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25/08/2021

DIREITO PENAL IV
- Aula 04 –

1. Passamos a outro Capítulo do Título Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual.

Perceba que neste Capítulo cuida-se da EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE


SEXUAL da vítima. Essa alteração de Capítulo traz consequências.

CAPÍTULO I-A
DA EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE SEXUAL

Art. 216-B - Registro não autorizado da intimidade sexual - Produzir, fotografar,


filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual
ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes: 

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa. ( Obs: Punição menor
que 218-C 1-5  menor potencial ofensivo)

Parágrafo único.  Na mesma pena incorre quem realiza montagem (ato simulado)
em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa em
cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo. (Forma equiparada)

Foi uma alteração trazida pela lei 13.772, de 2018. Mais uma vez em razão
da necessidade social de se punir casos que antes passavam impunes.

Reconhece que a violação da intimidade da mulher configura violência


doméstica e familiar e para criminalizar o registro não autorizado de conteúdo
com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado.

O objetivo da Lei n.º 13.772/2018 foi trazer uma maior proteção para mulher
vítima de violência de gênero, em razão da violação da sua intimidade
(violência psicológica) e ao mesmo tempo criar o dispositivo legal incriminador
em sintonia com os avanços tecnológicos.

Leading case: Durante as eleições de 2018 foi amplamente divulgado o caso


envolvendo um candidato que foi vítima desse tipo de conduta, que não
encontrava correspondência típica específica, embora pudesse, conforme as
circunstâncias, se subsumir à injúria.

 POLÊMICA: O tipo penal fala em “participanteS”. Partindo da taxatividade, só se


pode punir alguém pelo caput do artigo, quando este alguém praticar a conduta em
face de mais de uma pessoa (sujeitoS passivoS), sob pena de atipicidade da
conduta se assim não o for. O tipo penal é taxativo e não admite analogia  in malam
partem. Princípios da Legalidade, Taxatividade, Proibição à analogia em direito
penal.

Esse entendimento está correto?  Embora a lei utilize a expressão participantes –


no plural – não se exclui a tipicidade da conduta que fizer o registro não autorizado
de apenas uma pessoa em momento de intimidade.
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É um tipo penal misto, com vários núcleos verbais. Comum. Material.

2. Bem Jurídico Tutelado – INTIMIDADE, direito de escolha, dignidade sexual e


a integridade psicológica da vítima  Altera também a Lei Maria da Penha,
definindo essa violação como Violência Psicológica.

3. A “violação de intimidade” a que se refere o artigo não trata apenas do


aspecto sexual, podendo ser configurada em qualquer ataque a intimidade,
desde que cometido no âmbito doméstico e familiar  tomando banho, de
toalha, ... porém, que sempre possa ser levado para a idealização libidinosa.

4. Objeto do Crime – o conteúdo sexual produzido sem autorização. O


consentimento afasta a tipicidade – não há crime, se houver consentimento.
 Só pode consentir quem é maior e capaz. (Se menor, ver art. 240, do ECA)

5. Punível a tentativa – Exemplo, instalação de equipamento antes de serem


registradas as imagens. A vítima percebe e evita o constrangimento.

6. PRODUZIR/REGISTRAR ≠ COMPARTILHAR/DIVULGAR (Art. 218-C)


Concurso Material – Se o agente efetiva a filmagem e posteriormente expõe à
venda ou leva à divulgação, responderá por dois delitos (artigo 216-B
e art. 218-C), em concurso material de crimes (artigo 69, CP), diante da
incidência de duas condutas em contextos fáticos distintos. Ainda há
divergência doutrinária e jurisprudencial sobre isso. + Extorsão (Art. 158, CP
(4-10): https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2021/06/17/homem-e-preso-
suspeito-de-criar-armadilhas-sexuais-contra-jovens-em-aplicativos-de-
relacionamento-em-anapolis.ghtml

7. E se a própria pessoa que REGISTRAR estiver no conteúdo? Pune-se?

8. Na forma equiparada a vítima NÃO PARTICIPA DO REGISTRO, mas sim é


INCLUÍDA sem sua autorização. Criminaliza-se a
MONTAGEM/ADULTERAÇÃO

Se a montagem for com a imagem de outra pessoa, distorcida ou editada,


mas que faça parecer a pessoa determinada, consumado está. Crime
formal, ou seja, não necessita do resultado naturalístico – basta atingir
finalidade/intenção de fazer incluir a identidade da pessoa determinada.

9. Fake news e uso de sósia: A criação (registro) de imagens de nudez ou de


atos sexuais de pessoas sósias NÃO estaria compreendida pelo tipo penal
em comento. Afinal, não houve a montagem, prevista no parágrafo único!
Controverso e Polêmico. Porém, e se for pessoa parecida, com o intuito
de fazer parecer ser a pessoa que se pretende violar? É necessário o
DOLO ESPECÍFICO.

10. E se a intenção for voltada para uma vingança? Uma injúria?

11. E o registro “desautorizado”?  Art. 218-C.

12. Pode ser contextualizado pela Lei Maria da Penha, por violação da
intimidade da mulher, em contexto de violência psicológica contra a mulher,
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familiar e doméstica; (Art. 1º da Lei 13.772 c/c art 7º, II, da Lei 11.340)
havendo ai um aumento de pena específico  art. 61, f, CP.

13. ECA – Art. 240 e 241  CRIANÇA OU ADOLESCENTE

14. Upskirting:
Leitura complementar: http://genjuridico.com.br/2019/02/15/a-pratica-de-
upskirting-e-crime-no-brasil/

15. Ação penal: É pública incondicionada. Art. 225, CP. O legislador não alterou
o art. 225 para incluir o Capítulo I-A. (Erro?)

Segredo de Justiça (art. 234-B)

Só serão de ação penal pública condicionada ou ação penal privada se for


expressamente previsto, os demais serão APIncd.

16. DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 226, CP - Causas de Aumento de Pena Específicas – incisos i e II

Art. 234-A, CP – Causas de Aumento de Pena Genéricas – aplicam-se a


todos os tipos penais do TÍTULO DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE
SEXUAL. Neste caso: apenas o inciso IV

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