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Responsável pelo Conteúdo:

Prof. Ms. Reinaldo Zychan Moraes

Revisão Textual:
Profª. Ms. Vera Lídia de Sá Cicarone
Os Poderes da República

Caro aluno, nesta unidade iremos conhecer os Poderes da


República, buscando compreender como a Teoria da
Tripartição do Poder é aplicada em nosso sistema
constitucional.

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
Contextualização

A difícil convivência harmônica dos Poderes

A Teoria da Tripartição do Poder busca trazer um equilíbrio entre os Poderes da República, de


forma que não haja a prevalência de um sobre os demais. Nossa Constituição Federal, em seu
artigo 2º, fala de poderes independentes e harmônicos entre si.

Na prática, contudo, nem sempre há esse clima de entrosamento e harmonia.

Veja a notícia abaixo que fala de uma das situações em que houve uma ameaça de crise entre
dois deles, no caso, o Judiciário e o Legislativo.

1 Maia teme conflito entre Legislativo e Judiciário se STF decidir pela perda de
mandatos
11/12/2012 - 14h23

Ivan Richard
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), afirmou hoje (11)
que a Casa não irá “se curvar” ao Supremo Tribunal Federal (STF), caso a Corte decida pela
cassação imediata dos três deputados condenados no julgamento da Ação Penal 470, o
processo do mensalão. São eles: João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e
Pedro Henry (PP-MT)

Para Marco Maia, se os ministros do Supremo decidirem cassar o mandato dos três
parlamentares, será criado um conflito entre o Legislativo e o Judiciário. “Não estamos
entrando no mérito do julgamento, mas [questionando] a forma como deve ser tratada uma
questão tão complexa como as prerrogativas dos Poderes.” [...] Disponível em <
http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-12-11/maia-teme-conflito-entre-legislativo-e-
judiciario-se-stf-decidir-pela-perda-de-mandatos> Acesso em 08.mar.2013.
Material Teórico

2 Tripartição do Poder

Historicamente as primeiras noções sobre a tripartição do poder são apresentadas por


Aristóteles, em sua obra A Política, na qual identifica três funções distintas exercidas pelo
soberano: a de legislar, a de aplicar as leis e a de julgar as transgressões às leis.

Essa ideia evoluiu no decorrer dos séculos.

Nos séculos XV e XVI, a Europa assistiu à formação dos Estados Nacionais, com o
consequente declínio do poder dos senhores feudais. Nesses novos Estados, a figura do rei era
extremamente forte, não havendo praticamente obstáculos para a sua atuação.

Nessa evolução devemos destacar, no século XVII, o papel do inglês John Locke, autor
da obra intitulada Segundo Tratado do Governo Civil.

Essas ideias de Locke foram desenvolvidas pelo francês Montesquieu e particularmente


apresentadas no seu livro O Espírito das Leis, lançado em 1748.

As ideias reinantes nesse período – que ficou conhecido como Período da Ilustração –
chocam-se com o irrestrito poder dos soberanos, que não vacilaram em utilizar uma força
exageradamente descomunal para reafirmar sua autoridade.

Esse abusivo uso da força acabava por reforçar a ideia de que o poder estatal não
poderia estar adstrito a uma única pessoa.

A crise entre o soberano e a burguesia, que encampou esses ideais da ilustração, foi o
estopim para a deflagração da Revolução Francesa de 1789.

Nesse novo contexto, as ideias apresentadas por Montesquieu em muito influenciaram


a estrutura estatal francesa pós-revolução. Tanto é assim que elas foram incorporadas à
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Segundo a Teoria da Tripartição do Poder, o poder estatal é exercido por três ramos
distintos, hoje chamados de Legislativo, Executivo e Judiciário, e nenhum deles pode ser
considerado mais importante que os outros. Eles devem estar em equilíbrio, de forma que um
não domine os demais.

Esse equilíbrio somente será possível se houver uma Constituição que o estabeleça.

Dessa forma, com a Independência dos Estados Unidos e com a Revolução Francesa
consolidou-se a ideia de que é necessário que os Estados possuam uma Constituição que não
permita a concentração do poder e o seu exercício abusivo.
Assim, faz-se necessário um especial esforço do constituinte para estabelecer
mecanismos de controle de um poder sobre os outros, de forma a estabelecer a harmonia e a
independência de que trata o artigo 2º de nossa Constituição, quando se refere a esses
Poderes.

Constituição Federal
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos
entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

O sistema que busca esse equilíbrio entre os poderes estabelece uma série de controles
recíprocos que se denominou de Sistema de Freios e Contrapesos ou Checks and
Balances.

Na forma e nos limites estabelecidos na Constituição, cada um dos poderes, além de


desempenhar suas funções típicas, realizará uma controlada ingerência nos demais poderes,
de forma que eles mutuamente se restrinjam.

Nossa Constituição é recheada de exemplos sobre a aplicação dessa teoria.

Assim, por exemplo, o Poder Legislativo confecciona as leis, mas pode o Poder
Executivo vetá-las.

O Presidente da República nomeia os membros de diversos tribunais, neles incluídos


todos os Ministros do Supremo Tribunal Federal, que ele escolhe livremente dentre as pessoas
que atendam aos pré-requisitos para o cargo.

O Congresso Nacional, além de legislar, realiza diversas funções de controle dos outros
poderes. Como exemplo dessa situação, temos a necessidade de prévia aprovação do Senado
Federal para que o Presidente da República realize a nomeação de diversos cargos, alguns
deles inclusive vinculados à própria estrutura do Poder Executivo, como é o caso do
Presidente e dos Diretores do Banco Central.

Já o Poder Judiciário pode, quando provocado, declarar leis e decisões administrativas


inconstitucionais.

Dessa forma, vamos estudar como funcionam os três poderes, dando maior ênfase à
estrutura disciplinada pela Constituição na esfera da União, visto que em razão do Princípio
da Simetria, esse mesmo modelo, salvo se houver determinação constitucional em contrário,
deve ser seguido nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios, guardadas as
características particulares de cada ente federativo.
3 Poder Executivo

Esse poder é chefiado pelo Presidente da República, no âmbito da União, pelos


Governadores, no âmbito estadual e distrital, e pelos Prefeitos, nos municípios.

3.1 Presidente e Vice-Presidente

Como o Brasil adotou o sistema de governo presidencialista, o Presidente da República


é o Chefe de Governo, ou seja, trata das questões internas do país, bem como o Chefe de
Estado, representando o Brasil perante a
comunidade internacional.
Tanto o Presidente como
Para o desempenho de suas tarefas, o o Vice-Presidente devem ser
Presidente é auxiliado pelos Ministros de Estado, brasileiros natos (art. 12, § 3º,
bem como por dois conselhos meramente
inciso I, da Constituição
consultivos, o Conselho da República (previsto nos
Federal), sendo 35 anos a idade
art. 89 e 90) e o Conselho de Defesa Nacional
(previsto no art. 91). mínima para ambos (art. 14, §
3º, inciso VI, alínea “a”, da
Sobre o Vice-Presidente, podemos afirmar
Constituição Federal).
que a Constituição lhe reserva algumas funções,
sendo as principais a de substituir e a de suceder o
Presidente da República.

Além dessas funções, o Vice-Presidente participa do Conselho da República e do


Conselho de Defesa Nacional.

Prevê, ainda, o parágrafo único do art. 79 a possibilidade de lei complementar atribuir-


lhe outras missões bem como de ele ser convocado pelo Presidente para o desempenho de
missões especiais.

Na eleição para os cargos de Presidente e Vice-Presidente, é formada uma chapa, de


forma que, ao se votar em um, automaticamente, também se estará votando no outro.

A eleição é majoritária, ou seja, vence quem tiver a maior votação, e ela deve ser
realizada, em primeiro turno, no primeiro domingo de outubro do último ano do mandato
presidencial vigente.

Será considerado eleito Presidente o candidato que obtiver a maioria absoluta de


votos, não computados os votos em branco e os nulos.

Se nenhum candidato alcançar maioria absoluta na primeira votação, haverá o


chamado segundo turno, realizado no último domingo de outubro, do qual somente
participarão os dois candidatos mais votados.
O Presidente e o Vice somente podem ser reeleitos por uma única vez consecutiva.

Eleitos o Presidente e o Vice para um mandato de quatro anos, a posse ocorrerá no dia
primeiro de janeiro do ano seguinte em sessão conjunta do Congresso Nacional.

O artigo 84 da Constituição Federal estabelece algumas das competências do


Presidente da República, que se referem tanto a questões relativas ao exercício da função de
Chefe de Governo (incisos I, II, XIII e XIV, por exemplo) como àquelas relativas ao exercício
da Chefia de Estado (tais como as constantes dos incisos VII, VIII e XIX).

3.2 Ministros de Estado

Para o candidato a exercer o cargo de Ministro de Estado, estabelece a Constituição


três requisitos:

deve ser brasileiro, nato ou naturalizado, exceção feita ao Ministro da Defesa


que, nos termos do artigo 12, § 3º, inciso VII, da Constituição Federal, deve ser
brasileiro nato;
deve ser maior de 21 anos;
deve estar no gozo de seus direitos políticos.

Eles irão atuar na orientação, coordenação e supervisão de áreas específicas da


administração federal.

3.3 Conselho da República e Conselho de Defesa Nacional

O Conselho da República, cuja composição encontra-se no artigo 89 da Constituição


Federal, pode ser chamado a opinar sobre assuntos relativos à intervenção federal, estado de
defesa e estado de sítio, bem como nas questões relevantes para a estabilidade das instituições
democráticas.

Já o Conselho de Defesa Nacional, cuja composição está nos incisos do caput do artigo
91 da Constituição Federal, é formado para opinar sobre questões relativas à defesa nacional,
em especial sobre intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio.

4 Poder Legislativo

No âmbito da União, o Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que é


composto da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Dessa forma, falamos que ele é
bicameral.
A Câmara dos Deputados é composta pelos representantes do povo.

O Senado Federal é composto de representantes dos Estados e do Distrito Federal.

Na esfera estadual, o Poder Legislativo é representado pela Assembleia Legislativa, que


é composta pelos Deputados Estaduais.

Na esfera distrital, existe a Câmara Legislativa, composta de Deputados Distritais.

Por fim, no nível municipal, o Poder Legislativo é representado pela Câmara Municipal
composta de vereadores.

Vamos nos fixar no Poder Legislativo da União.

O deputado federal é eleito para um mandato de quatro anos, pelo sistema


proporcional, em cada Estado, no Distrito Federal e nos Territórios Federais – estes últimos
quando e se forem criados.

Esse período de quatro anos, em muitas passagens da Constituição Federal e da


legislação, é chamado de uma legislatura. Então falamos que o mandato de um deputado
federal corresponde a uma legislatura.

O candidato a esse cargo deve ser brasileiro, nato ou naturalizado, e possuir idade
mínima de 21 anos.

O número total de deputados federais é quinhentos e treze, sendo que a cada Estado e
ao Distrito Federal é reservado um número de cadeiras proporcional à sua população, mas
nenhum deles pode ter um número de deputados inferior a oito ou superior a setenta.

Cada Território Federal elege quatro deputados federais.

O senador é eleito pelo sistema majoritário e cada Estado e o Distrito Federal elegem
três senadores cada, independentemente da população.

Os territórios federais não elegem senadores.

A idade mínima do candidato ao Senado é de 35 anos e ele pode ser brasileiro nato ou
naturalizado.

O mandato é de oito anos, o que corresponde a duas legislaturas. Há eleições para o


Senado de quatro em quatro anos, mas a cada eleição ocorre a renovação de um terço ou de
dois terços dos senadores. Assim, em uma eleição, são trocados dois senadores por Estado e,
depois de quatro anos, em outra eleição, é trocado apenas um deles.

Cada Senador é eleito com dois suplentes, ou seja, forma-se uma chapa para a eleição.
Cada uma das Casas tem funcionamento autônomo; somente em poucas situações elas
se reúnem em sessões conjuntas.

4.1 Atribuições do Congresso Nacional

A principal, mas não única atribuição do Poder Legislativo, é realizar, em grande parte,
o processo legislativo dos chamados Atos Normativos Primários, que são aqueles previstos
no artigo 59 da Constituição Federal.

Constituição Federal

Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de:

I - emendas à Constituição;

II - leis complementares;

III - leis ordinárias;

IV - leis delegadas;

V - medidas provisórias;

VI - decretos legislativos;

VII - resoluções.

Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração,


redação, alteração e consolidação das leis.

O artigo 48 da Constituição Federal estabelece algumas das atribuições do Congresso


Nacional, que se realizam por meio da edição de leis, portanto, nesses casos, embora haja
prevalente apreciação das duas casas legislativas, há também participação do Presidente da
República.

Dentre os assuntos mencionados no artigo 48, vamos encontrar, por exemplo:

questões ligadas ao sistema tributário, arrecadação, orçamento anual;

limites do território nacional, espaço aéreo e marítimo e bens do domínio da


União;
criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública;

fixação do subsídio dos Ministros do Supremo Tribunal Federal – que é o teto do


sistema de salários dentro da Administração Pública.

Já o artigo 49 da Constituição Federal estabelece outras atribuições do Congresso,


mas, por se tratar de atribuições exclusivas, não há participação do Presidente da República
nessas deliberações e elas são materializadas por meio do chamado Decreto Legislativo.

Dentre os assuntos legislados por meio de decreto legislativo, vamos encontrar, por
exemplo:

a relativa a uma parte do processo de internalização dos tratados, acordos ou


atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
patrimônio nacional;

aqueles que autorizam o Presidente da República a declarar guerra e a celebrar


a paz;

a autorização para que o Presidente e o Vice-Presidente da República se


ausentem do País por mais de quinze dias;

a fixação de idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Senadores;

a fixação do subsídio do Presidente e do Vice-Presidente da República e dos


Ministros de Estado.

4.2 Atribuição da Câmara dos Deputados

No artigo 51 da Constituição Federal, estão definidas as matérias de competência


exclusiva da Câmara, que são normatizadas por meio de Resoluções da Câmara dos
Deputados.

Constituição Federal

Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:

I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de


processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os
Ministros de Estado;

[...]
Deve ser destacada a atribuição do inciso I, que se refere à autorização, por dois terços
de seus membros, para a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da
República e os Ministros de Estado.

4.3 Atribuições do Senado Federal

O artigo 52 da Constituição Federal trata das hipóteses em que o Senado Federal


exerce suas atribuições exclusivas por meio de Resoluções do Senado Federal.

Dessas matérias, novamente no inciso I, deve ser destacada a atribuição para processar
e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem
como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos
crimes da mesma natureza conexos com aqueles.

Constituição Federal

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:

I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da


República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de
Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica
nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles;

[...]

4.4 Estatuto dos Congressistas

Os membros do Congresso Nacional estão sujeitos a um complexo de deveres,


obrigações e prerrogativas, os quais são conhecidos como Estatuto dos Congressistas. Vamos
verificar os principais itens que compõem essa diferenciada estrutura jurídica:

Garantia em relação ao serviço militar (§ 7º do artigo 53 da Constituição


Federal): esse dispositivo firma que a incorporação às Forças Armadas de
Deputados e Senadores, mesmo que sejam militares e mesmo em tempo de
guerra, somente pode ocorrer com prévia licença da Casa respectiva.

Dever de testemunhar (§ 6 º do artigo 53 da Constituição Federal):


estabelece uma garantia para os deputados e senadores em relação ao dever
geral de todas as pessoas de testemunhar sobre fatos que sejam de seu
conhecimento. No caso, estabelece a Constituição que eles não serão obrigados
a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício
do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles receberam
informações.

Imunidade formal: refere-se a questões processuais em relação aos


parlamentares. Ela determina, em especial, que:
 os deputados federais e senadores sejam julgados pelo Supremo
Tribunal Federal quando forem acusados da prática de infrações penais
(crimes e contravenções penais) - § 1º do artigo 53 da Constituição
Federal;
 eles não podem ser presos em flagrante, salvo pela prática de crimes
inafiançáveis - § 6º do artigo 53 da Constituição Federal.

Imunidade Material: está prevista no


caput do artigo 53 da Constituição A imunidade material
Federal. Estabelece que os deputados e também existe para os deputados
senadores são invioláveis, civil e estaduais e vereadores, contudo,
penalmente, por quaisquer de suas
para estes últimos, ela é mais
opiniões, palavras e votos. Isso significa
que, havendo correlação com o restrita, ou seja, somente existirá na
exercício de seus cargos, os deputados circunscrição do município onde ele
e senadores não podem ser exerce seu mandato – nos termos
sancionados, seja na esfera penal seja
do art. 29, inciso VIII, da
na esfera civil, por suas palavras. Essa
imunidade aplica-se a fatos que Constituição Federal.
ocorram dentro ou fora do Congresso,
desde que guardem relação com o
exercício do mandato.

4.5 Incompatibilidades

O artigo 54 da Constituição Federal estabelece uma série de situações que são


incompatíveis com o exercício do mandato de deputados federais e senadores.
Constituição Federal

Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão:

I - desde a expedição do diploma:

a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito


público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou
empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato
obedecer a cláusulas uniformes;

b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado,


inclusive os de que sejam demissíveis "ad nutum", nas entidades
constantes da alínea anterior;

II - desde a posse:

a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que


goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito
público ou nela exercer função remunerada;

b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis "ad nutum",


nas entidades referidas no inciso I, "a";

c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das


entidades a que se refere o inciso I, "a";

d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo.

4.6 Perda do Mandato Eletivo

Se um dos membros do Congresso Nacional incidir em qualquer das


incompatibilidades ou praticar um ato grave que se mostre destoante com o cargo eletivo que
exerce, poderá ser apenado com a perda de seu mandato eletivo.

As hipóteses em que isso é possível estão descritas no artigo 55 da Constituição


Federal.
Constituição Federal

Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:

I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo


anterior;

II - cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro


parlamentar;

III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça


parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou
missão por esta autorizada;

IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;

V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos


nesta Constituição;

VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em


julgado.

Especial destaque deve ser dado à situação descrita no inciso II, ou seja, quando
verificado que o parlamentar teve comportamento incompatível com o decoro parlamentar.
Essa expressão tem sua definição estabelecida no § 1º do artigo 55 da Constituição Federal,
cuja redação é a seguinte:

Constituição Federal

Art. 55 [...]

§ 1º - É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos


definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a
membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens
indevidas.
5 Poder Judiciário

Uma das mais marcantes características do Poder Judiciário nacional é que seus
membros não são eleitos, o que já diferencia esse poder dos demais1.

Todos os órgão que compõem esse poder estão previstos no artigo 92 da Constituição
Federal, cuja redação é a seguinte:

Constituição Federal

Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:

I - o Supremo Tribunal Federal;

I-A o Conselho Nacional de Justiça;

II - o Superior Tribunal de Justiça;

III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;

IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho;

V - os Tribunais e Juízes Eleitorais;

VI - os Tribunais e Juízes Militares;

VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e


Territórios.

Uma das classificações mais importantes desses órgãos separa-os em dois grandes
grupos:

Justiça Especializada: nessa classificação incluímos todos os órgãos ligados à


Justiça Militar, Justiça Eleitoral e Justiça do Trabalho;

Justiça Comum: nela estão todos os demais órgãos, sendo subdividida em:
 Justiça Comum Federal;
 Justiça Comum Estadual.

1
O artigo 98, inciso II, da Constituição Federal prevê a possibilidade de criação dos chamados “juízes de paz”, os quais
seriam eleitos, contudo esse dispositivo ainda não foi regulamentado, razão pela qual não é aplicado.
5.1 Garantias dos membros do Poder Judiciário

Elas estão fixadas no artigo 95 da Constituição Federal e buscam garantir que os


magistrados possam exercer suas funções com independência, deixando-os a salvo de
pressões, inclusive dos órgãos diretivos da magistratura. Esse dispositivo fala das garantias da
vitaliciedade, da inamovibilidade e da irredutibilidade de subsídios.

A vitaliciedade garante que os magistrados somente podem perder seus cargos por
decisão judicial transitada em julgado. Assim, eles não podem ser demitidos com base em
processo administrativo.

A garantia da inamovibilidade prescreve que o juiz não pode ser removido de suas
funções, salvo se ele consentir nisso. Nem mesmo pode-se promover um juiz sem que ele
queira, pois a promoção, invariavelmente, acarreta a troca do local onde atua.

Essa garantia é excepcionada na hipótese do inciso VIII do artigo 93 da Constituição


Federal, pois, por motivo de interesse público e por maioria de votos, o respectivo tribunal ou
o Conselho Nacional de Justiça podem determinar a remoção de um magistrado.

A última garantia é a irredutibilidade de subsídio. Ela prescreve que o magistrado não


pode ter seu pagamento diminuído.

5.2 Supremo Tribunal Federal

O Supremo Tribunal Federal é o guardião da Constituição Federal. Em qualquer


processo em que se cogite a aplicação ou não de determinado dispositivo nela inserido, é esse
tribunal quem tem a palavra final.

Ele é composto por onze Ministros, todos brasileiros natos, nomeados pelo Presidente
da República, após aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal.

Além de brasileiro nato, o escolhido para compor essa corte de justiça precisa ter idade
entre 35 e 65 anos, bem como possuir notável saber jurídico e reputação ilibada.

A competência do Supremo pode ser dividida em duas áreas:

Competências originárias, ou seja, determinadas causas são diretamente


propostas no Supremo Tribunal Federal, tais como ações de controle
concentrado de constitucionalidade (que objetivam verificar a
constitucionalidade de leis e outros atos), ações penais contra o Presidente da
República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, contra os
próprios Ministros do Supremo e contra o Procurador-Geral da República.
Competências recursais, em regra, envolvendo questões ligadas à
compatibilidade de leis e atos em relação à Constituição Federal. Aqui o
processo já foi anteriormente julgado por outro órgão do Poder Judiciário,
sendo que somente o recurso é apreciado pelo Supremo Tribunal Federal.

5.3 Conselho Nacional de Justiça

Esse Conselho não é propriamente um órgão jurisdicional, mas, sim, um órgão


responsável pelo controle externo do Poder Judiciário. Esse controle externo não se destina a
rever decisões judiciais, mas, sim, ao controle da atuação administrativa e financeira do Poder
Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes.

Ele é composto por quinze membros, com idades entre 35 e 65 anos, nomeados pelo
Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado
Federal, com mandato de dois anos, sendo admitida uma única recondução.

5.4 Superior Tribunal de Justiça

Diz a Constituição Federal que esse tribunal se compõe de, no mínimo, trinta e três
Ministros, que são nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros (natos ou
naturalizados) com idade entre 35 e 65 anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada,
depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.

Em sua competência, podemos destacar dois grupos de atuação:

Competência originária para julgar uma série de processos, tais como ações
penais que envolvam os Governadores dos Estados e do Distrito Federal.

Competência recursal, cuja principal característica é apreciar os chamados


recursos especiais. Por meio desses recursos, o Superior Tribunal de Justiça
busca harmonizar a aplicação da legislação federal pelos tribunais quando
houver divergência de interpretação de lei federal.

6 Funções Essenciais à Justiça

Após detalhar os três poderes ligados à Teoria da Tripartição do Poder, nossa


Constituição Federal apresenta as denominadas Funções Essenciais à Justiça. Não se trata de
um quarto poder. Aqui o constituinte inseriu uma relação de órgãos que possuem
independência funcional em suas atuações e que não compõem os demais Poderes da
República.

Esses órgãos são os seguintes:

Ministério Público;

Advocacia Pública;

Advocacia;

Defensoria Pública.

Vamos conhecer cada um deles.

6.1 Ministério Público

A Constituição Federal incumbe ao Ministério Público a defesa da ordem jurídica, do


regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Interessante é notar que essa sintética definição de incumbência é de extrema valia


para que possamos entender, em situações práticas, o porquê da atuação do Ministério
Público em várias situações do processo penal e do processo civil e na tutela dos interesses
difusos e coletivos.

No âmbito da União, temos o Ministério Público da União, cujo chefe é o


Procurador-Geral da República. Esse órgão divide-se em:

Ministério Público Federal, que atua junto à Justiça Comum Federal e perante a
Justiça Eleitoral, nos Tribunais Regionais Eleitorais e no Tribunal Superior
Eleitoral;

Ministério Público do Trabalho, que irá atuar junto à Justiça do Trabalho;

Ministério Público Militar, que atua junto à Justiça Militar da União;

Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios.

No âmbito de cada Estado, temos o seu respectivo Ministério Público Estadual,


chefiado pelo Procurador-Geral de Justiça.

Assim como os integrantes do Poder Judiciário, os membros do Ministério Público


possuem as garantias da Vitaliciedade, da Inamovibilidade e da Irredutibilidade de
Subsídios.
6.2 Advocacia Pública.

No âmbito da União, a advocacia pública é exercida pela Advocacia-Geral da União,


cujo chefe é o Advogado-Geral da União.

Cabe a esse órgão a representação judicial e extrajudicial da União, assim, por


exemplo, quando alguém ingressa com uma ação contra a União, é um integrante dele que irá
atuar como defensor.

Além dessa atuação processual, cabe à Advocacia-Geral da União a consultoria e o


assessoramento do Poder Executivo.

O Advogado-Geral da União é escolhido livremente pelo Presidente da República entre


cidadãos maiores de 35 anos, de notável saber jurídico e de reputação ilibada.

No âmbito dos Estados e do Distrito Federal, quem exerce a advocacia pública são os
Procuradores do Estado e do Distrito Federal.

Não há qualquer vínculo entre essas Procuradorias e a Advocacia-Geral da União;


cada Estado e o Distrito Federal criam esses órgãos para sua representação judicial e
extrajudicial bem como para as funções de consultoria jurídica.

6.3 Advocacia

Os advogados são expressamente referidos no artigo 133 e a Constituição Federal


qualifica-os como indispensáveis à administração da Justiça.

Os advogados não são órgãos públicos, mas profissionais liberais que atuam na
representação judicial e extrajudicial de pessoas físicas e jurídicas.

Em razão de sua importância para a correta distribuição de justiça, estabelece a


Constituição Federal que os advogados são invioláveis por seus atos e manifestações no
exercício da profissão, porém nos limites da lei.

6.4 Defensoria Pública

Ela é o órgão incumbido da orientação jurídica e da defesa, em todos os graus, dos


necessitados.

A Constituição Federal não define quem são os necessitados, sendo que essa tarefa é
dada à lei, no caso, a Lei n.º 1.060/50, que define que essa forma de assistência será prestada
para aqueles que, em razão de suas condições econômicas, não podem pagar as custas do
processo bem como os honorários advocatícios sem prejuízo do sustento de sua família.
Temos, na verdade, dois âmbitos de organização da Defensoria Pública:

Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios;

Defensorias Públicas em cada um dos Estados.

Cada um desses órgãos é independente dos demais, sem qualquer tipo de vinculação.
Material Complementar
Nesta aula fizemos algumas referências a duas obras clássicas que são de incomensurável
importância para que possamos entender a base de nossa formação estatal.

Procure ler essas duas obras:

Segundo Tratado do Governo Civil, de John Locke.

O Espírito das Leis, de Montesquieu.

Elas são facilmente encontradas em nossas bibliotecas.


Referências

ARAUJO, Luiz Alberto David; NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito
constitucional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

ARISTÓTELES. A política. Tradução: Nestor Silveira Chaves. São Paulo: Edipro, 1995.

BULOS, Uadi Lammego. Curso de direito constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2008.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7.


ed. Coimbra: Almedina, 2003.

FERREIRA FILHO, Manoel. Curso de direito constitucional. 35. ed. São Paulo: Saraiva,
2009.

LEMBO, Cláudio. A pessoa: seus direitos. São Paulo: Manole, 2007.

LENZA, Pedro. Direito constitucional descomplicado. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet.
Curso de direito constitucional. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

MONTESQUIEU, Charles-Louis de. Do espírito das leis. Tradutor não indicado. São
Paulo: Nova Cultural, 1997.
Anotações

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