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1 - 24/04/2020
A falta de ventiladores pulmonares para o atendimento dos casos graves de COVID-19 é uma
situação dramática que já está ocorrendo em alguns países e que ainda poderá ocorrer em
muitos outros, incluindo o Brasil. Existem várias iniciativas que buscam uma solução na forma
de ventiladores emergenciais que possam ser usados na falta dos ventiladores convencionais.
Observamos que muitas iniciativas ainda não estão levando em conta que, mesmo que seja
para uma situação excepcional, um ventilador pulmonar emergencial para uso no Brasil deve
ser aprovado pela ANVISA.
O presente trabalho, em construção, tem como objetivo fornecer subsídios para a elaboração
de um documento de especificação de requisitos para um ventilador emergencial, já que um
documento desse tipo pode ser necessário durante o processo de certificação e registro na
ANVISA.
Os requisitos nesse texto foram criados para um sistema conceitual projetado para ter as
seguintes prioridades:
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I- Sumário executivo
Um equipamento de ventilação pulmonar projetado para operar nos modos VCV e V-SIMV
(ventilador emergencial) poderia contribuir para a redução da falta de ventiladores prevista em
decorrência da situação de emergência causada pela COVID-19. (Veja a seção 5)
Usando como referência produtos de uma geração anterior, o painel de controle do ventilador
emergencial pode ser projetado para ser familiar aos médicos e enfermeiros da terapia
intensiva. (Veja a seção 7)
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I- Sumário executivo 3
1- Introdução e contexto 9
2- Limitações 11
3- Premissas 12
6- Gerenciamento de risco 21
7- Fatores humanos 24
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Agradecemos as valiosas discussões e sugestões feitas por: Me. Marcio N. Migon, Me.
Guilherme C. Fonseca, Dr Henrique T. Moriya, Dr. Emilio A. Belmonte. Agradecemos as
sugestões, comentários e correções enviadas por: Eng. Luis H. D. Pozzatti; Eng. Rodrigo G.
Borges; e Enga. Julia C. Carneiro. Agradecemos à Me. Laura C. Gon e ao Me. Marcio N. Migon
pela tradução para o Inglês. Agradecemos à Dra. Renata O. Carreon pelas correções do texto.
Os autores fizeram uma opção pela celeridade e antecipadamente se desculpam pela falta de
lapidação do texto, das figuras e por eventuais inconsistências.
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FMEA Análise dos Modos e Efeitos das Falhas (Fault Mode and Effect Analysis)
HMEF Filtro de Troca de Calor e Umidade (Heath and Moisture Exchange Filter)
PRVC Controle de Volume com Pressão Regulada (Pressure Regulated Volume Control)
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Glossário:
Traqueia - Apesar de a palavra ser usada para nomear um órgão das vias aéreas, neste
documento é utilizada para nomear os tubos flexíveis que fazem parte do circuito respiratório.
Barotrauma pulmonar - Lesão no tecido do parênquima (tecido que exerce a função principal)
do pulmão, causada por uma alteração relacionada com o aumento da pressão de ar interna ao
órgão.
Atelectrauma - Lesão nos alvéolos pulmonares por abertura e fechamento cíclico destes
quando submetidos a ciclos de ventilação pulmonar artificial positiva.
Volume corrente - Volume de gases forçado através das vias aéreas a cada ciclo inspiratório
do ventilador.
Pressão de platô - Pressão mantida durante a maior parte de um ciclo inspiratório em alguns
modos de ventilação artificial.
Pressão proximal - Pressão medida o mais próximo possível das vias aéreas.
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Hipercapnia permissiva - Condição na qual se permite que o paciente tenha uma pressão
parcial de CO2 expiratório maior do que o normal, para evitar aumento de volume corrente e/ou
pressão proximal de pico.
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1- Introdução e contexto
Este texto tem como propósito fornecer subsídios a quem eventualmente assuma a missão de
escrever um documento de “Especificação de Requisitos do Produto” para um equipamento
de ventilação pulmonar de caráter emergencial para ser utilizado no enfrentamento da
pandemia de COVID-19.
Este não é um documento para o público em geral e também não está endereçado aos
meios de comunicação, pois não contém informações que possam ser de interesse
geral. Este documento destina-se a um público profissional nas instituições científicas e
tecnológicas, nas empresas de base tecnológica, nas universidades, nos centros de pesquisa,
em hospitais de referência, nas agências governamentais e em outros núcleos, que possam se
mobilizar em um esforço conjunto para reduzir o antecipado déficit de ventiladores pulmonares.
Observamos que a sociedade busca mobilizar-se para a emergência, com ações importantes
que visam o “achatamento” da curva da epidemia e o aumento da produção pelas empresas
fabricantes de ventiladores instaladas no país. Existe, porém, um grande potencial de
mobilização na indústria nacional que poderia ser aplicado na missão nada trivial de se
desenvolver e produzir em escala um ventilador emergencial com os requisitos necessários e
suficientes para o tratamento dos casos graves da doença.
Este documento compartilha a visão difundida pelo governo britânico de que empresas do
segmento automotivo, mecânica de precisão e correlatos são as que têm mais chances de
serem efetivas nesse desafio. Entretanto, como o problema não é trivial e demanda
conhecimentos multidisciplinares, o esforço pode encontrar diversos obstáculos. Seguem
alguns aspectos do problema:
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- Por fim, o equipamento precisa ser projetado para os requisitos corretos, este é o
propósito deste documento: servir de catalisador e de registro de um esforço de
levantamento de requisitos com a contribuição voluntária de profissionais e
pesquisadores que possuam conhecimento sobre o tema.
Os desafios são grandes, mas não são intransponíveis. Este documento é, colateralmente, um
manifesto de confiança na academia, nas ICTs, na indústria, nas agências governamentais do
Brasil e na capacidade e engenhosidade de suas lideranças e de seus quadros técnicos.
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2- Limitações
Respeitamos incondicionalmente a liberdade da imprensa nacional e entendemos seu papel
em informar e ajudar a população no ajuste do comportamento social necessário ao
enfrentamento da epidemia. Este documento, no entanto, não se destina ao público em geral e
não deve ser divulgado fora dos meios a que se destina.
Os autores deste documento não garantem a acurácia e a validade dos requisitos aqui
contidos, e quem desejar utilizar esses requisitos como parte de um esforço para o
desenvolvimento de um ventilador emergencial com os propósitos já explicitados deve
estabelecer seu próprio processo de validação de requisitos e assumir responsabilidade
integral por seu produto.
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3- Premissas
Redundância de esforços: Assumindo um cenário em que a demanda por ventiladores será
maior que a capacidade produtiva normal dos fabricantes nacionais e de outros países
exportadores do produto e considerando que já foram mobilizados os recursos necessários
para o aumento da produção nacional, propomos uma mobilização paralela e não conflitante
para servir como uma ação redundante, com um objetivo vital: a garantia da disponibilidade de
ventiladores para o enfrentamento da COVID-19.
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● ABNT NBR IEC 62366: 2016 - Produtos para a saúde - Aplicação da engenharia de
usabilidade a produtos para a saúde
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● ABNT NBR ISO 10651-3:2014 - Ventiladores pulmonares para uso médico - Parte 3:
Requisitos particulares para ventiladores de transporte e emergência
● ABNT NBR ISO 13485:2016 - Produtos para saúde - Sistemas de gestão da qualidade
- Requisitos para fins regulamentares
● ABNT NBR ISO TR 24971:2014 - Produtos para a saúde - Orientações para a aplicação
da ABNT NBR ISO 14971
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[PREMISSA-4.2] É possível estabelecer uma lista de ítens de normas que podem ser
despriorizados dado que o equipamento contará somente com as funcionalidades necessárias
ao tratamento da ARDS / COVID-19. Veja o parágrafo único do Art. 3º da RDC Nº 349.
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European Intensive Care Medicine Surviving Sepsis Campaign: Guidelines on the Management Acesso em
Society of of Critically Ill Adults with Coronavirus Disease
05/04/2020
Intensive Care
Medicine Journal of Intensive Care Medicine Guidelines on the Management of Critically Ill
Adults with #COVID19
A COVID-19 pode evoluir para um quadro de ARDS (Acute Respiratory Distress Syndrome ou
Síndrome de Estresse Agudo Respiratório). Segundo Gage et al. [1], as recomendações atuais
para os parâmetros da ventilação pulmonar em pacientes com quadros graves de COVID-19
são baseadas em experiências anteriores em pacientes com ARDS. Essa síndrome produz um
alto grau de heterogeneidade nos pulmões, que apresentam áreas com várias alterações de
aeração, indo de regiões completamente sem gases até regiões hiperinfladas. Essas
alterações são causadas por edema pulmonar e alterações anatômicas [2]. De fato, os
mecanismos anátomo-fisiológicos da ARDS manifestam-se nos quadros severos de COVID-19
[3], [4].
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razões, o volume corrente usado em ventilação artificial de pacientes com ARDS costuma ser
bastante reduzido para evitar a chance de volutrauma por excesso de tensão (strain), ao
mesmo tempo em que se deve controlar adequadamente a pressão transpulmonar para evitar
barotrauma por excesso de estresse (stress).
Fan et al. [5] apresenta evidências de que os parâmetros recomendados para a ARDS
decorrente de outras patologias são eficientes em pacientes de COVID-19. De forma resumida,
o artigo aponta as seguintes evidências relativas à ventilação de pacientes com COVID-19,
baseadas em estudos comparativos:
- Valores elevados de PEEP (15 contra 9 cmH2O) reduzem o risco de mortalidade sem
alteração significativa na ocorrência de barotrauma.
Outro estudo, realizado por Guo et al [7], fez uma meta-análise buscando uma comparação
entre o uso de PEEP elevada (> 10cmH2O) e PEEP mais baixa em ventilação durante ARDS.
A conclusão foi que a PEEP elevada pode reduzir a taxa de mortalidade sem aumentar o risco
de barotrauma.
De maneira geral, não parece haver diferenças nas taxas de mortalidade entre os modos VCV
e PCV, segundo Rittayamai et al. [8], porém como se deseja um controle preciso do volume
corrente, para os pacientes de COVID-19 o modo VCV é mais adequado. Se a complacência
do pulmão é reduzida, a pressão proximal no modo VCV pode subir muito, embora esse risco
seja baixo se o volume corrente for pequeno. Para garantir uma operação ainda mais segura,
deve-se usar o modo PRVC, que evita que a pressão aumente demasiadamente, ao mesmo
tempo que garante o volume corrente ajustado.
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Para o desmame dos pacientes no final do período de assistência ventilatória, o modo mais
usado é o SIMV, segundo Alía e Esteban [9]. Como se deseja um volume corrente muito bem
controlado, sugere-se usar o modo V-SIMV.
Estudos relativos ao uso de ventilação oscilatória de alta frequência, realizados por Sklar et al.
[10], indicam que essa técnica não reduz a taxa de mortalidade e, ainda, pode provocar danos.
O estudo de Müller-Redetzky et al. [11] indica que um aumento no tempo inspiratório ou na
razão I:E pode agravar a VILI. Assim, um ventilador emergencial pode se restringir a faixas de
frequências respiratórias e de razão I:E mais fisiológicas.
Volume Corrente 2 a 3000 ml, resolução de 10ml (até Mínimo fixo em 400 ml
1000) e de 50ml (acima de 1000) Idealmente com opções de 350 e
450 ml
Opcionalmente Faixa de 200 a
600ml (ou 800ml), em incrementos
de 50 ml
Razão Inspiração:Expiração 1:599 a 299:1, resolução de 1:0.1 1:2, opcionalmente ajustável entre
1:1 e 1:3
(i) Magnamed - Fleximag Plus, em modo de uso adulto - Manual do Fleximag Puls (Acesso em
05 abr. 2020)
(ii) Department of Health & Social Care, UK Government, Rapidly manufactured ventilator
system specification (Acesso em 05 abr. 2020)
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800 30 1:1.5 60
800 20 1:2.5 56
600 30 1:2.3 60
600 25 1:3.0 60
[PREMISSA-5.3] Podemos assumir que uma faixa de -20 a 0 cmH2O, com ajuste contínuo ou
em passos de 5 cmH2O, será adequada para o controle de sensibilidade dos modos assistidos.
Referências da seção 5:
[1] Gage A, Higgins A, Lee R, Panhwar MS, Kalra A, Reacquainting Cardiology with Mechanical
Ventilation in Response to the COVID-19 Pandemic, JACC Case Reports (2020), doi:
https://doi.org/10.1016/j.jaccas.2020.03.007.
[2] Gattinoni L, Tonetti T, Quintel M. Regional physiology of ARDS. Crit Care. 2017;21(Suppl
3):312. doi: https://doi.org/10.1186/s13054-017-1905-9
[4] Guo YR, Cao QD, Hong ZS, et al. The origin, transmission and clinical therapies on
coronavirus disease 2019 (COVID-19) outbreak - an update on the status. Mil Med Res.
2020;7(1):11. Published 2020 Mar 13. doi: https://doi.org/10.1186/s40779-020-00240-0
[5] Fan, E., Del Sorbo, L. et al, An Official American Thoracic Society/European Society of
Intensive Care Medicine/Society of Critical Care Medicine Clinical Practice Guideline:
Mechanical Ventilation in Adult Patients with Acute Respiratory Distress Syndrome, American
Thoracic Society (ATS), European Society Of Intensive Care Medicine (ESICM), And Society Of
Critical Care Medicine (SCCM) (2020), doi: https://doi.org/10.1164/rccm.201703-0548ST
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[6] van der Zee P, Gommers D. Recruitment Maneuvers and Higher PEEP, the So-Called Open
Lung Concept, in Patients with ARDS. Crit Care. 2019;23(1):73. doi:
https://doi.org/10.1186/s13054-019-2365-1
[7] Guo L, Xie J, Huang Y, et al. Higher PEEP improves outcomes in ARDS patients with
clinically objective positive oxygenation response to PEEP: a systematic review and
meta-analysis. BMC Anesthesiol. 2018;18(1):172. doi:
https://doi.org/10.1186/s12871-018-0631-4
[8] Nuttapol Rittayamai, Christina M. Katsios, François Beloncle, Jan O. Friedrich, Jordi
Mancebo, Laurent Brochard, Pressure-Controlled vs Volume-Controlled Ventilation in Acute
Respiratory Failure: A Physiology-Based Narrative and Systematic Review, Chest, 148(2), 2015,
pp. 340-355, doi: https://doi.org/10.1378/chest.14-3169.
[9] Alía I, Esteban A. Weaning from mechanical ventilation [published correction appears in Crit
Care. 2006;10(4):414]. Crit Care. 2000;4(2):72–80. doi:https://doi.org/10.1186/cc660
[10] Sklar MC, Fan E, Goligher EC. High-Frequency Oscillatory Ventilation in Adults With ARDS:
Past, Present, and Future. Chest. 2017;152(6):1306–1317. doi:
https://doi/org/10.1016/j.chest.2017.06.025
[11] Müller-Redetzky HC, Felten M, Hellwig K, et al. Increasing the inspiratory time and I:E ratio
during mechanical ventilation aggravates ventilator-induced lung injury in mice. Crit Care.
2015;19(1):23. Published 2015 Jan 28. doi: https://doi.org/10.1186/s13054-015-0759-2
Amato Marcelo B. P., Carvalho Carlos R. R., Alexandre Ísola, Vieira Sílvia, Rotman Vivian,
Moock Marcelo et al . Ventilação mecânica na Lesão Pulmonar Aguda (LPA)/Síndrome
do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA). J. bras. pneumol. [Internet]. 2007 July
[cited 2020 Apr 27] ; 33( Suppl 2 ): 119-127. Available from:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-37132007000800007&ln
g=en. https://doi.org/10.1590/S1806-37132007000800007.
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6- Gerenciamento de risco
Os ventiladores pulmonares são classificados pela ANVISA na Classe de Risco III - Alto Risco.
A norma ABNT NBR ISO 14971:2009 dispõe que o fabricante de equipamentos médicos deve
estabelecer e manter, durante o ciclo de vida do produto, um processo contínuo para identificar
os perigos associados ao produto para a saúde, estimar e avaliar os riscos associados,
controlar esses riscos e monitorar a eficácia dos controles. O momento e a forma como se dá o
início das atividades de gestão de risco depende do processo de desenvolvimento de cada
organização. O propósito desta seção é apenas trazer elementos que estimulem a reflexão
sobre a segurança do ventilador emergencial.
Considere somente os principais danos que podem ser causados durante a ventilação
pulmonar de um paciente com um quadro grave de ARDS / COVID-19: morte do paciente por
asfixia; lesão pulmonar no paciente; e contaminação do paciente ou da UTI.
A morte do paciente por asfixia é um dano irreparável e o risco dessa ocorrência deve ser “tão
baixo quanto razoavelmente praticável”, cabendo à engenharia do equipamento alcançar esse
nível de segurança.
A contaminação do paciente com COVID-19 por algum outro patógeno enquanto submetido à
ventilação pulmonar não será abordada aqui, pois entendemos que a melhor linha de ação
para mitigar os riscos desse tipo de dano são os protocolos da terapia intensiva para conter
infecções hospitalares e contaminações cruzadas. Na seção 9.2 abordamos o risco associado
à contaminação da UTI e da equipe da terapia intensiva.
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Compreendendo os tipos de eventos que podem resultar em danos para o paciente, o time de
engenharia pode definir ações com foco na prevenção desses eventos adversos, conforme
exemplificado na tabela abaixo:
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[PREMISSA-6.2] A análise dos problemas reportados em bases de dados como a Alertas [3]
da ANVISA e similares de outros países [4], pode ajudar na identificação das vulnerabilidades
do projeto do ventilador emergencial e inclusão de mecanismos que minimizem os riscos para
o paciente.
Referências da seção 6:
[1] Madahar P and Beitler JR. Emerging concepts in ventilation-induced lung injury [version 1;
peer review: 4 approved]. F1000Research 2020, 9(F1000 Faculty Rev):222 doi:
https://doi.org/10.12688/f1000research.20576.1
[2] Pham JC, Williams TL, Sparnon EM, Cillie TK, Scharen HF, Marella WM. Ventilator-Related
Adverse Events: A Taxonomy and Findings From 3 Incident Reporting Systems. Respir Care.
2016;61(5):621–631. doi: https://doi.org/10.4187/respcare.04151
[4] Lista das bases de dados de notificações eventos adversos com produtos médicos em
diversos países http://www.imdrf.org/safety/safety.asp (acessado em 9 de Abril de 2020)
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7- Fatores humanos
É importante considerar questões relacionadas a fatores humanos, já que a sobrecarga física,
psicológica e cognitiva da equipe da UTI pode afetar a capacidade de decisão de seus
membros. A aplicação de metodologias da engenharia de fatores humanos, com base na
norma ABNT NBR IEC 62366: 2016, pode tomar um tempo de que não se dispõe. A
abordagem que consideramos pragmática para cumprir com a norma e manter a celeridade do
desenvolvimento baseia-se nas seguintes premissas:
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Figura 3. Visão de sistema. O bloco central é a placa de controle eletrônico. A representação dos
controles e sensores apenas ilustra o conceito, não está completa.
O sistema conta com uma entrada de ar e uma entrada de oxigênio, em cada entrada temos
uma válvula reguladora de pressão. A pressão na saída dessas duas válvulas deve estar
ajustada para a pressão de trabalho do equipamento que deverá ser da ordem de 3 bar.
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Na figura acima, vemos as faixas de pressões a que o equipamento é submetido. Optamos por
utilizar a unidade cmH2O para as pressões que o paciente esteja sujeito, por se tratar de uma
unidade familiar aos médicos e equipamentos comerciais. Já a unidade bar foi definida por se
tratar da unidade padrão para pressões de cilindros de oxigênio e rede hospitalar (pressão de
rede) e para as pressões após as válvulas reguladoras (pressão de trabalho). As pressões são
medidas em relação a pressão atmosférica.
Logo na saída da válvula de controle temos a válvula de segurança (blow off), que no caso de
falha da válvula de controle de fluxo deve limitar a pressão na entrada do circuito do paciente
para cerca de 45 cmH2O. (A válvula de segurança deverá ser ajustada um pouco acima de 40
cmH2O para compensar a pequena redução de pressão causada pelo filtro HMEF.)
Na saída para o circuito respiratório (onde o tubo de inspiração que vai para o paciente se
acopla ao sistema) temos um medidor de fluxo do tipo placa de orifício que está conectado a
um sensor de pressão diferencial. Esse medidor possibilita a medição do fluxo inspiratório.
O sistema conta também com um sensor de pressão para a medição da pressão proximal. A
entrada desse sensor deve ser acoplada à derivação para medição de pressão do conector Y
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ou do filtro HMEF. É esse sensor que possibilita a medição da pressão no circuito respiratório e
a estimação da pressão endotraqueal.
O fluxo expiratório que retorna do paciente entra novamente no equipamento através de uma
entrada onde se acopla o tubo que vem da derivação de expiração do conector Y. O fluxo
expiratório é controlado por uma válvula do tipo duas vias e é limitado por um orifício de
restrição de fluxo. O último limita a rapidez com que a pressão pulmonar se reduz durante a
expiração e a primeira interrompe a expiração quando a pressão pulmonar atinge o valor
ajustado de PEEP.
O esquema da figura 4 apresenta uma visão simplificada do arranjo para o controle do fluxo. A
pressão interna é da ordem de 2 bar e a pressão proximal do paciente deve ficar entre 5
cmH2O e 40 cmH2O. O tipo de controle de fluxo necessário depende do modo de operação,
conforme a tabela abaixo:
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[REQUISITO 9-1-1] O ventilador emergencial deve operar com uma faixa ampla de pressão
nas entradas de ar e oxigênio medicinal, a ser especificada durante o projeto mecânico dos
componentes pneumáticos.
[REQUISITO 9-1-2] O ventilador emergencial deve ser capaz de operar com baterias externas
(além das baterias internas), como uma fonte alternativa de energia no caso de uma falta
prolongada da energia da rede elétrica. O tipo de bateria externa e suas características devem
ser especificados durante o projeto eletro-eletrônico.
[REQUISITO 9-1-3] O ventilador emergencial deve ser capaz de operar em uma rede elétrica
com maior flutuação de tensão e com surtos e transientes gerados por outros equipamentos.
Essa questão deve ser tratada no projeto eletro-eletrônico.
[REQUISITO 9-1-4] O ventilador emergencial deve ser capaz de operar com oxigênio medicinal
suprido por uma linha hospitalar ou por um cilindro de oxigênio. As condições e conexões para
cada caso devem ser especificadas durante o projeto mecânico.
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Sabe-se que o ar expirado por pacientes de COVID-19 contém gotículas de água carregadas
com partículas virais, que podem cair sobre superfícies, contaminando-as, ou serem aspiradas
diretamente por outra pessoa. É essencial que o ar expirado pelo paciente passe por um filtro
HMEF, instalado logo na saída do tubo endotraqueal, antes de chegar ao conector em Y e
seguir para a traqueia do ramo expiratório.
Por analogia com o documento mencionado acima, decidimos pelo uso de um filtro HMEF junto
ao tubo endotraqueal e outro filtro (HMEF, HEPA ou eletrostático) entre a traqueia do ramo
expiratório e a entrada de fluxo de expiração do equipamento. Entendemos que dessa forma a
contaminação ficará restrita ao tubo endotraqueal e ao primeiro filtro HMEF. Teremos uma
probabilidade baixa de contaminação residual no conector Y, na traqueia do ramo expiratório e
no segundo filtro. A possibilidade de contaminação das partes internas do equipamento será
praticamente eliminada. A periodicidade de substituição dos filtros deverá ser definida no
manual de uso do equipamento.
Para decidir qual tipo de filtro deve ser utilizado na saída do ramo expiratório, devemos
considerar a queda de pressão produzida por cada tipo de filtro. Essa queda é diretamente
proporcional ao fluxo. O equipamento proposto terá fluxos máximos de 50 l/min, os documentos
de especificações dos filtros apresentam normalmente valores de queda de pressão entre 30 e
60 l/min. Assim, podemos considerar a queda máxima de pressão que consta nos documentos
a 60 l/min.
Um filtro HMEF para adulto, dependendo do modelo, pode ter de 2 a 3 cmH2O de queda de
pressão a 60 l/min. Um filtro antibacteriano e antiviral de alta eficiência apresenta uma queda
de pressão de cerca de 1,2 a 1,5 cmH2O. O custo dos dois tipos é similar, algumas dezenas de
reais. Por isso, parece apropriado usar na saída do ramo expiratório um filtro antibacteriano e
antiviral, pois a diferença na queda de pressão pode chegar a 1,5 cmH2O. Deve-se tomar os
devidos cuidados para evitar eventos adversos por troca de posição na montagem do circuito.
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[1] FAQ on Anesthesia Machine Use, Protection, and Decontamination During the COVID-19
Pandemic. Acesso em 05 abr. 2020.
O ventilador emergencial precisa de uma fonte de energia elétrica para energizar sua placa
eletrônica de controle e seus atuadores eletro-mecânicos.
[REQUISITO 9-3-1] O equipamento deve contar com uma entrada para alimentação pela rede
elétrica com as seguintes características:
[REQUISITO 9-3-2] O equipamento deve contar com uma entrada para alimentação de
emergência por uma bateria automotiva. O equipamento deve continuar plenamente
operacional quando alimentado pela bateria automotiva.
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[REQUISITO 9-4-1] O circuito pneumático do ventilador emergencial deve ter uma entrada para
ar medicinal com conectores conforme norma NBR 12510 e ser capaz de operar com uma
pressão de entrada de até 90 psi (~ 600 kPa). A pressão mínima para a operação segura do
equipamento deverá ser definida durante o projeto mecânico-pneumático.
[REQUISITO 9-4-2] O circuito pneumático do ventilador emergencial deve ter uma entrada para
oxigênio medicinal com conectores conforme norma NBR 12510 e ser capaz de operar com
uma pressão de entrada de até 90 psi (~ 600 kPa). A pressão mínima para a operação segura
do equipamento deverá ser definida durante o projeto mecânico-pneumático.
[REQUISITO 9-4-3] O circuito pneumático do ventilador emergencial deve ter uma saída para o
ramo inspiratório do circuito respiratório do paciente com um conector padrão 22mm.
[REQUISITO 9-4-4] O circuito pneumático do ventilador emergencial deve ter uma entrada para
o ramo expiratório do circuito respiratório do paciente com um conector padrão 22mm.
[REQUISITO 9-4-4] O circuito pneumático do ventilador emergencial deve ter uma entrada para
medição da pressão proximal com um conector Luer-Lock, para uso com tubo plástico de
equipo de soro.
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Figura 7. Circuito pneumático com válvula duas vias em série com válvula agulha servo controlada.
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Opção C - com válvula duas vias em série com válvula agulha manual
Figura 8. Circuito pneumático com válvula duas vias em série com válvula agulha manual.
[REQUISITO 9-4-5] O ventilador emergencial deve contar com um filtro e uma válvula de
regulação de pressão para a entrada de ar medicinal. A válvula deve ser capaz de receber o ar
na faixa de pressão suprida para o equipamento e de entregá-lo para o misturador com a
pressão interna estabelecida. As especificações do filtro e da válvula devem ser
adequadamente definidas durante o projeto mecânico-pneumático.
[REQUISITO 9-4-6] O ventilador emergencial deve contar com um filtro e uma válvula de
regulação de pressão para a entrada de oxigênio medicinal. A válvula deve ser capaz de
receber o oxigênio na faixa de pressão suprida para o equipamento e de entregá-lo para o
misturador com a pressão interna estabelecida. As especificações do filtro e da válvula devem
ser adequadamente definidas durante o projeto mecânico-pneumático.
[REQUISITO 9-4-7] O ventilador emergencial deve ter um misturador de gases que possibilite o
ajuste da composição gasosa fornecida ao paciente. A faixa desejável de ajuste da FiO2 é de
30% a 100%. Uma solução com somente duas posições, 50% e 100%, é aceitável. As
características e as possibilidades de ajuste do misturador dependem da tecnologia utilizada e
precisam ser definidas durante o projeto mecânico-pneumático.
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[REQUISITO 9-4-10] O ventilador emergencial deve ter uma válvula de segurança (blow-off)
para proteger o paciente. Esta válvula deve garantir que em nenhuma circunstância a pressão
no circuito respiratório exceda 45 cmH2O.
[REQUISITO 9-4-11] O ventilador emergencial deve ter um medidor de fluxo entre a saída da
válvula de controle de fluxo e a conexão de saída para o ramo inspiratório do circuito
respiratório do paciente. A precisão do medidor de fluxo deve ser suficiente para que o cálculo
do volume corrente obtido por integração no tempo não apresente um erro relativo maior que
5% na faixa de 200 ml a 800 ml.
[REQUISITO 9-4-12] O ventilador emergencial deve contar com uma válvula solenóide de duas
vias para controlar o fluxo expiratório. Essa válvula deve ser aberta (pelo controle eletrônico do
equipamento) no início da expiração e deve ser fechada quando a pressão baixar até o valor
ajustado de PEEP. Quando aberta essa válvula deve possibilitar a expiração sem opor muita
resistência ao fluxo.
O equipamento deve ser compatível com insumos, dispositivos e acessórios que possam ser
encontrados no mercado nacional.
[REQUISITO 9-5-1] O manual de uso do equipamento deve apresentar uma lista de insumos e
dispositivos que possam ser utilizados com ele.
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CC BY-SA 4.0
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[REQUISITO 9-6-6] O ventilador emergencial deve apresentar um modo STAND BY. Nesse
modo, o fluxo de inspiração deve ser interrompido e a expiração é liberada até que a pressão
proximal se reduza a zero. Essa manobra possibilita a troca de filtros reduzindo o risco de
produção de aerossóis contaminados com partículas virais. Após 10 segundos no modo
STAND BY, o ventilador emergencial deve soar um alarme.
9.7.1- Controles
O equipamento deverá disponibilizar uma interface de controle simples e intuitiva, por meio da
qual o usuário poderá configurar o seu funcionamento.
[REQUISITO 9-7-1-1] O ventilador emergencial deve disponibilizar uma interface por meio da
qual o usuário selecionará o modo de operação do equipamento, optando por um entre os
modos listados na seção anterior.
[REQUISITO 9-7-1-2] Para que o equipamento seja capaz de operar no modo VCV-Mandatório,
o usuário deverá ter acesso a uma interface por meio da qual poderá configurar os parâmetros
essenciais desse modo de operação. A tabela abaixo apresenta quais são esses parâmetros e
quais as respectivas faixas de valores que o usuário poderá selecionar para cada um deles.
CC BY-SA 4.0
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PEEP de 5 cmH2O
a 25 cmH2O
[REQUISITO 9-7-1-3] Para que o equipamento seja capaz de operar no modo PCV-Mandatório,
o usuário deverá ter acesso a uma interface por meio da qual poderá configurar os parâmetros
essenciais desse modo de operação. A tabela abaixo apresenta quais são esses parâmetros e
quais as respectivas faixas de valores que o usuário poderá selecionar para cada um deles.
PEEP de 5 cmH2O
a 25 cmH2O
[REQUISITO 9-7-1-4] Para que o equipamento seja capaz de operar no modo VCV-Assistido
ou no modo PCV-Assistido, o usuário deverá ter acesso a uma interface para acionar o modo
assistido e configurar a sensibilidade. A tabela abaixo apresenta os controles para acionamento
e configuração de sensibilidade dos modos assistidos.
CC BY-SA 4.0
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Sensibilidade de 0 cmH2O
a 5 cmH2O
PEEP de 5 cmH2O
a 25 cmH2O
Sensibilidade de 0 cmH2O
a 5cmH2O
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Sobrepressão
Bateria crítica
e c*
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A primeira etapa de validação funcional poderá ser realizada em um simulador de pulmão, que
pode ser usado para demonstrar a equivalência entre o ventilador emergencial e um ventilador
convencional de referência que já esteja certificado e registrado na ANVISA.
Na segunda etapa poderá ser realizado um ensaio pré-clínico, em modelo animal, para verificar
a equivalência entre o efeito terapêutico produzido pelo ventilador emergencial e o efeito
terapêutico produzido pelo ventilador convencional de referência.
As duas etapas devem ser adequadamente planejadas e os protocolos de teste devem ser
definidos antecipadamente. O ensaio em modelo animal requer a aprovação de um comitê de
ética.
CC BY-SA 4.0
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A especificação de requisitos do produto ainda pode conter outras seções e cobrir aspectos
como custos, distribuição, parcerias tecnológicas e comerciais, entre outros. Esses assuntos
estão além do escopo pretendido para este texto.
Nota: Utilizamos algumas figuras obtidas por buscas na Internet para ilustrar os conceitos e visões apresentados
neste texto. Não foi possível rastrear os autores dessas imagens devido à rapidez com que o texto foi produzido.
Lamentamos e pedimos desculpas por não atribuir os créditos pelas imagens.
CC BY-SA 4.0
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