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1ª Edição e 2ª Reimpressão.
Florianópolis, 2014.
Governo Federal Coordenação de Ambiente Virtual Michel Kramer
Presidenta da República Dilma Vana Rousseff Borges de Macedo
Ministro de Educação José Henrique Paim Comissão Editorial Viviane Mara Woehl, Alexandre
Diretor de Educação a Distância/CAPES João Carlos Teatini Verzani Nogueira, Milton Muniz
Apresentação .....................................................................................07
2 Replicação do DNA........................................................................35
2.1 A Replicação do DNA é central para toda a Biologia........................................ 38
2.2 Visualização Celular da Replicação: Autorradiografia...................................... 41
2.3 DNA Polimerase e Síntese in vitro do DNA......................................................... 43
2.4 O “Paradoxo do Ponto de Crescimento” e a Síntese Descontínua de DNA..... 44
2.5 Iniciação e Problema do “Primer”......................................................................... 45
2.6 A Complexidade do Sistema de Replicação Completo.................................... 46
2.7 Replicação Semiconservativa em Cromossomos Eucarióticos...................... 50
2.8 Múltiplos Replicons por Cromossomo................................................................. 50
2.9 O Início da Replicação............................................................................................. 52
2.10 O Término da Replicação: A questão dos telômeros
em Cromossomos Eucarióticos............................................................................ 53
2.11 Componentes do Aparelho de Replicação dos Eucariotos............................ 56
Resumo............................................................................................................................... 56
Referências........................................................................................................................ 57
3 O Fluxo da Informação..................................................................59
3.1 A estrutura do RNA.................................................................................................... 63
3.2 O RNA e o fluxo da informação.............................................................................. 64
3.3 Síntese do RNA........................................................................................................... 69
3.4 RNA Polimerases........................................................................................................ 70
3.5 RNA Replicases Virais................................................................................................ 71
3.6 Transcrição do RNA................................................................................................... 71
3.7 Tipos de RNA.............................................................................................................. 76
3.8 Tradução...................................................................................................................... 96
3.9 Diferenças entre Procariotos e Eucariotos......................................................... 106
3.10 Inibidores de Síntese de Proteínas.................................................................... 108
Resumo............................................................................................................................. 109
Referências.......................................................................................................................112
4 Variabilidade Genética................................................................115
4.1 Mutação......................................................................................................................118
4.2 Reparo do DNA........................................................................................................ 133
4.3 Recombinação......................................................................................................... 143
4.4 Recombinação Homóloga ou Generalizada..................................................... 143
4.5 Recombinação Sítio Específica............................................................................. 145
4.6 Transposição............................................................................................................. 145
4.7 Retrovírus e Retrotransposons............................................................................. 150
4.8 Transformação (Exp. GRIFFITH)............................................................................ 152
Resumo............................................................................................................................. 153
Referências...................................................................................................................... 154
Apresentação
História da Nucleína
Em 1869, Friederich Miescher, um bioquímico suíço que trabalhava na
Alemanha, isolara a partir de bandagens impregnadas de pus fornecidas
por um hospital local uma substância que denominou “nucleína”. Como o
pus é primordialmente formado por glóbulos brancos, que possuem um
núcleo e, portanto, cromossomos contendo DNA, ao contrário dos glóbu-
los vermelhos que são anucleados, proporcionou uma boa fonte de DNA.
Mais tarde, quando descobriu que a “nucleína” só era encontrada nos cro-
mossomos, compreendeu a importância de sua descoberta.
A B
Linhagem R
Camundongo
morre
Células linhagem Camundongo
S vivas vivo
C D
Linhagem R Camundongo
morre
Camundongo
vivo
Proteínas são cadeias Linhagem S Células
morta pelo calor Linhagem S
moleculares formadas de linhagem
morta pelo calor
S vivas
20 componentes básicos
diferentes, os aminoácidos.
Como as permutações na Figura 1.1 - Experimento de Griffith demonstrando a transformação bacteriana
ordem dos aminoácidos
ao longo da cadeia são O curioso é que o “princípio transformante” parecia ser uma
quase infinitas, os biólogos substância resistente ao calor, uma propriedade não observada
acreditavam que elas
poderiam facilmente nas proteínas.
codificar as informações que
sustentam a extraordinária
A caracterização do material hereditário tornou-se um desafio
diversidade da vida. científico. Por um lado parecia óbvio que as proteínas seriam o ma-
terial hereditário, já que eram as únicas moléculas suficientemente
complexas para essa função tão importante. E o fato de serem
16 Genética Molecular
E. Coli Envoltório
Fago T2 dos fagos
35S +
}
Maior parte da
radioatividade
recuperada na
Agitar e
centrifugar
carapaça dos fagos
Envoltório
+ dos fagos
}
32P
Maior parte da
radioatividade
Agitar e recuperada na
centrifugar bactéria
Figura 1.2 - Experimento com isótopos radioativos realizado por Hershey e Chase
Histórico e Estrutura do DNA 17
PURINAS NH2
N 6 N
7 5 1
Fosfato 8
9 4 2
3
O N N
5´ O
-O Adenina (A)
P O CH2 O H
N 6 N
4´ 1´ 7 5 1
´´´O H H 8 4 2
9 3
H H O N N NH2
3´ 2´
Açúcar OH H -O P O CH2 O Guanina (G)
desoxirribose
-O H H
H H
NH2 OH H
PIRIMIDINAS
4
5 3N
6 2
1
O N O
Citosina (C) O
-O CH3 H
P O CH2 O 4
5 3N
-O H H 6
1
2
O N O
H H
Timina (T)
OH H -O P O CH2 O
-O H H
H H
OH H
Figura 1.4 - Estrutura dos nucleotídeos do DNA
pirimidina + pirimidina:
DNA muito estreito
purina + purina:
DNA muito largo
purina + pirimidina:
espessura compatível com
dados de cristalografia
Figura 1.5 - Espessura da molécula de DNA e sua relação com o pareamento de bases
C CH3 C fosfato
H açúcar
N C N C
timina
C C C C
citosina
+ G
G
O N O O N N H açúcar base
fosfato nucleotídeo
H H H
H H
H N N N N O
C C H H C C ponte de
hidrogênio Cadeia de DNA
N C N C
C N C N
N adenina N guanina
C C 5´ 3´
H H G C A T
5´ 3´
esqueleto açúcar-fosfato
3´
3´
5´ 5´
G C G C
T A T A
A T A
A T
A
C G esqueleto G C
açúcar
G C fosfato C G
G C C G
T A A
C G C G
A T A T
5´ 5´
3´
pares de base com 3´
pontes de hidrogênio
1.3 Propriedades
As ferramentas para caracterizar o DNA foram desenvolvidas
inicialmente a partir das propriedades físico-químicas do DNA.
O DNA é uma molécula estável quimicamente, diversos métodos
laboratoriais possibilitam a obtenção e a purificação do DNA ge-
nômico. Essas moléculas uma vez purificadas podem ser mantidas
em laboratório com relativa facilidade. Essas características tam-
bém possibilitam a obtenção de DNA a partir de vestígios bioló-
gicos e mesmo a partir de fósseis de animais e plantas já extintos.
Uma vez que as cadeias são mantidas unidas por pontes de hi-
drogênio, ligações químicas fracas, é relativamente fácil separar
as duas cadeias − processo chamado de desnaturação − experi-
mentalmente pelo calor ou pelo tratamento com álcalis. Uma vez Eletroforese
restituídas as condições adequadas ocorre a renaturação, ou seja, Método para separação de
macromoléculas (DNA, RNA
a reunião das cadeias, respeitando-se a complementaridade de ba-
e proteínas) em uma matriz
ses, processo denominado hibridação, que proporciona uma gran- na qual se aplica um campo
de gama de aplicações. Essa hibridação pode ocorrer com o DNA elétrico. A migração de cada
fragmento depende de sua
original ou com qualquer outra molécula de DNA que apresente carga elétrica, dessa forma, o
homologia (veja a Figura 1.7). DNA, por apresentar cargas
negativas devido à presença
A eletroforese é uma metodologia que, pela natureza ácida do do ácido fosfórico, possui
suas moléculas atraídas para
DNA, possibilita a separação de moléculas de acordo com o seu o polo positivo e repelidas do
tamanho (veja a Figura 1.8). polo negativo.
C
}
Hibridação em 50%
formamida a 42 °C
A
B
D
Hibridação em 50%
formamida a 35 °C
E
Pareamento
de bases
imperfeito
F C F
D B
E
A
A, C e E formam dupla
Apenas A forma dupla hélice estável
hélice estável
CONTEÚDO DE DNA
Mycoplasma E. Coli
Bactérias
levedura
Fungos
Ameba
Protistas
feijão lírio samambaia
Plantas
Drosófila
Insetos
Moluscos
tubarão
Peixes cartilaginosos
Peixes ósseos
sapo salamandra
Anfíbios
Répteis
Pássaros
homem
Mamíferos
Organismo 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Saccharomyces
– 0,29 0,33 0,05 0,06 0,08 0,09 0,11 0,08 0,11 0,11 0,08 0,08
cerevisiae, 18S
Lemna minor, 18S 0,29 – 0,36 0,10 0,05 0,06 0,10 0,09 0,11 0,10 0,10 0,13 0,08
L cell, 18S 0,33 0,36 – 0,06 0,06 0,07 0,07 0,09 0,06 0,10 0,10 0,09 0,07
Escherichia coli 0,05 0,10 0,06 – 0,24 0,25 0,28 0,26 0,21 0,11 0,12 0,07 0,12
Cholorbium vibrioforme 0,06 0,05 0,06 0,24 – 0,22 0,22 0,20 0,19 0,06 0,07 0,06 0,09
Bacillus firmus 0,08 0,06 0,07 0,25 0,22 – 0,34 0,26 0,20 0,11 0,13 0,06 0,12
Corynebacterium
0,09 0,10 0,07 0,28 0,22 0,34 – 0,23 0,21 0,12 0,12 0,09 0,10
diptheriae
Aphanocapsa 6714 0,11 0,09 0,09 0,26 0,20 0,26 0,23 – 0,31 0,11 0,11 0,10 0,10
Chloroplast (Lemna) 0,08 0,11 0,06 0,21 0,19 0,20 0,21 0,31 – 0,14 0,12 0,10 0,12
Methanebacterium
0,11 0,10 0,10 0,11 0,06 0,11 0,12 0,11 0,14 – 0,51 0,25 0,30
thermoautotrophicum
M. Ruminantium
0,11 0,10 0,10 0,12 0,07 0,13 0,12 0,11 0,12 0,51 – 0,25 0,24
strain M-1
Methanobacterium sp.,
0,08 0,13 0,09 0,07 0,06 0,06 0,09 0,10 0,10 0,25 0,25 – 0,32
Cariaco isolate JR-1
Methanosarcina barkeri 0,08 0,07 0,07 0,12 0,09 0,12 0,10 0,10 0,12 0,30 0,24 0,32 –
LINEs SINEs
introns
elementos similares a retrovírus
regiões codificantes de
proteínas
Descoberta das enzimas de restrição função, uma vez que elas restringem a multipli-
cação do vírus que poderia interferir no funciona-
Na década de 1960, um bioquímico suíço chamado
mento da bactéria.
Werner Arber deu uma contribuição inesperada à
tecnologia do DNA recombinante. Arber não estava Mas, se essas enzimas são capazes de destruir DNA
interessado nas grandes questões referentes à base viral, por que não degradam também o DNA da bac-
molecular da vida, e sim num aspecto enigmático téria, uma vez em que todo o mundo natural o DNA
da história natural dos vírus. Ele estudara o proces- é a mesma molécula básica, não importando se está
so pelo qual alguns DNA virais são destruídos de- em bactéria, vírus, planta ou animal? O que impedia
pois de inseridos em células bacterianas hospedei- uma bactéria de atacar o seu próprio DNA ao mesmo
ras. Ele observou que algumas células hospedeiras tempo que investia contra o DNA do vírus?
identificavam certos DNA virais como estranhos e Essa foi a segunda grande descoberta de Arber. Ao
seletivamente o atacavam. As enzimas de restrição, produzir uma enzima de restrição que visa a uma se-
ou endonucleases como também são chamadas, quência específica que normalmente varia de 4 a 6
são naturalmente produzidas em algumas bacté- bases, a bactéria também produz uma segunda enzi-
rias com a finalidade de protegê-las contra infec- ma que modifica quimicamente a mesma sequência
ção viral. Quando um vírus injeta sua molécula de em seu próprio DNA. Toda vez que aquela sequência
DNA na bactéria a fim de realizar seu ciclo reprodu- ocorrer, essa sequência aparece ligada a uma molécula
tivo, algumas vezes a bactéria reconhece esse DNA protetora, na verdade, um grupo metil (CH3). Isso im-
como estranho e destroi essa molécula utilizando pede que a enzima de restrição atue no DNA da bac-
as enzimas de restrição para cortá-la em inúmeros téria, prevenindo sua destruição, enquanto a enzima
fragmentos. O nome dessas enzimas refere-se à sua de restrição pode atacar livremente o DNA do vírus.
terrando o vitalismo, razão pela qual surgem imensas polêmicas Figura 1.11 - Clivagem na
éticas e religiosas. Essa mudança de paradigma coloca o DNA no molécula de DNA produzida por
diferentes enzimas de restrição
Histórico e Estrutura do DNA 29
Região curta da 2 nm
dupla hélice do DNA
Região do cromossomo
numa forma estendida 300 nm
Cromossomo 1400 nm
mitótico inteiro
Resumo
Após a redescoberta das leis de Mendel, no início do século XX,
o grande desafio no meio científico era a identificação da compo-
sição química dos genes.
Devido ao fato de os cromossomos serem constituídos por áci-
dos nucleicos e proteínas, postulava-se que uma dessas macromo-
léculas poderia ser a matéria-prima dos genes. Como o DNA é
uma molécula extremamente repetitiva e estável, enquanto as pro-
teínas apresentam uma grande variedade estrutural, muitos pes-
quisadores acreditavam que eram as proteínas que carregavam a
informação genética. Experimentos realizados por Griffith, Avery
e McLeod durante as décadas de 1940 e 1950 mostraram elegan-
temente que o DNA é o material genético das células. Em 1953,
Watson e Crick apresentaram a estrutura de dupla hélice do DNA
baseada em dados de difração de raios X.
As características peculiares da estrutura da molécula de DNA,
como a regularidade de sua estrutura, a sequência linear de bases
e o pareamento de bases entre as duas fitas componentes da molé-
cula estão associadas à sua função biológica.
Histórico e Estrutura do DNA 33
Referência Comentada
Referências Bibliográficas
ALBERTS, B. et al. Molecular Biology of the Cell. 4th. ed. New
York: Garland Pub. Inc., 2002.
WATSON, J. D. et al. Biologia molecular do gene. 5. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2006.
c a p í t u lo 2
c a p í t u lo 2
Replicação do DNA
Neste capítulo, vamos reconhecer a estrutura de duas
cadeias do DNA, com as bases complementares pareadas
como um mecanismo lógico de replicação, a dinâmica e
os componentes da maquinaria celular envolvidos nessa
atividade. Compreender como o material genético é capaz
de armazenar a informação genética e transmitir essa in-
formação fielmente dos pais aos descendentes, de geração
após geração, e as peculiaridades desse processo.
Replicação do DNA 37
Replicação
outra célula-filha herdaria a molécula origi-
semi-conservativa nal. Outra forma possível seria a replicação
dispersiva, na qual a molécula original seria
fragmentada em pequenas unidades antes de
ser copiada, com os segmentos da molécula
original sendo divididos entre as células-fi-
Replicação lhas. Seria também possível a replicação se-
conservativa
miconservativa, quando uma das cadeias con-
tém a fita original e a cadeia complementar é
recém-sintetizada (veja a Figura 2.3).
Foram Matthew Meselson e Franklin Stahl
Replicação que utilizando uma metodologia inovadora,
dispersiva conseguiram distinguir essas possibilidades.
A primeira etapa foi encontrar uma manei-
ra de distinguir as cadeias originais do DNA
das cadeias novas construídas a partir dos
precursores – o alimento que as células pre-
Figura 2.3 - Possíveis mecanismos de replicação do DNA cisam para crescer.
A alternativa escolhida foi alimentar as células
com um isótopo pesado (radioativo) de um dos elementos essen-
E. coli ciais. Após várias alternativas optaram pelo nitrogênio pesado, o
A Escherichia coli é uma 15
N. As células escolhidas para esse estudo foram de E. coli. A se-
bactéria bacilar Gram-
negativa, que, juntamente gunda parte do experimento foi medir as diferenças de densidade
com o Staphylococcus aureus, entre as moléculas de DNA das diferentes gerações celulares. Isto
é a mais comum e uma
das mais antigas bactérias
foi possível utilizando centrifugação em gradiente de densidade de
simbiontes do Homem. cloreto de césio (veja a Figura 2.4).
¹4N/¹4N
DNA leve
¹5N/¹4N
DNA híbrido
¹5N/¹5N
DNA pesado
trifosfato 5’
3’
5’
3’ 5’
cadeia
Deoxinucleotídeo iniciando “polegar”
trifosfatado
Cadeia
chegando cadeia 3’
molde
molde
5’ 3’
Interrupção na 5’
hélice
+ 3’
pirofosfato
“dedos”
3’ 5’ Cadeia
iniciando
“palma”
5’ 3’
Figura 2.8 - (A) Reação catalisada pela DNA polimerase. (B) Modelo da DNA polimerase
Direção da síntese
3’
Cadeias molde
5’ 5’
Cadeia descontínua
Cadeia contínua
3’
3’
Movimento da forquilha
5’
Direção da síntese
que atua como primer e uma cadeia molde para a sua atividade. As-
sim, não existe nenhuma DNA polimerase conhecida que possa
iniciar a síntese de uma nova cadeia de DNA. Visto que a síntese
de cada fragmento de Okazaki requer um evento de iniciação, um
mecanismo eficiente de iniciação de cadeia é essencial para a replica-
ção do DNA. A RNA polimerase, uma enzima complexa que catalisa
a síntese de moléculas de RNA a partir de moldes de DNA, é capaz
de iniciar a síntese de novas cadeias de RNA em locais específicos do
DNA. Quando isso ocorre, é formado um híbrido RNA-DNA no qual
o RNA nascente é ligado por pontes de hidrogênio ao DNA. Desde
que as DNA polimerases foram capazes de estender cadeias polinu-
cleotídicas contendo um iniciador de RNA (primer) com uma extre-
midade 3’-OH livre, cientistas em diversos laboratórios começaram a
testar a ideia de que a síntese de DNA é iniciada por primers de RNA.
Atualmente existem evidências definitivas apoiando a proposta de que
a síntese de DNA é iniciada por pequenos segmentos de RNA. Esses
primers de RNA são substituídos posteriormente por DNA, para isso
uma enzima com atividade de exonuclease, a RNAse H, degrada o
RNA que está pareado com o DNA, exceto o último nucleotídeo que
está ligado ao primeiro deoxinucleotídeo, que é removido por outra
exonuclease. A seguir as lacunas são preenchidas pela DNA polimera-
se completando a fita do DNA. Os fragmentos resultantes são unidos
por uma ligação covalente pela DNA ligase (veja a Figura 2.10).
A síntese dos primers de RNA é catalisada por enzimas denomina-
das primases, que apresentam atividades distintas das demais RNA
polimerases. Nos procariotos, os primers de RNA possuem 10-60
nucleotídeos de tamanho. Em eucariotos são menores, com aproxi-
madamente 10 nucleotídeos. O uso de primers de RNA é o mecanis-
mo mais comum utilizado para iniciar a síntese de DNA. No entanto,
alguns vírus parecem utilizar mecanismos diferentes para o início da
síntese de DNA
3’ 5’
3’
A primase sintetiza pequenos
oligonucleotídeos de RNA (primer)
Primer de RNA
copiados do DNA;
Topoisomerase
Movimento
da forquilha
de replicação
Helicase
Ponto de Início do próximo fragmento de Okazaki
Iniciador de RNA
Primase
Iniciador de RNA
Fragmento
Okazaki
Proteínas ligantes
Grampo de cadeias simples
Dímero DNA
Cadeia contínua da DNA polimerase I
polimerase
III
Hélice Cadeia Descontínua
de DNA
parental
Ligase
Cadeia
descontínua
recém-sintetizada
Cadeia contínua
recém-sintetizada
50 Genética Molecular
Origem da replicação
5´ 3´ 5´ 3´
3´ 5´ 3´ 5´
Crescimento Crescimento
Cromossomo
DNA
Cromátides irmãs
Réplicas de DNA (moléculas filhas)
100μ
Cadeia parental 3’
Ligação da
5’ Cadeia descontínua recém-sintetizada, incompleta
telomerase
3’
Direção de
ACCCCAA síntese do
5’ telomero
Extensão da extremidade
3´ pela telomerase (síntese Telomerase com molde de RNA
de DNA com molde de RNA)
3’
ACCCCAA
5’
Preenchimento da cadeia
descontínua pela DNA polimerase
(síntese de DNA com molde de DNA)
3’
DNA polimerase
Molde Molde
de RNA de RNA
3’ C C C A A T C C C 5’ 5’ 3’ C C C A A T C C C 5’
G
T T A GG G T T G G G TT AG G
AG 3’ A GG 3’
TT
DNA
DNA
5’ Nucleotídeo Nucleotídeo
Resumo
A replicação do DNA é central para toda a Biologia. Esse pro-
cesso ocorre de forma semiconservativa. A DNA polimerase é a
principal enzima utilizada para a replicação e atua na direção 5’-3’,
Replicação do DNA 57
Referência Comentada
Referências Bibliográficas
ALBERTS, B. et al. Molecular Biology of the Cell. 4th. ed. New
York: Garland Pub. Inc., 2002.
GRIFFITHS, a. j. f. et al. Introdução à Genética. 8. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara-Koogan, ,2006.
LEWIN, B. Genes VII. Porto Alegre: Artmed, 2001.
PURVES, W. K. et al. Vida: a ciência da Biologia. Célula e
hereditariedade. 6. Ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. v. I
c a p í t u lo 3
c a p í t u lo 3
O Fluxo da Informação
O material genético deve controlar o desenvolvimento
do fenótipo do organismo. A compreensão desse processo
iniciou-se a partir de pressupostos teóricos, considerando-
-se a importância das proteínas para os sistemas biológi-
cos, a relação entre a sequência de nucleotídeos dos ácidos
nucleicos e a sequência de aminoácidos, e a universalida-
de do código genético.
Este capítulo tem como objetivo sistematizar o conhe-
cimento das etapas distintas do fluxo da informação: a
síntese de RNA a partir do DNA, denominada transcri-
ção, e a síntese da cadeia polipeptídica a partir do molde
de RNA, denominada tradução. Também vamos caracte-
rizar a maquinaria celular envolvida nessas atividades e
estabelecer as diferenças entre procariotos e eucariotos, e
considerar a repercussão destas diferenças.
60 Genética Molecular
O Fluxo da Informação 61
H C C H C C
N H H N
N C N C N C N C
CH CH
C C C C C C C C
N H N
H2 N N O N H O N H N
G U A
G G C C
G A
A
C ligação
de hidrogênio A C U
A A
U U
U A G
G C
A U
A G
U
U C
G G
G
G
U A
A A U G
A
A
C
C
A C G
A
G
FIM
FIM
Isômeros Ópticos
O átomo de carbono-α é assimétrico, o que permite a
formação de imagens especulares (ou estéreo) L e D.
L Cα Cα D
R R
H H
Alanina - L Alanina - D
CH3
H H CH3
C C
NH3 C NH3
C
O O
Oˉ Oˉ
Eucariotos
Procariotos
Tipo Localização Síntese Concentração
RNA pol I Nucléolo rRNA 50-70%
RNA pol II Nucleoplasma mRNA, snRNA(U) 20-40%
RNA polimerase
RNA pequenos,
RNA pol III Nucleoplasma tRNA, RNA 5S, 10%
snRNA U6
3.6.1 Início
O início da síntese de RNA é um processo complexo que envol-
ve ao menos três estágios: reconhecimento, separação das cadeias
e catálise pela formação das ligações fosfodiéster.
A sequência do DNA que sinaliza o início da transcrição é de-
nominada promotor. A RNA polimerase reconhece o promotor Promotores
São combinações de curtos
como uma estrutura do DNA de fita dupla. Embora possa ocorrer
elementos de sequência,
no DNA separação local das cadeias, não é suficiente para expor normalmente localizados
o número de bases necessárias para o sinal específico de início da na região imediatamente
a montante do gene,
síntese de RNA. Assim, a polimerase possivelmente acessa a se- frequentemente a 200 pb
quência promotora por meio das alças da estrutura do DNA. A do sítio de iniciação da
transcrição, e servem para
subunidade σ na E. coli tem uma função decisiva nessa etapa do iniciar a transcrição.
reconhecimento, interagindo covalentemente com o DNA sobre
aproximadamente 12 pares de bases (veja a Figura 3.7).
Após a polimerase encontrar a sequência correta, em virtude
da ligação não covalente das alças da estrutura do DNA entre as
bases e a enzima, as cadeias devem ser separadas para possibilitar
o pareamento dos precursores no molde. Esse processo envolve
a formação de ligações iônicas entre os aminoácidos básicos da
enzima e os grupos fosfato acídicos do DNA. Utilizando a energia
liberada pela formação das ligações iônicas, as cadeias são manti-
das separadas. Estima-se que aproximadamente 7 pares de bases,
próximos ao local da interação do molde com o precursor, são se-
parados pela polimerase.
Uma sequência de consenso é o protótipo da sequência de bases
que representa as bases encontradas mais frequentemente em cada
posição nas sequências individuais de diversos promotores.
Nos procariotos, são reconhecidas duas regiões localizadas, -10
e -35 nucleotídeos antes do início da transcrição (+1).
O Fluxo da Informação 73
(a) Transcrição
Promotor Sequência do gene codificante
5’ +1 3’
(b) Fortes promotores de E. Coli
TCTCAACGTAACACTTTACAGCGGCG••CGTCATTTGATATGATGC•GCCCCGCTTCCCGATAAGGG
GATCAAAAAAATACTTGTGCAAAAAA••TTGGGATCCCTATAATGCGCCTCCGTTGAGACGACAACG
ATCGATTTTTCCGCTTGTCTTCCTGA••GCCGACTCCCTATAATGCGCCTCCATCGACACGGCGGAT
CCTGAAATTCAGGGTTGACTCTGAAA••GAGGAAAGCGTAATATAC•GCCACCTCGCGACAGTGAGC
CTGCAATTTTTCTATTGCGGCCTGCT••GAGAACTCCCTATAATGCGCCTCCATCGACACGGCGGAT
TTTTAAATTTCCTCTTGTCAGGCCGG••AATAACTCCCTATAATGCGCCACCACTGACACGGAACAA
GCAAAAATAAATGCTTGACTCTGTAG••CGGGAAGGCGTATTATGC•ACACCCCGCGCCGCTGAGAA
TAACACCGTGCGTGTTGACTATTTTA•CCTCTGGCGGTGATAATGG••TTGCATGTACTAAGGAGGT
TATCTCTGGCGGTGTTGACATAAATA•CCACTGGCGGTGATACTGA••GCACATCAGCAGGACGCAC
GTGAAACAAAACGGTTGACAACATGA•AGTAAACACGGTACGATGT•ACCACATGAAACGACAGTGA
TATCAAAAAGAGTATTGACTTAAAGT•CTAACCTATAGGATACTTA•CAGCCATCGAGAGGGACACG
ACGAAAAACAGGTATTGACAACATGAAGTAACATGCAGTAAGATAC•AAATCGCTAGGTAACACTAG
GATACAAATCTCCGTTGTACTTTGTT••TCGCGCTTGGTATAATCG•CTGGGGGTCAAAGATGAGTG
3.6.2 Alongamento
O alongamento da cadeia ocorre no grupo hidroxil livre 3’. A
informação para a síntese é fornecida pelo DNA molde e o alonga-
mento é efetuado pela enzima RNA polimerase (veja a Figura 3.8).
A relação espacial entre a RNA polimerase e o DNA molde não
é conhecida em detalhes. A holoenzima, quando ligada ao DNA,
pode proteger da digestão com nucleases um segmento de aproxi-
madamente 65 pares de bases.
O mecanismo de ação de diversos antibióticos se dá por meio
do bloqueio na síntese de RNA. Alguns, como a actinomicina-D,
Crescimento na
extremidade
5´ 3’ do RNA
RNAm U A G U A A U C G U U U C G A U U C G GA Uma cadeia do
3´ RNA polimerase DNA sendo transcrita
U
U A
AT
UA
A
GC
GC
TA
TA
AA
C
AT
CG
TC
AT
CG
G C
CT
TA
AT
CG
GO
AG
AT
AG
CG
TA
GC
TA
AT
AA
AT
GC
CA
AT
AT
GC
AT
GC
TA
CG
TA
CG
UU
UA
CG
A
CT
C
5´
A
G
G
TT TC
TC
GA A GA Cadeia
TTC
GGATTA GC GTT molde
GCGCTAGCTTA Cadeias
complementares
Cadeia
não molde
3.6.3 Término
Para prosseguir com a síntese de RNA, a polimerase principal e
a cadeia nascente de RNA devem manter contato satisfatório com
a sequência de DNA. Quando um segmento de nucleotídeos do
DNA com pouca afinidade (sequência de terminação) é encon-
trado, há uma tendência para a dissociação da polimerase e do
RNA e o término da transcrição. Dois elementos têm uma função
importante nesse processo. O primeiro é a estrutura secundária
da cadeia nascente de RNA. A maioria das sequências de término
tem uma repetição invertida que permite ao produto a formação
de uma estrutura em gancho. Isto provavelmente atua como um
freio para a polimerase, causando uma diminuição ou pausa no
seu progresso ao longo do DNA molde.
Outro elemento presente nas células bacterianas é a proteína
rho (ρ), sua função é possibilitar o término quando a sequência de
terminação não é suficiente. Assim, a terminação rho-dependente
é verificada nos terminadores fracos (veja a Figura 3.9). A maneira
pela qual a proteína rho interage com a RNA polimerase central
ainda não foi elucidada.
O processo de transcrição é assim um evento conservativo
Figura 3.9 - Término da que não produz modificações na molécula de DNA que serviu
transcrição de molde, sendo a molécula de RNA re-
UCC sultante complementar à molécula de
U G DNA utilizada como molde para a sua
Alça em
síntese. A cadeia molde tem orientação
{
G C gancho
A U 3’-5’, enquanto a cadeia complementar
C G
Pareamento das do DNA é denominada cadeia não mol-
C G
bases complementares
G C de e tem orientação 5’-3’. Além disso, a
C G cadeia não molde possui a mesma se-
C G quência de nucleotídeos da cadeia de
5´ UAAUCCCACAG CAUUUU 3´
Transcrito de RNA RNA (substituindo-se T por U), sendo
76 Genética Molecular
RNA- 5’→3’
DNA- 3’→5’ FITA ANTI-SENSE (fita molde)
DNA- 5’→3’ FITA SENSE (possui sequência similar ao RNA)
mRNA
5´ C U G CC AU U G U C AG AC AU G UAUACCCCG UACG U C U U CCCG AG CG A A A ACG AU C U G CG C U G C 3´
Vale lembrar que apenas uma das fitas serviu de molde para a
síntese de RNA. A fita complementar também pode conter informa-
ções, mas o conteúdo dessa informação é diferente, o que aumenta
o potencial de armazenamento da informação pelo DNA. Os vírus
exploram bastante essa potencialidade (veja a Figura 3.11).
Desta forma, a unidade do DNA funcional ou UNIDADE DE
TRANSCRIÇÃO é definida como um segmento de DNA (gene ou
genes) transcrito em uma única molécula de RNA pela RNA poli-
merase. Essa unidade é mais ampla que a sequência transcrita, os
promotores fazem parte dessa unidade. Outros elementos genô-
micos também podem influenciar a freqüência com que cada uni-
dade de transcrição é ativada, como os potenciadores, os operado-
res e os silenciadores (veja a Figura 3.12).
C G
5´ CGGAUGCA 3´
C
T 3´
A
G C C T A C G
T
5´
RNA Cadeia molde RNA Cadeia não molde RNA
polimerase do gene 1 do gene 2 polimerase
3´
B S
P 5´ Acréscimo na extremidade 3´da cadeia
U 3´ S P S P S P S P S P S P S P 5´
A C G G A U G
A T G C C T A C
Cadeia
molde
de DNA 5´ P S P S P S P S P S P S P S P S 3´
Figura 3.11- Ao longo da molécula de DNA os genes podem apresentar orientações opostas, a informação das duas fitas pode ser
transcrita separadamente.
DNA
Intensificador Promotor
Fatores gerais de
Ativador transcrição RNA polimerase
Mediador
Figura 3.12 – Outros
fatores que influenciam
a transcrição
78 Genética Molecular
Big Bang
Cadeia não
molde RNA polimerase
5’
A
3’ 3’
5’ 5’
Cadeia DNA
Transcrito RNA molde
B 5’
3’ 3’
m 7 G-P-P-P
5’
Guaniltransferase
5’
C 3’
3’
m 7 G-P-P-P
5’
AA
AA
UA
Endonuclease
D
m 7 G-P-P-P
AA
AA
UA
Sítio de
clivagem
E
m 7 G-P-P-P
AA
AA
UA
AAAAAAAAAAAA
UA AAAAAAAAAAAAAAAAAA
A) Processamento do RNA
O processamento do RNA é um dos assuntos mais excitantes
da Biologia, uma vez que a detecção desse fenômeno foi total-
mente inesperada.
Na realidade, muito pouco a respeito do processamento do
mRNA era conhecido há poucos anos.
Enquanto nos procariotos e nos bacteriófagos de RNA o proces-
samento do RNA transcrito é relativamente simples, o mesmo não
ocorre nos eucariotos.
Os transcritos primários nos núcleos de eucariotos destinados a
tornarem-se mRNA maduros são maiores e têm uma grande variabi-
lidade de tamanho. Esse RNA, inicialmente denominado RNA hete-
rogêneo nuclear, atormentou os biólogos por anos, desde que possui
uma massa aproximadamente 10 vezes maior que o RNA maduro.
O processamento resulta na remoção de sequências das extre-
Nos organismos eucariotos,
uma porção do DNA com a
midades e de sequências internas do RNA. Vamos analisar um
mensagem para a síntese de caso relativamente simples − o RNA mensageiro da cadeia β da
uma cadeia polipeptídica é, globina de camundongo, proteína que é parte da hemoglobina. O
geralmente, interrompida por
certas porções que não têm mRNA que codifica a cadeia β foi isolado dos reticulócitos como
função codificante e, portanto, um RNA 9S e a seguir hibridado com o DNA genômico, quando
não aparecem representadas
nas proteínas. Tais porções foram observadas, por meio de microscopia eletrônica, alças de
sem sentido são referidas cadeias simples ao lado de estruturas em fita dupla (veja a Figura
como íntrons, enquanto as
regiões com informação
3.15). Essas alças são devido às sequências intercaladas (íntrons)
codificada são os éxons. do DNA que não estão presentes no mRNA maduro.
Uma dessas alças com 646 pares de bases está localizada entre
os códons para os aminoácidos 30 e 31 do mRNA. Uma outra,
com 646 pares de bases, está localizada entre os códons 104 e 105
(veja a Figura 3.16). Esses detalhes foram descobertos pela com-
paração da sequência do DNA da â globina com a sequência de
aminoácidos da proteína.
84 Genética Molecular
Hibrido DNA-RNA
Cadeia simples
de DNA não pareada
Cadeia
simples de
DNA não
pareada
Cadeia simples de
DNA não pareada Híbrido
DNA-RNA Figura 3.15 – Microfotografia
eletrônica do híbrido DNA/RNA
L 1 2 3 4 5 6 7
A B C D E F
L 1 2 3 4 5 6 7
A B C D E F
L 1 2 3 4 5 6 7
A B C D E F
Processamento L1 23 4 5 67
intermediário
E F
5’ AG G 3’
Transcrito 1a 2a 2b 1b 3 4 5 6a 6b 7 8 9a 9b 9c 9d
primário
pré-RNAm
A A A A A
Músculo
estriado
Músculo
liso
Cérebro
TMBr-1
Cérebro
TMBr-2
Cérebro
TMBr-3
Fibroblasto
TM-2
Fibroblasto
TM-3
Fibroblasto
TM-5a
Fibroblasto
TM-5b
Ribossomos
rRNA Proteínas Subunidades
acoplados
L1 L2 L3
5S
PROCARIOTICOS (BACTÉRIAS)
23S
23S 5S
50S
(2900 bases) (120 bases)
S1 S2 S3
16S 70S
+
16S 30S
(1540 bases) (Total 21)
5.8S L1 L2 L3
5,8S 5S
(160 bases)
EUCARIÓTICOS (MAMÍFEROS)
23S 5S 28S
(2900 bases) (120 bases) (Total 50) 60S
S1 S2 S3
+ 80S
18S
18S 40S
(1900 bases) (Total 33)
45S RNA
5’ 3’
Componente fibrilar
denso (dfc)
Componente
fibrilar (fc)
Componente
granular (gc)
Nucléolo
3’
aminoácidos conectados, assim, o tRNA
para tirosina pode se conectar apenas à ti-
5’ rosina. A estrutura secundária do tRNA é
Alça aceptora crítica para a compreensão de sua função
(veja a Figura 3.22).
Em 1965, R. Holley e colaboradores obti-
U
C veram a sequência do tRNA da alanina em
G
fungos. Foi a primeira sequência completa
G
G A
T
Ψ
C
de um ácido nucleico estabelecida.
Alça variável Já havia sido verificado que o tRNA pos-
sui bases não usuais. Essas bases diferem
das tradicionais A, C, G e U, possuindo um
Alça do anticódon ou mais grupos metil substituídos em di-
versas posições na estrutura em anel (veja a
5’ 3’
Figura 3.23). Existem aproximadamente 50
Anticódon dessas bases bizarras.
Figura 3.22 - Estrutura secundária do tRNA No artigo original, Holley e colaborado-
res determinaram diversas possibilidades de pareamento intramo-
lecular, concluindo que uma estrutura em folha de trevo poderia
maximizar essas possibilidades. As análises da estrutura primária
de outras moléculas de tRNA citoplasmáticos confirmaram essa
CH3
NH2 NH2 CH2 CH C
H3C CH3
+ N N
N N
N N N N
Ribose Ribose
O
NH2 H O
N H
H3C + N H
N N H
N N H
(CH3)2N
O N O N H
Ribose
Ribose Ribose
N , N Dimetilguanosina (m₂²G)
2 2
3.8 Tradução
A tradução é um dos processos mais conservados evolutiva-
mente e um dos eventos de maior custo energético para a célula. O
conteúdo protéico da célula é extremamente dinâmico, e as prote-
ínas são continuamente sintetizadas e degradadas.
Nesse processo a informação contida na sequência de nucleotí-
deos do mRNA é traduzida numa sequência de aminoácidos.
A maquinaria celular para esse processo inclui o conjunto de
tRNA, os ribossomos, e o mRNA; também são necessários amino-
ácidos e diversas proteínas específicas.
Enquanto os tRNA e os ribossomos são reciclados pela célu-
la, podendo ser utilizados para a síntese de diferentes proteínas, o
mRNA é específico para cada proteína, sendo continuamente pro-
duzido e degradado. O mesmo mRNA pode ser traduzido diversas
vezes antes de ser degradado.
A tradução tem os mesmos princípios gerais em eucariotos e pro-
cariotos, no entanto, existem diferenças importantes. Nos procario-
tos não existe separação geográfica entre transcrição e tradução.
O Fluxo da Informação 97
3.8.2 Iniciação
A iniciação é a primeira etapa da tradução, representada pela
ligação de uma molécula de RNA mensageiro à subunidade pe-
quena do ribossomo. Essa ligação é mediada por um componente
protéico denominado fator de iniciação 3 ou IF3. Há uma ligação
transitória entre a subunidade 16S do RNA ribossômico e o RNA
98 Genética Molecular
H O
R C C O + ATP
NH3+
Aminoácido 1- O aminoácido reage com ATP
formando aminoacil-adenilato.
A hidrólise subsequente do PPi
PP i torna esta etapa irreversível in vitro.
H O O
R C C O P O Ribose Adenina
NH3+ O-
Aminoacil-adenilato
RNAt
AMP
2- O aminoácido “ativado” pela
H O adenilação, reage com o RNAt
R C C O RNAt formando o aminoacil RNAt e AMP.
NH3+
Aminoacil RNAt
O P O CH2 O Adenina
O- H H RNAt
H H
3’ 2’
O OH
C O
H C R Aminoácido
NH3+
Aminoacil RNAt
mRNA
. . .A A A A C C C U A U U U A A U G G C A A C A . . .
AG G A G
. . . . .
U C C U C
3’ A U C A C U A G . . .
rRNA
Figura 3.26 - Pareamento entre o mRNA e rRNA
O Fluxo da Informação 99
30S
GTP
IF2
mRNA
tRNAf
Met RNAm e fmet-RNAt em
GTP complexo com IF2-GTP ligados a
IF2 fMET subunidade pequena (30S) do
ribossomo.
5’ mRNA
AUG
Sítio P Sítio A
A P E
(a) (b)
Sítio do
Sítio de 30s 50s fator de
decodificação ligação
RNAm
Centro de
transferência
(a’) do peptidil (b’)
70s
E
Canal
(c’) de saída
3.8.3 Alongamento
Após a montagem do ribossomo, inicia-se a etapa do alonga-
mento. Os tRNA ligados aos aminoácidos, com o auxílio do fator
de alongamento EF-Tu ativado pelo GTP, são transportados ao
ribossomo, sendo posicionados no sítio A pela complementari-
dade códon/anticódon. Neste momento o fator de alongamento
é liberado, sendo regenerado com outra molécula de GTP (veja a
Figura 3.29). Neste momento, ocorre a ligação peptídica entre os
dois aminoácidos (veja a Figura 3.30). A enzima que catalisa essa
reação, denominada peptidil transferase é possivelmente uma
combinação de diversas proteínas ribossômicas.
Inicia-se assim a cadeia polipeptídica, após a ligação dos ami-
noácidos, ocorre a movimentação do ribossomo no sentido 5’→3’.
Essa movimentação é conduzida pelo fator de alongamento EF-G
(ativado pelo GTP), liberando o tRNA (cada ciclo requer a hidró-
lise de um GTP). Nessa movimentação ocorre a transferência do
peptidil-tRNA para o sítio P e a translocação do ribossomo no
mRNA em direção ao códon seguinte (veja a Figura 3.31).
O alongamento evolui numa velocidade de cerca de 20aa/se-
gundo em bactérias (a 37°C), enquanto numa célula humana o
processo é mais lento, cerca de 2aa/seg.
3.8.4 Término
O alongamento prossegue até que ocorra o posicionamento do
códon de terminação (UAA, UAG ou UGA) no sítio A. Não exis-
tem tRNA complementares a esses códons, que são reconhecidos
pelos fatores de liberação. Os fatores de liberação entram no sítio
A, alterando a atividade da peptidil transferase (adição de H2O
em vez de aminoácido), produzindo a clivagem do peptídeo do
último tRNA (veja a Figura 3.32). São conhecidos dois fatores de
liberação, RF1, que reconhece os códons UAA e UAG, e RF2, que
reconhece os códons UAA e UGA.
O ultimo evento é a dissociação do ribossomo (consumo de
uma molécula de GTP). As subunidades do ribossomo continuam
íntegras, ficando disponíveis para nova tradução, completando-se
assim o ciclo ribossômico.
102 Genética Molecular
Aminoacil-RNAt correto
GTP
GDP
EF-Tu
GTP EF-Tu
EF-Tu
Ribossomo pronto
GTP GTP para a transpeptidação
EF-Tu EF-Tu
Aminoacil-RNAt
incorreto
GTP
EF-Tu
Ribmossomo com
RNAt mal pareado
H R H O R
H O H O H O
N C C + N C C N C C N C C
H R OH H OH H OH
H R H H
SH
terminação
H O H H terminação
carboxil (COOH)
C C N C C N C COO
Proteínas são longos polímeros de H O CH
aminoácidos ligados por ligações peptídicas,
e são sempre anotados com a extremidade
C
HN
N na esquerda. A sequência deste tripeptídeo +
Estas duas ligações simples permitem rotação, assim
é histidina- cisteína- valina HC NH as longas cadeias de aminoácidos são muito flexíveis.
NH
R CH
O C
NH NH
R CH R CH
O C O C
2
NH :NH NH
R CH R CH R CH
O C O C O C
O O OH O
tRNA tRNA tRNA tRNA
GTP
GDP Sítio P
EF-Tu Sítio A
EF-Tu
entrega do mRNA
aminoacil RNAt
GDP
transpeptidação
EF - G - GDP
GTP translocação
GTP
EF - G - GTP
mRNA
Polipeptídeo
2 RF1/RF2 causa a entrada de uma
molécula de água e a liberação
da cadeia peptídica.
GTP
3
RF3-GTP
A hidrólise do GTP pelo RF3 permite a
dissociação do fator de liberação.
GDP Os passos adicionais são necessários para
RF3-GDP preparar o ribossomo para outro
turno de tradução.
Cadeia
polipeptídica 60S
completa
3’
Códon de
40S
terminação
UAG (A)
100 nm
5’ AUG
Códon de
início
Cadeia RNAm
polipeptídica
nascente
NH2
PROCARIOTOS EUCARIOTOS
não há separação física entre transcrição e tradução Transcrição ocorre no núcleo e tradução no citoplasma
Início da tradução antes do termino da transcrição moléculas mais estáveis (cauda poli A)
mRNA policistrônico - pode conter até 20 proteínas células especializadas - RNA específico abundante
vida média de 0,7 minutos vida média de 1-24h
moléculas instáveis
RNAm procariótico
5’ 3’
RNAm eucariótico
5’ 5’ 3’
G AAAAA
AUG
5’ cap
uma proteína
NH2+
NH2+ H NH C HN2
H2N C HN H
OH H
H HO
H O
OH H
H O
CHO H
H3C H
H OH O
O
HO CH2OH
H H3CNH
H H
OH H
Estreptomicina
OH CH2OH O
O2N C C NH C CHCl2
H H
Cloranfenicol
Resumo
O fluxo da informação compreende duas etapas distintas, a
transcrição, em que as moléculas de DNA são sintetizadas a partir
do molde de DNA, e a tradução, em que ocorre o alinhamento dos
aminoácidos a partir da sequência de nucleotídeos do RNA. En-
quanto nos procariotos esses processos ocorrem simultaneamen-
te, no mesmo ambiente, nos eucariotos há uma separação espacial
e temporal desses processos.
A transcrição é conduzida pela enzima RNA polimerase, utili-
zando como molde uma das fitas do DNA e ribonucleotídeos tri-
fosfatados e ocorrendo no sentido 5’-3’. O início da transcrição
110 Genética Molecular
Referência Comentada
Referências Bibliográficas
ALBERTS, B. et al. Molecular Biology of the Cell. 4th. ed. New
York: Garland Pub. Inc., 2002.
GRIFFITHS, a. j. f. et al. Introdução à Genética. 8. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara-Koogan, 2006.
LEWIN, B. Genes VII. Porto Alegre: Artmed, 2001.
PURVES, W. K. et al. Vida: a ciência da Biologia. Célula e
hereditariedade. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. v. I.
STRACHAN, T.; READ, A.P. Genética molecular humana. 2. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2002.
WATSON, J. D. et al. Biologia molecular do gene. 5. ed. Porto
Alegre: Artmed, 2006.
c a p í t u lo 4
c a p í t u lo 4
Variabilidade Genética
Neste capítulo vamos abordar a plasticidade do genoma
e os processos que contribuem para o aumento da variabili-
dade genética e diversidade, buscando compreender os efei-
tos biológicos das alterações na sequência de DNA. Também
iremos esclarecer o efeito dos agentes mutagênicos no DNA e
reconhecer a importância dos mecanismos celulares de reco-
nhecimento e reparo das lesões do DNA.
Para finalizar, vamos abordar a contribuição da recombi-
nação e da transposição para a diversidade genética.
Variabilidade genética 117
4.1 Mutação
O termo “mutação” é largamente utilizado em Biologia, com-
preendendo as alterações no material genético e o processo que
causa essas alterações e designando ainda as alterações na sequên-
cia de nucleotídeos.
As mutações podem ocorrer espontaneamente, decorrentes de
erros no processo de replicação do DNA ou decorrentes de lesões
nas moléculas que constituem o DNA, induzidas por substâncias
produzidas pelo metabolismo celular. Essas lesões podem ocorrer
também por meio da exposição das células a agentes que lesam o
DNA, os quais são denominados agentes mutagênicos.
Uma gama de agentes mutagênicos já foi iden- Agentes mutagênicos
tificada, o estilo de vida moderno acarreta maior • físicos: radiação ionizante e raios UVC, capazes
exposição a esses agentes. de destruir as ligações químicas ente os nucleotí-
deos, e UVB, cujo espectro é absorvido pelo DNA.
As mutações apresentam uma gama de efeitos
Os danos desses agentes são grandemente am-
biológicos, sendo uma fonte importante de varia- plificados em presença de água e oxigênio;
bilidade genética, produzindo o substrato para a • químicos: inúmeras substâncias ditas canceríge-
evolução. A variabilidade genética possibilita a nas, que atuam danificando ligações químicas ou
adaptação a novos ambientes. mesmo substituindo nucleotídeos normais por
moléculas análogas;
Enquanto para a espécie a variabilidade é fun-
• biológicos: ação de vírus e bactérias, que inje-
damental, para o organismo pode ser deletéria ou
tam parte de seu DNA na célula hospedeira, oca-
adaptativa, produzindo fenótipos diferentes do sionalmente, integrando-a a cadeia de DNA do
original. Os indivíduos com esses fenótipos são hospedeiro. Também podem ocorrer mutações
denominados mutantes. por falhas de ordem genética.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
H C H C H C H C H C H C
H C H C H C H C H C H C
H C H C H C H C
H C H C H C H C H C H C H C H C
Adição
Adição Inversão Inversão Inversão
A
Seqüência
normal
Metionina Arginina Prolina Prolina Leucina
B
Mutação
silenciosa
Metionina Arginina Prolina Prolina Leucina
C
Mutação de
sentido trocado
conservativa Metionina Arginina Prolina Prolina Leucina
D
Mutação de
sentido trocado
não conservativa Metionina Arginina Prolina Prolina Leucina
E
Mutação sem
sentido
Metionina Arginina Prolina
F
Mutação da
janela de leitura
Metionina Arginina Prolina Treonina Isoleucina
Figura 4.3 - Classificação das mutações de nucleotídeos individuais pelo efeito na tradução
Variabilidade genética 123
AATG
1 2 3 4 5 6 7 8
1 2 3 4 5 6 7
Figura 4.6 - Microssatélites ou pequenas repetições em tandem (STR)
cadeia
iniciando
cadeia
Forma tautomérica rara da C (C*)
molde
que se pareia com A sendo
incorporada pela DNA polimerase
CH3 CH3
3’ 5’
5’ 3’
CH3 CH3
N H3C
A
O
N N
N
N N O
N
O N
N
Forma rara O N
de citosina N N
imino (C*) Forma rara N N N
Adenina de timina
enol (T*) Guanina
B N
CH3
N N O
N
N
O N N O
N
Citosina N N
N O N
Forma rara Timina N
N N
de adenina
imino (A*) Forma rara
H de guanina
enol (G*)
Forma tautomérica
rara enol da guanina Selvagem
Replicação Mutante
do DNA Replicação
do DNA
Selvagem
DNA Parental
A B
Progênie da Selvagem
primeira geração
Progênie da
C segunda geração
D
Figura 4.11 - Efeito da incorporação de base tautomérica
H H
P N
O N
C
H H O N O
P N
O N
C
O N O O
P O
N H
O N
H H H
O C
P O
O
O + N N N
H H
O N H
N Guanina
H H
C
O N N N O
H P HC O
Guanina 3 H
O N
O C N O
O
P HC O
3 H
O N
C O O
O N
O
N C P
O=C N O H
O N
C C
CH3
O P N O
N C H
O=C N P CH3 OH CH3
C C
CH3 P N
O N
O
5’ T (6-4) T
Anel
Ciclobutano P
O O O O
O O O O
N N N N
Esqueleto do DNA
Resíduos de timina Dímero de timina
Variabilidade genética 131
O O
C C
C 4
4
6 N HN 3 5C
HN 3 5C N1 5C
7
8 CH
C 2 6
CH 2 4 C2 6
C
1 HC C 9 1
H
O 3 N O N
N N
H H
Timina Adenina dR
(no DNA & alguns RNAs) (no DNA & RNA) Timidina glicol
O O
C C
4 6 N C
N3 5 CH HN 1 6 N
5C
7
HN 1 5C
7
8 CH
8 C
C2 6
CH C 2 4
C 9 2 4
1 3 N C C 9
O N N
3 N
H H N
Citosina Guanina dR
(no DNA & RNA) (no DNA & RNA)
8-Oxo-7-hidrodeoxiguanosina
(8-oxodG)
Lesão oxidativa
O O
C C
4 4
HN 3 5C HN 3 5C
OH
OH
C2 6
C C2 6
C
O
1
O
1 H
N N
Figura 4.14A - Produtos de dano de DNA formados após o ataque de radicais de oxigênio.
dR = desoxirribose
= sítios potenciais de modificação de bases
132 Genética Molecular
Alquilação
H3C CH 2
N O H N N O O CH3
N EMS N
N H N N H N GC AT
N N O N N
N H O H3C CH 2 O S CH3 N H O
H O H
Guanina Citosina 06-Etilguanina Timina
Figura 4.14B - Alquilação causada pelo etil-metano-sulfonato (EMS)
H CH2CH2Cl
N
CH2
CH2
H CH2
H3C CH3 N
H2N N NH2 N N N OCH3
H3C CH3
Cl N
Proflavina Acridina laranja ICR-191
H2N NH2
Bases
+ - nitrogenadas
N Br
CH2CH3
Molécula
intercalada
Brometo de etídeo
EMS UV AFB1
(a) GC AT GC AT GC AT
39 38
30 30 30 27
20 20 20
10 10 10
0 0 0
(b) GC TA GC TA GC TA
20 20 20
10 10 10
0 0 0
(c) AT TA AT TA AT TA
20 20 20
10 10 10
0 0 0
(d) AT CG AT CG AT CG
20 20 20
10 10 10
0 0 0
(e) GC CG GC CG GC CG
20 20 20
10 10 10
Figura 4.15 - Tipo e posição das mutações induzidas por diferentes agentes mutagênicos no mesmo gene.
134 Genética Molecular
N N N
N N N
O²- Alquiltimina O²- Alquilcitosina 5- Fluorouracil
(7) (8) (9)
N N N N N N N N
N N N N N
8- Oxoguanina 2,5- Amino-5- 4,6- Diamino-5- 2,6- Diamino-4 – hidroxi- 5-
(10) formamidopirimidina formamidopirimidina formamidopirimidina
(11) (12) (13)
N N N N N
H
N N H N H N N
5- Hidroxicitosina 5,6- Dihidrotimina 5- Hidroxi- 5,6- Timina glicol Uracil glicol
(14) (15) dihidrotimina (17) (18)
(16)
N N N N
N N N N
Ácido Isodialurico Aloxano R=H: 5,6- dihidrouracil (21) R=OH: 5- hidroxiuracil (23)
(19) (20) R=OH: 5-hidroxi-5,6- R=CHO: 5- formiluracil (24)
dihidrouracil (22) R=CH2OH: 5- hidroximetiluracil (25
O
CH3 O
N N N
OH COOH
O N O N O N OH
uréia metiltartroniluréia 5- hidroxihidantoina
(26) (27) (28)
N N O
N N N N N N N N
N N N N N
N N N
Uracil Hipoxantina 1,N6- Etanoadenina 3,N4- Etanocitosina (32) Dimero Ciclobutano-
(29) (30) (31) pirimidina (PD) (33)
Variabilidade genética 135
Tabela 4.1 (cont.) - Principais lesões no DNA e enzimas associadas ao seu reparo
Substrato relatado Atividade
Enzimas Fonte/gene
no DNA de β liase
Viral 29 Não
Bacteriana (UNG) 9, 29, 13 Não
Uracil DNA
glicosilase S.cerevisiae (UNG1) 29 Não
UDGs
Plantas 29 Não
Humana (ung) 19, 20, 23 Não
Tabela 4.1 (cont.) - Principais lesões no DNA e enzimas associadas ao seu reparo
Substrato relatado Atividade
Enzimas Fonte/gene
no DNA de β liase
D. melanogaster S3 10 Sim
T4 12 Sim
DNA glicosilases
dímero de M. luteus (pdg) 33 Sim
pirimidina
N. mucosa 33 Sim
UmuD
TC
UmuD
TC
UmuC
TC
TC
Figura 4.16 - Sistema SOS. A DNA polimerase III pára em uma lesão, gerando regiões
unifilamentares que atraem as proteínas Ssb e RecA, que formam filamentos. A presença dos
filamentos RecA ajudam a ativar a célula para a produção de UmuD, que é clivada por RecA
para produzir UmuD’ e UmuC. A UmuC é recrutada para formar um complexo com UmuD
permitindo que a polimerização pela DNA polimerase continue além da lesão bloqueadora
Variabilidade genética 137
Timina
Esqueleto do DNA
Fotoliase Fotodímero
+
luz branca
luz UV
Clivagem
Clivagem
T=T UvrB
UvrC
3´ 5´
5´ Helicase II 3´
T=T
UvrC
UvrB
3´ 5´
5´ DNA Polimerase I 3´
dNTP
DNA ligase
UvrB
T T
3´ 5´
5´ 3´
CSA
ATP TFIIH
ADP RNA polimerase, RNA, CSA, CSB
XPD
XPB
XPA
RPA
XPC-HR23B XPG
XPD
XPG
XPB XPA
RPA
XPC-HR23B
HR23B
XPC
TFIIH
XPB XPD
ATP
ADP
XPD
XPB
XPA
RPA
XPC-HR23B XPG
XPD
XPG
XPB XPA
RPA
Figura 4.22 – Reparo por excisão
de base
A
DNA
glicosilase
+
B
AP
endonucleases
C
DNA
fotodiesterases
+
DNA
polimerase I D
DNA
ligase E
Variabilidade genética 141
Cromossomo paterno A
3’ 5’
5’ 3’
3’ 5’
5’ 3’
Cromossomo materno
Síntese de DNA
Reparo Reparo
Junção da
Resolução por corte da cadeia de múltiplas de múltiplas
molécula
etapas recombinações
+
+ OU +
Reparo de quebra de cadeia
dupla do cromossomo Quebra de cadeia dupla do Crossing-over meiótico
paterno A (junção de cromossomo A paterno (junção entre cromossomos
extremidades homólogas) de extremidades homólogas) paternos e maternos
4.3 Recombinação
A recombinação é um fenômeno celular normal. Entre molécu-
las que apresentam homologia, a recombinação homóloga ocor-
re durante a meiose entre cromossomos homólogos.
Também é reconhecida a recombinação sítio específica que
ocorre entre fitas de DNA que tenham alguma região de homolo-
gia e está associada à integração de genomas virais no hospedeiro
e na transposição de segmentos de DNA no genoma.
Esses eventos contribuem para o aumento da variabilidade ge-
nética e desempenham um papel fundamental na evolução.
5’ 3’ 5’ 3’
5’ 3’ 5’ 3’
3’ 5’ 3’ 5’
5’ 3’ 5’ 3’
Direção da incorporação
das proteínas RecA
5’ 3’ 5’ 3’
(A) (B)
0,5 µm
Modelo proposto Visualização ao microscópio eletrônico
4.6 Transposição
Os experimentos realizados com milho na década de 1930 leva-
ram Barbara McClintock a propor que deveria haver genes salta-
dores, explicação que seria plausível para o desvio das proporções
mendelianas verificadas em alguns cruzamentos (veja a Figura 4.27).
Atualmente, constatou-se não apenas a pertinência dessa supo-
sição, mas também a sua abrangência.
Esse processo permite que uma sequência de DNA seja inserida
em outra, sem a dependência de homologia entre elas, ocorre que-
bra e reunião das fitas de DNA envolvidas.
Os elementos de transposição ou transposons são sequências
discretas do genoma que têm capacidade de mobilização, a qual
pode se efetivar através de DNA ou de RNA.
As regiões mobilizadas são denominadas sequências de inser-
ção (IS), são constituintes normais dos cromossomos. São delimi-
tadas por repetições terminais invertidas que contêm uma região
codificante para a enzima transposase relacionada aos eventos
bioquímicos da transposição.
A sequência é transposta para um sítio-alvo no DNA hospedei-
ro, também caracterizado por uma sequência de DNA específica
Aparecimento de
146
fenótipo recessivo
Par de cromossomos 9
homólogos na meiose
(no milho os centromeros c sh bz wx Ds+
se fundem na meiose)
Ds
Ds+
Genética Molecular
C
Deleção e perda
Sh O tecido resultante é c (sem cor)
Wx sh (enrugado)
Bz bz (bronze)
wx (oleoso)
Ds locus
A B
1
~ 2
C Ds/ c Ds+ ; Ac+/Ac+ Coloração homogênea
Ds entrou em C,
convertendo C em C μ
Figura4.27-Genes saltadores
Variabilidade genética 147
IS3
gene da transposase
ampR
Tn3
gene da transposase
tetR
Tn10
2 kb
Tn5 Tn3
0
IS1
complexo ativo
seqüências curtas com a transposase
invertidas cromossomo A
doador quebrado
cromossomo A
transposon no
doador rejuntado
cromossomo A doador
transposase
dimérica tranposon
integrado
5´ 3´ 5´ 3´
3´ 5´ 3´ 5´
cromossomo B alvo repetições diretas da seqüência
curta do DNA no alvo do cromossomo B
Transposon de DNA
no cromossomo
DNA cromossômico
Formação de
complexo proteico
Proteína
transposase
Dissociação
da proteína
Ty 912 (levedura)
gag int ?env pol
copia (Drosophila)
gag int ?env pol LTR Elemento-específico
Retrovírus - como
retrotransposons
Movem-se através de Copia (Drosófila)
Codificam transcriptase
um RNA intermediário Ty1 (Fungo)
reversa e se assemelham
produzido por um THE - 1(Humano)
a retrovírus
Longas repetições terminais (LTRs) promotor LTR Bs1 (milho)
em sequencias repetidas nas
extremidades
Retrotransposons não-retrovirais
AAAA Movem-se através de um Elemento F
TTTT
Codificam transcriptase RNA intermediário que (Drosófila)
Poly A em 3 ‘ encerra o transcrito de reversa geralmente é produzido L1 (Humano)
RNA; a terminação 5’ é geralmente por um promotor próximo Cin4 (milho)
truncada
Esses elementos apresentam sequencias de 1.000 a 12.000 pares de nucleotídeos; cada família contém muitos
membros, com poucos deles exemplificados no quadro. Ainda com relação a transposons, existem determinados vírus
capazes de se mover através de cromossomos celulares, sendo relatados nas duas primeiras classes de transposons
Resumo
A plasticidade da molécula de DNA possibilita a variabilidade gené-
tica e a diversidade, que são fundamentais para o processo evolutivo.
O termo “mutação” refere-se tanto ao processo que gera altera-
ções na sequência do DNA, como as suas consequências fenotípicas.
As alterações podem envolver conjuntos cromossômicos (eu-
ploidias), cromossomos individuais (aneuploidias) ou alterações
nas sequências de nucleotídeos do DNA. As alterações cromossô-
micas têm impacto no funcionamento gênico, assim como altera-
ções nas sequências reguladoras.
As alterações nas sequências codificantes podem acarretar mu-
danças na sequência de aminoácidos dos peptídeos, enquanto as
alterações nas sequências sem atividade genética contribuem para
a diversidade genética. É utilizada uma nomenclatura específica
para designar as mutações.
Quando as mutações ocorrem em células germinativas, têm
repercussão nas gerações subsequentes. A diversidade gera-
da por essas alterações é fonte de variabilidade genética, sendo
indispensável para a evolução dos seres vivos, possibilitando a
adaptação a novos ambientes.
As alterações nas células somáticas se limitam ao indivíduo, es-
tando associadas ao câncer e a doenças degenerativas.
As mutações podem ser decorrentes de processos celulares nor-
mais, como uma imprecisão na replicação, ou podem ser induzidas
por uma gama de agentes físicos, químicos e biológicos. A exposição a
esses agentes pode acarretar um aumento na frequência de mutações.
A maior parte dos agentes mutagênicos produz lesões caracte-
rísticas na molécula de DNA. Essas lesões são inadmissíveis, pois
comprometem o funcionamento do DNA; as células dispõem de
um elaborado aparato para a detecção e a correção dessas lesões.
Os principais processos de reparo do DNA são a fotorreativação, o
reparo por excisão de bases, o reparo por excisão de nucleotídeos
e o reparo por recombinação. Esses processos ocorrem pela ação
orquestrada de diversas proteínas que são conservadas evolutiva-
mente. Algumas condições hereditárias raras envolvem a inativação
154 Genética Molecular
Referência Comentada
Referências Bibliográficas
ALBERTS, B. et al. Molecular Biology of the Cell. 4th. ed. New
York: Garland Pub. Inc., 2002.
GRIFFITHS, A. J. F. et al. Introdução à Genética. 8. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara-Koogan, 2006.
LEWIN, B. Genes VII. Porto Alegre: Editora Artmed, 2001.
PURVES, W. K. et al. Vida: a ciência da Biologia. Célula e
hereditariedade. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. v. I.
STRACHAN,T.; READ, A. P. Genética molecular humana. 2. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2002.
Este livro busca resumir os principais conteúdos desta vasta
disciplina que é a Genética Molecular. Contempla a carac-
terização do DNA como material hereditário, a elucidação
da sua estrutura molecular e a compreensão de sua função
biológica a partir de suas características estruturais.
Genética Molecular