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08/10/2019 'Leitura da sentença de Tiradentes' vira atração em Ouro Preto - Gerais - Estado de Minas

'Leitura da sentença de Tiradentes'


vira atração em Ouro Preto
O quadro histórico foi cedido pela Câmara de Ouro Preto por 60 meses e será
exibido a partir de sexta-feira do Museu da Inconfidência, que completa 75
anos. Confira a programação de aniversário

Gustavo Werneck (https://www.em.com.br/busca?autor=Gustavo Werneck)

postado em 06/08/2019 06:00 / atualizado em 06/08/2019 08:26

Com 3,35m por 2,45m, o quadro estava ontem no anexo do museu e será exposto na
Sala da Inconfidência Mineira a partir de sexta-feira
(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)

Bodas de brilhante na terra do ouro. O Museu da Inconfidência completa 75 anos


no próximo domingo, com programação especial (ver quadro) que começa na
sexta-feira e tem um presente especial, nesse dia, para os milhares de visitantes
do equipamento cultural vinculado ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) – só
em julho, foram 32 mil pessoas. Em cerimônia no imponente prédio da Praça

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08/10/2019 'Leitura da sentença de Tiradentes' vira atração em Ouro Preto - Gerais - Estado de Minas

Tiradentes, em Ouro Preto, na Região Central de Minas, será inaugurada a nova


instalação da tela Leitura da sentença de Tiradentes, de Leopoldino de Faria
(1836-1911), pintor oficial da Academia Imperial do Rio de Janeiro. O quadro com
3,25 metros de largura e 2,45m de altura, foi cedido pelo Legislativo municipal ao
museu em sistema de comodato por 60 meses (cessão não onerosa de bem
cultural), com renovação em 2024, informa a diretora interina do Inconfidência,
Margareth Monteiro. A festividade celebra também os 230 anos da Inconfidência
Mineira.
 
Na tarde de ontem, com o óleo sobre tela ainda no anexo do museu, Margareth,
historiadora, explicou que a obra ficará exposta na Sala da Inconfidência Mineira,
no térreo do museu, de frente para forca do suplício de Joaquim José da Silva
Xavier, o Tiradentes (1746-1792), expoente do movimento nas Gerais, em 1788-
89, contra a Coroa portuguesa. E ressaltou que a tela de grandes proporções foi
restaurada com patrocínio da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, responsável
também por uma réplica fac-símile, em menor escala, colocada na parede do
gabinete, na qual ficava a original, da Câmara Municipal de Ouro Preto. A
transferência do quadro para o museu foi aprovada pelos vereadores em reunião
plenária, já que poderia ter mais visibilidade.
 
Ao longo do tempo, a tela passou por quatro intervenções de restauro, sendo a
primeira a cargo do pintor Honório Esteves, em 1900. A última esteve nas mãos do
restaurador Aldo Araújo, que, em 2016, fez uma limpeza na obra. Na sua
intervenção, Araújo recuperou áreas com perda de pigmentação e outras com
craquelês (rachaduras) avançados, resultado, entre outros fatores, de oscilações
bruscas de temperatura e umidade. Há nove anos, conforme registrou o Estado de
Minas, a sala da presidência da Câmara, então com o atual prefeito Júlio Pimenta
à frente, se transformou em ateliê de forma a impedir que o quadro saísse do
local. Com o resultado de agora, afirma a diretora interina, vieram à tona detalhes
da pintura encobertos e efeitos de luz e sombra criados pelo pintor.
 
“A atual intervenção foi feita dentro das normas e princípios da conservação e
restauração restabelecendo a unidade estética do quadro e garantindo, para as
futuras gerações, a permanência de uma obra imponente e importante para todos
os brasileiros”, explicou Margareth, lembrando que, antes de ir para a Câmara, o
quadro pertencia à Assembleia Provincial de Minas, quando Ouro Preto era capital.
Segundo museu do Ibram mais visitado no país – o primeiro é o Imperial de
Petrópolis (RJ) – o Inconfidência recebe cerca de 210 mil pessoas por ano, entre
brasileiros e estrangeiros. Ela chama a atenção para a moldura de pinho de Riga
talhada com finalização em gesso e simbolizando o café, tendo ainda um
coroamento ladeado por dois anjos em estilo barraco e a frase: Homenagem aos

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Mártires da Independência – 1792. “A frase faz referência à independência do


Brasil”, diz a historiadora.

Caminhos da história
A história do Brasil passa, necessariamente, pela Praça Tiradentes, no Centro da
antiga Vila Rica. No edifício erguido em 1785 pelo governador da Capitania de
Minas, Luís da Cunha Meneses, para ser Casa de Câmara de Cadeia, está o Museu
da Inconfidência de portas e janelas coloniais abertas para contar a trajetória de
Tiradentes e conjurados que lutaram pela liberdade; os caminhos do Ciclo do Ouro
nas Gerais; e maravilhas do barroco, incluindo peças de Antonio Francisco Lisboa,
o Aleijadinho (1738-1814) e partituras musicais. Com esse patrimônio, o Museu da
Inconfidência completa 75 anos de conhecimento, memória e arte.
 
Logo em frente do Inconfidência, pode-se admirar um dos cartões-postais mais
conhecidos do país: o Monumento a Tiradentes, escultura em bronze feita em
1894 por Virgílio Cestari e localizada de costas para o antigo Palácio do
Governador, atual Escola de Minas. Depois desse primeiro impacto visual, é hora
de subir a escadaria de pedra, visitar salas e colar os olhos nas vitrines do museu
para um exercício fascinante: aguçar os sentidos e mergulhar numa longa
história. A diretora interina Margareth Monteiro adianta que está em fase final,
conforme determinação do Ministério Público de Minas Gerais, o plano de
gerenciamento de risco, de forma a garantir segurança para funcionários,
visitantes e acervo com aproximadamente 60 mil itens.

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Margareth Monteiro diante do quadro. A intervenção garante 'a permanência de uma


obra imponente e importante para todos os brasileiros', ressalta
(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)

 
No acervo estão documentos dos tempos da Conjuração Mineira (1788/89), como o
sétimo volume dos Autos da Devassa e a edição clandestina de 1778 da
Constituição dos Estados Unidos – em francês, Recueil des loix Constitutives des
États-Unis; peças da forca usadas no suplício de Tiradentes, no Campo da
Lampadosa, no Rio de Janeiro; relógio do alferes e depois mártir do movimento,
de fabricação inglesa, adquirido pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek das mãos
de particulares, em 1953; mobiliário dos séculos 18 e 19; peças sacras; biblioteca;
livros de cartório, entre uma série de preciosidades. Merecem destaque os
manuscritos musicais reunidos pelo pesquisador alemão Francisco Curt Lange
(1903-1997), que salvou da destruição centenas de partituras da música colonial
mineira.
 
O museu foi criado no governo de Getúlio Vargas para receber os despojos dos
conjurados mineiros mortos no exílio na África e repatriados em 1936 – a
iniciativa coincidiu com a passagem dos 150 anos da sentença proferida em 1792
contra os réus da Inconfidência. Em 1942, havia apenas o Panteão com as lápides
dos heróis e dois anos depois o museu ganhou forma sob a direção do historiador

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Raymundo Trindade. Nesse caso, a data comemorava o bicentenário de


nascimento do poeta inconfidente Tomás Antônio Gonzaga.
 
O primeiro acervo foi doado pela Cúria Metropolitana de Mariana. Na sequência
foram compradas peças do antigo Instituto Histórico e Geográfico de Ouro Preto e
depois acrescentados os autos da devassa (processos) referentes aos réus
eclesiásticos envolvidos na Conjuração Mineira. Outra grande aquisição foi o
acervo musical de Lange.
 
Em 2011, a Inconfidência Mineira ganhou finalmente um rosto – na verdade o
único conhecido até hoje de um integrante do movimento. É do conjurado José
Resende Costa (1728-1798), que viveu na Região dos Campos das Vertentes e
morreu no degredo na Guiné-Bissau, África. A identificação dele, de Domingos
Vidal de Barbosa Laje, morto aos 32 anos, e João Dias da Motta, aos 59,
igualmente no degredo, se arrastava havia décadas. A pedido da direção do museu,
pesquisas e reconstituição facial foram feitos na Faculdade de Odontologia da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) pela equipe do professor Eduardo
Daruge. No Panteão, no primeiro andar, os três têm sua lápide ao lado das de
Alvarenga Peixoto, Tomás Antônio Gonzaga, João da Costa Rodrigues, Francisco
Antônio de Oliveira Lopes, Salvador Carvalho do Amaral Gurgel, Vitoriano
Gonçalves Veloso, Álvares Maciel, Francisco de Paula Freire de Andrada,
Domingos de Abreu Vieira, Luiz Vaz de Toledo Piza, José Aires Gomes, Antônio de
Oliveira Lopes e Vicente Oliveira da Mota. O Museu da Inconfidência foi o primeiro
do país instalado fora da faixa litorânea, rompendo tradição que vinha dos tempos
do reinado brasileiro de dom João VI.

Câmara vira ateliê

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(foto: Beto Novaes/EM/DA Press - 12/8/10)

Em 12 de agosto de 2010, o Estado de Minas publicou uma reportagem sobre a tela


Leitura da Sentença de Tiradentes, que, na época, estava sendo restaurada pelo
especialista Sílvio Luiz Rocha Vianna de Oliveira (foto). A fim de evitar que o
quadro fosse retirado da sede do Legislativo, foi montado um ateliê no gabinete do
então presidente da Câmara e hoje prefeito, Júlio Pimenta. Para delimitar os
espaços, foi pendurada uma cortina de voal branco, tecido leve e fino, e, dessa
forma, moradores e visitantes tiveram a oportunidade de presenciar o restauro.
“Trata-se de uma obra de grandes proporções e muito delicada, então decidimos
recuperá-la aqui mesmo, e não transportá-la para um ateliê”, disse o prefeito
sobre o óleo sobre tela, datado do fim do império e de autoria de Leopoldino de
Faria (1836-1911), pintor oficial da Academia Imperial do Rio de Janeiro (RJ). 

Inconfidência em festa
Sexta-feira
» 10h – Inauguração da nova instalação da tela Leitura da Sentença de
Tiradentes, de Leopoldino de Faria (1836-1911), no interior do Museu da
Inconfidência
» Lançamento do selo comemorativo
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» Apresentação da Orquestra da Escola de Música Padre Simões


» Também no interior do museu, haverá a oficina de bordados antigos,
Descobrindo as volutas barrocas, a cargo da Associação das Senhoras Artesãs de
Ouro Preto (Asa) e Movimento Renovador de Mariana

De sexta a domingo
» 18h – Auditório, anexo 1 – Cinema com pipocas – Mostra de filmes sobre Ouro
Preto e a Inconfidência Mineira
» Sexta-feira – Joaquim (2018), direção de Marcelo Gomes
» Sábado – Tiradentes (1999), direção de Oswaldo Caldeira
» Domingo – Os Inconfidentes (1972), direção de Joaquim Pedro de Andrade

Sábado
» 14h – Na frente do Museu da Inconfidência – Apresentação de corporações
musicais

Cronologia
» 1785 – Em 1º de junho, o governador da Capitania de Minas, Luís da Cunha
Meneses, começa a construção da Casa de Câmara e Cadeia de Vila Rica, atual
Ouro Preto
» 1862 –A Casa de Câmara e Cadeia deixa definitivamente o prédio, que passa a
funcionar apenas como prisão
» 1907 –Prédio sofre adaptações para se transformar em penitenciária estadual
» 1938 – Doação do edifício à União, ato formalizado pelo Decreto-Lei 144, de
212/1938. Em 20 de dezembro, é criado o Museu da Inconfidência pelo Decreto-Lei
965 do presidente Getúlio Vargas
» 1942 – Em 21 de abril, é inaugurado o Panteão, para o qual são transferidos os
despojos dos inconfidentes mortos no exílio na África e repatriados em dezembro
de 1936
» 1944 – Em 11 de agosto, Museu da Inconfidência abre as portas sob a direção do
cônego Raymundo Trindade. Data lembra o bicentenário de nascimento do poeta
inconfidente Tomás Antônio Gonzaga
» 2006 – Museu é reaberto com novos projetos museológico, feito pelo ex-diretor
Rui Mourão, que ficou 43 anos no cargo, e museográfico, a cargo do francês Pierre
Catel
» 2009 – Museu da Inconfidência, até então vinculado ao Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan), passa a ser ligado ao recém-criado
Instituto Brasileiro de Museus (Ibram)

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» 2017 – Na gestão da arquiteta Deise Lustosa, o museu ganha bilheteria e


recepção com atendimento bilíngue
» 2019 – Em maio, na gestão da diretora interina Margareth Monteiro, o quadro
Leitura da Sentença de Tiradentes chega ao Museu da Inconfidência para
exposição celebrativa dos 230 anos da Inconfidência Mineira, com a curadoria de
Margareth e Janine Ojeda 

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