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Pontos de Memoria Ebook Portugues
Pontos de Memoria Ebook Portugues
de
Memória
Metodologia e Práticas
em Museologia Social
Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM
Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura – OEI
Pontos de Memória:
Metodologia e Práticas
em Museologia Social
Brasília
2016
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)
O68p
Organização dos Estados Ibero-americanos.
ISBN 978-85-69369-06-6.
CDD-069
Governo Federal Consultores do Programa Pontos de Memória Gerente de Compras
Ana Maltez Luiz José da Silva
Presidenta da República
Dilma Rousseff Cristina Holanda
Assistentes de Administração
Cyntia Silva Oliveira
Ministro da Cultura - MinC Aline Rodrigues Gontijo
Eliete Silva
Juca Ferreira Andréa Lorena Oliveira França
João Paulo Vieira
Fabiana Paulina Lopes
Maristela Simão
Instituto Brasileiro de Museus- Ibram José Wilson Sandes Dourado Júnior
Mônica Costa
Presidente Natália Spim Consultores
Carlos Roberto F. Brandão Rodolfo Fonseca Ângelo Morais
Sara Schuabb Fábio Mendes
Núcleo de Assessoria de Relações Institucionais –NRI
Silvana Bastos Fernanda Curti
Marlon Duarte Barbosa
Vera Demoliner Juliana Santini de Oliveira
Procuradoria Federal – Profer Wellington Pedro Silva Lauro Umeno
Eliana Alves de Almeida Ssartori Lícia Moura
Estagiários da Comuse Mara Costa
Auditoria Interna – Audin Beatriz Dias Rodrigo Dias
Werner Neibert Bezerra
Prefácio ............................................................................................................................. 6
Nota Editorial ................................................................................................................ 7
Apresentação .................................................................................................................. 8
Conselhos Gestores dos 12 Pontos .................................................................... 11
Técnicas da OEI .......................................................................................................... 13
Presidentes do Ibram .............................................................................................. 14
Servidores do Ibram ................................................................................................. 14
Consultores Contratados pelo PRODOC ........................................................ 15
2. Ações Museais............................................................................................. 29
Museu Cultura Periférica .................................................................................. 30
Ponto de Memória do Beiru ............................................................................. 33
Museu Mangue do Coque ................................................................................ 35
3. Inventário Participativo .............................................................................. 39
Ponto de Memória da Lomba do Pinheiro ..................................................... 39
Ponto de Memória de Terra Firme .................................................................. 44
Ponto de Memória do Grande Bom Jardim ................................................... 49
5. Teias da Memória.......................................................................................... 77
Posfácio .......................................................................................................................... 97
Créditos das Imagens ............................................................................................. 98
Prefácio
Carlos Roberto F. Brandão
Presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram)
É com grande satisfação que o Instituto Brasilei- movimento amplo e diverso, composto por uma
ro de Museus (Ibram/Ministério da Cultura) lança grande diversidade de atores e instituições em
esta publicação que marca uma etapa importante um diálogo rico e estimulante, aos quais temos
no desenvolvimento do Programa Pontos de Me- orgulho de somar nossos esforços.
mória e no campo da Museologia Social. Os primeiros doze Pontos de Memória constitu-
Apresentamos aqui o processo da implementa- íram a etapa inicial do Programa, já trazendo pro-
ção dos primeiros 12 Pontos de Memória, quando, jetos criativos e inovadores. Após esse primeiro
em 2009, o programa ainda contava com o apor- momento, trabalhamos hoje por uma expansão
te do Ministério da Justiça, e do Programa Nacio- significativa do programa, investindo no fortale-
nal de Segurança Pública com Cidadania — PRO- cimento de redes autônomas de iniciativas de
NASCI, por meio de um Projeto de Cooperação memória comunitária, dotadas de seus próprios
Técnica Internacional com a Organização dos canais de comunicação.
Estados Ibero-Americanos — OEI. A publicação Há muito trabalho pela frente, mas passos im-
também traz o registro da avaliação realizada por portantes foram dados. Que os textos aqui pu-
representantes de cada um desses pontos origi- blicados sirvam de referência para a compreen-
nais sobre o desenvolvimento do projeto. são dessa política, as etapas de sua construção
O Programa Pontos de Memória nasceu articu- e os desafios futuros. Estamos seguros de que o
lado com a Política Nacional de Museus e com trabalho desse conjunto de atores, dentre eles o
o Plano Nacional Setorial de Museus, os quais Ibram, constitui desde já um marco na história da
apresentam diretrizes e propostas construídas a Museologia brasileira. Assim, deixamos registrada
partir de diversas instâncias de consulta pública e a felicidade em divulgar e difundir essas experiên-
com ampla participação de profissionais envolvi- cias que tanto acrescentam à inovação no campo
dos com a área museológica no Brasil. museal, confirmando nosso desejo de estimular
novas ideias e ações, promovendo a troca de
Nos últimos anos, experimentamos um desen-
experiências e a fertilização recíproca e dissemi-
volvimento excepcional das atividades museoló-
nando inovações metodológicas, temáticas e ex-
gicas, sobretudo o crescimento da Museologia
6 pográficas. Temos convicção de que a história do
Comunitária, que traz como foco sua função so- Brasil merece um número de versões que faça
cial, ressignificando os museus como espaços jus a sua dimensão e diversidade interna — e es-
não apenas educativos e de convivência, pesqui- tamos contribuindo nesse sentido.
sa, exposição de acervos e coleções, mas tam-
bém de formação política dos indivíduos e de
comunidades engajadas no processo de forjar
suas próprias narrativas museais. Trata-se de um
Nota Editorial
Sara Schuabb
Consultora do Programa Pontos de Memória
O Programa Pontos de Memória possui, como riférica - Jacintinho (Maceió/AL), Ponto de Memó- 7
um de seus eixos principais, a construção comu- ria do Beiru (Salvador/BA) e Museu Mangue do
nitária e coletiva. Esses mesmos critérios norteiam Coque (Recife/PE).
esta publicação, a qual segue um projeto editorial O Ponto de Memória do Grande Bom Jardim
acordado desde o 5º Fórum Nacional de Museus, (Fortaleza/CE), o de Terra Firme (Belém/PA) e o
em 2012. Trata-se de uma narrativa contada por Museu Comunitário Lomba do Pinheiro (Porto Ale-
meio de muitas vozes, cujos locais de fala especifi- gre/RS) escreveram sobre seus processos de “in-
camos desde já. ventário participativo”.
O Ibram convidou os doze primeiros Pontos de O Ponto de Memória da Estrutural (Brasília/DF),
Memória do programa para relatar sua experiência, o Museu de Periferia — MUPE (Curitiba/PR) e o
escrevendo coletivamente textos a serem assinados Museu de Favela — MUF (Rio de Janeiro/RJ) apre-
pelos respectivos conselhos gestores. Assim como sentam o processo de construção de seus “produ-
as narrativas compostas pelos Pontos são pensa- tos de difusão”.
das sempre na primeira pessoa do plural, pareceu- A essas doze vozes coletivas, somamos ainda a
-nos que o ideal seria que os textos aqui publica- voz da equipe do Ibram, em boxes coloridos, que
dos seguissem a mesma lógica. Evidentemente, em contém explicações pontuais sobre as etapas da
meio aos múltiplos compromissos que assumimos, metodologia do projeto, como também apresentem
nem sempre é fácil reunir quatro ou seis mãos para brevemente cada iniciativa de memória, contextua-
produzir um texto em tempo hábil. Cada Ponto teve lizando-a em seu bairro.
liberdade para decidir como produzir seu próprio
As imagens utilizadas pertencem ao banco de
texto, encontrando a solução que lhe parecesse
imagens do Ibram ou foram autorizadas por repre-
mais adequada para chegar a resultados represen-
sentantes dos Pontos de Memória.
tativos do trabalho coletivo, caso a caso. As etapas
do desenvolvimento do projeto servem de fio con- Nossa intenção com essa composição polifôni-
dutor para os diferentes textos. Elas foram divididas ca — onde são importantes ainda as imagens pro-
entre os Pontos, cabendo a cada qual narrá-las. duzidas por diversas fontes — foi propiciar a cada
iniciativa a oportunidade de se expressar em seus
A etapa inicial, chamada de “sensibilização co- próprios termos. Esperamos que a consequente
munitária e formação da instância deliberativa”, variação de estilos possa dar testemunho da diver-
ficou a cargo dos Pontos de Memória do Taquaril sidade interna do programa, fazendo justiça a seu
(Belo Horizonte/MG), da Grande São Pedro (Vi- caráter coletivo, multifacetado e autonomista.
tória/ES) e da Brasilândia (São Paulo/SP).
As “ações museais”, etapa seguinte, foram des-
critas pelo Ponto de Memória - Museu Cultura Pe-
Apresentação
Cinthia Maria Rodrigues Oliveira
Coordenadora de Museologia Social e
Educação Comuse/Dpmus/Ibram
O principal objetivo desta publicação é apre- possibilitadas por uma sequência de fatos: a inclu-
sentar a construção da metodologia do Programa são de ações de memória no Programa Nacional
Pontos de Memória e sua avaliação sob a pers- de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci);
pectiva dos 12 primeiros Pontos de Memória que a assinatura de um projeto de cooperação com a
surgiram ou foram potencializados, com suporte Organização dos Estados Ibero-Americanos para a
do Governo Federal, a partir de 2009. A elabo- Educação, a Ciência e a Cultura (OEI); e a criação
ração das narrativas da experiência de uma das do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) em 2009.
etapas da metodologia foi produzida separada- Para a realização das ações foram sensibili-
mente, por cada um dos Conselhos Gestores dos zadas comunidades da periferia em 12 capitais
Pontos, mas a avaliação do processo foi feita em brasileiras. Assim, entre 2009 e 2011, consultores
um encontro em Brasília, em dezembro de 2013, contratados pela OEI e técnicos do Ibram realiza-
com a presença de um de seus representantes. ram visitas técnicas e oficinas de modo a funda-
Os textos foram escritos em 2012 e, três anos mentar conceitualmente e dar apoio técnico às
depois, eles não requerem atualização. Sobre a au- atividades desenvolvidas em cada uma das eta-
toria dos Pontos, eles são o registro — de um ponto pas definidas como necessárias à constituição de
de vista não institucional — das ações de conso- um Ponto de Memória.
lidação de uma experiência inédita de construção
Desde o início, o respeito aos princípios da au-
compartilhada — entre o Estado e a sociedade civil
tonomia e do protagonismo foi fundamental: não
— de uma metodologia que utiliza as ferramentas
coube ao Ibram — por meio de consultores e téc-
da Museologia para tratar a memória social.
nicos — realizar as ações. Elas foram resultado
De um lado, as 12 comunidades que participaram do trabalho de cada um dos Pontos, de acordo
da construção dessa metodologia já trabalhavam com suas peculiaridades locais, estruturais e de
ou desejavam realizar um trabalho sistemático de momento. Mas o reconhecimento das diferenças
identificação, registro, compartilhamento e preser- não se confundia com o distanciar uns dos ou-
vação de suas memórias. Do outro, na esteira dos tros, sendo uma etapa constitutiva da metodolo-
8 pontos de cultura e inspirados por realizações como gia a realização de Teias da Memória — as quais
a do Museu da Maré/RJ, os idealizadores do projeto buscavam articular os Pontos em rede1 .
e os técnicos que compuseram sua equipe se pro-
puseram a fazer que esses grupos se apropriassem Em ritmos diferentes, 11 dos 12 Pontos iniciais
de conceitos e de ferramentas da Museologia Social completaram as cinco etapas da metodologia:
para melhor exercerem seu direito à memória.
As interações entre esses dois grupos foram 1 Entre 2009 e 2014 aconteceram quatro Teias da Memória
1. Identificação. 45 prêmios para ações realizadas no Brasil e três
2. Qualificação (participação em seminários para as realizadas no exterior. O número de Pon-
e oficinas). tos aumentou de forma exponencial, passando
de 12 para 60.
3. Realização de inventário participativo.
A expansão radical do número de Pontos de
4. Realização de ações museais para comparti-
Memória necessitava de um redimensionamento
lhamento e difusão das memórias.
não apenas quantitativo, mas, sobretudo, qualita- 9
5. Reforço da rede de Pontos de Memória nas tivo do projeto. Enquanto lidava com 12 iniciativas,
Teias Nacionais da Memória. o enfoque da equipe técnica devia ser, necessa-
Para avaliar a metodologia como um todo e riamente, operacional. A assimilação das quase
passando por cada uma dessas etapas, em de- 50 outras iniciativas representou um desafio para
zembro de 2013, os representantes dos 12 Pontos todos os atores do projeto. A equipe do Ibram
e a equipe do Ibram discutiram os resultados da precisaria adotar uma perspectiva mais estratégi-
metodologia utilizada. Em três dias de imersão e ca, porque os 12 Pontos estavam desenvolvendo
com a aplicação de técnicas qualitativas e parti- ações em diferentes etapas da metodologia. Por
cipativas de interação e participação, a avaliação seu lado, os Pontos também se viram levados a
dos resultados obtidos pelos Pontos confirmou o se reposicionarem em relação ao Ibram.
que, no início do projeto, era apenas expectativa. A solução, compartilhada por muitos, parecia
Ficou claro que o trabalho com a memória social, ser, portanto, aproximar, especialmente pela for-
realizado de 2009 a 2013, nesse modelo de parce- mação e pelo fortalecimento de redes territoriais
ria, permitiu aos Pontos de Memória promover: e temáticas, aqueles primeiros Pontos — muitas
vezes chamados de “Pontos Pioneiros” — e os
- Conhecimento e valorização da memória local;
que se integraram ao projeto por terem sido pre-
- Fortalecimento das tradições locais, da identi- miados pelo edital: os “Pontos Premiados”.
dade e dos laços de pertencimento; Mas essas redes deveriam ser ainda mais
- Valorização do potencial local, impulso ao tu- abrangentes, incluindo outras iniciativas — cha-
rismo e à economia local; madas parceiras2 — que, desde o início, compar-
- Desenvolvimento sustentável das localidades; tilharam suas experiências com os 12 Pontos. Da
- Melhoria da qualidade de vida, com redução mesma forma, deveriam ser incluídas instituições
da pobreza e da violência. — especialmente universidades e museus — que
ofereceram seu apoio, concorrendo para a realiza-
Porém, para a equipe técnica do Programa Pon- ção de ações e seu constante aperfeiçoamento.3
tos de Memória, antes mesmo de realizar essa
Até novembro de 2014, quando realizou a IV
avaliação formal da metodologia, já era possível
perceber os benefícios do trabalho realizado em Teia de Memória, o Ibram havia identificado qua-
cada Ponto. Por isso, em 2011, reconhecendo os se 300 iniciativas de memória e Museologia Social,
resultados já alcançados pelo projeto e buscando
apoiar mais iniciativas que já trabalhassem com
suas memórias, o Ibram lançou o primeiro edital 2 Museu da Maré e Ecomuseu da Amazônia exemplificam esses “Pontos Parceiros”.
3 Museu da República, Museu Goeldi e Universidade Federal de Pernambuco são exemplos
de premiação de Pontos de Memória, destinando de instituições que acompanham as ações do programa desde o início.
muitas delas articuladas em redes territoriais e te- culdades e da construção conjunta de soluções
máticas4. As 10 redes identificadas pelo Ibram fo- viáveis. Esse algo é uma metodologia para a práti-
ram apresentadas na exposição “Memórias Plu- ca da Museologia Social.
rais”, integrada ao 6º Fórum Nacional de Museus, Com este livro, espera-se difundir o registro des-
em cujo âmbito aconteceu a IV Teia5. sa primeira etapa do Programa Pontos de Memó-
Essa última Teia celebrou a integração de Pon- ria, passados 7 (sete) anos da assinatura Prodoc
tos Pioneiros, Premiados e iniciativas de memória OEI/BRA 08/007 e 2 (duas) revisões substantivas
e Museologia Social, não apenas articulados em do citado projeto. Aguardado por muito tempo,
redes, mas também representados na proposta deve ser recebido como uma sistematização da
de composição de um Conselho de Gestão Com- metodologia e de sua avaliação. Mas ele é, sem
partilhada e Participativa do Programa Pontos de dúvida, o reconhecimento das contribuições dos
Memória, que está em processo de formalização. que, seja como representantes da sociedade, da
OEI ou como técnicos e dirigentes do Ibram, con-
Em continuidade, os novos passos do progra-
tribuíram para a criação e continuidade do Progra-
ma devem responder aos desdobramentos da
ma Pontos de Memória.
regulamentação da Lei Cultura Viva, promulgada
em 2014 e que, mais uma vez, redimensionou o
Programa, especialmente por possibilitar a multi-
plicação das fontes de fomento para o trabalho
com a memória social. Essa nova configuração
conduz à redefinição de papéis, sobretudo do
Ibram, acentuando, portanto, o interesse do Ins-
tituto na criação de instrumentos de difusão da
metodologia do programa.
Para tanto, o Ibram trabalha na constituição de
um ambiente virtual de ensino e aprendizagem,
a plataforma do Programa Saber Museu, a qual
tornará possível — também virtualmente — o in-
tercâmbio de experiências, assim como o acesso
e o compartilhamento dos conteúdos de semi-
nários e de oficinas que estruturam o Programa
Pontos de Memória.
Olhar para o futuro é enfatizar que ainda há
10 muito a fazer. Mas sistematizar o vivido revela que
algo já foi construído, como resultado das ações
concretas, da reflexão, do enfrentamento das difi-
4 Por exemplo, a Rede de Museologia Social do Rio de Janeiro, a Rede de Memória LGBT e
a Rede Cearense de Museus Comunitários.
5 Belém do Pará, novembro de 2014.
Conselhos
Gestores1 dos 12
Pontos2 11
Conselho Gestor do Ponto de Memória de Terra Firme Geraldo Batista de Souza
Camila de Fátima Simão de Moura Luci Otazia Ribeiro Valente
Deivision Laurentino da Rocha Joel Alves da Silva
Edivânia Santos Alves José Alves Afonso Filho
Eliete Santana de Carvalho José Aparecido da Silva
Francisca Rosa Silva dos Santos José Aparecido Oliveira Paiva
Helena do Socorro Alves Quadros Manoel Pereira da Cruz
Jéssica Luiza dos Santos Gusmão Marcelo Souza Rocha
João Batista Costa dos Anjos Palmira de Oliveira
José Maria Vale de Souza Pedro Divino
Leonel das Chagas Oliveira Rosane Aparecida Morais de Oliveira
Maria Francisca de Araújo Santos
Conselho Gestor do Ponto de Memória da Lomba do
Maria Madalena da Gama Pantoja Pinheiro
Sâmia Maria Silva Cláudia Feijó da Silva
Eduino de Mattos
Conselho Gestor do Museu de Periferia - MUPE
Izolina Elísia de Anhaia
Adenival Alves Gomes
Lucas Antonio Morates
Arlinda Messias dos Santos
Márcia Isabel Teixeira de Vargas
Frederico Alves Pinheiro
Teresa Regina Moreira Dutra
1 As informações sobre os conselheiros de cada Ponto de Memória, que contribuíram com
Teresinha Beatriz Medeiros
os textos do livro, foram retiradas dos Planos de Ação sistematizados pelos consultores
locais indicados pelos Pontos entre os anos de 2011-2012. Foram eles: Adriano Almeida Conselho Gestor do Ponto de Memória da Estrutural
(Grande Bom Jardim/CE), Adriano Freitas (Beiru/BA), Camila Moura (Terra Firme/PA),
Deuzani Noleto (Estrutural/DF), Gustavo Gervásio (Grande São Pedro/ES), Isabella Santos Adoaldo D. Alencar (Duda)
(Coque/PE), Lucas Morates (Lomba do Pinheiro/RS), Marcelo Rocha (Sítio Cercado/PR),
Rita Pinto (Museu de Favela/RJ), Viviane Rodrigues (Jacintinho/AL) e Wellington Pedro Alessandra Ferreira de Araujo
Silva (Taquaril/MG). Com relação à Brasilândia, que não teve a figura do consultor local, as
informações sobre os integrantes do Ponto de Memória foram tiradas do produto nº 1 da
Caroline Soares Santos
consultora Christiana Storino (2010) e do nº 4 de Inês Gouveia (2010). Os nomes foram Coracy Coelho Chavante
organizados em ordem alfabética.
2 Em diferentes momentos de suas respectivas trajetórias, algumas das 12 iniciativas de Denylson Douglas de Lima Cardoso
memória e museologia social selecionadas passaram a se autodenominar “Museu” e essas
escolhas foram respeitadas pelo Ibram, considerando o princípio da autonomia dos parti-
Deuzani Candido Noleto
cipantes do Programa.
Fernanda Ferreira Araujo
Jacira de Jesus Vieira Mauricio Barbosa Brandão
Maria Abadia Teixeira de Jesus Oriel Ilario de Jesus
Terezinha Santana Osvaldo Lopes Pedroso
Vicente de Paula Sousa Pedro Henrique Silva Santos
Ubirajara José Couto
Conselho Gestor do Museu de Favela - MUF
Vera Lúcia de Oliveira
Antônia Ferreira Soares
Walter Gomes de Souza
Carlos Esquivel Gomes da Silva
Wellington Pedro da Silva
Deusdete Silva Nascimento
Wilson Wagner Brandão Ribas (W2)
Katia Afonso Silva Loureiro
Marli de Oliveira Melo Conselho Gestor do Museu Cultura Periférica
Rita de Cássia Santos Pinto Edilma Marques de Lima
Sidney Silva Jailson Carnaúba de Oliveira
Técnicas da OEI
(2014-2016) 1
Cláudia Paes de Carvalho Baena Soares
Coordenadora de Desenvolvimento de Cooperação Técnica, 2009-2015.
Fernanda Curti
Gerente de Projetos, 2014-2016.
1 Em ordem alfabética, aquelas que realizaram a interlocução mais direta com o Programa
Pontos de Memória
Presidentes do
Ibram
2009-2013 — José do Nascimento Júnior
2014 — Ângelo Oswaldo de A. Santos
2015 — Atual, Carlos Roberto. F. Brandão
Servidores do
Ibram
(2009-2016) 1
Cícero Almeida (Diretor do Dpmus, 2013) Manuelina Duarte (Diretora do Dpmus,
Cinthia Maria R. Oliveira (Coordenadora da Co- 2015-Atual)
muse, 2012-Atual) Marcelle Pereira (Coordenadora da Comuse,
Cláudia Rose Ribeiro 2009-2012)
Dalva de Paula Mário Chagas (Diretor do Dpmus, 2009-2013)
Ena Colnago (Coordenadora e Diretora do Mônica Padilha
DDFEM, 2009-2015) Nicole Reis
Eneida Braga (Diretora do DDFEM, 2009-Atual) Patrícia Albernaz (Coordenadora do DDFEM, Atual)
Felipe Evangelista Silva Rafaela Mendes
Joana Regattieri Raquel Fuscaldi
João Barbosa (Diretor do Dpmus, 2014-2015) Renata Almendra
Juliana Vilar Valdemar de Assis
14 Luciana Palmeira (Diretora do Dpmus, 2013-2014) Vinicius Barcelos (in memoriam)
Vivian Coburcci
1 Em ordem alfabética. Foram considerados os servidores concursados e comissionados que
estiveram envolvidos diretamente com a criação e a manutenção do Programa Pontos de
Memória no período, com destaque para os diretores do Departamento de Processos Muse-
ais (Dpmus) e os coordenadores de Museologia Social e Educação, onde está formalmente
situado o Programa Pontos de Memória, conforme organograma do Ibram.
Consultores
Contratados pelo
PRODOC 15
(2009-2016) 1
Adriano Almeida Maristela Simão
Adriano Silva Mônica Costa
Ana Maltez Natália Spim
Ana Paula Varanda Rita Pinto
Beatriz Lanna Lyra Rodolfo Fonseca
Camila Moura Sara Schuabb
Christiana Storino Silvana Bastos
Cláudia Castro Vera Demoliner
Cristina Holanda Viviane Rodrigues
Cyntia Silva Oliveira Welcio Toledo
Daniel Fernandes Wellington Silva
Deuzani Noleto
Eliete Pereira
Elmer Oliveira
Gustavo Gervásio
Inês Gouveia
Isabela Santos
João Paulo Vieira Neto
Lavínia Cavalcanti
Lucas Morates
Marcelo Rocha
1 Em ordem alfabética.
Etapa
1
Etapa 1 17
da instância deliberativa
local, colocam em conflito versões e identificam Pontos de Memória e, sobretudo, a articular, coor-
moradores pioneiros, personagens e histórias denar e executar as ações do plano de ação para
marcantes. Além disso, também é uma opor- o desenvolvimento e fortalecimento da iniciativa
tunidade de abordar questões socioculturais de Museologia Social na comunidade. Fica a car-
e políticas da região e de reunir manifestações go de cada uma das localidades a realização dos
artístico-culturais da localidade. Essa etapa cos- seminários e reuniões para a escolha dos mem-
tuma acontecer em formato de seminários am- bros da instância deliberativa, bem como sua
pliados, organizados, divulgados e convocados metodologia de formação, formato, modelo de
pelas próprias lideranças comunitárias, com as organização, funções e número de integrantes.
quais a equipe técnica do Instituto Brasileiro de Cada grupo representativo elege ou indica seus
Museus (Ibram/MinC) fez os primeiros contatos representantes em seminários e reuniões com a
a respeito do Programa Pontos de Memória. presença de lideranças
comunitárias. Para sua formalização são realiza-
dos relatórios e atas com registro e informações A Grande São Pedro abrange os bairros de
Etapa 1
sobre os membros de cada instância. São Pedro I, II, III, IV, Nova Palestina e Resis-
tência, os quais são formados por ruas cujos
nomes fazem alusão à história de luta local,
Ponto de Memória do Museu Comuni- como, por exemplo, Rua da Conquista, Rua
tário da Grande São Pedro da Revolução, Rua do Grito e Rua da Re-
(Grande São Pedro — Vitória/ES) sistência. A localidade já foi um canteiro de
obras, com ruas de chão batido e sede de
O Ponto de Memória da Grande São Pedro
um aterro sanitário. Atualmente reúne cerca
reúne lideranças comunitárias, representan-
40 mil habitantes.
tes de escolas de samba, músicos, dança-
rinos, jovens e idosos engajados na reflexão
sobre a importância da (re) construção da Metodologia usada para a implantação do
memória local para o fortalecimento das Ponto de Memória da Grande São Pedro
identidades que perpassam as lutas e con- A metodologia inicialmente usada foi a de sen-
quistas da região, conhecida pela forte atua- sibilização tanto das lideranças dos movimentos
ção de movimentos sociais. sociais da região da Grande São Pedro quanto
Situada nas redondezas do mangue, tem
como ponto turístico a Ilha das Caieiras, co-
nhecida pelas desfiadeiras de siri e como
polo gastronômico, reunindo cerca de 20
restaurantes.
18
da instância deliberativa
No segundo momento, a aproximação com as
comunidades foi se estreitando; todas as reuniões
foram realizadas em cada bairro, com um repre-
sentante das entidades e nas respectivas sedes.
Em seguida, divulgamos, pelos jornais de gran-
de circulação, exposições, festas das comuni-
dades e outras atividades para comunicá-las às
entidades. Paralelamente foram criados o regi-
mento interno e o plano de ação.
Após a criação desses dois documentos, rea-
Moradora da Grande São Pedro
lizamos a primeira tarefa do plano, que foi a for-
Sensibilização comunitária e formação de ins-
Ponto de Memória do Museu do Taquaril tância deliberativa
Etapa 1
(Taquaril, Belo Horizonte/MG)
Há quem diga que o Taquaril é o ‘buraco
O Ponto de Memória do Museu do Taquaril do Brasil’. Desconhece a história de um povo
tece histórias e vivências dos moradores e do que o construiu. Abraçado pela Serra do
território como uma trama dinâmica de cons- Curral, cartão-postal de BH. É tão lindo ver o
tituição de identidades, penetrando em traje- Sol nascer em cada novo amanhecer! (Meu
tórias históricas e fazendo uma imersão nas Brasil Taquaril — Wanderson Santos)
vidas dos moradores, lembranças e memó- A história do Ponto de Memória do Museu do
rias coletivas. O museu reúne lideranças co- Taquaril vem sendo narrada pela trajetória de
munitárias e representantes de movimentos e vida de muitas pessoas e entidades — seus afe-
grupos culturais conhecidos por promoverem tos, saberes, conflitos e sonhos imbuídos pela
uma efervescência cultural na localidade. conquista e efetivação do direito à memória.
Em 2009, lideranças da comunidade do Taquaril
reuniram-se com representantes da equipe do Ins-
tituto Brasileiro de Museus (Ibram) para apresen-
tação do Projeto Pontos de Memória no intuito de
fortalecer ações e parcerias na construção de uma
sólida e confiante relação na realização do projeto
e seu desenvolvimento na comunidade do Taquaril,
na cidade de Belo Horizonte/MG. Uma semente foi
plantada e nos vimos imbricados nas várias veredas
da memória de nossas histórias, no fecundo com-
promisso de torná-las instrumentos de cidadania. O
bairro Taquaril e o Conjunto Taquaril integraram-se
ao Programa Pontos de Memória, dando início a um
Cartaz do seminário de sensibilização para a trabalho de ressignificação, valorização e preserva-
criação do Ponto de Memória Museu do Taquaril.
ção da memória local nas comunidades referidas.
O bairro Taquaril localiza-se na Regional Les- Desde o início, o grupo envolvido não mediu
te do município de Belo Horizonte, mais es- esforços para consolidar um processo de mobi-
pecificamente entre os bairros Alto Vera Cruz, lização e motivação que envolvesse nossa co-
Granja de Freitas e Castanheiras, que faz divi- munidade no protagonismo do projeto. Após o
sa com o município de Sabará. Sua formação primeiro contato com a equipe do Ibram, as li-
20 teve início em 1981, em uma área que perten- deranças envolvidas convocaram, por meio de
ceu à Companhia de Desenvolvimento Urbano carta, a comunidade, representada por entidades
do Estado de Minas Gerais (Codeurb), sendo e grupos locais, para outro encontro com um nú-
marcada pela luta por moradia e pelo engaja- mero maior de participantes. Nesse encontro, que
mento da população em movimentos sociais. contou com a participação da equipe do Ibram,
O bairro reúne cerca de 30 mil habitantes. foram escolhidos três representantes para partici-
parem da Teia de Memória, em Salvador/BA.
O grupo, composto nesse momento por 12
pessoas, pensou na realização de um seminário
de “Apresentação e Criação do Ponto de Memó-
ria do Museu do Taquaril”, voltado para uma par-
cela mais ampla da comunidade. Uma primeira
motivação que tivemos foi o repasse do proces-
so vivido em Salvador/BA na Teia de Memória; 21
em seguida, nosso próprio encantamento com
a ideia do Ponto de Memória já permeado por
ideias e sonhos.
Já em sua metodologia de organização, esta-
belecemos um democrático processo de traba-
lho, reconhecendo-nos até mesmo como um
grupo de fomento da proposta e assumindo para
nós o compromisso de envolver a comunidade.
da instância deliberativa
O grupo se reunia sistematicamente para as responsabilidades na implementação do pro-
pensar na criação do seminário de apresen- jeto, inspirados na dinâmica de nos sentarmos
tação; com isso, surgiram também conflitos e juntos e buscarmos os horizontes de nossa co-
embates que sabemos serem inerentes a todo munidade. Uma oportunidade para a formação
processo de construção que envolva um gran- desse conselho seria na plenária final do semi-
de número de atores sociais. No entanto, ca- nário, onde os envolvidos já teriam sido coloca-
minhávamos com um propósito maior: a luta dos a par das propostas e da metodologia do
pelo direito à memória. Programa Pontos de Memória.
Em nossos debates, entramos em consenso O evento aconteceu em meio a expectativas e
de que uma boa estratégia de envolvimento da ansiedades, superadas em sua realização. Rea-
comunidade seria a criação de um conselho co- lizado no dia 20 de fevereiro de 2010, na Escola
Municipal Professora Alcida Torres, reuniu cer-
ca de 60 pessoas, dentre representantes de
Etapa 1
da instância deliberativa
jetivo do Ponto de Memória do Museu do Ta- Jardim Guarani, entre outros.
quaril o enfoque ao direito à memória que to- A região é resultado do desmembramento de
dos os grupos humanos possuem, enfatizando inúmeros sítios e chácaras existentes nas primei-
a importância da preservação dos patrimônios ras décadas do século XX. Em um desses sítios
histórico, artístico e cultural, sendo este o teste- viveu o Sr. Brasílio Simões, cultivador de cana-de-
munho da herança de gerações passadas, que -açúcar e fabricante da “Caninha do Ó”, conhe-
exerce papel fundamental no momento presen- cida aguardente da época. Com o desenvolvi-
te e se projeta para o futuro, transmitindo às mento do país e de São Paulo, a região também
gerações futuras as referências de um tempo sofreu modificações. Os sítios foram desmem-
e espaço singulares que jamais serão revividos, brados em pequenas vilas e grande parte foi ad-
mas revisitados — criando a consciência da in- quirida por diversas companhias loteadoras.
tercomunicabilidade da história.
Brasilândia — Suas Vilas e Jardins
Com as reformas urbanas no centro da ci-
Etapa 1
dade, ocorreu o êxodo dos proletários em di- O distrito de Brasilândia, zona norte da capital
reção à periferia. Fugindo dos altos aluguéis, paulista, possui uma rica memória que se inicia
esses moradores passaram a adquirir lotes re- a partir do alargamento das vias da região cen-
sidenciais na iniciante Brasilândia. Somavam- tral da cidade. Em 1946, as primeiras famílias co-
-se ainda à região famílias vindas do interior, meçaram a chegar ao território, a maioria delas
em busca de melhores condições de vida. formada por trabalhadores expulsos do centro
O Ponto de Memória paulistano reuniu, por em decorrência desse projeto. Existem várias
cerca de um ano e meio, representantes de versões de como essa mudança ocorreu: alguns
diversos grupos, movimentos e meios de co- afirmam que a Prefeitura incentivou a ida para
municação comunitária locais para desenvol- a grande chácara, onde funcionava uma olaria,
ver o Museu Social da Brasilândia. Nesse pe- de propriedade da família Bonilha. A Prefeitura
ríodo foram realizados seminários ampliados comprava o terreno e a olaria cedia as telhas,
na comunidade sobre questões relacionadas “favorecendo” os primeiros moradores daquela
ao direito à memória e à Museologia Social, parte de São Paulo que mais tarde seria conhe-
oficinas sobre acervo e inventário participativo cida como Brasilândia, homenagem prestada
e um conjunto de ações museais que envol- a Brasílio Simões, comerciante que ajudou na
veu a comunidade em suas memórias e his- construção da Paróquia Santo Antônio, em lugar
tórias coletivas. Dentre as atividades destaca- da capela de mesmo nome.
-se uma exposição fotográfica com foco na A partir das diversas memórias, registros, con-
luta dos moradores pela moradia, tema que tação de história acerca da origem do bairro,
acompanha a região desde seu surgimento. consequentemente do distrito, os moradores de
Brasilândia, nas mais distintas organizações, res-
gataram a origem do bairro e distrito para com-
preender sua dinâmica e vocação. As rodas de
conversas efervesceram as lembranças de fatos
que marcaram e fortaleceram a história dos bra-
silandianos, narrados das mais diferentes for-
mas, mas com a mesma emoção.
24
da instância deliberativa
ria não ocorria somente quando estávamos em — Suas Vilas e Jardins”. Composto por mais de
grupo, e, sobretudo, por não termos controle so- 40 bairros, divididos entre vilas e jardins, a região
bre a memória. A partilha era constante e inten- que conta com mais de 300 mil habitantes apre-
sa. O agora Museu Social da Brasilândia estava senta os primeiros resultados de resgate da me-
consolidado e era conhecido pelas mais dife- mória local. Em evento realizado em maio de 2011,
rentes correntes ideológicas, sociais e políticas na Escola Estadual Luiza Salete, com a presença
do distrito. O museu ganhou forma, não física, de Mario Chagas, do Ministério da Cultura, Pedro
pois não há estrutura onde seja possível depo- Galliker, do Programa Nacional de Segurança Pú-
sitar algo que é abstrato, talvez. Como expor em blica com Cidadania, representantes da Prefeitura
imagens e objetos uma força em constante e e lideranças locais representadas pelo articulador
imprevisível transformação? O desafio, portanto, Fabio Ivo, a exposição reuniu jovens, adultos e
foi lançado. idosos para saborear os prazeres da memória.
sos do Gonzaguinha, seguidos de roda de ca-
poeira, rodas de memória adulta e jovem, sarau,
Etapa 1
da instância deliberativa
Exposição na E.E. Luiza Salete, na Vila Penteado,
Brasílândia.
Etapa
2
Etapa 2 29
Ações Museais
Ações Museais
foi crescendo com a população que chegava
Museu Cultura Periférica do interior do Estado atraída pelas possibili-
(Jacintinho, Maceió/AL) dades de emprego na capital. Atualmente o
bairro, que integra quatro núcleos de comuni-
O Ponto de Memória do Museu Cultura Pe- dades — Jacintinho, Vergel, Vila Emater e Vila
riférica atua a partir da diversidade de expres-
de Pescadores de Jaraguá —, reúne cerca de
sões culturais das diferentes comunidades
200 mil habitantes.
O Ponto de Memória em Jacintinho res, fugiram de seu feitor: a miséria. Consequên-
cia da desigualdade social que assola Alagoas.
Etapa 2
O local escolhido para a implantação do Pon-
to de Memória foi o Jacintinho, que é o bairro Refugiaram-se no quilombo, ou seja, na periferia,
mais populoso de Maceió, tido como periférico, em busca de casa, comida, trabalho... Dignidade!
não por sua localização geográfica, mas por sua Há uma semelhança na luta de resistência dos
condição social. Foi sendo formado por famílias quilombos e suas lutas atuais, pois eles não se
oriundas do interior do Estado de Alagoas, filhos acomodam diante da marginalização socioeco-
do êxodo rural, a maioria afrodescendente. Elas nômica que sofrem. O museu estará revelando
foram desbravando os sítios e povoando o bair- dramas humanos que a história jamais poderia
ro de baixo para cima, ou seja, pelas grotas. O esconder ou esquecer.
bairro se desenvolveu, em especial, no sentido Para divulgar, fomentar e fortalecer o víncu-
comercial, mas os problemas sociais também se lo com as comunidades foram desenvolvidas
intensificaram. O ritmo de crescimento da po- ações museais. A primeira foi a participação na
pulação não ocorreu simultaneamente aos do Semana da Primavera dos Museus com uma
desenvolvimento socioeconômico. É um bairro roda de memória denominada “Mulheres por
visto pela mídia e pela sociedade alagoana como Mulheres”, em 2011. Reuniu lideranças femini-
sinônimo de violência. nas em várias vertentes: religiosa, social, política,
comunitária, educacional e cultural. Elas com-
partilharam suas experiências com a comunida-
de, interligando-as com as questões de gênero.
Houve três atividades: duas rodas de memória
no Jacintinho e Zona Sul e uma roda feminina
de Break, no Conjunto Dubeax Leão.
Em fevereiro de 2012, organizamos nosso pri-
meiro “Chá de Memória”, que aconteceu em
cada núcleo do Museu Cultura Periférica: Jacin-
tinho (comunidade e hip-hop), Vila Emater II e
Vila de Pescadores de Jaraguá. Por motivos ope-
racionais não foi possível organizar o da zona sul
Logo Museu Cultura Periférica na ocasião. Os “Chás de Memória” ocorreram
porque sentimos a necessidade de reunir as pes-
soas que tinham sido entrevistadas — e outras
O Museu Cultura Periférica vem diariamente
que também serão — para compartilharem suas
30 buscando conhecer e compreender esse novo
histórias, bem como recolher acervo (fotogra-
povo que vive em coletividade, dividindo gostos, fias, documentos, objetos) e explanar melhor a
costumes e problemas. Ao descer as grotas, o proposta do Ponto de Memória do Jacintinho —
indivíduo se depara com um cenário similar: a Museu Cultura Periférica para as comunidades.
linha de diferenciação é tênue, mas as pessoas O material gráfico, a arte e a impressão foram
que a formam não. O povo que a formou são realizados por nós. Organizamos a alimentação
guerreiros que, como no Quilombo dos Palma- com muitos chás, biscoitos e bolachas, mas nos
adequamos aos espaços; um exemplo é a Vila A noite caiu em uma avenida de um dos bair-
Emater que, além do lanche tradicional, levamos ros mais populosos de Maceió e as pessoas
muita pipoca e refrigerante porque teríamos um foram chegando, abraçando-se, rindo, revendo
grande público infantil. amigos e conhecendo outros. Vieram senho-
Para o “Chá de Memória” do Jacintinho foram ras, senhores, mulheres, homens, adolescentes
feitas visitas no dia anterior convidando de casa e crianças. As gerações se encontraram numa
em casa cada entrevistado. Como eram idosos, roda para ouvirem e compartilharem suas me- 31
organizamos um sistema de táxi para ir buscá- mórias, trazendo à tona velhas histórias e sus-
-los e levá-los de volta para casa. A articulação citando novas emoções. Recebemos a visita de
com o pessoal do hip-hop foi feita via telefone. Lavínia Santos, consultora do Ibram; de Paulo
Foi uma integração entre a juventude e o pes- Sérgio, representante do Pronasci local; de Ele-
soal da terceira idade, compartilhando e escu- nilton, representante da Secretaria de Articula-
tando as histórias. ção e Ação Social; e de Jorge Schutze, coreó-
grafo e professor.
Nos “Chás de Memória” da Vila Emater e da
Vila de Pescadores de Jaraguá toda a divulga- A primeira pessoa convidada para iniciar a roda
ção foi realizada pelos pesquisadores Michelly de memória foi D. Angelita, de 86 anos, que há
da Conceição, Jailson Carnaúba (Pelé) e Enau- 67 anos reside no Jacintinho. Após sua fala, con-
ra. Eles foram os responsáveis pela articulação vidou uma amiga para dar continuidade. Uma a
das comunidades que compareceram respecti- uma foi se sentando na “cadeira da memória” e
vamente na manhã de domingo e na noite de contando a história da
segunda-feira. Melhor dia para eles. Adequamo- formação do bairro do
-nos ao espaço e ao tempo de cada comunidade. Jacintinho; porém, mais
A cada chá um importante que isso foi
universo diferente conhecer a trajetória de
para desvendar. vida de cada indivíduo e
como ocorreu a supe-
ração dos problemas e
a luta que travou para
realizar seus sonhos.
Na mesma noite ti-
vemos a presença dos
meninos e meninas do
Ações Museais
hip-hop, velhos parcei-
ros que também fazem
parte do museu. Com-
partilharam conosco
suas histórias no Movi-
mento de Hip-Hop Ala-
Chá de Memória
goano: Arnaldo e Fabrí-
cia (bgirl FBA).
Relataram a luta de divulgar o movimento em ria aconteceu dentro da sede da Associação de
um Estado que ainda não o valoriza como deve- Moradores e Amigos de Jaraguá. Foi uma noite
Etapa 2
ria. Tivemos uma roda de break feminina — as me- em que ouvimos velhas histórias de pesca, do
ninas deram um show! Essa linguagem representa quanto o mar pode ser generoso e traiçoeiro.
o modo de viver na periferia. Todos sentiram falta Nós nos sentimos dentro de um livro de Jorge
de Paulo, coordenador da Posse Atitude Periférica, Amado ao ouvir histórias de quem fica e de que
o qual, desde abril de 2010, abraçou a propos- vai para o mar. Muita coisa para aprender sobre
ta do Museu Cultura Periférica; apesar de ter ido esse universo. Seu José se dispõe a confeccio-
morar em São Paulo, deixou suas representantes nar velhos instrumentos que não fazem mais
aqui: Maria e Isabelly. Ele, mesmo longe, continua parte do dia a dia do pescador, mas que fazem
contribuindo com a luta — um exemplo é a logo- parte da história.
marca do museu que é uma de suas obras. Em novembro de 2012, foram realizadas três
Numa manhã de céu límpido e sol forte, ações: a inauguração da exposição itinerante “Me-
aconteceu o segundo “Chá de Memória” do mórias que o vento não levou...”, a palestra “Mu-
Ponto de Memória do Jacintinho — Museu Cul- seu: a construção do conhecimento na interface
tura Periférica na Vila Emater II. No Espaço Cul- do tempo e do espaço” e o clássico projeto “Mi-
tural Vila foram chegando os moradores mais rante Cultural: um quilombo chamado Jacintinho”.
antigos e muitas crianças para contar e ouvir O lugar escolhido para a montagem da ex-
histórias. Narraram sobre suas origens e o nas- posição foi a Feirinha do Jacintinho; com isso,
cimento da Vila Emater II, a qual se desenvolveu houve uma democratização do espaço cultu-
em torno do aterro sanitário da cidade de Ma- ral e uma maior participação da população.
ceió (há um ano o aterro saiu de lá). Compar- Chegamos pela manhã com barraca, memória,
tilharam suas trajetórias e explicaram o dia a espelhos, gente, arupemba, sonhos, tecidos, vi-
dia de um aterro sanitário, os tipos de materiais das, caixas, dona Margarida, varais, fotos, ma-
e a divisão do processo econômico que rege o las... Fomos montando aos poucos cada deta-
trabalho naquela comunidade. lhe, cada símbolo...
Conhecemos Dema, um morador que há anos Houve um estranhamento inicial, mas as
vem registrando o cotidiano da vila e já fez três pessoas foram aos poucos se aproximando,
filmes ficcionais. Um artista anônimo que se in- olhando, comentando, contando. Tornamo-nos
tegrou ao museu. Ficamos emocionados com D. feirantes da memória, tendo Elizabeth Salgado
Maria Preta, a qual relatou que, ao ficar doente, como professora, que falava para os passantes:
foi agraciada com a solidariedade dos vizinhos, “Venham, venham conhecer o Museu Cultura
32 demonstrando como a vida em comunidade Periférica”. A memória do povo do Jacintinho
é humanitária. Cada pessoa que se sentou na sendo compartilhada no meio da feira, tudo
“cadeira da memória” ensinou algo e despertou aquilo que o marcou, às vezes o mesmo fato
uma emoção em quem a ouvia. contado, mas com um olhar singular.
O Museu Cultura Periférica realizou o terceiro A palestra “Museu: a construção do conheci-
“Chá de Memória” na Vila de Pescadores de Ja- mento na interface do tempo e do espaço” foi
raguá em uma noite de luar. A roda de memó- ministrada pela professora Elizabeth Salgado,
na Escola Estadual Manoel Simplício. Foi uma
conversa com alunos e professores, numa tro-
ca de experiências e visões sobre o bairro e a
memória. À noite aconteceu a trigésima edição
do projeto “Mirante Cultural: um quilombo cha-
mado Jacintinho”, com uma massiva participa-
ção da comunidade. Comemoramos o mês da 33
consciência negra e a valorização da memória
social numa grande festa.
Ações Museais
meçou a ser pensado por representantes da
Nós, do Museu Cultura Periférica, acredita- comunidade desde o processo de constru-
mos que a memória está em movimento e que ção do Livro do Beiru, obra que conta a histó-
vai além da recuperação do passado, pois é um ria do herói negro e do bairro, o qual foi lan-
instrumento de luta do povo. Ela está integrada çado em 2007 pela Fundação Pedro Calmon
ao dia a dia da comunidade. A Museologia So- (Salvador/BA), pela Secretaria de Cultura e
cial dá ao povo seu lugar de direito, ou seja, o pela Secretaria de Promoção da Igualdade.
centro da narrativa.
Cine Beiru
A luta e a mobilização política do Ponto de
Etapa 2
Ações Museais
Museu Mangue do Coque Conselho Museu Mangue do Coque
(Coque, Recife/PE)
Ações Museais
temáticas escolhidas, com o caráter didático por
meio da exposição lúdica, da aprendizagem, da
reflexão e do debate, sendo criados com o ob-
jetivo do diálogo cultural, no qual é estimulada
a discussão de temas diversos relacionados
às questões da cultura e suas relações com o
espaço do museu. Trata-se de uma exposição
descontraída e dinâmica, aberta para o público
Etapa
3
Etapa 3 39
Inventário Participativo
Inventário Participativo
pela decisão coletiva e compartilhada de esco-
entrou no ônibus Pinheiro,
lher quais memórias e patrimônios são relevan-
tes para a comunidade, contribuindo, assim, para parada vinte e quatro,
um processo contínuo de apropriação cultural. para a lida de mais um dia,
e, pela janela, parada seis,
Ponto de Memória da Lomba do Pinheiro
(Lomba do Pinheiro, Porto Alegre/RS)
parou o olhar:
avistou um Museu Comunitário.
Ponto de Memória da Lomba do Pinheiro
Passou a frequentar.
Parada Seis, Sentido Bairro/Centro
[e vice-versa]
munidades indígenas Charrua, Kaingang e M’byá
Aprendeu que distante
Guarani, a Vinícola Bordignon, a Represa Lomba
Etapa 3
Inventário Participativo
o Conselho Gestor do Ponto de Memória, assim consiste no procedimento de relacionar, registrar
como os pesquisadores, para a manipulação, a e catalogar bens patrimoniais de caráter material
guarda e a conservação preventiva das coleções e imaterial de forma participativa, ou seja, pro-
que fazem parte do acervo do museu, bem como movendo mecanismos capazes de considerar a
de documentos e objetos a serem colhidos du- opinião e a participação constante de um nú-
rante o inventário participativo — por exemplo, o mero significativo de pessoas e/ou grupos per-
grande número de jornais e fotografias que com- tencentes à comunidade inventariada.
pôs o corpus documental da pesquisa. Nesse caso,
foi importante planejar as diversas etapas sobre o
contato com os acervos, fontes de parte da pes- 1 Como exemplo de registro coletivo de história oral citamos as rodas de memória
quisa. Primeiramente houve a necessidade da ava- comumente confundidas com o próprio inventário participativo.
Pensando na extensão do bairro Lomba do Pi- sabilidade de registrar nos instrumentos de son-
nheiro e partindo da ideia de que o inventaria- dagem os bens materiais e imateriais. A equipe
Etapa 3
mento não deve se esgotar, resolvemos delimitar de mediadoras do inventário participativo res-
a pesquisa da seguinte forma: ponsabilizou-se pelo contato com as lideranças
a. O bairro foi dividido em quatro microrregi- comunitárias, convidando-as a fazer parte da
ões (faces); pesquisa, pela participação em reuniões pro-
movidas pelas associações ou grupos diversos,
b. Formou-se uma equipe de mediadores do
pela coleta dos instrumentos de sondagem e
inventário participativo;
pela coleta de acervos esporadicamente doa-
c. As associações de moradores das vilas do dos ao Ponto de Memória. Entre os principais
bairro foram sensibilizadas na intenção de se acervos inventariados estão:
responsabilizarem pela pesquisa em cada local e
1. O Bugio Ruivo;
após remeterem os instrumentos de sondagem
e pesquisa para os mediadores; 2. Parada de ônibus;
d. Os bens patrimoniais móveis poderiam ser 3. Figueiras;
doados, emprestados ou mesmo permanecer 4. Pinheiros (pinus e araucária);
em seus locais de origem; 5. Nascentes;
e. Os bens patrimoniais imóveis foram mapea- 6. Sítios arqueológicos;
dos, listados, registrados e fotografados;
7. Ponto de Memória;
f. As manifestações culturais, consideradas
8. Saberes das benzedeiras;
patrimônio imaterial, foram listadas, necessitan-
do de registro posterior; 9. Comunidade indígena M’byá Guarani;
g. O registro do inventariamento está disponível 10. Comunidade indígena Kaingang;
em material cartográfico. 11. Artesanato local; e
Estabeleceu-se como metodologia o contato 12. Equipamentos públicos.
com lideranças comunitárias responsáveis por
associações de moradores e/ou responsáveis
por outras formas de organizações sociais, na
intenção de mobilizar um número significativo Percurso
Cultural Ponto
de moradores em torno da proposta de realiza- de Memória
ção do inventário de forma ampla e participativa2 da Lomba do
Pinheiro
As lideranças contatadas foram responsáveis
42 por promover reuniões com os moradores nas
associações, na construção por meio de de-
bate acerca do reconhecimento do patrimônio Produtos decorrentes do inventário participativo
cultural local, como também tiveram a respon- Na intenção de divulgar e estimular a apropria-
ção do inventário participativo, decidimos pela
2 Quarenta e oito lideranças comunitárias tiveram participação ativa durante o inventário
participativo, e mais de 350 moradores do bairro responderam instrumentos de sondagens
criação de três produtos de difusão: exposição,
e questionários.
catálogo em formato de mapa e multimídia.
A exposição apresenta os elementos patrimo- Catálogo da exposição “Lomba do Pinheiro: patrimônio
niais inventariados, assim como os históricos de 24 inventariado e itinerários culturais”.
vilas do bairro e duas comunidades indí-
genas. Nela estão reproduzidos acervos
imagéticos, cartografias produzidas pelos
moradores, depoimentos orais, acervos
impressos como jornais, boletins, atas 43
etc. O catálogo contou com a curadoria
da professora Elizabeth R. Torresini. Para
a construção das narrativas textuais, a
curadora da exposição ministrou oficina
de produção textual. O material multi-
mídia está sendo desenvolvido com um
grupo de professores das escolas esta-
duais e municipais do bairro, a fim de
que as necessidades pedagógicas das
escolas da região sejam atendidas.
O inventário participativo teve papel fundamental
para a produção da exposição “Lomba do Pinheiro:
patrimônio inventariado e itinerários culturais”, assim
como para o catálogo em formato de mapa.
O inventário participativo possibilitou um au-
torreconhecimento dos grupos sociais do bair-
ro enquanto partícipes da construção histórica Exposição Ponto de Memória Lomba do Pinheiro
Inventário Participativo
tes lentes do cotidiano. Também possibilitou Entre os desafios propostos está o produto mul-
novas relações entre as comunidades, provo- timídia. Com o advento da exposição e da ação
cando diálogos com os diferentes grupos que educativa propulsora do contato entre os profes-
compõem as matrizes culturais do bairro. Como sores da rede de ensino público local e o Ponto
exemplo de mudanças é possível observar as de Memória, decidimos disponibilizar as informa-
novas formas que as pessoas encontraram para ções coletadas no inventário participativo na for-
apresentar, representar e, do mesmo modo, (re) ma digital, e todo o resultado acerca do patrimônio
apresentar o bairro. É possível perceber, entre os cultural local pesquisado e que consta no mapa
grupos que participaram do inventário, o dese- impresso desdobra-se de forma mais detalhada
jo de continuidade do projeto, assim como a no multimídia, contemplando o acesso amplo aos
apropriação dos produtos de difusão. educadores e educandos.
Elaboramos um roteiro amplamente discuti-
do entre o Conselho Gestor e os pesquisadores Ponto de Memória de Terra Firme
Etapa 3
Inventário Participativo
Silva, de 56 anos, descreveu o lugar dessa forma:
Quando eu cheguei aqui nesse lugar, aqui
os terrenos eram tudo alagado, as ruas eram
tudo só um matagal, tinha uns... Umas estivas
acima porque tava no início da ocupação, en-
tão as ruas eram uns pedaços de pau, umas
tábuas, uns açaizeiros. Era estiva, só estiva e
tinha que andar se equilibrando — tinha que Bairro da Terra Firme
ser equilibrista.
Em novembro de 2011, foi enviado ao Instituto
4 SILVA, Maria do Socorro Rocha e; SÁ, Maria Elvira Rocha de. Medo da cidade: estudo
de caso do bairro Terra Firme de Belém (PA). In: Argumentum. Vitória (ES), v.4, n.2, p.174-
Brasileiro de Museus o plano de ação do PMTF,
-188,jul/dez 2012. Endereço eletrônico: dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/4835014.pdf a fim de ser executado no ano de 2012. O plano
consiste no desenvolvimento da primeira etapa cadas pelo interesse do grupo gestor em conhe-
do inventário participativo no bairro de Terra Firme cer a história e as memórias existentes em Terra
Etapa 3
para buscar informações a fim de serem usadas Firme por meio de relatos dos moradores. Com
na elaboração de uma exposição sobre o bairro a aprovação do microprojeto “As diversas lingua-
e uma cartilha informativa sobre o projeto, como gens da Cultura no Bairro de Terra Firme” (o qual
produtos de difusão. consistia em trabalhar com jovens na faixa etá-
Paralelo às ações do plano de ação, o Con- ria de 15 a 29 anos), o Conselho determinou que
selho Gestor, aprovou três microprojetos dentro fossem selecionados 10 jovens na faixa etária de
do edital Território de Paz do Pronasci/Ministério 18 a 29 anos para realizarem as entrevistas no
da Justiça e Programa Mais Cultura/Ministério da bairro, sob a orientação de uma equipe coordena-
Cultura, a serem executados nos anos de 2011 e dora formada por membros do Conselho Gestor
2012. Os microprojetos foram: “Juventude e Ima- do Ponto de Memória de Terra Firme.
gens de Terra Firme: reafirmando identidades e Segunda etapa — seleção dos jovens: buscou-
garantindo cidadania”; “Reescrevendo a nossa -se dez jovens6 para participar do inventário. A se-
história outra vez: jornal O Tucunduba” e “As di- leção foi feita de acordo com os seguintes critérios:
versas linguagens da Cultura no Bairro de Terra 1) morador do bairro de Terra Firme;
Firme”. Estes possibilitaram, ao Ponto de Memó-
2) conhecimento regular de sistema operacio-
ria, a produção de dois produtos de difusão5 e a
nal Windows e suas ferramentas de edição texto/
elaboração do inventário participativo.
figuras e internet;
O microprojeto “As diversas linguagens da
3) domínio de escrita na língua portuguesa;
Cultura no Bairro de Terra Firme” possibilitou ao
PMTF a realização do inventário participativo em 4) responsabilidade com prazos;
Terra Firme, com a finalidade de buscar suporte 5) capacidade de trabalhar em equipe;
e visibilidade aos diversos grupos socioculturais 6) fácil comunicação.
no bairro, contribuindo para a valorização dos Utilizou-se uma ficha de inscrição para que os
saberes e práticas locais. O objetivo do inventário jovens interessados pudessem responder às se-
foi pesquisar, catalogar e sistematizar as lingua- guintes perguntas:
gens culturais, a história e a memória presente
no bairro de Terra Firme, por meio de entrevistas a) identificação;
de histórias de vida. b) escolaridade;
O inventário participativo, que ocorreu de de- c) como soube do projeto?;
zembro de 2011 a abril de 2012, surgiu da seguin- d) disponibilidade;
te maneira: e) o que é o bairro de Terra Firme?
46
Primeira etapa — definição da metodologia: o Terceira etapa — oficina de inventário partici-
Conselho Gestor, em reuniões, definiu que seriam pativo: serviu de capacitação para que os jovens
realizadas entrevistas de histórias de vida, justifi- participantes estivessem habilitados a inventariar
5 Os produtos de difusão foram: o lançamento de dois vídeo-documentários sobre o bairro
da Terra Firme, por meio do microprojeto” Juventude e Imagens da Terra Firme: reafirmando 6 Jovens participantes: André Aviz, Brena Figueiredo, Carmem Santos, Deivison da Rocha,
identidades e garantindo cidadania”; e, um jornal comunitário, por meio do microprojeto Ernanydos Remédios, Jéssica Gusmão, Maiara Souza, Maridiene dos Santos, Ruãma do
“Reescrevendo a nossa história outra vez: jornal O Tucunduba”. Nascimento, Tacimiller de Matos, Tatian Amaral e Thayse de Matos.
as manifestações socioculturais no bairro de d) ficha de objetos;
Terra Firme. O tema “Museu e Memória” foi o e) autorização de depoimento e imagem; e
norteador da oficina, que aconteceu em seis dias
f) roteiro de entrevista.
e se utilizou de metodologias específicas com o
intuito de que os participantes aplicassem em Quinta etapa — entrevistas de história de vida
campo os conhecimentos construídos quando e realização de rodas de memória: após o pe-
fossem realizar as entrevistas, bem como: ríodo de construção de metodologias dado pe-
las etapas anteriores, que teve a duração de um
47
1) linha do tempo;
mês, os jovens foram a campo inventariar as
2) rodas de memória; manifestações socioculturais do bairro de Terra
3) técnicas de entrevistas; Firme. Essa etapa teve a duração de três meses.
4) definição de inventário participativo. Os jovens participantes saíam a campo com o
Quarta etapa – construção dos instrumentos objetivo de realizar oito entrevistas ao mês, de
de pesquisa: após o término da oficina de inven- acordo com sua temática, e em períodos quin-
tário participativo, os jovens, com os membros zenais tinham a orientação da Coordenação do
do Conselho Gestor do Ponto de Memória de projeto. Foi definido durante o processo da quar-
Terra Firme, responsáveis pela execução do in- ta etapa que a cada mês seriam realizadas rodas
ventário participativo, elaboraram os instrumen- de memória temáticas com moradores do bairro,
tos de pesquisa. O grupo decidiu que o inventá- nas quais os jovens seriam os responsáveis por
rio teria cinco temas norteadores, e os jovens se organizar o evento. Assim, deveriam ocorrer as
dividiriam em duplas para ir a campo realizar as seguintes rodas:
entrevistas. Os temas foram: 1) história do bairro de Terra Firme;
1) cotidiano; 2) cultura do bairro;
2) história do bairro de Terra Firme; 3) cotidiano do bairro.
3) lutas sociais nas quais os moradores do Sexta etapa — sistematização e catalogação
bairro participaram ou vêm participando; das entrevistas: após a realização da etapa de
4) cultura popular; campo (descrita na quinta etapa) ocorreu a sis-
5) instituições de pesquisa presentes no bairro. tematização e catalogação das entrevistas. Os
Inventário Participativo
jovens conseguiram realizar 59 entrevistas de
O conselho do PMTF se responsabilizou em re-
história de vida com moradores e/ou pessoas
passar aos jovens um roteiro de pesquisa tratando
atuantes no bairro de Terra Firme; portanto, não
do que seria pesquisado de acordo com o tema,
se atingiu a meta inicial do inventário participa-
sendo baseado no plano de ação do Ponto de
Memória. Após essa decisão, foram construídos tivo. A cultura e o dia a dia do bairro estiveram
os instrumentos de pesquisa que passaram a ser presentes na maioria das entrevistas cedidas ao
utilizados no inventário participativo, contendo: microprojeto, além, é claro, da importância con-
cedida à história de luta e conquista pela mo-
a) claquete de identificação;
radia. Foram cedidos pelos entrevistados vários
b) ficha de identificação; arquivos fotográficos que retratam sua relação
c) ficha de foto; com o bairro e a construção dele.
Sétima etapa — cortejo cultural: o cortejo Vale ressaltar também o engajamento dos jo-
cultural do Ponto de Memória de Terra Firme vens participantes desse processo, pois estes
Etapa 3
— “As diversas linguagens da Cultura” — acon- obtiveram uma considerada habilidade quanto à
teceu no dia 28 de abril de 2012 no bairro. Teve realização de entrevistas, fato comprovado por
como objetivo reunir todos os movimentos terem conseguido entrevistar pessoas importan-
socioculturais de Terra Firme inventariados na tíssimas para o bairro e que posteriormente es-
etapa do inventário participativo. Portanto, fo- tiveram presentes nas outras ações do PMTF. A
ram convocados a participar os movimentos: cada história de vida coletada, uma descoberta
Coletivo Casa Preta, Instituto Cultural Polo São para esses jovens e uma confirmação/provação
Pedro, Quadrilha Junina Infantil Crianças que para o Ponto de Memória de Terra Firme. Em de-
Brilham, Grupo Cultural Boi da Terra, Grupo poimentos, os jovens participantes demonstra-
Cultural Boi Marronzinho, Instituto Amazônia vam satisfação em estar realizando o trabalho e
Cultural, Cia. de Dança Exíbela e Associação ainda se sentiam orgulhosos em fazer parte de
Cultural Eu Sou Angoleiro. E, ainda, agluti- um bairro muito expressivo para dentro do muni-
nou personagens característicos de Terra Fir- cípio de Belém. Em relação aos entrevistados e
me, como: vendedor de tacacá, vendedora de seus depoimentos, muitos ficaram maravilhados
em serem procurados para darem sua versão,
bombom, vendedor de sorvete, pintor, grupo
sua opinião e seu olhar sobre a história e a me-
da coleta seletiva de lixo, entre outros que fi-
mória do bairro de Terra Firme.
zeram parte do inventário participativo.
Quando se pôde realizar o “Cortejo Cultural
O Cortejo Cultural saiu da Passagem Bom Je-
do Ponto de Memória de Terra Firme: As diver-
sus em frente do Centro Comunitário Bom Jesus
sas linguagens da Cultura”, o PMTF conseguiu
(primeiro Centro Comunitário de Terra Firme)
aglutinar várias vertentes culturais do bairro,
e se destinou à Praça Olavo Bilac (em frente agregando valor a esses grupos. E, também,
à Igreja São Domingos de Gusmão). O trajeto fazendo que esses grupos pudessem se sentir
realizado foi Passagem Bom Jesus — Rua São parte do Ponto de Memória de Terra Firme.
Domingos — Passagem São Pedro — Passagem
Liberdade — Rua Celso Malcher — Praça Ola- Conselheiros em atividades de
mapeamento cultural na Terra Firme
vo Bilac (Igreja São Domingos de Gusmão). E
no destino final ficaram reunidos os grupos so-
cioculturais e os personagens característicos de
Terra Firme que não puderam sair em cortejo.
O inventário participativo possibilitou ao Pon-
48 to de Memória de Terra Firme o levantamento de
um acervo de histórias de vida de moradores e/ou
pessoas atuantes no bairro de Terra Firme que aju-
dam na construção diária do bairro. Com certeza
esse primeiro inventário terá uma importância sig-
nificativa para o objetivo principal do PMTF, que é I Gincana
a transformação deste em um museu comunitário. Terra Firme
O inventário participativo fez parte de um pro- tença. Está situado na Secretaria Executiva Re-
cesso de legitimação do Ponto de Memória de
gional V, com 17 bairros, reunindo uma popula-
Terra Firme como agente transformador dentro
ção de 452.875 habitantes.
do bairro de Terra Firme, uma vez que foi a eta-
pa inicial para elaboração de dois produtos de Estigmatizada como região pobre, também
difusão do projeto que visam ao reconhecimen- arrasta consigo o estigma de “zona violenta”, já
to da importância deste para o melhoramento que violência e pobreza são sempre postas pela
mídia no mesmo patamar, como se uma decor- 49
do bairro. Assim, o inventário resultou na pro-
dução de uma cartilha informativa do projeto resse da outra. Por outro lado, na contracorren-
— “Um Ponto de Memória no Bairro de Terra te, o GBJ se coloca como um território vivo de
Firme” — e a elaboração de uma exposição que um povo que impõe suas vozes, identidades e
retrata o bairro de Terra Firme — “Terra Firme: de visões de mundo.
tudo um pouco”. O Ponto de Memória desenvolve um con-
Atualmente esses produtos percorrem o bair- junto de ações museais e atua no processo
ro e fora dele para divulgar e reconhecer o valor de inventário participativo do território, por meio
do registro e preservação da memória para um do qual já registrou histórias sobre a formação
lugar e ainda mostrar a importância de projetos, da região, os espaços das culturas religiosas de
como o Ponto de Memória de Terra Firme, que matrizes africanas e ameríndias, celebrações,
procuram transformar o bairro de maneira posi- ofícios, modos de fazer, edificações, lugares de
tiva por meio de ações museais. memória, dentre outras diversas expressões
culturais da localidade.
Ponto de Memória do Grande Bom Jardim Além disso, funciona como ferramenta e
(Grande Bom Jardim, Fortaleza/CE) arena estratégica para pautar e discutir ques-
O Ponto de Memória do Grande Bom Jar- tões locais, promover debates, negociar dife-
dim (GBJ) é um lugar de celebração de ex- renças e produzir narrativas coletivas enquanto
periências transformadoras e significativas de reescrituras ou releituras de fatos, de aconteci-
cidadania e valorização das variadas formas mentos e de sujeitos sociais, na perspectiva e
de expressão e modos de fazer da região. É vivência dos próprios moradores.
um instrumento político que tem como ob-
Inventário Participativo
jetivo celebrar lutas, valorizar expressões, sa-
beres, locais e recordar positivamente o lugar,
suas marcas simbólicas e afetivas, com um
projeto de afirmação de identidade territorial e
promoção do desenvolvimento local.
O território GBJ está localizado a sudoeste
da cidade de Fortaleza, capital do Ceará, e é Grande Bom Jardim
composto por cinco bairros (Bom Jardim, Ca
nindezinho, Granja Lisboa, Granja Portugal e
Siqueira) e dezenas de comunidades de per-
Desde o princípio da colocação da proposta apropriação conceitual, numa perspectiva da prá-
do Programa Pontos de Memória pelo Ibram, xis, acerca da memória social e da nova perspec-
Etapa 3
entre outubro e novembro de 2009, por meio tiva de linguagem sugerida, a Museografia comu-
de visita in loco de técnicos articuladores co- nitária, também denominada simplesmente por
munitários e, sobretudo, na I Teia da Memó- nova Museologia ou Museologia Social.
ria, realizada em Salvador/BA, a representação A convocação de vontade coletiva não é ta-
institucional do território Grande Bom Jardim refa rápida, ela requer tempo de maturação.
no referido programa esteve em nome da Rede Mesmo que as ações de difusão e coletiviza-
de Desenvolvimento Local, Integrado e Susten- ção da proposta tivessem começado em ja-
tável (Rede DLIS do GBJ), coletivo mediado e neiro de 2010, em março daquele ano ainda
animado pela ONG Centro de Defesa da Vida não havia uma consistência política com es-
Herbert de Souza (CDVHS). A instância existe pírito de corpo e com uma dinâmica de grupo
desde dezembro de 2002 e, atualmente (2013), suficiente para o território se fazer representa-
é composta por 38 organizações locais, dentre do na II Teia da Memória, por ocasião do Fó-
associações de moradores, organizações não rum Nacional de Cultura, realizado em Forta-
governamentais e equipamentos sociais locais. leza, em março de 2010, no Centro de Cultura
Imediatamente após o retorno dos participan- Dragão do Mar, no Seminário da Prainha e no
tes às bases políticas do Grande Bom Jardim, do Centro Urbano de Cultura e Arte (CUCA). Por
evento I Teia da Memória de Salvador, as ações essa razão, o Ponto de Memória do Grande
de mobilização social local começaram a ser de- Bom Jardim, em sua dimensão institucional,
senvolvidas. O intuito central era a composição não participou ativamente do evento sediado
de uma instância política, com representação de em Fortaleza. No entanto, em virtude das re-
todos os cinco bairros oficiais integrantes do ter- lações interpessoais fomentadas na I Teia da
ritório Grande Bom Jardim (Granja Lisboa, Granja Memória, foram trocadas informações acerca
Portugal, Bom Jardim, Canindezinho e Siqueira), dos procedimentos técnicos e burocráticos
que tivesse a responsabilidade de assumir o de- para viabilizar a formalização da parceria entre
senvolvimento das ações de base do programa comunidades organizadas e Ibram e a execu-
Pontos de Memória no território, com legitimidade ção do projeto: “Desenvolvimento Institucional
de celebração de parceria com o Ibram. No entan- e Técnico-Operacional para Ampliação e Con-
to, no campo da mobilização social não apenas solidação de Projetos Relacionados à Memó-
uma boa ideia é necessária para gerar os sentidos ria Social no Brasil”. Ademais, os próprios ca-
e o compartilhamento dos objetivos, dos dese- minhos legais e metodológicos de condução
jos e das metas. Além de uma boa proposição, e conformação do Programa Pontos de Me-
50 são necessários mediadores locais com respaldo, mória foram um aprendizado que se constituiu
confiança e credibilidade junto aos agentes locais na trajetória. E assim as ações de base para a
a serem convocados, a coletivização da proposta composição do Conselho Gestor continuaram
de trabalho de forma a gerar um senso comum firmes e com mais intensidade que antes.
acerca da importância estratégica da intervenção Entre os meses de abril e junho de 2010,
para o fortalecimento do desenvolvimento local, foram realizadas reuniões periódicas junto a
pela articulação em rede social, e um trabalho de organizações sociais nos bairros Siqueira e
Bom Jardim. Desses encontros se gerou en- local. Além disso, o Ibram estava cercado dos ar-
tendimento coletivo de que o movimento ti- ranjos jurídicos e das estratégias administrativas
nha adquirido as condições necessárias para para formalização de parcerias comunidades-
a constituição da instância gestora da inicia- -Ibram, em parceria com a Organização dos Esta-
tiva de memória social e Museologia Comu- dos Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência
nitária do território. Com esse consenso, foi e a Cultura (OEI), com mais amadurecimento da
formalizada decisão em ata e enviada cópia estrutura técnica de condução do programa nos 51
ao Ibram. Em junho daquele ano programou- 12 territórios pioneiros ou de primeira geração de
-se a realização de uma primeira capacitação forma a respeitar a autonomia política e técnica
de um ciclo de dez formações do Conselho das iniciativas comunitárias em memória ora fo-
Gestor a serem realizadas pelo Ibram, sendo mentadas, e garantir o acompanhamento técnico
a primeira denominada: “Museu, Memória e necessário para o desenvolvimento de inventários
Cidadania”, facilitada por Inês Gouveia com participativos dos bens culturais nos territórios e
participação de Patrícia Albernaz, vinculadas, a geração dos produtos difusores.
respectivamente, ao Departamento de Proces-
sos Museais (DPMUS) e ao Departamento de O processo de construção da metodologia
Difusão, Fomento e Economia dos Museus para a realização do inventário
(DDFEM). No entanto, fragilidades políticas Haja vista o cenário político local conformado
acerca da composição da instância sobres- segundo os pré-requisitos estabelecidos, o outro
saíram-se durante a formação. Então, enca- desafio era a elaboração de uma metodologia
minhou-se interromper o processo formativo de execução dos trabalhos para a consecução
e realizar um novo ciclo de mobilização co- de resultados e produtos, a qual deveria pre-
munitária para o fortalecimento da instância ver a elaboração coletiva de uma metodologia
gestora. Foi planejada, então, uma maratona de execução de um inventário participativo dos
de assembleias comunitárias por bairro, sen- bens culturais locais, com a previsão de geração
do uma em cada bairro oficial, para coletivi- de produtos difusores com viabilidade técnica,
zação da proposta, sensibilização acerca da ou seja, leitura da realidade local, definição da
relevância das temáticas e da estratégia po- tipologia da experiência museal, dos produtos
lítica, enquanto ferramenta e linguagem, para difusores, das ações e forma de execução, com
Inventário Participativo
o desenvolvimento local. Foram definidos três cronograma de execução e orçamento.
assentos por bairro na instância. De fato, as Nos meses de janeiro e fevereiro de 2011, o
cinco assembleias comunitárias foram reali- Conselho Gestor reuniu-se periodicamente, pelo
zadas no mês de julho/agosto, e a instância menos duas vezes ao mês, para a elaboração
levou todo o segundo semestre de 2010 para coletiva da proposta metodológica, conforme
se fortalecer. No final de 2010, o Conselho instrumental. A metodologia de trabalho não fa-
Gestor estava com seu regimento interno ela- cilitou a geração de um produto. Muitas eram
borado e aprovado. as ideias e grande era a vontade de realização,
Havia, portanto, as condições básicas necessá- mas não se gerava um produto, um documen-
rias para dar provimento ao estabelecimento da to escrito. Foi então que se encaminhou a de-
parceria e à execução do programa em âmbito legação da escrita do documento, segundo as
diretrizes apontadas pelo Conselho Gestor, ao ENTIDADE
técnico da ONG CDVHS, Adriano Almeida, in- BAIRRO
Etapa 3
ASSOCIATIVA
cumbido do acompanhamento da instância pela
Associação Espírita São
referida instituição. As diretrizes do Conselho Miguel
Granja Lisboa
Gestor foram: classificação do tipo museológico Associação Cultural Santa
em Museu de Território e Memorial, denominado Granja Lisboa
Terezinha do Menino Jesus
Museu da Memória Territorial do GBJ; método Centro de Defesa da Vida
Bom Jardim
participativo com realização de inventário, com Herbert de Souza (CDVHS)
desenvolvimento de processo formativo; compo- Associação Comunitária e dos
sição de base de dados sobre o território; elabo- Comerciantes do Grande Bom Bom Jardim
Jardim (ASCCOMBOJA)
ração de mapas mentais e confecção de pro-
Associação Comunitária do
dutos difusores. Os produtos difusores definidos Parque Jerusalém
Canindezinho
foram: museu comunitário, site, cartilha e vídeo
Associação Comunitária
institucional. Em menos de um mês de trabalho, dos Moradores Vila Planalto Canindezinho
a proposta metodológica, segundo diretrizes da (ACMVP)
instância gestora, foi apresentada pelo técnico União dos Moradores do Bair-
Canindezinho
responsável, qualificada e validada pelo Conse- ro Canindezinho (UMBC)
lho Gestor, e encaminhada para análise técnica, Associação Comunitária do
Siqueira
diligências e aprovação. Esse processo de aná- Jardim Nazaré
Inventário Participativo
L.C = Linguagem e Coesão (3 pontos) e C.M = ria Alves Carioca, ministrado por um fotógrafo e
Conteúdos e Memórias (4 pontos). professor de Fotografia da Casa Amarela Eusé-
Além do corpo de moradores gestores, o lio de Oliveira, vinculada à Universidade Fede-
Conselho Gestor do Ponto de Memória do ral do Ceará (UFC); e um curso de Cartografia
GBJ, que confere legitimidade política ao pro- Comunitária Temática, de 80 horas, nos meses
cesso, foi composto por uma banca técnica de abril a agosto, ministrada pela estudante de
de seleção, formada por um morador local, Geografia, Edivânia Marques, sob supervisão de
mestrando em História e professor da rede orientador acadêmico.
estadual de ensino, três engenheiros vernácu- Vale dizer que as capacitações supracitadas
los ligados à Universidade Estadual do Ceará tiveram como momento de intercâmbio e prática
(UECE) e um técnico local vinculado à execu- a aula de campo, realizada dia 10 de março de
2012, na comunidade indígena Jenipapo Kanin- Portanto, os pesquisadores foram os responsáveis
dé e no Ecomuseu Comunitário de Maranguape, pela realização de cinco rodas de memória, sendo
Etapa 3
que ficam na Região Metropolitana de Fortale- uma por bairro, no seguinte cronograma de março:
za, respectivamente nos municípios de Aquiraz e Siqueira, dia 19; Granja Lisboa, dia 20; Canindezinho,
de Maranguape. Nessa ocasião, reuniram-se os dia 21; Granja Portugal, dia 22; e Bom Jardim, dia
profissionais especialistas, os moradores pesqui- 23. Participaram diretamente dessas ações de me-
sadores e os conselheiros para observar, analisar mória uma média de 250 moradores. Os pesqui-
e traças perspectivas para a formatação de nos- sadores identificaram moradores com acúmulos de
sa iniciativa museal ao espelho e à avaliação da conhecimentos e de vivências no bairro, aqui deno-
experiência daqueles. minados “Guardiões da Memória”. Estes foram mo-
bilizados, entrevistados e envolvidos no processo de
No geral, quanto ao processo formativo, uma
pesquisa como sujeitos históricos.
avaliação feita foi o demorado tempo dedicado
à formação, gerando certa dispersão em vir- Os moradores pesquisadores, então, sistema-
tude da exigência tecnicista. Esse é um dos tizaram as informações, prepararam e conduzi-
desafios do trabalho participativo: habilitar tec- ram a realização das cinco rodas de memória.
nicamente os sujeitos para o desenvolvimento Esta foi a primeira ação autônoma dos morado-
de um trabalho que é, por natureza, realizado res pesquisadores no trabalho de campo da pes-
sob o olhar do nativo; viabilizar uma desna- quisa, estabelecendo os primeiros contatos com
turalização do olhar sobre os próprios traços os interlocutores estratégicos, identificando tan-
culturais, um convite a ver a realidade e os fa- tos outros a serem entrevistados e coletando as
tos por uma lente de aumento, exagerando-os informações sobre a história do bairro, a partir
do olhar e das narrativas de quem fez e viveu a
para desvendar e destrinchar os sentidos e os
história — os próprios moradores. Os primeiros
significados constituídos socialmente, sendo
grandes achados da pesquisa aconteceram no
os pesquisadores também sujeitos sociais, res-
curso dessas ações por bairro, como, por exem-
ponsáveis pela significação.
plo, a primeira pia batismal da igreja católica do
Outro desafio foi o descompasso entre o tempo bairro do Canindezinho, do início do século XX,
da bolsa, de quatro meses, e o tempo necessário peça incluída no acervo do Ponto de Memória
para a apreensão de informações e a geração de do GBJ. O cronograma das “Ações Museais” de
resultados e produtos previstos. Devemos men- março prosseguiu: dia 24 foi realizado o Seminá-
cionar também o impacto negativo sobre os mo- rio “Território, História e Memória” com o objetivo
radores pesquisadores do atraso de repasse dos central de produção de conceitos comunitários
recursos entre as parcelas. sobre os temas do evento. O evento aconteceu
54 O pontapé do trabalho de campo propriamen- no segundo centro cultural do governo do Esta-
te dito foi a realização das “Ações Museais”, no do do Ceará em Fortaleza, o Centro Cultural do
mês de março de 2012, com objetivo central de Bom Jardim (CCBJ).
divulgação do projeto na comunidade, mobiliza- A atividade teve uma carga horária de oito horas-
ção cultural e fomentar ações de educação para -aula, e foi facilitada em parceria com a comuni-
o nivelamento conceitual das temáticas Memória dade local organizada, com o Projeto Historiando,
e Museologia Comunitária. com representantes da equipe gestora do CCBJ e
com colaborações técnicas, como a do mestre em estadual, reunindo em rede o Ponto de Memória do
Geografia Victor Bento, professor da Universidade GBJ e a Rede Cearense de Museus Comunitários
Estadual do Ceará (UECE). A programação e me- (RCMC). Essa formação foi o momento sublime
todologia foram elaboradas coletivamente em pelo para intervenção militante no processo de desen-
menos três reuniões exclusivas para essa finali- volvimento do inventário participativo e de geração
dade. Participaram 31 moradores. Um dos resul- dos produtos difusores; nela se constituiu a coleti-
tados foi o entendimento comum gerado acerca vização temática na comunidade e se consolidou a 55
da funcionalidade social da memória para clarifi- apropriação conceitual, marcadas pela citação de
car o entendimento acerca de um dos dilemas da José Saramago, lema e crença do Ponto de Me-
comunidade, a indefinição do lugar das fronteiras mória do GBJ: “Somos a memória que temos e a
intermunicipais e apontar possíveis soluções para responsabilidade que assumimos. Sem memória
a maior consequência dessa indefinição: a com- não existimos. Sem responsabilidade, talvez não
petência administrativa sobre os serviços públicos mereçamos existir”. Outro resultado da formação
nas porções territoriais sub judice. foi a inclusão do Ponto de Memória do GBJ na
No domingo, dia 25 de março, foram comemo- RCMC, constituindo assento na comissão de ar-
rados os 60 anos do bairro, com uma programa- ticulação da instância. O evento também recebeu
ção cultural desenvolvida no Centro Cultural do as bênçãos dos ancestrais indígenas, numa dança
Bom Jardim por grupos e artistas locais, entre 14h e sagrada chamada Toré.
Inventário Participativo
metro, oferecido aos moradores presentes.
Entre os dias 27 e 28 de março foi realizada pelo
Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) a capacita-
ção “Museu, Memória e Cidadania”, ministrada por
Mario Chagas: poeta, museólogo, mestre em Me-
mória Social pela Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro (UNIRIO), doutor em Ciências
Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Ja-
neiro (UERJ) e, na época, diretor do Departamen-
to de Processos Museais do Instituto Brasileiro de
Museus (Ibram/MinC). A capacitação foi em nível
A incursão dos moradores pesquisadores aos Modos de Fazer — Saber Fazer; Formas de Ex-
bens culturais por bairro, no território, deu sequên- pressão; Edificações e Lugares de Memória. Con-
Etapa 3
cia pela identificação dos guardiões da memória e tribuiu enormemente para a formatação desse
pela realização de sete entrevistas individuais se- arcabouço conceitual a pesquisa do mestre em
miestruturadas e gravadas em áudio e vídeo. Foram História, João Paulo Vieira Neto.
entrevistados: dona Iolanda Bezerra e dona Iolanda A realização das rodas de memória permitiu a
Lima, ambas pelo bairro Canindezinho; Pai Neto, identificação dos moradores estratégicos a serem
pelo bairro Granja Lisboa; Toinha Linhares, pelo entrevistados e mapeados pela pesquisa. Tam-
bairro Bom Jardim; Dona Eulália, pelo bairro Granja bém, simultaneamente à aplicação dos ques-
Portugal; e Ana do Nazaré, pelo bairro Siqueira. tionários por categoria da pesquisa, eram identi-
Eu comecei a ir pra igreja. Fui me confes- ficados artefatos e documentos interessantes e
sar, o padre Fernando me deu uma penitência relevantes para a história de cada bairro do terri-
que até hoje é que me faz estar nessa luta. tório, cotados para compor o acervo do Ponto de
Essa penitência foi dada pelo padre Fernando. Memória do GBJ.
Ele me deu uma penitência de eu participar
No meio-tempo do trabalho de campo da pes-
das reuniões da comunidade. Quando eu me
quisa também foram identificadas três temáticas
engajei na reunião da comunidade, e aí entrei
na luta, tomei gosto, e até hoje eu estou nessa importantes, que muito explicariam os sentidos e
luta. Quando eu me encontrava com ele, eu trajetos do processo de ocupação territorial e de-
dizia: pense numa penitência! Porque a pe- senvolvimento urbano dos bairros, a saber:
nitência é pra ser de pai nosso, essas coisas 1) ocupações;
pro povo rezar e parar, né! A minha não parou
2) terreiros e barracões: espaços de exercício das
nunca mais, até hoje, isso foi em 1989, e não
culturas religiosas de matrizes africanas e ameríndias.
consigo sair dessa penitência (risos). Pois é, o
que me trouxe a essa vida foi uma penitência 3) territórios e territorialidades: fronteiras, man-
do padre Fernando, que era padre lá da Granja chas e pedaços.
Lisboa, comboniano, que é uma pessoa mara-
vilhosa e que eu adoro. (Moradora, liderança
comunitária e conselheira gestora do Ponto
de Memória GBJ)
A metodologia de desenvolvimento do inven-
tário contou com outro instrumental de coleta
de dados. Foram elaborados e aplicados cinco
questionários estruturados, segundo as catego-
56 rias culturais norteadoras da pesquisa, inspiradas
Grande Bom
no Inventário Nacional de Referências Culturais Jardim
(INRC), do Instituto do Patrimônio Histórico e Ar-
tístico Nacional (IPHAN). As categorias culturais
norteadoras da pesquisa “Inventário Participativo
dos Bens Culturais do Grande Bom Jardim” fo-
ram: Lutas e Resistências; Celebrações; Ofícios e
Para cada uma das temáticas foi lançada mão pais foram "lutas e resistências" e "celebrações",
do recurso de coleta de dados denominado grupo usando-se da linguagem da cartografia social,
focal, entrevista coletiva, segundo roteiro semies- tendo os assuntos sido sistematizados em qua-
truturado, orientada por finalidade. Os encontros dros temáticos por bairro. Os elementos centrais
foram oportunos, para além da coleta de dados, da narrativa são a água, a carnaúba, a terra e os
para divulgação e coletivização do projeto na co- guerreiros. A estética e os conteúdos sistemati-
munidade, para reaproximação das lideranças zados e publicados impressionaram os morado- 57
antigas na militância pela efetivação dos direitos res, os representantes de equipamentos sociais e
sociais, para pactuação política, envolvimento e os parceiros presentes. Os resultados superaram
comprometimento dos moradores participantes as expectativas. Os “Guardiões da Memória”, os
dos grupos focais no processo de construção de moradores convidados e os líderes comunitários
narrativas. Suas visões de mundo e suas interpre- aplaudiram a iniciativa museal comunitária por
tações de fatos históricos foram a tônica das in- seu caráter coletivo e político, além de ratificarem
formações que posteriormente seriam veiculadas. a importância cultural do Ponto de Memória do
Um dos resultados das dinâmicas foi a elabo- Grande Bom Jardim.
ração de mapas mentais sobre as duas temáticas O ato de inauguração do museu comunitário
principais da exposição “Jardim das Memórias”. do Grande Bom Jardim teve considerável reper-
Os moradores participantes espacializaram suas cussão midiática, sendo veiculado nos principais
informações em bases cartográficas, mapas que veículos de comunicação do Estado, dentre jornal
expressam os conhecimentos dos moradores so- impresso, rádio e televisão.
bre seus bairros e denotam o nível de relação afe- A execução do inventário possibilitou o envol-
tiva e vivencial destes com os lugares. vimento da comunidade no entorno de questões
Muitos dos objetos e documentos mapeados caras, oportunizando condições para releituras
pelos questionários e nos grupos focais foram de suas identidades culturais pelo olhar dos mo-
adquiridos com recursos próprios ou doados radores, evidenciando fatos, pessoas e versões
ao Ponto de Memória do GBJ pelos moradores. da história que fazem do Ponto de Memória e do
Alguns constituíram reserva técnica, e a maioria museu comunitário uma espécie de espelho co-
deles foi integrada ao acervo da primeira expo- munitário, ou seja, cada um tem a possibilidade
Inventário Participativo
sição assinada pelo Ponto de Memória do GBJ, de se reconhecer e de se reconstruir na narrativa
intitulada “Jardim das Memórias”, lançada dia 31 do outro. Um dos indicadores dessa identifica-
de agosto de 2012, evento que inaugurou o Ponto ção é a doação espontânea de peças e acervos
de Memória do GBJ. O argumento e a narrativa pessoais de moradores ao Ponto de Memória do
da referida exposição são resultados diretos da GBJ. Os moradores querem ver suas peças no
pesquisa realizada pelos próprios moradores ca- museu, o que convém ser lugar de destaque, lu-
pacitados para essa finalidade. gar de contexto e de produção de textos.
A exposição “Jardim das Memórias” homena- Um dos principais impactos foi a ratificação
geou os moradores que, ávidos por direitos, são ou a consolidação da importância temática e
incansáveis lutadores, lançando mão do arquéti- da linguagem museal pela Rede DLIS do GBJ,
po do guerreiro orixá Ogum. As temáticas princi- que resolveu tomar a memória social e a Mu-
seografia comunitária como um dos seus eixos o Ponto de Memória, que inclua Plano de For-
institucionais de planejamento e intervenção da mação de Plateia, Plano de Captação de Recur-
Etapa 3
instância. Outro resultado foi a definição cole- sos, editoração e publicação de suportes peda-
tiva do argumento narrativo da segunda expo- gógicos e midiáticos de multiplicação e difusão
sição do Ponto de Memória do GBJ intitulada de conhecimentos e de produtos culturais da
“De onde viemos? Grande Bom Jardim: Terra de região (tais como site, vídeos e periódicos com
Todos os Santos”, a qual pretende resgatar seu a sistematização de resultados de proces-
princípio histórico, identificar seus agentes mo- sos), a metodologia aplicada e posições polí-
bilizadores, notadamente os movimentos polí- ticas conceituais. No campo político, fortalecer
a participação nas redes políticas, constituir e
ticos religiosos atuantes nas periferias urbanas
executar agendas programáticas do calendário
brasileiras nas décadas de 1970-1990, buscan-
nacional da Museologia de forma a contribuir
do entender, à luz do presente, as razões daqui-
com a afirmação do campo comunitário, incidir
lo que fez ser o Grande Bom Jardim. na exigibilidade de política setorial em âmbitos
Os próximos desafios da experiência em me- local e nacional.
mória social e Museografia Comunitária do GBJ
são: a criação e manutenção de software de ar-
mazenamento e tratamento de dados; conceber
e executar uma política de sustentabilidade para
58
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Museológicos: reflexões sobre a Museologia, a
Educação e o Museu. Rio de Janeiro: MinC/Ibram,
2008. (Coleção Museu, Memória e Cidadania).
TORO, José Bernardo; WERNECK, Nísia Maria
Duarte. Mobilização Social: Um Modo de Construir
a Democracia e a Participação. Belo Horizonte:
Autêntica, 2004.
Inventário Participativo
Etapa
4
Etapa 4 61
Produtos de Difusão
Produtos de Difusão
seu popular, autogestionário, que reúne lideran- à moradia, a luta pelos espaços de trabalho
ças comunitárias e representantes de diversos e lazer, as brincadeiras das crianças nas ruas
grupos, coletivos e movimentos da cidade, para com seus folguedos, o dia a dia de luta das
pensar e desenvolver ações voltadas à valori- mulheres guerreiras, o burburinho da feira, os
zação das histórias e memórias locais, como catadores de materiais recicláveis, os vende-
meio de transformação e melhoria de qualida- dores ambulantes, os caminhões de lixo que
de de vida no território. trafegam diariamente por suas ruas, dentre
A 20km de Brasília, a vila Estrutural surgiu em outras atividades peculiares que compõem a
meados da década de 1960, a partir de um vida da Estrutural.
1ª Exposição — “Movimentos da Estrutural:
A iniciativa também funciona como um pon-
Luta, Resistência e Conquistas”
Etapa 4
to agregador de movimentos que desenvolvem
projetos socioculturais e de educação po- A exposição “Movimentos da Estrutural: Luta,
pular da cidade, sempre pautados em ações Resistência e Conquistas” foi lançada no dia 21
criativas, solidárias e voltados à melhoria de de maio de 2011, concebida a partir de vários di-
qualidade vida da população local. álogos entre a equipe do Instituto Brasileiro de
Museus (Ibram) e os participantes do Ponto de
Coordenação das atividades Memória da Estrutural. Esses diálogos aconte-
Coletivo da Cidade, Movimento de Educação ceram em reuniões no Ibram e no Ponto de Me-
e Cultura da Estrutural (Mece), moradores que mória. Inicialmente, os participantes do Ponto
não fazem parte desses grupos, moradores de de Memória tiveram a ideia de contar a história
outras cidades do DF. da Estrutural por meio de exposições, dividin-
do-as em movimentos como: movimento da
Produtos de Difusão: cidade, movimento das mulheres, movimento
I – Vídeo da criança, movimento do trabalho, movimento
II – Exposição do acervo no Ponto de Memó- do lixo, movimento das religiões, movimento da
ria e em outros locais. saúde e movimento da educação. A primeira
O critério para a opção de fazer um vídeo ideia era fazer uma exposição que retratasse
foi o resultado do registro das entrevistas orais todos esses movimentos; depois, chegou-se à
realizadas com os moradores pelo Ponto de conclusão de que era um universo muito ex-
Memória da Estrutural. Por meio da elaboração tenso para ser abordado em apenas uma expo-
de um vídeo, os moradores tiveram a oportu- sição e num espaço reduzido. Então, optou-se
nidade de narrar sua história e sua trajetória por apresentar cada movimento em exposições
na Cidade Estrutural, contrapondo com a mí- diversas.
dia local que, na maioria das vezes, conta a A primeira exposição e lançamento do Ponto
história dessa comunidade a partir de uma óti- de Memória da Estrutural poderia ser sobre a
ca deformada, colocando a Estrutural sempre cidade, a conquista e a luta da população para
nas colunas policiais. O vídeo também é uma conseguir permanecer naquele espaço ao lado
ferramenta de divulgação externa do Ponto de do lixão do Distrito Federal, que também fica ao
Memória e da nossa visão de memória. lado do Parque Nacional com diversas fontes
O critério para realizar as exposições foi o fato de de água. Depois de várias reuniões, chegou-se
que essa atividade permite uma divulgação em am- a um consenso sobre o que seria mostrado no
62 pla escala das atividades realizadas pelo Ponto de primeiro produto de difusão, ou seja, a primei-
Memória; além disso, a história da Estrutural é mos- ra exposição. Continuamos com a concepção
trada para os moradores em três perspectivas: local, de movimentos e decidiu-se que seria retratado
regional e distrital. Ao mesmo tempo em que divul- o movimento de luta, resistência e conquistas de
ga as atividades do Ponto de Memória, sensibiliza permanência no espaço, a conquista da água e da
e propicia visibilidade à comunidade, compondo o luz, ou seja, a luta pelo básico da sobrevivência e a
acervo do futuro Museu Comunitário da Estrutural. valorização e reconhecimento da luta dos pionei-
ros da Estrutural. No início a exposição acontece- bemos que no próprio lixão seria inviável. En-
ria em novembro de 2010, mas já era novembro e tão, fomos até o Grupo Sonho de Liberdade, o
ainda estávamos definindo o que expor e o título qual trabalha com egressos do sistema prisio-
da exposição. Era a primeira vez que moradores nal e possui muitos materiais, objetos e móveis
e parceiros do Ponto de Memória produziriam que foram retirados do lixão — um vasto mate-
uma exposição, e isso foi aprendido na prática, rial em seu terreno. Eles cederam objetos que
colocando a mão na massa. Essa atividade foi foram escolhidos pela equipe do Ibram e do 63
uma verdadeira oficina prática de como montar Ponto de Memória, os quais passaram a ser os
uma exposição. Quando descobrimos que já era suportes da exposição. O suporte onde ficou
novembro e só tínhamos resolvido o nome da ex- o texto de apresentação da exposição, um su-
posição, decidimos que no mesmo mês faríamos porte onde foram expostas fotos do cotidiano
um “Café com Memória” e não uma exposição
da Estrutural, um suporte onde colocamos um
— muita coisa ainda havia para ser amadurecida
poema improvisado sobre a Estrutural e seus
e aprendida. Realizamos o “Café com Memória”,
sons. O tambor que simboliza a luta pela água
onde dois moradores antigos falaram sobre suas
foi comprado a dez reais de um carroceiro que
histórias, e o que predominou na fala deles foi
passava na rua. As reuniões no Ponto de Me-
a conquista pelo espaço, água e luz. Confirma-
mos, assim, que era isso mesmo que deveria ser mória foram assim: coleta de objetos no Sonho
retratado. Uma questão foi determinante para de Liberdade, limpeza, lixamento e pintura des-
que adiássemos a exposição: quando decidimos ses objetos, pintura das paredes da casa, con-
como seria importante que os suportes da expo- serto da parte elétrica da casa, pintura do piso,
sição fossem retirados do lixão, sendo reciclados escolha das fotos que comporiam os painéis,
e reaproveitados. O tempo gasto para conceber, busca de pneus que simbolizam o fechamen-
desenvolver, executar e inaugurar a exposição foi to da pista Estrutural no lixão. Um dia paramos
de agosto de 2010 a maio de 2011. Decidido o diante do poste de luz que fica dentro do gal-
recorte que faríamos na história, o tema, o nome pão do Ponto de Memória e nos perguntamos:
da exposição e que aproveitaríamos materiais e o que fazer? Aí veio a ideia do Coracy de que
objetos do lixão, partimos para o trabalho. esse poste simboliza a conquista da luz, o pos-
Ficou decidido que teríamos duas reuniões se- te virou um objeto museal, foi pintado e ficou
manais entre o Ponto de Memória e a equipe ao lado de duas latas pintadas da mesma cor,
Produtos de Difusão
do Ibram — uma reunião seria no Ibram e outra vermelha, com velas em cima das latas. Aí es-
no Ponto de Memória. Dessa forma, ficamos co- tava representada a falta de luz, com as velas,
nhecendo o Ibram e o Ibram ficou conhecendo e a conquista da luz, com o poste. A Simone
o Ponto de Memória, foram descobertas afinida- Kimura, do Ibram, desenhou a exposição de-
des e foram criadas identidades. As reuniões no pois que ela foi concebida em nossas cabeças.
Ibram eram de discussões, concepções e elabo- Foi muito suor e muito trabalho até o dia 21 de
rações. No Ponto de Memória eram reuniões de maio. Depois de muitas reuniões, de conversas
trabalho, ou seja, oficinas práticas. e de tarefas, finalmente a exposição ficou pron-
Com a equipe do Ibram fomos até o lixão ver ta. Foi um grande aprendizado de concepção e
a possibilidade de recolher objetos, mas perce- montagem de uma exposição.
Metodologia Cultura da Estrutural, Marcha Mundial de Mulhe-
res e Universidade Católica. O Ponto de Memó-
Etapa 4
Toda atividade está baseada no diálogo entre os
participantes. Reuniões para discussão da expo- ria é um espaço frequentado mais por mulheres.
sição. Delimitação do tema a ser trabalhado na Além disso, a questão da mulher na Estrutural
exposição. Conhecimento da história local. Entre- é muito séria e problemática; então, resolvemos
vista com moradores. Participação coletiva. Apoio que a 2ª exposição seria sobre as mulheres.
do Ibram. Providências de materiais necessários. Por meio da professora Luiza Monica de Assis
Escolha e seleção de objetos que serviriam de da Silva da Universidade Católica, fomos colo-
suportes na exposição. Recursos da primeira par- cados em contato com a professora Bernadete
cela do Programa Pontos de Memória. Braziliense, que trabalha com seus alunos no
Abertura da exposição “Movimentos da Grupo Captura, e esse grupo fotografou as mu-
Estrutural: Luta, resistência e conflito”. lheres. As fotos foram tiradas durante um mês,
nos quatro finais de semana: passávamos as
tardes de domingo com as mulheres e o grupo
Captura. A professora Bernadete trouxe equi-
pes de maquiagem e fotógrafos e o resultado
foi muito bom. Nosso objetivo era retratar no
mínimo cinquenta mulheres, mas em virtude
de problemas técnicos foram retratadas vinte e
duas mulheres, cada uma com duas fotos. As
fotos selecionadas seriam de mulheres produ-
Fachada da Casa dos zidas, maquiadas, seriam fotos especiais, fotos
Movimentos
que muitas delas nunca haviam tirado. Foram
convidadas mulheres que são antigas na cida-
de, que fazem parte das atividades do Ponto de
Memória, vizinhas ao Ponto de Memória, mu-
lheres jovens, idosas, adultas. A professora Sil-
Oficina de Grafite
mara Kuster, da Universidade de Brasília, do cur-
so de Museologia, doou as molduras e, com as
alunas, a professora Débora Santos e o Ponto
2ª exposição — “Movimentos da Estrutural – A de Memória, montou as fotos nas molduras. As
Mulher e a Cidade” mulheres do Grupo Marias Costureiras confec-
cionaram uma colcha de retalhos onde foram
64 Foram realizadas reuniões para se decidir qual
expostas fotos do processo de preparação da
seria o recorte do tema da exposição. A exposi- exposição e dos bastidores, na sala íntima que
ção “Movimentos da Estrutural – A Mulher e a também expõe roupas, sapatos, ferramentas de
Cidade” é resultado de atividades realizadas no trabalho e pufes feitos de pneus por Terezinha
Pontos de Memória, como aconteceu com muito Santana e Vicente de Paula Sousa. Essa expo-
sucesso o curso “Promotoras Legais Populares”, sição contou com a ajuda de pessoas do Ibram,
em parceria com o Movimento de Educação e mas a participação já não foi como da 1ª exposi-
ção, na qual o Ibram fez parte organicamente da passaram a conhecer como a cidade foi forma-
equipe de concepção, desenvolvimento e mon- da, porque ela é do jeito que é hoje, qual a im-
tagem. Dessa vez, os tecnicos ajudaram nas de- portância da luta dos pais e avós. Para os mais
cisões determinantes de concepções de cores jovens houve o resgate da história e origem do
e de arranjos das fotos, mas não foi de forma lugar que habitam hoje.
sistemática. O convite ao Ibram foi informal e a Para fora da Estrutural houve o reconheci-
ajuda foi mais voluntária do que institucional. mento do secretário de Cultura do DF que foi 65
Percebemos que estávamos mais preparados ao lançamento e gostou muito, o que proporcio-
e foi muito mais fácil. Essa exposição recebeu nou uma parceria e uma ajuda na negociação
apoio financeiro do projeto UnB 50 anos, que com a administração local para a obtenção do
financiou a impressão das fotos, o material de espaço do Ponto de Memória que infelizmente
divulgação, folder, cartazes e o lanche no dia da até hoje não foi conseguido. Houve uma grande
abertura da exposição. A abertura da exposição divulgação por parte da mídia. A assessoria de
contou com a participação do professor Mario Comunicação do Ibram contribuiu para pautar
Chagas, que falou sobre extensão universitária e junto à mídia local — todo o DF ficou saben-
a Museologia Social. do que existe a luta do Ponto de Memória da
Estrutural. A exposição também foi exposta na
Metodologia
Biblioteca Central Universidade de Brasília por
Reuniões para decidir o tema. Participação das ocasião da semana de extensão, tendo 499 visi-
mulheres que já frequentam atividades no Ponto tantes. Analisamos que a exposição valorizou a
de Memória. Participação das instituições parcei- luta dos moradores e mostrou a Estrutural que
ras Universidade Católica, Universidade de Brasília e não é vista pela mídia. Para a Coordenação do
Ibram. Participação de alunos extensionistas. Mon- Ponto de Memória, foi um reforço para animar
tagem da exposição com a participação de todos. todos na luta pela continuidade do trabalho com
o Ponto de Memória.
Estrutural
A 2ª exposição — “Movimentos da Estrutural: A
Mulher e a Cidade” — cumpriu seu objetivo jun-
to às mulheres que foram fotografadas e fizeram
parte da exposição. Elas se sentiram valorizadas,
Produtos de Difusão
muitas disseram que nunca tiveram fotos daquela
Impacto das Exposições forma, suas famílias foram na abertura da expo-
O impacto que a 1ª exposição, “Movimentos sição e também se sentiram valorizadas e reco-
nhecidas. As mulheres que foram convidadas a
da Estrutural: Luta, Resistência e Conquistas”
participar das fotografias, mas que não consegui-
causou foi para dentro da Estrutural. Os mora-
ram participar, se arrependeram e gostaram muito
dores e a administração local perceberam que do que viram. Essa exposição abre espaço para
a proposta do Ponto de Memória era séria e crescer a mobilização em torno das mulheres e
que não vamos desistir. Os mais velhos se vi- para aumentar o debate da problemática das mu-
ram reconhecidos nas fotos, viram que a his- lheres, pode ajudar na luta por suas reivindica-
tória começava a ser contada, os mais jovens ções (como creche e o fim da violência) e pode
contribuir para recuperar a história das mulheres de Educação e Cultura da Estrutural (Mece) que
trabalhadoras e moradoras da periferia, como a faz parte da Coordenação do Ponto de Memória.
Etapa 4
Produtos de Difusão
Hoje reconhecemos sem dúvida que o Ponto de
Memória foi o começo de tudo. A partir dele, tivemos A continuidade das atividades é sem dúvida
a força de conseguir um espaço, mesmo que aluga- um grande desafio, a começar pela aquisição de
do; a partir desse referencial, as ideias foram trocadas, um espaço físico próprio: continuidade do Ponto
as lutas foram travadas, os conflitos foram vividos e de Memória, do Banco Estrutural, da Editora Aba-
os projetos começaram a acontecer. Isso faz lembrar dia Catadora; no entanto, há o desafio de vencer
uma fala da professora Maria Luiza Angelim, que faz os obstáculos que são muitos — financeiros, de
parte do Fórum de Educação de Jovens e Adultos e convivência, de relacionamento, de resolver a so-
que contribuiu para a existência do Mece: “Acredite e brevivência ao mesmo tempo que continuam
marche que o mar vai se abrir, assim como se abriu os sonhos; vencer os conflitos que são imensos,
para Moisés e seus seguidores no deserto”. conflitos dentro do Ponto de Memória e dentro
de cada projeto, conflitos na cidade, com pesso-
as que não acreditam que esses projetos vão dar desenvole diversas frentes de ação, tais
Etapa 4
certo e que tenham a ver com a vida dos morado- como entrevistas para registro de histórias
res, com pessoas que são contra totalmente, que orais, pesquisas, oficinas, bazares. Rea-
optaram por ser contra o povo, que não querem liza inventários de memórias e de mani-
que os projetos construídos pelo povo deem certo, festações culturais em várias linguagens,
pois apostam que os únicos projetos que podem sempre com o intuito de compartilhar os
dar certo são os elaborados e executados pelos conteúdos inventariados de modo instan-
políticos. Porque os projetos que o povo constrói, e tâneo, com instalações de obras de arte,
é dono, são libertadores, então a luta é muito gran- performances culturais ao vivo e ações co-
de para manter esses projetos. O desafio maior é munitárias voltadas para a geração de tra-
fazer o povo acreditar que são projetos dele, que balho e renda.
não tem ninguém por trás, não tem um empre- Outro foco de atuação é o registro da his-
sário rico, não tem um político influente, não vão tória de formação do Pavão, Pavãozinho e
ter de pagar a fatura no final, a fatura do voto, da Cantagalo, do início do século passado até
submissão, do ser usado para outros interesses. os dias atuais, com reflexões sobre sua re-
Os desafios vão desde os conflitos familiares, lação com os bairros do entorno — Ipane-
de grupos, da comunidade, até superação políti- ma, Copacabana e Lagoa. Estuda o território
ca, econômica, andar com as próprias pernas ou, do museu e seus dez subterritórios como
falando mais modernamente, ser autossustentável, pontos de referência para a comunidade,
não ficar refém dos partidos e movimentos institu- levantando, também, os troncos familiares
cionalizados ou dos parceiros governamentais. que compõem a árvore genealógica da lo-
calidade, tais como as primeiras famílias de
Museu de Favela (MUF) migrantes, conhecidas como os Carvalhos,
(Pavão, Pavãozinho e Cantagalo, Rio de Janeiro/RJ) os Pintos, os Sobreiras e os Schuengs.
O Museu de Favela (MUF) foi fundado em Ponto dinâmico de congregação de inte-
2008 por moradores do Pavão, Pavãozinho resses da comunidade, o MUF fortalece o
e Cantagalo, na zona sul do Rio de Janeiro, espírito de coletividade e mostra em diver-
com o propósito de transformar o morro em sas ações a importância de suas memórias
um monumento turístico de valorização da para a história das favelas e das cidades.
memória cultural coletiva. Tem como mis-
O jeito MUF de musealizar: exposições tempo-
são valorizar a diversidade da cultura local,
rárias e seus acervos vivos
expressa no samba, capoeira, dança de sa-
68 lão, forró, rap, grafite, artes plásticas, artesa- O Museu de Favela compreende os eventos
nato, arte popular e também por meio dos que realiza como exposições temporárias. Com-
bares, pensões e construções que mantêm preende também que, para além de uma festa,
a identidade típica de favela. uma celebração ou mesmo uma apresentação,
estas são oportunidades para exercitar o poten-
A céu aberto, é um museu de território
cial de musealização de seus acervos andan-
que reúne cerca de 20 mil moradores e
tes, falantes e emocionantes! Pretende, assim,
por meio de ações integradoras e motivadoras, parte do morro e dos acervos que interagem
experimentar a musealização do seu território, com o morro, compondo, assim, uma experi-
partindo das manifestações vivas e criativas que ência museológica pautada na relação entre
o compõem. A ênfase está exatamente no pro- os sujeitos.
cesso de fomentar a troca e a relação entre os O MUF escolheu como produto de difusão
saberes e fazeres do morro, permitindo que as do projeto Pontos de Memória a “exposição
de lançamento do livro Casas-Tela”. A seguir 69
falaremos dessa experiência significativa para
o museu e para os moradores do território.
Caminhos de vida no Museu de Favela
A devolutiva dos processos empreendi-
dos pelo museu para a comunidade é uma
Casa Tela
das premissas do MUF. Devolver informação,
promover diálogo e construção colaborativa
gerações se conectem e que o diálogo, o co- fazem parte do repertório de responsabilida-
nhecimento e o reconhecimento do território des do museu. Assim, após longa jornada de
possam significar desenvolvimento local efetivo construção do livro Casas-Tela, os moradores
e duradouro pautado no fortalecimento das prá- puderam receber o livro em cerimônia à altu-
ticas culturais. ra de suas expectativas. O registro detalhado
do circuito museal, a partir das pinturas das
Os caminhos percorridos entre as vielas, os
becos, as lajes e os campos revelam a riqueza
Casas-Tela
de nuanças do território. Todos os modos de
vida, as estratégias de sobrevivência, as pos-
sibilidades de integração com o ambiente de
forma comunitária, sem barreiras entre o vivido
e o observado, nos garantem elementos para
a abordagem conceitual das exposições. Parti-
mos da identificação das memórias, das lutas,
Produtos de Difusão
das conquistas e dos desafios para dar corpo,
forma e tema para as mostras. A Museogra-
fia dialoga com a interface provocativa entre
o que é, o que pode vir a ser e o que nunca
mais será numa clara referência temporal. Ex-
perimentamos a musealização dos saberes e
fazeres, das práticas e das vivências, preser-
vando a espontaneidade e a diversidade de
sentimentos, movimentos e expressões. Con-
servamos a dinâmica do encontro e as possi-
bilidades de conexão entre acervos que fazem
casas, foi conferido por moradores que admi-
ravam suas histórias estampadas em páginas
Etapa 4
Produtos de Difusão
No mais, estamos aqui na Base, no morro, pa- des proprietários de terra do antigo Sítio
rando nos becos, mediando o tempo inteiro com o Cercado, dos moradores protagonistas das
morador, um entra e sai de gente que a comunida- primeiras invasões, loteamentos e vilas do
de chega a pensar que estamos “nadando”! Quan- bairro, de pessoas envolvidas nos conflitos
do na verdade estamos “remando” contra a maré, pela posse da terra e dos estudantes do bairro.
ondas gigantes de expectativas de morador, teses As memórias e histórias de luta perpassam
e mais teses de mestrado, doutorado, tudo “ado”! desde a atuação dos desbravadores e proprie-
tários rurais do início do século XX à formação
Assim, importa saber que esse movimen-
das 13 vilas que compõem atualmente o Sítio
to permitiu ao Museu de Favela se reinventar,
Cercado e os modos de vida e questões viven-
a cada novo desafio e a cada nova exposição
nador Marcelo Rocha comenta a importância do
ciadas pela população cotidianamente, como
conteúdo de uma das oficinas da seguinte forma:
Etapa 4
o grande adensamento habitacional, o trânsito
intenso e a violência urbana. Nas minhas anotações, feitas durante a
oficina de Inventário Participativo, estavam
A iniciativa também desenvolve ações jun- algumas questões que nortearam a constru-
to às escolas da região, como, por exemplo, ção conceitual de como seria a exposição:
atividades lúdicas com o intuito de registrar e qual seria o recorte temático? Qual o recorte
divulgar as características do bairro presentes temporal? Como se daria a perspectiva po-
no imaginário dos estudantes. lítica da exposição? Que materiais fariam a
composição do acervo? Como seria a forma
O Sítio Cercado fica na zona sul de Curitiba de expor esse acervo?
e concentra cerca de 150 mil habitantes.
O desenvolvimento do bairro a partir da luta por
moradia foi o tema que o Conselho Gestor esco-
Museu de Periferia: Memórias e Sonhos do Sí- lheu para a construção da exposição. E o local
tio Cercado encontrado para abrigá-la foi a primeira associa-
A exposição do Museu de Periferia foi o ção do Xapinhal: a Associação Nossa Senhora da
ponto alto do trabalho de uma equipe de- Luta, localizada na região central do Sítio Cercado.
dicada, motivada e com um ideal: mostrar a O auditório da associação tinha condições es-
memória de lutas e conquistas da população truturais perfeitas para receber a exposição, possuía
que veio habitar a região sul de Curitiba, no área compatível, com cerca de 80 metros quadra-
Paraná, mais especificamente num território dos, e necessitava apenas de reformas mínimas
chamado Sítio Cercado. nas paredes, mas o problema maior era o pátio de
Como nenhum dos 12 membros do Conse- terra, o qual foi pavimentado com saibro e concreto.
lho Gestor do MUPE tinha qualificação em Foram dois meses de obras civis, hidráulicas
Ciências Sociais, Museologia e muito menos e elétricas, onde cada um exerceu diversas fun-
em Expografia, a esperança de fazer um bom ções e atividades. O coordenador financeiro Pe-
trabalho se fixava na vinda de consultores dro Divino, gerente de loja, atuou como pedreiro.
e museólogos do Instituto Brasileiro de Mu- Marcelo Rocha, técnico em Informática, atuou
seus (Ibram). como servente e eletricista. Palmira de Oliveira,
A oficina de Expografia, ministrada pelo con- técnica de Enfermagem, realizou pintura e lim-
sultor Marcelo Vieira, cenógrafo e cofundador do peza. Paulo Ferreira, soldador, fez serviços de
Museu da Maré, e pela consultora Lavínia San- marcenaria e montagens. Os membros da as-
tos foi dividida em dois encontros. O primeiro sociação Horácio Antonio Santos, Antônio Pi-
72 ocorreu no início de novembro de 2011, onde foi nheiro de Jesus Filho e Ademir Godoi também
construída a maquete da exposição; o outro en- colaboraram na construção e reforma do imóvel.
contro aconteceu um mês depois, onde foram Os conselheiros José Aparecido Paiva e Palmira
montados os painéis da exposição “Memórias e de Oliveira trabalharam intensamente no proces-
Sonhos do Sítio Cercado”. so de pesquisa e descobriram personagens que
Outras oficinas de qualificação também con- puderam relatar com bastante clareza a origem
tribuíram para a formação da equipe. O coorde- do bairro. Um deles é o Padre Bertrant, que es-
creveu uma carta sobre a expansão da igreja nas pomares, a criação e o cultivo da terra. Ainda
comunidades da região e, em paralelo, o padre nesse painel está um mapa da Fazenda Cerca-
descreve sobre a família Cruz, seus descenden- do, datado de 1932, com a divisão da fazenda e
tes, as invasões e loteamentos da região. Outra as partes correspondentes dos herdeiros Isaac,
personagem fundamental foi a Dona Maria de Cesinando e Julia.
Deus (Dona Deuzita); com 81 anos. Ela conce- Outro painel, na cor cinza, representa o longo
deu uma entrevista em sua própria residência — período de surgimento das primeiras vilas, entre 73
uma verdadeira casa-museu, mostrou fotografias as décadas de 1950 e 1990, e que antecede a
e objetos que remontam a história dos antigos fase de invasões. Relatos e fotos de morado-
proprietários da Fazenda Cercado. Paiva e Palmira res antigos foram obtidos como resultado dos
ainda entrevistaram o Sr. Jorge Gonçalves, filho encontros de memória, organizados nos quatro
do capataz de Isaac Ferreira da Cruz. núcleos de pesquisa do Museu de Periferia. Com
Portanto, o ponto de partida ocorreu com os essa ação, além da pesquisa, os participantes
fragmentos das histórias contadas pelos des- puderam transmitir sua história de vida para as
cendentes do Sr. Laurindo Ferreira da Cruz — o novas gerações, conforme entrevista da conse-
primeiro grande proprietário da região, pai de Isa- lheira Arlinda:
ac Ferreira da Cruz e avô de dona Deuzita. Veja bem se seu pai tem uma casa hoje,
pergunte o que é que ele sofreu pra chegar
Os conselheiros Adenival Alves Gomes, Geral-
a esse ponto, eu sempre faço isso com as
do Batista de Souza e Manoel Pereira da Cruz crianças da catequese e as crianças das es-
conseguiram, em suas comunidades, relatos e colas. Pra eles parar, pisar no chão, e ver, tudo
fotos com a realização de diversos encontros é com dificuldade que se consegue as coisas.
comunitários. O tema usado para atrair a partici-
pação foi “O Xapinhal é uma história e você faz
parte dela”. Nessa ação foram conseguidas fo-
tos da década de 1970, dos primeiros conjuntos
habitacionais do bairro, e da década de 1980, da
principal invasão, a ocupação Xapinhal.
Na entrada do museu há um “banner” com in-
formações do Programa Pontos de Memória e
Produtos de Difusão
da exposição “Memórias e Sonhos do Sítio Cer-
cado”, dividida em três momentos: Os Pioneiros
— painel verde e painel cinza; A Luta — painéis Exposição "Memória
vermelhos; A Atualidade — painel azul. e Sonhos do Sítio
Cercado".
No primeiro painel estão as imagens do acer-
vo familiar de Dona Deuzita: do seu casamento
com Santinor, de seus pais (Isaac e Magdale-
na Claudino) e dos avós paternos (Laurindo e
Maria Pereira); da sua infância e de seus irmãos
(Isaíde e Eurides); do cotidiano na fazenda, os
Em 1988 ocorreu a invasão do Xapinhal, apa- pela companhia de habitação, os terrenos foram
rentemente uma invasão como qualquer outra: medidos, as quadras e ruas foram abertas. Nessa
Etapa 4
barracas de lona preta, cordas demarcadoras época, a prefeitura fez a doação de madeira; assim,
dos terrenos e muita gente com esperança. Em foram construídas muitas casas do tipo “meia-
poucos dias, a invasão tomou proporções imen- -água” — casa com telhado de uma caída —; fotos
sas, eclodia a grande ocupação do Xapinhal, mostram os mutirões para construção, reconstru-
chegando a ter mais de três mil famílias, organi- ção e deslocamento das casas nos terrenos.
zadas em oito grupos. As imagens retratam, além da ocupação do
Os dois painéis em cor vermelha narram os movi- Xapinhal, também as moradias 23 de Agosto, de
mentos por moradia, os quais uniram associações 1991, e a realocação do Sambaqui, esta última já
dos bairros Xaxim, Pinheirinho, Alto Boqueirão e no ano de 2004, e que teve grande mobilização
moradores das vilas do Sítio Cercado. As imagens social, frente ao descaso do poder público.
e objetos expostos retratam as pessoas no acam- O depoimento de Daniel, no primeiro Café
pamento, em suas barracas construídas com lona e da Memória, permite uma percepção do dra-
pedaços de madeira. Após o início da regularização ma das famílias:
74 Abertura da exposição
Memórias e Sonhos do
Sítio Cercado
A casa não tava nem terminada, tive que
pegar, a luz foi ‘gato’, foi no miau mesmo.
A água não tinha, pois a Sanepar ia demo-
rar mais um mês, um mês e pouco para
instalar, eu peguei água emprestada pra
mim poder morar.
O terceiro momento está sintetizado no
painel azul, que revela a atualidade do Sí- 75
tio Cercado. A incursão fotográfica feita por
José Paiva e Frederico pelas ruas e avenidas
do bairro reuniram um grande acervo de ima-
gens: do comércio local, das praças, creches,
escolas, igrejas e outros aparelhos sociais.
Muito desse desenvolvimento acelerado foi
consequência das ocupações, o que forçou
o poder público a implantar um grande lote-
amento chamado Bairro Novo, fato que tor-
nou o Sítio Cercado um lugar de diversidade
e oportunidades. Temos a certeza de que o
Museu de Periferia contribuiu para o Progra-
ma Pontos de Memória, mas também se be-
neficiou dele, pois a memória social já existia,
o que faltava eram o estímulo e certa dose
de empreendedorismo social para contá-la.
Esse desejo de memória estava adormeci-
do em nossos corações, latente em nossas
mentes e em nossos arquivos domésticos. O
programa foi fundamental para a realização
desse projeto.
O maior desafio do MUPE é o de manter
Produtos de Difusão
o museu com atividades permanentes e ter
uma equipe para receber os visitantes. Exis-
te o desejo de estabelecer parcerias para
desenvolver projetos com outras entidades,
principalmente na área da educação.
Com tantas deficiências, ainda assim pode-
mos nos orgulhar de ter um museu para cuidar,
transmitir nossos valores, nossas histórias e nos-
sas memórias. E, acima de tudo — em rima —,
garantir cidadania à população da periferia.
Etapa
5
Etapa 5 77
Teias da Memória
Teias da Memória
Etapa
6
79
Etapa 6
Avaliação de uma Metodologia em Museologia Social
Sistematização: Silvana Bastos
A primeira etapa de trabalho foi acerca da junta das principais conquistas e dificuldades
trajetória dos Pontos pioneiros. Apenas os re- encontradas, bem como das principais lições
presentantes dos 12 Pontos foram divididos em aprendidas. Em um segundo momento, um
três grupos, cada qual com 4 integrantes. No relator escolhido pelo grupo apresentou uma
grupo, cada um elaborou uma linha do tempo síntese do trabalho de todos para os demais
sobre o seu Ponto de Memória de origem e grupos, em forma de “carrossel”.
2011 2013
2009 2010
As conquistas destacadas pelos represen- objeto para captação de recursos. Como bar-
tantes do Ponto de Memória do Grande Bom reiras e dificuldades, apontaram a ausência
Jardim foram a concepção da memória como de pessoas da comunidade liberadas para os
instrumento político para firmar a identidade trabalhos; a pouca relação do Ponto com as
territorial; a realização do inventário participati- escolas locais; a pouca transferência de tec-
vo pelos próprios moradores; a memória social nologias sociais por parte do Ibram; conflitos
constituída como mística ao movimento social; de interesses internos durante o processo de
o resgate de agentes comunitários antigos que construção do Ponto de Memória; a fragilidade
estavam afastados; a apropriação temática por de entendimento institucional com o Ibram; e
parte da REDE DLIS; a constituição de um lu- a não efetivação de um plano de intercâmbio
gar privilegiado à voz do morador; o interes- entre os pontos. Quanto às lições aprendidas:
se da rede em elaborar o plano museológico não esperar somente pela política de fomento
comunitário; e a inclusão da memória como do Ibram.
O MUF destacou como conquistas o jeito ausências do Ibram e de outros órgãos pú-
peculiar de musealizar junto à comunidade; o blicos, além da não continuidade de algumas
trabalho comunitário (capacitação do coleti- ações propostas como, por exemplo, a realiza-
vo); a clareza na missão, linha metodológica e ção de algumas oficinas de qualificação para
conceitos-chave do museu. Quanto às dificul- os Pontos Pioneiros.
dades e barreiras encontradas, apontou certas
2012 2013
Início.
Início.
Museu comunitário Lomba Formação do Conselho Gestor.
Formação do Conselho Gestor.
do Pinheiro. Trabalho com Envolvimento das comunidades no
Envolvimento das comunidades no in-
a comunidade. inventário, com ações de pesquisa
ventário, com ações de pesquisa local.
local.
Exposições de roda de
Participação do PM na 3ª Teia no Rio de Janeiro.
memória.
Primavera de museus.
Saberes populares, mu- Futuro dos Pontos de Memória
Exposição de projetos e histórias locais.
seu de rua e educação Estrutura e espaço físico
Ações educativas da memória social de diferen-
para o patrimônio.
tes grupos com temáticas variadas.
Visitas técnicas.
2ª Teia.
Exposição de Chá de Memó- Chá de Memó-
Vários acontecimentos.
fotos; sema- ria; formação ria; formação
Resgate das ações e esforço para reunir todo o registro.
na cultural dos membros dos membros
Lutas por água, calçamento, transporte.
para divulgar do Conselho. do Conselho.
Pessoal da Cultura sempre lutando para conquistas na comunidade.
o museu na Estamos loca- Estamos loca-
Entrevistas com moradores zona sul:
comunidade. dos na internet. dos na internet..
Vila E.; Vila D.P.
possível elaborar uma síntese em conjunto. - Timidez ligada à responsabilidade de ser pi-
Os temas abaixo foram propostos pela rela- loto — não tinha metodologia pronta, foi sendo
toria, apenas para efeito de melhor organiza- construída ao longo do processo;
ção.) - Burocracia emperra processos;
- Não ter instrumento de repasse;
Tema: Relação Ibram — Pontos de Memória
- Mudanças/rotatividade na equipe do Ibram;
- Os processos foram realizados com bre-
- Divergências de entendimento do Programa
chas/vácuos durante a execução (exemplo: dentro do Ibram;
algumas oficinas do Ibram);
- Composição de banco de dados sobre Pon-
- Falta de técnicos da área de Museologia tos precisa ser aperfeiçoada.
nos Pontos;
Tema: Consultores e pessoal local para os
- Termos técnicos utilizados pelo Ibram difi-
Pontos
cultaram o entendimento da metodologia;
- Falta de pessoal com dedicação exclusiva
- Pouco intercâmbio entre os 12 Pontos;
para os Pontos;
- Pouca comunicação com o Ibram — falta - Muita exigência de qualificação para o con-
de experiência; sultor local.
- Pouca proximidade do Ibram com os Pon-
tos; Tema: Outros
- Ausência de mecanismo que articule o co-
- Falta de técnicos do Ibram na orientação,
nhecimento teórico e o saber local;
avaliação e suporte nas ações dos Pontos de
- Redes ainda em frágil articulação.
Memória;
- Dificuldade em participar dos editais do
- Falta de conhecimento técnico museológi-
Ibram;
co nos Pontos.
- Necessária maior integração do Ibram com
- No começo, dificuldade de entender o ob- governos estaduais e Prefeituras municipais;
jetivo e metodologia do projeto. Falta de es-
- Convite à participação de apenas uma pes-
trutura e recurso financeiro; soa por Ponto, nos encontros.
- Distância do Ibram com a Região Sul do - Deve prever a contratação de uma pessoa do
90
país. Proposta: sucursal sul. local para atuar com o consultor do Ibram.
Tema: Infraestrutura Questão 01, formulada para a equipe téc-
- Falta estrutura em dinheiro para os nica do Ibram: Como os 12 Pontos de Me-
Pontos; mória ajudaram o Ibram a cumprir sua mis-
são de trabalhar com Museologia Social?
- A estrutura física falha no local.
Tema: Memória como elemento aglutinador - Amadurecimento e sistematização de uma
- Memória como aglutinadora de diversas cau- metodologia de musealização de base comu-
sas das comunidades; nitária;
- Diversidade: Pontos de Memória são atraves- - Implementação da metodologia inédita
sados por diversas causas sociais e agentes co- construída em parceria;
munitários em torno de um mesmo objetivo;
- Aceitaram o papel de serem pilotos na im-
- Empoderamento das comunidades por meio 91
da Museologia Social; plementação dessa metodologia;
- Legitimou as ações de memória social de-
Tema: Centralidade dos Pontos no debate insti- senvolvidas pelos Pontos de Memória;
tucional sobre Museologia Social
- Concretização de resultados a partir do uso
- Participaram continuadamente da concepção
das diretrizes do programa, a partir de demandas das ferramentas da Museologia Social;
comunitárias nesse processo; - Apontaram a necessidade da construção
- Promoção de um diálogo e de uma aprendi- de uma política de Estado que garanta o direito
zagem conjunta; à memória. Evidenciaram que o campo objeto
- Centralidade dos Pontos para a execução da do projeto (programa) era (é) muito maior e
missão do Ibram na área de Museologia Social; mais complexo do que o imaginado;
- Para abrir e ampliar o debate institucional so- - Elaboração de instâncias de gestão colabo-
bre a importância da Museologia Social (Teia); rativa/participativa.
- Exigiu a reflexão interna sobre o tema;
Encerramento do Encontro
O encerramento do encontro contou com as
presenças da então diretora do Departamento de
Processos Museais (Depmus), Luciana Palmeira,
e do presidente do Ibram, Angelo Oswaldo.
Posfácio
Manuelina Maria Duarte Cândido
Diretora do Departamento de Processos Museais (Dpmus)
Este livro consolida uma memória de um progra- Cooperação com a Organização dos Estados Ibe-
ma fundamental para o Instituto Brasileiro de Mu- ro-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cul-
seus, a partir do registro e da avaliação realizados tura (OEI), conhecido como PRODOC Pontos de
pelo olhar não institucional dos 12 Pontos de Me- Memória, o programa é hoje instado a trilhar novo
mória Pioneiros. caminhos.
O texto que está a sua frente foi, portanto, cons- Nesse momento o Ibram trabalha especialmen-
truído por muitas mãos, como todo o Programa te pelo fortalecimento das redes de iniciativas e
Pontos de Memória, que ao fim e ao cabo identi- Pontos de Memória e Museologia Social, compre-
fica e dissemina metodologias da Museologia apli- endendo que essa articulação é fator fundamental
cadas a realidades muito diversas, mas que têm para as trocas entre as diferentes experiências e
em comum os desafios sociais, o vigor de suas autonomia das iniciativas.
memórias e identidades, os anseios de se verem Fora do Brasil, o interesse pela experiência da
representados no contexto maior da memória bra- nossa Museologia Social de maneira mais ampla e
sileira. Comunidades que, em um movimento de pelos Pontos de Memória em específico é notável.
duplo sentido, inspiraram e foram inspiradas pelas Era fundamental preparar o fechamento do ciclo
96 instituições museológicas brasileiras e pelo Instituto que se encerrará com a finalização do PRODOC,
Brasileiro de Museus a consolidar essas memórias com a realização desta publicação há tanto tem-
como esteio para ações visando a sua valorização, po desejada e planejada, bem como fazê-lo com
empoderamento e desenvolvimento. essas características: um livro com versões em
Integrado com a Política Nacional de Museus e espanhol e em inglês, com tiragem impressa, mas
o Plano Nacional Setorial de Museus e amparado também preparado para divulgação em meio digi-
por muitos anos pela existência de um Projeto de tal, que queremos fazer chegar aos mais diferentes
97
contextos e contribuir para ampliar o debate sobre no Instituto Brasileiro de Museus com essa trajetó-
o papel social e o potencial de inovação da Muse- ria, e muitos dos atores já estão em outros percur-
ologia, as formas de fazer museus e de trabalhar as sos mas deixaram suas importantes contribuições.
memórias. Desejo agradecer a todos eles em nome de um su-
Um livro dedicado a experiências diversas no jeito em especial, o museólogo Mario Chagas, que
campo da Museologia Social não podia deixar de como um militante e mestre da poesia que tam-
ser multivocal. Na América Latina e no Brasil, inú- bém é, soube encantar e inspirar diferentes grupos
meros atores contribuíram para semear lá atrás o sociais a descortinarem o poder da memória e a
que podemos ver florescer agora em nossos mu- ferramenta museu como instrumento de transfor-
seus e Pontos de Memória. Para citar apenas duas mação.
das muitas inspirações, não posso deixar de falar Em nome do Departamento de Processos Muse-
da Mesa Redonda de Santiago do Chile em 1972 e ais do Ibram, convido os leitores que conheceram
do pensamento de Waldisa Rússio, impulsionando um pouco mais dessas múltiplas possibilidades de
os museólogos a serem trabalhadores sociais. construção de memórias e identidades a amplifica-
Agradeço a todos que contribuíram com seus rem-nas em suas práticas, a partir da ideia de “eco-
textos e reflexões, que trazem a público alguns as- logia dos saberes” e de um permanente diálogo
pectos especialmente do início do programa Pon- com diferentes atores. São experiências baseadas
tos de Memória, e que indicam um mote para que nessas premissas e no caráter transformador dos
outras avaliações e registros do programa, bem museus que tanto têm contribuído para apresentar
como das diferentes realidades e experiências dos o Brasil ao mundo como celeiro de uma Museolo-
Pontos de Memória sejam elaborados. Há muitos gia singular, conectada com o presente e necessá-
sujeitos envolvidos tanto nas comunidades como ria para o futuro.
Créditos das Imagens
Ponto de Memória da Grande São Pedro (p. 18-19)
Créditos: Acervo do Ponto de Memória da Grande São Pedro.
Autorização de uso concedida por João Bispo Júnior.
Ponto de Memória Museu do Taquaril (p. 20-22)
Créditos de Imagens: Acervo do Ponto de Memória Museu do Taquaril
Autorização de uso concedida por Leila Regina da Silva.
Museu Social da Brasilândia (p. 24-27)
Créditos das imagens: Acervo do Museu Social da Brasilândia.
Autorização de uso concedida por Leandro Batista e Kleber Silva Júnior.
Museu Cultura Periférica (31-33)
Créditos das Imagens: Acervo do Museu Cultura Periférica.
Autorização de uso concedida por Viviane Conceição Rodrigues.
Ponto de Memória do Beiru (p. 34-35)
Créditos das imagens: Acervo do Ponto de Memória do Beiru.
Autorização de uso concedida por Roberto Freitas.
Museu Mangue do Coque (p.35-36)
Créditos das imagens: Acervo do Ponto de Memória Museu Mangue do Coque.
Autorização de uso concedida por Vanessa Francisca da Silva.
Ponto de Memória da Lomba do Pinheiro (42-43)
Foto 1: Márcia Vargas; Foto2: Ibram; Foto 3: Ibram; Foto 4: Acervo do Ponto de
Memória da Lomba do Pinheiro.
Autorização de uso cedida por Claudia Feijó, Teresinha Beatriz Medeiros e Már-
cia Vargas.
Ponto de Memória da Terra Firme (44-48)
Créditos das imagens: Acervo do Ponto de Memória de Terra Firme.
Autorização de uso cedida por Francisca Rosa dos Santos e Mário Alberto
Quadros.
Ponto de Memória do Grande Bom Jardim (p.49-58)
Foto 1: Acervo do Ponto de Memória do GBJ; Foto 2: Acervo do Ponto de Me-
mória do GBJ; Foto 3: Geovah Meireles; Foto 4: Lavínia Santos; Foto 5: Acervo
do Ponto de Memória do GBJ; Foto 6: Acervo do Ponto de Memória do GBJ;
Foto 7: Acervo do Ponto de Memória do GBJ; Foto 8: Igor Graziano; Foto 9:
Igor Graziano.
Autorização de uso cedida por Neiliane Bezerra, Regina Severino, Ícaro Martins,
Miguel Neto, Adriano Almeida, Raimundo Moreno, Maria Lima e Marileide da Silva.
Ponto de Memória da Estrutural (p.64-67)
Créditos das imagens: Acervo do Ponto de Memória da Estrutural.
Autorização de uso concedida por Caroline Soares, Deuzani Noleto, Coracy
Coelho e Maria de Abadia Jesus.
98 Museu de Favela - MUF (69-70)
Créditos das imagens: Acervo do MUF.
Autorização de uso concedida por Sidney Silva.
Museu de Periferia (73-74)
Créditos das imagens: Acervo do Museu de Periferia.
Autorização de uso concedida por Palmira de Oliveira.
Teias da Memória (p. 77)
Créditos das imagens: Acervo Ibram
Ministério da
Cultura