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Pós‑Graduação em Educação

Coordenação Pedagógica

Direito Educacional e Políticas


Públicas em Educação

Roberta Ravaglio Gagno


FAEL
Diretor Executivo Marcelo Antônio Aguilar

Diretor Acadêmico Francisco Carlos Sardo

Coordenador Pedagógico Francisco Carlos Pierin Mendes

editora Fael
Autoria Roberta Ravaglio Gagno

Gerente Editorial William Marlos da Costa

Projeto Gráfico e Capa Patrícia Librelato Rodrigues

Revisão Monique Gonçalves

Programação Visual e Diagramação Patrícia Librelato Rodrigues

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FOTOS DA CAPA
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Jos van Galen
Julia Freeman‑Woolpert
Krishnan Gopakumar
Stefan Krilla
Viviane Stonoga

Todos os direitos reservados.


2012
Direito Educacional e Políticas
Públicas em Educação

Resumo

Este artigo busca discutir questões como o conceito tica e participativa só é possível ao conhecer as relações
de política, de democracia e a seriedade da participação de poder existentes nos seus aspectos: político, organi‑
política, bem como a formação e compreensão de polí‑ zando e participando ativamente; social, compreendendo
ticas e programas brasileiros. Verifica a importância da o direito à educação; cultural, conhecendo e valorizando
organização da escola no que se refere ao projeto polí‑ os valores que permeiam as decisões comunitárias; e
tico‑pedagógico, processos de planejamento, avaliação ético, respeitando as diversidades postas.
e gestão escolar para garantir que as políticas públicas
sejam conhecidas na sua íntegra e que realmente garan‑ Palavras chaves:
tam uma educação com qualidade política e cognitiva a
quem é de direito. Conclui lembrando que tomar parte de Direito educacional; Políticas públicas – Educação;
todas as formas de se efetivar a gestão escolar democrá‑ Projeto político‑pedagógico.

1 . Introdução construção de uma escola que atenda às atuais exigên‑


cias da vida social: formar cidadãos capazes de atuar
criticamente na sociedade.
A discussão sobre o direito à educação e as polí‑
ticas públicas remete, de maneira implícita, obrigatoria‑
No entanto, para que a formação desses cidadãos
mente a importantes questões, como democracia, parti‑
ocorra de maneira a propiciar uma sociedade mais justa,
cipação política, cidadania, entre outras. Essas questões
é imperativo que se conheça de forma crítica as leis
precisam ser refletidas no decorrer desse módulo.
e políticas que promovem a concretização do direito à
educação.
Entende‑se que uma sociedade é democrática
pela construção e pela prática da participação política,
Este material pretende discutir questões como o
pela vivência dos direitos por todos os membros dessa
que é política, a democracia e a seriedade da participa‑
sociedade e, principalmente, pela transparência das
ção política, bem como a formação e a compreensão
relações políticas e da participação ampliada e crítica no
de políticas e programas brasileiros. Também será tra‑
processo decisório.
tado sobre a importância da organização da escola no
que se refere ao projeto político‑pedagógico, processos
A compreensão da participação crítica direta e ativa na
de planejamento, avaliação e gestão escolar para garan‑
vida política do meio em que se vive é condição essencial
tir que as políticas públicas sejam conhecidas na sua
para a consolidação de um sistema político democrático. A
íntegra e que realmente garantam uma educação com
escola é uma das instituições responsáveis pela formação
qualidade política e cognitiva a quem é de direito.
de jovens, entendidos como pessoas capazes de assumir

2 . O que é política?
uma função dirigente na sociedade, o que evidencia a rele‑
vância do seu trabalho para o conjunto da comunidade.

No contexto da escola, a promoção de uma gestão Para você, o que é política? É apenas o ato de
educacional democrática também está associada ao for‑ poder votar e ser votado? Ou representa algo a mais na
talecimento da democratização e ao compartilhamento vida das pessoas?
de responsabilidades nas tomadas de decisão entre os
diversos níveis e segmentos do sistema educacional. O cotidiano é marcado pela presença habitual que
referencia a política dentro de praticamente toda a vida
A prática política cria condições e requisitos neces‑ coletiva. Desde que o homem vive em sociedade, é um
sários à democracia e é de extrema importância na ser político, necessariamente, pois está imbricado em
inúmeros relacionamentos e negociações com seus enfoques que privilegiem a discussão da participação
semelhantes. A política está presente nas relações do política e da gestão da educação centrada na perspec‑
ser humano com o Estado, com a participação, a repre‑ tiva democrática torna‑se imperativa.
sentatividade, o poder, a violência e a ideologia. Essas
relações acontecem nos vários momentos da vida dos Cabe esclarecer que o termo “democracia” apre‑
indivíduos, desde um jogo de futebol, no trabalho, no senta vários significados. Neste trabalho vai se utilizar
casamento, em situações de compra e venda, bem o conceito adotado por Gramsci (2004) de democra‑
como no tribunal ou na escola. cia operária, que é diferente do conceito de democra‑
cia burguesa. Esta última tem como ideário o libera‑
De acordo com Maar (1985), a palavra “política” lismo, partindo de um modelo utópico, que se funda
aparece com diversos significados, sejam eles nas na aparência de igualdade sem questionar a realidade
relações da igreja, dos sindicatos, das ações de um social desigual, produzida pelo modo de produção
governo, das empresas, das organizações feministas, capitalista. Nesse modelo, existe a crença de que se
mas principalmente como “referência ao poder político, participa de modo igual aos demais modelos, prin‑
à esfera política institucional” (MAAR, 1985, p. 9). Esse cipalmente no acesso ao sufrágio universal, priori‑
autor destaca ainda que, embora muitas das instituições, zando a quantidade e o exercício formal do voto. Essa
como igreja e escola, não sejam políticas, são institui‑ concepção separa a esfera política da econômica e
ções que fazem política e que sustentam a proposta de defende um Estado sem intervenção na economia.
fazer política, proporcionando um nível de atuação que A democracia operária, segundo a visão gramsciana,
buscam exprimir anseios e interesses. deve operar com vistas ao aspecto qualitativo, desta‑
cando os limites da participação das classes menos
Dessa forma, percebe‑se que não existe uma polí‑ favorecidas no interior dessa estrutura de sociedade
tica universal, mas, sim, várias políticas em conformidade capitalista e construindo as bases de novas relações
com a região, os interesses e os anseios de determina‑ sociais e políticas (GRAMSCI, 2004).
das comunidades. Essa é uma relação dinâmica que se
acontece com a sociedade, a cultura e a ordem social A partir dessa noção de democracia, precisa‑se
vigente. a noção da gestão da escola básica, que não pode
se restringir aos limites de atuação do próprio Estado,
Nesse sentido, um projeto político não autoritário por meio de políticas públicas – promovendo a par‑
de sociedade e de educação pressupõe um conceito ticipação coletiva apenas dos que atuam em seu
de democracia de acordo com o qual se propõe deter‑ interior. Ela envolve principalmente a comunidade, de
minada direção política. Esta, por sua vez, traz implícitas modo que se possa produzir, por parte da população,
noções como cidadania, participação, governan‑ uma possibilidade real de controle democrático do
tes e dirigentes. De acordo com a concepção política Estado no provimento de educação escolar em quan‑
adotada, essas palavras mudam de significado. tidade e qualidade compatíveis com as obrigações
do poder público e de acordo com os interesses da
A prática política cria condições e requisitos neces‑ sociedade. Essa experiência é difícil de se construir
sários à democracia e é de extrema importância na na escola atual, inserida nos limites de uma socie‑
construção de uma escola que atenda às atuais exigên‑ dade capitalista.
cias da vida social: formar cidadãos1 capazes de atuar
criticamente na sociedade. Nesse sentido, a busca de Tal processo requer uma participação consciente e
esclarecida – não alienada e despolitizada – que propi‑
1 No decorrer deste trabalho, o conceito referente à palavra cie o desenvolvimento de princípios fundamentais para
“cidadania” indica aquele que tem consciência dos direitos e dos
garantir a transformação do ensino no país. Urge cons‑
deveres que possui, que participa dos processos decisórios demo‑
cráticos, bem como tem seus direitos básicos garantidos, tanto civis, truir uma escola que promova o exercício cotidiano da
quanto sociais e políticos. A noção de “cidadania” nasce de uma participação política e que vise à vivência da liberdade e
conquista liberal, e aqui é retomada como a participação popular ao pluralismo de ideias. Precisa‑se estimular esse ideal
na gestão pública. Para Adela Cortina (1997), há cinco dimensões
para formar uma cidadania plena: a cidadania política, a social, a para a renovação interna das práticas educativas e para
econômica, a civil e a intercultural. o incentivo da mudança social.

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2.
Salienta‑se que as classes populares precisam se como a prática da democracia possibilitariam a forma‑
conhecer como tais, a fim de elaborar sua própria cultura, ção de jovens capazes de atuar com senso crítico na
condição para seu fortalecimento político. Consequente‑ sociedade, em condições de se tornarem efetivamente
mente, o homem não pode ser concebido isoladamente, dirigentes e de participarem dos processos decisórios
pois é fruto da história e do meio. A formação, portanto, de seu país.
precisa fazer a mediação entre indivíduo e ambiente, já
que é um processo histórico e social e se funda nessas Exige‑se da escola, nesse contexto, uma profunda
relações. Para Gramsci (2004), a escola integra‑se a renovação de métodos e conteúdos, no sentido de
um conjunto de outras instituições que desempenham, torná‑la extensão da vida social, trata‑se de lutar por
para as classes trabalhadoras, a função de elaborar uma uma escola que responda aos mínimos objetivos sociais
nova cultura, como os partidos políticos, as associações renovadores e que discuta problemas concretos, man‑
de cultura, os jornais, etc. tendo uma relação viva com a vida social e política e
proponha novas formas de articular o aprender, o viver
A educação, na sociedade capitalista, é reduzida a e o trabalhar.
uma condição de mercadoria, de propriedade, utilizan‑
do‑se do discurso voltado para a qualidade como um
bem que é conquistado para competir no mercado, e
3 . A democracia no
não como um direito. De acordo com Kuenzer (2001), contexto político
a democratização da educação só é possível com brasileiro
a efetiva democratização da sociedade, a partir do
momento em que os bens culturais e materiais estive‑ A presente reflexão sobre o modo de desenvolvi‑
rem disponíveis em sua totalidade às pessoas. Dessa mento do capitalismo no Brasil é embasada em escri‑
forma, a escola não pode resolver todas as mazelas tos de Holanda (2006), Weffort (1996), Souza (1985),
sociais, mas pode contribuir desenvolvendo uma visão entre outros. Esses autores acentuam que a concentra‑
crítica do processo em que a população está inserida. ção do poder decisório nas mãos do executivo federal,
mantendo a unidade nacional, com esquemas regionais
Na leitura de Saviani (1996), a cultura é um ins‑ de manutenção de poder no campo, evita a participação
trumento indispensável para a participação política das efetiva da maioria da população.
massas. A formação política e cultural fortalece as clas‑
ses populares e as faz compreender os mecanismos A democracia constituiu‑se sem o conhecimento
utilizados pelas classes dominantes. Formam‑se indi‑ efetivo das massas, reduzindo sua participação ao exer‑
víduos ativos, críticos, que podem, de alguma forma, cício do voto sem a clareza do seu significado político,
tornarem‑se críticos frente às situações adversas nas um dos mecanismos para eximir‑se de proporcionar
quais estão inseridos. De acordo com a visão grams‑ uma igualdade social efetiva, prometendo‑a apenas em
ciana, para participar espontaneamente na vida coletiva, discurso. A esse respeito, assim salienta Reis:
o homem precisa de um processo rigoroso de formação
Se houver grande desigualdade social, como
e de disciplina. A educação apresenta uma dimensão
a que existe no Brasil, por exemplo, isso natu‑
política que deve permitir uma promoção do indivíduo ralmente vai significar que diferentes indivíduos
por meio de uma reforma cultural, sem, no entanto, dei‑ estarão controlando quantidades muito desi‑
xar os problemas concretos de lado. guais de recursos na esfera privada, e que
haverá, portanto, um desequilíbrio privado de
Essas ações estão intimamente vinculadas a uma poder que tornará problemático o exercício
efetivo dos direitos políticos e civis. O direito
reforma intelectual e moral que, por meio da filosofia da de votar e ser votado é obviamente afetado
práxis, dá um novo tratamento à aprendizagem, enten‑ de maneira negativa pelo controle desigual de
dendo o conhecimento historicamente produzido como recursos financeiros (REIS, 2002, p. 12).
vinculado, de maneira inseparável, à prática política, à
formação e à luta cultural. Kinzo (2001) também ressalta alguns elementos,
como a pobreza e a desigualdade social, que acaba‑
Essa perspectiva mostra que a consciência polí‑ ram atuando como fatores que constrangem a conso‑
tica, a clareza sobre a noção e as relações sociais, bem lidação da democracia e a participação dos cidadãos

Direito Educacional e Políticas Públicas em Educação

3.
nos ­processos políticos. Esses traços, alguns que vigo‑ marcar a sociedade com a violência, o arbítrio e a falta
ram até os dias de hoje, em conjunto com a cultura do de liberdade política.
patrimonialismo, agem na configuração de uma política
fragmentada, que leva a pouca valorização do coletivo e É importante relatar, de acordo com Codato (2005),
à predisposição ao individualismo, gerando um cenário que, a partir de 1964, os governos militares não admi‑
prejudicial à democracia2 efetiva. Por meio dessa dinâ‑ tiram a criação de um partido que mobilizasse as mas‑
sas; eles cancelaram registros de agremiações pós‑45,
mica, há uma consolidação lenta e gradual do poder do
reorganizando‑as em Arena e MDB (a favor e contra
Estado, que se insere na sociedade. As políticas públi‑
o regime). Esses governos adotaram o regime biparti‑
cas, geradas a partir de projetos desconhecidos pela
dário, que proporciona melhor controle entre aliados e
maioria da população, são mecanismos desse exercício
dissidentes.
de poder.
Com o fim do regime ditatorial, criou‑se a expec‑
Para Weffort (1996), a democracia nasce do con‑
tativa de que, com a democracia, fossem estabelecidos
flito. Acredita‑se que é preciso resolvê‑lo respeitando as parâmetros de respeito aos direitos dos cidadãos, mas o
diferenças. Na realidade, para esse autor a democracia processo gradativo de abertura política frustrou a partici‑
política brasileira é um processo que nunca chegou a se pação da sociedade civil, que se organizava lentamente,
consolidar. E nem haveria possibilidade de isso aconte‑ e orientou a política a favor da liberalização econômica.
cer, pois boa parte da população não recebe os “benefí‑ Dessa forma, a abertura democrática tentou garantir o
cios mínimos do desenvolvimento”. Em tal situação, para estado de direito e reivindicações sociais na Constituição
os indivíduos que estão integrados3, há mecanismos de 1988, mas a garantia dos direitos por parte do poder
efetivos de influência e participação; mas, para os que público para todos os habitantes restringiu‑se porque o
ficam de fora4, há coerção. regime econômico acentuou as desigualdades sociais.
Cabe salientar que, embora o processo de democratiza‑
Para Holanda, “a democracia no Brasil foi sem‑ ção tenha ocorrido por meio desse artifício, avançou‑se
pre um lamentável mal‑entendido. Uma aristocracia com relação à transparência política e lançaram‑se as
rural e semifeudal importou‑a e tratou de acomodá‑la bases para a participação política.
onde fosse possível, aos seus direitos ou privilégios, os
mesmos privilégios que tinham sido, no Velho Mundo, o De acordo com Arturi (2001), o movimento “Dire‑
alvo da luta da burguesia contra os aristocratas” (2006, tas Já” foi a reivindicação mais forte pós‑64 pela demo‑
p.160). cratização do país, dificultando de modo momentâneo
a estratégia política do regime que negociava alian‑
O Golpe Militar de 1964, por sua vez, desvelou o ças com setores do partido governista. Embora tenha
mecanismo de intervenção permanente na vida política falhado na intenção de aprovar, em 1984, o projeto de
brasileira: segundo os militares, veio para combater a emenda constitucional que garantiria a eleição direta foi
desordem, a corrupção e o comunismo, por meio de de grande importância para a concretização dessa luta,
um movimento institucional. Ao contrário, contudo, o que só foi conquistada de 1989. Mais uma vez, a popu‑
fechamento e a concentração do poder em vinte anos lação viu suas esperanças frustradas ao acreditar que,
geraram condições de aumento da corrupção, além de no fim da década de 1980, teria a oportunidade de
discutir, amplamente e com liberdade, as perspectivas
2 Para os liberais, a democracia é um conjunto de normas, da construção de um novo sistema de governo. Tal obje‑
instituições e práticas que promovem o desenvolvimento do ser tivo foi realizado apenas em parte, com a promulgação
humano com liberdade e individual.
da nova Constituição, que, em muitos de seus capítulos
3 Segundo Weffort (1996), os indivíduos que estão integrados
são aqueles que estão dentro como grupos sociais economicamente acabou ainda privilegiando o governo anterior.
dominantes, e outros segmentos organizados da sociedade.
4 Já os que ficam de fora, conforme ainda Weffort (1996), De acordo com Codato (2005), a transição do
são os marginalizados pelas próprias condições sociais, políticas e regime ditatorial militar para o regime liberal democrá‑
culturais, incapazes de se organizar; são aqueles que são objeto de
manipulação política, não como cidadãos, mas como “clientes” sub‑ tico passou por três aspectos: o primeiro, um processo
metidos, quando necessário, à repressão política. de “distensão política”, que foi iniciado pelos militares,

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4.
não por ascensão do movimento popular, mas essen‑ o estabelecimento de uma “democracia tutelada”. Não
cialmente pela intenção militar; segundo, teve natureza, houve, assim, uma ruptura com o antigo regime, mas,
ritmo e objetivos determinados também pelos milita‑ sim, uma transformação gradativa. Além disso, para que
res, e, por fim, procurou resolver problemas internos a consolidação democrática ocorresse, houve arranjos
da corporação. Uma “consolidação democrática” que, institucionais e comportamentais, como uma estratégia
segundo ele, de atores políticos, interagindo com uma estrutura pree‑
xistente política, social e econômica. Foi um governo em
[...] conjugou o presidencialismo como forma
que o presidente não conseguiu atingir a legitimidade
de governo, o federalismo como fórmula de
relação entre o Estado e as unidades subnacio‑ perante a população, um governo como os demais, com
nais (MAINWARING, 1977), a coalizão como movimentos que aparentemente eram reformadores,
a fórmula da governabilidade (ABRANCHES, mas que de fato foram impostos por grupos dominantes
1988) e um sistema partidário fragmentado ou de “cima para baixo”, como afirma Holanda (2006).
(NICOLAU, 1996), pouco institucionalizado
e excessivamente regionalizado (ABRUCIO,
1998) (CODATO, 2005, p.84‑85). A consolidação da democracia brasileira, segundo
Arturi (2001), aponta para duas características impor‑
Mesmo com a mudança de governo, salienta‑se tantes na tradição política do país: a tutela dos militares
que muitos militares se mantiveram no comando, por sobre o sistema político e a utilização da competição
meio de posições estratégicas, ainda que com o forta‑ eleitoral para regrar conflitos entre as elites políticas.
lecimento do presidente da República. Alguns continua‑ Para ele, outros fatores ainda problematizam a ordem
ram, mesmo a distância, a centralizar o poder nas mãos política atual, atrasando a consolidação da democracia.
do Executivo, agindo com o objetivo de os partidos Eram obstáculos ocasionados por fatores sociais e eco‑
políticos manterem suas atividades apenas nos períodos nômicos, que levaram parte da população associar a
eleitorais. Desse modo, garantiriam a sobrevivência polí‑ falências à vigência da democracia, gerando um des‑
tica e a participação no poder após a democratização. crédito crescente.

Segundo Arturi (2001), era a “tutela militar” sobre o A partir das observações de Holanda (2006) sobre
sistema vigente, com o aval das negociatas, para garan‑ a história do Brasil, pode‑se refletir a respeito do pro‑
tir que não aconteceria nenhuma reforma que atingisse cesso de formação dos dirigentes ou gestores, gerada
os interesses econômicos da classe dominante ante‑ da separação entre elites e massas. Retomando pala‑
rior. Essa confiabilidade foi estabelecida com Tancredo vras de um publicista ilust re e do qual não cita o
Neves, morto antes de tomar posse. nome, Holanda acentua:

Até essa época, menos de 20% dos brasileiros A separação da política e da vida social, [...],
atingiu, em nossa pátria, o máximo de distân‑
votavam; em 1980, esse número passou para aproxima‑ cia. À força de alheação da realidade a política
damente 50%. Apenas a Constituição de 1988 permitiu chegou ao cúmulo do absurdo, constituindo
o voto para analfabetos e para menores de 16 anos, em meio de nossa nacionalidade nova, onde
quando quase 70% dos brasileiros passaram a votar5. todos os elementos se propunham a impul‑
sionar e fomentar um surto social robusto e
progressivo, uma classe artificial, verdadeira
Assim, com o término do regime militar e a cria‑ superfetação, ingênua e francamente estranha
ção do Partido da Frente Liberal (PFL), os grupos que a todos os interesses, onde, quase sempre
estavam no poder continuaram no poder, com a dife‑ com a maior boa‑fé, o brilho das fórmulas e
rença que se situaram em outro partido6. Para Zaveru‑ o calor das imagens não passam de pretextos
para as lutas de conquista e a conservação das
cha (1994), o governo de José Sarney contribui para
posições (HOLANDA, 2006, p. 177‑178).

Uma evidência de que esses processos clientelís‑


5 Dados retirados do texto “Movimentos de mudança política
na América do Sul contemporânea”, de Marcelo Coutinho, Revista ticos se prolongaram por anos, mesmo na experiência
de Sociologia e Política número 27, de 2006. de governo democrático pós‑85, é que o Executivo
6 Para Holanda, uma grande tradição brasileira foi que “[...] daquele período funcionou à custa de mecanismos
nunca se deixou funcionar os verdadeiros partidos de oposição,
concentradores de poder, como as medidas provisórias,
representativos de interesses ou de ideologias” (2006, p. 187).

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5.
com arranjos para apoio parlamentar e individual. Isso A formação dos gestores públicos acontece dentro de
resultou, portanto, no distanciamento dos governantes uma estrutura social hierárquica, na qual, muitas vezes,
dos problemas mais urgentes, em troca de comporta‑ prevalece o nepotismo, o que embaraça a compreensão
mentos impositivos com a coisa pública. das relações políticas e dificulta a participação dos cida‑
dãos nas decisões políticas.
Apesar de permitir a participação da população nes‑
ses processos decisórios, garantindo o voto para mais Os países da América Latina, por meio das políticas
brasileiros, a Constituição de 1988 possui muitos proble‑ públicas, vêm tentando reverter um quadro de grande
mas, como a centralização do poder nas mãos do presi‑ deterioração econômica e social, no qual, segundo dados
dente, mesmo no período pós‑ditadura e a autorização de de 2006 da Comissão Econômica para a América Latina
diversas medidas provisórias. Esse fato pode ser atribuído e Caribe (CEPAL, 2006), 83,4% da população vive na
à construção dessa Constituição em um período marcado zona urbana, 89,1% é economicamente ativa, com a
por grande instabilidade política, pela modernização e taxa de desemprego de 10,1%, cerca de 11,1% são
pelo avanço de formas de participação da população. analfabetos e 23,5% vivem abaixo da linha de pobreza.
A partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Os problemas referentes à instabilidade continua­ram, Estatística (IBGE) (2007) – há ainda um grande número
com a eleição do primeiro presidente por voto direto, em de menores no mundo do trabalho, mais exatamente
1989, Fernando Collor, o qual reacendeu o descrédito e a 1.756.114 de crianças e adolescentes. De acordo com
desconfiança dos brasileiros a partir de seus atos políticos. esses dados, observa‑se que 1.545.440 crianças entre
5 e 14 anos não frequentam a escola. Ainda em conso‑
De acordo com Coutinho (2006), essa agenda de nância com os dados do IBGE (2007), cerca de 31,8
reformas era essencialmente liberal e dirigia‑se ao mer‑ milhões de pessoas com mais de 15 (quinze) anos não
cado conforme a visão de redução do papel do Estado têm os quatro primeiros anos de escolaridade; dessas
na economia com um discurso ideológico, em que este pessoas, 2,4 milhões estavam estudando; já as que não
é uma espécie de garantia da legalidade. Nesse con‑ tinham os quatro últimos anos do ensino fundamental
texto, o teor liberal procura minimizar conflitos na socie‑ eram 30 milhões, dos quais 4,2 milhões estudavam.
dade e no mercado. Tal inaptidão estatal está vinculada Esse contexto está vinculado à falta de investimentos
a um mundo em que as fronteiras perdem significado, nas áreas da Educação, Saúde e Segurança, e man‑
situação posteriormente nomeada de “neoliberalismo”7. tém a população trabalhadora distante da vida política; a
concentração do poder nas mãos de elites dominantes
No governo de Fernando Henrique Cardoso, a área
vincula‑se a fatos de corrupção, que levam ao descré‑
econômica continuou sendo priorizada em conjunto com
dito da população, com relação aos representantes polí‑
a área empresarial e o sistema internacional, na busca
ticos e às instituições das quais fazem parte.
por atender aos interesses do mercado, por meio de
políticas de privatização. Houve, também, “redimensio‑ Apesar dessa situação, houve momentos na história
namento” de gastos sociais em áreas como educação, recente do Brasil nos quais a população se mobilizou
saúde e previdência, bem como abertura financeira e para reivindicar direitos e participar. Ainda assim, a rea‑
comercial. Instauraram‑se as bases econômicas e políti‑ lidade econômica e a desigualdade social colocam o
cas necessárias para a integração do Brasil no processo Brasil entre os países que precisam enfrentar grandes
mundial e na política neoliberal. desafios para o seu desenvolvimento.
Na história do Brasil, o processo lento e gradual de Com esse panorama social, torna‑se indispensá‑
passagem da ditadura militar para a democracia liberal, vel analisar formas que propiciem a participação e/ou a
aliado a uma história política autoritária, dificultou a inte‑ organização política em um regime político democrático.
gração das classes trabalhadoras ao processo político.

7 A visão neoliberal é baseada nas leis da oferta e da procura 4 . Participação política


destinadas aos princípios do mercado, onde os indivíduos se rela‑
cionam em função da satisfação de suas necessidades, participando De acordo com o breve levantamento histórico e
do sistema de divisão do trabalho e das competências que este
político realizado, evidenciou‑se que a democracia não
pressupõe (VALDIVIESO, 2003).

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6.
é apenas garantida por meio do voto, e sim pela par‑ estabelece pela via de mecanismos institucionalizados
ticipação efetiva nas várias instâncias de poder. Dessa de consulta à vontade dos governados (opinião pública).
forma, ela não é algo estático, é uma situação que se Esse mecanismo implica uma noção restrita de partici‑
edifica todos os dias a partir da relação com os pro‑ pação política.
blemas que são resolvidos, sendo um processo, uma
organização. Ela é construída pela participação e pela A politização da comunidade é mínima e, muitas
representação da maioria, por onde se estabelece a vezes, não há mecanismos que viabilizem a sua efetiva
liberdade. As ações de participação da comunidade nas participação, mas, sim, processos e estruturas que indi‑
decisões locais ocorrem a partir do exercício em esco‑ cam a dificuldade do enraizamento de um regime mais
las, partidos, comunidades de bairros, etc., de acordo democrático no país. O cidadão é preparado para utilizar
com as necessidades sociais. Deve‑se lutar por essa o mínimo das regras de participação democrática, é for‑
conquista com debates e construção de possibilidades mado para ser individualista; no entanto, os indivíduos e
diversas; o importante é como as opiniões são constru‑ os atores políticos agem também de acordo com suas
ídas e como as decisões são tomadas e não apenas se crenças e ideologias e não apenas por interesses.
é possível votar.
Segundo Dahl (1997), a democratização e o
Nas democracias liberais, tal como explicita Villa‑ desenvolvimento da opinião pública são equivalentes. E,
sante (1997), o legislativo elabora as leis e o executivo para que a democratização seja efetivada, são neces‑
as sanciona e regulamenta. Já o poder judiciário con‑ sárias, em princípio, duas dimensões: a contestação
trola o poder público e as pessoas para que executem pública e o direito de participação. Pode‑se acrescen‑
as normas. tar ainda transparência no trato da coisa pública, que
possibilitaria maior participação da população. Torna‑se
Na construção dessas normas, é conveniente indi‑ necessário, no entanto, ter claro de qual participação se
car outro exemplo do pouco envolvimento da população está falando: daquela vinculada ao voto como estágio
nas questões políticas, ou seja, nas relações estabele‑ superior da participação ou da advinda de uma sólida
cidas entre cidadãos e governantes: a representação formação política e histórica e, portanto, efetiva?
política. Conforme Anastasia e Nunes (2006), entre os
anos 2001 e 2005, a Comissão de Legislação Partici‑ Nas últimas décadas ocorreram alguns avanços
pativa (CLP) da Câmara dos Deputados de Brasília rece‑ com relação à organização política, em função do
beu apenas 362 sugestões legislativas. Destas, 75,9% crescimento econômico e de algumas políticas públi‑
eram referentes a pedidos de alteração ou inclusão de cas, mas acredita‑se que ainda há muito por se fazer. A
proposições legislativas; 22,3% propuseram emendas população está mergulhada em um contexto de cres‑
ao orçamento da união, e o restante, quase 2%, pediu cente desigualdade social, fragmentação e burocracia. A
emendas ao Plano Plurianual e à Lei de Diretrizes Orça‑ pobreza funciona como um círculo vicioso, com meca‑
mentárias. Dessas sugestões, 182 foram apreciadas e nismos que a reproduzem continuamente, por meio do
113 transformadas em proposições e encaminhadas à trabalho infantil, de uma educação precarizada; o traba‑
mesa da Câmara para tramitar na casa. Ainda conforme lho é escasso e cada vez mais exigente com relação ao
os dados, das 113, 53,98% se tornou Projetos de Lei nível de preparo, sendo essencialmente meritocrático,
Complementar, e 22,12%, Emendas ao Orçamento.8 com um sistema de saúde sofredor. Ele constrange a
Acredita‑se, consequentemente, que o aumento da consolidação da democracia e a efetiva participação
capacidade de participação política e de organização da política de todos nos processos decisórios.
sociedade civil significa um aumento das bases demo‑
cráticas. E a relação entre dirigentes e governados se O Brasil, assim como os demais países em desen‑
volvimento, é levado a tomar decisões por meio das
resoluções do Banco Mundial, das Nações Unidas e
8 De acordo com Anastasia e Nunes (2006) estes cinco anos de outras organizações mundiais que apoiam projetos
foram os anos em que a CLP recebeu mais sugestões. Entre elas, promotores de participação da sociedade civil, projetos
aproximadamente metade foi aprovada e metade foi rejeitada. Das
182 apreciadas, nove estavam presentes em outro Projeto de Lei ou de políticas liberais que, em troca, promovem o controle
Emenda. O ano em que foi aprovado o maior número de sugestões da inflação e a liberação comercial e financeira, políticas
(70) foi 2003, com 38 rejeitadas no fim do processo.

Direito Educacional e Políticas Públicas em Educação

7.
de um mundo globalizado, em que as oportunidades convive, de acordo com Gramsci (2004), escola, par‑
para o crescimento se encontram em mãos internacio‑ tidos políticos, associações de bairro, etc. A participação
nais. Segundo Weffort, “as políticas de Estado estão, por nessas instâncias proporciona um maior conhecimento
assim dizer, ‘sobredeterminadas’ pela situação econô‑ a respeito das políticas e de suas interfaces; consequen‑
mica internacional e dependem, portanto, do reconhe‑ temente, mais envolvimento e interesse da população
cimento das influências do capitalismo internacional” nos assuntos referentes às relações políticas e às suas
(WEFFORT, 1996, p. 129). discussões.

Sabe‑se que os partidos estabelecem pactos na É importante, além de tudo, desenvolver uma com‑
construção de leis para que beneficiem ambas as par‑ petência política subjetiva, isto é, uma percepção acerca
tes (dirigentes e órgãos interessados, sejam internos de seu papel no sistema político. Essas pessoas devem
ou externos) e que o governo as interpreta para fazer perceber que, em conjunto, podem influenciar a tomada
funcionar o aparelho administrativo. Cabe aos funcioná‑ de decisões pela política, de maneira a exigir seus direi‑
rios estabelecer contato direto com o cidadão, que, ao tos e lutar pelo bem da coletividade, diminuindo ou eli‑
manifestar suas necessidades, percebe‑se muito longe minando as desigualdades sociais, desenvolvendo uma
das discussões políticas; além disso, esse cidadão tem concepção crítica e coerente de mundo.
também outra possibilidade: a de exprimir suas exigên‑
cias pela opinião pública. É a reconquista desse indivíduo, fazendo‑o reconhe‑
cer que pode solucionar alguns problemas cotidianos e
Para O’Donnell (1991), a democracia atualmente que deve lutar por um mundo melhor para se viver; tal
vivenciada pelos governos latino‑americanos, inclusive situação se coaduna com as formas que intervêm na
o Brasil, é de natureza delegativa. Nela, os governantes participação do indivíduo nas questões do Estado. Essas
eleitos pelo povo, em vez de representá‑lo, utilizam‑se questões têm internalizadas práticas vinculadas a um
de sua posição e privilégios para fazer prevalecer suas regime autoritário, que foi um regime de “supressão da
vontades. Dessa forma, evidencia‑se novamente o liberdade”. Segundo Ferreira (2001, p. 335), “Não há
descrédito e/ou despreparo do cidadão com as rela‑ povo amorfo. Não há massa bruta e indiferente. A massa
ções políticas: ele deixa de se envolver com os parti‑ é formada de homens e a natureza de todos os homens
dos e as instituições políticas e perde sua autonomia é a mesma: dela é a paixão, a gratidão, a cólera, o ins‑
de decisão. Deixa de se envolver e de assumir o papel, tinto de luta e de defesa”.
que lhe é próprio, de um ator social com poderes para
exigir seus direitos, ficando à margem de discussões e De acordo com o histórico de desagregação da
decisões políticas. vida social vinculada aos processos citados, sabe‑se
que sociedades nessas condições dificilmente conse‑
Algumas das condições necessárias para a consoli‑ guem estabelecer políticas participativas ou uma demo‑
dação da democracia são, além da autonomia da socie‑ cracia efetiva; elas promovem apenas a corrupção e a
dade civil que está vinculada à participação, a liberdade ineficiência. As palavras utilizadas por Holanda (2006)
e a igualdade de direitos. ainda se fazem atuais, quando ele afirma que a América
do Sul precisa de revolução, mas não de uma revolu‑
Há a necessidade de se propiciar uma mudança ção horizontal, na qual ocorre apenas um redemoinho
nos processos democráticos e na participação política de contendas políticas, mas de uma revolução honesta,
para a consolidação de uma democracia efetiva, de segundo ele, vertical, que traga à tona elementos mais
modo a ampliar a participação do cidadão na esfera vigorosos, destruindo os elementos antigos.
política, a fim de internalizar valores e normas, a cultura
política na qual se convive. Pode‑se chegar à compre‑ Como se observa, o acesso ao conhecimento
ensão histórica desses processos e às contradições nas político, às estruturas partidárias e à compreensão de
quais estão inseridos. Umas das formas de auxiliar essa como as relações se estabelecem é importante para o
promoção é por meio de uma educação política que aumento da cultura cívica dos cidadãos. Mas, para que
forme cidadãos ativos e livres; isso pode ser realizado não funcionem apenas como manobra a respeito do
pelas várias instâncias sociais em que esse indivíduo projeto neoliberal, devem estar engajados na busca da

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8.
qualidade das relações estabelecidas e funcionar com trabalhadores vendam sua força de trabalho para sobre‑
bases em organizações políticas relevantes, interme‑ viver. Esse autor acrescenta que
diando ações entre a sociedade e o poder público.
O resultado é uma ditadura de facto dos capi‑

5 . Política e educação
talistas sobre os assalariados, quaisquer que
sejam as formas sociais e políticas – como a
democracia – das quais aquela se revestir e
Para que os seres humanos se movam no debaixo das quais se ocultar. Daí a tendencial
tempo e no espaço no cumprimento de sua incompatibilidade existente entre o capitalismo
vocação, na realização de seu destino, obvia‑ como formação social e a democracia con‑
mente não no sentido comum da palavra, cebida, como na tradição clássica da teoria
como a que se está fadado, como sina inexo‑ política, num sentido mais amplo e integral e
rável, é preciso que se envolvam permanente‑ não tão‑somente em seus aspectos formais e
mente no domínio político, refazendo sempre procedimentais (BORON, 2001, p. 7).
as estruturas sociais, econômicas, em que se
dão as relações de poder e se geram as ideo‑ Há, portanto, uma negociação de compra e venda
logias (FREIRE, 1995, p. 10‑11). que transforma esses indivíduos em mercadoria. No
sistema capitalista, tal mercantilização do ser humano
O processo de globalização modificou as relações
mantém a relação entre governantes e governados.
de trabalho no decorrer das décadas, gerando novas
exigências de profissionalização, o que desencadeou a Para Gentili (1997), o capitalismo mostra uma ten‑
fragmentação do saber, mudanças na teoria social e a dência a mercantilizar (inclusive) a consciência humana
perda da dimensão política nas relações de trabalho, nas (individual e coletivamente). As relações mercantis são
quais se inclui a atividade intelectual. introjetadas nos pensamentos e nas culturas, levando as
pessoas a acharem que isso é comum e levando a “pro‑
Essa fragmentação responde às necessidades
duzir consciências”. A educação, atualmente, obedece
geradas pela estrutura econômica. Dessa forma, o
a esses critérios da meritocracia e da competitividade,
neoliberalismo utiliza estratégias que transferem para a
assim como é referendada apenas nas leis mercadoló‑
sociedade civil a responsabilidade para com a escola
gicas, conforme Gentili
pública, ao aplicar uma política de descentralização de
forma impositiva, reformulando as políticas de massas Ainda quando ideologicamente precisa ser
e para as massas. A educação, no âmbito do neoli‑ apresentado como norma de igualdade (já que,
beralismo, é reduzida a uma condição de mercadoria, aparentemente, permite a mobilidade social
em função de certos atributos que o indivíduo
de propriedade, utilizando‑se do discurso voltado para joga e conquista ‘livremente’ no mercado), o
a qualidade como um bem que é conquistado para princípio do mérito é fundamental e basica‑
competir no mercado, e não como um direito de todos mente uma norma de desigualdade (OFFE,
igualmente. 1976; LO VOLO, 1993). Com tal consagra a
divisão social dualizada, ao mesmo tempo que
a transforma em uma meta a ser conquistada
De acordo com Boron (2001), o neoliberalismo
(1997, p. 234‑235).
reestrutura o capitalismo em quatro dimensões, uma é
a tendência à mercantilização, transformando as garan‑ Nesse sentido, a noção de cidadania é repassada
tias populares em serviços que podem ser adquiridos sem a preocupação de apresentar um teor democrático,
no mercado. Outra dimensão destacada por ele é a rejeitando os direitos sociais e políticos e valorizando
satanização do Estado em favor do mercado. A terceira uma suposta promoção pelo êxito individual e meritocrá‑
dimensão é a criação de um senso comum neoliberal, tico. Assim, para Gentili (1997), o neoliberalismo impõe
que transforma todas as agruras em fatores normais políticas antidemocráticas, desintegrando culturalmente
da sobrevivência. E, por último, o convencimento de a existência do direito à educação e transformando‑a
diversos segmentos da sociedade de que não existe em uma mercadoria para ser negociada e vendida para
alternativa. Dessa forma, o “capitalismo democrático” se as classes que podem pagar por ela.
transforma em “democracia burguesa” (Boron, 2001, p.
20‑21). Nesse sistema, as relações sociais giram em A educação está inserida nessa sociedade merito‑
torno da exploração do trabalho, fazendo com que os crática, competitiva, individualista e mercadológica. Ela

Direito Educacional e Políticas Públicas em Educação

9.
faz a mediação entre o conhecimento científico, o senso contemporânea, o confronto de interesses opostos con‑
comum e a prática social. É por meio desse conheci‑ tinua existindo e bloqueia uma vivência a partir de novas
mento adquirido que as classes populares obtêm condi‑ concepções de mundo, processo que é acentuado com
ções de enfrentar uma luta para modificar sua condição o desenvolvimento da globalização e o fracasso das
de modo igualitário e potencialmente justo. Nesse sen‑ experiências socialistas.
tido, ao conhecerem as relações históricas e o que é
produzido a partir delas, pode‑se promover a mudança. Evidencia‑se, portanto, a necessidade de refletir
Para Saviani, “uma teoria é prática na medida em que sobre os aspectos capitalistas e liberais da sociedade
materializa, através de uma série de mediações, o que atual. A educação deve corroborar esse processo de
antes só existia idealmente, como conhecimento da reflexão, proporcionando a elaboração da consciência
realidade ou antecipação ideal de sua transformação” crítica e coerente com a realidade histórico‑social.
(1996, p. 83). Significa, então, que a educação não
pode se justificar por si mesma. A análise das contradições existentes pode e
deve inserir, nessa discussão, sujeitos interessados em
É por meio dessa educação, que não se justifica conhecer e modificar sua condição, que busquem a ver‑
por si, mas que é voltada para o governo do povo de dade por meio da práxis, de interações dialéticas entre
forma real, que se atinge a igualdade política. A prática governantes e governados, com o intuito de construir
educativa apresenta um grande papel para a democrati‑ um “organismo social com dimensões ético‑políticas”
zação da sociedade, quando é encarada como “a natu‑ (SEMERARO, 2003, p. 28‑29).
reza própria do trabalho pedagógico” (SAVIANI, 1996,
p. 88). Dessa forma, a práxis humana é tida como o espí‑
rito criador; é a organização coletiva necessária brotando
Diante dessas inúmeras dificuldades, observa‑se de um projeto ou de objetivos a serem alcançados.
claramente que a escola não pode resolver todos os Justifica‑se, portanto, a importância de dirigentes para
problemas que assolam a humanidade, mas pode auxi‑ todas as classes.
liar no processo de desenvolvimento da participação
entre os seus estudantes, promovendo uma educação Entende‑se atualmente que o pensamento de
crítica e com qualidade política. ­Gramsci é de fundamental importância, já que ainda se
vive em um mundo pautado por ideias capitalistas, pela
De acordo com Kuenzer (2001), fica evidente que a luta constante por poder e por hegemonia. A escola
democratização da educação só é possível com a efetiva consegue realizar sua tarefa à medida que cumpre o
mudança estrutural da sociedade, a partir do momento objetivo mínimo de alfabetizar e, em seguida, de gerar
em que os bens culturais e materiais estiverem dispo‑ as possibilidades tanto de formação para o trabalho
níveis às pessoas em sua totalidade. Esse objetivo, que quanto de acesso à cultura tradicional a todos os indi‑
parece distante pela dificuldade da organização coletiva víduos de uma sociedade. Uma escola nesses moldes,
dos trabalhadores, é indispensável nas transformações para os trabalhadores, precisa contribuir para a forma‑
para formar indivíduos “eticamente desenvolvidos e poli‑ ção da individualidade desenvolvendo não só as capa‑
ticamente comprometidos com a construção da nova cidades necessárias para desempenhar uma função no
sociedade” (KUENZER, 2001, p. 56). modo produtivo, mas para a participação política em
ações eficientes para a vida coletiva e não como habitu‑
Da necessidade de superar o modelo capitalista almente ocorre de reproduzir as desigualdades sociais e
surge a necessidade da prática de uma nova forma de de acentuar as desigualdades escolares.
as pessoas conviverem. Trata‑se de meios que devem
surgir nas sociedades modernas e deles podem nas‑ Exige‑se da escola, nesse contexto, uma profunda
cer dirigentes, se for levado em conta o pensamento renovação de métodos e conteúdos, no sentido de
gramsciano. Dirigentes modernos que analisam as situ‑ torná‑la extensão da vida social. Trata‑se de lutar por
ações, de maneira crítica, que percebem as diferenças uma escola que responda aos mínimos objetivos sociais
e as relações do cotidiano, portanto são conscientes renovadores, que discuta problemas concretos, man‑
dos limites e do compromisso político. Na sociedade tendo uma relação viva com a vida social e política e

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10.
que forneça subsídios para a busca de uma hegemonia Severino (2005), a educação não é uma alavanca para
no meio das classes que mais precisam. Somente com a transformação social, pois está também interligada
a discussão desse problema concreto, quando o profes‑ a aspectos econômicos. Ela pode auxiliar o indivíduo
sor conhece a realidade de que provém cada aluno e, nesse processo, aguçando a consciência reflexiva,
ao mesmo tempo, conhece o contexto social e político denunciando criticamente e negando a legitimidade
no qual ambos (professor e aluno) estão inseridos, é que dessas relações, por meio de um discurso contrário à
se pode efetivamente construir uma nova hegemonia, ideologia, enfim, promovendo uma nova concepção de
propondo novas formas de articular o aprender, o viver mundo. Esse processo pode acontecer em conjunto
e o trabalhar. com a disseminação do saber e com a transmissão
dos bens culturais da humanidade, socializando a infor‑
A escola não está preparada para solucionar mação e assim gerando uma nova cultura.
problemas que não são de sua alçada, por exemplo:
pobreza, exclusão, desigualdade social, etc. Esses Por esse motivo, os dirigentes precisam compreen‑
problemas interferem no funcionamento da escola, na der‑se como sujeitos. A luta política e as novas relações
produção do conhecimento, no relacionamento entre democráticas implicam o acesso de todos ao conhe‑
alunos e professores. cimento historicamente produzido, pois o pensamento
dialético permite enfrentar o domínio político cultural,
Nesse contexto, são imprescindíveis dirigentes que que, no seu processo de constituição, para ser demo‑
lutem por seus direitos e pela emancipação, para exer‑ crático, exige o protagonismo das massas, para a exe‑
cerem uma função de orientação da sociedade, dentro cução de um projeto revolucionário.
de um processo democrático possível e estabelecido
em prol da maioria da população que vive à margem O professor, no contexto escolar, é fator essencial
da sociedade. Dirigentes com uma práxis voltada para para a promoção de um sujeito histórico, com conheci‑
questionar certos valores, que desembocam em deter‑ mentos formais e políticos de um indivíduo que exerça
minada ação política. Para Gramsci (2004), já no início sua condição política cotidianamente, imprescindível
do século havia um esvaziamento do debate público, para a democratização da sociedade, e não àquele que
uma desinstitucionalização da política. Essa situação a exerce apenas em dias cívicos ou em movimentos
tomou grandes proporções na contemporaneidade, esporádicos.
principalmente no fenômeno da passividade política.
Com base nesse conhecimento, observou‑se a impor‑ O trabalho do dirigente consiste em contribuir para
tância de educar as massas. superar a visão de senso comum9 sem esquecer os
problemas concretos que permeiam sua existência e
Para Severino, estimular o pensamento e a ação para a vivência integral
do jovem no contexto da sociedade.
O saber acaba levando ao questionamento das
relações sociais, mediante um processo de A construção democrática do trabalho escolar
conscientização do real significado das rela‑
deve ser realizada a partir da realidade das crianças e
ções enquanto relações de poder, revelando
inclusive a condição de contraditoriedade que percebida em seu todo, sobretudo na relação com sua
as permeia. Assim, a educação acaba atuando, comunidade com a diversidade social e cultural, com as
efetivamente, no sentido da formação política diferenças econômicas e políticas, levando‑as a supe‑
das classes dominadas, como ao nível de sua rarem o senso comum e a desenvolver a consciência
instrumentação para a práxis política mais ade‑
quada (2005, p. 52).
crítica, científica e filosófica.

Portanto, se a educação atua na reprodução das Antes de tudo, para a sustentação de uma estru‑
relações econômicas e sociais, pode atuar no cami‑ tura democrática, devem‑se formar dirigentes, homens
nho inverso, o da superação das relações de domi‑ livres, capazes de argumentar, discernir, de se indignar
nação. É importante que a educação se desvincule
9 Quando se fala em senso comum, quer se dizer que é uma
do papel que lhe é atribuído, de ser apenas um meio visão da realidade baseada em fatos cotidianos, sem relação com o
para a progressão social ou com vistas ao lucro. Para conhecimento científico e teórico.

Direito Educacional e Políticas Públicas em Educação

11.
criticamente, que tenham consciência de seus limites e São decisões e ações direcionadas por um governo
de suas obrigações. ou por um Estado que estão carregadas de interesses
e ideias. Teoricamente, compreende‑se que as políticas
Aqueles que buscam as relações, que amparam públicas deveriam visar o bem‑estar coletivo da socie‑
verdades habituais e razões tácitas, desnudando a dade, e não atender a interesses particulares de grupos
diversidade, revelando verdades incontestes, esses são ou facções.
importantes para a vida política. Na sua função, buscam
alimentar ou desmistificar o aparelho produtivo e ideoló‑ De acordo com Fernandes, as políticas públicas se
gico, superar dificuldades e incoerências que envolvem manifestam em duas dimensões, a serem observadas
o trabalho intelectual, por meio do exercício da participa‑ a seguir.
ção, a fim de construir o sujeito ativo; enfim, lutam pela
expansão dos direitos e pela democratização do poder. [...] costuma‑se pensar o campo das políticas
públicas unicamente caracterizado como admi‑
nistrativo ou técnico, e assim livre, portanto do
Dessa forma, há uma relação de reciprocidade aspecto “político” propriamente dito, que é mais
entre os que aprendem e os que ensinam. Para ­Gramsci evidenciado na atividade partidária eleitoral. Este
(2004), a intelectualidade é uma função coletiva e é uma meia verdade, dado que apesar de se
dialética, tendo como base de formação do dirigente tratar de uma área técnico‑administrativa, a
esfera das políticas públicas também possui
o mundo do trabalho, da ciência e a visão política. O
uma dimensão política uma vez que está rela‑
trabalho de formar dirigentes deve atender às classes cionado ao processo decisório (2007, p. 203).
populares, que estão despreparadas para participar poli‑
ticamente das decisões de forma eficiente e crítica. Portanto as políticas públicas devem ser pensadas
pelo coletivo da população, de modo a garantir que um
De acordo com Gentili (1997), devem‑se excluir projeto de sociedade e humanidade seja conquistado.
alguns princípios vazios de justiça e de igualdade, que‑
brando a “lógica do senso comum”, e redefinir outro As políticas públicas são, portanto, ações e decisões
por meio da educação. Trata‑se de uma atitude a ser tomadas por determinada esfera social com vistas ao
desenvolvida como uma prática de libertação, por meio alcance de objetivos e realizações em comum, seja no
da reflexão livre, de um sujeito autônomo que objetiva campo social, econômico, educacional, de segurança,
a emancipação política que lhe possibilita decidir sobre previdência, habitação, saneamento, saúde, por exemplo.
seu próprio destino e auxiliar na construção de uma Essas ações devem atingir todas as camadas da popula‑
nova sociedade mais justa e democrática. ção. As políticas públicas são projetos de um governo ou
preferencialmente de um Estado, implantados por meio
A escola pública que está inserida neste contexto de ações e programas voltados para setores particulares
pertence ao Estado, à sociedade política, mas engloba e da sociedade. São responsabilidades estatais que devem
internaliza os problemas da sociedade civil. Deve‑se ter obrigatoriamente envolver agentes da sociedade e
claro que a participação motivada nas escolas precisa órgãos públicos relacionados à política a ser implantada
perceber que o Estado não é um inimigo a ser con‑ nas discussões e decisões a serem tomadas.
frontado.
De acordo com o programa Formação pela Escola
6 . Políticas públicas do Mec (BRASIL, 2006), são aspectos comuns do con‑
ceito de políticas públicas:
Até aqui muito se discutiu a respeito de políticas,
formação do cidadão, democracia, sobre a participação xx atividades do governo ao longo do tempo;
política e a formação de dirigentes. Percebeu‑se, até xx medidas tomadas pela sociedade política para
então que o processo político é uma ação dinâmica e realizar um projeto de sociedade;
que exige dos cidadãos a consciência crítica e reflexiva.
xx intenções que dirigem ações de um governo
Também desse modo ocorre o processo das políticas
na busca de soluções aos problemas públicos,
públicas.
de atendimento a demandas vindas de grupos
Mas o que são políticas públicas? específicos da sociedade.

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12.
7 . Direito à educação Consequentemente, o estudante, como cidadão,
pode se desenvolver, não apenas como massa de mano‑
Atualmente, o direito à educação é mundialmente bra e futuro eleitor em apenas uma direção: de cima para
reconhecido, e existem muitos documentos universais baixo, porém pode galgar patamares sociais mais altos,
que explicitam o motivo desse reconhecimento. Entre eles que o levem à emancipação. Essa emancipação ocor‑
pode‑se citar a Declaração Universal dos Direitos Huma‑ rerá a partir do momento em que seja desenvolvida uma
nos (1998), a Declaração Mundial sobre a Educação para consciência crítica e histórica da realidade, concebendo
Todos (1990), elaborada em Jomtien, entre outras. criticamente o indivíduo e a sociedade, a teoria e a prá‑
tica, sendo esta uma sociedade de classes com inúme‑
Por ser um direito mundialmente reconhecido, é ras facetas sociais, econômicas, políticas e culturais.
importante que seja garantido. E para ser garantido para
todos os cidadãos de uma nação precisa estar explici‑ É com base nesses pressupostos que Marshall
tado nas suas leis. afirma o direito à igualdade e à diferença. A sociedade
liberal aceita a correlação entre elas, com uma igualdade
Como observado nas seções anteriores, pode‑se perante a educação ou os direitos individuais para todos,
perceber que, embora esse seja um direito legalmente e uma desigualdade de condições econômicas, por
constituído e garantido, nem sempre é alcançado, exemplo. Segundo a cidadania, restringe‑se aos direi‑
devido às inúmeras diferenças de ordem econômica e tos civis, sendo considerada para a manutenção de um
social que existem em diversos países, inclusive no Bra‑ mercado competitivo. Com isso, a cidadania, enquanto
sil. Nesse sentido, qual é o conceito de cidadania e de prerrogativa, sucumbe aos direitos sociais, políticos e aos
direitos implícito nesse discurso? direitos civis. Nesse contexto, a igualdade é apenas for‑
mal, enquanto a desigualdade é a realidade cotidiana.
De acordo com Cury (1999), Marshall afirma que a
cidadania é composta de direitos civis, políticos e sociais. Dessa forma, torna‑se essencial refletir sobre a
Os direitos civis se estabeleceram no século XVIII e pre‑ realidade local da qual os estudantes fazem parte para
tendiam garantir a liberdade individual. Os direitos polí‑ promover uma mudança, de modo a amenizar ou solu‑
ticos se estabeleceram no século XIX e foram criados cionar os problemas enfrentados. Para que tal reflexão
para garantir a participação nos processos políticos que ocorra, é necessária uma qualidade política nas relações,
envolvem o poder. Já os direitos sociais apareceram no pesquisas e discussões. A função e o esclarecimento do
século XX, objetivando o bem‑estar econômico, social e professor nesses processos tornam‑se imperativos. É
cultural, como garantias de viver dignamente. Esses são necessário também conceber que a realidade na qual
os limites políticos do liberalismo e do neoliberalismo esses alunos estão imersos já é de seu conhecimento;
e de suas categorias básicas como liberdade, individu‑ é preciso refletir sobre as questões do entorno de modo
alismo, propriedade, segurança e justiça (FRIGOTTO, crítico e histórico.
1989). Nessas concepções, há um favorecimento do
mercado e do capital, em detrimento dos trabalhadores 8 . Lei de Diretrizes e Bases
e de suas reais necessidades. Nesse sentido, o Estado
não é uma instância que funciona com neutralidade, mas A efetiva implantação da Lei de Diretrizes e Bases
defende as instâncias vinculadas ao capital, preservando da Educação (LDB) ocorreu em 20 de dezembro de
os interesses de uma classe dominante. 1996. Em 1987 surgiu o projeto original.

O direito à educação surge no âmbito dos direitos O termo “diretrizes” teve origem na Constituição
sociais, no qual o cidadão tem acesso aos bens culturais Federal de 1934, no Artigo 5º, o qual pretendia organi‑
historicamente construídos, ou seja, “o cidadão torna‑se zar a educação em âmbito nacional. Esse artigo apontou
capaz de se apossar de padrões cognitivos e formativos também que cabia à União fixar um Plano Nacional de
pelos quais tem maiores possibilidades de participar dos Educação a ser formulado pelo Conselho Nacional de
destinos de sua sociedade e colaborar na sua transfor‑ Educação, mas devido ao golpe que instituiu o Estado
mação” (CURY, 1999, p. 1). Novo sua execução foi inviabilizada.

Direito Educacional e Políticas Públicas em Educação

13.
No ano de 1946, com a nova Constituinte, a expres‑ Título V – Dos níveis e das modalidades de
são “diretrizes e bases” apareceu pela primeira vez. educação e ensino
Capítulo I – Da composição dos níveis
Em dezembro de 1961 foi promulgada a primeira escolares
LDB, responsabilizando a União por legislar sobre a edu‑ Capítulo II – Da educação básica
cação. Com a Constituição de 1988, houve a preserva‑ Sessão I – Das disposições gerais
ção da competência da União para legislar sobre a LDB. Sessão II – Da educação infantil
Sessão III – Do ensino fundamental
Em 1986, a comunidade educacional organizou Sessão IV – Do ensino médio
a IV Conferência Brasileira de Educação realizada em Sessão V – Da educação de jovens
Goiânia para discutir sobre a temática “A Educação e a e adultos
Constituinte”. Nessa conferência foi aprovada a “Carta Capítulo III – Da educação profissional
de Goiânia” com propostas de educadores para o capí‑ Capítulo IV – Da educação Superior
tulo da Constituição referente à educação. Capítulo V – Da educação especial
Título VI – Dos profissionais da educação
Em 1987, teve início a elaboração do projeto origi‑
Título VII – Dos recursos para a educação
nal da nova LDB, o qual foi apresentado à Câmara dos
Título VIII – Das disposições gerais
Deputados em dezembro de 1988. Foram anexados
Título IX – Das disposições transitórias
projetos e propostas alternativas, por meio, inclusive, de
audiências públicas e seminários temáticos. Tem‑se a estrutura baseada no primeiro projeto de
Darcy Ribeiro e o conteúdo aproximado ao da Câmara.
Essas discussões deram origem, em 1990, ao Com relação ao controle político e à administração do
Substitutivo Jorge Hage (projeto de LDB), que passou sistema educacional, segundo Saviani (1996), retorna
pela Câmara dos Deputados e por uma série de correla‑ a orientação do primeiro projeto sintonizando‑se com
ção de forças políticas, tendo seu teor alterado. O Projeto a luta da política educacional do governo de Fernando
Jorge Hage foi aprovado na Comissão de Educação da Henrique Cardoso. Foi promulgada em 1996, reiterando
Câmara e depois encaminhado à Comissão de Finanças, a vinculação da educação com o mundo do trabalho e
na qual foram inclusas 25 subementas, 1.263 ementas à prática social.
pelos deputados, dessa forma, determinou‑se que o
projeto retornasse a comissão técnicas para exame das Como princípios destacam‑se:
ementas. Em 1991, alguns empresários da educação,
xx educação como dever da família e do Estado;
por meio do Congresso, conseguiram incluir o parecer
do relator na pauta da Comissão de Justiça, que não foi xx igualdade de condições para acesso e perma‑
votado, mas encaminhado ao plenário da Câmara. nência;
xx liberdade para aprender, ensinar, etc.;
Em maio de 1993, a Câmara dos Deputados
chegou à aprovação final da LDB. No mesmo ano deu xx pluralismo de ideias e de concepções;
entrada no Senado como Projeto da Câmara, onde tam‑ xx respeito à liberdade;
bém recebeu muitas ementas.
xx coexistência de instituições públicas e pri‑
A versão aprovada em 1996, possui 91 artigos e vadas;
9 títulos referentes: xx gratuidade do ensino público;
Título I – Da educação xx valorização do profissional da educação;
Título II – Dos princípios e fins da educação
nacional xx gestão democrática;
Título III – Do direito à educação e do dever xx qualidade;
de educar
Título IV – Da organização da educação nacio‑ xx valorização da experiência extraescolar;
nal xx vínculo entre trabalho, práticas e educação.

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14.
O Artigo 9º da LDB diz que é dever da União ela‑ O Programa Nacional de Fortalecimento dos Con‑
borar um Plano Nacional de Educação. Dessa forma, no selhos Escolares foi instituído pela Portaria Ministerial n.
ano de 1997 o MEC deveria encaminhar o PNE ao Con‑ 2.896/04, tendo como principal objetivo implantar e
gresso, mas foi o ano de sua elaboração, foi apresen‑ consolidar os Conselhos de escola na educação básica
tado apenas em 1998. A peça mais relevante na LDB é brasileira.
o PNE, que passou por 3 anos em tramitação pelo Con‑
gresso Nacional, e foi sancionado em 09/01/2001 com Esse programa possuía quatro funções essenciais:
a lei 10.172, embora não tenha sido cumprido em sua consultiva, pois deve consultar seus pares para a tomada
integra. É uma política educacional e o seu processo de de decisões; deliberativa, pois ajuda resolver situações
regulamentação surge num contexto de planejamento e oriundas do campo escolar; mobilizadora, quando movi‑
organização. Em 1932, os pioneiros da educação reco‑ menta seus pares para execução de objetivos comuns; e
mendaram um “plano amplo e unitário para promover a fiscalizadora, ao examinar e verificar o desenvolvimento
reconstrução educacional do país. Na Constituição de das ações educativas.
34 aparece, pela primeira vez, a intenção de fixar um
xx Ensino fundamental de nove anos
plano nacional como competência da União. Este tema
é omitido apenas na constituição de 1937, voltando na É uma política de ampliação do ensino fun‑
de 1946 e se mantendo na de 1967. damental para nove anos. De acordo com o
Ministério da Educação, é uma política que

9 . As políticas recentes e
assegura às crianças um tempo mais longas
no convívio escolar, oportunizando aprendiza‑
os planos de governo gem e um ensino com qualidade.
xx Escola de gestores da educação básica
Vários textos legais a dão suporte no momento de
É um programa de formação de gestores
definir as políticas públicas direcionadas para a área
nivelem âmbito nacional, buscando qualificar
educacional, são eles:
os gestores das escolas da educação básica
xx Constituição Federal de 1988; pública, a partir da oferta de cursos na moda‑
lidade a distância.
xx Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional de 1996; xx Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (Ideb)
xx Plano Nacional de Educação – 2001 a 2010
Conforme o MEC, o Ideb é um importante indi‑
e o próximo 2011 a 2020;
cador que explicita dois dados, o fluxo esco‑
xx Parâmetros Curriculares Nacionais de 1997; lar e a média de desempenho nas avaliações
xx Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da (SAEB e Prova Brasil) das escolas de todo o
Educação Básica e de Valorização dos Profis‑ Brasil, com o objetivo de traçar metas de qua‑
sionais da Educação; lidade educacional para os sistemas.
xx Merenda Escolar
xx Plano Plurianual – 2008 a 2011;
É um programa que objetiva subsidiar a ali‑
xx Sistema de Avaliação da Educação Básica; mentação escolar de todos os alunos da
xx Plano de Desenvolvimento da Educação – educação básica de escolas públicas e filan‑
2007 a 2022. trópicas. A verba para seu desenvolvimento
vem do Fundo nacional de Desenvolvimento à
São muitos os programas e as políticas de governo Educação (FNDE).
em conformidade com os níveis e modalidades de edu‑
xx Olimpíada da Língua Portuguesa e de Mate‑
cação. A seguir estão algumas políticas e programas de
mática
governo que vigoram atualmente:
É um projeto que visa criar um ambiente esti‑
xx Programa Nacional de Fortalecimento de Con‑ mulante para o estudo da língua portuguesa
selhos Escolares.

Direito Educacional e Políticas Públicas em Educação

15.
e da matemática, com vistas a ampliação do ou confessionais – conveniadas ou não. Tem o
conhecimento e aprimoramento do ensino. objetivo de valorizar o magistério e oferecer con‑
xx Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) dições de crescimento profissional ao professor.
É um programa que visa assistência financeira xx Projeto Saúde e Prevenção nas Escolas
às escolas públicas e privadas mantidas por Esse programa tem a finalidade de contribuir
entidades sem fins lucrativos, com o objetivo para a formação integral dos estudantes da rede
de melhorar a infraestrutura física e pedagó‑ pública de educação básica por meio de ações
gica das unidades. Os recursos são repassa‑ de prevenção, promoção e atenção à saúde.
dos em função do número de aluno do censo xx Rede Nacional de Formação de Professores
escolar do ano anterior.
Rede Nacional de Formação Continuada de
xx Plano de Desenvolvimento Da Escola (PDE Professores foi criada em 2004 com o obje‑
Escola) tivo de contribuir para a melhoria da formação
É uma ferramenta gerencial desenvolvida com dos professores de educação básica dos sis‑
intuito de auxiliar a escola no desenvolvimento temas públicos de educação.
de seu trabalho objetivando a melhoria da qua‑ As áreas de formação são: alfabetização e
lidade do processo de ensino aprendizagem. linguagem, educação matemática e científica,
xx Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e ensino de ciências humanas e sociais, artes e
Programa nacional do Livro Didático (PNLEM) educação física.

10 . Sistema de ensino
Programa voltado à distribuição de obras didá‑
ticas aos estudantes da rede pública de ensino
fundamental e médio.
Para compreender o funcionamento da educação e
xx Pró‑Letramento
da gestão no interior da escola, é importante conhecer
Visa à formação continuada de professores das conceitos como sistema escolar e organização da edu‑
séries iniciais do ensino fundamental nas áreas cação brasileira.
de leitura, escrita e matemática, objetivando a
melhoria da qualidade de aprendizagem. Você sabe o significado da expressão “sistema de
xx Programa Nacional Biblioteca da Escola educação”? De acordo com Saviani (2009), sistema
Esse programa distribui acervos de obras de escolar é o conjunto da educação coerente e operante
literatura, pesquisa e referência, objetivando com diferentes elementos que reúne as escolas, mas
promover o acesso à cultura e o incentivo da não se esgota nessas. Ele é instituído para atender às
formação do hábito da leitura. necessidades da educação, articular diferentes aspectos
educacionais de modo a desenvolver a ação sistema‑
xx ProInfância – Programa Nacional de Reestru‑
turação e Aparelhagem da Rede escola Pública tizada, voltada a objetivos, movimentando meios dire‑
de Educação Infantil cionados para esse fim (SAVIANI, 2009). Dessa forma,
deve ser regulado e operar segundo normas inerentes
O ProInfância é um programa de assistência
ao sistema e para que possa se constituir tornam‑se
financeira ao Distrito Federal e aos municí‑
necessárias normas próprias e autorregulamentação.
pios para a construção, reforma e aquisição
de equipamentos e mobiliário para creches e São três os sistemas vinculados à educação (DIAS,
pré‑escolas públicas da educação infantil. 1998):
xx ProInfantil
xx Sistema de educação – é a expressão mais
O ProInfantil é um curso em nível médio, a dis‑
ampla, abrange todas as instâncias envolvidas
tância, na modalidade normal. Destina‑se aos
com a educação como famílias, clubes, igrejas,
professores da educação infantil em exercício
empresas, escolas, etc.
nas creches e pré‑escolas das redes públicas
– municipais e estaduais – e da rede privada xx Sistema de ensino – abrange escolas e insti‑
sem fins lucrativos – comunitárias, filantrópicas tuições regulamentadas que desenvolvem uma

Coordenação Pedagógica

16.
educação sistemática como escolas, escolas É necessária também uma organização admi‑
de inglês, professores particulares, etc. nistrativa, para que a atividade‑fim aconteça com a
finalidade de gerir esse sistema. Os níveis de admi‑
xx Sistema escolar – envolve uma rede de esco‑
nistração são divididos em federal, regional, estadual
las e a sua estrutura de sustentação.
e municipal.
No entanto, para Saviani (2009), os sistemas de
educação são apenas as instituições públicas, desde
que organizadas e regulamentadas, pois são unidades
11 . Plano nacional
políticas capazes de legislar na educação. Já as institui‑ da educação
ções particulares podem somente se organizar por meio
O Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2000),
de redes, pois integram o sistema público e precisam
que vigorou até o fim de 2010, é um instrumento da
seguir normas públicas.
política educacional que estabelece diretrizes, objetivos
e metas para todos os níveis e modalidades de ensino,
10.1 A estrutura do sistema para a formação e valorização do magistério e para o
escolar brasileiro financiamento e a gestão da educação, por um perí‑
odo de dez anos. Sua finalidade é orientar as ações do
De acordo com Dias (1998), um sistema esco‑ poder público nas três esferas da administração (União,
lar é composto por uma rede de escolas destinada estados e municípios), o que o torna uma peça‑chave
à atividade‑fim da educação: o processo de ensi‑ no direcionamento da política educacional do país. É um
no‑aprendizagem. Para que essa atividade aconteça, é plano nacional e de Estado, com o respaldo da Consti‑
necessária uma estrutura de sustentação com normas tuição de 1988 e da LDB.
(leis, decretos, regimentos, portarias), metodologia e
conteúdo de ensino. Objetivos apresentados no PNE:

Essas escolas são mantidas por diferentes entida‑ xx a elevação global do nível de escolaridade da
des mantenedoras como o poder público, sendo ele população;
Federal, Estadual, ou Municipal. E entidades particulares, xx a melhoria da qualidade do ensino em todos
sendo leigas ou confessionais. Podem ser ainda mistas os níveis;
ou autárquicas.
xx a redução das desigualdades sociais e regio‑
O sistema escolar brasileiro está dividido em níveis nais no tocante ao acesso e à permanência,
e modalidades. As modalidades são: educação a distân‑ com sucesso, na educação pública;
cia, educação profissional, educação de jovens e adul‑ xx a democratização da gestão do ensino público,
tos, educação especial e do campo. nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos
princípios da participação dos profissionais da
Os níveis estão organizados conforme a tabela a educação na elaboração do projeto pedagó‑
seguir: gico da escola e a participação das comuni‑
dades escolar e local em conselhos escolares
Tempo de ou equivalentes.
Níveis Idade
duração
EDUCAÇÃO
INFANTIL
0 a 5 anos Variável de acordo
com a opção familiar. 11.1 Prioridades
EDUCAÇÃO

apresentadas no plano
BÁSICA

ENSINO 06 a 14 anos 09 anos


FUNDAMENTAL
ENSINO 14 a 17 anos 3 anos 1. Garantia de ensino fundamental obrigatório de
MÉDIO
oito anos a todas as crianças com idade entre
GRADUAÇÃO A partir de Variável
EDUCAÇÃO
SUPERIOR

17 anos 7 e 14 anos, assegurando o seu ingresso e a


PÓS‑GRADUAÇÃO – Variável permanência na escola, bem como a conclu‑
são desse ensino. Prioridade de tempo integral

Direito Educacional e Políticas Públicas em Educação

17.
para as crianças das camadas sociais mais 8. EDUCAÇÃO ESPECIAL
necessitadas.
9. EDUCAÇÃO INDÍGENA
2. Garantia de ensino fundamental a todos IV. MAGISTÉRIO DA EDUCAÇÃO BÁSICA
os que a ele não tiveram acesso na idade
própria ou que não o concluíram. A erra‑ 10. FORMAÇÃO DOS PROFESSORES E
dicação do analfabetismo faz parte dessa VALORIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO
prioridade. V. FINANCIAMENTO E GESTÃO

3. Ampliação do atendimento nos demais níveis VI. ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DO PLANO


de ensino – educação infantil, ensino médio
e educação superior. Está prevista a extensão
da escolaridade obrigatória para crianças de
12 . Plano de
6 anos de idade, quer na educação infan‑
Desenvolvimento
til, quer no ensino fundamental, e a gradual da Educação
extensão do acesso ao ensino médio para
todos os jovens que completam o nível ante‑ Para o Plano de Desenvolvimento da Educação
rior, como também para os jovens e adultos (PDE), é prioridade uma educação básica de quali‑
que não cursaram os níveis de ensino nas dade. O PDE busca investir na educação básica, pro‑
idades próprias. fissional e superior, bem como envolver a comunidade
educativa que busque o acesso e a permanência do
4. Valorização dos profissionais da educação. aluno na escola.
5. Desenvolvimento de sistemas de informação e
Outra medida adotada pelo governo federal é a
de avaliação em todos os níveis e modalidades
criação de uma avaliação para crianças de 6 a 8 anos,
de ensino.
com o objetivo de verificar a qualidade do processo de
11.1.1 Estrutura alfabetização quando ainda é possível corrigir distorções
e salvar o futuro escolar da criança.
I. INTRODUÇÃO
A alfabetização de jovens e adultos também rece‑
Histórico berá atenção especial do Programa Brasil Alfabetizado
Objetivos e Prioridades (PBA). Bem como a criação de um piso salarial nacional
II. NÍVEIS DE ENSINO dos professores, ampliação do acesso dos educadores
à universidade, instalação de laboratórios de informá‑
a. EDUCAÇÃO BÁSICA tica em escolas rurais, a realização de uma Olimpíada
1. EDUCAÇÃO INFANTIL de Língua Portuguesa, como a já existente Olimpíada
de Matemática, garantia de acesso à energia elétrica
2. ENSINO FUNDAMENTAL para todas as escolas públicas, melhorias no transporte
3. ENSINO MÉDIO escolar para os alunos residentes em áreas rurais e a
qualificação da saúde do estudante são outras ações
b. EDUCAÇÃO SUPERIOR desenvolvidas dentro do PDE.
4. EDUCAÇÃO SUPERIOR
O PDE inclui metas de qualidade para a educação
III. MODALIDADES DE ENSINO básica. Isso contribui para que as escolas e as secreta‑
5. EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
rias de educação se organizem para o atendimento dos
alunos. Também cria uma base sobre a qual as famílias
6. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E TECNO‑ podem se apoiar para exigir uma educação de maior
LOGIAS EDUCACIONAIS qualidade. O plano prevê ainda acompanhamento e
7. EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA E FOR‑ assessoria aos municípios com baixos indicadores de
MAÇÃO PROFISSIONAL

Coordenação Pedagógica

18.
ensino e destinação de recursos federais para constru‑ operações de crédito e vendas de bens; de
ção de creches e pré‑escolas. receitas diversas, multas e cobranças de dívi‑
das e finalmente de transferências correntes
Apresenta também políticas públicas, como Pro‑ que são outros tipos de recursos recebidos de
grama Universidade para Todos (Prouni), Universidade pessoas físicas e jurídicas (MELCHIOR, 1998).
Aberta, Funda Nacional de Desenvolvimento da Educação No Brasil, há uma diversidade muito grande
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação no que concerne a porcentagem dos recursos
(Fundeb), Piso Salarial Nacional do Magistério, Índice de destinados a educação, tanto historicamente
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), Programa como nas regiões do país. Observa‑se que
de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das a LDB n. 9.394/1996, a partir da Constitui‑
Universidades Federais (Reuni), entre outras, buscando ção de 1988, no seu Artigo 68, estipulou um
reduzir desigualdades sociais e regionais. Procura atingir valor mínimo a ser aplicado à porcentagem
a equidade unindo educação e desenvolvimento. de impostos à educação que é: para a União
nunca menos de 18%, nos Estados, Distrito
O PDE apresenta‑se sustentado em seis pilares: Federal e Municípios, nunca menos de 25%. A
i) visão sistêmica da educação, ii) territorialidade, iii) LDB estipulou também prazos para arrecada‑
desenvolvimento, iv) regime de colaboração, v) respon‑ ção, repasse de verbas e delimitação do que
sabilização e vi) mobilização social. pode ser considerado despesa de manutenção
e desenvolvimento do ensino (arts. 69, 70, 71,
12.1 As políticas de 74, 75). Por meio da Emenda Constitucional
financiamento da n° 14 de 12 de setembro de 1996, e regula‑
educação brasileira mentado na Lei n. 9424 de 24 de dezembro
e pelo Decreto n. 2.264 de 27 de junho de
Para que a educação pública e privada funcione com 1997, foi instituído o Fundo de Manutenção
qualidade, proporcionando acesso e conhecimento para e desenvolvimento do Ensino Fundamental e
os que nela estão inseridos, é preciso um montante de Valorização do Magistério (Fundef). Esse fundo
recursos financeiros destinados a esse fim. Não basta, atuou como forma de modificar a estrutura de
porém, a destinação de recursos financeiros, sem que financiamento da educação no país, mantendo
haja controle e acompanhamento efetivos, planejamento e as mesmas porcentagens mudando apenas
avaliação dos investimentos feitos. A educação brasileira, a distribuição e os critérios para aplicação de
de acordo com Melchior (1998) é mantida por meio de parte dos recursos existentes, priorizando o
dois tipos distintos de financiamento, os recursos internos Ensino Fundamental. No ano de 2006, com a
e externos. Mas o que compreende cada um deles? Emenda Constitucional n. 53 de 19 de dezem‑
bro de 2006, convertida na Lei n. 11.494, de
12.1.1 Recursos internos 20 de junho de 2007, foi instituído o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação
São divididos em públicos e privados. Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação (Fundeb) de modo a atender todos
xx Públicos – Os orçamentos públicos sofre‑ os estudantes da educação básica. Você sabe
ram grandes modificações, de acordo com qual é esta porcentagem em seu estado e
a época e o contexto histórico. Atualmente, em seu município? Será que ele destina para
são considerados instrumentos de auxílio da a educação apenas o que a lei obriga, ou
administração pública e devem seguir normas, investe com um montante maior de recursos?
padrões estipulados e legalmente estabeleci‑ Vale mencionar que infelizmente não são todos
dos. Geralmente são oriundos da receita tri‑ os impostos pagos que tem destino a educa‑
butária, como contribuições, taxas e impostos; ção, foi excluído desse repasse, por exemplo, o
da receita patrimonial, como exploração de Imposto sobre as Operações Financeiras (IOF)
bens móveis e imóveis; da receita de capital, e com isso há grandes perdas.
que contém exploração de serviços públicos,

Direito Educacional e Políticas Públicas em Educação

19.
Os recursos públicos são divididos nas três
Contribuição
esferas de governo: Implantação Matrículas
da União
xx União; 1º ano 2 bilhões 25% das matrículas

xx Estados; 2º ano 2, 85 bilhões 50% das matrículas


3º ano 3,7 bilhões 75% das matrículas
xx Municípios. 4º ano 4, 5 bilhões 100 das matrículas

Além da determinação constitucional, os legisla‑ 5º ano em diante 10% do total do Fundo


Os 90% restantes
dores aprovaram outros mecanismos para fortalecer a ficarão a cargo dos
educação brasileira, como o salário educação e o já Estados e Municípios

citado Fundeb.
Na aplicação dos recursos do Fundeb 60% da
xx Salário educação – é a contribuição social pre‑ totalidade devem ser destinadas ao pagamento de pro‑
vista no art. 212 da Constituição Federal que fessores da educação básica.
assegura que “o ensino fundamental público
terá como fonte adicional de financiamento xx Privados – Emanam principalmente de men‑
a contribuição social do salário‑educação, salidades/anuidades e doações de pessoas
recolhida pelas empresas na forma de lei.” físicas ou jurídicas.
Esta fonte adicional é calculada com base em
2,5% sobre o total de remunerações pagas 12.1.2 Recursos externos
aos empregados das empresas contribuintes.
Podem ser públicos ou privados e emanam prin‑
xx Fundeb – esse fundo, implantado em 2007, cipalmente de empréstimos (financiamentos), doações,
atingiu também a educação infantil, o ensino assistência técnica e ofertas de bolsas de estudos.
médio, a educação de jovens e adultos, edu‑ Dessa forma, a maioria destes recursos, normalmente
cação especial, educação indígena, educação é destinada ao ensino superior.
do campo e educação profissional que não
tinham sido contempladas pelo Fundef. xx Públicos – Governos de outros países ou
agências que os representam.
Esse recurso deve, de acordo com a lei, vigorar
xx Privados – São fornecidos por empresas,
por 14 anos, e é formado por vários impostos: Fundo
agências financiadoras, fundações e indi‑
de Participação dos Municípios (FPM), Fundo de Par‑
víduos, como Banco Mundial e Fundo das
ticipação dos Estados (FPE), Imposto sobre Circulação
Nações Unidas para a Infância (Unicef), por
de Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto sobre Pro‑
exemplo.
dutos Industrializados (IPI), Imposto sobre Transmissão
Causa Mortis (ITCM), Imposto sobre a Propriedade de São investidos, atualmente, na educação cerca de
Veículos Automotores (IPVA), imposto sobre a renda 120 bilhões de reais pela União e mais 100 bilhões por
e os proventos incidentes sobre rendimentos pagos meio de estados e municípios.
pelos municípios, imposto sobre a renda e os proven‑

13 . Direção e realização
tos incidentes sobre rendimentos pagos pelos estados,
cota‑parte de 50% do Imposto Territorial Rural (ITR)
devida aos municípios. do ensino
O fundo prevê a distribuição proporcional ao A direção e a realização do ensino pressupõem
número de matrículas existentes em cada rede de esco‑ planejamento e avaliação, dessa forma, não há fórmu‑
las públicas e anexa gradualmente às áreas que não las prontas, receitas, caminhos ou direcionamentos para
tinham sido contempladas no Fundef. Prevê também a buscar soluções às problemáticas e situações cotidianas
participação crescente de recursos nos quatro primeiros de cada localidade em particular. Cada uma, dentro de
anos de implantação para a União, estados e municípios suas peculiaridades, deve buscar as soluções em con‑
de acordo com o quadro a seguir: junto com seus pares.

Coordenação Pedagógica

20.
A escola é considerada uma instituição segundo é que o mundo real era as sombras projetadas nas paredes
concebida, uma organização de relações entre diferen‑ da caverna pela luz que entrava por uma fresta. Quando
tes segmentos, regida por um conjunto de regras, nor‑ foram libertadas das correntes, não conseguiam se acos‑
mas e orientações. Dessa forma, é relevante a discussão tumar com a luz e a liberdade e muitas vezes chegavam
sobre a estrutura que a sustenta e organiza. a lutar contra essa nova possibilidade de viver.

Normalmente, uma escola está organizada em Esse exemplo pode ser utilizado quando se pensa
instâncias colegiadas que procuram realizar a ligação em participação, democracia e envolvimento no que se
entre todos os envolvidos no processo educativo. O refere a uma escola. Existe uma escola que possibilita a
gestor empreendedor deve ter claro o funcionamento participação de toda a comunidade educativa nas toma‑
e as especificidades de cada uma dessas instâncias, das de decisões? Existe uma escola que se libertou de
sabendo valorizar e orientar, discutindo as relações e suas correntes e mantém contato permanente com a luz
em conjunto, buscar formas de alcançar a melhoria da do sol? Ou ainda continua presa e com medo do que
aprendizagem em sua escola. isso pode significar?

As instâncias colegiadas são compostas por Con‑ Para compreender o atual papel da escola, é
selhos de Classe, Conselho Escolar, Associação de Pais necessário refletir sobre o que a formou, quais seus fun‑
e Mestres10 e Grêmio Estudantil. O gestor em consonân‑ damentos, filosofia, princípios e objetivos que pautam
cia com seus pares, como professores, pais, estudantes, suas ações. Essa concepção pode estar relacionada a
pedagogos, funcionários e comunidade, deve se orga‑ dois comportamentos distintos:
nizar de modo a explicitar diferenças, clarear conflitos e xx político – no qual se compreende a impor‑
articular ações (DALBEN, 2004). tância do direito à educação;

Nesse contexto, a comunidade educativa precisa ter xx mercadológico – quando se compreende a


claro como se dá o trabalho pedagógico para garantir a educação como um negócio que está vincu‑
atividade‑fim da escola: o processo de ensino‑aprendi‑ lado aos interesses do mercado.
zagem, portanto, são necessárias regras e normas que As concepções destacadas acima apresentam uma
conduzam a uma mesma direção, alicerçada no princí‑ estreita ligação com as políticas direcionadas à educação.
pio de uma construção coletiva. Esse direcionamento do Cabe ressaltar dois tipos distintos de políticas públicas:
trabalho é guiado pelo regimento escolar e pelo projeto
pedagógico, ou também chamado projeto político‑pe‑ xx políticas de governo – são um conjunto
dagógico da instituição. de decisões, filosofia e ações tomadas por um
determinado governo ou uma gestão pública

13.1 Gestão escolar


que continuará em vigor apenas nos anos em
está no poder. Serve principalmente para cobrir
democrática e os interesses do mercado, para propaganda e
participativa: alianças políticas.
fundamentos e xx políticas de Estado – são decisões toma‑
princípios das por um determinado governo e são pauta‑
das nas necessidades reais da população com
Você conhece o mito da caverna, de Platão?
bases em dados e pesquisas, buscando apri‑
moramento e melhoria na qualidade de vida.
O mito da caverna é uma parábola escrita por Platão
São políticas desenvolvidas com compromisso
que conta a história de pessoas que viviam acorrentadas
social e não apenas econômico.
no interior de uma caverna. Essas pessoas acreditavam
Na condução dos trabalhos escolares, as políticas
10 A Associação de Pais e Mestres (APM) recebe nomencla‑ de Estado são as mais significativas, pois promovem
turas diferentes, conforme a região e o sistema de ensino, como
Associação de Pais Professores e Funcionários (APPF), Associação crescimento, organização e continuidade, ao contrário
de Pais Mestres e Funcionários (APMF), entre outros. das políticas de governo.

Direito Educacional e Políticas Públicas em Educação

21.
Em 1997, no relatório do Banco Mundial (1997),
é tratado o valor da participação na escola, no entanto,
sem a devida importância que essa ação representa,
aceitando uma participação muitas vezes alienada e
despolitizada. É essencial perceber a democracia com
qualidade como um direito, não apenas como acesso
à educação, mas como participação e aprendizado efe‑
tivos, possibilitando que a escola cumpra sua função
social e seu papel político institucional.

Para que as funções social e política da escola


sejam efetivas, torna‑se necessária a reorganização do
espaço e do tempo escolar, repensando os processos
de promoção automática, reprovação e avaliação em
conjunto com a comunidade educativa. Precisa‑se con‑
ceber a educação como mediação que ocorre na prática
social global, exigindo novas formas de organização que Fonte: Freire (1980)

possibilitem a participação efetiva de todos no processo


do conhecimento e de tomada de decisões. Não! Na verdade, são muitos os envolvidos cada
qual com uma visão do que é a educação e do que é
Quais relações são estabelecidas no interior da importante ensinar, dentro de sua concepção e filosofia
escola? Quem são os atores que estão envolvidos? de mundo.
Essa escola está isolada do mundo?

Estudantes

Professores Funcionários

Escola

Pais Pedagogos

Direção Comunidade

Coordenação Pedagógica

22.
As relações que permeiam esses segmentos devem A gestão escolar democrática e participativa pode ser
estar pautadas no respeito, pois todos são essenciais no efetivada de diversas formas, não há um modelo pronto
processo de ensino‑aprendizagem. e acabado que defina na íntegra a sua organização, no
entanto, algumas instâncias políticas de decisão na escola
A gestão democrática na educação é garantida legal‑ dever ser citadas: conselho de escola, conselho de classe,
mente pela Constituição Federal de 1988, que apresenta eleição de diretores, o projeto político pedagógico.
no Artigo 206 os princípios da educação no país, entre
eles a “gestão democrática”, pela LDB n. 9.394/1996, Esse é um processo que deve ser garantido prin‑
que apresenta no Artigo 3º “a gestão democrática do cipalmente por meio da participação efetiva da comu‑
ensino público”. A concepção de Gestão Democrática da nidade escolar, fazendo valer seus direitos e deveres,
escola pública também é apontada como importante no constituídos de forma democrática. No entanto, para
Plano Nacional de Educação (PNE/2001). Freitas não é possível reduzir a Gestão Democrática à
participação,
Nesse processo, procura‑se a participação e a cor‑
responsabilidade do maior número de pessoas da comu‑ [...] uma vez que são diversos os elementos
que a constituem, mencionando‑se estes:
nidade escolar, de modo a garantir a vontade da maioria e
compromisso cotidiano e substantivo com a
também o acesso às informações de maneira ampliada. transformação das relações sociais e com a
justiça social; compartilhamento do poder e da
Uma administração participativa assim enten‑ autoridade; práticas culturais emancipadoras, ou
dida será politicamente efetiva e culturalmente seja, que propiciem liberação de submissões,
relevante na medida em que ela afetar o poder dominações, tutelas e explorações; práticas
de decisão nos vários aspectos e níveis que administrativas regidas pela legalidade, impes‑
tem que ver com a formulação política, a orga‑ soalidade, transparência (publicidade), mora‑
nização escolar, o conteúdo e o método de tra‑ lidade, liderança colegiada; trabalho coletivo;
balho na sala de aula, na escola, no Município, diálogo como princípio e método da gestão de
no Estado, no Governo Federal e na iniciativa conflitos e do trabalho; competência e eficiên‑
privada, confessional ou produtiva... Se assim cia como expressões da responsabilidade com
não for a escola e a universidade correrão o o que é público (FREITAS, 2007, p. 514).
risco da mistificação e da falácia da participa‑
ção aparente ou da pseudoparticipação que
se reduz, na prática, aos aspectos de natureza
Portanto, tomar parte de todas essas formas de se
tática e comportamental, desprovidos de pers‑ efetivar a gestão escolar democrática e participativa só
pectiva histórica e conteúdo cultural e político é possível ao conhecer as relações de poder existentes
(SANDER, 1984, p. 149‑150). nos seus aspectos político, organizando e participando
ativamente; social, compreendendo o direito à educa‑
Dessa forma, a participação nas instâncias escola‑ ção; cultural, conhecendo e valorizando os valores que
res deve ser relevante e efetiva com o envolvimento de permeiam as decisões comunitárias e ético, respeitando
toda a comunidade educativa, de modo a buscar não só as diversidades postas.
uma educação com qualidade, mas uma vida melhor.

Referências

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Direito Educacional e Políticas Públicas em Educação

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