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Guia de Criação de Ciclídeos Africanos

1 - Introdução

Os Ciclídeos Africanos tem a sua origem em várias regiões. Existem ciclídeos


na África Ocidental, Oriental, nos rios africanos e nos chamados "Rift Lakes". O
termo "Rift Lakes" aplica-se aos três principais lagos do continente africano:
Lagos Victoria, Tanganyika e Malawi. Entre estes lagos rochosos, o que abriga
o maior número de espécies é o Lago Malawi (mais de seiscentas espécies
catalogadas - mas mais da metade já extintas). A maioria das espécies que
habitam estes lagos são endêmicas, isto é, apenas são encontradas no
respectivo lago.

1.1 - Características Gerais

Ciclídeos do Lago Malawi pertencem a dois grupos distintos: Mbuna (peixes


que habitam a parte rochosa do lago) e Non-Mbuna (todos os outros) - outros
nomes associados a este último grupo são: Utakas e Haplochromis (Haps).

Mbunas são menores, mais activos e agressivos que os non-mbunas, são


usualmente herbívoros, alimentando-se basicamente de algas rochosas e
pequenos crustáceos. Os principais géneros são: Pseudotropheus,
Melanochromis, Labidochomis, Labeotropheus, Cynotilapia, Gephyrochomis,
entre outros.

Non-mbunas são menos agressivos (para os padrões dos ciclídeos africanos!)


principalmente porque os seus territórios não são tão pertos entre si e são
menos definidos (por habitarem a parte mais aberta do lago); são maiores que
os mbunas e são na sua maioria omnívoros (alimentando-se de alevins,
pequenos invertebrados, plancton, etc). Os principais géneros são: Aulonocara
("Peacocks"), Haplochromis ("Haps").

Tipicamente os ciclídeos do Lago Tanganyika desovam no substrato, e


alimentam-se de plancton, microcrustáceos e alevins (micro-predadores e
omnívoros). Os principais géneros são: Tropheus, Lamprologus,
Neolamprologus, Julidochromis.

No entanto, estas características são apenas generalizações, e certamente


existem muitas excepções. Por exemplo, a Cyphotilapia do Lago Tanganyika
atinge até 35 cm, e alguns shell-dwellers podem apresentar um comportamento
agressivo comparável aos mbunas. E, do mesmo modo que os ciclídeos do
Malawi, existem Tanganyikas predominantemente herbívoros, omnívoros e
predominantemente carnívoros.

1.2 - Dimorfismo/Dicromatismo

Em várias espécies, normalmente o macho é maior e possui coloração mais


vistosa que a fêmea. Entretanto, enquanto alevins, todos possuem a coloração
da fêmea, não sendo possível distinguir o sexo pela cor. Somente quando
juvenis, ou mesmo adultos em algumas espécies, é que a cor definitiva
aparecerá. Em algumas situações, entretanto, um macho adulto poderá tomar
a cor da fêmea. Por exemplo, quando um macho não dominante é
seguidamente atacado pelo dominante (não necessariamente da mesma
espécie), o primeiro pode adquirir a coloração da fêmea da espécie,
camuflando-se como proteção. O modo correcto de distinguir o sexo é
verificando os canais genitais, que nas fêmeas são maiores e mais
arredondadas (para facilitar a desova). Alguns criadores distinguem os machos
pelas barbatanas mais pontiagudas. Este método, porém, além de subjectivo,
não é visível em alevins e juvenis.

2 - Tamanho do Aquário

Considerando (a) o tamanho médio dos ciclídeos africanos (Tangs: 6-10 cm;
Mbunas: 12-15 cm; non-Mbuna: 20-30 cm); (b) que quase todas as espécies
são territorialistas/agressivas; (c) que estes procriam com frequência (quando
bem adaptados ao ambiente) e (d) que a decoração do aquário ocupa muito
espaço, o volume mínimo adequado para a criação significativa de ciclídeos
africanos seria de aproximadamente 200 litros (100x50x40 cm). Entretanto,
para observar o comportamento singular e a procriação destes peixes de
maneira adequada e satisfatória, o aquário ideal deveria ter mais de 350 litros
(150x50x50 cm). Em tanques menores poderiam co-habitar espécies menores
("mbunas dwarf rock-dwellers", Tangs "shell-dwellers" e Victorian Haps), mas
mesmo assim em número reduzido. Em todos os casos a proporção ideal é de
cerca de 15-20 litros/peixe. Deve-se dar preferência a aquários mais largos do
que altos, em função da decoração: 10 cm a mais num aquário rochoso fazem
uma diferença significativa. Ex.: um aqua de 200 L com medidas 100x50x40
(CxLxA) será mais bem melhor aproveitado do que um de 100x40x50.

3 - Parametros Da Água:

3.1 - Temperatura

Temperatura entre 24-27°C. O ideal seria mantermos a temperatura entre 24-


26°C pois: (a) temperaturas mais altas aceleram o metabolismo e
consequentemente o apetite, aumentando a agressividade; (b) quanto mais alta
a temperatura menor a taxa de oxigénio dissolvido na água. Em duas situações
seria interessante aumentar a temperatura até o ponto (29-30°C): (a) para
promover a desova/procriação e (b) aumentar o apetite e consequentemente o
crescimento dos peixes (principalmente dos alevins).

3.2 - Amónia/Nitratos/Nitritos

Todos os peixes em geral são sensíveis à amónia, mas esta é potencialmente


mais tóxica para os ciclídeos. A amónia num pH alcalino é muito mais tóxica do
que num pH neutro (vide aquas marinhos). Daí a importância: (a) da ciclagem;
(b) de uma boa filtragem biológica/mecânica/química; (c) das trocas parciais de
água mais frequentes e (d) do controle populacional.
3.3 - O2 x CO2

Os ciclídeos africanos necessitam da água com alto grau de oxigénio dissolvido


e baixo grau de CO2. A ausência de plantas dificulta a manutenção deste
parâmetro. Se criarmos uma forte movimentação na superfície da água,
aumentaremos as trocas gasosas (dissolução de O2 e evaporação de CO2),
então, teremos uma concentração maior de O2 e menor de CO2 (vide aquas
marinhos). Quanto maior a movimentação/corrente da superfície menor a
quantidade de CO2 e consequentemente maior o pH (basta verificar isto em
uma tabela conjugada pHxKHxCO2).

3.4 - pH

Os ciclídeos africanos, ao contrário dos americanos, necessitam de água


extremamente alcalina. As faixas típicas para os três lagos são:

Victoria: 7.2-8.6 Malawi: 7.4-8.6 Tanganyika: 7.8-9.0

Estes são valores aproximados, e claro, vão variar naturalmente em diferentes


épocas do ano nestes lagos (em função da salinidade, da temperatura etc). É
recomendado manter o aquário com pH estável entre 8.2-8.4, que seria uma
faixa média, apropriada para os peixes dos três lagos. Como vimos no ítem
anterior, a forte movimentação da água ajuda a aumentar o pH, porém outros
fatores conjugados também interferem directamente no pH. É o que veremos
nos próximos dois itens.

3.5 - KH / NaHCO3

A dureza dos carbonatos (KH) refere-se ao grau de dissolução de carbonatos e


bicarbonatos na água. Quanto maior o grau, mais dura é a água. O KH é o
responsável pelo tamponamento, que é a capacidade de manter o pH estável.
A água dos Rift Lakes contém muito carbonato dissolvido, deixando o KH entre
8-10 (moderadamente dura). Adicionando (nas trocas parciais) Bicarbonato de
Sódio (NaHCO3) na proporção aproximada de uma colher-medida cheia para
150 litros de água nova, tamponaremos o pH em aproximadamente 8.1-8.5,
dependendo do pH inicial e do movimento de superfície da água.

3.6 - GH / CaCO3

A dureza geral (GH) refere-se à concentração geral/total, principalmente de


magnésio e cálcio dissolvidos na água. A relação entre GH e pH é muito
pequena, mas é importante para algumas espécies de plantas e peixes. Nos
Rift Lakes, a água contém alta concentração de magnésio, deixando o GH
entre 10 e 12. Para elevar o GH (e consequentemente o KH), adicione
carbonato de cálcio (CaCO3). Sulfato de magnésio pode ser usado para
endurecer a água no lugar do cálcio, entretanto, utilizando substratos calcários
(halimeda, aragonite, dolomita) o GH/KH ficará estável, sem a necessidade de
adicionar estes produtos.

3.7 - Salinidade

A água dos Rift Lakes possui alto grau de sais dissolvidos, mas não do sal
comum NaCl, portanto é um erro comum achar que a água dos ciclídeos
africanos é salobra. Para suprir a água do tanque de potássio e elementos
traços, utilize 1 colher de sal próprio para ciclídeos africanos (não iodado). Não
é recomendável a adição de NaCl, salvo sob condições particulares (controle
de bactérias, etc.)

4 - Filtragem

Os ciclídeos africanos comem muito, produzindo muitos dejectos que se


acumulam rapidamente no aquário. Como não há plantas no tanque, toda a
sujidade deve ser removida pela filtragem. Então, quanto mais forte for esta,
melhor. Sugere-se um filtro externo com circulação de pelo menos 6 vezes por
hora o volume do aquário, acrescido de bombas submersas acopladas a
esponjas que (a) aumentam a filtragem biológica e (b) aumentam a corrente
interna, mantendo os dejectos mais tempo em suspensão, sendo recolhidos
pelo filtro externo. Quando houver "superpopulação" (descrito adiante),
devemos ter também uma "superfiltragem" de pelo menos 8x volume/hora.

4.1 - Trocas Parcias

Devido (a) ao facto da amónia/nitratos serem muito mais tóxicos em água


alcalina; (b) à ausência de plantas e (c) à superpopulação, a qualidade da água
em tanques de ciclídeos africanos deteriora rapidamente. Trocas frequentes
tornam-se imprescindíveis, fazendo com que os peixes permaneçam saudáveis
e tenham as cores realçadas. Pelo menos 20-30% semanais atendem a esta
necessidade. A água de torneira, normalmente utilizada nas trocas, contém
cloro/cloraminas. É necessário adicionar um condicionador (tipo "AquaSafe")
para eliminá-los junto com os demais metais pesados.

5 - Decoração:

5.1 - Iluminação

Por não haver plantas, a iluminação não necessita ser forte. 0,5 W/L de
iluminação fluorescente normal é o suficiente (incluindo, neste valor, uma
lâmpada azul actínica, para realçar a coloração dos peixes).

5.2 - Substrato

O cascalho correcto num aquário de ciclídeos africanos é de vital importância


para um bom desenvolvimento do aquário. É ele que tampona o pH num "reef
doce". Logo abaixo são citados alguns tipos de cascalho indicado para
ciclídeos africanos:
African cichlid mix - cascalho importado dos EUA, de excelente qualidade,
promove um aumento de biologia pela estrutura porosa, e mantém um pH alto
recomendado. Na cor cinza/branco/grafite, é altamente recomendado.

Halimeda - cascalho normalmente usado em aquário de corais, possui todos os


elementos bioquímicos recomendados para este aquário. Possui a vantagem
de ser nacional e ter um custo mais reduzido. Consegue manter uma dureza
alta e um pH excelente.

Caribean Sea Aragonite - cascalho importado dos EUA, normalmente usado


nos grandes aquários de ciclídeos africanos, pela sua excelência bioquímica e
pela sua bela cor branca que realça as cores dos peixes. É pesado com
granulagem média-fina, mantém o pH alto e dureza correcta.

Dolimita - cascalho mais comum, possui características alcalinizantes e preço


baixo, mas não é recomendável. Desvantagem: perde com o tempo a sua força
alcalinizante e altera pouco a dureza da água por não ser de material
exclusivamente calcário.
Cascalho de conchas - muito comum no passado para aquários marinhos, é
recomendável para ciclídeos mas não se dissolve bem com o tempo, perdendo
o poder de tamponamento que os três primeiros possuem.

5.3 - Pedras

O aquário de ciclídeos africanos deve ser decorado com areia e rochas, em


quantidade apropriada para simular o ambiente natural dos Rift Lakes habitado
pela maioria das espécies escolhidas para o aquário. As tocas servem de
abrigo e como "ninho" para reprodução. As tocas serão ocupadas e se tornarão
territórios defendidos agressivamente (principalmente durante a desova). As
rochas, cobertas de algas, servem de fonte de alimento para os herbívoros. A
movimentação forte da água evita que depósitos de sujeira acumulem-se entre
as rochas. A agressividade está ligada à quantidade de tocas, uma vez que
quanto menos tocas, mais disputa por elas.

5.4 - Plantas

Normalmente não são usadas em aquários de ciclídeos africanos. A maioria


deles são parcialmente ou totalmente herbívoros, tendendo a comer quase
todas as espécies de plantas. Além disso, o pH muito alto, com baixa
quantidade de CO2 dissolvido, não favorece o crescimento da maioria das
plantas.

6 - Alimentação

Os mbunas são basicamente herbívoros, enquanto os non-mbunas são


omnívoros, assim como a maioria dos Victorian Haps e Tangs (uma importante
excepção são os Tropheus e Góbios que são herbívoros quase que
exclusivamente, qualquer dose maior de proteína animal é suficiente para
adoecê-los). Entretanto, todos os ciclídeos africanos tenderão a comer
qualquer alimento oferecido. O problema é que uma dieta errada poderá causar
uma doença fatal nos ciclídeos africanos chamada "Malawi Bloat" (mais a
seguir). O ideal é alimentá-los 2-3 vezes/dia, o suficiente para o consumo em
até 2 minutos, deixando-os em jejum 1 dia na semana. Uma alimentação 90%
herbívora e 10% animal (artémias) é a combinação ideal. A alimentação está
ligada à agressividade, como veremos a seguir.

7 - Agressividade

Quase todas as espécies são territoriais e intolerantes com (pelo menos) sua
própria espécie. Em algumas espécies mesmo as fêmeas mostram
comportamento territorial (M. chipokee e M. auratus, Ps. lombardoi...). Às vezes
a agressão do macho é directamente contra algum peixe de coloração
semelhante (especialmente entre Aulonocaras). Alguns Neolamprologus do
complexo brichardi são mais tolerantes entre si e podem inclusive formar
colônias hierárquicas baseadas no corporativismo, se o aquário tiver espaço
suficiente para comportá-los.

7.1 - Hierarquia Social

Os ciclídeos africanos, mesmo fora dos limites de um tanque, formam uma


hierarquia social, que funciona tanto inter quanto intra espécies. Assim, um
macho é o peixe hiperdominante do tanque, tendo o comportamento mais
agressivo, perseguindo todos (principalmente os machos) que se aproximarem,
não somente no período da desova. Entre as espécies haverá um macho
dominante, que não tolerará nenhum outro macho de sua espécie no tanque. O
dominante acabará matando o(s) outro(s). Mesmo em aquário maiores (400-
500 L) algumas espécies mais agressivas (M. chipokee e M. auratus) não
aceitarão a presença de outro macho da sua espécie no tanque. O ideal é
mantermos um "harem" de 2-3 fêmeas para cada macho. A hierarquia é melhor
observada quando não há actividade de desova no tanque. Quando está
desovando, tanto o macho quanto a fêmea tornam-se mais agressivos,
podendo "quebrar" a hierarquia.

7.2 - Controle

A agressividade dos ciclídeos está ligada basicamente a dois factores: sexo e


comida. Para tentar controlar a agressividade, devemos (a) manter o número
de machos bem menor que o de fêmeas, criando "haréns"; (b) montar as
rochas formando muitas tocas (2-3/macho), para diminuir a disputa; (c) baixar a
temperatura (25-26°C), para não aumentar o metabolismo; (d) alimentação 2-3
vezes ao dia (consumo até 2 minutos). Além dessas medidas, há uma teoria de
"superpopulação" do tanque, que dispersaria a atenção dos machos
dominantes, não fixando em uma só vítima. Caso o aquarista opte por
superpopular o aquário, deve, então superfiltrar a água. A adição de alguns
peixes rápidos de superfície (dânios, paulistinhas) também ajuda a dispersar a
agressividade.

8 - (Re)Introdução de (Novos) Peixes


Ao introduzirmos os peixes no aquário recém montado, devemos evitar colocar
os mais agressivos primeiro. O "ranking" de agressividade entre os Mbunas
tem no "pódium" M. auratus, M.chipokee, Ps. lombardoi "Kennyi", seguidos
pelos outros Pseudo- e Labidotropheus. Os Labidochromis e Aulonocaras são
espécies menos agressivas (para os padrões dos ciclídeos africanos!). Ao
reintroduzirmos um peixe no aquário, devemos ter em atenção o facto de que
este voltará à base da "pirâmide social". Para evitarmos algum incidente,
devemos reintroduzí-los durante a alimentação, podendo apagar as luzes, para
que o novo habitante possa encontrar algum abrigo. Um novo habitante será
perseguido/caçado durante as primeiras semanas e não revidará, averiguando
a hierarquia social do grupo. Quando estiver adaptado, começará a desafiar os
que se encontram na base da pirâmide.

8 - Reprodução

Sendo todos ovíparos, as fêmeas dos ciclídeos africanos desovam na água,


sendo em seguida fecundados pelo macho no próprio substrato.

8.1 - Desova

Se a água, a comida e a filtragem estiverem dentros dos parâmetros ideais, os


ciclídeos africanos desovarão com frequência. Os Mbunas começam a desovar
a partir dos 7 meses de vida. Algumas espécies chegam a desovar
mensalmente. O macho prepara a toca e corteja a fêmea. Neste período
tendem a ficar mais agressivos.

8.2 - Incubação Bocal

Em algumas espécies (Mbunas, por exemplo), as fêmeas carregarão os ovos


fertilizados em sua boca e os incubarão. As larvas chocarão após 14-21 dias.
Quando estes chocarem (10-30 larvas), ainda permanecerão durante 18-25
dias (dependendo da espécie e da temperatura). Quando os alevins
alcançarem cerca de 1 cm, estarão aptos a alimentar-se e a nadar livremente.
Quando as fêmeas carregam ovos, recusam-se a comer (característica que
pode ser confundida com a doença hidropsia); a sua boca parece cheia,
fazendo movimentos de mastigação frequentemente.

8.3 - Stripping Fry

É a técnica de retirar manualmente os alevins da boca da mãe.

8.4 - Crescimento dos alevins

Para um crescimento saudável e eficaz, as trocas parciais deverão ser mais


frequentes e a quantidade de proteína animal (artémias) deve ser maior (70%
vegetal, 30% artêmias). A temperatura deve ficar entre 28-29°C para aumentar
o metabolismo e o apetite.

8.5 - Hibridismo
Espécies diferentes de um mesmo género (especialmente entre Aulonocaras e
Pseudotropheus), poderão procriar (principalmente, quando não houver um
número satisfatório de fêmeas de sua espécie disponíveis), produzindo crias
híbridas que costumam ser estéreis, fracas, sem coloração intensa, e muitas
vezes com deformações. O macho hiperdominante, principalmente, também
tentará procriar com fêmeas de outras espécies no mesmo género.

9 - Doenças

Além das doenças "convencionais", a que todos os peixes estão sujeitos, os


ciclídeos estão sujeitos a uma fatal, chamada "Malawi Bloat" (semelhante à
hidropsia). Apesar do nome, ela pode atacar os peixes dos três lagos.

9.1 - Sintomas

O primeiro sintoma é a perda do apetite. Os ciclídeos africanos são sempre


vorazes ao se alimentarem. Somente a fêmea, quando está carregando ovos, é
que perde o apetite. Os sintomas secundários incluem inchaço anormal do
abdomen, respiração ofegante, fezes brancas, ficar parado no fundo do tanque
ou ofegando na superfície. Marcas vermelhas em volta do ânus ou ulcerações
na pele podem aparecer. Neste ponto já é tarde para recuperar o peixe, pois a
extensão dos danos já atingiu o fígado, os rins e/ou a bexiga natatória. A morte
normalmente acontece em 24-72 horas (em alguns casos em até 1 semana).

9.2 - Causas

As principais causas do Malawi Bloat são: (a) dieta errada, que irá irritar o
sistema digestivo/excretor dos peixes (evitar tubifex, blood worms, larvas e
artêmias em excesso, e mesmo flocos e pellets contendo este. Os Mbunas são
basicamente herbívoros. Mesmo os non-Mbunas devem ter a alimentação
animal restrita. (b) longa exposição à água de baixa qualidade: parâmetros
incorretos, falta de trocas de água e superalimentação. (c) Excesso de sal
(NaCl): na tentativa de simularmos o ambiente ideal, frequentemente,
exageramos na quantidade de sal, sobrecarregando os orgãos internos dos
animais.

9.3 - Tratamento

Só há tratamento no estágio inicial da doença. Quando percebermos que o


peixe perdeu o apetite, devemos removê-lo e iniciar o tratamento
imediatamente. Uma solução de Metronidazole (Emtryl), ou um Bactericida
para aquários, em conjunto com uma oxigenação forte, temperatura entre 29-
30°C, e trocas diárias de 30%, poderão salvar o peixe. O tratamento deve
seguir até o peixe voltar a ter o seu apetite normal.

10 - Referências

C.M.C.A
Malawi Cichlid Homepage
African Cichlid Recipe
African Cichlids
Cichlids Great and Small

Nota Final

Este "Manual" é apenas um resumo de uma série de artigos que eu consegui


na net em diversos sites especializados em Ciclídeos Africanos. Os sites
brasileiros, em sua maioria (sem, é claro, querer desmerecê-los), abrangem
basicamente aquários comunitários típicos e aquários plantados (tipo
holandês); informações específicas sobre aquários de ciclídeos africanos
quase não há nos sites que eu procurei. Como consegui muita informações em
sites estrangeiros, resolvi compilar estas informações e resumi-las num único
texto. Ao compartilha-lhas quero deixar claro que se trata meramente de uma
contribuição para os interessados em aquariofilia.

Luis Cláudio Esquárcio, com colaboração de José Antonio (ez), Flávia (Perse),
Bruno Galhardi, Johnny Bravo e Marcos Avila

Texto baseado nos FAQ's disponíveis no Malawi Cichlid Homepage, com


actualizações e contribuições dos autores acima.

Contribuição de: Paulo Rossi


Este aquário de água doce tem algumas particularidades, pois os ciclídeos
africanos são peixes territoriais e vivem num pH mais alcalino. Então devemos
prover muitas tocas e controlar o pH e a dureza da água (KH e GH).

Existem várias maneiras de se montar o seu aquário. Aqui vamos tratar de um


aquário com sistema de filtragem externa, visto que é o mais eficiente e
vendido nas lojas. Também podem ser feitos sistemas externos com caixa de
filtragem ("sump") ou ainda utilizar um filtro biológico mais eficiente como os
de areia fluidizada. 

MONTAGEM

Os seguintes itens são necessários:

o aquário: prefira aqueles acima de 100 litros e retangulares para ter uma
maior estabilidade, praticidade e mais espaço para uma maior variedade de
peixes. Note que tamanhos maiores são mais caros, mas muito mais fáceis de
serem mantidos;

filtro externo: este aparelho é fundamental e imprescindível para um bom


aquário. Verifique a capacidade do filtro para o seu aquário (em torno de 5
vezes o volume do aquário por hora). Existem modelos para pendurar atrás ou
ao lado do aquário e também os do tipo canister, que são colocados abaixo do
aquário (este último é mais eficiente);

cascalho: calcáreo (Eco-Complete, African Cichlid Mix ou Areia de


Halimeda), (diâmetro em torno de 3 a 6mm), para uma melhor filtragem
biológica e manutenção do pH, KH e GH (leia mais sobre esses
parâmetros aqui). Coloca-se diretamente no fundo uma espessura de 4 a 6cm
(às vezes pode ser usado uma Placa Colméia para distribuir melhor o peso
das rochas decorativas);

bomba submersa: use em torno de 5 a 10 vezes o volume do aquário


passando pelas bombas por hora (sem considerar o filtro externo). Pode
parecer muito, mas uma boa movimentação e circulação são fundamentais
para uma ótima eficiência oxigenação e circulação de água, dando maior
estabilidade ao aquário;

termômetro: para medir a temperatura, que deve ser em torno de 26 a 28


graus Celsius;

um bom termostato com aquecedor: o ideal é que se tenha 1 watt/litro.


Assim você poderá manter uma temperatura estável e segura para seus
peixes;

lâmpadas fluorescentes: servem para deixar realçada as cores dos peixes,


não há recomendação específica. Quanto ao tipo, podem ser brancas com
azuis, deixando-as ligadas de 6 a 10 horas por dia;
um sifão: que é simplesmente uma mangueira de pequeno diâmetro com um
tubo na ponta de maior diâmetro, servindo para aspirar o fundo do aquário para
retirar o excesso de detritos depositados entre o cascalho, juntamente com a
água. É talvez uma das peças mais importantes do aquário, embora seja usado
apenas uma vez a cada um ou dois meses;

pedras para decoração: pedras grandes e calcáreas (Rocha Morta, Rocha


Vulcânica ou Pedra em Placa). Cuidado com algumas pedras que podem
soltar resíduos no aquário ou interferir no pH. E também com troncos que
podem reduzir o pH e deixar a água com cor de chá;

testes: de pH (ideal entre 7,8 e 8,6), KH (entre 8 e 12), GH (entre 12 e


20) e Amônia (0ppm, pois é super tóxica em pH alcalino), estes são os
essencias, mas existem outros;

obs.: no caso do filtro externo, você pode utilizar somente ele, desde que ele
também faça filtragem biológica, só cuidando para ter uma circulação suficiente
para os ciclídeos com mais bombas submersas.

COMO USAR E PARA QUE SERVEM OS EQUIPAMENTOS

Muito bem, já temos os equipamentos necessários, agora mãos a obra!

Primeiro colocamos o cascalho que deve ser muito bem lavado antes de ser
colocado no aquário. E arrumamos as rochas ou pedras calcáreas, para que
fiquem formando refúgios para os peixes, deve se ter cuidado para que fiquem
firmes.

Com um anteparo no fundo (prato raso), enchemos o aquário – com água da


torneira mesmo. E para tratar essa água, usamos um produto
chamado AquaSafe ou outro similar, tirando assim o cloro, neutralizando os
metais pesados e repondo a membrana protetora (muco) dos peixes.

Como o pH e o KH natural (mesmo de água mineral) é no máximo 7,8 e 6,


respectivamente, devemos utilizar um tamponador. Que nada mais é que um
mistura de sais carbonatados, para ajustar o pH e o KH em níveis ideais para
os ciclídeos africanos.

Por último colocamos o filtro externo, bomba(s) de circulação e o termostato


com aquecedor.

Mas para que serve tudo isso?

Depois de algum tempo que a água já estiver circulando pelo aquário – dentro


de uma semana, pelo menos – algumas espécies de bactérias se
desenvolverão no cascalho e dentro do filtro externo, e assim se reproduzirão e
irão se fixar nas microporosidades das pedrinhas e da esponja. Estas são bem
vindas, benéficas e indispensáveis em nossos aquários. Serão responsáveis
pela “transformação” ou melhor dizendo, redução dos compostos orgânicos
produzidos em nossos aquários como fezes, restos de comida, etc. Tornando
assim nossos aquários habitáveis para peixes das mais diversas espécies.
Para isso você precisa de uma área de superfície razoável e uma circulação
constante (24 horas por dia).

Daí então, após um período de aproximadamente 21 dias é que começamos a


habitar o aquário (comece com peixes pequenos). Pois neste período
conseguimos estabilizar o filtro biológico (zerando a Amônia), o pH, o KH e a
temperatura, dando condições ótimas para os peixinhos.

Para se reproduzirem em quantidade adequada e realizarem suas funções de


maneira mais eficaz, devem ser altamente oxigenadas e principalmente
devemos manter nosso aquário o mais limpo possível, o que significa,
alimentação na quantidade suficiente, quantidade não exagerada de peixes e
trocas parciais com o sifão.

Para oxigená-las é que usamos as bombas submersas, que puxam a água sob
o cascalho jogando na superfície do aquário. Provocando movimentação na
água e desta maneira provendo oxigênio que esta no ar. Não há necessidade
de bolhas em nossos aquários. A movimentação causada pelas bombas é
suficiente.

Quanto aos testes, devem ser feito periodicamente para se manter em níveis
estáveis.

Se não for querer esperar o tempo normal de estabilização biológica do


aquário, que é de cerca de 3 a 4 semanas, você pode  adicionar bactéria viva
(Seachem Stability ou Sera Nitrivec), que ajudará a estabilizar o aquário mais
rapidamente.

Mas e a limpeza? Aquelas bactérias são suficientes?

Não. Devemos colaborar para que trabalhem bem. Alimentação de maneira


racional (o suficiente para ser consumida em poucos minutos) e quantidade
moderada de peixes ajudam, mas além disso ter um bom filtro externo e
sifonarmos nosso aquário a cada um ou dois meses.

O filtro externo é um equipamento que fica disposto na lateral ou atrás do


aquário, uma bengala puxa água do aquário com bomba própria e em sua cuba
existem elementos filtrantes, como: filtro mecânico (lã acrílica ou esponja)
responsável pela retenção de detritos, filtro químico (carvão ativado) que
absorve alguns elementos tóxicos do aquário (como fenóis e gases) e
dependendo da marca, um elemento filtrante biológico (cerâmica, placa plástica
ou esponja). É muito importante que se faça uma troca dos refis (químico e
mecânico) do filtro uma vez a cada um ou dois meses e também limpá-los uma
vez por semana em água corrente com o cuidado para não estragá-los.

A sifonagem é muito importante. Com o sifão devemos aspirar o fundo do


aquário, (de preferência todo ele. Isto faz com que tiremos o excesso de sujeira
do aquário mais água velha e recolocamos água nova com micronutrientes
importantes para o desenvolvimento de peixes e das bactérias) jogando a água
fora e colocando água nova, sem cloro, com pH e temperatura próxima a do
aquário.

Como assim?

Os peixes e organismos habitantes de nosso aquário necessitam para sua


formação e metabolismo, alguns elementos existentes na composição da água.
Com o passar do tempo este consumo acaba esgotando total ou parcialmente
estes oligoelementos tornando a água pobre, por isso devemos sempre trocar
um pouco. E ainda há a quantidade de sólidos que vão se acumulando com o
passar do tempo e tornando-se em altas concentrações prejudiciais aos peixes
e a única maneira de baixá-los é trocando a água.

“Mas eu reponho água quando evapora...” Sim, mas os sólidos continuam lá!
Não há troca, porque a água que evapora não leva esses sólidos. Então, não
deixe de fazer trocas parciais. Elas são responsáveis por 70% do sucesso de
um aquário por longo tempo.

Quanto trocar?

25% no máximo por vez (1/4 do volume total), ou seja, num aquário de 100
litros devemos tirar no máximo 25 litros. Se não der para sifonar todo o fundo
com 25%, tudo bem. Na próxima troca, comece a sifonar pela parte que sobrou
da última vez.

Mas as bactérias estão no cascalho, sifonando o fundo não as tiramos do


aquário?

Sim, mas em quantidade perfeitamente recuperável pelo aquário em pouco


tempo. Não se preocupe com isso, apenas evite trocar mais que 25%.

Antes de adicionar água nova no aquário não se esqueça de utilizar um


condicionante e verificar o pH e a temperatura, devem ser semelhantes a do
aquário.

Desta forma, com a água e o aquário mais limpos, temos um ambiente mais
estável. O pH não cai como nos aquários mal cuidados e não há “prazo de
validade”, ou seja, o aquário não acaba, não existem mais períodos de mortes
incontroláveis e tudo passa a andar melhor. Peixes mais saudáveis, menos
dinheiro jogado fora e aí sim podemos ter aqueles peixes considerados mais
sensíveis ou mais caros.

Nunca tire tudo do aquário para lavar pedras e trocar toda água. Nem lavar na
torneira esponja ou placa biológica. Isto é um crime! Veja, um aquário para
atingir a maturidade plena leva cerca de 6 meses. Se trocarmos tudo, lavando
pedras e etc., teremos uma perda total de nosso equilíbrio e nossas bactérias.
Com um bom filtro externo, sifonagem periódica com trocas parciais e
quantidade controlada de peixes e alimentação, nunca haverá esta
necessidade.
RESUMINDO...

Você precisa de:

• equipamentos adequados

• manutenção correta e periódica

• alimentação racional (mas não pouca) e bem variada

• comprar peixes saudáveis, em local onde tenham aquários limpos e não


hajam peixes doentes compartilhando da mesma água

• teste de pH, KH, GH e talvez amônia, nitrito (para verificar se o filtro biológico
está trabalhando corretamente) – são os mais comuns, mas existem outros.

Você não precisa de:

• trocas totais de água

• lavagens do aquário

• medicamentos preventivos.

Obs.: medicamentos devem ser evitados a qualquer custo usados apenas


quando necessários. Qualquer medicamento prejudica o equilíbrio biológico do
aquário. Não esqueça de retirar o carvão ativado, para não cortar o efeito do
produto. E após o uso de algum medicamento, recoloque o carvão ativado,
troque 20% da água e na semana seguinte mais 20 %.

DICAS

Cuidado com muitos Pseudotropheus sp. e Melanochromis sp., no mesmo


aquário, coloque-os em quantidades menores, pois acabam brigando muito.

No caso de se utilizar somente o filtro externo, deve-se ter cuidado para não
lavar o elemento filtrante biológico em outra água que não seja a do aquário.
Isto para não eliminar as bactérias benéficas a ótima filtragem biológica do
aquário. E talvez tenha necessidade de se utilizar uma bomba interna somente
para circulação.

Não se esqueça, quando comprar um peixinho deixe o saco flutuando no


aquário uns 10 minutos, daí então coloque água do aquário dentro do saco de
5 em 5 minutos até que o pH esteja semelhante. Então solte somente os
peixes, sem a água e complete o aquário com água sem cloro.

Obs.: Este artigo foi baseado em um texto retirado da Revista Vida no Aquário
– Ano 02 – Edição de 08/1997. E escrito por Sérgio Gomes (colaborador de
aquarismo e escritor dos livros: “O Aquário Marinho e as Rochas Vivas”, "O
Aquário de Água Doce sem Mistérios" e “Guia Básico de Corais e
Invertebrados”). Você também pode visitar estes
sites: www.cichlidae.com (americano)
ewww.abacca.hpg.ig.com.br (brasileiro).

O Aquário Ideal para Ciclídeos Africanos

Dos peixes ornamentais existentes, existe um grupo que se destaca dos


demais, seja pelas cores magníficas, pela padronagem de seus corpos, pelo
seu curioso comportamento ou simplesmente pela sua originalidade: os
Ciclídeos Africanos.

Ciclídeos Africanos são peixes da família Cichlidae, encontrados nos três


grandes lagos africanos do Vale do Rift: Lago Malawi, Lago Tanganyika e Lago
Victória. São caracterizados basicamente pela agressividade e pelo
territorialismo, bem como pela inteligência e rusticidade. São lembrados por
muitos pelas condições que vivem na natureza: pH muito alto, água bem dura,
muitas rochas e conchas bem como poucas ou nenhuma planta. Outra
curiosidade que chama muito a atenção é que a maioria dos peixes
provenientes dos três grandes lagos são endêmicos, ou seja só existem ali,
naquela região, e em nenhum outro lugar na face da Terra. E é também por
isso que muitos estão correndo sérios riscos de extinção devido a poluição de
seu habitat.

São peixes em sua maioria fáceis de se reproduzir e de muita personalidade,


mas existem critérios que devem ser observados, principalmente por aquaristas
iniciantes. Isso se deve as condições especiais em que deve ser mantido o
aquário para servir adequadamente de moradia para os peixes.

Primeiramente devemos levar em conta que as espécies provenientes dos três


lagos possuem necessidades distintas uma das outras, portanto o aquário a ser
montado deve respeitar tais exigências:

Lago Malawi: É o nono maior lago de água doce do mundo. O aquário que
habitar as espécies desse lago deverá ter alguns pontos observados: Seu pH
característico varia de 7,5 até 8,5, dependendo da região do lago. Sua dureza
fica em torno de 4 à 8° dH. A temperatura é predominantemente tropical, em
torno de 25 até 30°C. Os peixes que habitam esse lagos se dividem em dois
grupos: os M-Bunas e os Não M-Bunas (Haplochromideos). Já os
Haplochromideos se subdividem em mais outros dois grupos: os Aulonocaras
(Peacocks) e os Haps. Exemplos:

- M-Bunas: Cynotilapia, Gephyrochromis, Iodotropheus, Labeotropheus,


Labidochromis, Melanochromis, Metriaclima, Petrotilapia, Pseudotropheus e
Tropheos (não são os mesmos Tropheus do Lago Tanganyika). A espécie
Pseudotropheus acei é a única desse lago que prefere águas abertas (aquário
com poucas rochas).

O aquário deve obrigatoriamente ter muitas rochas, formando túneis e


esconderijos. Pois são peixes provenientes de zonas rochosas, além de muito
territorialistas. O ideal é ter 2/3 tocas por peixe.

Melanochromis auratus, um M-Buna endêmico do Lago Malawi.

- Não M-Bunas: Aristochromis, Aulonocara, Buccochromis, Caprichromis,


Champsochromis, Chilotilapia, Copadichromis, Cyrtocara, Dimidiochromis,
Exochochromi, Fossorochromis, Lethrinops auritus, Lichnochromis,
Mylochromis, Nimbochromis, Otopharynx, Placidochromis, Protomelas,
Rhamphochromis, Sciaenochromis, Serranochromis, Stigmatochromis,
Taeniolethrinops , Tramitichromis, Trematocranus e Tyrannochromis.

O aquário deve ter apenas algumas rochas e tocas para demarcação de


território e para proteção em caso de disputas ou perseguições. Isso se deve a
esses peixes preferirem águas mais abertas (ele habitam o meio do lago, onde
existe muito espaço livre para nadar e poucas rochas).

Nos dois casos a água deve ser bem limpa, transparente e oxigenada. A água
deve ter alguma movimentação (turbulência média). A iluminação deve ser
média à alta. O pH maior que 7,8 e menor que 8,2. A dureza deve ser média, 5
à 7° dH. A alimentação deve receber atenção especial: são peixes onívoros
mas que devem receber uma porção maior de alimentos de origem vegetal.
Alguma proteína animal é importante, mas não em demasia. O excesso de
alimentos de origem animal pode causar uma doença chamada de Malawi
Bloat (fatal e silenciosa).

O Fossorochromis rostratus, um Não M-Buna endêmico do lago Malawi.

Lago Tanganyika: é o rio lago de água doce mais comprido do mundo. O


aquário para as espécies desse lago deve observar os seguintes parâmetros:
seus pH chega a extremos, de 8,5 até 9,2. Sua dureza atinge em média de 11
à 19° dH. A temperatura predominante é um pouco mais amena, de 23 até
28°C. Os peixes que habitam esses lagos são, de forma muito resumida:

Cyprichromis, Cyathopharynx, Ophthalmotilapia, Eretmodus, Neolamprologus,


Cyphotilapia, Julidochromis e Tropheus.

O aquário deve conter uma quantidade razoável de rochas formando tocas


assim como um bom espaço livre, isso varia de acordo com as necessidades
das espécies deste lago (são bem distintas).

A água deve ser limpa e oxigenada, razoavelmente movimentada, com pouca


iluminação (não é essencial par os peixes desses lagos): umas 6 horas são
suficientes. Se optar por mais tempo, use lâmpadas de mais fracas do que o
esperado. O pH deve ser maior que 8,5 e menor que 9,2. A dureza deve ser
alta, algo em torno de 9 ou 10° dH. A alimentação deve ser estudada a parte,
espécie por espécie, pois existem nesse lago espécies exclusivamente
herbívoras, onívoras e carnívoras, não sendo possível estabelecer então um
único padrão.
Neolamprologus leleupi, o Ciclídeo Limão. Uma espécie endêmica do Lago
Tanganyika.

Lago Victoria: é o maior lago africano. Para um aquário que hospede peixes
desse lago, devem ser observadas alguns aspectos importantes: pH mais
ameno, variando de 7,4 até 8,2. Água mais macia, de 2 até 8° dH. A
temperatura predominante é a mais fria dos lagos, de 21 até 26°C. Os peixes
que habitam esse lago são:

Haplochromis latifasciatus, Paralabidochromis sp, Pundamilia nyererei e


demais Haplochromis.

O aquário deve possuir algumas rochas que formem tocas, mas não na mesma
quantidade indicada nos lagos anteriores. Esse lago hospeda os ciclídeos mais
pacíficos desse grupo, muito inclusive sãoc riados em aquários comunitários
comuns, como o Kribensis.

O aquário deve ter água limpa e bem oxigenada. O pH dependendo da espécie


deve ficar entre 7,5 até 8,0. A dureza branda, de 2 até 6° dH. A temperatura
mais amena que varia de 22 até 25°C. A alimentação desses peixes é
basicamente onívora, na mesma proporção de fibras e proteínas.
Haplochromis obliquidens, um ciclídeo endêmico do Lago Victoria.

Aspectos comuns a todas as espécies acima é o fato de serem agressivas ou


ao menos, territoriais. Também compartilham o gosto por águas mais básicas e
bem oxigenadas. Um aquário livre de compostos nitrogenados é
imprescindível, tendo em vista que a amônia é potencialmente mais tóxica em
águas alcalinas do que em ácidas. E por serem assim devem habitar aquários
médios a grandes. Para espécies que alcançam até 5 cm e não muito
agressivas, um aquário a partir de 80 é suficiente. Para espécies que atingem
até 15 cm um aquário a partir de 200 litros e par espécies maiores que 15 cm,
aquários a partir de 350 litros.

Sobre plantas, muitos não usam ou então preferem as artificiais, mas é


possível manter com certos cuidados plantas naturais nos aquários de
Ciclídeos Africanos. O maior problema é que eles vão (ou pelo menos tentar)
comê-las ou desenterrá-las, por isso devem ser resistentes e vigorosas. Abaixo
algumas opções:

Anubias barteri ''coffeefolia'', Anubias barteri var. barteri, Anubias barteri var.
nana, Bacopa monnieri, Ceratophyllum demersum 'Foxtail', Egeria densa,
Lilaeopsis mauritiana, Vallisneria americana (natans), Vallisneria americana
''mini twister'' , Vallisneria caulescens - Vallisneria nana, Vallisneria spiralis
'Tiger', Crinum thaianum, Microsorum pteropus 'Narrow', Microsorum pteropus
'Philippine', Lemna minor.

Sempre que possível utilizar espécies que sejam amarradas e não plantadas
(Ex.: Microssorum), para evitar problemas com os peixes fuçadores, que
tentarão inevitavelmente desenterrá-las, se fossem plantadas dessa maneira
(Ex.: Egeria).

É necessário evitar a mistura de peixes dos diferentes lagos, devido às


exigências distintas e devido a alimentação. Se você possuir espécies
unicamente herbívoras com outras onívoras, como fará para alimentá-los sem
misturar as rações? Se o peixe herbívoro comer ração para onívoro e vice-
versa, é dor de cabeça garantida...

O sistema de filtragem é fundamental nessas montagens e corresponde ao


"coração" do aquário. Ele deve ter a capacidade de processar todos os dejetos
produzidos pelos peixes, que no caso de Ciclídeos Africanos, são produzidos
em quantidade e volume bem maiores, pois são peixes sujões. O ideal no caso
de filtros externos Hang-On é uma vazão de 6 até 12x o volume do aquário por
hora. No caso de Canisters (mais indicados), uma vazão de 3 até 5x é o
suficiente. Garanta que além de filtrar, o filtro movimente a água, para gerar um
pequena correnteza e também para oxigená-la. O importante é manter todos os
níveis de amônia, nitrito e nitratos zerados.

Nessas montagens TPAs são muito importantes, tanto para a saúde do peixe
como para seu crescimento. Trocas Parciais de Água uma vez por semana,
com um volume de 25 à 35% é o suficiente. Lembrem-se: em aquários com
água renovada regularmente os peixes ficam mais saudáveis e crescem mais
rápido.

A temperatura é uma questão fácil de se resolver, basta um termostato comum


mais um aquecedor adequado (ou só termostato se já vier com aquecedor
embutido). Igual aos outros aquários tradicionais.

Iluminação pode variar como dito anteriormente. Pode ser baixa como alta,
depende dos peixes que você criar. Se optar pelos que tem tendência
herbívora, uma boa iluminação se faz necessária, pois estimula o crescimento
de algas verdes, que fazem parte de sua dieta natural.

O substrato deve ser fino como areia, pois os peixes gostam de escavar. Logo
para que não se machuquem ou engasgarem a granulometria não deve passar
do N° 0 (sugar size). Pode ser areia comum de construção, de praia, de filtro de
piscina. Podem ser também além de decorativas, tamponadoras: dolomita,
calcita, aragonita, etc.

Use preferencialmente Aragonita ou Calcita, pois demoram muitos anos para


perderem sus capacidade de aumentar o pH e mantê-lo no nível sem
alterações. Devido a isso são mais caras. Já a Dolomita é bem mais barata
mas perde o efeito alcalinizante em pouco tempo, devendo ser então trocada, o
mesmo se aplica para conchas moídas.

As rochas usadas podem ser neutras como a maioria dos basaltos ou serem
também alcalinizantes. O importante é que estejam bem firmes, podendo
inclusive serem coladas com silicone para aquário sem bactericida, para
garantir estabilidade. Como os peixes escavam, podem fazer as pedras
desmoronarem. Isso pode causar sérios incômodos, caso elas esmaguem
algum peixe ou até mesmo quebrem o vidro do aquário. Não use rochas mortas
ou corais mortos nessas montagens: além de ficar esteticamente feio contribui
para destruição dos recifes de corais de toda a parte do planeta.
Para manter o pH estável, existe uma alternativa muito eficiente: o uso de
condicionadores de água. Eles são capazes de manter o pH estável com muito
mais precisão e controle, basta dissolver na água do aquário e na água das
TPAs. Existem marcas com produtos específicos para os 3 lagos, facilitando
muito nossas vidas.

Aviso importante: na hora de habitar o aquário, deve ser feito com todos os
peixes de uma vez. Se você for colocando aos poucos, os primeiros
estabelecerão um território e perseguirão até a morte outros invasores. Se você
já possui peixes e deseja comprar mais algum, uma solução prática é você
trocar todas as pedras de lugar, assim os que já tem território definido ficam
desorientados e não perseguirão tanto assim os novatos.

Uma curiosidade é que independente da espécie, todos esses ciclídeos


estabelecem uma hierarquia, em que existe um peixe dominante e
sucessivamente subalternos cada vez mais "fracos". Acontece que esses
subaltenos estão sempre desafiando os superiores de sua escala: se
perderem, continuam onde estão, se ganharem avançam um posto. E isso se
perpetua indefinidamente, é muito interessante e educativo observar as
disputas hierárquicas.

Existem também espécies em que a coloração do macho é distinta da fêmea e


vice-versa quando adultos: Auratus, Saulosi, etc.

Inclusive, existem espécies que mudam de cor conforme seus "status"...

Ainda sobre comportamento, a maioria exige mais fêmeas do que machos,


formando haréns de 2,3 até 6 fêmeas para cada macho. Existem espécies que
só pode ter um macho no aquário. E nem outro peixe que tenha o padrão de
coloração parecidos, do contrário será perseguido mesmo tratando-se de outra
espécie. No caso do Kribensis, é a fêmea que procura o macho, corteja-o e luta
por ele com outras fêmeas.

Concluindo, são espécies resistentes, coloridas, com padrões e formatos


exóticos, únicas e que transmitem uma elegância sem igual. Numa infinita
cartela de espécies, desde as que vivem em água livres até as que vivem em
conchas (como os Shell Dwellers), dos pequenos de 3 cm até os gigantes de
90 cm. Dos vegetarianos aos herbívoros. Dos mansos até os mais agressivos,
sempre terá aquele que chamará sua atenção.

Boa sorte com seus Ciclídeos Africanos!

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