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Depois que o governo destruiu organizações como o Partido dos Panteras Negras,
o Partido dos Young Lords Porto Riquenhos, os Boinas Marrons Chicanos, Alianza
e o Partido dos Jovens Patriotas Apaláquios – nos anos 1970 se voltou para a
destruição da consciência política e da unidade das comunidades urbanas
oprimidas – especialmente as comunidades Novafrikanas. Em 1978, o Conselho
de Segurança Nacional decidiu implementar uma política definida no memorando
nº 46 (NSC – 46) cujo propósito era garantir a continuidade da destruição dos
movimentos negros de direitos civis e libertação.
“A preocupação pelo futuro da segurança dos Estados Unidos torna necessária a gama de
opções estratégicas. Colocadas sem intenção de escalonar por prioridade, são elas:
Nas plantações (construídas sobre terra indígena) o trabalho dos escravos negros
era a fonte da riqueza do sistema de monoculturas. Eles limpavam os campos,
plantavam, cuidavam e colhiam o tabaco, a cana de açúcar, algodão e outros
cultivos, além de realizar outros trabalhos úteis. Por isso, eles eram considerados
“propriedade altamente valorizada”, então com os escravos a estratégia de dividir e
conquistar foi empregada (lembrem-se do processo de Willie Lynch). Mas como os
índios se provaram muito difíceis de escravizar de forma lucrativa, além de serem
um “estorvo” à expansão do sistema de monoculturas, a estratégia empregada
contra eles foi o genocídio.
Desde a abolição da escravatura, o valor da população negra caiu aos olhos dos
governantes capitalistas e o genocídio passou a ser empregado. Depois da Guerra
Civil, linchamentos, o terror da KKK e o encarceramento foram empregados para
forçar os escravos libertos a voltar a trabalhar para os donos de terra como
meeiros e privá-los dos direitos civis recentemente conquistados. Durante a
Primeira Guerra Mundial, massas de negros foram levadas a migrar para os
centros industriais para substituir os trabalhadores brancos convocados para a
guerra e, nos anos 1920, outra onda de terror da KKK, linchamentos e “rebeliões
raciais” sangrentas foram instigadas para pressionar os negros para os empregos
de menor remuneração em guetos segregados.
Depois das insurreições dos anos 1960 e 1970 e do surgimento do Partido dos
Panteras Negras e do Movimento de Libertação Negra, um plano ainda maior de
genocídio e marginalização foi concebido, envolvendo a inundação dos guetos
com drogas, a criminalização, o encarceramento em massa dos pobres e a
promoção de genocídio na forma das guerras de gangues. A “guerra às drogas” é,
na realidade, uma guerra aos pobres – particularmente contra a juventude negra.
“Se você não consegue cortar os planos pela raiz, ou perturbar suas alianças quando elas
estão prestes a se consumar, afie suas armas para atingir a vitória.” – Chang Yu, analista e
historiador militar chinês.
A classe dominante dos EUA reconhece que o corpo das massas oprimidas é
amorfo e adaptativo. Como uma salamandra, os membros cortados são capazes
de se regenerar e novas lideranças irão surgir no lugar dos caídos. Por isso, os
imperialistas combinam e aplicam os três estágios da conquista militar para conter
e derrotar a resistência de massas do povo pobre e trabalhador, tanto dentro como
fora da Amerika
Mas, porque as pessoas são mantidas sem liderança, divididas e confusas, elas
geralmente não percebem que estão sob ataque constante do inimigo. Os
enganadores aprovados pelo governo levam o povo a acreditar que o inimigo é, na
verdade, seu protetor e, portanto, nós não detectamos o real sentido por trás dos
termos oficiais como “Guerra às Drogas”, “Guerra ao Crime” e, mais precisamente,
“Guerra às Gangues”, que são efetivamente declarações de guerra contra as
pessoas pobres e negras.
1. ATAQUE A CABEÇA
Camarada George Jackson, que era produto dos centros urbanos, se tornou um
dos principais pensadores estratégicos do nosso movimento de libertação nas
décadas de 1960 e 1970. Ele entendia que o imperialismo capitalista era e é o
verdadeiro inimigo e causa principal do nosso sofrimento, exploração e opressão.
Ele estava consciente da necessidade de liderança do povo oprimido para uni-los,
organizá-los e superar sua condição de oprimido. Mais próximo ao ponto, ele
reconhecia que os imperialistas também reconhecem essa necessidade e a
institucionalidade permanece alerta e vigilante para identificar e neutralizar
potenciais líderes como parte de uma política bem desenvolvida de contenção e
manutenção da condição acéfala dos oprimidos.
“O que é que tem trabalhado contra minha geração desde o dia que nascemos, ao longo
de cada dia e até o dia de hoje?
“Para o homem negro as perdas foram as mais trágicas. Não vai nos fazer bem algum
prolongar-nos sobre as fatalidades, elas são incontáveis e estão além do nosso alcance.
Mas nós que sobrevivemos devemos em algum momento olhar para nós mesmos e nos
questionar. A competição no fundo do espectro social é por símbolos, honras e objetos;
negros contra si mesmos, negros contra a classe pobre, brancos e pardos, uma competição
virulenta e traiçoeira, o estilo de vida Amerikano. Mas os fascistas cooperam... Essa
competição destruiu a confiança. Entre os homens negros, foi colocado um prêmio na
desconfiança. Todos os outros negros são vistos como competidores; o negro esperto e
prático é aquele que não se importa com nenhum outro, o cínico que ultrapassou
qualquer princípio que ele tenha aprendido por engano. Nós não podemos expressar amor
devido à suposição de que o destinatário desse amor irá imediatamente usá-lo como arma
contra nós. Nós temos que começar tudo de novo. Na próxima vez, vamos deixar tudo às
claras, vamos parar de nos trair e vamos adicionar alguma confiança e amor.”
“Lembrem-se das histórias que vocês leram sobre outros animais que vivem em rebanhos.
O grande bisão Amerikano, o Caribu ou a Rena Amerikana.”
“O grande bisão amerikano, ou búfalo – ele é um animal social, vive em rebanho... assim
como nós... nós somos animais sociais, nós precisamos de outros da nossa espécie para
nos sentirmos seguros. Poucas pessoas gostariam do isolamento total. Estar
constantemente sozinho é uma tortura para homens normais. O búfalo, o gado, caribu e
outros animais são como as pessoas no sentido de que eles precisam de companhia na
maior parte do tempo. Eles precisam ombrear-se. Eles gostam de esfregar os narizes. Nós
apertamos as mãos, damos tapas nas costas e esfregamos os lábios. De todos os povos do
mundo, nós negros somos os que mais amamos a companhia de outros, somos os mais
‘socialistas’. Animais sociais comem, dormem e viajam juntos. Eles precisam dessa
companhia para se sentir seguros. Esse fato quer dizer que animais sociais também
precisam de líderes. Segue-se logicamente que se o búfalo vai comer, dormir e viajar em
grupo, algum fator de coordenação é necessário ou alguns estarão dormindo enquanto
outros viajam sem o complexo líder-seguidor, em uma crise a manada iria correr em
centenas de direções diferentes. Mas o búfalo desenvolveu o complexo líder-seguidor,
assim como outros animais sociais; se o líder do rebanho de caribus perde seu apoio e
escorrega para sua morte de algum lugar alto, é muito provável que todo o rebanho vá
perecer em seguida.”
” Huey Newton, Ahmed Evans, Bobby Seale e centenas de outros [dos nossos líderes
genuínos] serão assassinados conforme esse esquema fascista.”
“Um esquema de seleção natural reversa. Medgar Evers, Malcolm C, Bobby Hutton,
Brother Booker, W.L. Noland, M.L King, Featherstone, Mark Clark e Fred Hampton – só
alguns dos que seguiram o caminho do búfalo.”
“A potencial liderança negra olha para as condições terríveis do rebanho [acéfalo, confuso
e disperso] negro: a corrupção, a preocupação com a irrelevância, a aparente incapacidade
de sobreviver. Ele sabe que se ele entregasse para o irmão médio uma M-16, esse irmão
não teria nada além de uma clava por uma semana. Ele pesa essa situação que percebe no
rebanho e compara com os possíveis riscos que ele estará assumindo nas mãos do
monstro fascista e naturalmente decide servir a si mesmo, sentindo que não pode nos
ajudar porque estamos além disso, que ele está buscando algo fora da existência. Esses
são os ‘negros de sucesso’, opostos aos fracassados. Você os encontra nas quadras, nos
campos, nos palcos, fingindo e jogando jogos de criança. E buscando por todo mundo tão
penosamente quanto os fracassados”
“Nós fomos colonizados pela economia fascista branca e predatória. Foi dela que surgiu
nossa subcultura aberrante e as atitudes que perpetuam nossa condição. Essas atitudes
nos fazem entregar uns aos outros aos porcos do klan. Nos até mesmo trabalhamos, em
alguns momentos, arma em punho junto com eles. Um negro matou Fred Hampton;
negros trabalhando para a CIA mataram Malcolm X; negros são abundantes nas folhas de
pagamento dos departamentos de polícia que o fascismo emprega para se proteger do
povo. Essas atitudes das subculturas fascistas nos enviaram à Europa, Ásia e mesmo para a
Áfrika [para matar] ... e morrer por nada. Somos tão confusos, tão simplórios que não só
falhamos em distinguir o que é geralmente certo do errado, mas também falhamos em
apreciar o que é bom ou não para nós em questões pessoais relativas à colônia negra e sua
libertação. A sinistra ação econômica do governo cujo único objetivo é nos escravizar,
marcar e espionar ainda mais; a agência negra autorizada pelo governo para se infiltrar e
retardar ainda mais a libertação é aceita por algumas e até mesmo convidada e bem
recebida, enquanto a Pantera negra é evitada e tem dificuldades de encontrar proteção no
seio do povo... se permitirmos à máquina fascista a destruir [o Partido dos Panteras
Negras], nosso sonho de uma potencial autodeterminação e controle sobre os fatores
concernentes à sobrevivência vai morrer com eles...”
“O membro jovem do partido, nossa vanguarda, deve ser acolhida, protegida, ter seu
desenvolvimento estimulado… nossa comunhão em perfeita harmonia e nunca, nunca
mais vai haver outro caso Fred Hampton.”
Mas o PPN foi identificado como um líder do rebanho. Foi rotulado como “a maior
ameaça à segurança nacional dos EUA” pelo FBI e foi destruído pelo governo dos
EUA. A liderança não foi protegida como o Camarada George apontou que era
essencial para o avanço da luta. De fato, um ano após escrever essas palavras ele
próprio foi assassinado por guardas da prisão de San Quentin. Nossos líderes
foram identificados e neutralizados. E, assim como o camarada George previu, as
massas se dispersaram na confusão e desde então continuaram vulneráveis ao
ataque inimigo.
Outro veterano dos Panteras, Camarada Dhoruba Bin-Wahad, fez uma observação
parecida em um artigo recente sobre a execução de Stanley “Tookie” Williams,
cofundador da gangue dos Crips:
“Foi a destruição de grupos militantes como os Panteras Negras que deixaram um vácuo
político, ideológico e social na Amérika Afrikana a ser preenchido pela atuação das
gangues de rua... Apesar de especialistas em segurança pública estarem ansiosos para
distorcer e ignorar as raízes sociais e políticas das gangues de ruas como os Crips, o fato é
que gangues como eles foram, em parte, consequência do sucesso da devastação
[promovida pelo governo americano] da militância do movimento pela libertação negra na
Amerika.
- The Ethics of Black Atonement in Racist America: The Execution of Stanley Tookie
Williams
Mesmo hoje o governo imperialista dos EUA se opõe à admiração do povo pelo
exemplo de liderança representado pelo Partido dos Panteras Negras. Porque
Tookie dedicou seu livro “Life In Prison” aos Panteras (especificamente ao
camarada George), o governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger rejeitou o
pedido de clemência de Tookie, selando sua execução. Ele disse que a dedicatória
“desafia a razão e é um indicador significativo de que Williams não está
reformado”.
2. DIVIDA O CORPO
Aqui vai um exemplo típico de cenário que ouvi diversas vezes. Os policiais pegam
um ou vários jovens sob o pretexto de prendê-los, mas ao invés disso eles são
levados a um bairro rival e jogados para fora da viatura. Os porcos então chamam
atenção de um grupo da juventude rival para as marcas e rapidamente vão
embora, deixando alvos desarmados para lutar e fugir por suas vidas. Qualquer
que seja o resultado imediato, o objetivo e resultado maior é provocar e continuar
um ciclo de violência retaliatória.
Em seu livro “Blue Rage, Black Redemption” (2004), Tookie deu testemunho sobre
o papel da polícia em incitar e escalar as guerras de gangues:
“Sim, América, por incrível que pareça, policiais dos bairros, com impunidade, cometem
drive-bys e outros atos criminosos. Era prática corrente deles abduzir um Crip ou um
Bounty Hunter e jogá-lo em território hostil e então avisar isso pelo autofalante. O
resultado previsível era que o rival ou apanhava ou era morto ali mesmo, o que resultava
em um ciclo de vingança. Policiais também informavam gangues em conflito sobre onde
encontrar e atacar seus rivais e então dizer ‘resolvam lá seus negócios’. Como os escravos,
as gangues faziam exatamente o que seus mestres mandavam. Se não fossem movidas
pelo ódio de si mesmas, nenhum dos Crips, Bounty Hunters nem nenhuma outra gangue
negra teria sido enganada.”
“Os policiais dos bairros juravam server e proteger, mas para nós eles não estavam lá para
ajudar, mas para nos explorar – e eles eram eficientes. Com a presença maquiavélica dos
policiais, a epidemia das gangues escalou. Quando a guerra de gangues é alimentada pelas
autoridades, fundos eram gerados para o financiamento das chamadas ‘unidades anti-
gangues’. Sem as gangues, essas unidades não mais existiriam.”
O relatório do comitê Church para o Congresso dos EUA descobriu que o FBI e as
polícias locais se envolveram repetidamente na incitação da guerra das gangues e,
de fato, se orgulhavam do papel desempenhado por eles na carnificina resultante.
Nas palavras desse relatório:
“No centro dessa [violência] é a política de longa ata do DCC de forçar grupos de
prisioneiros em conflito a tomar o banho de sol juntos ao mesmo tempo que
negavam a essas facções quaisquer meios de negociar resoluções pacíficas de
suas disputas.”
“O incidente de 23 de fevereiro [que resultou nos guardas dando 24 tiros de seus fuzis
matando um prisioneiro e ferindo 15], ocorreu apenas no segundo dia desde o incidente
de agosto em que a população foi colocada no pátio. Nos meses entre essas duas
ocorrências de larga escala parecem ter piorado a situação, instigando uma longa série de
lutas menores. Ou os funcionários de Pelican Bay perderam o controle de sua instituição
ou nós estamos testemunhando um retorno dos “dias de gladiador” de Corcoran do
começo dos anos 1990”
É claro que o DCC não tinha perdido controle de suas prisões. Como Ken Hurdle
admitiu, manter prisioneiros violentamente divididos e jogados uns contra os outros
é uma política calculada para manter o controle e manter o foco dos prisioneiros
fora dos funcionários das cadeias que oprimem a todos eles. Como o CPF
concluiu: “agentes do DCC tem um longo histórico de promover e instigar a
violência entre os prisioneiros. Isso foi documentado em procedimentos legais...”.
“Em 2004, Hickman anunciou uma corajosa mudança na política que destacaria a
reabilitação de usuários de drogas, casas de passagem e prisão domiciliar para violadores
de condicional menores como alternativas a mandá-los de volta para a prisão. Essa
mudança foi atacada por uma campanha midiática patrocinada pelo sindicato dos guardas
junto com um grupo de defensores de ‘direitos das vítimas’ e Schwarzenegger teve medo
e recuou.” – Anatomy of a Spontaneous Prison Riot.
Esses presos rivais são, então, liberados aos poucos das “cápsulas” nas unidades de
população geral. A intenção é ver se o conflito irrompe em violência grupal no contexto de
população mais ampla. Qualquer situação (deliberadamente manipuladas) resultante
então valida as declarações oficiais de “problemas” com a violência de gangues,
justificando os rótulos demonizantes e as intenções pré-designadas para aumentar as
medidas de repressão e violência oficial contra a juventude étnica, demandas por
aumento do financiamento do controle do crime, expansão das estruturas prisionais e de
polícia militarizada e, acima de tudo: manter o corpo dividido, confuso e lutando contra si
mesmo.
Esses sistemas operam para provocar e aumentar a violência das gangues (dividir
o corpo) e, por sua vez, responder à violência por eles criada com contra violência
oficial (combata o corpo). Essa é uma estratégia geral da ofensiva imperialista
aplicada tanto em conflitos de “baixa intensidade” (como a guerra contra a
juventude nas comunidades oprimidas) como nos conflitos de “alta intensidade”
(como no Iraque).
De fato, é visível a aplicação dessa estratégia para a divisão dos xiitas e sunitas no
Iraque, bem como para justificar a ocupação militar continuada dos EUA. Desde o
começo da invasão americana em 2003, o plano era tomar o controle por meio da
conquista da lealdade da maioria xiita da população (em cujo território está a maior
parte das reservas de petróleo) jogando-os contra a minoria sunita (assim como a
classe dominante na Amerika faz jogando brancos contra os negros e outras
“minorias” étnicas).
O principal grito dos agentes do governo dos EUA é que as hostilidades entre
xiitas e sunitas representam o risco de uma guerra civil total no Iraque caso as
forças americanas se retirem. Por isso, argumentam, a ocupação militar deve
continuar indefinidamente.
A linha foi reforçada e demarcada em 1705 por meio de uma lei, que classificava
como “negro” qualquer pessoa que tivesse “uma gota” de sangue Afrikano. Os
brancos pobres recebiam um senso de privilégio social, ainda que fossem, por
vezes, mais pobres que os escravos, e uma crença na “superioridade racial” assim
como a licença para brutalizar e agir como se fossem os senhores dos “negros” no
papel de capatazes. Brancos foram culturalmente condicionados a odiar e temer
os negros (e vice-versa) e lutar para assegurar que os escravos nunca se unissem
em grandes números, exceto para trabalhar sob a supervisão dos capatazes.
Alguns negros também escolhiam ser capatazes e todos eram encorajados a se
tornarem “delatores” e espiões para seus mestres brancos – AGITAR,
DOUTRINAR E DIVIDIR – DIVIDIR E GOVERNAR!!
3. COMBATA O CORPO
“A juventude de uma população que cresce pode ter um papel central na pressão por
mudança. Eles estão entre os que, em geral, se encontram em desvantagem
desproporcional: eles têm menos a perder na atual estrutura da autoridade, mais
idealismo, são mais impacientes e em uma sociedade com taxas estáveis ou crescentes de
incremento populacional, sua proporção na população total aumenta. A densidade do
número de jovens sobre a população total pode ser uma das pistas para a força da pressão
por mudanças.”
Isso lança uma luz no foco deles sobre as gangues de jovens. Mas vamos traçar a
sequência da “Guerra às Drogas” e da “Guerra às Gangues” no âmbito doméstico
e mostrar como em cada uma delas as gangues de jovens foram os maiores alvos
da violência oficial. Como já foi dito, no final dos anos 1960 e início dos anos 1970
os imperialistas se moveram para destruir toda e qualquer consciência política
revolucionária dentro das comunidades urbanas oprimidas. Essas ações foram
racionalizadas com o pretexto de prevenir e conter a violência – a mesma
justificativa de hoje.
“Em 1971, o uso do termo Crip tinha se tornado comum entre os membros dos Avenue
Cribs que passou a se tornar um nome aceitável para a gangue. Enquanto isso, Raymond
Washington e sua coleção de membros de gangues influenciaram grupos de outras áreas
da cidade para formar diversos conjuntos de Crips, entre os quais se destacam os Avalon
Garden Crips, Eastside Crips, Inglewood Crips e os Westside Crips. Os Crips eram violentos
e estavam em constante expansão de seu território. A agressividade deles fez com que
diversas gangues rivais juntassem suas forças e adotassem o nome coletivo de “Bloods”,
adotando o vermelho como sua cor representativa. Ao longo dos anos 1970 e 1980, existia
uma rivalidade ferrenha entre os dois grupos. No início dos anos 80, as gangues dos Crips
estavam profundamente envolvidas com o tráfico de drogas e iniciaram uma expansão
pelos Estados Unidos, vendendo um novo produto chamado ‘Crack’. Ao longo dos anos
1980 e 1990, os Crips desenvolveram intrincadas redes e construíram uma reputação de
respeito junto a gangues nos EUA e em países vizinhos.”
Essas condições - prevalecentes nos guetos negros por todo o país - e sua
interpretação a partir das ideias de Malcolm X, assassinado no mesmo ano,
inspiraram Huey P. Newton e Bobby Seale a formar o Partido dos Panteras Negras
para a autodefesa em Oakland, California. A série de insurreições urbanas que
varreu a Amerika entre 1964 e 1968 (incluindo a rebelião de 1965 em Watts), e o
aumento subsequente de ativismo e consciência política da juventude urbana, fez
com que o governo financiasse e conduzisse diversos estudos para conter a
rebelião negra. Em 1973, Ronald Reagan (então governador da Califórnia),
anunciou em seu discurso State of the State o planejamento de uma instalação
biomédica - o Centro de Estudos para Redução da Violência - a ser inaugurado na
Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA). Louis “Jolly” West, um
controverso psiquiatra com histórico de trabalho para a CIA, deveria ser o gestor
do novo centro de pesquisa.
West propôs que o foco da análise fosse nos bairros de população negra ou
mexicana para buscar “defeitos genéticos” e também propôs a instalação de
eletrodos nos cérebros desses indivíduos como forma de “curá-los”. A ampla
oposição pública a esse plano evitou que ele saísse do papel. West então buscou
estabelecer um laboratório para experimentos com humanos na em uma antiga
base de mísseis desativada em Santa Monica, Califórnia.
“O papel das drogas no exercício do controle político também tem ocupado cada vez mais
espaço na discussão. Um exemplo pode ser a aplicação seletiva das leis antidrogas a
componentes específicos da população como membros de minorias ou organizações
políticas.”
Ao longo dos anos 1970, o PPN foi alvo de ataques brutais da parte do governo -
liderados pelo FBI - e foi destruído. Os Bloods e Crips, apesar de serem facções
relativamente pequenas, ficaram presos em um combate por territórios, respeito e
outras desavenças - com ambos se acusando de prejudicar as comunidades sob
seu controle.
“A administração Reagan, vendo nisso uma ameaça “comunista” e mais ainda um desafio
ao controle exercido sobre os governos na América Central, começou imediatamente a
trabalhar para derrubar o governo encabeçado pelos sandinistas. Fez uma guerra secreta
por meio da organização, pela CIA, de uma força contrarrevolucionária (os ‘contras’),
muitos dos quais eram antigos líderes da odiada Guarda Nacional do governo Somoza.”
“Os contras pareciam não ter nenhuma base de apoio popular dentro da Nicarágua e, por
isso, sua base era na vizinha Honduras, um país muito pobre dominado pelos Estados
Unidos. De Honduras, eles entravam pela fronteira, atacando fazendas e vilarejos,
matando homens, mulheres e crianças, cometendo atrocidades. Um ex-integrante dos
contras, Edgar Chamorro, testemunhou perante a Corte Internacional de Justiça: ‘Nos
falavam que a única forma de derrotar os sandinistas era usar as táticas que a agência
[CIA] atribuía às insurgências comunistas em todos os lugares: matar, sequestrar, roubar,
torturar… Muitos civis foram mortos a sangue frio. Muitos outros foram torturados,
mutilados, estuprados, roubados ou abusados de alguma outra forma... Quando concordei
em me juntar… Eu esperava que fosse uma organização de nicaraguenses… acabou se
revelando um instrumento do governo dos EUA…’
“Havia uma razão para o segredo das ações estadunidenses na Nicarágua: pesquisas de
opinião mostravam na época que o público se opunha ao envolvimento militar lá. Em
1984, a CIA, usando agentes latino americanos para ocultar sua relação, colocou minas nos
portos da Nicarágua e explodiu navios. Quando a informação vazou, o secretário de Defesa
Weinberger declarou à ABC: ‘os Estados Unidos não estão minando portos na Nicarágua’.”
“Mais tarde naquele ano, o Congresso, respondendo talvez à opinião pública e à memória
do Vietnã, tornou ilegal que os EUA apoiassem ‘direta ou indiretamente, operações
militares ou paramilitares na Nicarágua’. A administração Reagan decidiu ignorar essa lei e
encontrar formas de financiar indiretamente os contras, buscando o apoio de um
‘terceiro’. O próprio Reagan solicitou fundos da Arábia Saudita, pelo menos US$ 32
milhões. O ditador aliado da Guatemala foi usado para conseguir de forma sub-reptícia as
armas para os Contras. Israel, dependente do auxílio dos EUA e sempre pronto a apoiar,
também foi usado nesse esquema.”
– Howard Zinn, A People’s History of the United States: 1492 – Present (Harper Collins; N.Y.
1999) pp. 585-586
Os EUA também buscaram outros canais para financiar a guerra ilegal dos Contras. Um por
meio da venda de armas para o Irã em troca da libertação de reféns americanos presos no
Líbano, dando os lucros dessas vendas para os Contras (o que ficou conhecido como
escândalo “Irã-Contras”), e o segundo foi permitindo aos contras ganhar dinheiro por meio
do despejo de crack barato nas cidades dos EUA - começando e espalhando a “epidemia
do crack”. Os Contras não só inundaram as cidades com crack por meio das gangues, como
também forneceram armamento militar para as mesmas exercerem seu poder uma contra
as outras na luta por territórios para venda de drogas. Esse acesso repentino à recursos
financeiros e armas aumentou o poder e prestígio das gangues, fazendo com que a
afiliação a elas aumentasse nos guetos pobres. Como observado por Mike Davis:
“Na região Sul-Central Los Angeles, nós nos perguntamos de onde vinham essas armas.
Elas não eram revólveres ou pistolas, eram Uzis e AK-47, armas sofisticadas trazidas pelos
mesmos agentes da CIA que estavam vendendo a cocaína porque precisavam se impor e
trazer os lucros. Nesses momentos que se viam todas essas armas chegando na
comunidade, e se via cada vez mais violência e matança. Agora sabemos o que estava
acontecendo. As drogas estavam sendo colocadas nas nossas comunidades em
consignação, para as gangues e outros. Se eles não trouxessem os lucros de volta, as
armas eram trazidas para que eles pudessem garantir o controle. A matança só aumentava
e as pessoas se perguntavam ‘porque eles brigam? Para que são todos esses drive-bys e
tiroteios? O que é essa guerra às gangues?’ e a imprensa dizia ‘Ah, são as cores. Uns
gostam de vermelho, outros de azul’. Bom, você sabe que era por causa da droga, por
causa do crack, introduzida nas nossas comunidades por pessoas que o trouxeram por um
motivo.
– Citado em: Alexander Cockburn, et al., Whiteout: The CIA, Drugs and the Press (Verso:
NY, 1998) p. 65
O envolvimento da CIA com o tráfico de drogas não é nada novo. De fato, ao longo
de sua existência a CIA foi o facilitador central do tráfico de drogas internacional
em sua busca pelo financiamento de diversas operações ilegais domésticas ou no
exterior. A CIA está, por exemplo, na origem do surto de heroína que destruiu as
comunidades negras nos anos 1960 e 1970, causando a primeira “Guerra às
Drogas” declarada por Richard Nixon.
“Algumas semanas antes de morrer [em 1962], Luciano deu uma entrevista a um repórter
da Associated Press que lhe perguntou sobre os motivos de sua soltura da prisão. ‘Fui
perdoado por causa dos grandes serviços que prestei aos Estados Unidos’ respondeu
Luciano…”
– “Brothas Gonna Work it Out!” Socialism and Democracy, Vol. 18, No.2, July-Dec 2004, p.
246-47
Ainda pior, ele testemunhou uma repetição da história com a epidemia do crack,
mas em um nível mais destrutivo devido ao papel das gangues armadas, e em
como esse processo serviu aos imperialistas.
“Fugindo das agulhas… a primeira geração do Hip Hop… se voltou para o crack ‘fumável’
como uma droga de escolha. Eu assisti todo o ciclo de genocídio geracional se repetir em
meados dos anos 80 e ao longo dos 90, enquanto a violência do tráfico de drogas escalava
a níveis nunca antes vistos (os viciados em heroína eram conhecidos por roubar, mas não
pela violência). Dessa vez, os poderes estabelecidos não só lançavam a droga dentro das
nossas comunidades, mas drogas e armas. Assaltos por dinheiro, joias e casacos de couro
pelos viciados em crack terminavam, com frequência, em violência e morte. O comércio da
heroína fora controlado por brancos de meia idade, associados aos cartéis do crime
organizado como a Máfia (frequentemente desafiados pelos adultos negros em cartéis
como o Nicky Barnes), o tráfico do crack era controlado por gangues rivais de jovens
negros que regularmente se enfrentavam à bala em batalhas por território. Enforcada sob
o jugo do abuso desenfreado das drogas e do narco-terrorismo, as cidades implodiram. A
indignação que havia detonado ‘explosões sociais’ (insurreições urbanas, perturbações da
ordem e ‘rebeliões’) no passado era agora canalizada pelos poderes estabelecidos para
‘implosões sociais’ - colapsos violentos e voltados para dentro da vida comunitária. Isso
tudo era parte de uma política de contenção - contenção do potencial revolucionário das
massas negras por meio da transformação de guerrilheiros latentes em bandidos e
viciados. Quem realmente está no comando?” - Ibid., p. 247
Após criar a epidemia do crack, o governo dos EUA declara uma “Guerra às
Drogas” que logo se fundiu com a já declarada “Guerra às Gangues”. Para ganhar
o apoio público a essas guerras, o “Império” encabeçou uma grande campanha
midiática contra as drogas.
“No começo de setembro de 1989, uma grande campanha do governo e da mídia foi
lançada pelo presidente. Nesse mesmo mês, as transmissões [da Associated Press] traziam
mais matérias sobre drogas do que sobre a América Latina, Ásia, Oriente Médio e África
juntos. Se você olhasse para a televisão, todos os programas de notícia teriam uma grande
matéria sobre como as drogas estavam destruindo nossa sociedade, tornando-se a maior
ameaça a nossa existência etc.”
“O efeito na opinião foi imediato. Quando Bush venceu as eleições de 1988, alguns diziam
que o déficit orçamentário era o maior problema que nosso país enfrentava. Somente 3%
colocavam as drogas nesse ranking. Após a campanha da mídia, a preocupação com o
orçamento caiu e as drogas passaram a ocupar entre 40% e 45%, o que é bastante raro
para uma pergunta aberta (onde não há exigência de respostas específicas)”
“Agora, quando alguns estados clientes reclamam que os EUA não estão mais enviando
dinheiro o suficiente, eles não dizem mais ‘precisamos de dinheiro para parar os russos’
dizem, antes, ‘precisamos do auxílio para conter o tráfico de drogas’. Como com a ameaça
soviética, esse inimigo traz uma desculpa para a presença militar onde existe atividade
rebelde ou qualquer outro tipo de instabilidade.”
“Logo, internacionalmente, a ‘guerra às drogas’ garanta uma cobertura para a intervenção.
Em âmbito doméstico, tem pouco a ver com as drogas e muito a ver com distrair a
população, intensificando a repressão nas cidades e construindo o apoio para o ataque às
liberdades individuais.”
– Noam Chomsky, What Uncle Sam Really Wants (Odonian Press; Apr. 1999), pp. 82-83
Sob o manto da “Guerra às Drogas”, a epidemia de crack gerada pela CIA foi
usada para aprovar o Anti-Drug Abuse Act (lei contra o abuso das drogas) de
1986, uma lei que elegia como alvo (como o dr. “Jolly” West tinha proposto uma
década antes), o crack, a forma barata da cocaína vendida às pessoas de cor das
cidades. Essa lei tornou as penas para o crack 100 vezes mais severas que as
penas relacionadas à cocaína - droga consumida nos subúrbios brancos (de
classe média). De forma semelhante, sob o manto da “Guerra às Gangues”, a
violência sectária das gangues nas disputas territoriais foi usada para justificar a
ocupação violenta das cidades pela polícia militarizada, a criação de bancos de
dados sobre as gangues, e a condução de operações de larga escala contra
gangues, tendo como alvo jovens negros - em sua maioria sem vínculo com as
gangues.
Como dito por Christian Parenti em “The Soft Cage” (a gaiola macia):
“Durante o final dos anos oitenta, antes do terrorismo eclipsar o comunismo como
inimigo público número um, a mídia e a classe política se tornaram delirantemente
obcecadas com as gangues. O pânico moral tinha alguma base na realidade; a
desindustrialização, o aumento da desigualdade econômica e o dinheiro fácil do
comércio caótico do crack de fato criaram uma explosão das guerras de gangues
em cidades grandes e pequenas.”
“Seria difícil encontrar evidências documentais de que essa guerra às drogas tem algum
efeito além dos deletérios. Em 1990, o desemprego da juventude negra na região de Los
Angeles era da ordem de 45%. Quase metade da população negra com menos de 25 anos
de idade já tinha passado pelo sistema de justiça penal. A expectativa de vida dos negros
estava caindo pela primeira vez nesse século [XX] e a mortalidade infantil na cidade estava
aumentando. Algo em torno de 40% das crianças negras nasciam na pobreza.
– Whiteout, p. 78
“O que começou como uma resposta ao front violento da guerra contra as drogas evoluiu,
aqui e em cidades por todo o país, em um novo mundo do policiamento.”
“‘É a militarização de Mayberry’ disse o Dr. Peter Kraska, professor de direito penal na
Eastern Kentucky University, que pesquisou departamentos de polícia por todo o país e
descobriu que o emprego de unidades paramilitares cresceu 10 vezes desde o começo dos
anos 1980.”
Aqui vão dois relatos sobre como isso se desenrola no nível das ruas contra a
juventude de cor (para os que não vivem na “quebrada” e não vêem isso todo dia):
Até mesmo a ACLU (União Americana pelas Liberdades Civis na sigla em inglês)
já apontou o impacto destrutivo da Guerra às Drogas nas comunidades e famílias
negras, bem como sua seletividade contra a população negra:
“Os efeitos colaterais das políticas de drogas da nação, processos racialmente seletivos,
mínimos obrigatórios e as disparidades nas condenações para o crack tem tido um efeito
devastador nos homens, mulheres e famílias afro-americanas. Dados recentes indicam que
afro-americanos somam apenas 15% dos usuários de drogas do país, mas ainda assim
compõem 37% dos presos por violar as leis contra drogas, 59% dos condenados e 74% dos
sentenciados à prisão por crimes relativos a drogas. Como a ação policial focou seus
esforços nas violações relacionadas ao crack, especialmente as cometidas por afro-
americanos, uma virada dramática ocorreu nas tendências gerais de encarceramento da
população negra em relação ao resto da nação, transformando presídios federais em
instituições cada vez mais dedicadas à comunidade negra. Os efeitos dos mínimos
obrigatórios não apenas contribuíram para as taxas de encarceramento
desproporcionalmente altas, mas também separaram pais de famílias, mães com
sentenças por crimes menores de posse de drogas de seus filhos, deixam as crianças para
trás no sistema de bem estar infantil, cria uma privação em massa de direitos daquele
condenados por crimes e proíbe pessoas com histórico de encarceramento de receber
serviços sociais como as food stamps, acesso a moradia pública ou programas de bem
estar social.” – American Civil Liberties Union, “Cracks in the System: Twenty Years of the
Unjust Federal Crack Cocaine Law,” October 2006.
“Os representantes de Watts viram implicações sinistras. Na melhor das hipóteses, eles
acreditavam que o estudo sobre hipertensão era uma história para acobertar iniciativas de
pesquisa sobre a violência [como as propostas por “Jolly” West nos anos 1970]. Na pior, o
alvo era listar manifestantes negros como forma de preparação de invasão das
comunidades pelos Exército ou pela polícia, levando assim à destruição. Eles temeram que
as cercas de ferro erigidas em volta da comunidade seriam, em última instância, utilizadas
para aprisioná-los mais do que protegê-los.”
“Ao contrário da imagem pública e midiática, os representantes comunitários se sentiam
satisfeitos com o lugar onde moravam. Por maior que fosse o medo da violência no bairro,
eles tinham mais medo das intenções da comunidade branca em relação a suas casas e
filhos. (De forma similar, muitos pais negros têm mais medo de que seus filhos sejam
feridos pela polícia do que pela violência dos jovens do bairro. Diversas vezes, em minhas
viagens, mães e pais me contavam histórias sobre como seus filhos foram arbitrariamente
presos e agredidos por policiais). A publicidade negativa em torno das comunidades,
descrevendo-as como selvas tenebrosas não se encaixava na sua experiência de
comunidade e de gratidão por um lugar acessível para se morar. A imagem pública
totalmente negativa das comunidades entre os brancos, eles temiam, tinham como alvo a
preparação da cidade para aceitar a destruição desses espaços. Eles estavam cientes da
voracidade com que muitos negócios de brancos demoliriam as comunidades para dar
lugar ao ‘progresso’ por meio da ingerência econômica. Eles também viam traços de
genocídio por meio do desmantelamento de mais uma comunidade negra estabelecida e
pela possibilidade de extermínio da população dessa comunidade. Era consenso entre eles
que políticas do governo estavam propositalmente promovendo o ambiente letal de
drogas, gangues e armas.” – Dr. Peter and Ginger Breggin, The War Against Children of
Color: Psychiatry Targets Inner City Youth (Common Courage; ME, 1998)
“Então, tome uma pergunta importante que você nunca ouviu sobre essa suposta guerra
às drogas que tem acontecido por anos e anos: quantos banqueiros e corporações do
ramo químico estão nas prisões por violações da lei relativas a drogas? Bem, houve um
estudo recentemente da OCDE sobre os esquemas internacionais de drogas e eles
estimaram que cerca de meio trilhão de dólares são lavados internacionalmente todo and
- mais da metade disso por meio de bancos americanos. Quer dizer, todos falam sobre a
centralidade da Colômbia no esquema de lavagem do dinheiro da droga, mas eles são um
peixe pequeno: passam cerca de US$ 10 bilhões por lá, pelos bancos dos EUA passam
cerca de US$ 260 bi. OK, é um crime sério - não é como roubar uma lojinha. Os banqueiros
americanos estão, então, lavando quantidades absurdas de dinheiro oriundo de drogas,
todos sabem disso: quantos banqueiros estão na cadeia? Nenhum. Mas se um garoto
negro é pego com um baseado, ele vai para a cadeia.”
“E, na verdade, seria muito fácil rastrear a lavagem de dinheiro das drogas se você quiser a
sério - porque a Federal Reserve requer que bancos deem notificações de todos os
depósitos em dinheiro feitos acima de US$ 10.000, o que quer dizer que que se existisse o
esforço de monitoramento, seria possível ver o fluxo do dinheiro. Bem, os republicanos
fizeram a desregulamentação nos anos 1980, então agora eles não checam. De fato,
quando George Bush (pai) estava liderando a Guerra às Drogas sob Reagan, ele cancelou
um programa federal que existia para isso, um projeto chamado ‘Operação Greenback’.
Era uma coisa bem pequena, de toda a forma, e o programa Reagan/Bush foi projetado
para deixar esse tipo de coisa acontecer - mas como o Czar das Drogas de Reagan, Bush
cancelou o programa.
“Que tal, então, fazer outra pergunta - quantos executivos do ramo químico dos EUA estão
presos? Bem, nos anos 1980, a CIA recebeu um pedido para estudar as exportações de
químicos para a América Latina e o que eles estimaram é que mais de 90% delas não
estava sendo utilizado para produção industrial alguma - e se olhar para o tipo de
substâncias, é óbvio que eles estavam é sendo usados para a produção de drogas. Ok,
quantos executivos de corporações da indústria química estão na cadeia nos EUA? Mais
uma vez, nenhum - porque a política social não é direcionada contra os ricos, mas contra
os pobres.” – Understanding Power, p. 372
Chomsky então descreve a guerra exatamente pelo que ela é - uma luta de
classe/raça contra as pessoas de cor da Amerika e os pobres:
“Se você olhar para a composição da população encarcerada, você vai descobrir que a
política de controle do crime que tem sido desenvolvida está muito bem afinada para
atingir populações específicas. Então, por exemplo, o que é chamado de “Guerra às
Drogas”, que tem pouco a ver com cortar o fluxo de drogas, tem muito a ver com o
controle das populações das cidades e dos pobres em geral. De fato, mais da metade dos
prisioneiros agora nos presídios federais lá estão por acusações relacionadas a drogas - e
na maior parte por crime de posses de drogas, crimes sem vítimas e insignificantes, um
terço só por causa de maconha. Mais ainda, a “Guerra” tem atingido especialmente a
população negra e hispânica - essa é uma de suas características mais marcantes - então,
por exemplo, o droga de escolha no gueto por acaso é o crack e você é punido
severamente por isso: a droga de escolha dos subúrbios brancos, como onde eu vivo, é a
cocaína, e você não pega penas nem mesmo próximas [às do crack] por isso. De fato, a
taxa de condenação à prisão por essas drogas em cortes federais é de 100 para 1.”
– Ibid., p. 371
Então, queiram ou não, “gang bangers” estão sendo usados como aqueles antes
de vocês pelas mesmas forças que oprimem a nós todos (o imperialismo fascista
dos EUA) para destruir a si mesmos, aos seus “parças”, suas comunidades,
matando e ferindo um ao outro e aos pobres em geral, apenas para serem mortos,
feridos ou encarcerados - um ciclo de derrota para todos, exceto para o poder
estabelecido que está lucrando com suas ações e sua desgraça enquanto mantém
seu foco em outras vítimas. Como consequência, você dá aos imperialistas o
pretexto para justificar o lançamento de uma guerra aberta contra você, seus
“parças” e todos nós. Ataque a cabeça, divida o corpo e destrua o corpo dividido:
uma receita imperialista para o genocídio.
Grandes contingentes dos Almighty Latin Kings and Queens Nation apareceram
nos protestos em Nova York, incluindo contra o bombardeio do Iraque. Nos anos
1940, ALKQN começou como um grupo que auxiliava imigrantes porto-riquenhos
que chegavam aos EUA em Chicago e rapidamente se espalharam pelos bairros
mexicanos providenciando o mesmo apoio.
Em 1992, depois da insurreição em LA, líderes dos Bloods e Crips chegaram a
uma trégua que incluía um plano econômico para o melhoramento das
comunidades. O pacto durou dois anos durante os quais as mortes relacionadas
às gangues diminuíram imensamente. O sistema mirou nos líderes e finalmente
sabotou a aliança.
Uma Aliança de Punhos Cerrados deve liderar e organizar nossa juventude urbana
cujo trabalho seria defender as comunidades e apoiar os trabalhadores em greve
ou os grevistas contra os aluguéis, desencorajar o tráfico de drogas e o crime de
rua. Deve promover e garantir uma trégua das gangues e canalizar as energias da
juventude para atividades produtivas e programas de serviço comunitário, liderar a
condução de educação política e treinar os métodos de defesa comunitária, artes
marciais e combate urbano
Como um irmãozinho dentro de uma organização de rua apontou uma vez para
mim em uma discussão recente sobre o genocídio auto infligido:
“Se matar é exatamente o que negros, pardos e mesmo os brancos pobres estão fazendo.
Eu creio que a evidência mais cabal do crime da classe dominante e dos instigadores do
governo desse genocídio auto infligido é que tudo nessa sociedade glamouriza esse
comportamento. Especialmente a mídia hegemônica, que é de propriedade, controle e
regulada não pelos pobres, mas pela classe dominante e pelo governo. Mas qualquer
filme, clipe de rap, jornal, escola de pensamento etc. que se opõe esse sistema podre e é
contra o auto ódio promove independência comunitária e mesmo insinua consciência
política pró-revolucionária é imediatamente criticado, neutralizado e seus orquestradores
são destruídos. Não existe rap mainstream consciente, todos os músicos conscientes são
forçados a operar na encolha, a não ser que busquem camuflar e dissolver sua mensagem
ao ponto de nadar em contradições. Mas os rappers que falam sobre vender drogas,
matanças ou qualquer outro comportamento autodestrutivo, de auto ódio ou qualquer
merda frívola são lançados por todos os cantos pelos produtores do mainstream e pelas
gravadoras. É o sistema que nos ensina, promove e glamouriza essa merda no dia-a-dia!
Concordo totalmente com você - estamos sendo jogados uns contra os outros enquanto o
verdadeiro inimigo (os verdadeiros gângsteres) estão ganhando dinheiro com nosso
sofrimento, fazendo merda pra gente que a gente nunca aceitaria de um de nós (quem
matou Tookie? quem expulsa nossas famílias dos bairros? quem nos sequestra e nos joga
na cadeia como quer? quem nos bota pra lutar um contra o outro por um pedaço de pão -
enquanto são donos do campo de trigo?), e tira nosso foco do verdadeiro inimigo. Sim,
nossas prioridades estão invertidas… assim como as dos escravos antigamente!”
Se nós devemos representar algo, que seja a luta unida por libertação das
correntes do imperialismo e não reivindicações vazias a territórios pertencentes
aos imperialistas - que sequer podemos defender de ataques dos porcos e dos
quais somos prontamente removidos para as prisões quando eles decidem tomar
bairros inteiros para os planos capitalistas de “desenvolvimento”. Se devemos
morrer, que seja na luta pela liberdade e não como peões manipulados para lutar
contra outros peões.