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Principais métodos para análise do anti-incrustante irgarol ARTIGO

CONTEXTO HISTÓRICO, USO POPULAR E CONCEPÇÃO CIENTÍFICA


SOBRE PLANTAS MEDICINAIS*

HISTORICAL CONTEXT, POPULAR USE AND SCIENTIFIC CONCEPTION


ON MEDICINAL PLANTS

USO HISTÓRICO, POPULAR Y CIENTÍFICA DE PLANTAS MEDICINALES

Wellyson da Cunha Araújo Firmo


Valéria de Jesus Menezes de Menezes
Carlos Eduardo de Castro Passos
Clarice Noleto Dias
Luciana Patrícia Lima Alves
Isabel Cristina Lopes Dias
Marcelino Santos Neto
Roberto Sigfrido Gallegos Olea

Resumo: As plantas medicinais são elementos que constituem parte da biodiversidade e são largamente
utilizadas desde os primórdios da civilização por vários povos e de diversas maneiras. Atualmente, cerca
de 80% da população utiliza recursos da medicina popular para tratamento de alguma doença, sendo que
os conhecimentos das técnicas utilizadas e o emprego são transmitidos por gerações de forma oral. Estas
informações são preocupantes no meio científico, pois pouco se sabe sobre a confiabilidade e segurança do
uso da maioria das plantas medicinais. Contudo, é possível evidenciar o crescente aumento das pesquisas
etnofarmacológicas e emprego de técnicas modernas de farmacologia, bioquímica, toxicologia e biologia
molecular para avaliar, preconizar e validar o uso de plantas medicinais, o que também favorece a diminuição
do tempo gasto no desenvolvimento de um novo medicamento. Diante deste contexto, torna-se necessário o
entendimento sobre a história das plantas medicinais, a importância do conhecimento popular e a unificação
da ciência para melhorar a aplicabilidade e o uso deste recurso natural.
Palavras-chave: Artigo histórico. Biodiversidade. Medicina popular. Plantas medicinais.

Abstract: Medicinal plants are elements that are part of biodiversity, and are widely used since the dawn of
civilization for many peoples in various ways. Currently about 80% of the population,use resources of folk
medicine for the treatment of some diseases, however, the knowledge of the used techniques and its use
are transmitted by generations orally. Those informations cause concern in the scientific field, because little
is known about the reliability and safety of the use of most of the medicinal plants. However, it is possible
to observe the increasing of ethnopharmacology researches, and use of modern techniques of pharmacol-
ogy, biochemistry, toxicology and molecular biology to evaluate, recommend and validate the use of me-
dicinal plants , which also favors the reduction of time spent in developing a new drug. Given this context,
it is necessary to understand the history of medicinal plants, the importance of popular knowledge and the
unification of science to improve the applicability and use of this natural resource.
Keywords: Historical article. Biodiversity. Folk medicine. Medicinal plants.

Resumen: Las plantas medicinales son los elementos que forman parte de la biodiversidad, y son amplia-
mente utilizadoas desde los albores de la civilización por muchas personas y de diferentes maneras. Actual-
mente, alrededor del 80% de la población, hace uso de recursos de la medicina popular para tratar alguna
enfermedad, y el conocimiento de las técnicas utilizadas y el empleo de las mismas se transmiten oralmente
atravez de las generaciones. Estas informaciones preocupan en el medio científico porque se conoce poco
acerca de la confiabilidad y la seguridad para el uso de la mayoría de las plantas medicinales. Sin embargo, es
posible observar el aumento de la investigación etnofarmacología, y el uso de técnicas modernas de farmaco-
logia, bioquímica, toxicologia y biologia molecular para evaluar, recomendar y validar el uso de plantas medic-
inales, lo que también favorece la reducción del tiempo empleado em el desarrollo de um nuevo fármaco. En
este contexto, es necesario entender la historia de las plantas medicinales, la importancia del conocimiento
popular y la unificación de la ciencia para mejorar la aplicación y utilización de este recurso natural.
Palabras clave: Artículo. La biodiversidad. La medicina popular. Las plantas medicinales.

1 INTRODUÇÃO

A biodiversidade pode ser analisada pelo biológico “Sob o termo ‘recursos biológicos’
seu papel evolutivo, ecológico ou como recurso identificamos os componentes da biodiversi
*Artigo recebido em outubro 2011
Aprovado em dezembro 2011

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Contexto histórico, uso popular e concepção científica

dade que têm uma utilização direta, indireta As plantas medicinais correspondem às
ou potencial para a humanidade” (LÉVÊQUE, mais antigas “armas” empregadas pelo homem
1999, p. 83). no tratamento de enfermidades de todos os
Entre os elementos que constituem essa tipos, ou seja, a utilização de plantas na pre-
biodiversidade, estão as plantas medicinais venção e/ou na cura de doenças é um hábito
que são utilizadas em comunidades tradicio- que sempre existiu na história da humanidade
nais, como remédios caseiros, sendo consi- (MORAES; SANTANA, 2001).
deradas a matéria-prima para fabricação de O homem primitivo buscou na natureza as soluções
fitoterápicos e outros medicamentos (LEÃO; para os diversos males que o assolava, fossem esses
de ordem espiritual ou física. Aos feiticeiros, consi-
FERREIRA; JARDIM, 2007).
derados intermediários entre os homens e os deuses
De acordo com Lopes et al. (2005), planta me- cabia a tarefa de curar os doentes, unindo-se, desse
dicinal é toda planta que administrada ao homem modo, magia e religião ao saber empírico das prá-
ticas de saúde, a exemplo do emprego de plantas
ou animal, por qualquer via ou forma, exerça
medicinais. A era Antiga inaugurou outro enfoque,
alguma ação terapêutica. O tratamento feito com quando, a partir do pensamento hipocrático, que es-
uso de plantas medicinais é denominado de fito- tabelecia relação entre ambiente e estilo de vida das
pessoas, os processos de cura deixaram de ser vistos
terapia, e os fitoterápicos são os medicamentos
apenas com enfoque espiritual e místico. (ALVIM et
produzidos a partir dessas plantas. Sendo assim, al., 2006).
a fitoterapia é caracterizada pelo tratamento com
Segundo Duarte (2006), os primeiros regis-
o uso de plantas medicinais e suas diferentes
tros sobre a utilização de plantas medicinais é
formas farmacêuticas, sem a utilização de prin-
datado de 500 a. C., no texto Chinês que relata
cípios ativos isolados (SCHENKEL; GOSMAN; PE-
nomes, doses e indicações de uso de plantas
TROVICK, 2000) permitindo que o ser humano
para tratamento de doenças. Outros regis-
se reconecte com o ambiente, acessando o poder
tros foram encontrados no manuscrito Egípicio
da natureza para ajudar o organismo a normali-
“Ebers Papirus”, de 1.500 a. C., em que conti-
zar funções fisiológicas prejudicadas, restaurar a
nham informações sobre 811 prescrições e 700
imunidade enfraquecida, promover a desintoxica-
drogas. E algumas dessas plantas ainda são
ção e o rejuvenescimento (FRANÇA et al., 2008).
utilizadas, como Ginseng (Panax spp.), Ephedra
Grande parte da população mundial tem con-
spp., Cassia spp. e Rheum palmatum L., inclu-
fiança nos métodos tradicionais relativos aos cui-
sive como fontes para indústrias farmacêuticas.
dados diários com a saúde e cerca de 80% dessa
Porém, de acordo com Simões, Schenkel
população, principalmente dos países em desen-
e Simon (2001) e Vale (2002), os primei-
volvimento, confiam nos derivados de plantas
ros registros fitoterápicos datam do período
medicinais para seus cuidados com a saúde.
2.838-2.698 a. C., quando o imperador chinês
Aproximadamente 25% de todas as prescrições
Shen Nung catalogou 365 ervas medicinais
médicas são formulações baseadas em substân-
e venenos que eram usados sob inspiração
cias derivadas de plantas ou análogos sintéticos
taoísta de Pan Ki, considerado Deus da criação.
derivados destas (GURIB-FAKIM, 2006).
Esse primeiro herbário dependia da ordenação
Diante deste contexto, através do histórico
de dois polos opostos: yang-luz, céu, calor, es-
do uso da fitoterapia, destaca-se a importância
querdo; e o yin-trevas, terra, frio, direito. Por
do conhecimento popular e a necessidade de um
volta de 1.500 a. C., a base da medicina hindu
envolvimento científico para melhor aplicabilidade
já estava revelada em dois textos sagrados:
e uso das plantas medicinais e da biodiversidade.
Veda (Aprendizado) e Ayurveda (Aprendizado
2 HISTÓRICO DO USO DE PLANTAS de Longa Vida).
MEDICINAIS Helfand e Cowen (1990) citam que existem
vários registros sobre a utilização das plantas
A utilização de produtos naturais, particu- para tratamento de doenças desde 4.000 a. C.
larmente da flora, com fins medicinais, nasceu Entretanto, tem-se o primeiro registro médico
com a humanidade. Indícios do uso de plantas que inclui uma coleção de fórmulas de trinta
medicinais e tóxicas foram encontrados nas diferentes drogas de origem vegetal, animal
civilizações mais antigas, sendo considerada ou mineral depositado no Museu da Pensilvâ-
uma das práticas mais remotas utilizadas pelo nia que é datado de 2.100 a. C.
homem para cura, prevenção e tratamento de Pode-se afirmar que 2.000 anos antes do
doenças, servindo como importante fonte de aparecimento dos primeiros médicos gregos,
compostos biologicamente ativos (ANDRADE; já existia uma medicina egípcia organizada.
CARDOSO; BASTOS, 2007). A Medicina Tradicional Chinesa é conhecida

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Wellyson da Cunha Araújo Firmo et al.

desde 2.500 anos a. C. e utiliza predominan- O uso de remédios à base de ervas remonta
temente plantas medicinais para o tratamen- às tribos primitivas, em que as mulheres se en-
to de várias enfermidades que acometem os carregavam de extrair das plantas os princípios
seres humanos até os dias atuais (SCHENKEL; ativos para utilizá-los na cura das doenças. À
GOSMAN; PETROVICK, 2003). medida que os povos dessa época se torna-
O conhecimento sobre plantas medicinais simboliza, ram mais habilitados em suprir as suas neces-
muitas vezes, o único recurso terapêutico de muitas sidades de sobrevivência, estabeleceram-se
comunidades e grupos étnicos. As observações popu-
lares sobre o uso e a eficácia de plantas medicinais
papéis sociais específicos para os membros da
de todo mundo, mantém em voga a prática do consu- comunidade em que viviam. O primeiro desses
mo de fitoterápicos, tonando válidas as informações papéis foi o de curandeiro. Esse personagem
terapêuticas que foram sendo acumuladas durante
séculos (MACIEL et al., 2002, p. 429). desenvolveu um repertório de substancias se-
cretas que guardava com zelo, transmitindo-
Até o século XIX os recursos terapêuticos eram -o, seletivamente, a iniciados bem preparados
constituídos predominantemente por plantas e (SIMÕES; SCHENKEL; SIMON, 2001).
extratos vegetais, o que pode ser ilustrado pelas
O conhecimento sobre as plantas medicinais sempre
Farmacopeias da época. Assim, na Farmacopeia tem acompanhado a evolução do homem através dos
Geral para o Reino e domínios de Portugal (1794), tempos. Remotas civilizações primitivas se apercebe-
entre os produtos chamados símplices, constam ram da existência, ao lado das plantas comestíveis,
de outras dotadas de maior ou menor toxicidade que,
30 produtos de origem mineral, 11 produtos de ao serem experimentadas no combate às doenças,
origem animal e cerca de 400 espécies vegetais. revelaram, embora empiricamente, o seu potencial
Ou seja, as plantas medicinais e seus extrativos curativo. Toda essa informação foi sendo, de início,
transmitida oralmente às gerações posteriores e de-
constituíam a maioria dos medicamentos, que pois, com o aparecimento da escrita, passou a ser
naquela época pouco se diferenciavam dos remé- compilada e guardada como um tesouro precioso.
dios utilizados na medicina popular (SCHENKEL; (ARAÚJO et al., 2007, p. 45).
GOSMAN; PETROVICK, 2000). De acordo com Amorim et al., (2003), as
Apesar do grande avanço e evolução da me- utilidades das plantas são resultantes de uma
dicina, a partir da segunda metade do século XX, série de influências culturais, como a dos colo-
as plantas ainda apresentam uma grande con- nizadores europeus, indígenas e africanos. Mas,
tribuição para a manutenção da saúde e alívio de modo geral, o conhecimento popular é de-
às enfermidades em países em desenvolvimen- senvolvido por grupamentos culturais que ainda
to (SOUZA; FELFILI, 2006). Entre os principais convivem intimamente com a natureza, obser-
motivos, encontram-se as condições de pobreza vando-a de perto no seu dia-a-dia e explorando
e a falta de acesso aos medicamentos, associados suas potencialidades, mantendo vivo e crescen-
à fácil obtenção e tradição do uso de plantas com te esse patrimônio pela experimentação siste-
fins medicinais (VEIGA JUNIOR; PINTO, 2005). mática e constante (ELISABETSKY, 1997).
Os vegetais se apresentam como fonte de Nota-se, que as plantas medicinais sempre
princípios ativos com ação farmacológica. Merece foram utilizadas, sendo no passado o principal
também destaque o importante papel dos vege-
meio terapêutico conhecido para tratamen-
tais na nutrição humana e na Saúde Pública, como
to da população. A partir do conhecimento e
fornecedores naturais de vitaminas e sais mine-
uso popular, foram descobertos alguns medi-
rais – elementos indispensáveis para a higidez do
camentos utilizados na medicina tradicional,
organismo (WAGNER, 2003).
entre eles estão os salicilatos e digitálicos
Assim, os recursos terapêuticos disponí-
(BOTSARIS; MACHADO, 1999). Esse conheci-
veis até o século XIX eram exclusivamente
mento é mantido por meio da tradição oral,
oriundos de plantas medicinais e extratos ve-
e por conta deste fator, pouca informação é
getais. No século XX, inicia-se a tendência de
comprovada sobre os efeitos benéficos e malé-
se isolar os princípios ativos (BRASIL, 2005).
ficos (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2007). No entanto,
3 USO POPULAR DE PLANTAS essas práticas relacionadas ao uso popular de
MEDICINAIS plantas medicinais são o que muitas comuni-
dades têm como alternativa viável para o tra-
As plantas medicinais representam a prin- tamento de doenças ou manutenção da saúde.
cipal matéria médica utilizada pelas chamadas da saúde (AMOROZO, 2002).
medicinas tradicionais, ou não ocidentais, em A maioria dessas plantas é utilizada com
suas práticas terapêuticas, sendo a medicina base no conhecimento popular, observando-se
popular a que utiliza o maior número de espé- a carência do conhecimento científico de suas
cies diferentes (HAMILTON, 2003). propriedades farmacológicas e toxicológicas.

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Contexto histórico, uso popular e concepção científica

Muitas vezes, entretanto, as propriedades far- Estudos sobre a medicina popular vêm merecendo
atenção cada vez maior, devido ao contingente de
macológicas anunciadas não possuem valida- informações e esclarecimentos que vêm sendo ofe-
ção científica, por não terem sido investigadas recidos à Ciência. Esse fenômeno tem propiciado o
ou comprovadas em testes pré-clínicos e clíni- uso de chás, decoctos, tisanas e tinturas, fazendo
com que, na maioria dos países ocidentais, os me-
cos. Além disso, verifica-se também escasso dicamentos de origem vegetal sejam retomados de
conhecimento a respeito dos constituintes res- maneira sistemática e crescente na profilaxia e trata-
ponsáveis pela atividade farmacológica, ou as mento das doenças, ao lado da terapêutica conven-
cional. (FRANÇA et al., 2008, p. 202).
possíveis interações que envolvam as inúme-
ras moléculas presentes no extrato da planta Nas últimas décadas, assistiu-se a um
(TUROLLA; NASCIMENTO, 2006). crescente interesse pelo uso de plantas me-
dicinais e dos respectivos extratos na te-
4 CONCEPÇÃO CIENTÍFICA SOBRE AS rapêutica, constituindo, em certas circuns-
PLANTAS MEDICINAIS tâncias, uma ajuda nos cuidados primários
de saúde e um complemento terapêutico,
O aumento do consumo de plantas medici- compatível com a medicina convencional.
nais está provavelmente relacionado à deteriora- Para isso, deve haver garantia de segurança
ção das condições econômicas nos países do ter- em relação a efeitos tóxicos e conhecimen-
ceiro mundo (HERSCH-MARTÍNEZ, 1995). Devido tos sobre efeitos secundários, interações,
a este fator, as plantas medicinais continuam ocu- contra-indicações, mutagenicidade, dentre
pando lugar de destaque no arsenal terapêutico. outros e, também, a existência de ensaios
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima farmacológicos e experimentação clínica que
que 80% da população mundial usam recursos demonstrem eficácia para este tipo de medi-
das medicinas populares para suprir necessida- camento (ARAÚJO et al., 2007).
des de assistência médica privada, podendo girar Contudo, as informações técnicas ainda
em torno de aproximadamente 22 bilhões de são insuficientes para a maioria das plantas
dólares (COSTA et al., 1998; YUNES; PEDROSA; medicinais, de modo a garantir qualidade, efi-
CECHINEL FILHO, 2001). cácia e segurança de uso das mesmas. A do-
As plantas medicinais têm contribuído mesticação, a produção, os estudos biotecno-
fortemente para o desenvolvimento de novas lógicos e o melhoramento genético de plantas
estratégias terapêuticas por meio de seus medicinais podem oferecer vantagens, uma
metabólitos secundários. Estes são conhe- vez que torna possível obter uniformidade e
cidos por atuar de forma direta ou indireta material de qualidade que são fundamentais
no organismo, podendo inibir ou ativar im- para a eficácia e segurança (CALIXTO, 2000).
portantes alvos moleculares e celulares, por Mesmo assim, as pesquisas científicas que
exemplo: interferindo na produção de me- visam à validação do uso de plantas são re-
diadores inflamatórios (metabólitos do ácido centes e as práticas populares relacionadas
araquidônico, peptídeos, citocinas, amino- ao seu uso são o que muitas comunidades
ácidos excitatórios, entre outros); agindo têm como alternativas viáveis para o trata-
sobre a produção ou ação de segundos mento de doenças ou manutenção da saúde
mensageiros (como guanosina monofosfato (PINTO; AMOROZO; FURLAN, 2006).
cíclica (GMPc), adenosina monofosfato cíclica No século XIX o empirismo da alquimia
(AMPc), proteínas quinases (PKs), etc.), na foi suplantado pela química experimental
expressão de fatores de transcrição como que permitiu a síntese laboratorial de novas
proteína ativadora-1 (AP-1), fator nuclear substâncias orgânicas. Esse fato foi um dois
κB (NF-κB), e proto-oncogenes (cjun, c-fos fatores determinantes da revolução indus-
e c-myc); inibindo ou ativando a expressão trial e tecnológica que desencadeou a pro-
de células pró-inflamatórias como sinteta- dução acelerada de novos medicamentos e,
se do óxido nítrico (NOS), ciclooxigenases à medida que derivados mais puros e con-
(COX), citocinas (interleucina (IL)-1β, fator centrados de plantas se tornaram disponí-
de necrose tumoral (TNF)-α, etc.), neuro- veis, os médicos priorizaram as drogas sin-
peptídeos e proteases (CALIXTO, 2005). téticas e passaram a desconsiderar o papel
A necessidade exige e a ciência busca a importante da fitoterapia (BRATMAN, 1998;
unificação do progresso com aquilo que a na- SIMÕES; SCHENKEL; SIMON, 2001).
tureza oferece, respeitando a cultura do povo Atualmente, percebe-se o interesse gover-
em torno do uso de produtos ou ervas medi- namental e profissional em associar o avanço
cinais para curar os males (ACCORSI, 2000). tecnológico ao conhecimento popular e ao de-

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Wellyson da Cunha Araújo Firmo et al.

senvolvimento sustentável visando a uma polí- para o aumento do acervo de informações


tica de assistência em saúde eficaz, abrangen- sobre plantas medicinais.
te, humanizada e independente da tecnologia
farmacêutica (FRANÇA et al., 2008). REFERÊNCIAS
O advento da medicina científica contribuiu ACCORSI, W.R. Medicina natural, um novo
para o aumento da sobrevida humana. E, no coti- conceito: a fórmula: guia de negócios. Revista
diano das práticas de saúde, a aplicação de prin- Espaço para a Saúde, v. 2, n. 4, p. 5-8, 2000.
cípios científicos desencadeou a descoberta de te-
ALVIM, N.A.T. et al. O uso de plantas
rapêuticas que melhoram a qualidade de vida das
medicinais como recurso terapêutico:
pessoas (GERBER, 1988; SOUZA; SILVA, 1992). das influências da formação profissional
Inúmeros estudos científicos vêm sendo às implicações éticas e legais de sua
feitos no sentido de validar as informações po- aplicabilidade como extensão da prática de
pulares referentes ao uso de plantas medicinais. cuidar realizada pela enfermeira. Revista
Podemos mencionar o atual e intenso interesse Latino-Americana de Enfermagem, v. 14, n.
que os cientistas, bem como a indústria farma- 3, 2006.
cêutica denotam ao desenvolver pesquisas com ANDRADE, S.F.; CARDOSO, L.G.; BASTOS,
o objetivo de descobrir novos princípios ativos J.K. Anti-inflammatory and antinociceptive
e também aprimorar as descobertas de novas activities of extract, fractions and populnoic
atividades farmacológicas de substâncias já acid from bark wood of Austroplenckia
conhecidas e oriundas de plantas. Verificamos populnea. Journal of Ethnopharmacoly,
que os segmentos acima citados demonstram v.109, n. 3, p. 464-471, 2007.
preocupação quanto ao desenvolvimento de AMORIN, E.L.C. et al. Fitoterapia: instrumento
técnicas de isolamento e identificação, produ- para uma melhor qualidade de vida. Infarm,.
ção e cultivo de drogas (origem vegetal), bio- v. 15, n. 1, p. 66-69, 2003.
gênese de princípios ativos e outros métodos AMOROZO, M.C.M. Uso e diversidade de
que levam ao melhoramento de seus produtos plantas medicinais em santo Antonio de
(GURIB-FAKIM, 2006). Leverger, MT, Brasil. Acta Botânica Brasilica,
v. 16, n. 2, p.189-203, 2002.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
ARAÚJO, E.C. et al. Use of medicinal plants
Verifica-se que não há um consenso entre by patients with cancer of public hospitals
in João Pessoa (PB). Revista Espaço para a
estudiosos sobre uma época de inicio de apli-
Saúde, v. 8, n. 2, p. 44-52, 2007.
cações das plantas medicinais. O que se sabe
é que as informações são perpetuadas de ge- BOTSARIS, A.S.; MACHADO, P.V. Introdução
rações em gerações por grupos com culturas à fitoterapia: momento terapêutico
semelhantes ou diferentes, feitas, geralmente, fitoterápicos. Rio de Janeiro: Flora Medicinal,
1999. p. 8-11.
de forma oral, o que aumenta os afetos, tor-
nando-se, na maioria das vezes, o único meca- BRASIL. Ministério da Saúde. Política
nismo para o tratamento de doenças. nacional de medicina natural e práticas
O grande uso de medicamentos à base de complementares-PMNPC. Brasília, DF, 2005.
plantas medicinais e o próprio conhecimento BRATMAN, S. Guia prático de medicina
popular traz consigo a necessidade de pesquisas alternativa: uma avaliação realista dos
para o esclarecimento e confirmação de infor- métodos alternativos de cura. Rio de Janeiro:
mações sobre as ações das plantas, visando a Campus, 1998.
minimização de efeitos colaterais e toxicológicos, CALIXTO, J. B. Twenty-five years of research
haja vista esse uso deve ser confiável e seguro. on medicinal plants in Latin America: a
Ressalta-se ainda a necessidade do uso personal view. Journal of Ethnopharmacology,
sustentável da biodiversidade, especialmente v. 100, p. 131-134, 2005.
nos países em desenvolvimento; primeiro, por CALIXTO, J.B. Efficacy, safety, quality control,
estarem estes mediante diversos fatores, na marketing and regulatory guidelines for
vanguarda do uso de fitoterápicos; segundo, herbal medicines (phytotherapeutic agents).
por possuírem as maiores biodiversidades, in- Braz. J. Med. Biol. Res., v. 33, n. 2, p. 179-
clusive em termos de flora, estando o Brasil 189, 2000.
enquadrado neste quesito. COSTA, A.F.E. et al. Plantas medicinais utilizadas
É factível a ampliação e incentivo de por pacientes atendidos nos ambulatórios
estudos etnobotânicos e etnofarmacológicos do Hospital Universitário Walter Cantidio da

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Contexto histórico, uso popular e concepção científica

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