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O foco da pauta são pequenas marcas que utilizam material reaproveitado para confeccionar

peças de roupa para o Carnaval; quase todas citam uma tendência de que peças de Carnaval
sejam atemporais e possam ser usadas em outras ocasiões. Queremos ouvir algum especialista
em moda que possa confirmar ou refutar essas tendências e citar outras, com foco no Carnaval
e na sustentabilidade.

A pauta é para o caderno MPME da Folha, que tem como público empreendedores que já têm
ou querem abrir um pequeno negócio.

Algumas das perguntas abaixo:

* Quais são as tendências mais recentes para o segmento do Carnaval na moda?

O Carnaval é uma das festas populares mais esperadas no mundo. Nesse período do ano,
geralmente 4 dias dos meses de fevereiro ou março, milhões de foliões saem para as ruas para
brincar ou pular o carnaval. Na atualidade no Brasil existem várias comemorações como os
tradicionais desfiles das escolas de samba, bailes de fantasia e os trios elétricos com seus
blocos de foliões que seguem dançando atrás da música.

Nesses cenários uma das grandes tendências que têm se apresentado com força são os
incontáveis blocos de rua que acontecem nos grandes centros de todo o país. Como os
“bloquinhos, como são chamados, acontecem nas ruas e muitas vezes de maneira improvisada,
não há tantas regras de como se vestir. De maneira geral os foliões procuram vestir-se de
maneira confortável e segura, mas sempre com bastante irreverência.

Para os profissionais da área da moda neste contexto todo é bastante interessante pois abre-se
a possibilidade de um novo segmento de moda que é o da roupa para se divertir no Carnaval.
Há possibilidades de adaptação de peças já existentes com variadas combinações e até mesmo
algumas customizações.

* Roupas antes consideradas apenas carnavalescas têm estado presentes em outros eventos ao
longo do ano? Ou as marcas têm produzido roupas menos 'marcantes' que sejam mais
atemporais e tenham variados usos?

Roupas antes consideradas apenas carnavalescas hoje em dia podem ser utilizadas em outros
eventos durante o ano ou vice-versa. Uma roupa utilizada em algum outro tipo de evento pode
ser adaptada para ser usada durante os dias festivos do Carnaval. Nesse sentido abre-se um
leque de possibilidades de pensar esse tipo de proposta de vestimenta pois o folião vai investir
um pouco mais em uma peça que ele possa usar depois. Além disso, vivemos em uma
sociedade que têm a preocupação de realizar um consumo mais consciente e desta maneira
prolongar a vida útil e otimizar o uso dessas peças.

Para que isso aconteça é necessário que as peças escolhidas para montar as fantasias sejam um
pouco mais minimalistas, sem tantos detalhes. Mas isso não quer dizer que essas roupas serão
menos marcantes porque elas serão combinadas com adereços interessantes. E este é o grande
trunfo. Desta maneira além da fantasia ser mais sustentável porque vai ser mais utilizada
inclusive, ela pode ser trocada de temas várias vezes porque o folião pode mudar apenas o
adereço e reutilizar o shorts, o top, o vestido. Seja qual for a peça e também para algum outro
tipo de uso como esportivo. É comum muitos foliões utilizarem peças trazidas dos segmentos
de academia, moda íntima e moda praia por exemplo.

* Como as marcas podem aproveitar o hábito de foliões que querem colocar a mão na massa e
criar seus próprios looks?

As marcas podem identificar no comportamento desses foliões o que é interessante nos seus
produtos para oferecer para eles. Por exemplo, na moda íntima muitas peças como os Bodies
podem ser utilizadas em combinações com meias-calças coloridas e adereços de cabeça
interessantes. Ainda na moda íntima uma camisola simples pode facilmente ser combinada
com meia-calça arrastão e um adereço de cabeça como uma pena de melindrosa. Uma saia
rodada com top ou biquini pode fazer as vezes de uma espanhola. Ou ainda, na moda praia é
muito fácil combinar maiô no tom branco com saia de tecido leve ou customizar a peça com
alguns pedaços de tecidos sendo assim muito fácil fazer uma fantasia de deusa grega. Dentro
da moda feminina em geral é mais fácil fazer essas combinações, uma roupa rosa pink pode se
tornar facilmente uma fantasiar de Barbie, se combinada com saia de tule pode ser coelha ou
uma fada. No segmento masculino também não é difícil, pode-se pensar uma roupa toda preta
e uma máscara do Batman, uma blusa de listras pode ser um marinheiro... e assim vai.

A questão toda é que esses foliões estão realmente muito preocupados com o conforto e esse
pequeno adereço é que vai trazer a personalidade para peça. Então o importante para o é
lojista ou para a marca é identificar quais peças são possíveis de fazer essas combinações.

* De que forma a sustentabilidade aparece na moda dentro desse contexto?

A sustentabilidade é um conceito com preocupações que na atualidade permeia todas as áreas


da nossa sociedade. Não poderia ser diferente no Carnaval. Dentro deste contexto de moda e
Carnaval a sustentabilidade precisa estar presente pois já se trata de um momento muito
frívolo e passageia e a moda não pode de maneira alguma compactuar nesse movimento de
forma descartável. Por isso é importante pensar que essas peças devem ter seus consumos
otimizados não só para esses momentos festivos, mas também reutilizadas durante todo o ano
e quiçá também no próximo Carnaval.

Além do mais há outras possibilidades como a customização de peças já prontas é para que
elas se tornem fantasias e reaproveitamento de peças de brechó.

* É possível criar peças com boa durabilidade e que resistam ao contato com chuva, sol, suor e
multidões? Como?

Criar peças com boa durabilidade para esses momentos festivos com tantas intempéries como
sol, chuva, suor e multidão é um processo ligado principalmente com a qualidade das peças e
dos materiais que vão ser empregados na confecção dessas. O ideal é escolher bons tecidos,
aviamentos e materiais em geral que sejam leves, maleáveis com tecnologias diversas. Esse
processo é essencial para que se promova também conforto físico e sensorial para os foliões.

Queria saber se, dentro dessa ideia de preocupação com sustentabilidade, dá pra se considerar
uma tendência dentro da moda (e do Carnaval) a priorização por estoques reduzidos.
Sim a a questão da sustentabilidade tanto na moda quanto no Carnaval enquanto uma
tendência de comportamento gera impactos positivos de consumo e é interessante sim ter
uma regra de estoque reduzido aonde você não vai gerar material excessivo que
posteriormente teria que se liquidar de uma maneira muito rápida.

Sei que há marcas que preferem ter estoques reduzidos dentro do slow fashion, mas queria
saber se é uma tendência ou se é algo mais pontual de algumas empresas

Essa questão dos estoques reduzidos em relação a slow fashion, na moda mais lenta está em
sua essência ligada com a questão de consumo. Então não é uma questão somente das marcas
mas também de uma educação do consumidor que precisa estar preparado para comprar um
produto e não descartá-lo com tanta facilidade, otimizar o uso deste produto e estar disposto
também dentro dessas características a pagar um valor maior com preço mais alto por um
produto que vai ser confeccionado numa escala reduzida, muitas vezes em processos um
pouco mais artesanal e isso vai imbricar para que o seu valor final de venda também seja mais
alto e em decorrência de tudo isso o estoque também seja reduzido. E número de peças que
vão estar disponíveis para venda elas são menores só que com maior qualidade e valor
agregado.

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