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20160116
Artigo
Lilian R. M. Ferreiraa,*,# , Simone M. Klokb, Haroldo de A. Ponteb e Fernando Farelasc
a
Centro Universitário UNISOCIESC, Albano Schmidt, 3333, Boa Vista, 89206-001 Joinville – SC, Brasil
b
Departamento de Engenharia Química. Universidade Federal do Paraná, 815319-990, Curitiba – PR, Brasil
c
Institute for Corrosion and Multiphase Technology, Ohio University, Athens, OH 45701, USA
THE FORMATION OF PROTECTIVE IRON CARBONATE FILMS AND THE CONTROL OF CO2 CORROSION IN
TURBULENT FLOW. The formation of a protective layer of iron carbonate (FeCO3) can reduce the rates of corrosion and prolong
the useful life of carbon steel. However, turbulent flow conditions in this layer can easily be damaged and thus compromise the
protection of the steel. In this work, will be presented a methodology based on the chemical aspects of the mechanism of formation
of iron carbonate layer in a Thin Channel Flow Cell (TCFC). Electrochemical techniques were used to measure the corrosion rate and
corrosion potential on the surface of steel API X65 exposed to aqueous solution of 1 wt.% NaCl purged with CO2 at 2 atm, pH 6.6 and
80°C in turbulent flow conditions. The surfaces and cross sections of the samples were characterized by means of Scanning Electron
Microscopy (SEM) and Energy-Dispersive X-ray (EDS) analysis. The results confirm the nucleation and growth of iron carbonate
layer: the extension of supersaturation of the solution and the corrosion rate have decreased, and the corrosion potential has increased.
The surface analysis showed dense and uniform FeCO3 layer with c.a. 20 μm thick after 120 hours in turbulent flow conditions.
US2008/071131). Esta tecnologia possibilita a observação in situ do [Fe2+] = 3,58∙10-4mol/L = 20 ppm = 7g do composto FeCl2∙4H2O
processo de corrosão em condições de fluxo turbulento.5 O método é
baseado na fluidodinâmica desenvolvida entre duas placas paralelas Os principais parâmetros experimentais empregados durante o
e elimina o efeito das forças centrífugas encontradas em regimes monitoramento da corrosão e a formação da camada de carbonato
turbulentos nos tradicionais Eletrodos de Cilíndricos Rotatórios ou de ferro, FeCO3, podem ser visualizados na Tabela 1.
ECR’s. A Figura 1 apresenta uma ilustração esquemática da parte mais Todos os reagentes utilizados no preparo da solução apresenta-
importante da célula de fluxo aberta para a visualização do posiciona- vam grau de pureza analítica (>99%) e foram produzidos pela Fisher
mento das amostras. As amostras são inseridas na célula pelos canais Scientific (EUA). Os gases, CO2 e N2, apresentavam grau de pureza
inferiores, de tal forma que a superfície metálica de cada amostra de 99.999% e foram fornecidos pela Air Gas Speciality (EUA).
aço nivela-se com a base de aço inoxidável da célula de fluxo. Durante o experimento, o pH da solução foi monitorado
1030 Ferreira et al. Quim. Nova
Parâmetro Condição
Pressão total 2 bar
pCO2 1,5 bar
Temperatura 80°C
pH 6,6 ± 0,10
Solução Aquosa NaCl 1%
Fluxo/Velocidade 3,5 m/s
Tensão de Cisalhamento 42,91 Pa Figura 2. Representação esquemática do corpo-de-prova utilizado para
monitoramento eletroquímico
Concentração inicial Fe2+ 20 ppm
Parâmetros eletroquímicos
constantemente por um pHmetro portátil devidamente calibrado
da marca Oakton, modelo pH 11, e a concentração de íons Fe2+ foi As taxas de corrosão instantâneas foram medidas eletroquimi-
mensurada pela aplicação da técnica de espectrofotometria no ultra- camente pela técnica de Resistência a Polarização Linear (RPL),
violeta visível em um espectrofotômetro da marca Genesys 10 vis, aplicada em sequência cíclica, a cada 2 horas.23 O eletrodo de trabalho
utilizando o reagente FerroVer produzido pela HACH Permachem foi polarizado em ±5 mV em relação ao potencial de circuito aberto. A
Reagents Company World (EUA). velocidade de varredura foi de 0,125 mV/s e o coeficiente anódico de
Tafel considerado foi 40 mV/dec, valores anteriormente empregados
Condições fluidodinâmicas e discutidos em outros trabalhos.1,5 Todas as medidas eletroquímicas
foram feitas por meio de um Potenciostato/Galvanostato/ZRA da
O fluxo da solução de trabalho foi mantido constante durante marca Gamry PCI4/300.
todo o experimento. A velocidade de escoamento livre foi ajustada
para v = 3,5 m/s, que corresponde a um número de Reynolds igual a RESULTADOS E DISCUSSÃO
Re = 23000 e uma tensão de cisalhamento de t = 42,91 Pa.
O potencial de corrosão e a taxa de corrosão do aço API 5L X65
Corpos-de-prova para avaliação por perda de massa foram monitorados durante 120 horas de exposição e os resultados
podem ser visualizados na Figura 3. A condição inicial de alta concen-
Os corpos-de-prova em formato cilíndrico foram confecciona- tração de íons Fe2+ provocada pela adição de FeCl2∙4H2O possibilitou
dos em aço API X65, com diâmetro 31,80 mm e altura 6,30 mm. a rápida supersaturação do carbonato de ferro na solução aquosa e
Para cada experimento realizado na célula de fluxo foram dispos- iniciou o processo de precipitação dos cristais sobre a superfície dos
tos 3 corpos-de-prova. O processo de preparação destas amostras corpos-de-prova.
iniciou com jateamento e posterior aplicação do revestimento de Nas primeiras, aproximadamente, 10 horas de exposição, a taxa de
Xylan 1014, de forma que apenas uma das faces circulares foi pre- corrosão experimentada pelo aço manteve-se em torno de 4,0 mm/ano
parada com polimento. Ao final do processo de preparação todas e depois começou a diminuir até se tornar praticamente nula após 60
as amostras foram pesadas em balança analítica da marca Mettler horas de exposição. Dessa forma, duas etapas podem ser claramente
Toledo modelo MS204S (resolução 0,25 mg). Para a avaliação da identificadas na curva apresentada na Figura 3: a primeira metade do
corrosão destas amostras foi utilizada a técnica de perda de massa, tempo representa a nucleação e crescimento do FeCO3 e a segunda
de acordo com a norma ASTM G1-03.22 A caracterização da super- metade é caracterizada pela passivação da superfície.
fície após o experimento foi realizada por Microscopia Eletrônica Ao final das 120 horas, as amostras de aço API X65 foram
de Varredura e Espectroscopia de Energia Dispersiva, num mi- removidas da célula de fluxo plana e apresentavam uma camada
croscópio da marca JEOL e modelo JSM-6390LV equipado com superficial uniforme de coloração cinza escuro para preto, conforme
espectrômetro. mostra a Figura 4.
Esta camada uniforme que nucleou e cresceu sobre a superfície do
Corpo-de-prova para avaliação eletroquímica aço é responsável pelo controle da corrosão do aço API 5L X65 em
condições de fluxo turbulento, de acordo com o gráfico apresentado
O corpo-de-prova utilizado para o monitoramento eletroquímico anteriormente. Os resultados obtidos por energia dispersiva para o
foi produzido pela Metal Samples (EUA) e seu formato cilíndrico topo da superfície confirmaram a presença dos elementos ferro, carbo-
pode ser visualizado na Figura 2. Os anéis concêntricos foram isola- no e oxigênio, que compõem a camada protetora de FeCO3. A Figura
dos eletricamente por meio de resina epoxy não-condutora e atuaram 5 (a) apresenta o aspecto dos cristais de FeCO3 na superfície do aço
como eletrodos, através dos quais a corrente elétrica foi medida API X65 após 108 h de exposição a uma solução aquosa de 1% NaCl
durante todo o experimento. O anel externo foi fabricado em aço saturada de CO2 em regime de fluxo turbulento. A imagem da secção
inoxidável 316 e atuou como contraeletrodo. O anel intermediário transversal da amostra, exibida na Figura 5 (b), revela uma camada
foi fabricado em aço API X65 e atuou como eletrodo de trabalho, densa que reproduz as irregularidades superficiais do substrato. A
correspondendo a 0,95 cm2 de área exposta. Como eletrodo de refe- espessura desta camada pode ser estimada pela imagem apresentada
rência foi utilizado um eletrodo de Ag/AgCl devidamente calibrado. na Figura 5 (c), aproximadamente 20 μm. A trinca que aparece na
Este corpo-de-prova foi lixado com lixa d’água de granulometria 600 camada é decorrente do processo de preparação da amostra para a
e em seguida enxaguado com álcool isopropílico puríssimo antes de análise. Os elementos presentes na camada foram: carbono, oxigênio,
ser instalado na célula de fluxo. ferro e paládio, conforme mostra a Figura 5 (d). Este elementos foram
Vol. 39, No. 9 A formaçao da camada protetora de FeCO3 e o controle da corrosao por CO2 em condiçoes de fluxo turbulento 1031
Figura 3. Variação da taxa de corrosão e do potencial de corrosão, durante a formação da camada de carbonato de ferro sobre a superficie do aço API X65
em solução aquosa de 1% em peso de NaCl, 80 °C e pH 6,6, sendo o regime de fluxo turbulento com velocidade 3,5 m/s
Figura 4. Fotos da superfície dos corpos-de-prova de aço API X65 logo após serem removidos do aparato experimental. Ambas as amostras apresentaram uma
camada protetora: a) no anel concêntrico intermediário do corpo-de-prova eletroquímico e b) no topo da amostra cilíndrica
identificados por energia dispersiva, sendo que o elemento paládio figura confirma a presença maioritária dos elementos ferro e carbono,
está presente devido ao processo de recobrimento necessário para a ou seja, o substrato original de aço. Não há resíduos da camada de
metalização da superfície e respectivo contato metálico. FeCO3. A Figura 7 (b) apresenta a morfologia da superfície sem os
A Tabela 2 mostra que as razões atômicas entre ferro, carbono e produtos de corrosão.
oxigênio obedecem a estequiometria do composto FeCO3, sugerindo A completa remoção da camada protetora de FeCO3 revela uma
a sua composição na superfície do aço ao final do experimento.5 superfície livre de ataque localizado, evidenciando o mecanismo de
A avaliação da perda de massa dos corpos-de-prova revelou para proteção por barreira proporcionado pela camada. Nas condições
as 108 h de exposição, uma taxa de corrosão de 1,237 mm/ano, o que aqui apresentadas, o carbonato de ferro atua como uma barreira à
corresponde a uma perda de espessura de 15,2 μm. Considerando que transferência de massa e minimiza a dissolução anódica do ferro,
a camada de FeCO3 apresenta uma espessura de aproximadamente evitando a evolução do processo corrosivo.
20 μm, pode-se afirmar que a dissolução do aço, evidenciada pela
perda de espessura do substrato durante o processo de corrosão, foi CONCLUSÃO
substituída pela acomodação dos cristais de carbonato de ferro e o
estabelecimento da camada protetora. A avaliação e monitoramento da corrosão por CO2 utilizando
A Figura 6 apresenta a imagem do topo da superfície do cor- a tecnologia descrita neste trabalho possibilitou uma validação dos
po-de-prova de aço API X65 após a decapagem ácida provocada resultados obtidos para a taxa de corrosão do aço API X65 exposto
pelo processo de avaliação da perda de massa dos corpos-de-prova a uma solução aquosa de 1% NaCl saturada de CO2 em regime
(ASTM G1-03).22 de fluxo turbulento, velocidade de 3,5 m/s, temperatura de 80 °C,
A Figura 7 (a) apresenta o resultado da análise por energia dis- pressão total de 2 bar e pH 6,6. A deposição dos cristais de FeCO3
persiva da superfície da amostra após os ensaios de corrosão. Esta e a consequente formação da camada protetora foi confirmada por
1032 Ferreira et al. Quim. Nova
Figura 5. Superfície do aço API X65 após 108 h de exposição a uma solução aquosa de 1% NaCl saturada de CO2 em regime de fluxo turbulento, velocidade
de 3,5 m/s, temperatura de 80 °C, pressão total de 2 bar e pH 6,6. (a) Topo da superfície, (b) e (c) secção transversal via microscopia eletrônica de varredura
e (d) composição química via espectroscopia de energia dispersiva
Figura 7. Análises complementares da superfície do aço API X65 após decapagem ácida provocada pelo processo de avaliação da perda de massa: (a) com-
posição química via espectroscopia de energia dispersiva e (b) morfologia via microscopia eletrônica de varredura
Vol. 39, No. 9 A formaçao da camada protetora de FeCO3 e o controle da corrosao por CO2 em condiçoes de fluxo turbulento 1033
a reprodutibilidade dos experimentos que utilizam uma célula de 9. Schmitt, G.; Mueller, M.; Papennfuss, M.; NACE International Corro-
fluxo para a avaliação da corrosão por CO2 em condições de fluxo sion Conference, San Antonio, Texas, USA, 1999.
turbulento, de tal forma que os resultados apresentados proporcionam 10. Akeer, E.; Brown, B.; Nesic, S.; NACE International Corrosion Confer-
um melhor entendimento deste fenômeno da corrosão e impulsionam ence, Orlando, Florida, USA, 2013.
o desenvolvimento tecnológico no processo de extração do petróleo 11. Bernsten, T.; Seiersten, M.; Hemmingsen, T.; NACE International Cor-
nos campos do pré-sal brasileiro. rosion Conference, Houston, Texas, USA, 2011.
12. Rajappa, S.; Zhang, R.; Gopal, M.; NACE International Corrosion
AGRADECIMENTOS Conference, San Diego, Califórnia, USA, 1998.
13. Dugstad, A.; NACE International Corrosion Conference, Houston,
Os autores são gratos ao Programa de Pesquisa Pós-Doutoral no Texas, USA, 1992.
Exterior da Capes (Processo BEX 10870/13-0) pela bolsa de estu- 14. Nesic, S.; Nordsveen, M.; Nyborg, R.; Stangeland, A.; NACE Interna-
dos concedida e também ao Institute for Corrosion and Multiphase tional Corrosion Conference, San Antonio, Texas, USA, 1999.
Technology, Ohio University pela infraestrutura disponibilizada para 15. Wang, S.; George, K.; Nesic, S.; NACE International Corrosion Confer-
a realização desta pesquisa, especialmente ao Dr. Srdjan Nesic pela ence, New Orleans, Louisiana, USA, 2004.
acolhida e apoio. 16. Choi, Y. S.; Farelas, F.; Nesic, S.; Magalhães, A. A. O.; de Azevedo
Andrade, C.; NACE International Corrosion Conference, Orlando,
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