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Decorrido mais de sio séeulo desde o seu sue nento, a Abordagem Cen- sda na Pessoa, no inicio um adelo psicoterdpico, foi, steriormente, apicada aos pos da educagio, taba- som grupos easrelages manas em geral. Passou + transformagdes que re- erem uma delimitagao ais precisa quanto a seu al nce nas cigncias humanas bn Keith Wood desempe- 4 neste cenério um papel significativa importancia, nm entusiasta dos ideais ¢ incipios da Abordagem sntrada na Pessoa e pinci- Imente no ambito do traba- 2 com grupos intensivos, + participou e foi agente de ‘os que ajudaram a compor idemtidade desta aborda- mm, de forma reflexiva ¢ tic Desde 1970, Wood tegrou a equipe de psicé- 08 © pesquisadores do enter for Studies of the rson em La Jolla, Califor a, entidade fundada em “64 por Carl Rogers e seus laboradores. mais. proxi as, No Brasil tem exerci- ‘uma influéncia marcante sde 1977, ocasiao em \e juntamente com Carl agers © alguns colegas + La Jolla facilitou orkshops que se torna- m conhecidos nacional- ente. Amigo pessoal de url Rogers por quase vinte 6s, Wood contribuiu para desenvolvimento € siste- atizagao de suas idéias mpartithando os mesmos ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA. Organizagao e traducio John Keith Wood Jaime Roy Doxsey Lucila Machado Assumpeao Marcia Alves Tassinari Marisa Japur Monica Allende Serra Raquel Wrona Rosenthal Sonia Regina Loureiro Vera Engler Cury Editora Fundagio Ceciliano Abel de Almeida Universidade Federal do Espirito Santo Vitéria 1994 indagdo Cec Universidade Federal do Espirito Santo Reitor da Universidade Federal Béitor do Espirito Santo Ricardo Nigri Roberto da Cunha Penedo Revisto Rossana Frizzera Bastes Carlos Felipe Moisés Diretor Adjunto Editoragio Eletrénica Gracilda de Almeida Vale Andeé Luiz Soares Rezende Sando Barbiero Allochio Consetho Editorial Aci Nigri do Carmo Matriz LaserFilm Carlo Bussola CPDIFCAA. James Valério Rampazz0 José Irmo Goncing Capa Leia Detmaestro Lucila Machado Assumpeio Maria Queiroz Nader Maria Rosiani Dorietto de Meneves Impress Olga Alter ‘Sagrat Artes Griticas Lida, Tinia Cristina Vargas Canabarro Celso Francisco Dias Maria Auxiliadora de Carvalho Corassa Ficha Catalogréfica: Marcelo Nair dos Santos 1552 “Abordagem centrada na pessoa / John Keith Wood; ABO Organizagio e traducio [de] John Keith Wood..[et al Vitstia: Editora Fundagao Ceciliano Abel de Almeida, 1994, 313p.j31x15em Diversos artigos excrtos por Carl Rogers ¢ John Wood organizados em daas pares. Inclui bibliogratia. ISBN 85-7111-007-7 (broch,) 1. Psicoterapia, 2. Psicologia clinica. 3. Psicologia humanista. 4 Psicologia individual. 5. Rogers, Carl Ransom, 1902-1987. 1. Wood, John Keith, 1934. CDU 139.923 ‘Copyright© 1994 by John Keith Wood, ‘Toddos os disits reservados, Pribida a ceprodusio no todo ou 2m parte deste livro por, qualquer meio, sem prévia autorizagao da Eitorae do autor. Printed in Brazil Inpresso no Brasil Dedicamos este trabalho a Rachel Lea Rosenberg Organizadores John Keith Wood - Pa.D. em Psicologia, Membro Colaborador do Niicleo de Estudos em Psicologia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Jaime Roy Doxsey - Ph.D. em Sociologia, Docente na Universidade Federal do Espirito Santo, (UFES) Vitoria, ES. Lucila Machado Assumpeao - Filésofa e Artista Plistica, Marcia Alves Tassinari - Psicdloga, Psicoterapeuta, Fundadorado Centro de Psicologia da Pessoa, Professora da Universidade Santa Ursula, Rio de Janeiro. Marisa Japur - Doutora em Psicologia, Docente na Faculdade de Filosofia, Ciéncias e Letras de Ribeiro Preto - Universidade de Sio Paulo (USP). Monica Allende Serra - Doutora em Psicologia, Docente na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Raquel Wrona Rosenthal - Psic6loga, Psivoterapeuta, Professora Coordenadora do Curso de Especializagio em Abordagem Centrada na Pessoa do Instituto Sedes Sapientiae, Sto Paulo. Sonia Regina Loureiro - Doutora em Psicologia, Docente na Faculdade de Medicina de Ribeirio Preto - Universidade de Sio Paulo (USP). Vera Engler Cury - Doutora em Satide Mental, Docente na Pontificia Universidade Cat6lica de Campinas (PUCCAMP), Psicéloga Clinica, Agradecimentos Os organizadores agradecem a: * Prof. Brian ‘Thorne - University of East Anglia, Inglaterra © Prof. Dr. Fred Zimring - Case Western Reserve, EUA. * Prof. Dr. Germain Lietaer - Katholieke Universiteit Leuven Bélgica. * Dr. Godfrey T. Barret-Lennard - Centre for Studies in Human Relations, Australia. + Prof. Dr. Jodo Hipélito - Instituto para a Aplicacéo e Desenvolvimento da Abordagem Centrada, Portugal. + Prof. Dr. John Shlien - Harvard University, EA. * Profa. Dra. Maria V. Bowen - Center for the Studies of the Person, EUA. * Dra. Natalie Rogers - The Person-Centered Expressive ‘Therapy Institute, BUA. + Prof. Dr. Nathaniel Raskin - Northwestern University, EUA. * Prof. Dr. Reinhold Stipsits - University of Vienna, Austria, + Dr. Richard Farson - Western Behavioral Sciences Institute, EUA. * Dr. Robert Lee - Counseling and Consulting Center, EUA. * Dra. Peggy Natiello - Center for Interpersonal Growth, EUA, por generosas sugestoes na preparacdo deste livro; ea * Psicélogo Luiz Henrique de S4 + Prof. Dr. Mauro Martins Amatuzzi * Psicdlogo Sebaldo Bartz pela colaboracao na fase inicial deste trabalho; e, naturalmente, assumem total responsabilidade pelo resultado aqui apresentado. SUMARIO Prélogo Parte I - Seis Artigos Seminais de Carl R. Rogers Aspectos Significativos da Terapia Centrada no Cliente ww... 17 Algumas Observacdes sobre a Organizagio da Personalidade Conceito de Pessoa em Funcionamento Pleno.... ‘A Equagio do Processo da Psicoterapia. Pessoas oui Cigncia? Uma Questo Filoséfica. 123 AAs Condigées Necessiras¢ Sufcientes para a Mudange ea de Personalidad... 153 Parte Il - Da Abordagem Centrada na Pessoa a Terapia Centrada no Cliente: Uma Retrospectiva de 60 Anos John K. Wood Introdugdo Um Jeito de Ver Tornando-se Terapia... Desenvolvendo um Ponto de Vista Préprio 191 ixito e Sistemas de Mudanga na Personalidade soos 192 Insight sobre a Natureza Humana 200 Insight sobre a Pessoa em Funcionamento Plen0...censuese 212 Insight sobre o Respeitavel Cliente so 213 A Complexidade do Cliente ...sinsuunnnnnsnininnene 218 Insight sobre o Papel do Terapeuta. Insight sobre a Compreenso Empitica....eo Insight sobre Congruéncia O Método Supervalorizado (Embora Necessario) Ambiente: Mais uma Omissao do que um Insight... Moralidade. © Fen6meno do Relacionamento Terapéutico Eficaz Os Fatos Falando por Si: Um Resumo ... 253 Em Diregio a uma Psicologia para as Aplicagdes da Abordagem Centrada na Pess0a..........0:.:r00. 260 Incerteza ou Confustio 264 Seri Necessdria essa Confusio?.... Nilo tio Bom quanto se Acredita, Melhor do que se Imagina... Notas. Referencias Bibliogratficas PROLOGO ‘Carl Ransom Rogers (1902-1987) talvez tenha sido 0 psicélogo mais importante do seu tempo. Numa consulta a psicélogos clinicos e conselheiros norte-americanos, a quem foi pedido que indicassem 0s dez terapeutas mais influentes, o nome de Rogers aparece no topo da lista. (Smith, 1982) No entanto, ainda mais impressionante que sua popularidade foram suas realizagdes. Apés muitos anos de um trabalho dedicado, cesenvolvendo uma psicoterapia verdadeiramente humanista, Rogers foi eleito, em 1947, presidente da Associagio Americana de Psicologia. Sua participagdo nessa instituigg0 marcou um ponto sem volta no reconhecimento que a sociedade norte-americana passou a dedicar ao papel do psicélogo clinic, aceitando-o também como psicoterapeuta, Isto porque, a prética inicial de Rogers no campo do Aconselhamento Psicolégico, tornando-0 objeto de pesquisa empirica, fortaleceu o reconhecimento de seu trabalho como atinente a psicoterapia, legitimando-a como parte do campo de atuagao co psicdlogo. Até entio, era vedada aos psicdlogos a pritica da psicoterapia, prerrogativa exclusiva de médicos psiquiatras. Essa mesma associagao conferiu-Ihe um prémio por “Eminente Contribuigio Cientifica” € outro por “Eminente Contribuigao Profissional”. Foi também o primeiro presidente da Associagio Americana de Psicoterapeutas, no perfodo compreendido entre 1956 ¢ 1958 Rogers escreveu mais de 250 artigos e publicou em torno de 20 livros. Cerca de doze filmes foram feitos sobre seu trabalho e é dificil precisar 0 ntimero de horas gravadas em audio ¢ video de suas entrevistas psicoterdpicas, tal o seu volume. Revendo essa producio, particularmente o material compreendido entre 1940 e 1970, perfodo em que se gestaram suas idgias mais cuidadosamente formuladas, fica-se atdnito diante da gama ¢ profundidade das questées levantadas, que ele procurou responder. Quem sou eu? Serd que posso ajudar? Como? O que posso fazer? Como uma pessoa muda? Qual € o ponto de partida? Qual poderia ser o ponto final? Como abordar esta tarefa? O que pretendo? Quais so minhas atitudes? Meus valores? O que sinto € penso? Quais sio os fatos? O que realmente funciona? Sera suficiente escutar? Qual & o efeito da honestidade, da congruéncia? Como me relaciono com o cliente? O que significa 0 nosso relacionamento? Realmente me importo com ele? Qual é a percepsio que o cliente tem de mim, da relagio, da atividade? Como é 0 mundo do cliente? Qual ¢ o objetivo da terapia? O que €a pessoa? Qual éa natureza do homem? Quais so as implicagdes mais amplas de nossas descobertas? Que é educagio? Serd que posso facilitar a aprendizagem? Como? Seri que posso ser uma pessoa facilitadora em um grupo? Serd que posso facilitar a ‘comunicagio entre antagonistas? Ser que meu modo de trabalhar traz contribuigées para a resolugio dos problemas criticos da atualidade?: O que 6a Abordagem Centrada na Pessoa? Rogers considerou a Abordagem Centrada na Pessoa como uma forma singular de abordagem, orgunizadora da experiéncia bem sucedida em diversas atividades. A Terapia Centrada no Cliente foi a primeira dessas aplicagdes ¢ consistiu na facilitagiio itt do crescimento pessoal ¢ satide psicolégica de indivéduos numa psicoterapia pessou-a-pessoa, Grupos de encontro, aprendizado em salas de aula, terapias de pequenos grupos ou workshops de grandes grupos para aprendizagem sobre formagio e transformagio da cultura, comunicagdes interculturais ¢ resolugdo-de-conflitos esto entre as outras atividades onde a Abordagem Centrada na Pessoa tem sido aplicada com graus variados de sucesso. ‘A Abordagem Centrada na Pessoa no & uma teoria, uma terapia, uma psicologia, uma tradigdo. Nio € umu linha, como, porexemplo. a linha Behaviorista, Embora muitos tenham notado tum posicionamento existencial em suas atitudes, ¢ outros tenham se referido a uma perspectiva fenomenolégica em suas intengdes, nao é uma filosofia. Acima de tudo nio é um movimento, como por exemplo, 0 movimento trabathista, E meramente uma abordagem; nada mais, nada menos. E um “jeito de ser” (Ri 1980) ao se deparar com certas situagGes que consiste de: = uma perspectiva de vide, de modo geral, positive; = uma crenga numa tendéneia formativa direcional que Rogers (1950) descreve brevemente como: “Os individuos tém dentro de si mesmos amplos recursos para a auto-compreensio, para alterarem seu auto-conceito, sua atitude basica © seu comportamento auto-dirigido, esses recursos podem ser mobilizados se Ihes for proporcionado um clima definido de atitudes psicoldgicas facilitadoras” (pig, 115); - uma intengdo de ser eficaz nos proprios objetivos. No caso da Terapia Centrada no Cliente, por exemplo, a intengdo € ajudar outro ser humano a fazer mudangas construtivas na personalidade; = um respeito pelo individuo ¢ por sua autonomia e dignidlade. Rogers em uma de suas primeiras tentativas para descrever sua abordagem no que conceme stia aplicagio & psicoterapia, propos que oterapeuta teria “uma capacidade de simpatia que no seriaexagerada, uma atitude genuinamente receptiva e interessada, uma compreensio mm profunda que tomaria impossivel fazer julgamentos morais ou ficar chocado ou horrorizado.” Este terapeuta teria um respeito pela individualidade que vai ainda mais além, Incluiria “um respeito, profundamente enraizado pela integridade da pessoal uma vontade de aceité-la como é, no seu prdprio nivel de ajustamento, € Ihe dar liberdade para conseguir solugdes préprias para seus problemas", Rogers achava que se deveria esperar que lum terapeuta tivesse “uma sélida compreensio de si mesmo, de seus padrdes emocionais predominantes, e suas proprias Jimitagdes e atalhos.” (Kirschenbaum, 1979, pig.96); - uma flexibilidade de pensamento € ago, nio tothida por teorias ou priticas anteriores, nem mesmo pela experiéncia, aberta a novas descobertas. Uma habilidade de se concentrar intensamente , com clareza apreender a construgao linear da realidade, pedago-a-pedaco, bem como perceber sua tealidade integral, holistica, “oda-de-uma-vez” - uma tolerdincia quanto as incertezas ou ambiguidades, sendo capaz de viver numa situagdo cadtica até que fatos suficientes se acumulem para ser possivel abstrair-se um sentido deles, Um interesse jo na verdade j4 conhecida ou formulada, mas no processo pelo qual a verdade € tenuamente percebida, testada € aproximada”, (Rogers, 1974); ~ senso de humor, humildade e curiosidade, sem divida, também tém seu papel, embora nio sejam exclusivos dessa abordagem, A Diferenca entre Abordagem Centrada na Pt e Terapia Centrada no Cliente Antes mesmo da abordagem ter um nome especifico, tal como Abordagem Centrada no Cliente ou Abordagem Centrada na Pessoa, Rogers jd aplicava as mesmas intengdes, crengas € Vv atitudes para uma psicoterapia eficaz. Ele ndoestava tentando fazer uma boa terapia, apenas tentava ajudar seu cliente. Ao fazer isso, colheu varias observagdes. Algumas ages pareciam ajudar mais que outras, Os clientes pareciam agir de determinada maneira em certas situagdes. Assim, mérodos se desenvolveram a partir dessas observagdes. Teorias foram propostas. Principios foram estabelecidos. Aquilo que, no final, foi chamado de Terapia Centrada no Cliente, evoluiu juntamente com os principios que o estavam organizando, Terapia Centrada no Cliente tornou-se um sistema de mudanga na personalidade, Embora relacionada com esse sistema, a abordagem, que veio a ser chamada Abordagem Centrada na Pessoa, é uma categoria distinta, Assim, a Terapia Centrada no Cliente tem uma teoria especifica, coerente e bem documentada (Rogers, 1959). A Abordagem Centrada na Pessoa no tem nenhuma teoria, Que teoria poderia ter uma abordagem? Existe um método para conduzir uma Terapia Centrada no Cliente, Nao é tio bem especificado quanto a teoria, mas a técnica pessoal de Rogers foi extensivamente documentada e pode ser precisamente descrita. A abordagem nao tem método. Ela toma forma de acordo com a demanda. Quanto a Terapia Centrada no Cliente, um corpo substancial de pesquisa se acumulou, testando as hipdteses propostas pelo estudo de sua teoria e pratica, Embora de um modo geral, a pesquisa tenha sido incapaz de convencer a maioria dos psiclogos da validade da teoria, o que tem sido mais convincente que, de ato, melhorou a psicologia em geral, foi o sucesso na clinica, da Terapia Centrada no Cliente, A Abordagem Centrada na Pessoa nfo tem sido pesquisada,

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