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Universidade Federal de Santa Catarina

CNM 7211 - Introdução à Economia


Luiza Montanheri (17202725)

Exercício V

(2,0)

1. O que significa valor de uso e valor de troca?

Callinicos (2004, p. 1) inicia dizendo que a base de toda sociedade é o processo de


trabalho, “[...] seres humanos cooperando entre si para fazer uso das forças da natureza e,
portanto, satisfazer suas necessidades.” Ou seja, o produto proveniente do trabalho humano
possui um valor de uso pela satisfação que este tem para as necessidades humanas – pela
utilidade que possui –, mas que a mercadoria não porta apenas este valor de uso.
Segundo Adam Smith, a produção destas serve para a venda no mercado e, por isso,
detém também um valor de troca. Entretanto, nem sempre o valor de uso será proporcional ao
de troca, uma vez que o valor de uso precisa satisfazer algumas determinadas necessidades,
como citado anteriormente. Este valor de troca, portanto, reflete o que as mercadorias
possuem em comum. Deste modo, a ocorrência das trocas de produtos diferentes é devido ao
custo de produção da mercadoria à sociedade, uma vez que é a força de trabalho que move ser
o fator principal da produção.
Todavia, não se trata do trabalho particular de produção de determinada mercadoria e
sim do trabalho concreto, podendo ser diverso e extremamente complexo, com valor social
pelo qual precisa ser abstraído para que a medida de valor seja encontrada. Logo, o trabalho
possui também um caráter dual, ou seja, o trabalho sendo parte do processo de produção da
mercadoria e de certas relações sociais que, por sua vez, estão embutidas numa relação entre
coisas, o que Marx descreve como fetichismo da mercadoria.

2. O que significa o caráter dual do trabalho?

O caráter dual do trabalho, para Marx, é descrito como um dos melhores pontos de seu
livro. É a partir desta diferenciação que sua teoria se distancia da teoria de D. Ricardo e dos
economistas políticos, pois Ricardo foca na magnitude do valor das mercadorias, na tentativa
de prever os preços de mercado. Entretanto, Marx não estava interessado nestes preços ou na
medida em que o trabalho formava o valor de troca das mercadorias, mas na forma em que o
trabalho realizava esta função e no motivo cuja produção se destina aos mercados e não ao
uso direto. Assim, este caráter dual explica o trabalho como atividade social e cooperativa,
sendo ao mesmo tempo concreto e abstrato. Em vista disso, todos os tipos de trabalho são
úteis para a sociedade no sentido fisiológico e no sentido de estar especificado para um fim
social.

3. Explique: trabalho humano concreto produz valor de uso e trabalho humano abstrato
produz valor de troca.

Para Marx, o trabalho possui um caráter dual em que é ao mesmo tempo concreto e
abstrato. O trabalho concreto é aquele que gera a confecção de determinado produto, ou seja,
um trabalho específico que acaba gerando uma mercadoria com valor de uso. No sentido
social, o trabalho concreto não pode ser comparado, pois todas as pessoas precisam de uma
infinidade de mercadorias para sobreviver, sendo todos os tipos de trabalho importantes e
úteis.
Já o trabalho abstrato é aquele que todos fazem, que diz respeito ao esforço físico
independente da especificidade da produção e que gera um valor de troca por fato de que
pode ser comparado, pois todos produzem para a sociedade e não para o consumo individual,
além do próprio trabalho ser o denominador comum de troca.

4. Explique a teoria do valor trabalho.

O trabalho abstrato pode ser comparado e medido como um valor. A teoria do valor
trabalho diz que o valor de uma mercadoria será medido pelo tempo de trabalho abstrato
socialmente necessário para a produção de uma mercadoria. Ou seja, as condições de
produção de determinada sociedade, bem como tecnologias etc, determina de antemão o valor
deste trabalho, não sendo a produção individual como ocorria nas sociedades pré-capitalistas,
mas o tempo que a fábrica leva para produzir a mercadoria. Como toda mercadoria, a força de
trabalho é a unidade de valor de uso e de troca.
“[...] o valor das mercadorias é determinado não pela quantidade total de trabalho
usada para produzi-las, mas sim pelo tempo de trabalho socialmente necessário [...]”
(CALLINICOS, 2004, p. 4). Em outras palavras, toda mercadoria é socialmente necessária
desde que a sociedade queira comprar, caso contrário este trabalho não poderá ser
considerado como social. Se não há valor de uso, consequentemente não há valor de troca.

5. Qual o valor da mercadoria força de trabalho?


A força trabalho é uma mercadoria determinada pelo valor de uso e quantificada pelo
tempo de trabalho socialmente necessário de produção e alienação da classe trabalhadora,
sendo este o valor de troca. Isso significa que é preciso saber também quanto de trabalho
social está contido na produção de cada mercadoria e, como na sociedade capitalista não é
possível descobrir em uma “reunião coletiva”, os produtores se relacionarão entre si através
de suas mercadorias até que esta atinja um valor universal para que o valor de outras
mercadorias sejam mensurados.
Portanto, quando há fixação de um produto no papel de equivalente universal, ela
acaba se tornando dinheiro, expressa na forma de “[...] corporificação de trabalho social”
(TVM apud CALLINICOS, 2004, p. 5). Logo, a concorrência entre os diferentes produtos
reduzirá a uma medida todo o trabalho social abstrato em dinheiro. O valor de troca da força
de trabalho aparece, então, na forma mistificada de preço do trabalho, chamado salário.

6. O que é a mais valia?

A teoria do valor-trabalho é apenas o ponto de partida de Marx. Avançando na


explicação do comportamento complexo do sistema capitalista tendo o trabalho abstrato como
ponto de partida, o valor de uso da força de trabalho – sendo o próprio trabalho como fonte de
valor – comprada pelo capitalista é o que irá produzir a mais-valia.
A mais-valia, então, seria a diferença entre D-M-D¹ (dinheiro-mercadoria-dinheiro¹) –
em que D é o capital necessário para a produção que comprará o capital variável (CV), a força
de trabalho vivo, além de pagar também pelo capital constante (CC), isto é, os meios de
produção que seriam máquinas, equipamentos, insumos etc – trabalho morto, incorporado no
valor do maquinário. Recapitulando, é de um dinheiro inicial que se comprará mercadorias
que também são capitais, sejam elas variáveis ou constantes, produzindo novas mercadorias
para serem vendidas no mercado e que gerará D¹ > D, ou seja, a mais-valia (MV).
Logo, o capital é a acumulação de mais-valia pelo trabalho e esta acumulação se torna
dinheiro, mercadorias ou meios de produção. Assim, atua num ciclo de acumulação
incessante para que se assegure acumulação posterior. “[...] mais-valia foi o nome dado por
Marx para a razão entre a mais-valia e o capital variável, o capital investido na força de
trabalho. Ela mede a taxa de exploração, em outras palavras o grau em que o capitalista foi
bem sucedido em extrair mais-valia do trabalhador.” (CALLINICOS, 2004, p. 8).

7. Como é possível ocorrer a expansão da mais valia?


Marx aponta que é possível os capitalistas aumentar a taxa de mais-valia de dois
modos diferentes, pela mais-valia absoluta e/ou mais-valia relativa. A expansão da mais-valia
absoluta é o aumento da jornada de trabalho. “Assim, se os trabalhadores gastam 10 horas ao
invés de 8 horas no trabalho, quando o trabalho necessário é ainda somente 4 horas, então
mais 2 horas de trabalho são adicionadas. A taxa de mais-valia aumentou de 4/4 para 6/4, ou
de 100% para 150%.” (CALLINICOS, 2004, p. 9). “[...] é trabalho morto, que apenas se
reanima, à maneira dos vampiros, chupando o trabalho vivo e que vive quanto mais trabalho
vivo chupa". (C1, 189 apud CALLINICOS, 2004, p. 9).
Entretanto, o capital depende da força de trabalho como força de valor e, caso esta
exceção exacerbada de trabalho exceda os limites humanos de produção, isso fará com que o
trabalhador diminua sua força de trabalho pela exaustão ou pelo surgimento de doenças,
consequentemente aniquilando a força de trabalho do qual depende numa atuação contra seus
próprios interesses. Mas em consequência ao aumento da jornada de trabalho, também pode
ocorrer a resistência organizada dos trabalhadores, a exemplo podem surgir os sindicatos para
a resolução de problemas comuns como a exigência de leis trabalhistas que controlem a
duração da jornada de trabalho.
Por outro lado, os capitalistas podem decidir por aumentar a jornada de trabalho de
forma relativa, o que significa estar ligada à ideia de aumento da produtividade no que diz
respeito ao valor da força de trabalho. Uma vez que o valor da força de trabalho é o tempo de
trabalho socialmente necessário para a produção e reprodução da classe trabalhadora e se a
produtividade faz com que os bens de consumo que os trabalhadores necessitam diminua o
tempo de trabalho, então o tempo de trabalho para produção e reprodução da classe
trabalhadora também diminui havendo um aumento na produtividade, levando a uma queda
no preço das mercadorias produzidas. Assim, “o trabalho necessário tomará agora apenas 2
horas de trabalho do total de 8 horas. Assim a taxa de mais-valia é agora 6/2. Ela aumentou de
100% para 300%.” (CALLINICOS, 2004, p. 9).
Sendo assim, a diminuição do valor do trabalho e aumento da produtividade, dá ao
capitalista mais tempo de trabalho e consequentemente mais excedente, ou seja, mais-valia.
Esse aumento da produtividade pode ocorrer por uma maior complexificação do trabalho
através da maquinofatura e neste caso, a mais-valia está na esfera do processo de produção.
Todavia, é somente na esfera da circulação que há a concretização da mais-valia, em outras
palavras, o significado desta expansão é o lucro gerado ao capitalista pela circulação de
mercadoria no mercado. “Do ponto de vista da compreensão do capitalismo, a taxa de
mais-valia é mais importante porque a força de trabalho é a fonte de valor. Mas o que importa
ao capitalista é a taxa de lucro porque ele precisa de um retorno adequado sobre o seu
investimento total, e não só sobre o que ele gasta com salários.” (CALLINICOS, 2004, p. 12).

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