa. Quando uma empresa sobre diagramação, layout, tipografia,
presta um serviço, divulga ou vende um uso das cores e os impactos que estes
produto, ela espera que o consumidor elementos tendem a influenciar no público
se lembre do seu nome”. Segundo o em geral, Cesar (2000). Cesar (2000, p.
Entrevistado 3, “dependendo do tamanho 116), apresenta alguns exemplos do que
do cliente ele não consegue perceber um Diretor de Arte é responsável por
a importância da Identidade Visual, e criar, “logotipos, embalagens, projetos
portanto, não consegue compreender a editoriais, programação visual, manual
monetização e a necessidade de tempo de identidade visual, folhetos, cartazes,
para a elaboração da mesma”. páginas para internet e mais uma série de
Por isso, a necessidade de ter um materiais gráficos” (CESAR, 2000, p. 116).
processo assertivo e bem embasado. Para Portanto, o cliente deve compreender
que quando se for apresentar o projeto a importância de procurar uma agência e/
da nova identidade visual, o cliente ou profissional qualificado que irá realizar
possa além de gostar do que irá ver, o trabalho com competência e com
entender os conceitos por trás daquele todo um aparato teórico que ajudarão
logo e também entender a importância na criação de uma identidade, juntando
da identidade visual para seu produto e/ elementos que trarão uma comunicação
ou empresa. Conforme Bertomeu (2009, adequada ao público-alvo, conforme
p. 77), “para atender às expectativas do Wheeler (2012, p.134) “reduzir uma ideia
cliente, é importante abordar o aspecto complexa à sua essência visual requer
relevância. Um projeto gráfico relevante perícia, foco, paciência e uma disciplina
deve ser percebido pelo cliente de forma infindável”. Segundo Cesar (2000, p.118):
significativa, ser comunicado de forma
Com a invasão dos computadores,
clara e diferenciada de um padrão
é cada vez mais comum encontrar
convencional”. Conforme o Entrevistado pessoas que nada entendem de arte
2 exaltou, a apresentação é algo muito fazendo logotipos. Tratam o assunto
importante na hora do cliente comprar como algo simples que, ao sentar
a ideia apresentada. Em concordância, o no computador, 10, 20 minutos
Entrevistado 1 explica “a apresentação depois fazem nascer o logotipo.
tem que ter início, meio e fim. Sendo que Esquecem, porém, que o logotipo é

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para a vida toda. Culpa de quem etc. (CESAR, 2000). Todavia, nem todas
faz e culpa do cliente que, para as agências oferecem e/ou tentam
economizar, pede e fica satisfeito com vender o manual junto com o serviço
resultados, no mínimo, duvidosos. de criação da identidade visual, pois
Contratar profissionais qualificados, alegam que muitas vezes, o cliente não
evita que organizações tenham gastos entende a importância desta ferramenta
desnecessários no futuro, tendo de e acreditam ser muito dispendioso o
investir em redesign da marca por ela investimento em tal. Conforme elucidado
ter sido criada por alguém que talvez pelo Entrevistado 1, o cliente não sabe
nem tenha estudo algum de design e reconhecer a importância do Manual de
isso, possivelmente, irá gerar um ruído Identidade Visual, chegando a colocá-lo
na comunicação com o público. Pois, em uma gaveta e esquecê-lo por anos.
segundo Wheeler (2012, p.134), “é O entrevistado conta, também, que em
uma responsabilidade enorme fazer o dez anos de agência ele teria feito
design de algo que provavelmente será somente uns cinco manuais completos,
reproduzido centenas de milhares, se não e que em outros momentos, ele entrega
milhões, de vezes e durará 20 anos ou somente um guia rápido e básico de
mais”. Em conformidade com Wheeler, o aplicações. O Entrevistado 3 também diz
Entrevistado 3 diz que “fazer um projeto que não oferece o manual junto com o
de Identidade Visual demanda um grande logo e opta pelo guia rápido, deixando
conhecimento técnico e teórico, sendo o manual como um serviço separado ou
assim, não pode ser qualquer pessoa até mesmo um plus.
para realizar este trabalho”. E, conforme O Entrevistado 2 entrega o manual
o Entrevistado 2 explica, o criativo deve junto com a nova identidade visual,
estar numa constante busca de referências variando somente o conteúdo, conforme
e estilos, inclusive de empresas de outros o entendimento dele sobre o que o cliente
mercados, pois um conceito utilizado em irá precisar para sua utilização. O único
um logo de outra empresa pode servir consenso entre os três entrevistados é
de inspiração para a criação do logo do de que o manual traz a uniformidade da
cliente, e sendo de mercados diferentes, marca e da identidade visual, e isso vai
não se caracterizam como concorrentes. ao encontro do que é apresentado por
Ao fazer uma nova marca, Cesar (2000, p.125), onde ele pondera
provavelmente, será oferecido pelo que “manual de identidade visual, pelo
profissional e/ou agência o manual de menos, permite que a padronização da
identidade visual, este será o documento comunicação visual de uma empresa não
que traz as formas corretas de uso e se torne um caos”. Esta ideia está em
aplicação do logo. Além de justificar e conformidade com Teixera, Silva e Bona
explicar o processo criativo e o conceito (2012, p. 05), ao dizerem que “respeitar
empregado ao logo, dizendo o porquê os conceitos corretos, os elementos
foi utilizada determinada cor, tipologia e institucionais e as relações que regem

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apresentar o projeto e solicitar a nova
identidade. Segundo Wheeler (2012, p.
seu emprego são o segredo de uma boa 130), “os briefings são o resultado de um
e valorizada identidade visual”. processo colaborativo, isto é, do melhor
pensamento e da capacidade de haver
acordo sobre os atributos de marca e
TÉCNICAS DE CRIAÇÃO DE UMA seu posicionamento e, a seguir, sobre
IDENTIDADE VISUAL o resultado desejados e os critérios do
Há técnicas de criação pré-definidas processo”. Em conformidade, Teixeira, Silva
e defendidas pela comunidade acadêmica e Bona (2012, p.8) trazem que “briefing
e estudiosos da área do design e da são as principais informações e detalhes
comunicação social para se chegar ao da empresa passadas ao prestador de
produto final que será o layout do logo. serviço pelo cliente”. Porém, o briefing
Porém, cada trabalho é único e fará que acaba chegando na criação é muitas
combinações e abordagens diferenciadas vezes raso e carente de informações
das técnicas para a elaboração do layout que, por consequência, levam o Diretor
indo em conformidade com o mercado de Arte a ter de se esforçar muito para
e os anseios do cliente. De acordo com tentar fazer algo visualmente agradável e
Bertomeu (2009, p. 76-77), “quando se que comunique o pouco que ele sabe a
abordam os pontos envolvidos em um respeito do cliente (CESAR, 2000).
design gráfico, deve-se estar atento à Na coleta de experiência com os
sua transdisciplinaridade. Conhecimentos entrevistados, entretanto, pode-se notar
diversificados e múltiplos são necessários um ruído já nesta fase que é tão importante
para o desenvolvimento de um bom para o processo de criação, sendo
projeto”. Completando este conceito, consenso entre os três entrevistados que
Wheeler (2012, p.22) ressalta que “a muitas vezes, o briefing elaborado pelo
melhor estratégia de marca é desenvolvida atendimento e passado para a criação
como uma parceria criativa entre cliente, acaba carecendo de informações, o que
estrategista e designer”. Nesse ponto, mais tarde pode gerar uma “refação” no
os três entrevistados concordam, porém layout e estrutura criativa. Entretanto,
dependendo do projeto, o cliente irá o cliente também tem sua parcela de
“ajudar” mais, ou menos, conforme a responsabilidade pela falta de informação
necessidade do apoio do mesmo. no briefing, de acordo com o Entrevistado
Analisando as técnicas base e mais 2, não sabendo exatamente o que deseja
comuns a qualquer trabalho de criação ou até mesmo esquecendo de passar
de uma identidade visual, podem ser alguma informação que seria de alta
destacados pontos de convergência relevância como o formato da sua fachada,
que irão figurar em praticamente por exemplo. Conforme Bertomeu (2009,
todos os trabalhos. Normalmente, tudo p. 77), “o domínio das estratégias de
começa pelo briefing, onde o cliente irá comunicação deve fazer parte do início

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de um bom e eficiente projeto gráfico, o complemento de dados inerentes
não apenas nos aspectos de identificação ao processo. Em consonância com os
de públicos, mas também no objetivo entrevistados, Cesar (2000, p.118) diz
da comunicação que se busca atingir”. que “ao criar um logotipo, [...] é como ter
Outra etapa importante no que retratar uma pessoa. Para mostrá-la
desenvolvimento de uma marca e que de maneira correta, é preciso saber o
antecede o design é o Naming. Esta máximo sobre ela; de outra forma, você
fase pode ou não ser necessária no não a retratará bem”.
desenvolvimento, ela irá depender se o Segundo Wheeler (2012, p.135),
cliente já tem um nome para sua marca “o processo de design é um triângulo
ou se necessitará de auxílio para elaborar formado por percepção do público,
um, sendo assim, uma tarefa que requer insight6 do cliente e intuição do designer”.
muita reflexão e pesquisa, pois este nome Sendo assim, após o período de coleta
irá conceituar e estar de acordo com de informações com o cliente, o criativo
os propósitos da nova marca. Segundo e/ou a agência devem determinar que
Wheeler (2012, p. 30), “o nome certo rumo que irá tomar com base no perfil do
é atemporal, [...] ele representa alguma cliente. Bertomeu (2009, p. 79) considera
coisa e facilita as extensões da marca. que “os projetos devem ser adequados à
[...] Um nome bem escolhido é um ativo realidade financeira do cliente”. Portanto,
de marca fundamental e está sempre sendo paradigma para se estabelecer o
trabalhando”. Em conformidade com quanto de esforço deverá ser empregado
Wheeler, o Entrevistado 1 diz que “não no trabalho, levando em consideração o
adianta criar um nome que pareça legal, tempo de pesquisa e desenvolvimentos
mas que 80% dos funcionários e dos de rascunhos e tentativas de layout.
clientes não consigam nem pronunciar”, Em concordância com Bertomeu, os
ele também explica que o nome faz parte 3 entrevistados também afirmam fazer
do processo inicial de criação da marca um projeto novo e surpreendente,
e que irá ajudar a determinar o design, porém dentro da realidade financeira e
se o mesmo será composto apenas por mercadológica do cliente.
tipografia, se será criado somente uma O próximo passo é se aprofundar
parte gráfica (visual) ou se será um sobre o mercado do cliente, examinar
composto entre ambos. concorrentes, pesquisar tendências do
Após a coleta do briefing, são
passadas todas as informações para a 6 INSIGHT é um substantivo com origem no
equipe de criação e/ou Diretor de Arte idioma inglês e que significa compreensão súbita
que será(ão) o(s) responsável(is) pelo de alguma coisa ou determinada situação.
layout da marca. Conforme relatos dos O insight também está relacionado com a
Entrevistados 1 e 2, após esta etapa há a capacidade de discernimento, pode ser descrito
como uma espécie de epifania. . Disponível em:
análise das informações, e, se necessário <http://projetual.com.br/naming/>. Acesso em: 7
for, é solicitado um novo briefing para de jun. 2018, às 15h47min.

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composto somente por elementos gráficos
ou por tipologias (originais e exclusivas
mercado; buscar pesquisas embasadas ou não), ou ainda uma combinação de
e realizadas por empresas confiáveis, ambos. Definindo assim o conceito base
mesmo que isso possa parecer uma que será desenvolvido durante a criação
utopia no cotidiano da profissão (CESAR, (TEXEIRA; SILVA; BONA, 2012). A tipologia,
2000). Essas pesquisas ajudam a ter quando aplicada ao design da marca,
mais êxito na criação de uma marca se torna significativa e presente em
forte. Conforme Wheeler (2012, p. 12), toda a Identidade Visual, sendo utilizada
“uma marca forte se destaca em um uma ou mais tipologias - base, apoio
mercado saturado. As pessoas se e complementar - para assim compor
apaixonam pelas marcas, confiam nelas tudo que faz parte do universo daquela
[...]. O modo como uma marca é percebida marca e criando uma unidade. De acordo
afeta seu sucesso, [...]”. É preciso ter com Cesar (2000, p.124), “a tipologia é
bem definidos os princípios norteadores fator importante na padronização visual
da organização (missão, visão e valores), do logotipo e, além disso, é importante
pois eles deverão ser percebidos de na unidade da comunicação de uma
alguma forma no design da marca, empresa”. Em consonância, Wheeler
posicionando-a e deixando clara a cultura (2012, p. 142) explica que “a tipologia
corporativa da empresa (WHEELER, 2012). é essencial para um programa de
identidade eficaz. Empresas como Apple,
Conforme Cesar (2000, p. 118), “os
Mercedes-Benz e Citi são facilmente
princípios da criação do logotipo são:
reconhecidas devido, em grande parte, a
originalidade, significado e lembrança”,
seu estilo tipográfico distinto e único”. O
para assim atrair a atenção do público,
Entrevistado 3 afirma que, “além de uma
conquistá-lo e fidelizá-lo. Em complemento,
tipologia exclusiva, uma marca deve ter
Wheeler (2012, p. 134) cita que “o design é
um slogan que resuma corretamente seus
um processo interativo que busca integrar
princípios norteadores e que comunique
o significado com a forma”. Sendo assim,
com clareza as intenções da empresa”.
não deve se apegar aos modismos, pois
as tendências mudam constantemente e Outro ponto a ser bem pensado
podem ser uma solução num momento e e devidamente trabalhado no processo
se tornar um problema em outro, porém de criação é o uso da cor. Ela oferece
boas ideias resistem ao tempo, enquanto diversos significados e associações
tendências desaparecem (CESAR, 2000). simbólicas, contribuindo assim para o
Logo, Cesar (2000, p.120) afirma que “seentendimento visual da peça, além de
você for feliz na criação, daqui a cincoconter significados diferenciados nas mais
ou dez anos, a marca apenas sofrerá variadas culturas. Por isso, a necessidade
uma pequena atualização, ou não”. de delimitação de público a ser atingido
pela marca (TEXEIRA; SILVA; BONA,
Ao desenvolver os primeiros traços,
2012). Porém, também deve-se verificar
o criativo deve se ater se o logo será

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os anseios do cliente, como no exemplo final (TEXEIRA; SILVA; BONA, 2012).
trazido pelo Entrevistado 2 “já fiz uma O Entrevistado 2 afirma que nessa
apresentação e simulei diversas peças e na fase ele se arrisca e tenta fazer uma
hora de apresentar o cliente não gostou, apresentação mais original, cativante
pois utilizamos predominantemente a e que vá ao encontro com o cliente;
cor laranja e ele nos revelou que não inclusive dando exemplos de como ele
gostava da cor, apesar de não saber o cria uma atmosfera para apresentação:
porque”, novamente nota-se a importância “se o cliente for uma pâtisserie, nós
de um bom briefing onde conste estas vamos em uma confeitaria próxima a
informações, do que o cliente gosta ou agência e compramos docinhos para
não. Segundo Wheeler (2012, p.138), “a servir na apresentação, se for uma banda,
cor é utilizada para evocar emoções e colocamos a música deles para tocar de
expressar personalidades. Ela estimula fundo”. Já os Entrevistados 1 e 3 optam
a associação da marca e acelera a por apresentações mais conservadoras e
diferenciação. Vemos a cor e sentimos num modelo já pré-definido, apostando
imediatamente uma série de impressões”. mais no que será apresentado ao cliente
Nesta linha, Cesar (2000, p.107) estabelece do que numa apresentação em que, a
que a cor “é fator predominante, [...] atmosfera, possa tornar mais vendável o
exatamente pela influência psicológica conceito que será apresentado.
que exerce sobre nós, simples mortais”.
Após todo esse processo é criado CONCLUSÃO
o(s) logo(s) que será(ão) mostrado(s) ao
cliente, vem a etapa de simulação de A criação de uma nova Identidade
aplicação desta Identidade Visual, para Visual é um processo longo e complexo,
que o cliente possa ter ideia de como não se limitando apenas a fazer o layout
a marca irá se apresentar ao público. de uma marca aleatoriamente, mas sim
De acordo com Wheeler (2012, p.148), um processo que envolve muita pesquisa
“é importante escolher um grupo de e criação de significados substanciais e
aplicações reais para testar a viabilidade de fácil compreensão para os públicos
dos conceitos que funcionarão dentro do envolvidos com o cliente, incluindo-se o
sistema”. O Entrevistado 1 ainda afirma público interno, ou seja, os colaboradores
que, ao simular as peças na apresentação do cliente.
de uma nova Identidade Visual, ele não As questões levantadas e abordadas
utiliza peças que o cliente provavelmente neste artigo foram sendo respondidas
nunca usará, como um outdoor, por durante a pesquisa bibliográfica e as
exemplo. Feito isso, a última etapa é entrevistas realizadas com os profissionais
a apresentação ao cliente. Caso ele mostrou como a teoria pode ou não ser
não aprove o que lhe foi apresentado aplicada na prática. Apesar do assunto ser
ou sugerir alterações, há a etapa de algo muito debatido no meio acadêmico
correções seguida da apresentação e possuir bastante literatura de base

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questionamentos e buscando esclarecer
cada vez mais sobre o processo criativo
para estudos, realizar as entrevistas que está em constante evolução e
e ter acesso a troca de experiências que além de aliar novas técnicas, tem
com outros profissionais do ramo não a sua disposição novas ferramentas e
é algo muito fácil, seja por questão da deve acompanhar as tendências dos
falta de tempo, a falta de interesse de meios de comunicação com os mais
alguns profissionais em dividir um pouco diversos públicos. Além de se analisar
do seu conhecimento com pessoas que uma questão aqui abordada sutilmente,
estão iniciando ou pelo simples fato de sobre a importância de um profissional
não querer apresentar as técnicas por devidamente habilitado para a condução
sua agência adotada. Porém, os três de um processo criativo e não qualquer
entrevistados que aceitaram ceder seu pessoa que tenha um bom domínio de
tempo e conhecimentos para responder as um software gráfico, mas venha a carecer
entrevistas, se mostraram muito abertos e de conhecimento técnico e científico.
receptivos, além de apresentarem, mesmo
que forma periférica, sua metodologia de
trabalho no processo de criação de uma REFERÊNCIAS
nova marca.
CESAR, Newton. Direção de arte em
Através das entrevistas e com base propaganda. 7ª ed. São Paulo: Futura, 2000.
na teoria científica, aqui embasada pelo
referencial teórico, determinou-se que o BERTOMEU, Virgínia Pereira Cegato. Design
processo de criação de uma Identidade Gráfico. In: BERTOMEU, João Vicente
Visual é fruto de um grande aprofundamento Cegato (org.). Criação visual e multimídia.
teórico, pesquisas contínuas e diversas, São Paulo: Cengage Learning, 2009.
além de subjetividade e expertise por
parte do criativo para assim conquistar WHEELER, Alina. Design de identidade da
a aprovação do cliente. Tornando cada marca. 3ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2012.
caso único, e mesclando conhecimento
acadêmico com subjetividade e TEIXEIRA, Felipe Colvara; SILVA, Roberta
conhecimentos variados, sendo uma D. de O.; BONA, Rafael J. O processo de
constante a busca de referências por desenvolvimento de uma identidade
parte do criativo em diversas áreas, visual. In: VIII CONGRESSO BRASILEIRO
incluindo áreas que possam destoar um DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO DA
pouco dos objetivos do cliente, mas que REGIÃO SUL. Passo Fundo, RS. 2012.
possam trazer elementos de originalidade Disponível em: < http://www.intercom.org.
para elaboração de um projeto. br/papers/regionais/sul2007/resumos/
R0187-1.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2018,
Esta pesquisa deverá ser base
às 22h51min.
para novos estudos vinculados a
área de criação, levantando novos

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