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Mortes por suicídio no Brasil – Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (Site da

CNN Brasil)
2012: 6905
2018: 12733
2019: 12745
2020: 12895

OMS (2019) – Taxa é maior em homens (13,7 suicídios – 100 mil homens) que em mulheres
(7,5 suicídios – 100 mil mulheres);
-Taxa é mais elevada em pessoas com mais de 70 anos de idade (8,6 mortes – 100 mil
habitantes – 2018);
-Segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos;
-Métodos mais frequentes: enforcamento, autointoxicação e uso de armas de fogo (OPAS,
2014);
-Maior proporção ocorre em solteiros, viúvos e divorciados (com proporção semelhante
entre os sexos) – (BRASIL, 2017);
-Maior incidência na população indígena (15,2) – (brancos 5,9 e negros 4,7);
-Nos indígenas a faixa etária mais acometida é a de 10 a 19 anos (44,8% dos óbitos) –
(BRASIL, 2017);

-Taxas mais elevadas em grupos mais vulneráveis que sofrem discriminação – refugiados e
migrantes, indígenas, população LGBTQIA+, pessoas privadas de liberdade;
-Fator de risco mais relevante é o histórico de tentativa pregressa;
-Para cada adulto que se suicida, possivelmente outros 20 tenham tentado (Boletim
epidemiológico sobre suicídio – Ministério da Saúde – Brasil, 2017)

-O comportamento suicida está associado a transtornos mentais, como depressão e uso


abusivo de álcool, mas também ocorre em momentos de crise (colapso na capacidade de
lidar com estresse, problemas financeiros, términos de relacionamento, dores crônicas e
doenças);
-Enfrentamentos de conflitos, desastres, violência, abusos, perdas e senso de isolamento
também estão associados;
-Fatores de agravamento das condições sociais e da situação de saúde: desemprego, perda
recente do emprego, falências;
-Ambientes e processos de trabalho também podem ser potencializadores;

-Suicídio é um marcador de qualidade de vida;


-Uma forma de prevenir o suicídio é identificar e tratar precocemente os transtornos mentais;
-A prevenção ao suicídio deve começar na Atenção Primária;
-Articular essa atenção primária com os serviços de Atenção Psicossocial (como o CAPS);
-Onde há CAPS, o risco de suicídio reduz em até 14% (Ministério da Saúde – BRASIL,
2013);

Prevenção ao suicídio: Proporcionar melhores condições de vida; tratamento eficaz de


transtornos mentais; controle dos fatores de risco; informação e mobilização da comunidade
na prevenção; identificação de pessoas vulneráveis;
Prevenção universal: reduzir a incidência de novos casos por ações educativas;
Prevenção seletiva: foco nos grupos em situações de risco;
Prevenção específica: direcionada a pessoas que manifestaram ideação suicida;

Fatores de proteção: fatores que diminuem a probabilidade de levar adiante o suicídio,


mesmo se vários fatores de risco estão presentes;
Exs.: apoio da família; de amigos; de outros relacionamentos significativos; crenças
religiosas; culturais e étnicas; envolvimento na comunidade; vida social satisfatória;
trabalho; lazer; acesso a serviços e cuidados de saúde mental;

Fatores de risco (adolescentes):


-Automutilação;
-Bullying ou situações estressoras;
-Abuso de substâncias;
-Vítimas de abuso sexual;

Sinais a considerar:
-Mudanças bruscas de comportamento;
-Isolamento social;
-Abandono de atividades prazerosas;
-Humor deprimido persistentemente;
-Alteração do sono e apetite;
-Queda do rendimento escolar;
-Lesões inexplicadas (automutilação);
-Mensagens com conteúdo de morte ou despedida nas redes sociais;

-Pessoas que já tentaram suicídio ou familiares/amigos próximos que perderam alguém para
o suicídio enfrentam julgamento e estigmas negativos socialmente, que impedem e
dificultam a busca por ajuda e acesso a serviços de saúde;
-Tentativas de suicídio são de notificação compulsória e imediata à vigilância
epidemiológica do município;
-Deve ser notificada pelo profissional de saúde que prestar o primeiro atendimento à pessoa,
em até 24 horas após o atendimento;
-Quando envolve crianças e adolescentes, a tentativa deve ser comunicada aos Conselhos
Tutelares (em conformidade com o ECA), e se envolve pessoas com 60 anos ou mais, ao
Conselho do Idoso ou ao Ministério Público;
-A notificação é importante para gerar informações para formular políticas públicas e
estratégias para enfrentamento e prevenção;

-Na tentativa deve ser preenchida a ficha de notificação de violência interpessoal e


autoprovocada, que deve ser digitada no Sistema de Agravos de Notificação (SINAN);
-Se a tentativa é por intoxicação exógena, 2 fichas devem ser preenchidas – a de violência
interpessoal e autoprovocada e a de intoxicação exógena;
-A partir da notificação vai ser acionada uma rede de cuidado – encaminhamento ou
vinculação a serviços de atenção psicossocial;
-Os profissionais também precisam ser capacitados para identificar e acompanhar pessoas
em risco de suicídio;

Suicídio é comportamento, não diagnóstico ou transtorno mental


*Autoagressão nem sempre tem a intenção de um desfecho fatal
Componentes do suicídio:
-Pessoa morta;
-Comportamento da pessoa causou a própria morte;
-Pessoa tinha a intenção de causar a própria morte.

*Intenção de morrer pode ser explícita ou implícita


-Explicita: comunicação direta do desejo de acabar com a própria vida;
-Implícita: pode ser inferida pelas circunstâncias do comportamento ou das crenças da
pessoa se o comportamento poderia ter terminado em morte.
*A pessoa pode demonstrar ambivalência quanto ao desejo de viver ou não no
momento em que tentaram suicídio (ambivalência quanto à intenção suicida);
*É possível averiguar melhor a intenção ao investigar as circunstâncias – a pessoa fez
de forma que fosse difícil ser resgatada ou encontrada? Fez preparações finais como
comprar armas ou deixar carta ou testamento?
*Importante deixar claro que uma pessoa pode ter feito essas preparações sem
qualquer intenção de suicídio;
*Devemos considerar o risco de suicídio mesmo que a pessoa indique apenas
sutilmente um desejo de morrer;
*Não é necessário ter um dano físico de fato para considerar que houve uma tentativa
de suicídio – fala-se em potencial;

*Há casos em que a pessoa tem pensamentos intrusivos de se matar, mas sem a
intenção ou desejo de cometer suicídio – é o caso de pacientes com TOC;

*Tentativa interrompida: outra pessoa impede o comportamento;


*Tentativa abortada: a própria pessoa voluntariamente interrompe o comportamento;
*Comportamento preparatório: reúne elementos para um método específico de
suicídio, se despede, doa coisas, etc;

*Crise suicida: intenso episódio de ideação suicida, uma tentativa de suicídio, ou


outros comportamentos relacionados;

Manejo da pessoa em risco de suicídio:

Identificando risco e sinais de alerta:


-Qualquer pessoa que fale sobre suicídio, se automutilou, tenha transtorno mental, dor
crônica ou sofrimento emocional agudo precisa ser avaliada para risco de suicídio;
-Avaliar os pensamentos, planos e atos de autoagressão;
-Cuidar do estado mental e do desconforto emocional da pessoa;
-Se há ideias ou planos, investigar se são estruturados (data/local/método);
-Considerar a disponibilidade do método e a possibilidade de afastá-lo;
-Há diferença entre os riscos de suicídio (há quem tenha apoio, há quem esteja em crise, há a
disponibilidade e o plano);
-Perguntar sobre autoagressão não provoca suicídio – reduz a ansiedade associada aos
pensamentos e a pessoa se sente compreendida;
-É importante ter vínculo entre profissional e a pessoa, com abordagem empática, objetiva e
sem julgamentos;
-Além de perguntar sobre a intenção de suicídio, se houver, também é adequado perguntar o
método pensado e se ele é acessível, quais as razões para a autoagressão e o que poderia
impedi-la;
*Há ou não ideação?
*Há planejamento e acesso aos meios?
*Quais os fatores de risco?
*Quais os fatores de proteção?

-Depois de identificado o risco pode-se acionar uma pessoa de confiança para o paciente
(informando-o previamente);
-Explicar a obrigação profissional de proteger e zelar pelo bem estar do paciente;
-Pode-se estabelecer também um contrato de não suicídio (pode ser por escrito), fazer um
plano de segurança;

Como oferecer e ativar apoio psicossocial:


-Ouvir sem julgamento;
-Examinar as razões e maneiras para continuar a viver;
-Focalizar os pontos fortes da pessoa, fazê-la falar sobre como resolveu problemas
anteriores;
-Aconselhar a pessoa e seus cuidadores p/ restringir o acesso aos meios de autoagressão;
-Reconhecer e validar os sentimentos da pessoa;
-Oferecer esperança e lembrar que o que ela está sentindo é temporário (ela nem sempre
esteve assim);
-Ficar com a pessoa e não deixá-la sozinha (estar disponível para ela em outros momentos,
por mensagem, ligação);
-Incentive-a a procurar ajuda de outros profissionais (psiquiatra);
-Mobilizar familiares, amigos, pessoas próximas, recursos da comunidade, para garantir que
a rede de apoio faça esse monitoramento enquanto persistir o risco;
-Psicoeducar as pessoas próximas sobre a importância de evitar demonstrar hostilidade ou
criticar a pessoa;
-Informar as pessoas próximas de que não há problema em perguntar sobre suicídio, na
verdade reduz a ansiedade e a pessoa pode se sentir aliviada e mais compreendida;
-Fornecer apoio emocional também às pessoas próximas, caso necessitem;
-Estimular a participação da pessoa em grupos de apoio (especialmente grupos específicos –
LGBT, mulheres...);
-Lembrar que há casos (transtornos mentais) em que a pessoa precisa do apoio
medicamentoso;

Ações de posvenção:
-Mesmo com as melhores intervenções e cuidados, a pessoa pode cometer o suicídio, mas o
trabalho não finaliza aí;
-Suicídio não ocorre num vácuo – após a morte existem outros (família, amigos,
comunidade) que precisam de apoio;
-Posvenção tem como objetivo diminuir os impactos sofridos pelos enlutados e evitar novos
mortes ou tentativas;
-As pessoas que passam pelo luto do suicídio são chamadas de “sobreviventes do suicídio”;
-Quando alguém se suicida, muitas pessoas ao redor sofrem os efeitos (cerca de 60 pessoas
por morte) – (MULLER, 2017);
-Quem fica tem sentimentos e pensamentos de ambivalência;
-Têm de lidar com os próprios sentimentos (culpa, pena, julgamento), com o estigma social,
com os sentimentos de quem se matou;
-Por causa do estigma, essas pessoas não compartilham sua história, e têm sentimentos de
raiva, vergonha, descrença, desespero, estresse, depressão, culpa, solidão, medo – escondem
a real causa da morte da sociedade;
-Têm de lidar com a sensação de que algo poderia ter sido feito para evitar;
-As atitudes negativas são baseadas em crenças culturais, religiosas e sociais – suicídio como
questão moral e não como problema de saúde;
-Não se deve dizer como o familiar deve agir ou sentir;
-Tratar a pessoa que se suicidou como pessoa, pelo seu nome, não como uma coisa –
humanizar;

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