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OBSERVAÇÕES INICIAIS
O perfil de prova pensado para o ENAM, como já explicado pelo Mege desde as
primeiras manifestações sobre o nosso modelo mental de preparação para este desafio,
é de um estudo aliado às diretrizes que justamente constituem o motivo da gênese desta
prova. No vídeo inicial de nossa turma gratuita, destacamos as considerações que
apresentam o DNA do exame nacional na resolução nº 531 do CNJ de 2023 (que altera a
resolução nº 75 de 2009 – que disciplina os concursos de magistratura). Para reforçar
nossos argumentos, segue a principal delas:
1
O sumário é apresentado em uma sequência que oferece uma maior didática no estudo dos
temas selecionados sobre Direito da Antidiscriminação. No entanto, é apenas um aperitivo que
ainda poderá contar com ampliações de tópicos após o edital oficial do ENAM.
1. DIREITO DA ANTIDISCRIMINAÇÃO
Para uma visão mais institucional sobre o assunto, é válido conferir a recente
mensagem do ministro Barroso sobre as ações de inclusão no Dia da Consciência Negra.
Se temos em sua figura um dos principais expoentes no surgimento do ENAM, nada mais
direcionado do que conectarmos a sua fala com tudo que apresentaremos na sequência.
Vídeo na íntegra no link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=U21hFXrlQGs&t=2s
2
Pontos retirados do discurso da Ministra Rosa Weber – Ex-Presidente do Supremo Tribunal Federal.
Art. 1º Recomendar aos órgãos do Poder Judiciário:
I – a observância dos tratados e convenções internacionais de direitos
humanos em vigor no Brasil e a utilização da jurisprudência da Corte
Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), bem como a
necessidade de controle de convencionalidade das leis internas.
II – a priorização do julgamento dos processos em tramitação relativos
à reparação material e imaterial das vítimas de violações a direitos
humanos determinadas pela Corte Interamericana de Direitos
Humanos em condenações envolvendo o Estado brasileiro e que
estejam pendentes de cumprimento integral.
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Democracia e Direito da Antidiscriminação: Interseccionalidade e Discriminação Múltipla no Direito
Brasileiro. Roger Raupp Rios e Rodrigo da Silva, Gênero e Artigos.
concebida de direitos ostentados por todas as pessoas (pelo só fato de existirem), de
sorte que caberia ao direito tão somente declará-los.
Na mesma esteira de valorização humana, com todas as críticas racionais que
possam ser dadas, o desenvolvimento das leis e dos Estados-Sociais ao longo dos séculos
são igualmente marcados pela identificação de garantias aos indivíduos, sejam como
cidadãos particularmente considerados ou integrantes de uma coletividade .
Quanto a este sentido de reconhecimento do direito como fonte de nascimento
do conceito de dignidade da pessoa humana, pois, que surgem as variadas teorias a
respeito do Direito à Antidiscriminação. Não há como desconsiderar a Ciência do Direito,
minimamente, quando se tratam de garantias singulares-sociais.
Direitos
Humanos
Direitos 9
Fundamentais
Discriminação às Mulheres
Discriminação Racial
Discriminação à Orientação Sexual
Discriminação aos Povos Originários
Discriminação Religiosa
Dessa forma, precisamos levar para a prova cada um dos seguimentos acima no
que diz respeito às decisões dos Tribunais Superiores (STF, STJ, TSE e TST) para o exame,
bem como os relatórios anuais referenciais sobre os dados de inclusão de cada um dos
grupos da Resolução 75 do CNJ.
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Precisamos ligar todos os alertas para a Disparate Impact Doctrine, abaixo o Curso Mege já te explica.
• Quando há atos materiais
explícitos contra uma
pessoa.
Direta
• É o ataque frontal, direto
e criminoso.
• É um método camuflado,
mas igualmente excludente.
Indireta
• Teoria do Impacto
Desproporcional.
Megeana e Megeano, isso não vai demorar a ser cobrado com certo zelo
pelo(as) examinadores(as), e o ENAM é o momento certo para abordar uma questão
nessa linha. Atente-se ao fato de que a discriminação indireta é manifesta por leis, que
com fundo de legalidade e obediência ao ordenamento jurídico terminam por excluir
pessoas e grupos, por atos administrativos, de quaisquer dos Poderes da República, 13
sempre por meio de um disfarce para concessão de direitos.
Em seu ENAM, você precisa lembrar da máxima de Gustavo Zagrebelsky, pois o
direito injusto não é direito, da mesma forma a lei injusta ou o ato injusto do Estado
deve ser avaliado sob a ótica de contrapesos do federalismo nacional.
Outro julgado em que o STF também enfrentou a matéria diz respeito à
viabilidade de doação de sangue por pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, vejamos com
destaques:
Modalidades de Discriminação
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Discriminação no Trabalho: Mecanismos de Combate à Discriminação e Promoção da Igualdade de Oportunidades.
inconstitucionalidade frente ao princípio da isonomia. Com destaque de Márcio André
Lopes Cavalcante a respeito deste julgado (com grifos do Mege):
18
[...] a sociedade escravista, ao transformar o africano em
escravo, definiu o negro como raça, demarcou o seu lugar, a
maneira de tratar e ser tratado, os padrões de interação com o
branco e instituiu o paralelismo entre cor negra e posição social
inferior.
6
Obra: Pequeno Manual Antirracista.
7
Steve Orson. A História da Humanidade, Editora Campus, citado in: Sinapse. Jornal Folha de São Paulo, 28/01/03.
mais radical não é garantia de dissolução do preconceito, pois
esse é um fenômeno sócio-cultural e somente nesse plano pode
resolver-se”.
O preconceito que toma por base o caráter étnico das pessoas vai diretamente
contra a Constituição da República Federativa do Brasil vigente, o conteúdo ontológico
do constituinte foi pautado pela dignidade como substrato para a manutenção dos
direitos fundamentais.
Não há como coincidir em um mesmo ordenamento jurídico o racismo e uma
Carta Política Neoconstitucional.
Nas palavras de Maria Luiza Pinheiro Coutinho – OIT, Igualdade Racial:
20
A Lei n. 10.741/03 afirma em seu art. 2º que o idoso goza de todos os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que
trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades
e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento
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moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
Razão de ser dessa legislação diz respeito a uma série de preconceitos e/ou
discriminações contra pessoas em razão de sua idade avançada.
O Estatuto do Idoso deve ser cobrado em sua inteireza no ENAM (Exame
Nacional da Magistratura), surge em 2003 para fixar o mandamento constitucional da
igualdade já referenciado: Todos são iguais perante a lei. Desde condutas esperadas pela
da família, Estado e segundo setor, aos crimes que podem ser praticados em razão do
desrespeito aos idosos, essa legislação é um marco na dignidade de todas as pessoas
que possuem idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.
Insta destacar que no ano de 2022 foi editada a Lei nº 14.423 que alterou a Lei
nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, para substituir, em toda a Lei, as expressões
“idoso” e “idosos” pelas expressões “pessoa idosa” e “pessoas idosas”,
respectivamente.
Destacamos para o ENAM 2024 alguns crimes específicos que podem ser
cobrados na prova:
Art. 96.
Art. 103. Negar Art. 104. Reter
Discriminar pessoa
acolhimento cartão
idosa
Art. 102.
Art. 97. Deixar
Apropriar-se de Art. 107. Coagir
prestar assistência
bens
TRÍADE LEGISLATIVA
1ª 2ª 3ª
A primeira norma com caráter punitivo data de 1951. Trata-se da Lei n. 1.390
de 1951 conhecida como Lei Afonso Arinos. Criou a figura da contravenção penal
voltada à prática de atos resultantes de preconceito de raça ou cor.
Em um segundo momento destacou-se a Lei Afonso Arinos II, Lei n. 7.437/1985,
incluindo no rol de práticas consideradas contravenções penais aquelas praticadas em
detrimento de sexo ou estado civil, para além das condutas já presentes: raça e cor.
No ano de 1989, pós constituinte vigente, surge a Lei Caó (Lei n. 7.716/1989),
sendo um avanço no Direito Antidiscriminatório do Brasil. O Congresso Nacional, como
dito, fixou pena de reclusão conforme mandamento de criminalização da CF/88, art. 5º,
XLIII. Surge a figura do crime de preconceito em razão da raça, cor, etnia, religião e
procedência nacional.
Destacamos ainda para o ENAM outras leis que vieram no sentido de aprimorar
a então Lei Caó, com alargamento das normas penais antidiscriminatórias. São tais:
•
essas novas exigências);
Lei n. 14.532/2023 – Altera a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 (Lei
28
do Crime Racial), e o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), para tipificar como crime de racismo a injúria racial,
prever pena de suspensão de direito em caso de racismo praticado no
contexto de atividade esportiva ou artística e prever pena para o
racismo religioso e recreativo e para o praticado por funcionário público.
8
A discriminação positiva possui como intuito trazer a chamada Justiça Social. Ela procura estabelecer
equilíbrio e garantias para pessoas que, historicamente, encontram-se em grupos excluídos pela
sociedade.
• Constituição da República Federativa do Brasil/1988, Art. 1º, II e III – Art. 3º,
IV – Art. 4º, II e VIII – Art. 5º, caput, I, IV, IX, XLI, XLII e § 2º – Art. 220.
• Declaração Universal dos Direitos Humanos/1948, Art. 1º.
• Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Racial/1965 (promulgada pelo Decreto 65.810/1969), Art. 1º.
• Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos/1966 (promulgado pelo
Decreto 592/1992), Art. 20, item 2.
• Resolução 623/1998 da Assembleia Geral da ONU, Item 17.
• Declaração de Durban/2001, Item 61 – Item 86.
• Lei 7.716/1989 (Lei dos Crimes Raciais).
Nas exatas palavras de Miguel Reale Júnior, o racismo é uma realidade social e
política, sem nenhuma referência à raça enquanto caracterização física ou biológica,
como, aliás, as ciências sociais hoje em dia indicam – aqui há um concreto conceito
sobre o racismo no Brasil.
Sobre este enfoque, o STF nos autos do HC nº 84.4249 (Caso Ellwanger muito
cobrando em provas de magistratura, certamente será lembrado no ENAM – Exame
Nacional da Magistratura) afirma que limitar o racismo à simples discriminação de raças,
considerando apenas o sentido léxico ou comum do termo, implica a própria negação do
princípio da igualdade, abrindo-se a possibilidade de discussão sobre a limitação de
9
Voto do Rel. p/ o ac. Min. Maurício Corrêa, j. 17-9-2023, P DJ de 19-3-2004.
direitos a determinada parcela da sociedade, o que põe em xeque a própria natureza e
prevalência dos direitos humanos.
Ligado ao aspecto tecnológico mais atual (A.I. – Inteligência Artificial), ao
indagar sobre o que é racismo no contexto mundial temos a seguinte resposta, que pode
variar a depender dos comandos ao sistema ou das fontes pela inteligência buscadas:
10
Chat OpenAI em 06/12/2023.
Ainda no Caso Ellwanger – que deve ser citado em sua prova na primeira
oportunidade à examinadora ou examinador, seja fase discursiva ou oral – o STF aborda
a relação jurídica de imprescritibilidade do racismo no Brasil, informando que a Carta
Magna, ad perpetuam rei memoriam, verberado o repúdio e a abjeção da sociedade
nacional a tal prática desumana, condiciona cláusula de atemporalidade para o processo
e condenação judicial, para que se impeça a reinstauração de velhos e ultrapassados
conceitos que a consciência jurídica não mais admite.
Vejamos os pontos reflexivos de fundamentação usados pelo STF no HC nº
82.424, destaques que você precisa usar como fundamentos na hora do Exame Nacional
da Magistratura:
Definição de Raça
Fenômeno Social
Caso Elwanger
Definição de Discriminação
Papel do Estado
Incitação ao Racismo
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Sob um olhar crítico à utopia narrada pelo Supremo Tribunal Federal, vige
realidade brutal no Brasil que destoa o mundo do direito numa contradição literal com
o social. Quanto mais anos se passam, mesmo com toda a legislação aqui abordada e
pela serena jurisprudência dos Tribunais Superiores na clara interpretação
(hermenêutica) da norma jurídica, vige no homem negro e mulher negra (pretos e
pardos) uma dor existencial enterrada tão profundamente no subconsciente que é difícil
mensurar um tranquilizante.
Ainda nessa linha de ideia da Corte Máxima, o Mege destaca:
Fala-se que essa cláusula de imprescritibilidade que a Constituição
Federal inseriu no inciso XLII do art. 5º é uma perversidade. Na minha
opinião, não; na verdade constitui um avanço de relevo. O fato de ser
o Brasil o único país que positivou a imprescritibilidade desse tipo de
delito em sua Carta Política torna-se, na verdade, uma extraordinária
conquista para o mundo contemporâneo, e a decisão que ora
concluímos e que examina os contornos de aplicação do inciso XLII do
art. 5º da Constituição, de extrema magnitude e eminentemente
emblemática para o Direito Comparado.
Mais próximo dos dias atuais, por meio do ARE nº 988.601 de relatoria do
Ministro Dias Toffoli (j. 16-9-2016), infirmou-se que o crime de racismo está sujeito às
cláusulas de inafiançabilidade e imprescritibilidade, conforme prevê o art. 5º da CF/88:
A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de
reclusão, nos termos da lei. Este dispositivo é mega importante para sua prova do Exame
Nacional da Magistratura, inclusive para citá-lo de cabeça em futura prova oral,
demonstrando cuidado devido e a empatia jurídica que a situação impõe.
Destaque para sua prova e que não pode faltar em sua resposta é a
compreensão de que o conceito de racismo assume, no desenvolvimento
epistemológico das ciências sociais e aplicadas, um viés social – não esqueça disso. É tal
percepção do direito que os examinadores e as examinadoras exigem das candidatas e
candidatos. O Mege explica: 33
Escrever, editar, divulgar e comerciar livros "fazendo apologia de ideias
preconceituosas e discriminatórias" contra a comunidade judaica (Lei
7.716/1989, art. 20, na redação dada pela Lei 8.081/1990) constitui
crime de racismo sujeito às cláusulas de inafiançabilidade e
imprescritibilidade (CF, art. 5º, XLII). Aplicação do princípio da
prescritibilidade geral dos crimes: se os judeus não são uma raça,
segue-se que contra eles não pode haver discriminação capaz de
ensejar a exceção constitucional de imprescritibilidade. Inconsistência
da premissa. [HC 82.424, red. do ac. min. Maurício Corrêa, j. 17-9-
2003, P, DJ de 19-3-2004.]
O que o relator do presente caso – ainda Ministro Celso de Mello – afirma é que
não é dado ao sujeito em um Estado Democrático de Direito a possibilidade de praticar
condutas desumanas e preconceituosas contra outrem pelo só fato de se pertencer à
comunidade LGBTQIAPN+.
Cogitar que alguém tenha “liberdade de expressão” para poder dizer tudo que quiser
sem ao menos mensura a dor existencial do outro é permitir uma civilização bárbara,
é nesse sentido hermenêutico visivelmente justo que se manifesta o Supremo Tribunal
Federal.
A título exemplificativo, é possível alguém dizer à você que gosta da cor azul
ou verde, que as duas somente são cores válidas e nenhuma outra é bonita ou digna
de compor uma vestimenta que alguém compre no shopping center. Outro pode, no
entanto, induzir pensamento semelhante, mas sobre a cor amarela ou laranja.
Isso são opiniões sobre alguma coisa, pois não machucam e destroem o
sentimento pessoal de ninguém.
De forma contrária, achar que externar qualquer fala sobre a sexualidade do
outro – de mais simples à mais profana – é um direito ou uma liberdade, impõe
assumir uma visão diabólica da vida, do outro ser. O respeito não é algo comprável,
negociável ou barganhado numa feira, mas impositivo e limitado ao sentimento do outro
– sim, ao sentimento.
Entendendo melhor o que está dentro do conceito de racismo, então
relacionado ao social e não unicamente ao fisiológico, precisamos ter em mente que o
Exame Nacional da Magistratura abordará os tipos de racismos existentes, com um olhar
específico sobre a generalidade que já conhecemos.
Racismo Individual
11
https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=503355&ori=1
Em Novembro de 2023, foi realizada a 1ª Jornada Justiça e Equidade Racial. o
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
ministro Luís Roberto Barroso, destacou os avanços e o engajamento do Poder Judiciário
em relação às questões raciais. Ação inédita realizada pela cúpula da Justiça brasileira, o
evento tem como compromisso combater o racismo estrutural e institucional no Poder
Judiciário, a fim de ampliar oportunidades e garantir um futuro mais inclusivo.
O site do STF destacou os seguintes pontos12:
Privilégios
Para o presidente do STF, o racismo estrutural exige uma conscientização de
todos. Segundo ele, mesmo pessoas que se consideram não racistas são beneficiárias
dos privilégios concedidos pela opressão e pela subalternidade. “Já houve muitos
avanços, e considero que criamos uma nova consciência”, ressaltou Barroso. 37
Educação
O ministro contou que acompanha a questão desde a Universidade Estadual do
Rio de Janeiro (UERJ), pioneira na implementação das cotas raciais no acesso ao ensino
universitário. A seu ver, o grande segredo da inclusão social, paralelamente às ações
afirmativas, é a educação de qualidade. “Este tem de ser o grande investimento para a
inclusão social e racial”, defendeu.
Decisões
Ao destacar a contribuição do Judiciário para a questão, o ministro lembrou
decisões importantes do STF sobre a matéria, como a validação das cotas raciais nas
universidades e a proteção dos direitos quilombolas em seus territórios. Citou, também,
o reconhecimento do crime de injúria racial como racismo, decisão importante para
impedir a prescrição do delito.
Qualificação
Entre as ações do CNJ, o ministro citou grupo de trabalho que busca
desenvolver uma política de igualdade racial e elaborar um protocolo de julgamento
com perspectiva de gênero. Também mencionou projeto, ainda em estudo no âmbito
do CNJ, para qualificar candidatos negros para concursos da magistratura por meio de
um sistema de bolsas de estudo com duração de dois anos e um curso preparatório.
Segundo Barroso, a ação será financiada pela iniciativa privada, e seu objetivo é
aumentar a diversidade racial e incorporar novos pontos de vista na justiça brasileira.
12
https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=518991&ori=1
Pacto Nacional
A secretária-geral do CNJ, juíza Adriana Cruz, apresentou o Pacto Nacional do
Judiciário pela Equidade Racial e os objetivos do evento. De acordo com ela, o conselho
tem desenvolvido um trabalho consistente na promoção de políticas para a equidade
racial no Poder Judiciário não só em relação a uma composição mais plural, com a
presença de mulheres e de pessoas negras, indígenas, quilombolas, comunidades
ribeirinhas e tradicionais, mas também na perspectiva do serviço prestado, a fim de que
garantir a proteção de direitos humanos.
Mudança de rota
Para a presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Conselho da Justiça
Federal (CJF), ministra Maria Thereza de Assis Moura, os valores constitucionais da
dignidade humana, da liberdade e da igualdade devem guiar o Judiciário, servindo como
instrumento para a implementação de políticas judiciárias inclusivas. Na sua avaliação,
o evento demonstra a mobilização do Judiciário, que carrega o potencial de mudar a
rota.
Dever ético
Por sua vez, o presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e do Conselho
Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), ministro Lelio Bentes Corrêa, destacou que o
evento representa um marco histórico na luta antirracista, com reconhecimento
institucional da necessidade de reparação histórica para a população negra. A seu ver,
os Poderes têm o dever ético de combater os reflexos atuais do racismo estrutural e
institucional e, nesse sentido, a Justiça do Trabalho vem implementando ações
38
concretas a fim de promover a equidade racial.
Cultura antirracista
Por fim, o presidente do Superior Tribunal Militar (STM), ministro Joseli Parente
Camelo, afirmou que é necessário combater o racismo estrutural e promover a
igualdade de oportunidade por meio de ações afirmativas e institucionais que pautem
questões raciais e que promovam a educação da população sobre o tema. Para ele, o
Pacto do Judiciário caminha nessa direção, pois prevê a adoção de programas, projetos
e iniciativas a serem desenvolvidos em todos os segmentos da Justiça visando a uma
cultura antirracista.
Racismo Institucional
Não é cometido por uma única pessoa, mas vem de um contexto maior. São casos
“menos evidentes” e são cometidos pelas instituições públicas e privadas. Como
exemplo, há os casos de violência policial cuja população que mais sofre é a negra.
Caso que ficou famoso no mundo, George Floyd nos EUA, deu início aos protestos
“Black Lives Matter” em português “Vidas negras importam”. Da mesma forma, o caso
de Genivaldo Jesus dos Santos, morto pela Polícia Rodoviária Federal do Brasil em 2022.
Na música “A Carne”, de Elza Soares, a artista afirmava “A carne mais barata do
mercado é a carne negra”, com referência poética aos casos de genocídio do povo negro
que há tanto tempo assola o país, bem como às outras discriminações raciais que aqui
residem.
Racismo Religioso
13
Série Assistente Social no Combate ao Preconceito.
conhecida como “Lei Caó”, foi aprovada com vistas a regulamentar a
disposição constitucional, definindo os crimes resultantes de
preconceito de raça ou de cor: “Serão punidos, na forma desta Lei, os
crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor,
etnia, religião ou procedência nacional” (BRASIL, 1989). O racismo se
manifesta de diferentes formas, desde atitudes no âmbito das
relações individuais, a relações estruturais e institucionalizadas.
Manifesta-se tanto em ações concretas de discriminação racial, como
em atitudes de omissão frente a injustiças decorrentes da condição
étnico-racial. É gerador de múltiplas violências, guerras, desigualdade
racial, perseguição religiosa, extermínio. E pode estar subjacente a
ideias preconceituosas e a práticas de discriminação, segregação,
isolamento social e aniquilamentos. Uma das expressões do racismo,
também conhecido como discriminação indireta, é o institucional. O
racismo institucional está presente em diversos espaços públicos e
privados. Está nas relações de poder instituído, expresso através de
atitudes discriminatórias e de violação de direitos. Por estar, muitas
vezes, naturalizado nas práticas cotidianas institucionais, naturaliza
comportamentos e ideias preconceituosas, contribuindo, fortemente,
para a geração e/ou manutenção das desigualdades étnico-raciais.
O pensamento sexista, ab initio, parte de uma ideia tão pobre e precária que é
quase inconcebível imaginar que uma pessoa, por ser do sexo masculino, imagine
42
superioridade sobre o ser mulher. Perigo da sociedade contemporânea, entretanto, a
visão antifeminista dispara nas últimas décadas uma selvageria nacional sobre os corpos
de mulheres.
Entre as diferentes possibilidades de expressão do preconceito encontra-se o
sexismo, que compreende avaliações negativas e atos discriminatórios dirigidos às
mulheres e pode se manifestar sob a forma institucional (políticas salariais
diferenciadas) ou interpessoal, muito embora a primeira propicie o contexto cultural
adequado à segunda (Ferreira, 2004).
Segundo Ferreira (2004), o sexismo seria resquício da cultura patriarcal, isto é,
um instrumento utilizado pelo homem para garantir as diferenças de gênero, sendo
legitimado por atitudes de desvalorização do sexo feminino que vão se estruturando ao
longo do curso do desenvolvimento, apoiadas por instrumentos legais, médicos e sociais
que as normatizam
Desde o início da vida infantil meninos e meninas são tratados de forma
diferente no Brasil, o que leva a papéis desiguais onde a mulher sempre “aceita” uma
posição de inferioridade e submissão: o trabalho doméstico.
43
14XI Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – XI ENPEC Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, SC – 3 a 6 de julho de 2017.
Carta das Mulheres, apresentada pela campanha realizada pelo
Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), na Constituinte de
1988, no encontro nacional ocorrido em 26 de agosto de 1986,
defendeu: “para nós, mulheres, o exercício pleno da cidadania
significa, sim, o direito à representação, à voz e à vez na vida pública,
mas implica, ao mesmo tempo, a dignidade na vida cotidiana, que a
lei pode inspirar e assegurar, o direito à educação, à saúde, à
segurança, à vivência familiar sem traumas. O voto das mulheres traz
consigo essa dupla exigência: um sistema político igualitário e uma
vida civil não autoritária”. Quanto ao ponto, importante ressalvar que
a Assembleia Nacional Constituinte contou com a participação de 26
deputadas, sem representante no Senado. A articulação política
decisiva das mulheres no esboço do desenho constitucional
possibilitou o diálogo de atores sociais com o Estado na busca pela
efetiva tutela e promoção dos direitos das mulheres, que resultou na
conquista jurídica da igualdade entre homens e mulheres,
acompanhada da não discriminação por sexo, raça e religião,
ampliação dos direitos civis, sociais, políticos e econômico das
mulheres, reconfiguração da participação da mulher no espaço de
decisão da família, proteção no mercado de trabalho e no campo dos
direitos sexuais e reprodutivos.
44
No mesmo sentido o Min. Joaquim Barbosa em 2012 (RE nº 227.114):
Os obstáculos para a efetiva participação política das mulheres são ainda mais
graves, caso se tenha em conta que é por meio da participação política que as próprias
medidas de desequiparação são definidas.
Qualquer razão que seja utilizada para impedir que as mulheres participem da
elaboração de leis inviabiliza o principal instrumento pelo qual se reduzem as
desigualdades. Em razão dessas barreiras à plena inclusão política das mulheres, são,
portanto, constitucionalmente legítimas as cotas fixadas em lei a fim de promover a
participação política das mulheres, tal como afirma Flávia Piovesan:
A importância da Representatividade
46
Em destaque:
47
Vale a pena conferir este depoimento sobre sua trajetória no estudo para
concursos em um aulão de revisão final do Mege para o TJSP. É um depoimento
inspirador para todas as concurseiras e concurseiros de magistratura!
15
https://open.spotify.com/episode/6xizrNb80xZdUyMNgBQDIA
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=nLk2W6qeHFo
16 A incitação à intolerância, sobretudo em relação às religiões de matrizes africanas, parte de discursos proferidos
por pastores, padres e até autoridades políticas. Tudo em nome de uma agenda moral transformada em uma crença
que se resume ao desejo de se encontrar uma solução rápida e mítica – no mau sentido da palavra – para os problemas
de segurança pública, em busca de uma educação de qualidade, da manutenção de valores de uma suposta família
tradicional e de uma política anticorrupção. Se a agenda moral é apenas uma ilusão que serve a um proselitismo
por vezes, cristãos protestantes e católicos também sofrem ataques que martirizam a fé
do outro em nome da ignorância e falta de informação.
eleitoral, a violência simbólica é real e segue fazendo suas vítimas no Brasil, e este assunto tem olhar atento agora do
Poder Judiciário.
agressores – evangélicos (39%); vizinhos (27%) – e os tipos de alvo – a
pessoa (60%) e a casa (29%).
Leve para o ENAM 2024 que todo o viés religioso no Brasil sofre intolerância,
com destaque maior para a discriminação contra religiões de matriz africana, tudo na
linha dos dados apresentados acima. Tal abordagem é a que o CNJ espera sob o ponto
de vista crítico de uma Juíza e de um Juiz no país. Como estudante para Magistratura,
Estadual ou Federal, precisamos estar alinhados a estas perspectivas que devem estar
presentes em nossas sentenças.
17
https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=515474&ori=1
A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) absolveu um
homem denunciado pelo Ministério Público do Paraná (MPPR) por
intolerância religiosa, sob o fundamento de que os fatos imputados
a ele não constituem infração penal. O réu foi acusado de praticar
discriminação contra religiões de matriz africana ao publicar em redes
sociais mensagem questionando o fato de a Universidade Estadual de
Londrina, sob a justificativa de que o Estado é laico, ter vetado a
realização de uma missa em suas dependências. Na mensagem, ele se
referiu a uma peça de cunho cultural e religioso apresentada na
cidade de Londrina (PR), durante a Semana da Pátria, acerca do mito
de Yorubá (perspectiva africana acerca da criação do mundo), como
macumba. No recurso em habeas corpus interposto contra acórdão do
Tribunal de Justiça do Paraná, a defesa sustentou a inépcia da
denúncia, por não expor o contexto dos fatos. Pediu a declaração de
nulidade absoluta do processo em razão de suposta parcialidade do
MPPR na condução do procedimento investigatório, alegando que os
depoimentos que ampararam a denúncia foram produzidos
previamente e seriam todos idênticos.
O relator do caso, ministro Joel Ilan Paciornik, citou precedentes do
Supremo Tribunal Federal (RHC 134.682) que caracterizam o delito de
intolerância religiosa a partir da presença cumulativa de três
requisitos: afirmação da existência de desigualdade entre os grupos
religiosos; defesa da superioridade daquele a que pertence o agente; 52
e tentativa de legitimar a dominação, exploração e escravização dos
praticantes da religião que é objeto de crítica, ou, ainda, a
eliminação, supressão ou redução de seus direitos fundamentais.
Para o ministro, entretanto, no caso em julgamento, há apenas a
presença do primeiro requisito – o que afasta o reconhecimento de
crime. "A crítica feita em rede social pelo recorrente não preconiza a
eliminação ou mesmo a supressão de direitos fundamentais dos
praticantes das religiões de matriz africana, nem transmite o senso
de superioridade", afirmou Paciornik.
Proselitismo
O relator destacou que o denunciado apenas mostrou a sua
indignação com o fato de a universidade haver proibido a realização
de missa em sua capela, ao mesmo tempo em que, na Semana da
Pátria, foi realizado evento nas escolas públicas da cidade com
temática religiosa envolvendo a perspectiva africana acerca da
criação do mundo. Para o ministro, o recorrente não fez mais do que
proselitismo em defesa do cristianismo. Segundo ele, o fato – ainda
que cause constrangimento a membros de outras religiões – não pode
ser caracterizado como crime, por estar inserido no direito de crença
e de divulgação de fundamentos religiosos. Ao declarar a atipicidade
da conduta, Joel Paciornik afirmou que o proselitismo religioso só
adquiriria contornos de crime caso se traduzisse numa tentativa de
eliminar ou suprimir direitos fundamentais de praticantes de outras
crenças – "o que não é a hipótese dos autos". Dessa forma, a turma
estabeleceu que o denunciado deveria ser absolvido com base no
artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal, por "não constituir
o fato infração penal". O recurso em habeas corpus foi provido por
unanimidade.
1.8 LGBTQIAPN+fobia
Não há dúvidas no consenso social de que Brasil é um país violento com pessoas
em razão da orientação sexual e gênero. O Poder Judiciário, como guardião da igualdade
e dignidade humana, está atento e zeloso na observação de que a sociedade precisa
melhorar para garantir a máxima democrática do pluralismo – essa posição que teu/tua
examinador(a) vai apontar no ENAM em 2024.
“Morre-se simplesmente por ser quem é”.
Igualdade
53
Dignidade
Respeito
às
diferenças
Como Juíza ou Juiz de direito, você precisa ter em mente que os seus desafio,
como Membro do Estado, como a voz que dita o justo e correto, pela igualdade e o
respeito à vida, à dignidade, à liberdade e fraternidade.
Chegar em 2024 com o dado de que “somos” o país que mais comete
“homicídios” em razão de gênero é desumano, contrário ao Estado Democrático
Constitucional em um Brasil tão plural em cores e expressões, Neoconstitucional e
valorizador dos Direitos Humanos.
A humanidade é plural em sua essência – existe a homossexualidade, a
transgeneridade, com todas as suas variantes, exatamente por esse fator misto da vida.
Ser gay, bissexual, transsexual, travesti, heterossexual, pansexual, intersexo, queer,
assexual, dentre outras expressões de gênero e sexo, é um fato, uma constatação ôntica,
um existencialismo indissociável do ser. E o tema é cada vez mais acentuado dentro dos
ambientes de proteção jurídica por parte do Estado. O próprio ENAM segue essa linha
ao selecionar Humanística e Direitos Humanos entre as suas disciplinas essenciais, em
detrimento de tantas outras linhas de abordagem do Direito em si.
Exatamente por isso que não há o que “aceitar”, ou “tolerar”.
Porque somos humanos e merecedores de dignidade, e porque somos plurais,
cada um em sua particularidade, todos merecemos respeito em igual valor, integridade
e humanismo.
Este é o Brasil em que você será Juíza/Juiz, e o Poder Judiciário está de olhos
bem abertos a essa triste realidade. Dentro do aspecto jurídico, precisamos destacar
alguns momentos históricos em que o Poder Judiciário (sobretudo na figura do Supremo
Tribunal Federal) caminhou no sentido do progresso social. O efeito cliquet nos mostra
que não é possível retroceder, retirar direitos que são considerados basilares para o ser
humano.
No ano de 2011, para início da análise do arcabouço jurídico que envolve a
matéria, o STF deu um salto (mesmo que atrasado) no sentido de garantia de direitos
civis a casais homossexuais em regime de comunhão de vidas. A ADPF 132 de relatoria
do Eminente Min. Ayres de Britto possui a seguinte ementa (com destaques do Curso
Mege):
Note que o fato de tal matéria ter chegado ao Supremo Tribunal Federal já
denota uma total desconsideração pela sociedade majoritária na garantia desses direitos
às pessoas do mesmo sexo que se relacionam. Por óbvio, essa matéria deveria ser
18
Olha só que conceito interessante para aparecer no ENAM: Constitucionalismo Fraternal.
legislada, mas não foi, o que sustenta a necessária intervenção (em respeito à inércia)
do Poder Judiciário na questão constitucional.
Como afirma o julgado, fundamentado na mais completa doutrina nacional e
do direito comparado, o Poder Judiciário na figura do STF exerce um papel
contramajoritário em obediência a uma constituição garantia, cidadã e plural.
De forma conceitual e imiscuindo na matéria, já adentrando nos vieses que o
examinador ou a examinadora do ENAM pode abordar, a homotransfobia é definida
como a discriminação decorrente de orientação sexual, dirigida à homossexualidade,
e a discriminação por identidade de gênero, dirigida às travestis e transexuais.
Assim, aduz o referido autor que a raça não tem nenhuma essência, mas
caracteriza-se por um processo perpétuo de poder, movediço em seu conteúdo, visando
o racismo substituir aquilo que “é” por uma realidade “diferente”, de forma
necessariamente inferiorizante. Dessa forma, aduz que a raça é, portanto, aquilo que
permite situar, em meio a categorias abstratas, aqueles que procura estigmatizar e
desqualificar moralmente.
Nesse sentido, frisa-se que a população LGBT, em geral, sempre foi
desumanizada e considerada, até mesmo, indecente, como supostamente não aptas a
controlar seus instintos, consideradas assim longe de um modelo de pessoa ideal
19
A Constitucionalidade no julgamento da ADO 26 e do MI 4733: A interpretação Político-Social de Condutas Homotransfóbicas como
condutas racistas.
(heterossexual e cisgênera) que a ideologia de gênero dominante nos padrões e
estereótipos culturais e religiosos dominantes na sociedade (a não-heterossexualidade
e não-cisgeneridade já foram consideradas crimes de lesa-majestade e, até hoje, ainda
existem líderes e profissionais que defendem o conceito de “cura-gay” – posição sem
amparo judicial).
Quando o CNJ fez alterar a Resolução nº 75 com a inclusão desses novos
conteúdos era exatamente neste ponto que queria se chegar. O Poder Judiciário deve
estar na mesma mão no sentido de valorização da vida humana em sua completude, de
forma que a homotransfobia não é ética, moral e constitucionalmente aceita no
ordenamento jurídico brasileiro.
É possível traçarmos uma linha do tempo nos movimentos jurisprudenciais
quanto aos direitos de pessoas LGBTQIAPN+. Vejamos para o ENAM:
2011
União Estável e Casamento às Pessoas do
ADPF 132 e ADI 4.277
Mesmo Sexo
2015
Descriminalização Homossexualidade no
ADPF 291
Âmbito Militar
2017
RE 646.721 Direitos Sucessórios
56
2018
ADI 4.275 e ADI 670.422 Direitos Transexuais
2019
ADO 26 e MI 4.733 Equiparação ao Racismo
2020
ADI 5.543 e ADPF 457 + 461 Doação de Sangue e Gênero nas Escolas
Ao final da célebre decisão do STF foram fixadas as seguintes teses, que você
deve levar para o ENAM 2024:
20
Supremo não legislou nem fez analogia ao considerar homofobia como racismo.
21
Link do encontro do Curso Mege com Paulo Iotti: https://www.youtube.com/watch?v=f9mQEq1o-h4.
inúteis, donde “raça” não pode significar apenas “cor”) e
do fato de o Projeto Genoma ter enterrado a tese de que a
humanidade seria formada por “raças biologicamente distintas
entre si”. Então, para o racismo não virar crime impossível, pela
unicidade biológica da humanidade, afirmou-se ser conceito
político-social — histórico, antropológico e sociológico (ratio
decidendi da decisão). Logo, a homotransfobia foi considerada
espécie de racismo e enquadrada nos crimes raciais (“por raça”,
por exemplo, artigo 20 da Lei 7.716/89): não por “analogia”, pois
“criminalizar por analogia” demandaria dizer que a
homotransfobia seria “tão grave quanto” o racismo, a merecer
mesma punição, mas não foi isso que o STF reconheceu.
Fez-se interpretação literal do termo legal raça e do termo
constitucional racismo, ainda que evolutiva, caso se entenda que
a compreensão biológica teria sido a “original”. Interpretação
integrante do limite do teor literal (Roxin) da moldura normativa
(Kelsen), e não por “ato arbitrário de vontade”, mas por conceito
afirmado em precedente do STF e referendado pela literatura
negra antirracismo, donde inexistente “intolerável vagueza”,
violadora do princípio da taxatividade — leis penais desde
sempre criminalizam por conceitos valorativos, carentes de
concretização interpretativa, e isso sempre foi aceito, quando
não intoleravelmente vagos (conforme terminologia alemã e 59
Roxin; no Brasil, Cezar R. Bittencourt).
Entendimento contrário ressuscita o anacrônico e irreal
“silogismo perfeito”, de Beccaria, negando ao
Judiciário qualquer labor interpretativo, algo incompatível com
o mundo real. A técnica legislativa cria crimes desde
sempre por conceitos valorativos (conforme ofender a dignidade
ou o decoro, da injúria, e o crime de rixa), bem como os usa como
qualificadoras/agravantes ou elementos normativos do tipo (por
exemplo, “motivo fútil ou torpe”). A definição de tais conceitos
não está na lei penal, ela é feita por doutrina e
jurisprudência. Quem discorda dessa técnica legislativa precisa
enfrentar essa concepção hegemônica na jurisprudência
constitucional mundial sobre a validade do uso de conceitos
valorativos criminalizadores à luz da taxatividade penal.
1.9 CAPACITISMO
“Fingir demência”
“Dar uma de João sem braço”
60
“Não temos braço para fazer tudo isso”
“Dar uma mancada”
“Está cego/surdo?”
“Estou cego de raiva”
“Mais perdido que cego em tiroteio”
“Para de ser retardado”
“Mudinho/ceguinho”
“Nem parece que você é uma pessoa com deficiência”
“Você não tem cara de autista”
“Você não tem cara de surdo/surda”
“Seu problema não tem cura?”
“Pensei que você era normal”
“Apesar de PCD, você parece feliz”
“A gente só recebe o fardo que consegue carregar”
“Será que seus filhos vão nascer normais?”
“Mas como você faz as coisas tendo essa deficiência?”
22
https://www.conjur.com.br/2019-ago-19/paulo-iotti-stf-nao-legislou-equipararhomofobia-racismo
1.10 AÇÕES AFIRMATIVAS
A expressão tem origem nos Estados Unidos, local que ainda hoje
se constitui como importante referência no assunto. Nos anos
60, os norte-americanos viviam um momento de reivindicações
democráticas internas, expressas principalmente no movimento
pelos direitos civis, cuja bandeira central era a extensão da
igualdade de oportunidades a todos. No período, começam a ser
eliminadas as leis segregacionistas vigentes no país, e o
movimento negro surge como uma das principais forças
atuantes, com lideranças de projeção nacional, apoiado por
liberais e progressistas brancos, unidos numa ampla defesa de
direitos. É nesse contexto que se desenvolve a ideia de uma
ação afirmativa, exigindo que o Estado, para além de garantir
leis antissegregacionistas, viesse também a assumir uma
postura ativa para a melhoria das condições da população
negra. Os Estados Unidos completam quase quarenta anos de
experiências, o que oferece boa oportunidade para uma análise
de longo prazo do desenvolvimento e impacto dessa política.
Mas a ação afirmativa não ficou restrita aos Estados Unidos.
Experiências semelhantes ocorreram em vários países da Europa
Ocidental, na Índia, Malásia, Austrália, Canadá, Nigéria, África do
Sul, Argentina, Cuba, dentre outros. Na Europa, as primeiras
orientações nessa direção foram elaboradas em 1976, utilizando-
se frequentemente a expressão ação ou discriminação positiva.
Em 1982, a discriminação positiva foi inserida no primeiro
Programa de Ação para a Igualdade de Oportunidades da
Comunidade Econômica Europeia (Centro Feminista de Estudos
62
e Assessoria, 1995, Estudos Feministas, 1996). Ação Afirmativa:
História e Debates no Brasil – Sabrina Moehlecke, 2002.
A Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas foi aprovada pela ONU
(Organização das Nações Unidas), e representa uma transformação fundamental nas
relações entre Estados e seus povos originários.
Cumpre à União, aos Estados e aos Municípios, bem como aos órgãos
das respectivas administrações indiretas, nos limites de sua
competência, para a proteção das comunidades indígenas e a
preservação dos seus direitos: I - estender aos índios os benefícios da
legislação comum, sempre que possível a sua aplicação; II - prestar
assistência aos índios e às comunidades indígenas ainda não
integrados à comunhão nacional; III - respeitar, ao proporcionar aos
índios meios para o seu desenvolvimento, as peculiaridades inerentes
à sua condição; IV - assegurar aos índios a possibilidade de livre escolha
dos seus meios de vida e subsistência; V - garantir aos índios a
permanência voluntária no seu habitat , proporcionando-lhes ali
recursos para seu desenvolvimento e progresso; VI - respeitar, no
processo de integração do índio à comunhão nacional, a coesão das
comunidades indígenas, os seus valores culturais, tradições, usos e
costumes; VII - executar, sempre que possível mediante a colaboração
dos índios, os programas e projetos tendentes a beneficiar as
comunidades indígenas; VIII - utilizar a cooperação, o espírito de
iniciativa e as qualidades pessoais do índio, tendo em vista a melhoria
de suas condições de vida e a sua integração no processo de
desenvolvimento; IX - garantir aos índios e comunidades indígenas, nos
termos da Constituição, a posse permanente das terras que habitam,
reconhecendo-lhes o direito ao usufruto exclusivo das riquezas
naturais e de todas as utilidades naquelas terras existentes; X - garantir
aos índios o pleno exercício dos direitos civis e políticos que em face
da legislação lhes couberem.
23
Carlos Frederico Marés de Souza Filho e Raul Cezar Bergold – Os direitos dos povos indígenas no Brasil:
desafios no século XXI.
§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis,
e os direitos sobre elas, imprescritíveis.
§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo,
"ad referendum" do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou
epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da
soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional,
garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse
o risco.
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que
tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que
se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos
rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público
da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a
nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União,
salvo, na forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação
de boa fé.
§ 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e §
4º.
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes
legítimas para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e
interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do
processo. 68
Segundo FILHO & BERGOLD (2013):
No ano de 2023 a questão das terras ocupadas pelos povos originários precisou
ser julgada pelo STF, em respeito ao marco regulatório e ao direito de propriedade
oriundo da primeira dimensão humana. Segundo a Corte a União deve (ADPF 991 MC-
Ref/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 08/08/2023 (Info 1102):
O CNJ deve criar um Grupo de Trabalho para monitorar ações judiciais relativas
aos direitos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato.
Deve ser reconhecida pelas autoridades a forma isolada de viver como
declaração da livre autodeterminação dos povos indígenas isolados, sendo o ato do
isolamento considerado suficiente para fins de consulta, nos termos da Convenção n.
169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Declaração das Nações Unidas
sobre os Direitos dos Povos Indígenas e da Declaração Americana sobre os Direitos dos
Povos Indígenas, normas internacionais de direitos humanos, internalizadas no
ordenamento jurídico brasileiro.
70