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Relatório e comentários da observação realizada

Entrevista com “M”

“M” tem 83 anos e é mãe de uma professora universitária de 55 anos. Ela teve um

filho com síndrome de Down que faleceu há muitos anos. Ela é psicóloga aposentada, que

continuou atendendo em consultório particular até 2020. A entrevista foi feita por vídeo

chamada por WhatsApp. Ela se mostrou muito feliz em cooperar com a entrevista. Nos

perguntou a respeito da faculdade, sobre que período estávamos etc. A entrevista transcorreu

muito bem e sentimos que ela ficou muito satisfeita em participar.

1. O que mais mudou na sua vida após os 60 anos?

Pra ser sincera, a minha vida depois dos 60 não mudou. Tenho 83 anos e trabalhei até

o ano passado. Parei em função da pandemia, em março do ano passado. Nem todos se

vacinaram, o Brasil está em atraso. Eu tomei a CoronaVac pela faixa de idade e por ser

profissional da saúde. Eu gosto de atender presencialmente, gosto do “olho no olho'', não

gosto do online. Sempre trabalhei, cuidei da minha vida, mas não posso me arriscar, pois

poucos se vacinaram. Sou síndica há treze anos lá onde tenho meu consultório. Já fui síndica

do edifício em que moro várias vezes. Sou da ação, não deixo para amanhã o que posso fazer

hoje, mas sem ansiedade. Pode fazer outra pergunta, senão fico falando, falando…

2. O que você acha que a maturidade trouxe como aspectos positivos?

Vantagem é que estou agindo, vivendo… Eu trabalho, tenho uma vida muito

dinâmica, gosto de cuidar da casa, principalmente agora que estou sem faxineira, pois não
posso deixar ninguém de fora frequentar minha casa… mas sempre fui assim. Não sinto que

estou mais velha, faço o que sempre fiz.

3. E quais os desafios (aspectos negativos)?

A única coisa que se tem que fazer com mais frequência é cuidar da saúde. Tenho oito

médicos, que cuidam de diferentes partes do corpo. Nesse ponto, Deus tem me ajudado…

Prevenir, né?

Ah, tem. Cada área do corpo tem que ter um médico diferente!

4. O que você faz para se distrair?

Atualmente... sempre gostei de cinema, baile e viagens. Agora, além do serviço da

casa, gosto muito de ler. Eu assino e leio dois jornais por dia e livros que gosto de ler e reler.

Já costurei, mas parei. Gosto de caminhar e agora vou voltar para o pilates, que parei por

causa da pandemia.

Tem preferência por quais livros?

Livros ligados à minha área, que é a Psicologia. Autores que falam coisas boas, como

Augusto Cury, por exemplo. Cada livro que se lê aprende mais, e fica mais embasada para

trabalhar.

5. Quando era jovem, você imaginava a sua vida após os 60 anos?

Não. Quando era jovem, com vinte e poucos, estava casada. Formei no Magistério aos

20 anos e fui trabalhar, fui dar aula. Mas eu nunca pensei em como ia ser. Sempre pensei em

levar uma vida organizada, para não ter problema, tudo em função da minha educação. Pensei

no aspecto financeiro e na saúde. Mas fui vivendo cada momento da vida, sem pensar como

seria.

6. Você acha que a sociedade, de maneira geral, está preparada para lidar com essa

faixa etária?
Nem todos. Vejo pela experiência e pela observação, e não apenas como profissional.

A família não prepara os filhos para isso. Eu acho que eles vivem o “aqui agora” e não

educam. Acho que antigamente, no meio em que eu vivia, percebia isso. Hoje eles deixam o

filho fazer o que quer para não dar trabalho.

7. Como você descreveria sua jornada até o presente?

É. Conforme eu já falei, a minha trajetória inicia com minha educação e com os

valores que recebi, que é gostar de estudar, de trabalhar, de organizar a vida, o lado

financeiro. Tudo isso eu aprendi e me dei muito bem até hoje; e passei isso pra minha filha. A

gente vai passando de geração em geração. Quem dera que todos fizessem isso!

8. E atualmente, como você qualificaria sua vida em termos de satisfação, qualidade de

vida?

Eu me considero satisfeita. Estou na minha casa, já me aposentei, tenho minha vida

organizada… Dos 20 aos 28 anos, dei aula no Rio de Janeiro. Trabalhei 10 anos no

Ministério da Educação no Rio de Janeiro, que era o Distrito Federal, antes da construção de

Brasília. Trabalhei como professora em Levy Gasparian e, mais tarde, como psicóloga em

Três Rios. Tinha um cargo público e mantinha consultório particular. Tive um filho “down”

que faleceu, e meu marido viajava muito em função do trabalho, mas graças a Deus consegui

vencer tudo.

9. Que conselhos você daria para os jovens?

Olha! (risos) Primeiro que pensem no papel na sociedade, estudando, sendo

responsáveis, educados, tanto pela família, quanto pela escola. Que trabalhem para respeitar.

Infelizmente, não é isso que a gente vive. Os jovens só querem levar vantagem. Não é como

antigamente, que preparei minha filha para estudar e ter uma posição. Esse papel, essa

responsabilidade, que é a mesma dos professores, não pode deixar afrouxar, tem que

continuar senão a gente vai ver pessoas que não querem trabalhar, infelizmente...
10. Tem mais alguma coisa que você gostaria de falar? Algo que eu não tenha

perguntado?

Só que o fato de ficar mais velho, acima dos 60 anos, se cuidar e ser um privilégio de

estar vivo. Sou católica e acredito que a gente tem que retribuir pra sociedade. A gente pode

trabalhar, ajudar os outros e ser feliz. Arrumei o meu companheiro, tem 13 anos, eu cuido

muito dele, e ele também cuida de mim. A gente se respeita muito. Ele também cuida muito

de mim e a gente se respeita.

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