Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net)
Início > As origens do fascismo na Europa, antes e agora
Uma das interpretações da História europeia mais erróneas e que teve piores consequências
na vida política e económica deste continente é a explicação que se tem dado das causas da
subida ao poder de Hitler e do nazismo, na Alemanha. Um dos argumentos que se têm
avançado para justificar as enormes políticas de austeridade (com cortes na despesa pública,
incluindo a despesa pública social e a baixa de salários), promovidas e impostas pelo
governo alemão aos países da União Europeia e, muito em especial, aos países periféricos
da Zona Euro, como a Espanha, tem sido o suposto temor (na realidade, pânico) que o povo
alemão tem, historicamente, à hiperinflação, pois, na sua memória colectiva, considera-se
que a dita hiperinflação foi a causa do aparecimento e vitória eleitoral do nazismo, na
Alemanha. Daí dizerem-nos que as políticas de austeridade de agora são necessárias, para
evitar uma inflação que poderia levar-nos à eclosão de um novo fascismo. Se estivermos a
par da literatura científica económica, leremos este argumento milhares de vezes.
O segundo ponto erróneo, nesta interpretação histórica de atribuir à elevada inflação a subida
de Hitler ao poder, está na interpretação das causas da inflação. Não há dúvida de que o
nível de inflação, em 1923, era insustentável. Mas, o que é que causou a inflação? E a
resposta, de novo, é fácil de ver: foram as enormes políticas de austeridade que os aliados
impuseram à Alemanha, derrotada na 1ª Guerra Mundial. Quem melhor previu as
consequências destas políticas foi John Maynard Keynes, representante do governo britânico
em Versalhes, na reunião que definiu as políticas a seguir por parte do vencido Estado
alemão, ao terminar a 1ª Guerra Mundial, políticas tão punitivas que não permitiam a
recuperação da economia alemã, mediante políticas expansivas, com aumento da despesa
pública, entre outras. Keynes abandonou a reunião, em sinal de profundo desacordo. Tais
medidas não deixavam nenhuma outra alternativa ao governo alemão, senão tentar crescer à
base de imprimir dinheiro, o que fez em abundância, criando a inflação. E aí está o problema
e, também, a semelhança com a actual situação.
Hoje, uma das opções políticas, que canalizam mais o descontentamento popular e, muito
em particular, o da classe trabalhadora, é a da ultradireita, tal como estamos a ver em vários
países. O caso da França é claro. A Frente Nacional, dirigida por Le Pen, foi a que utilizou,
durante a campanha das eleições para o Parlamento Europeu, um discurso mobilizador da
classe trabalhadora, apresentando-se, a si mesma, sem nenhuma inibição, como o melhor
instrumento para defender os interesses da classe trabalhadora, na luta de classes, frente à
oligarquia nacional que atraiçoara a pátria, vendendo-se à Troika. É o nacional-socialismo,
que, historicamente, teve uma base operária e que, agora, a recupera, com a cumplicidade
da esquerda tradicional (muito especialmente a social-democracia), ao impor políticas que
prejudicam os interesses das classes trabalhadoras, para aumentar os lucros do capital.
Neste discurso, a luta de classes e a identidade nacional são idênticas, utilizando a bandeira
e a defesa da identidade e da pátria como princípios mobilizadores. Foi uma mistura
ideológica imbatível. Era lógico e predizível que o fascismo ocupasse o vazio criado pelo
socialismo e comunismo. No domingo passado, Le Pen conseguiu o apoio de 30% dos
jovens e 43% dos trabalhadores franceses.
O que a esquerda deveria fazer era criticar este nacional-catolicismo, muito hegemónico,
ainda, no Estado espanhol, mostrando-o como ele é: o encobrimento que esconde o enorme
domínio de uma minoria (servil e dócil com a Troika) frente à maioria dos diferentes povos de
Espanha, que apresentam, como visão alternativa, outra Espanha, republicana,
multinacional, poliédrica, laica, democrática e socialmente justa.
O Domingo passado mostrou, uma vez mais, o problema da esquerda, em Espanha. O voto
na esquerda foi muito maior do que o voto na direita. Mas, a direita continuará a governar
Espanha. E seis milhões mais continuarão desempregados, tendo a situação social das
classes populares alcançado níveis desconhecidos de deterioração. Grande parte da
responsabilidade tem-na os dirigentes do PSOE (o partido maioritário da esquerda), cujas
políticas públicas foram responsáveis por esta deterioração, sendo cúmplices da direita
espanhola e da direita europeia, no desenvolvimento da Europa do capital. A Espanha
necessita de uma rebelião do eleitorado e das bases deste partido, para mudar
profundamente a sua direcção e o seu aparelho partidário. E a esquerda não governante
(cujo crescimento aplaudo e considero muito positivo) deveria transcender os seus interesses
partidários e aliar-se em todo o território espanhol, para agitar o panorama político espanhol,
com amplas mobilizações e exigências de mudança, a todos os níveis, com ampla
participação cidadã, consciencializando a população de que os que governam a Espanha
representam uma minoria muito exígua da população espanhola (11% do eleitorado), que
defende interesses económicos e financeiros muito particulares, antepondo-os aos interesses
das classes populares, que são a maioria da população.
Artigos relacionados:
Reflexões sobre as eleições na União Europeia [3]Novo líder indiano tem biografia ligada ao
hinduísmo radical e à violência comunal [4]Extrema-direita e eurocéticos obtêm 1 em cada 4
votos nas eleições europeias [5]UKIP em primeiro lugar, um terramoto na política britânica [6]
Sobre o/a autor(a):
Biblioteca
Agenda
Jornal Esquerda
Blogosfera
Comunidade
Revista Vírus
Wikifugas
Ficha Técnica
Ligações:
[1] https://www.esquerda.net/autor/vicen%C3%A7-navarro
[2] http://www.oqueelesescondem.blogspot.pt/
[3] https://www.esquerda.net/opiniao/reflexoes-sobre-eleicoes-na-uniao-europeia/32856
[4] https://www.esquerda.net/artigo/novo-lider-indiano-tem-biografia-ligada-ao-hinduismo-radical-e-
violencia-comunal/32837
[5] https://www.esquerda.net/artigo/extrema-direita-e-euroceticos-obtem-1-em-cada-4-votos-nas-eleicoes-
europeias/32835
[6] https://www.esquerda.net/artigo/ukip-em-primeiro-lugar-um-terramoto-na-politica-britanica/32836