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Aula 1
Falaremos sobre a pena, razão de ser do Direito Penal. Só há teoria do crime porque a
consequência jurídica do crime é a sanção grave. A pena, portanto, é fundamental para o
direito penal.
Discursos sobre a pena. Duas formações teóricas sobre a pena. Discurso oficial, da teoria
jurídica da pena, centrado no direito penal. Discurso crítico, que vem da criminologia.
É através da ideologia que tomamos consciência da luta de classes. Marx. O modo de produção
da sociedade determina a vida social, política e intelectual. O direito penal também precisa ser
visto nessa perspectiva social, do modo de produção capitalista.
Pena como retribuição, devolver o mal causado. Pagar o crime com a liberdade, com o corpo,
com a vida. Mal injusto retribuído com um mal justo. Como crítica, há inúmeras questões que
mostra a pena como um mal não justo. Exemplo, a questão da droga: criminalizou-se álcool,
criminalizou-se café, chás, seriam estes mal injustos que merecem mal justo? Nitidamente que
não. Trata-se de uma forma metafísica de ver a pena, um tanto quanto religioso. Também não
é democrática. Alguns teóricos já criticaram esse fundamento, como Jakobs, Roxin. Pena como
expiação do mal causado, como compensação do mal. Purificação através da pena. Ortopedia
moral. Direito penal como vingança. No Estado Democrático de Direito não está ligado ao
poder divino, mas ao poder do povo, e nesse cenário a pena tem sentido religioso. O direito
penal tem como função e tarefa proteger bens jurídicos. Se a punição não está ligada ao bem
jurídico, ela é inconstitucional. Essa função está sustentada na religião, muito próxima do livre
arbítrio., da liberdade de vontade. A psicologia humana é regida pelo talião, retribuição de um
mal. Os seres que sobrevivem são aqueles que reagem a uma ação. Trata-se de uma troca de
violências. É um impulso do Id do inconsciente. Há um sentido cultural de que o ser humano é
regido pelo talião, pela reação do mal recebido. Temos também uma influência histórica da
Igreja Católica. As punições eclesiásticas conduziram a história para a retribuição do mal. Os
processos criminais da igreja estavam recheados de justiça divina, de bem e mal, de justiça de
Deus, em nome de Deus. A justiça de Deus é retributiva: pune-se o mal, premia-se o bem. Se
Deus é retributivo, porque o homem não vai ser? Isso é incorporado no imaginário social. Na
filosofia, temos Kant, que é retributivista também. A causalidade da punição é moral, todo que
mata deve morrer, ele era moralista. “Haja de tal forma que a máxima de tua vontade possa
valer a qualquer tempo como princípio de uma legislação universal, comum”. Hegel também, a
pena é a reafirmação do direito e a negação do crime. Crime é a violação da expectativa
normativa.
O poder de agir de outro modo é sustentado por uma liberdade de vontade, livre arbítrio que
não existe. Banido da sociologia, psicologia, etc. Eles trabalham com determinações. A
liberdade é um sentimento pessoal, e não um poder de agir autônomo. O direito penal tem
como pressuposto da culpabilidade a liberdade de agir, que é um dado ontológico
indemonstrável. Estamos mais próximo do determinismo do que do livre arbítrio.
A punibilidade e a culpabilidade devem ser vistas como limitação da pena. A pena danifica
permanentemente o ser humano para a vida social. A culpabilidade não pode ser fundamento
da pena. Tem que ser limitativa do poder punitivo do Estado. Não se pode punir tanto por
violar a culpabilidade – isso é sua forma limitativa. O limite da pena é a culpabilidade.
Análise crítica: Pena como retribuição equivalente do crime. Pachukanis. A pena como
retribuição equivalente corresponde aos valores e fundamentos materiais, políticos e
ideológicos da lógica capitalista. Nessa sociedade, a determinação do valor na economia é
determinada pelo tempo. O tempo é o critério para determinação do valor da mercadoria.
Tudo no capitalismo é mercadoria. Mercadoria como valor de uso e valor de troca. Preço de
mercado. Tempo de trabalho social necessário para a produção é o critério de determinação
do valor da mercadoria. O valor de troca da mercadoria é o preço, o dinheiro, e o critério de
medição de valor é o tempo.
A pena, como retribuição do mal, é medida no tempo. Há uma correlação entre tempo e valor.
O tempo determina o valor. O valor é uma medida determinada pelo tempo. Tempo de
privação de liberdade, na lógica do capital. Mercantilização do ser e da liberdade. O tempo
para medir a pena criminal. Pena e ser como mercadoria. Pena privativa de liberdade é o
poder punitivo específico do modo de produção capitalista. É a pena que sobrevive nessa
organização social.
Pachukanis – objetivo real da pena = manutenção dos privilégios da classe dominante,
instrumento de poder contra as classes oprimidas. Garantia da dominação de classe. Baratta
também fala isso, que a pena garante a desigualdade social. Os objetivos ideológicos e
aparentes da pena é a segurança da sociedade, isso é uma alegoria jurídica.
Preço e mercadoria. Salário e trabalho. Pena e crime. Tudo é regido pela lógica da igualdade,
da equivalência. O tempo é um bem jurídico geral.
Mas o direito penal é desigual por natureza, em especial por causa dos mecanismos seletivos
de criminalização, primária e secundária.
Primária = criminalização legal, pela lei. Porque é seletiva? Protege bens jurídicos das elites de
poder econômico e político. Ex. propriedade. Formas ilegítimas de sobrevivência, mercado
informal, droga. Criminologia não crítica: Merton, buscam apenas fazer reformas sociais, mas
mantem as relações de produção. Não mexe nisso. Tudo decorre da relação capital e trabalho
assalariado.
Pena – no fim das contas vai ser convertida em privativa de liberdade (restritiva de direito,
multa, etc). Os regimes abertos legitimam o regime fechado.
Trazer Marx para o direito penal. Radical Criminology. Havia uma disputa entre criminologia
crítica e criminologia radical. Acoplada ao marxismo é criminologia radical. Que trabalha com
as raízes.
Quem são selecionados? Os marginalizados sociais, inúteis para o mercado de trabalho, para a
ampliação do capital. Não são capital humano. Subproletários são os desocupados, ou
trabalhadores não qualificados, não ocupados. São pessoas que apresentam indicadores
sociais negativos.
Trabalharemos com Kurtz – indicadores negativos não determinam o crime, mas criam o
estereótipo que orientam o sistema o justiça criminal.
Aula 2
O Estado tem o poder de dizer a verdade, portanto. Mas temos que lutar contra a verdade
Estatal. Todos os discursos são proclamados para convencer.
Todo processo está partidarizado, e Foucault dizia isso. Cada parte faz parte da batalha do
poder, da lógica da guerra. O Discurso nos constitui. Ele atravessa nossa subjetividade.
Pena como retribuição é voltada para o passado. Castigar, retribuir um fato já acontecido. Uma
função metafísica de voltar ao passado. Inflição e aplicação de um sofrimento. É punido
porque pecou. Sentido expiatório. Tenta reconstruir o passado através da memória, e isso é
extremamente problemático. Pune-se por causa de uma memória.
A pena tem que ter outra função. Punir para que não peque no futuro. Pena utilitarista, como
o capitalismo. Economia do tempo, aumento de produtividade, isso é capitalismo, isso é
utilitarismo, e essa função da pena alcança isso. Ela é voltada para o futuro. Utilitarismo da
pena como prevenção. Criminologia determinista, trabalha com a periculosidade, as pessoas
têm um potencial de perigo, precisando ser reformadas, medidas de segurança. A ideologia
utilitária surge daí, aplica-se a pena para que o sujeito não pratique novos crimes.
Porque não funciona? Estigmatização, rompimento dos laços, subcultura da prisão (violência
interna, violência da segurança, violência da saúde e malandragem). Eles constroem uma
autoimagem de criminosos e violentos (labeaing approach trabalha com isso), porque todos os
consideram criminosos (mídia, sociedade, órgãos de justiça). Aprende a viver na prisão. Não
conseguem trabalho depois da prisão. Uma mancha que carrega por toda vida.
Criminologia atuarial – Pavarini. Novo discurso da prevenção especial negativa – grupos sociais
perigosos neutralizados, e isso funciona. Nova penologia. Neutralizados grupos sociais
considerados perigosos pelo modo de produção. A eficiência não é só punir, retribuir, intimidar
ou reabilitar. O objetivo é o controle dos grupos de risco. Neutralização e incapacitação
seletiva. São os incorrigíveis habituais que devem sofrer os efeitos das penas. Identificar,
classificar e gerir os grupos de risco, através de medidas adaptadas ao grupo de risco. Negros,
latinos, árabes, etc. Controle das classes perigosos – novo discurso do capitilismo. Três crimes
e está fora. Regra do baseball. Lógica atuarial – prognóstico de risco da reincidência. Baixo
custo. São perigosos e precisam ser neutralizados. Método para identificar para os criminosos
habituais – usa 7 fatores para identifica-los. Acima de 4 é considerado perigoso.
Quais fatores: reincidência específica, últimos 2 anos, 1 ano na prisão; condenado antes dos 16
anos; passou pela instituição dos menores infratores; uso de drogas; uso de drogas como
adolescente; 2 anos, 1 ano sem emprego.
Justiça negocial – muito forte atualmente, aceita condições para ser punido. O direito penal
virou negócio. Ignora a culpabilidade. Prova indiciária. Faz acordo com os perigosos sociais. Os
menos perigosos não apresenta denúncia, dão outras formas de controle. Prisão domiciliar,
monitoramento eletrônico. Ministério Público autônomo, que faz qualquer acordo. 90% dos
processos americanos terminam assim.
Sistema compass – tem outros fatores para prever o risco de reincidência. Se estivermos uma
capacidade de gestão eficiente, não precisa de fundamentos jurídicos e criminológicos para
isso.
Distribuição diferenciada dos grupos sociais, para incapacitar os mais perigosos. Não há mais
juízo de culpabilidade, e sim periculosidade. Mesma lógica da medida de segurança. Não é o
perigo do fato, mas sim da pessoa. Busca analisar desde o começo para evitar a carreira
criminosa. A sentença não é determinada. Sentença é indeterminável. Medida de segurança
para imputáveis. Presunção legal de periculosidade, basta analisar os fatores. O erro desse
sistema é aleatório – pega 3 pessoas e sorteia 1 criminoso.
Difere da lógica silogista – norma, fato, subsunção do fato à norma. Lógica formal.
Aula 3
Até o momento vimos a função retribuitiva, baseada nos próprios fundamentos da sociedade
capitalista, a função da prevenção especial positiva, baseada na função da reeducação e cura,
a função real crítica, de sustentação da sociedade capitalista, e a função especial negativa, de
neutralização e incapacitação de inimigos sociais.
Na aula de hoje, falaremos sobre a função prevenção geral positiva (reafirmação do direito,
utilitarismo, manutenção do sistema direito) e da prevenção geral negativa (amedrontamento
dos inimigos sociais selecionáveis, aos sujeitos considerados de alta periculosidade).
Prevenção geral começa como negativa – intimidação. A partir de Fuerbach. Reforma da
legislação penal alemã. Mas veio antes também. Trata-se de uma análise do poder punitivo em
geral, não só da pena privativa de liberdade. Aparece também em Foucault, Vigiar e Punir.
Controle social através do terror. Na idade média havia uma estrutura hierarquicamente
fundamentada pela religião. No capitalismo o que fundamenta sua estrutura de classes é o
direito. São relações econômicas de dominação das classes sociais. São relações de circulação
e reprodução de mercadorias. O crime era visto como um desafio, uma rebeldia à nobreza e à
religião. O processo é inquisitório, uma sequência de interrogatórios para a confissão. Será que
é diferente da atualidade? Na lava jato aconteceu isso, com confissão e delação, ameaça da
prisão preventiva (tortura). A prisão é tortura.
O processo penal é regido pelo princípio da revelação (idade média). Atualmente é o princípio
da demonstração da verdade da prova, segundo critérios científicos. Mas hoje Deus também
faz parte do processo penal. O processo penal é um ritual político de caráter expiatório.
Sofrimento para purificar. A reprodução do poder pelo terror. Dominação e submissão.
A pena como prevenção geral negativa é desestímulo, também, através do terror que se
propagandeia. Teoria da coação psicológica. Foucault também explica isso. Economia dos
interesses, psicologia coletiva. Se o crime é uma vantagem, a pena tem que ser uma
desvantagem, maior do que o crime. Isso provocaria a renúncia ao crime. Aqui tem conceitos
psicológicos. Princípio da vantagem suficiente. A pena tem que ser eficaz, como desvantagem
temida.
Beccaria, não é o rigor da pena que desestimula a prática do crime, mas a certeza ou a alta
probabilidade da punição. Quanto mais a pena se amplia, mais se procura desestimular. Mas
isso não acontece na realidade, pois o que desistimula é a condenação, apenas. O tempo de
permanência no sistema carcerário só provoca mais violências, mais ele é desqualificado para
a vida social.
Talvez a pena poderia intimidar os crimes de reflexão (que são os crimes de colarinho branco,
mas nesses crimes o direito penal não se aplica). Ele não intimida os delitos de impulso, onde
os instintos estão presentes. A primeira reação do direito penal é aumentar a pena. Essa lógica
não resolve.
Essa função ganha conotação política. Os governantes se elegem com esses discursos, de
aumentar a pena para intimidar. Os meios de comunicação também, que acreditam que punir
e aumentar a pena resolve o problema da criminalidade.
Prevenção geral positiva – relembrar os bens jurídicos protegidos, mostrar a força do direito,
mostrar a força da segurança penal e dos bens jurídicos. Administrativização do direito penal,
para garantir interesses do governo. Welzel já falava isso. Roxin também tem esse
entendimento penal. Jakobs também. Estabilização e preservação das expectativas
normativas. Fundador do direito penal do inimigo. O crime desestabilizaria as expectativas, e
a pena teria essa função de reestabilizar. Tem uma ideia de integração social também.
Teoria sistêmica. Jakobs pega essa ideia do Luhman, e fala que o crime é disfuncional, não
porque viola o bem jurídico, mas porque afeta o sistema, e por isso precisa da pena, para
devolver a confiança da norma. Reconhece a norma e dá validade para a norma. A prevenção
geral positiva é a norma válida. Acaba com os efeitos negativos da pena, pois seria integrativa
(integração social). Miragem jurídica. Função de integração. Crime é uma ameaça à
estabilidade social, porque reduz a confiança no direito. A pena é simbólica. Pena é uma
reação contra fática. Restabelece a fidelidade ao ordenamento jurídico. O decisivo não é a
lesão ao bem jurídico, mas a infidelidade jurídica. Insignificância e lesividade não importam.
Criminalização da vontade do poder. Culpabilidade não tem sentido limitador. O indivíduo não
é o centro da sociedade, mas sim o direito. O indivíduo se tornou um sistema psicofísico.
Talcon Parssons – introdução do livro do Max Weber. Luhman estudou com Parssons. Fundou
a teoria sistêmica.
Político criminal. Rompeu com teoria neoliberal individualista do direito penal. Crime como
ataque a bens jurídicos individuais. Bem jurídico como interesses subjetivos individuais das
pessoas. Direito penal para proteger bens transindividuais. Teoria sistêmica é funcionalista –
ocorre um abandono da tradição do bem jurídico. Busca proteger o estado social. Ampliação
do direito penal para alcançar complexos funcionais. O que são? Economia, ecologia, sistema
financeiro, sistema tributário, interesses do capital. Direito penal para proteger funções do
Estado. Principal função de controle social. Deslocamento do bem jurídico para funções
(sistema capitalista). Administrativização do direito penal. Integração entre o direito e a
atividade administrativa do estado. Direito penal passa a ser prima ratio. Criminalizar é a
resposta para todas as medidas sociais. O direito penal amplia os problemas sociais. Não
protege o bem jurídico – vale a confirmação da validade da norma. A política criminal busca
manter o modelo da ordenação social. Crime é negação da norma, e a pena é uma contradição
a essa negação às custas do autor.
Ideológica – teoria funcionalista de Durkheim também. Teve uma teoria sistêmica também.
Órgãos que realizam funções. Função é a relação da parte com o todo. Estado social não tem
recurso para manter o sistema penal. A reinserção é uma ideia que nunca teve eficácia. A
disciplina do capitalismo, formação da mão de obra, controlada pelo sistema penal.
Instrumento de disciplina dos setores marginalizados.
Ciência social e técnica jurídica. Alessandro Baratta. O direito é uma técnica de controle social.
Tem que ser trabalhada pelo jurista como se fosse uma ciência social. Tem que ter as
premissas das relações de poder.
Modelo crítico – direito penal como instrumento de luta de classes. Paschukanis. Pena e
estrutura social. Punição tem relação com a estrutura do modo de produção. A medida do
tempo como critério de determinação do valor. Problemas externos e internos da concepção
sistêmica. Direito penal como estabilização dos sistemas sociais complexos, direito como
subsistema. A reação penal não acontece na raiz do conflito (capital), mas na manifestação do
conflito (lutas sociais). A criminalidade é a manifestação social do conflito capitalista. A teoria
exclui os efeitos reais da pena. A pena é uma ruptura com certas relações sociais.
Funcionamento seletivo do sistema penal. O direito penal é seletivo e estigmatizante. A prisão
provisória possui os mesmos efeitos da pena. Prisão preventiva é prisão, punição. O crime de
ação pública demonstra que o Estado é que cria o problema social. O Estado impede a
interlocução entre autor e vítima. A ilusão da ressocialização, é um projeto impossível.
Aproximação entre autor e vítima.
Modelos contraditórios do saber social – modelo tecnocrático (direito penal como centro do
sistema social, resposta penal para problemas sociais, cultura positivista, reproduz material e
ideologicamente a sociedade, alienação da subjetividade do homem, submerso no sistema,
ação penal é suporte psicofísico de ações políticas, reprodução do sistema social, sujeito como
bode expiatório e objeto do sistema penal, cifra oculta, criminalidade real e a criminalidade
aparente, filtros seletivos do sistema, os escolhidos pelo sistema são bode expiatório para
controle social) e modelo crítico (garantismo penal, direitos humanos do acusado, não ter um
modelo de repressão, legalidade, culpabilidade, sistema de garantias, limitação do poder
punitivo do Estado, direito penal não como produção de sofrimentos, limitações formais do
sistema penal, restrição do poder destrutivo do Estado penal, projetos alternativos, sujeitos
das classes sociais inferiores,). Baratta e Pavarini – projeto cidade segura. Sistema de
dominação brutal da periferia, para manutenção das elites.
Aula 4
Dec. 50, finalismo do direito penal, positivismo da periculosidade. Justiça criminal como
agência de controle. Paradigma do defeito, do homem criminoso como defeituoso.
Periculosidade. Responsável pela prevenção especial positiva, pena medicinal, para redução da
criminosidade. Modelo Taylorista de verdade (métodos e felicidade do trabalhador). Massas
disciplinadas e trabalhadoras.
Dec. 80, outros métodos de controle social, como a liberdade condicional, o regime aberto. No
brasil nunca temos o bem estar social. E isso é importante para falar sobre a menor
elegibilidade (prisão tem que ser pior do que a sociedade). Eficácia da prisão pela menor
elegibilidade, tem que ser pior na prisão do que nos piores trabalhadores. Fim da prisão mais
distante, diante da era de ouro do encarceramento.
O direito penal do risco. Há comportamentos neutros e lícitos que são penalizados. Crimes de
perigo abstrato. Os autores não são perigosos, e mesmo assim são capturados. A falta de
produtividade do direito penal, pois os autores dos crimes não são criminosos. O que seria da
empresa dos cadeados, se não fosse os ladrões. Crime de gestão temerária, se for sucesso é
herói, se for errado é crime. Sociedade do Risco, direito penal ambiental, direito contra o
sistema econômico-financeiro.
Linguagem da guerra – incapacitação seletiva dos perigosos. Sistema penal é muito produtivo.
Marx fala sobre a produtividade de cada indústria. O que seria dos cadeados se não fossem os
ladrões. Século de penalidade, Sec. XX. Produção de condenados e encarcerados. Qual a
quantidade da pena legal ou de censura social para manter a punição? Deflação penal,
redução do encarceramento, até a déc. de 50, criminalização primária severa e criminalização
secundária mais branda. Itália – Lombroso, Ferri, Garfallo, Pavarini, Baratta. Mas houve uma
tendência de reencarceramento, no final do sex. XX, com aumento de penas alternativas
também. A percepção da penalidade como questão política. O direito penal como sustentáculo
da violência e da desigualdade. Terrorismo político – brigadas vermelhas, luta pela repressão.
O sentimento de insegurança se supera com a participação democrática.
Penalogia atuarial. Sujeitos débeis, sem garantias, jovens e imigrantes, tóxico dependentes.
Crise da ressocialização. Direito penal mínimo – nos livros, nos códigos, mas é máximo nos
fatos, na criminalização secundário. Crimes predatórios, contra a propriedade. Diferença entre
os livros e os fatos. Como reduzir o direito penal? Como aboli-lo? Isso não vai vir do príncipe,
mas do fracasso da própria prisão. Quem pune trabalha com uma ideologia autoritária, e isso
sustenta a punição. Para o cidadão interesse uma perspectiva garantista. Abolição da pena –
não temos conhecimento da extensão da criminalidade.
Pavarini - Abolição não do sistema penal, mas do cárcere. É muito difícil no presente, porque é
a época de ouro do cárcere. Cultura punitiva reina. Fracasso da estratégia de superação do
cárcere. A pena serve para a produção de sofrimento, como privação de direitos e
expectativas, coisificação e escravidão do preso. Subordinação do preso ao poder do outro.
Ronda dos encarcerados – Van Gogh. Queria pintar a verdadeira dor. Cárcere como um
território sem direito. Um espaço vazio de direito. Sujeição de poderes. O cárcere é uma
refração do direito, não dá para entrar o direito no cárcere. Supremacia do poder. Sujeição do
preso ao poder. Sociologia do crime – criminologia.
No Brasil, o trabalho era exceção. Como o trabalho na prisão concorre com o trabalho fora.
Prisão construídas como fábricas. Indústria do encarceramento.
Zaffaroni é garantista.
Aula 5
Flexibilidade da Pena. Pena como negócio, com objetivos que não era do processo penal,
combate à criminalidade organizada, início na década de 80. Isso se deu também com a criação
de alternativas à pena privativa de liberdade. No plano normativo, a pena tem determinados
critérios. No momento da aplicação ou da execução da pena, cria-se novos critérios, para
remodelar a pena às suas finalidades não legais. Foi assim que surgiu a colaboração/delação
premiada, para deixar a pena como algo flexível, para atingir objetivos não previstos em lei.
Se não colabora, aí é punido. Produção de condenados inocentes. Melhor ser punido do que
provar a inocência. Virou um negócio penal. Máxima flexibilização, com a máxima renúncia dos
direitos do acusado. Qualidade deplorável de condenações, baseada em delações.
Direito penal regido pela lógica da premialidade. As consequências penais variam conforme as
pessoas aceitem ou não delatar outros. Importante analisar também a questão da tortura
como meio de coação contra o preso. Violações de prerrogativas profissionais dos advogados.
A prisão é uma tortura física, psíquica, extraordinária. A lógica da premialidade. Flexibilização
da pena desintegrou o sistema penal. Não havia tortura para o preso delatar. Negócio penal
desintegrou o sistema penal clássico. Introduziu um mecanismo que viola a ampla defesa.
Quando está em processo de colaboração, há sigilo. Dentro do discurso acusatório isso está
prefeito e estruturado. Equilíbrio de instâncias da política criminal.
60% dos crimes contra o patrimônio não chega ao conhecimento da polícia. 80% dos autores
não são identificados. Cifra oculta. Criminalidade artificial, que não tem eficiência.
Criminalidade real - crimes de máximo. Em 100 crimes, temos apenas 1 condenado. Do ponto
de vista da produtividade, é praticamente penal.
Louk Houlsman defende isso - o sistema penal está falido e é ineficiente. Não dá conta de 10%
do seu mercado em regime de monopólio. Natureza classista dessa criminalização secundária -
variáveis socioeconômicas (posição de classe do agente), natureza classista do processo penal.
O discurso do direito penal. Abstratamente o direito penal é uma coisa, mas concretamente
ele é outra. Negócio penal segundo uma lógica atuarial. Culpabilidade como reprovação, a
pena como medida da culpabilidade. Aqui estamos falando da comercialização da pena. O
sistema penal é da vontade do capital, e isso navega em sentido contrário ao direito penal
mínimo. Amplia a pena, amplia os crimes, amplia o rigor das penas. Novo discurso penal, para
produzir convencimento. Notar as fissuras do direito penal, e como ele está mudando.
Negócio penal e penologia atuarial - busca de conservação dos sistemas materiais de justiça
criminal, função de garantir e manter o sistema e as relações penais. Agora com o negócio
penal, as penas funcionam.
A pena funciona, de maneira seletiva, e pode funcionar ainda melhor. O discurso sistêmicos
não é mais aquele de que nada funciona, de que é impossível ressocializar, etc. Não precisa
mais de múltiplos profissionais, precisa-se, apenas, de estatísticos e dados. As penas
funcionam, de maneira seletiva, direcionada para grupos sociais perigosos. O direito penal
pelo que ele é, e não pelo que ele seja. Discurso progressista - sistema penal em crise,
depressão profunda, sistema desigual. Discurso populista - pena útil, é preciso punir, meios de
comunicação, políticos, receptividade popular. O discurso populista não é ideológico, mas é
tecnocrático, administrativo, de neutralização de selecionados, segundo esse discurso o
cárcere funciona para reduzir a criminalidade e reduzir a reincidência, através da neutralização
seletiva.
Governo administrativo da penalidade. Eficiência da justiça penal. Cálculo probabilístico da
criminalidade. Retórica como cálculo estatístico para selecionar grupos problemáticos - jovens,
negros, latinos, mexicanos, estrangeiros. Grupos sociais problemáticos. Inversão do paradigma
do discurso. Sofrimento penal não se relaciona mais com castigo proporcional, retribuição, etc.
Estamos falando de gerência de grupos sociais perigosos. Como gerir grupos sociais perigosos
para evitar crimes futuros. Pena não é para corrigir, não é para retribuir. Otimizar recursos
escassos, para otimizar a neutralização. Incapacitar perigosos (sem culpabilidade,
proporcionalidade, etc). Adoção de critérios estatístico. Não interessa o critério da
personalidade. Conter as pessoas, apenas. Predição da criminalidade - forma de prever,
prognóstico da criminalidade.
Discurso progressista – crise profunda do sistema penal. A pena não funciona. São intelectuais
sistêmicos, que querem fazer o sistema funcionar. Sistema produz e reduz desigualdade social.
Ociosidade programada nas unidades penitenciárias.
Discurso populista – está no parlamento, na imprensa, fala da utilidade da pena. A pena é útil.
Toma conta dos meios de comunicação, ideológico, legislativo. Tem receptividade popular. O
compromisso aqui é tecnocrático. Integração prevenção. Cárcere funciona contra a
criminalidade, reduzindo criminalidade e reincidência. Mas não usa o método da
ressocialização, mas sim da neutralização seletiva de grupos sociais. Cultura tecnocrática e
administrativa. Objetiva a eficiência da justiça penal.
Novos discursos: Direito penal do inimigo de Jakobs. Tolerância zero. Crime organizado. Polícia
operativa (não investiga fatos, mas em desvendar organizações criminosas). Política criminal
atuarial. Discurso moderno e pós moderno. Sistema de produção e sistema de punição –
relação entre fordismo e pós-fordismo. Filosofia da parcimônia no fordismo – pena útil,
razoável, contra o excesso de castigo. Depois disso veio o excesso de castigo. Democracia de
opinião. Sujeitos se elegem prometendo punir. Inflação de penalidade. Crise da democracia
representativa, e emergência da democracia de opinião – percepção dos sentimentos da
população, medo, rancor, raiva, a opinião pública se alimenta dessa resposta punitivista.
Velhas receitas para novos problemas – atalho repressivo é ilusório. Ampliação das taxas de
encarceramento não resolvem.
Aula 6
O preço do crime é a pena, é o valor de troca da mercadoria penal. A pena passa a ser
mercadoria. O mesmo acontece com o crime. É uma mercadoria extremamente valiosa. Nós
não passamos pelo estado de bem estar social, só o estado de mal estar, o estado penal, com
aumento da pena, etc. Há mercadorias que não são circuladas legalmente, como o mercado
informal, e o Estado penal adentra nesse negócio. Mercado da droga também. Aumento do
discurso de combate contra as organizações criminosas. O estado como organização jurídica
legal que possui aparato de poder. O estado possui outras funções sociais, mas continua
apelando para o sistema penal. O estado tem que ser um grande investidor na economia. O
estado como assegurador das relações de mercado. E como fica o estado partidário que não se
amolda à proteção do mercado, como o PT? Manteve o mesmo direito penal bélico, como a lei
de drogas e a lei das organizações criminosas.
Alberto Yussef foi o primeiro a negociar sua pena. Lei de organização criminosa inaugurou a
delação premiada, e isso se deu no Governo Dilma. Isso significa que o Estado permaneceu
penal e capitalista nesse período. Perdão como negócio. Redução da pena. Pena como valor de
troca da delação premiada. Delação premiada é meio de obtenção de prova (colaboração
premiada), assim como a captação de sinais, ação controlada, acesso de registros telefônicos,
interceptações. Direito penal bélico – uso da investigação criminal para combater o inimigo.
Métodos de guerra. A investigação virou uma operação de guerra. As investigações não
avançam sem o negócio penal. Prática que muda a natureza do direito penal. Todos os
princípios do direito penal vão desaparecendo, legalidade, igualdade, culpabilidade, etc. Fala-
se agora em eficiência, e o preço dela é a abolição dos princípios do direito penal. Viola-se
garantias penais. Base é as relações comerciais, e daí deriva os demais sistemas jurídicos e
políticos de controle social, disciplinando as relações de produção e circulação de mercadorias.
Sistema de comercialização e o sistema de punição. As pessoas são presas sem fatos, só por
causa da delação. Teoria jurídica da pena e da investigação. Estamos trabalhando com algumas
faces da estrutura da dogmática penal. Teoria para imputar culpas, fatos, penas e autores.
Criminologia busca explicar os fatos criminosos. Tentando ser uma ciência tão exata quanto a
biologia, no seu início. Método científico na tentativa de explicar o comportamento criminoso.
Início com Cesare Lombroso. Concepção determinismo, leitor de Darwin. Estudou as pessoas
presas, aceitando a premissa de que elas eram criminosas. Denominou alguns de criminosos
natas. Atavismo de Darwin. Criminoso é atávico, degenerado. Defeituoso. Buscou analisar
marcas de defeitos dos sujeitos, congênitos, defeituosos, genéticos. Perigosidade, não
culpabilidade. Positivismo. Capacidade criminogênica potencialmente percebida na genética.
Corrigir ou não corrigir os defeitos. Trabalha com conceitos dito científico, não metafísico,
como o direito penal o era. Livre arbítrio e determinações genéticos, debate não resolvido
ainda. Determinismo x livre arbítrio. Nossos sistema é baseado no livre arbítrio. A religião
também influencia essa questão do livre arbítrio, do pecado, e Lombroso está inserido nesse
contexto, contestando essa cultura. Ele tentou explicar o comportamento criminosos, baseado
na genética, também na psicologia, etc. Crime como defeito do sujeito. Dificuldade de
acolhimento na época. Nessa mesma época Marx lançava O Capital. A questão no positivismo
é saber porque determinadas pessoas são criminosas, dando o crime como algo existente
ontologicamente, enquanto que nas teorias críticas questiona se porque determinadas
pessoas são criminalizadas, porque determinados comportamentos são considerados crimes.
Essas questões não estão presentes no positivismo criminológico.
População carcerária está lá por não ter defesa. Lombroso não percebeu isso, não percebeu a
desigualdade social, não percebeu a violência do estado.
Qual a função social dos processos criminais. Mudar a imagem da realidade e difundem essa
imagem, isso é construtor e destrutor de realidades. Não precisa mudar a realidade, mas
mudar a imagem da realidade. Falaremos também sobre a neutralização, sobre as funções da
prevenção, etc. Baratta também fala sobre a ressocialização. Política criminal bélica, pena
como mercadoria, investigações bélicas e guerreiras, introduziu no sistema penal uma nova
política criminal, usada nos processos criminais. Habilidade de negociar. Negociar se tornou
um critério da punir ou não punir.
Ainda a questão da pena como ressocialização. A política criminal atuarial abandonou a pena
ressocializadora. Não há mais isso. Agora é só neutralização, isso é retribuição também, de
punir por si só. Prevenção especial positiva.
Política criminal realista, idealista e crítica. Realista – cárcere não ressocializar, mas deve
neutralizar e retribuir justamente. Compensação ou expiação da culpabilidade. Purificação da
culpa, do mal que causou. Mal justo contra o mal injusto. Idealista – não ressocializar, mas é
melhor do que retribuição, pensamento metafísico, luta ideal pela ressocialização, reforma.
Crítico – não ressocializar, mas precisa falar de ressocialização, não através do cárcere, mas
apesar do cárcere. O cárcere não ressocialização, mas temos que falar de ressocialização
apesar do cárcere. Não existe cárcere bom, ele perde vida, reduz a expectativa de vida, não há
cárcere melhor.
Mas temos que diferenciar cárcere melhor e pior. Essa questão ajuda nessa ressocialização
apesar do cárcere. Não deve criar obstáculo para melhoras no cárcere, para reforma. Não é
quanto pior, é melhor. Apesar do cárcere. Objetivo próximo é menos melhor cárcere. Máxima
redução do cárcere, e substitutivos do cárcere. Vamos ser contra? Não, para Baratta. Diversão
da pena, penas diversas, formas de substituição do cárcere. O objetivo remoto é sempre a
abolição do cárcere. Não podemos ficar indiferentes às dores que acontecem no cárcere. Não
devemos manipular os presos, pois eles sabem da realidade. O cárcere como serviço também,
para ajudar a ressocialização, apesar do cárcere.
A lei da organização criminosa representa uma nova política criminal, que possui efeitos
econômicos, como o desmonte da Petrobras, por causa de uma política criminal sem critérios.
Eles precisam da imprensa para manter a destruição. Maremoto, tsunami sobre a economia e
sobre a política brasileira.
A teoria crítica, do conflito, desloca o objeto de estudo do sujeito para o sistema de justiça
criminal. Criminoso é aquele que o direito indica como tal. O objeto de estudo é o processo de
criminalização. Comportamentos que são criminalizados e outros não. Sistema penal lotado de
pobres. Caráter de classe do sistema penal. Método marxista, histórico e dialético. Estrutura
social e sistema punitivo. Dominação do capitalista sobre o trabalhador. Relação política e de
poder, garantida pelo direito. Labbing ajudou nisso, pela construção social da criminalidade.
O crime não é uma qualidade do ato, mas uma qualidade atribuída ao ato pelo direito e pela
política econômica.
Aula 7
Percurso histórico – feudalismo da baixa idade média (pré capitalismo), mercantilismo da era
moderna (gênese do capitalismo), revolução industrial (desenvolvimento e consolidação do
capitalismo). Iluminismo (conquistas da burguesia capitalista), surgimento e evolução do
sistema penitenciário moderno, Taylorismo, fordismo, guerras mundiais, pós fordismo e
globalização (transição do capitalismo competitivo ao monopolista).
Governar ela Penalitá. Estrutura socciale, processi decisionali e discorsi pubblici sulla pena.
Punir os Inimigos. Criminalidade, exclusão e insegurança. Pavarini.
Carcere e Globalizzazione. Il boom penitenziario negli Stati Uniti e in Europa. Lucia Re.
Mas a manufatura precisava de mão de obra qualitativa e quantitativa. Havia escassez de mão
de obra, que impedia o avanço do mercantilismo e da acumulação do capital. Work House
surge então, como prisão com trabalho obrigatório para os vagabundos e mendigos. Influência
nos hospitais gerais da França também. Work house era casa de detenção com trabalho
obrigatório, e isso resolveu parcela da escassez de mão de obra da manufatura. O trabalho
forçado ajudou no desenvolvimento do mercado. Mão de obra era qualificada era
transformada com base na disciplina e na adequação das técnicas de trabalho. Trabalho
disciplinar e opressor, moldando os camponeses pedagogicamente. Isso normalizou a cultura
da exploração do capitalismo. O direito penal passou a ver valor à mão de obra, diminuindo as
penas corporais e capitais, mandando-os para os Work House. Reaproveitar força de trabalho
humano, para aumentar a exploração do capital. Houve uma diminuição das penas cruéis e
avanço das penas de trabalho. E isso não se deu por causa do humanismo, mas sim por causa
da estrutura econômica. A pena não seria nem curta demais e nem perpétua.
Iluminismo – contemporânea na revolução criminal. Beccaria foi influente. Abolição das penas
de morte e de tortura. Proporcionalidade. Legalidade, irretroatividade. Pena privativa de
liberdade como centro do sistema punitivo.
Modelo de Philadelfia – unidade celular contínua, completo isolamento. Seita dos quakers.
Meditação moral para fins de ressocialização.
Modelo de Auburn– unidade celular noturno, diurno silencioso, com trabalho em comum.
Sentido econômico. Não permitia meditação moral.
Era da industrialização nos Estados Unidos. Grande demanda por força de trabalho. Escassez
da mão de obra. Abandono do sistema de Filadélfia e adoção do modelo de Auburn. Oficinas
no interior da prisão, ou trabalho fora da prisão. Barateamento dos custos da produção,
reduzindo salários, e fortalecendo a economia norte americana. O cárcere se transforma em
fábrica. Principais características em Auburn: contract (oficinas com disciplina produtiva do
empresariado privado, disciplina comportamental, dentro da penitenciária); leasing
(privatização da pena, transmitida ao empresariado privado, locação temporária dos presos,
pagamento ao Estado, poder totalitário do empresariado, máximo de possibilidade lucrativa,
sem imposto, exploração do trabalho voltada para o máximo lucro possível, sem limites
humanitários, regime disciplinar duro, forma degradante de corrupção, pacto implícito entre
empresariado privado e poder judiciário, para ter penas maiores para ter mais exploração do
trabalho). Falência da penitenciária privada posteriormente por causa das denúncias de
corrupção.
Taylorismo e fordismo.
Dec. 70 – Duas frentes de discurso nos EUA. Discurso técnico – sistema correcionalista.
Discurso político midiático – segurança e ordem social. Grande crescimento da criminalidade
de rua. Grandes movimentos sociais também, com clima de grande conflito do povo com o
governo. Estado vê a necessidade de controlar esses movimentos. Conservadores – penas mais
severas, contra o desencarceramento, discurso de que reduziria a criminalidade e a rebeldia
dos movimentos populares. Surgimento de uma criminologia a serviço do Estado. Criminologia
administrativista, que defende as funções do governo. Habilidade em lidar com estatísticas.
Abandono do estudo dos processos de criminalização. Governo administrativo da
criminalidade. Política penal atuarial. Redução dos riscos de vitimização. Neutralização seletiva
dos inimigos sociais. Passagem do Estado de inclusão para exclusão do Prision-Fare.
Substituição da guerra contra a pobreza para guerra contra os pobres. Risco de ocorrência de
crimes. Cálculo estatísticos sobre classificação e identificação dos inimigos sociais.
Neutralização seletiva dos riscos. Linha demarcatória da cidadania – os outros que não se
adentram no sistema de produção e os rebeldes de determinados movimentos, minorias
étnicas. Medidas de segurança dos jovens. Criminalização com base na periculosidade, e não
na culpabilidade. Políticas judiciárias de severidade penal. Políticas de controle social de
repressão policial penal. Retóricas Político-eleitorais e midiáticas. Técnicas de prevenção e
tecnologias de controle orientadas à vigilância e limitação de acesso. Processo de reforma de
sistema judicial do indeterminate sentencing. Estratégias de controle social conduzidas por
repressão policial: trinômio tolerância zero, war on crime, war on drugs. Sistema judicial de
severidade extrema: tree strikes and you’re out (baseball).
Trinômio tolerância zero, war on crimes e war on drugs. Ronald Reagan. Bill Clinton. Bush.
Explosão da população carcerária. Aumento do controle policial sobre as drogas. Aumento das
prisões por práticas de crimes relacionadas à drogas, aumento da severidade. War on crime –
Nova York na década de 90. Prefeito Rudolph Giuliani. Chefe de Polícia William Bratton.
Política de tolerância Zero. Aperfeiçoamento da política de repressão. Raízes na teoria das
janelas quebradas, degradação urbana = fator criminógeno. Não foi comprovada
cientificamente. Máximo controle social e repressão policial. Aumento do número de prisões
por pequenos crimes. Realidade seletiva da violência policial racial. Redução da criminalidade
não era consequência do punitivismo e da repressão. Denúncias de ação policial repressiva.
Afroamericanos e latinos selecionados.
Para que a política criminal atuarial se desenvolva e se implante, é preciso uma difusão de
ideias, como o medo social da insegurança no povo, no psiquismo social, da ameaça da
criminalidade. Difusão da ideia de que o criminoso é inimigo que precisa ser neutralizado. A
segurança pública precisa ser centro dos debates, para difusão do medo. O Pós fordismo
precisa desse pavor social. Para legitimar a severidade penal e o discurso punitivismo. Pânico
de insegurança. Demanda por maior proteção e segurança. Controle social e opinião pública.
Discurso para tutela preventiva de risco. Políticas da nova prevenção. Transposião da
segurança pública para o privado tmb, como medidas preventivas. Para garantir a ordem
pública. Suspeitos de práticas de crimes. Forma de limitação de acesso. Dispositivos ou
artifícios anti mendigos, anti pobreza. Implantação desses mecanismos, para proibir mendigos.
Realidade que tem que sair dali, não que tenha que ser resolvida socialmente. Reconfiguração
da arquitetura urbana. Política da nova prevenção, cultura autuarial, novas metrópoles
punitivas. Reconfiguração do espaço sócia. Segregações sociais e territoriais. Linha
demarcatória entre incluídos e excluídos. Condomínio e favelas, pobreza e riqueza em
convívio. Facilita a prevenção. Próspero mercado da segurança privada – redução da
oportunidade de crimes, prevenção situacional de crimes. Leve aumento da sensação de
segurança. Mudança de endereço da criminalidade. Aumento de câmeras eletrônicas, amenta
de cercas, vigilância privada, câmeras em locais públicos e privados, dificuldade de acesso à
lugares públicos e privados (shoppings). Conforme as características pessoais e sociais. Grupos
organizados de vigilância constante e difusa, ou grupos privados de auto defesa. Vizinhos de
olho, vizinhos solidários, etc. Formas de proteção coletiva. Espécie de prevenção é suficiente
apenas para prevenir vandalismo urbano. Mas estimula comportamentos policialescos e
repressivos. Política criminal penetra toda parte, inclusive no âmbito privado. Ideologia norte-
americana dissemina a cultura de máximo policiamento e máxima repressão. Prática
repressiva da tolerância zero. Foi disseminando na Europa, a diferentes países. Nova cultura de
controle.
Uma função real, oculta, de manutenção e reprodução das relações antagônicas de poder e
pressão política das classes dominantes e de exploração econômica das classes dominadas, no
contexto do sistema capitalista de produção de mercadorias, fundado na separação
trabalhador/meios de produção, ou seja, na contradição entre capital/trabalho assalariado.
História do fracasso da prisão. Não erra no seu objetivo. Em realidade, reproduz criminalidade.
Negação do mito do direito penal igualitário. Criminalização nas três vertentes – primária,
secundária e terciária. Tipos penais selecionados a partir de interesses protegidos das classes
dominantes, e de práticas das classes marginalizadas. Ausência de tipos sobre condutas das
classes dominantes. Valor simbólico, sem repressão. Retirada de imputabilidade,
culpabilidade, e uso de metarregras, para sentenciar o inimigo. Execução penal rígida –
reprodução das desigualdades das lutas sociais, estigmatizados sociais. Recrutamento de
indivíduos marginalizados. Exército industrial de reserva.
Fim.