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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO


CURSO DE GEOLOGIA

Alexandre Roberto Mangoni Galves

CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA-GEOTÉCNICA DE UM PERFIL DE SOLO


RESIDUAL DE DACITO EM PINTO BANDEIRA-RS

São Leopoldo
2016
Alexandre Roberto Mangoni Galves

CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA-GEOTÉCNICA DE UM PERFIL DE SOLO


RESIDUAL DE DACITO EM PINTO BANDEIRA-RS

Artigo apresentado como requisito parcial


para obtenção do título de Bacharel em
Geologia, pelo Curso de Geologia da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos -
UNISINOS

Orientador: Prof. Dr. Osmar Gustavo Wöhl Coelho

São Leopoldo
2016
CARACTERIZAÇÃO GEOLÓGICA-GEOTÉCNICA DE UM PERFIL DE SOLO
RESIDUAL DE DACITO EM PINTO BANDEIRA-RS

Alexandre Roberto Mangoni Galves*


Osmar Gustavo Wöhl Coelho**

Resumo: Este trabalho teve como objetivo caracterizar os processos de


intemperismo/pedogênese, identificando as propriedades físicas, mineralógicas e
geotécnicas associadas, em um perfil de solo residual de rocha dacítica da Formação
Serra Geral, no município de Pinto Bandeira - RS, bem como avaliação das correlações
dos processos de intemperismo e pedogênese com as propriedades físicas,
mineralógicas e geotécnicas dos horizontes do solo e saprolito. Para este fim, realizou-
se descrição de campo do perfil de solo residual, coletando-se amostras deformadas e
indeformadas dos seus diversos horizontes, as quais foram submetidas às
determinações laboratoriais de umidade natural, limites físicos, densidade real dos
grãos, granulometria por peneiramento e sedimentação com e sem defloculante, bem
como ensaios de cisalhamento direto com cargas normais de 50, 100 e 200 KPa. Foram
ainda examinados os dados pré-existentes, tais como petrografia e composição química
total da rocha fonte. Com base nos resultados de campo e laboratório, foram avaliadas
as mudanças físicas ao longo do perfil de solo, e suas propriedades geotécnicas.
Verificou-se que o índice Ki para rocha é de 9,2 estimando-se para o horizonte
saprolitico ki 4,8 e para o solo residual ki inferior a 2,2. Constatou-se que a porosidade,
com o aumento do grau de intemperismo, diminui do saprolito para o solo residual.
Quanto à atividade dos horizontes, observou que as argilas do horizonte saprolítico são
inativas, enquanto que as argilas dos horizontes residuais tem atividade normal.
Observa-se que o R

Palavras-chave: Solo residual de rocha dacítica. Intemperismo e pedogênese,


propriedades geotécnicas.

* Aluno do curso de Geologia a Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS – São Leopoldo - RS
endereço de e-mail: alexandre_vf@yahoo.com.br
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Professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Geologia – PPGEO da Universidade do
Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS – São Leopoldo – RS. Email: Osmar@unisinos.br
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1 INTRODUÇÃO

Os perfis de solos residuais são de especial interesse geotécnico, apresentando


um limitado conhecimento de suas características físicas, químicas e mineralógicas, as
quais estejam experimentalmente associadas às suas propriedades geotécnicas.
Os perfis de intemperismo e pedogênese, desenvolvidos “in situ” e fortemente
condicionados pelas características da rocha original, apresentam variações devidas
principalmente ao clima, relevo e aporte hídrico subterrâneo. Todos estes fatores são
responsáveis pelas transformações mineralógicas, texturais, cimentação e estrutura, as
quais estão relacionadas ao comportamento geotécnico dos materiais neoformados.
Neste contexto, este trabalho visa caracterizar os processos de intemperismo e
pedogênese de um perfil residual de solo/saprolito de rocha dacítica da Formação Serra
Geral, no município de Pinto Bandeira - RS, avaliando ao mesmo tempo as suas
propriedades físicas, mineralógicas e geotécnicas.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

As propriedades químicas e mineralógicas dos perfis de intemperismo, desde que


reconheceu-se que as mesmas estão relacionadas às propriedades geotécnicas,
passaram a ser determinadas com frequência (DUARTE, LADEIRA E GOMES, 2004).
Algumas análises químicas realizadas por Rigo (2005) em efusivas ácidas,
utilizando fluorescência de raio X, retratam de forma geral as modificações devidas ao
intemperismo e pedogênese. Os processos de remoção da sílica e enriquecimento
relativo da alumina são observáveis na Figura 1. Estes processos têm como indicador a
relação molecular sílica/alumina, expressa por Ki=1,7.(SiO2/Al2O3), relação utilizada por
Martim e Doyne (1927) para avaliar o grau de evolução intempérica dos solos. A
evolução deste indicador de intemperismo, assim como a variação dos teores de ferro e
metais alcalinos / alcalino terrosos (Ca, Mg, Na, k), podem ser observados na Figura 2.
Verifica-se uma redução dos teores de ferro da rocha original para o horizonte
saprolítico, os quais voltam a crescer deste para o solo residual. O comportamento do
ferro deve-se provavelmente a sua liberação inicial dos minerais ferromagnesianos,
voltando a concentrar-se nos horizontes superficiais devido à pedogênese
(eluviação/iluviação). A remoção da sílica e álcalis é acompanhada pelo enriquecimento

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relativo de ferro e alumina no sentido do solo residual, o que está associado à
neoformação de argilomineriais, óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio.

Figura 1. Teores totais de sílica e alumina, observando-se a remoção da sílica e o


enriquecimento relativo de alumina ao longo de perfil de residual.

Fonte. Modificado de Rigo 2005.

Figura 2: Índice de intemperismo Ki=1,7(SiO2/Al2O3) e teores totais de ferro e álcalis


(CaO+MgO+Ca2O+Na2O). Observa-se a redução contínua dos álcalis e do índice Ki, denotando
o progresso intempérico. Após uma redução inicial, o ferro volta a concentrar-se em superfície
devido à pedogênese.

Fonte. Modificado de Rigo 2005.

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Uma análise de outros resultados fornecidos por este mesmo autor, desta vez
contemplando uma suíte de rochas efusivas ácidas, como riolitos, riodacitos e dacitos,
permitiu avaliar a variação do índice de intemperismo Kirocha saprolito (Figura 3).
Observou-se que a magnitude do intemperismo, medida pela redução do índice Ki da
rocha para o horizonte saprolítico, é tanto maior quanto menor o teor original de SiO2 da
rocha sã. Verificou-se ainda, conforme observado na Figura 4, que a taxa de redução do
índice Kirochasaprolito mantém uma relação linear com o teor original de SiO2 da rocha sã,
indicando que o intemperismo será tanto mais intenso quanto menor o teor original de
sílica.
Figura 3: Remoção intempérica da sílica e a concentração relativa de alumina, resultando
em baixos valores do índice Ki. A magnitude do intemperismo, avaliada através da redução do
índice Ki RochaSaprolito, é maior para as rochas com menor teor original de SiO2.

Fonte: Elaborado pelos autores 2016.


Figura 4: Taxa de redução do índice de intemperismo rocha saprolito, dada por
(∆KiRochaSap./KiRocha)*100 é inversamente proporcional ao teor original de SiO2 da rocha sã.

Fonte: Elaborado pelos autores 2016.

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A evolução do processo intempérico, compreendendo remoções contínuas dos
constituintes da rocha original, tais como sílica, ferro, metais alcalinos e alcalino-
terrosos, estes tendem a gerar uma matriz porosa, característica do horizonte saprolítico.
Sobre isto, Townsend (1985), cita que o índice de vazios dos materiais saprolíticos é
dependente da textura da rocha original, bem como dos processos de alteração e
substituição pseudomórfica dos minerais primários. A preservação da estrutura da rocha
original permite que os solos saprolíticos apresentem elevados índices de vazios,
normalmente com alto grau de floculação.
A evolução dos processos intempéricos, entre outros fatores, é responsável pela
formação dos argilominerais (GRIM, 1953, apud MARQUES 2014). Além disto, segundo
Salomão e Antunes (1998), não somente a natureza e a intensidade do intemperismo,
porém também a composição mineralógica do material parental são determinantes dos
tipos de argilominerais neoformados. Assim, a Ilita forma-se a partir de minerais
micáceos ricos em potássio, enquanto as Esmectitas formam-se comumente a partir de
minerais ricos em cálcio e magnésio.
Quanto às propriedades geotécnicas associadas aos minerais primários ou
neoformados, Kenney (1967, apud Rigo 2005) verificou que cada grupo mineral possui
distintas características de resistência ao cisalhamento, sendo em última instância a
resistência ao cisalhamento dos solos residuais controlada pelo teor relativo dos seus
minerais constituintes. Quanto a isto, Skempton (1964), demostrou que o aumento
relativo da fração argila provoca uma queda no valor do ângulo de atrito residual. Por
sua vez, denotando a influência mineralógica, Moore (1991, apud Rigo 2005) verificou
que a Montmorillonita possui menor resistência ao cisalhamento residual do que a
Caulinita.
A atividade das argilas, avaliada através do índice definido por Seed, Woodward e
Lundgren (1964 apud Massad 2016) para teores inferiores a 40% da fração argila,
utiliza-se a equação (IA= IP/fração argila–10), esta relacionada aos tipos de
argilominerais presentes, os quais condicionam o comportamento geotécnico dos solos.
Neste sentido, Mitchell (1993, apud Rigo 2005) cita que os menores o valores de atrito
interno residual são encontrados nas argilas de maior atividade, tais como a
montmorillonita (IA=4 a 8). Assim, os valores de atrito interno, provavelmente crescem
com o decréscimo do índice de atividade, como na Ilita com atividade normal (IA=0,5 a
1,5) e na Caulinita com baixa atividade (IA=0,3 a 0,5).

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As variações de umidade do solo também influenciam sua resistência. Sobre isto,
Horn & Deere (1962 apud Rigo 2005) verificaram que para minerais como o quartzo e os
feldspatos, a resistência de atrito entre superfícies minerais aumenta com a umidade
superficial até determinados teores. Para minerais com forma lamelar, que é o caso das
micas e argilominerais, a resistência de atrito diminui com o aumento da umidade
superficial.

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3. ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo (Figura 5), situa-se no município de Pinto Bandeira - RS,


distante 140 km de Porto Alegre, o qual possui uma área de 105,07 km² (IBGE,
2010) e está inserido na Bacia hidrográfica do Taquari-Antas. O perfil de solo
descrito encontra-se nas coordenadas 456820E/6781370S (UTM WGS 84), na
propriedade do Sr. Daniel Sganzerla.

Figura 5. Localização da área de estudo

Fonte. Elaborado pelos autores (2016).

A área de estudo está inserida na Região Geomorfológica do Planalto das


Araucárias (IBGE, 2003) (APENDICE A), a qual caracteriza-se por um relevo de
dissecação homogênea, com topos tabulares e rampas suavemente inclinadas,
frequentemente com controle estrutural. A rede de drenagem tem normalmente
baixa densidade. (IBGE,1986 Projeto RADAMBRASIL).
A geologia da área é constituída por rochas efusivas da Formação Serra
Geral - Fácies Caxias (APENDICE B), com composição intermediária a ácida (SiO2

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> 65%), variando de dacitos a riolitos, mesocráticos, microgranulares a vitrofíricos,


textura esferulítica comum, forte disjunção tabular no topo dos derrames e maciço na
porção central, dobras de fluxo e autobrechas, vesículas preenchidas por calcedônia
e ágata (WILDNER et al., 2006).
O clima, segundo a classificação de Koppen, é do tipo Cfb, subtropical com
verões amenos (MORENO, 1961). A temperatura media anual na estação vizinha de
Bento Gonçalves é de 17,2°C, sendo janeiro e junho os meses respectivamente
mais quente e mais frio, com temperaturas médias de 21,8°C e 12,8°C. A
precipitação pluviométrica média anual é de 1.736 mm, sendo maio e setembro os
meses com menor e maior precipitação acumulada, respectivamente com valores de
107 mm e 185 mm (EMBRAPA, 2008).
Os solos variam de rasos a profundos, apresentando horizontes A-Bt-C ou A-
Bi-C, classificando-se predominantemente como Chernossolos (STRECK et.al.,
2008). A região, devido a sua pluviometria e temperatura anual média, caracteriza-se
por intemperismo químico forte, segundo classificação de Toledo, Oliveira e Melfi,
(2000).

4. MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa constou de trabalhos de campo e determinações laboratoriais,


cujos resultados foram analisados em conjunto com informações químicas e
petrograficas fornecidas por Pöerschke, (2015).
Selecionou-se um perfil típico de encosta, constituído por horizontes
superficiais coluvionares sobrepostos a horizontes residuais de rocha dacítica,
conforme indicado no Quadro 1. Após a descrição do perfil, procedeu-se a coleta de
amostras deformadas e indeformadas dos horizontes do solo, para fins de análises
laboratoriais.
Quadro 1. Amostras retiradas do perfil.
Classe Horizonte Identificação Amostragem
Deformada Indeformada
Solo Orgânico (ORG) x
Transportado Colúvio (COL) x
Residual I (RES I) x x
Solo x
Residual II (RES II) x
Residual
Saprolítico (SAP) x x

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Fonte. Elaborado pelos autores (2016).

O horizonte de rocha alterada foi apenas classificado em campo, uma vez que
há dados petrográficos existentes deste local.
As amostras indeformadas foram submetidas à moldagem de corpos de prova
5x5x2cm, os quais foram submetidos a ensaios de cisalhamento direto com tensões
normais de 50, 100, 200 kPa, determinação de porosidade, densidade in situ e
umidade natural. Os resultados de cisalhamento forneceram as envoltórias de
resistência de pico e residual. As amostras deformadas foram utilizadas para
determinação do peso especifico real dos grãos, ensaios granulométricos por
peneiramento e sedimentação, com e sem defloculante, bem como para a
determinação dos limites de liquidez e plasticidade (LL e LP). Todos os ensaios
foram executados segundo as Normas técnicas, conforme indicado no Quadro 2.

Quadro 2. Ensaios realizados no laboratorio de solos.


Parâmetros geotécnicos analisados Normas técnicas
Índices físicos NBR 6457
Limite de liquidez NBR 6459
Limite de Plasticidade NBR 7180
Peso especifico real dos grãos NBR 6508
Granulometria NBR 7181
Rochas e solos NBR 6502
Ensaio de cisalhamento direto ASTM D3080
Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

Este trabalho de conclusão de curso está sendo apresentado como artigo


científico, conforme as normas ABNT NBR 6022, 2003 e NBR 6023 (2002), esta
última para a elaboração de referências.

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5 ANALISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES

O perfil de solo analisado apresenta uma cobertura coluvionar areno-siltosa


com fragmentos rochosos angulosos, a qual sobrepõe-se à horizontes residuais de
solo e saprolito, estes últimos originados a partir de rocha dacítica (Figura 6).
Figura 6 – Descrição do perfil de solo

Fonte. Elaborado pelos autores (2016).

As análises geoquímica e petrográfica realizadas por Pöerschke (2015),


indicam que a rocha é classificada como um dacito. Segundo esta mesma autora, a
rocha é composta por fenocristais de plagioclásio, piroxênio, quartzo e minerais
opacos envoltos em uma matriz microcristalina e vítrea predominante (59%), a qual
encontra-se parcialmente devitrificada (Quadro 3).
As características químicas fornecidas no Quadro 3, mostram que a rocha
tem um teor original de SiO2 de 67,5% bem como um índice de intemperismo,
expresso pela relação molecular sílica/alumina , de Ki = 9,2.

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Quadro 3. Analise quimica e petrografica.


Analise Petrografica Analise química
Óxidos (%)
Minerais primários %
SiO2 67,52
clinopiroxenios 5 Al2O3 12,46
Plagioclásio 15 Fe2O3 6,47
Matriz vítrea 59 MnO 0,09
Quartzo 10 CaO 2,2
Minerais Opacos 5 MgO 1,25
Na2O 2,36
Minerais secundários %
K2O 4,88
Clorita 3 TiO2 0,86
Hematita e ghoetita 3 P2O5 0,23
Fonte: Pöerschke (2015).

Os argilominerais formados por alteração da rocha dacítica atingem teores de


34% no horizonte saprolítico (SAP). Outra característica observada é o crescimento
dos teores de argila com a profundidade, sugerindo um processo de translocação
vertical de argila entre os horizontes residuais. Alem disto, com exceção do horizonte
superficial ORG, todos os demais horizontes apresentam 100% de floculação
(Tabela1).

Tabela 1. Constituição granulométrica do perfil de solo.

Areia Areia Areia Argila Argila Grau de


Pedregulho Silte
Horizonte Grossa média Fina C/D S/D Floculação
% %
% % % % % %

ORG 1 2 7 28 38 24 10 58
COL 1 7 12 23 37 20 0 100
RES I 0 2 6 26 38 28 0 100
RES II 0 0 3 50 11 36 0 100
Limite Pedogenese - intemperismo químico
SAP 3 4 19 37 3 34 0 100
Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

Nos ensaios sem defloculante, as curvas granulométricas dos solos


apresentaram descontinuidades grandes nas frações finas. Entretanto, observa-se
que as curvas dos ensaios com defloculante, indicam a fração argila (Figura 4).
Segundo Rigo (2005), a agregação das partículas de caulinita, devido a não

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utilização de defloculante, forma uma quantidade maior de partículas tamanho silte.


Mas segundo Massad (2016), partículas de ilita são menores do que das caulinitas,
,porém, maiores do que as das montmorillonitas. Assim, as curvas granulométricas
para os ensaios sem defloculante nos solos de rochas ácidas mostram fração argila
pequena ou inexistente.

Figura 1. Curvas granulometricas dos horizontes analisados com e sem defloculate.

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

Analisando separadamente os horizontes residuais (Figura 5 e 6), pode-se


observar que os resultados dos processos de intemperismo quimico decorrentes no
perfil são claro no horizone SAP, no qual se verifica que predominância das fraçoes
areia média a fina, correspondentes aos minerais primários, tendo teores
significativos de argila 34% correspondentes aos produtos de alteração. Por sua vez,
a ação pedogentica leva o predominio da fração silte+areia fina como observa-se no
horizonte (RES I). Características intermediárias são identificadas no horizonte RES
II.
O fenômeno de floculação é observado nas Figuras 5 e 6, onde se verifica
que a fração argila encontra-se totalmente floculada. A fração silte predominante nos
horizontes SAP e RES II no ensaio sem defloculante é toda originada a partir da
floculação da argila. Nota-se também que as curvas granulométricas do RES II e
SAP para a fração argila são muito parecidas no ensaio com defloculante, ficando
evidente a estrutura original do solo neste caso (floculada), enquanto que o RES I
mantem a mesma curva para a fração silte nos ensaios, indicando então uma perda
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da estrutura original. O mesmo pode ser observado no gráfico sem defloculante em


que o RES II está acima da curva do RES I, indicando estar mais floculado do que o
RES I.
Figura 2. Curvas granulometricas horizontes solo residual com defloculante.

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

Figura 3. Curvas granulometricas horizontes solo residual sem defloculante.

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

As caracteristicas granulometricas condicionam a percolação d’água e


umidade, conforme Figura 7 os teores de umidade crescem em decorrência do

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aumento da fração argila, com umidades máximas no horizonte RES II no qual


possuiu a maior quantidade de argila, de forma que o SAP possui fração inferior à
umidade já é menor.

Figura 4. Teor de umidade e argila ao longo dos horizontes analisados

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

Analisado os valores obtidos pela fórmula de Seed, Woodward e Lundgren


(1964 apud Massad 2016), verifica-se que apenas o horizonte COL é ativo, sendo o
SAP inativo, possivelmente por apresentar propriedades minerais ainda primárias, os
demais horizontes apresentam atividade normal. (Quadro 4).
Quanto à estrutura dos argilominerais, observa-se na Figura 8, segundo o
critério de Skempton (1953), todos os horizontes apresentam argilominerais com
estrutura, 2.1. Segundo Vargas (1977), as caulinitas, cujo grão têm forma de placas
hexagonais, desta forma são menos plásticas, já as montmorillonitas de estruturas
cristalográficas complexas são mais plásticas. Para pinto (2006), as partículas de
minerais de argila diferem acentuadamente pela estrutura mineralógica, o solo pode
ter a mesma fração argila, e ter comportamento muito distintos, pois depende das
características dos minerais presentes.

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Figura 8. Estutura dos argilominerais.

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

Quadro 4. Indices de concistencia, estrutura e atividade das argilas.


Atividade (Seed,
Tipo Atividade
Woodward e
Argila LL LP IP Jenkins apud de Skemptom
Horizonte
% % % % Caputo 1988 Lundgren, 1964 apud
Argila (1953)
Massad 2016)

Medianamente
ORG 24 45 30 15 2.1 1,1 Normal
Plástico
Altamente
COL 20 47 31 16 2.1 1,6 Ativa
Plástico
Medianamente
RES I 28 50 36 14 2.1 0,8 Normal
Plástico
Altamente
RES II 36 56 36 20 2.1 0,8 Normal
Plástico
Medianamente
SAP 34 46 32 14 2.1 0,6 Inativa
Plástico
Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

A partir dos índices de consistência (LL e IP), foi possível classificar os


horizontes de acordo com classificação unificada (SUCS), que serve para a
classificação de um solo segundo as suas propriedades plásticas, os horizontes
ORG, COL, RES I e SAP caracteriza-se como (ML), Silte de baixa
compressibilidade, enquanto que o RES II (MH) Silte de alta compressibilidade.
Segundo Vargas (1977), os solos que caem abaixo da linha A, são ditos como pouco
plástico, neste caso todos os horizontes analisados pertencem a esse grupo.
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Conforme classificação trilinear de Folque (1988 apud Maciel e Nummer


2014), que leva em consideração somente a granulometria, os Horizontes ORG e
RES I é classificado como silte argiloso, o COL como Areia argilosa e os RES II e
SAP como Argila arenosa. Os dois diagramas podem ser comparados conforme
Figura 9.

Figura 9 Diagrama indicado pela letra (a) é segundo a classificação de Folque e (b) pelo
SUCS.

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

Na Figura 10 apresenta-se um resumo das características físicas e


geotécnicas determinadas nos horizontes analisados, porem apenas os horizontes
do solo residual possuem a maioria dos indicies físicos determinados. As
propriedades físicas determinadas em laboratório pelas amostras indeformadas,
nomeadamente foram: teor umidade natural (w), o peso específico nos estados
natural (γ), seco (γd), saturado (γsat), o índice de vazios (e), a porosidade (n) e o
grau de saturação (S). Nas amostras deformadas colhidas, foram realizados os
seguintes ensaios: análise granulométrica, limite de liquidez (LL) e o limite de
plasticidade (LP). Com os resultados obtidos foi possível determinar os respectivos
índices de plasticidade (IP), a atividade dos solos (IA), e grau de floculação da argila.

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Figura 10. Resumo dos indices fisicos analisados.

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

Conforme observado na Figura 11, a porosidade diminui a média que o peso


seco da amostra aumenta acompanhando o grau de alteração, ou seja, o volume da
amostra diminui, atestando mais uma vez a perda da estrutura original.
Figura 11. Porosidade X Peso especifico seco.

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

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Conforme a Figura 12 verifica-se as curvas tensão de cisalhamento x


deslocamento horizontal. As curvas foram divididas em dois gráficos, para facilitar a
visualização e assim comparar os dois horizontes residuais analisados. Em cada
gráfico foram colocados os ensaios para todas as tensões normais utilizadas. A
Figura 13 apresenta a envoltória de resistência ao cisalhamento das amostras RES I
e RES II, bem como as a resistência residual.
Em uma primeira análise das curvas já se pode verificar que a uma diferença
no comportamento dos diferentes horizontes, no qual é possível observar que o RES
I possui comportamento similar para todas as tensões aplicadas, não apresentando
um pico bem definido, enquanto que RES II apresenta picos de resistência bem
definidos. Outra característica observada é que a tensão exercida para romper a
amostra do RES II é maior do que no RES I.
Segundo Vargas (1977), à medida que a água existente entre os grãos ou
floculos vai sendo expulsa, o volume dos espaços entre os grãos vai diminuído, logo
seu índice de vazios vai decrescendo e sua coesão crescendo. Essa ocorrência
pode ser verificada no RES I conforme Figura 13.
Um fator a ser observado na perda de estrutura é que a camada do RES I
está sobre influências das camadas do solo transportado sugerindo que o mesmo
está sofrendo pressão, por isso no ensaio de floculação sem o uso do defloculante a
mesma apresenta-se com teores abaixo do RES II, indicando uma possível estrutura
laminada e não floculado, isso também é demonstrado no ensaio com o uso de
defloculate, no qual a amostra do RES II apresenta as frações finas estão totalmente
floculadas.

Figura 12. Curvas tensão de cisalhamento x deslocamento horizontal.

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Fonte: Elaborado pelos autores (2016).


Figura 13. Envoltória de resistência ao cisalhamento e resistência residual.

Fonte: Elaborado pelos autores (2016).

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6 CONCLUSÃO

Das relações verificadas entre o grau de intemperismo e as características


geotécnicas dos solos residuais, algumas conclusões gerais podem ser citadas:

• Verifica-se uma redução da porosidade do saprolito para o solo residual com


o grau de intemperismo;

• Ocorre uma diminuição da resistência ao cisalhamento com o grau de


intemperismo;

•. Verifica-se uma tendência ao enfraquecimento da estrutura dos materiais


residuais com o grau de intemperismo.

• Quanto à atividade das argilas neoformadas no horizonte saprolítico são


inativas, os horizontes residuais tem atividade normal. Isto decorre provavelmente de
mudanças mineralógicas.

Para trabalho futuros, é relevante caracterizar os horizontes com utilização dos


métodos da Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), e por Difração de Raio X,
com o objetivo de identificar a estrutura e mineralogia da fração mais fina (silte e
argila) presentes no solo. Ensaio por torção, ou ensaios Ring Shear, seria importante
para comparar os resultados da resistência ao cisalhamento residual verificando
segundo Kanji (1998) se realmente ocorre uma equivalência dos ensaios.

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Abstract

This study aimed to characterize a residual soil profile from the dacitic rock of
Serra Geral Formation, in Pinto Bandeira town - Brazil, as well as an evaluation of
the correlations of weathering and pedogenesis processes with the physical,
mineralogical and geotechnical properties of the soil and saprolite horizons. To
achieve this goal, field description of residual soil profile was realized by collecting
disturbed and undisturbed samples of diverse backgrounds, which were submitted to
laboratory measurements of natural moisture, physical limits, grains density, particle
size distribution by sieving, settling with and without deflocculant, as well as direct
shear tests with normal loads of 50, 100 and 200 kPa. The pre-existing data, such as
petrography and total chemical composition of the source rock were also examined.
Based on field and laboratory results, physical changes throughout the soil profile
and its geotechnical properties were evaluated. It was found that the rock farthest
horizons have a loss of structure and a reduction in its porosity and shear strength to
the degree of weathering.

Keywords: Residual soil profile from the dacitic rock. Weathering and
pedogenesis. Geotechnical properties.

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REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,. NBR 6457: amostras de
solo preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização. Rio de
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APÊNDICE B – MAPA GEOLÓGICO

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APÊNDICE C – MAPA PEDOLÓGICO

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