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Psicologia da educação: desenvolvimento

Maytê Cristine Moreira

A psicanálise é uma teoria, um método de investigação e uma prática


profissional. Como teoria, é conjunto sistematizado de conhecimentos sobre o
funcionamento da vida psíquica, enquanto método de investigação, é um método
interpretativo, que busca interpretar o que se manifesta por ações, palavras,
associações livres, e todos os aspectos nos quais as pessoas possam manifestar sua
interioridade. Como prática profissional, por sua vez, a psicanálise é uma forma de
tratamento psicológico que visa a cura ou o autoconhecimento.
Primeiro, Freud trabalhou com um profissional que fazia tratamentos
psicológicos por meio da hipnose, depois, trabalhou com Josef Brauer, médico por
meio do qual conheceu Ana O. Josef utilizava o “método catártico”, tratamento
voltado para a liberações de emoções que não puderam ser vividas na hora da vivência
dos momentos que as causaram. Depois de utilizar a hipnose e o método catártico,
Freud dedicou-se à técnica de concentração, na qual o paciente lembrava de
momentos em uma conversa normal, e, depois, ele abandonou as perguntas,
trabalhando com a fala do paciente e com a livre associação.
Depois de ter proposto um modelo para o aparelho psíquico, Freud propôs o
segundo, com conhecidos “id”, “ego e “superego”. O primeiro, constitui o estoque de
energia psíquica e é onde ficam as pulsões de vida e de morte. O segundo, ego, é o
equilíbrio entre as exigências do anterior, e as exigências do superego. O superego
corresponde às convenções sociais e culturais, e origina-se no Complexo de Édipo, fase
no qual a mãe é o objeto de desejo do menino, e o pai é o objeto de desejo da menina,
até ter internalizado certas normas sociais pelo pai ou pela mãe, respectivamente.
Nesse sentido, por enxergar a causa dos sintomas em desejos reprimidos que
podem ter se manifestado desde a infância, Freud desenvolve a teoria psicossexual, e
sistematiza, assim, as fases do desenvolvimento humano por meio das descobertas
que a criança faz acerca da própria sexualidade. Desse modo, a função sexual existe
desde o nascimento, quando a função sexual está voltada para a sobrevivência e o
prazer é encontrado no próprio corpo, passando pela fase oral, fase anal, fase fálica e
o período de latência, que dura até a puberdade. Depois, há a fase genital, quando o
objeto de erotização deixa de ser o próprio corpo e passa a ser o corpo de outra
pessoa.
Mais tarde, Erikson passou a trabalhar com a psicanálise sem negar as teorias
de Freud, mas indo por outro caminho. Em vez da teoria psicossexual, sua abordagem
se volta para a teoria psicossocial, que focaliza o problema da identidade e as crises do
ego mediante contextos socioculturais. Além disso, uma das diferenças importantes na
abordagem de Erikson, é que ele não se restringe ao desenvolvimento humano
somente os processos vividos na infância e adolescência, e sim ao desenvolvimento
que ocorre durante toda a vida do ser humano.
Segundo ele, esse desenvolvimento passa por 8 fases, sistematizadas por crises
do ego, que pode sair de cada uma das crises com uma carga positiva ou uma carga
negativa. O modo como o ego saiu de cada uma delas, influencia no seu desempenho
na vivência da próxima, de modo que o sujeito vai construindo sua identidade no
próprio modo de lidar com as coisas, mas principalmente pelas situações socioculturais
que ocasionam influências.
Assim, a primeira crise a da confiança básica (se o resultado for positivo) ou a
desconfiança básica (se o resultado for negativo). Nessa fase, a mãe é a primeira
relação social do bebê, e este precisa desenvolver segurança de que ela não irá
abandoná-lo a própria sorte no mundo. Em sua relação com ela a criança desenvolverá
sua confiança básica ou desconfiança básica acerca da vida. Depois, há a crise que
resulta na autonomia (em seu resultado positivo) ou na vergonha e dúvida (em seu
resultado negativo). Nesse momento a criança já desenvolveu habilidades motoras, o
que permite movimento, conservação e controle. Junto com o movimento e com a
tomada de controle chegam também o conhecimento sobre as regras, que, se forem
passadas pelos adultos de um modo proporcional às capacidades da criança,
convertem-se em autonomia. Entretanto, quando os adultos exigem muito da criança,
ou as fazem absorver regras (como a ida ao banheiro) de forma autoritária, trazendo
como consequências para a falha castigo ou vergonha, o ego sai dessa fase com
vergonha e dúvidas sobre as próprias capacidades.
A terceira crise do ego resultaria em iniciativa (na influência positiva) ou culpa
(na influência negativa). Nesse caso, a criança está passando pela expansão intelectual,
estabelecendo metas e objetivos para que ela mesma possa buscar. Se essas metas e
objetivos de desejo estejam fora de seu alcance ou não forem socialmente
repreendidas, a criança passa a fantasiar para fugir da tensão. Nesse sentido, se tudo
der certo, a iniciativa é criada e as noções de responsabilidade são formadas.
Entretanto, se o ego sair fragilizado dessa crise, passará por momentos de culpa e de
falta de respeito por si mesmo.
A crise seguinte, quarta, é responsável pela diligência (se o resultado for
positivo) ou inferioridade (se o resultado for negativo). Nesse momento, a criança está
passando pelo período de aprendizagem formal, e o principal contato social é vivido na
escola. Na escola se aprende aquilo que é valorizado no mundo adulto, e interesses
por aquisição de competências e habilidades em determinadas coisas começam a
aflorar. É uma preparação para o futuro.
Na quinta fase, há a identidade e a confusão de identidade: a fase da
adolescência. Segundo Erikson, o adolescente se pergunta quem ele é e de quem ele é
diferente. Há necessidade de encaixar-se em algum papel na sociedade, e por isso é
uma fase de envolvimento em grupos sociais e ideológicos. Para que o resultado dessa
crise seja positivo, o ideal seria que o adolescente encontrasse um grupo e o seu papel
social, mas que esse grupo não suprisse definitivamente suas perguntas acerca da
própria identidade, para que, assim, não exista o fanatismo e problemas decorrentes.
Na sexta fase há a intimidade (se o resultado for positivo) ou o isolamento (se o
resultado for negativo). Essa crise seria em relação à associação de um ego ao outro.
Assim, a pessoa necessita estar relativamente segura da própria identidade — que
deve também ser flexível — a ponto de não ser atingida pelo ego do outro. Isso é o
que determina sua relação de intimidade ou isolamento. Na crise posterior a essa, o
indivíduo passa a ter a necessidade de transmitir e de ensinar, o que pode vir na forma
de outra vida humana (um filho), ou na forma do trabalho, da transmissão de ideias
etc. O importante seria passar para frente o que se é e o que se sabe. O resultado
positivo dessa crise é a generatividade, e o negativo é a estagnação, quando o ser cai
num marasmo de lamentação e negatividade por não ter conseguido cumprir tal
objetivo. A última crise, por fim, é no modo que a pessoa se sente quando se depara
com a velhice. Nessa fase, ela pode sentir-se íntegra (o resultado positivo),
experimentando o sentimento de dignidade e integridade, ou desesperada (o
resultado negativo), tornando-se nostálgica e sentindo medo do “fim”.
Percebe-se que Erikson dá conta do desenvolvimento humano desde o
nascimento até a morte, ao passo que Freud se restringe à fase genital. Além disso, são
modos de pensar muito diferentes, já que a teoria psicossexual de Freud centraliza o
desenvolvimento da sexualidade, enquanto as teorias de Erikson são psicossociais e
dão conta das crises que o ego passa ao se relacionar socialmente com o mundo. Há
algumas correspondências que podem ser feitas, entre ela, a mais evidente seria a
crise da iniciativa/dúvida, na qual a criança propõe objetivos para si que podem ser
alcançados ou não. Nesse caso, a situação de um objetivo não alcançável pode ser
comparada ao complexo de Édipo desenvolvido por Freud, onde a criança deseja a
mãe ou o pai, mas não pode tê-lo(a).

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