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SEGUNDA AULA

Sumário
03 As competências
do revisor de textos

09 A capacidade leitora
do revisor de textos

11 Sobre o conhecimento de
estruturas e gêneros textuais

12 Os instrumentos
do revisor de textos

17 A invisibilidade
do revisor de textos

19 Material consultado
1
AS COMPETÊNCIAS
DO REVISOR DE TEXTOS

Como já se sabe, o revisor é o profissional cujo


trabalho permite que um texto seja aperfeiçoado,

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até se tornar sua melhor versão possível. A atenção
do revisor deve estar voltada não apenas a ques-
tões ligadas à gramática e utilização normativa da
língua, mas principalmente a maneiras de resolver
situações que exigem aspectos que a norma culta
não é capaz de cobrir. Por exemplo, digamos que
o revisor esteja lidando com um livro dividido em
duas partes. Na primeira parte, o narrador é mera-
mente um observador. No entanto, ao chegar na 3
segunda parte do livro, acontece o inesperado. O
personagem principal da história começa a narrar,
em uma carta endereçada a um amigo, aconteci-
mentos de seu passado. Assim, o narrador que an-
tes era um observador dá lugar a um narrador que
agora é o personagem principal da obra. Como
o revisor deveria se portar diante disso? Primeiro,
o essencial seria certificar-se de que a maneira
como o autor arquitetou a trama não comprome-
te a compreensão dos acontecimentos da história,
devido à múltipla forma narrativa empregada. O
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segundo passo seria analisar a linguagem utiliza-


da em ambas as partes. Pois, enquanto narrador-
-observador, um certo nível de formalidade fez-se
presente. Todavia, quando o narrador torna-se o
personagem, é possível perceber que a informali-
dade prevalece no texto, pois por mais que o per-
sonagem agora seja o narrador da história, não se
pode esquecer que ele está contando a história
para um amigo íntimo, assim, como ele poderia ser
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formal em sua fala? Por isso, quando dizemos que
o revisor deve estar preocupado com aspectos
além da gramática, é isso o que significa. Ele pre-
cisa possuir uma inteligência flexiva para tomar o
melhor caminho no momento de decidir como fará
suas correções.
Ainda sobre o assunto de formalidade e infor-
malidade, outra especificidade do revisor é ser ca-
paz de reconhecer que existem diferentes níveis
dentro da linguagem formal e informal. Não se
trata de dois extremos. O texto literário é o melhor

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exemplo de obra que faz uso de um meio-termo
entre a língua culta e a linguagem real do dia a dia,
especialmente em se tratando de diálogos.

Desta forma, o revisor deve sempre estar atua-


lizado a respeito das mudanças linguísticas que
acontecem dentro do idioma, pois é com essa di-
versidade que trabalhará a todo o momento. Além
disso, é essencial que o profissional se mantenha
informado sobre temas da atualidade e busque ser 5
uma pessoa curiosa, continuamente focada em
estudar sobre áreas distintas, de modo a adquirir
preparação em seu próprio trabalho, pois ele revi-
sará diversos textos de âmbitos diferentes. A isso
ilustramos o seguinte caso: digamos que, no meio
de uma revisão, o profissional encontre uma cita-
ção que está creditada ao nome X. Contudo, o re-
visor desconfia, pois seu conhecimento de mundo
o revela que aquilo pertence a outro autor. Assim,
ele faz uma pesquisa para confirmar suas suspei-
tas e percebe que estavam corretas. Dessa ma-
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neira, autor e editora salvam-se de um processo


judicial mais uma vez.

Outra preocupação do revisor deve ser a de fa-


zer com que as ideias apresentadas no texto sejam
transmitidas de forma clara através das palavras e
construções, de modo que o estilo do autor não
seja assassinado. Além disso, também deve domi-
nar as regras da língua, pois mesmo que utilize o
6 Google para sanar suas dúvidas quanto a aplica-
ção, por exemplo, de uma crase em uma locução
específica, se a dúvida não pulsar em seu coração,
como seria capaz de captar aquele erro? O fato de
sentir essa dúvida já é um sinal de que possui um
domínio do assunto, porque quem não o conhece
deixaria que passasse despercebido por ele.
O público para o qual o trabalho se destina tem
igualmente muita importância, porque se o revi-
sor está revisando um livro infantil, por exemplo,
não terá lógica usar formalidade. Só com isso já se
pode perceber que a arte de revisar um texto se

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resume em uma constante adaptação à arbitra-
riedade dessa matéria-prima da revisão, que é a
língua. E, acima de tudo, nota-se que o revisor só
estará preparado para lidar com as constantes si-
tuações complexas às quais será apresentado em
seu ofício, quando, de fato, as estiver vivenciando.
Em outras palavras, o revisor aprende a ser revisor,
revisando.

Mas por que o revisor é tão necessário, – você 7


pode estar se questionando, – se o autor poderia,
ele mesmo, revisar sua obra? A resposta para isso
se encontra em outra pergunta. Quando você es-
creve um texto, seja um trabalho para a faculda-
de ou qualquer outra coisa, você acha que ele fica
perfeito? Por mais extraordinário escritor ou revi-
sor que você seja, é inegável que a resposta será
não. Isso se dá porque, quando se está escreven-
do, o foco estará sempre na ideia que pretende
transmitir, e não nos possíveis erros que surgirão
a partir disso. Contudo, o revisor, quando revisa, já
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está esperando encontrar erros; sua atenção é uni-


camente voltada para matar sua sede na captura
de deslizes do autor. E conforme seu tempo de
experiência na área vá aumentado, ele começa a
entender que existe um padrão para os erros. São
quase sempre os mesmos. O revisor já sabe onde
deve procurá-los. Eles saltam aos seus olhos. Prin-
cipalmente porque o revisor, além de tudo, é tam-
bém um leitor, então, sua visão será duas vezes
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mais aguçada.
2
A CAPACIDADE LEITORA
DO REVISOR DE TEXTOS

O revisor precisa ser um exímio leitor para que,


deste modo, esteja sempre atualizando sua carga

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de conhecimentos mundanos. Além de a leitura
ajudar a desenvolver no revisor um detector de
enredos pobres, o mais importante se encontra
no fato de que, enquanto revisa, o profissional vai
analisando automaticamente as construções sin-
táticas. E por possuir uma bagagem de leitura, seu
cérebro consegue processar as estruturas textuais
da língua de maneira mais rápida, de modo a iden-
tificar imediatamente uma estrutura errônea sem 9
que ele precise se esforçar muito para isso. É auto-
mático. Ele lança os olhos sobre a frase e já reco-
nhece que ali existe um problema. O revisor pode
não saber identificar minuciosa e especificamente
que tipo de problema é, mas o simples fato de no-
tar a estranheza na leitura já permite que procure
os meios para a resolução.
Para mais, não basta apenas que o revisor mos-
tre o erro. Ele deve deixar também uma possível
solução, pois, o que acha que acontece se o autor
não souber como consertar o problema? Simples-
mente irá ignorá-lo, e então duas catástrofes irão
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surgir. A primeira é que o seu trabalho de encon-


trar o erro e apontá-lo terá sido em vão. A segunda
será que a carreira desse autor pode ser destruída.

Não somos bem pagos, isso é verdade. Mas


devemos ter paixão pelo que fazemos. E acima de
tudo, ter consciência da grande responsabilidade
que carregamos ao realizar esse trabalho. Sempre
que estiver considerando fazer o menos possível
10 por uma obra, pense: é o sonho de alguém que me
aguarda silenciosamente sobre a mesa. Sabendo
disso, como posso então escolher fazer um traba-
lho mediano se tenho como dar o melhor de mim?
3
SOBRE O CONHECIMENTO DE
ESTRUTURAS E GÊNEROS TEXTUAIS

O revisor precisa estar sempre pesquisando


para se inteirar sobre os diferentes gêneros tex-

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tuais. Ele terá metade de seu trabalho encaminha-
do se for capaz de identificar, antes de mais nada,
o estilo do autor e o gênero de seu texto. Assim,
é capaz de se preparar para a forma como irá in-
terferir diretamente na obra, pois não faria sentido
agregar elementos de outros gêneros em um tex-
to, seria apenas perda de seu tempo e um descaso
com o autor. O revisor precisa ser capaz de enten-
der a maneira como o autor escreve, para que só 11
assim ele consiga trabalhar em cima dela.
4
OS INSTRUMENTOS DO REVISOR DE TEXTOS

É impossível para uma pessoa, por mais


extraordinária que ela seja, guardar em sua
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mente todas as informações a respeito de regras


gramaticais, regras de normatização e outros
aspectos linguísticos. Por isso, o revisor precisa
estar sempre consultando dicionários, gramáti-
cas, estudos universitários sobre o tema, e mes-
mo a própria internet. A consulta aos dicionários
é talvez a mais importante de todas as consultas,
considerando que os autores possuem unanime-
mente a mania de repetir constantemente pala-
12 vras, em sua maioria verbos, durante o processo
de escrita de sua obra. A repetição de palavras
é uma praga que destrói o sentido do texto, eli-
mina a fluidez e até mesmo confunde o leitor. E
pior ainda, o léxico do português apresenta um
número gigantesco de palavras que possuem
diversos significados; assim, é comum encontrar
um parágrafo contendo a maioria ou todos os
seus períodos formados pelo mesmo verbo, por
exemplo, mas aplicado, é claro, com sentidos di-
ferentes. Observe:

“Eu sentia frio. Andei um pouco ao lado dela

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e senti que estava chateada comigo. Nos senta-
mos no banco. Acabei adormecendo alguns mi-
nutos depois, mas logo despertei ao sentir pas-
sos em minha direção.”

Perceba que o verbo “sentir” foi empregado


no exemplo acima três vezes seguidas. Essa é
uma ocorrência frequente na escrita. E o pro-
blema disso é que, além de deixar a leitura ar-
rastada e cansativa, soando mal aos ouvidos
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mentais, também pode causar confusão na
compreensão do texto em alguns momentos,
pois, como no exemplo acima, a palavra repeti-
da foi usada com um sentido diferente em cada
uma das ocorrências.
“Eu estava doente, trancada no quarto, e
como se não bastasse, minha mãe estava brava
comigo. Abri a janela do quarto e vi que estava
chovendo. Suspirei, revoltada. Talvez aquela se-
mana não estaria sendo tão ruim se ao menos eu
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estivesse com disposição para estar com meus


amigos me divertindo em outro lugar, ao invés
de estar encarando as paredes brancas do meu
quarto.”

O segundo exemplo demonstra que, além


dos dicionários, o revisor deve usar também a
sua criatividade para solucionar casos assim.
Repare que tanto o verbo “estar” quanto o subs-
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tantivo “quarto” foram repetidos exaustivamente.
Se o revisor deixar um problema desses passar
despercebido ao longo de todo o texto, imagine
quão doloroso será para o pobre leitor ter que
fazer essa leitura. Uma solução possível para
este caso seria:
“Eu estava doente, trancada no quarto, e
como se não bastasse, minha mãe ficou brava
comigo. Abri a janela e vi que chovia. Suspirei, re-
voltada. Talvez aquela semana não estaria sendo
tão ruim se ao menos eu tivesse disposição para

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ir me divertir com meus amigos em outro lugar,
ao invés de estar encarando as paredes brancas
desse cômodo.”

Com as devidas substituições, o texto ago-


ra flui como uma linda onda, e não mais inco-
moda nossos olhos com os truncamentos das
repetições.

O que auxilia o revisor a ser capaz de fazer 15


uma alteração assim são suas já citadas baga-
gens de leitura, além das constantes consul-
tas a dicionários, gramáticas, guias, manuais,
e, não poderia deixar de citar, o meio revolu-
cionário onde é possível encontrar tudo isso: a
internet.
Desse modo, levando em consideração tam-
bém a internet, o revisor precisa se manter atua-
lizado de igual modo quanto às formas de usá-la
a seu favor em suas pesquisas. E já que tocamos
no assunto de tecnologia, é importante frisar
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que, para que o revisor seja capaz de exercer seu


trabalho, deve aprender a utilizar os aplicativos
de edição de texto, como Word, por exemplo, de
maneira mais profunda, facilitando assim, tare-
fas, e, desse modo, melhorando seu rendimento.

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5
A INVISIBILIDADE DO REVISOR DE TEXTOS

A profissão do revisor de textos é desconhecida


pela maioria das pessoas. Quando leigos pensam

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em um escritor, imaginam que ele foi o único a tra-
balhar naquela obra.

O Estado também não reconhece o ofício da


revisão como uma profissão. E como se não bas-
tasse isso, a academia também negligencia a for-
mação de seus alunos nessa área.

Sua invisibilidade se dá também com relação


ao próprio trabalho dentro do texto, pois o revisor
não pode reescrevê-lo. Tudo é arquitetado para 17
que, no fim, o leitor nem sequer saiba que um re-
visor passou por aquela obra. Pois na maioria das
vezes, o nome do profissional nem aparece na fo-
lha de rosto.

Talvez a falta de reconhecimento do próprio


Estado, e o baixo interesse das universidades em
propor disciplinas voltadas para essa área, estejam
ligados diretamente ao fato de que, se o revisor
ganhar tanta visibilidade, ofuscará os autores. A
certeza do talento de muitos escritores queridos
do público poderia ser drasticamente abalada.
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Por fim, podemos afirmar que o revisor é como


um médico que, tão custosamente cura seu pa-
ciente, mas que ao ir receber os agradecimentos
por seu dom, ouve o mesmo dizer o fatídico “Gra-
ças a Deus”.

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MATERIAIS DE CONSULTA

FIDALGO, Marta. Guia para revisores de texto: Uma


proposta para o exercício de uma profissão
pouco (re)conhecida. RUN: Lisboa, 2014.
Disponível em:< https://run.unl.pt/hand-
le/10362/13518>. Acesso em: 06 junho 2020.

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LEMOS, Mayara. A relevância do trabalho de re-
visor de textos: Um estudo para além da re-
visão linguístico-gramatical. UFPel:Pelotas,
2014. Disponível em:< https://wp.ufpel.edu.
br/rrt/files/2017/10/A-relev%C3%A2ncia-
do-trabalho-do-revisor-de-textos.pdf>.
Acesso em: 06 junho 2020.

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