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Pós-Graduação

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Módulo 2 – Teorias Penais e Teorias Criminológicas.

Aula 1

Falaremos sobre a pena, razão de ser do Direito Penal. Só há teoria do crime porque a
consequência jurídica do crime é a sanção grave. A pena, portanto, é fundamental para o
direito penal.

Discursos sobre a pena. Duas formações teóricas sobre a pena. Discurso oficial, da teoria
jurídica da pena, centrado no direito penal. Discurso crítico, que vem da criminologia.

Os penalistas ficam restritos ao discurso oficial, sistêmico da pena. Teoria polifuncional da


pena – retribuição e prevenção. Sem abordagem crítica.

É através da ideologia que tomamos consciência da luta de classes. Marx. O modo de produção
da sociedade determina a vida social, política e intelectual. O direito penal também precisa ser
visto nessa perspectiva social, do modo de produção capitalista.

Discurso oficial – retribuição, prevenção especial e prevenção geral.

Pena como retribuição, devolver o mal causado. Pagar o crime com a liberdade, com o corpo,
com a vida. Mal injusto retribuído com um mal justo. Como crítica, há inúmeras questões que
mostra a pena como um mal não justo. Exemplo, a questão da droga: criminalizou-se álcool,
criminalizou-se café, chás, seriam estes mal injustos que merecem mal justo? Nitidamente que
não. Trata-se de uma forma metafísica de ver a pena, um tanto quanto religioso. Também não
é democrática. Alguns teóricos já criticaram esse fundamento, como Jakobs, Roxin. Pena como
expiação do mal causado, como compensação do mal. Purificação através da pena. Ortopedia
moral. Direito penal como vingança. No Estado Democrático de Direito não está ligado ao
poder divino, mas ao poder do povo, e nesse cenário a pena tem sentido religioso. O direito
penal tem como função e tarefa proteger bens jurídicos. Se a punição não está ligada ao bem
jurídico, ela é inconstitucional. Essa função está sustentada na religião, muito próxima do livre
arbítrio., da liberdade de vontade. A psicologia humana é regida pelo talião, retribuição de um
mal. Os seres que sobrevivem são aqueles que reagem a uma ação. Trata-se de uma troca de
violências. É um impulso do Id do inconsciente. Há um sentido cultural de que o ser humano é
regido pelo talião, pela reação do mal recebido. Temos também uma influência histórica da
Igreja Católica. As punições eclesiásticas conduziram a história para a retribuição do mal. Os
processos criminais da igreja estavam recheados de justiça divina, de bem e mal, de justiça de
Deus, em nome de Deus. A justiça de Deus é retributiva: pune-se o mal, premia-se o bem. Se
Deus é retributivo, porque o homem não vai ser? Isso é incorporado no imaginário social. Na
filosofia, temos Kant, que é retributivista também. A causalidade da punição é moral, todo que
mata deve morrer, ele era moralista. “Haja de tal forma que a máxima de tua vontade possa
valer a qualquer tempo como princípio de uma legislação universal, comum”. Hegel também, a
pena é a reafirmação do direito e a negação do crime. Crime é a violação da expectativa
normativa.
O poder de agir de outro modo é sustentado por uma liberdade de vontade, livre arbítrio que
não existe. Banido da sociologia, psicologia, etc. Eles trabalham com determinações. A
liberdade é um sentimento pessoal, e não um poder de agir autônomo. O direito penal tem
como pressuposto da culpabilidade a liberdade de agir, que é um dado ontológico
indemonstrável. Estamos mais próximo do determinismo do que do livre arbítrio.

Art. 59 do CP – Pena retributiva, reprovação do crime. Pena como castigo. Reprovação e


prevenção do crime. Teoria multifuncional, polifuncional. Há um discurso sistêmico para
legitimar a retribuição da pena. Pena e culpabilidade estão em relação, mas a premissa da
liberdade é indemonstrável. Estamos punindo pessoas sem premissa demonstrável, com base
em um mito.

Roxin trabalha com a ideia da prevenção da pena. Na culpabilidade ele fala em


responsabilidade, segundo as prevenções da pena, para proteção do bem jurídico.

A punibilidade e a culpabilidade devem ser vistas como limitação da pena. A pena danifica
permanentemente o ser humano para a vida social. A culpabilidade não pode ser fundamento
da pena. Tem que ser limitativa do poder punitivo do Estado. Não se pode punir tanto por
violar a culpabilidade – isso é sua forma limitativa. O limite da pena é a culpabilidade.

Trata-se de uma crítica sistêmica à ideia de pena como retribuição.

Kant – a distinção fenomenológica entre a coisa em si e a coisa conforme nossa percepção.


Limitação dos nossos sentidos para a compreensão do mundo. Mas é o único meio de
apreensão. Heiddeger se filiou ao nazismo.

A culpabilidade é medida da pena, servindo como limitação do poder punitivo. A culpabilidade,


ao ser fundamento da pena, a rege, podendo limitá-la.

Na sociedade, o poder é imenso. O poder em Marx e em Foucault regula as relações de


produção, como instrumento de dominação na luta de classes. O poder seria econômico. O
poder como relação de força. Como ato, como combate, como guerra. Assim o direito é uma
violência dominante e brutal. A culpabilidade é uma tentativa de segurar a rédea desse poder
punitivo estatal e bélico contra o cidadão.

Análise crítica: Pena como retribuição equivalente do crime. Pachukanis. A pena como
retribuição equivalente corresponde aos valores e fundamentos materiais, políticos e
ideológicos da lógica capitalista. Nessa sociedade, a determinação do valor na economia é
determinada pelo tempo. O tempo é o critério para determinação do valor da mercadoria.
Tudo no capitalismo é mercadoria. Mercadoria como valor de uso e valor de troca. Preço de
mercado. Tempo de trabalho social necessário para a produção é o critério de determinação
do valor da mercadoria. O valor de troca da mercadoria é o preço, o dinheiro, e o critério de
medição de valor é o tempo.

A pena, como retribuição do mal, é medida no tempo. Há uma correlação entre tempo e valor.
O tempo determina o valor. O valor é uma medida determinada pelo tempo. Tempo de
privação de liberdade, na lógica do capital. Mercantilização do ser e da liberdade. O tempo
para medir a pena criminal. Pena e ser como mercadoria. Pena privativa de liberdade é o
poder punitivo específico do modo de produção capitalista. É a pena que sobrevive nessa
organização social.
Pachukanis – objetivo real da pena = manutenção dos privilégios da classe dominante,
instrumento de poder contra as classes oprimidas. Garantia da dominação de classe. Baratta
também fala isso, que a pena garante a desigualdade social. Os objetivos ideológicos e
aparentes da pena é a segurança da sociedade, isso é uma alegoria jurídica.

O princípio fundamental do direito é a igualdade. E a igualdade é a equivalência, a e igualdade


da retribuição. A pena é o valor de troca do crime, é a garantia dessa equivalência. É o
princípio da justiça burguesa, equivalência, sinalagmática. Dano pago com outro dano. A
igualdade formal é o cerne da justiça burguesa.

Tempo de trabalho necessário e tempo de trabalho excedente (sem contribuição


remuneratória, produzindo mais valor). Toda luta sindical é para diminuir esse tempo de
trabalho excedente. O salário não corresponde ao valor do trabalho. O salário serve para que o
trabalhador se reproduza para ser explorado novamente.

Preço e mercadoria. Salário e trabalho. Pena e crime. Tudo é regido pela lógica da igualdade,
da equivalência. O tempo é um bem jurídico geral.

Mas o direito penal é desigual por natureza, em especial por causa dos mecanismos seletivos
de criminalização, primária e secundária.

Primária = criminalização legal, pela lei. Porque é seletiva? Protege bens jurídicos das elites de
poder econômico e político. Ex. propriedade. Formas ilegítimas de sobrevivência, mercado
informal, droga. Criminologia não crítica: Merton, buscam apenas fazer reformas sociais, mas
mantem as relações de produção. Não mexe nisso. Tudo decorre da relação capital e trabalho
assalariado.

Seletividade na criminalização secundária = atuação do sistema de justiça criminal. Sistema


penal, constituído pelo julgamento. Polícia, justiça e prisão. Polícia está na linha de frente. A
polícia surge na acumulação primitiva do capital, com a expulsão dos camponeses, falência dos
senhores feudais, mercantilismo e capitalismo industrial, manufatura, vilas. A disciplina dos
trabalhadores assalariados começa com a prisão, em castelos. A polícia serve para isso. Aqui
surge o direito penal.

Determinações estruturais e institucionais da criminalidade, vagabundos, famintos, pobres


necessários e forçados, ocasionadas pelo direito penal capitalista. Direito como dominação
brutal. A polícia não serve para proteger a parcela marginalizada da sociedade. A polícia é
contra o povo.

Justiça – Estado formaliza acusações contra fatos selecionados.

Pena – no fim das contas vai ser convertida em privativa de liberdade (restritiva de direito,
multa, etc). Os regimes abertos legitimam o regime fechado.

Trazer Marx para o direito penal. Radical Criminology. Havia uma disputa entre criminologia
crítica e criminologia radical. Acoplada ao marxismo é criminologia radical. Que trabalha com
as raízes.

Quem são selecionados? Os marginalizados sociais, inúteis para o mercado de trabalho, para a
ampliação do capital. Não são capital humano. Subproletários são os desocupados, ou
trabalhadores não qualificados, não ocupados. São pessoas que apresentam indicadores
sociais negativos.
Trabalharemos com Kurtz – indicadores negativos não determinam o crime, mas criam o
estereótipo que orientam o sistema o justiça criminal.

Aula 2

Continuando sobre as teorias da pena. Estamos diante do plano do discurso. O Estado é o


proclamador do discurso oficial. Há uma estrutura de poder por trás do Estado. E o que seria a
verdade? Material, psíquica, fenomenológica? Temos percepções que analisam o real. A
verdade é um processo. Mas a prova é interpretada. A própria declaração da testemunha é
uma interpretação, consciente e inconsciente. O que seria a verdade processual, então? A que
o juiz decide.

O Estado tem o poder de dizer a verdade, portanto. Mas temos que lutar contra a verdade
Estatal. Todos os discursos são proclamados para convencer.

Todo processo está partidarizado, e Foucault dizia isso. Cada parte faz parte da batalha do
poder, da lógica da guerra. O Discurso nos constitui. Ele atravessa nossa subjetividade.

Na aula falamos sobre o discurso da retribuição, da equivalência, da justiça divina retribuitiva e


desmedida. Deus teria uma vingança infinita. O discurso religioso é outro discurso, e ele
também constitui a pessoa. O poder constitutivo do discurso, e isso é um instrumento do
poder, do Estado, da ciência. A ordem social é produto do discurso, construído historicamente.
O discurso também produz a consciência e a inconsciência individual.

Discurso sobre pena. Discurso de prevenção.

Pena como retribuição é voltada para o passado. Castigar, retribuir um fato já acontecido. Uma
função metafísica de voltar ao passado. Inflição e aplicação de um sofrimento. É punido
porque pecou. Sentido expiatório. Tenta reconstruir o passado através da memória, e isso é
extremamente problemático. Pune-se por causa de uma memória.

A pena tem que ter outra função. Punir para que não peque no futuro. Pena utilitarista, como
o capitalismo. Economia do tempo, aumento de produtividade, isso é capitalismo, isso é
utilitarismo, e essa função da pena alcança isso. Ela é voltada para o futuro. Utilitarismo da
pena como prevenção. Criminologia determinista, trabalha com a periculosidade, as pessoas
têm um potencial de perigo, precisando ser reformadas, medidas de segurança. A ideologia
utilitária surge daí, aplica-se a pena para que o sujeito não pratique novos crimes.

No bojo da sociedade utilitarista e capitalista surge esse discurso prevencionista.

Prevenção especial – sobre o condenado.

a) Positiva – correção, ressocialização.


b) Negativa – neutralização.

Prevenção geral – incide sobre a comunidade.

a) Negativa – intimidação, desestimulo.


b) Positiva – preservação das expectativas normativas lesionadas, alteradas, quebradas
pelo crime.

Ambas são utilitaristas, prevencionistas, voltadas para o futuro, degenerar, ressocializar o


criminoso. Psicologia, assistência social, psiquiátricos, sociólogos – ortopedistas do indivíduo,
técnicos da prevenção. As prisões se enchem de especialistas. História de 150 anos buscando
prevenir e ressocializar. História do fracasso. O projeto é proposto de maneira reiterada. A
ideia é de que o criminoso está doente. Terapêutica penal.

O instituto carcerário não é educacional. É punitivo. Os formadores de opinião mantem o


discurso da ressocialização. A sociedade capitalista não existe sem prisão. Porque a pena não
funciona? Quanto maior a pena, maior é a reincidência. O discurso não se concretizou, mas a
função real da prisão funciona, que é controlar classes no modo de produção capitalista. A luta
de classes é capaz de dominar os institutos penais.

Porque não funciona? Estigmatização, rompimento dos laços, subcultura da prisão (violência
interna, violência da segurança, violência da saúde e malandragem). Eles constroem uma
autoimagem de criminosos e violentos (labeaing approach trabalha com isso), porque todos os
consideram criminosos (mídia, sociedade, órgãos de justiça). Aprende a viver na prisão. Não
conseguem trabalho depois da prisão. Uma mancha que carrega por toda vida.

Desculturação e aculturação. A desigualdade é criada pelo modo de produção e pelo direito. O


direito penal garante a desigualdade.

Objetivos criminológicos e objetivos reais da pena.

Martin – Nothing Works. A farsa é do discurso oficial.

Gestão diferencial da criminalidade – excluídos e inúteis do mercado de trabalho são


criminalizados. A prisão se aplica aos marginalizados sociais. Os negros são os mais oprimidos
da sociedade. O Estado é racista. A guerra de raças e a guerra de classes. Opressão dos
explorados.

A velha criminologia é sistêmica e conservadora. Precisa corrigir as pessoas.

Prevenção especial negativa também é inabilitação, neutralização do criminoso. Biopolítica –


fazer viver os donos do capital e deixar morrer os inúteis. Diferente do fazer morrer os inúteis
e deixar viver os donos do poder. Confinamento da pessoa na prisão.

Pena e estrutura social. Base econômica e estruturas políticas e jurídicas.

Criminologia atuarial – Pavarini. Novo discurso da prevenção especial negativa – grupos sociais
perigosos neutralizados, e isso funciona. Nova penologia. Neutralizados grupos sociais
considerados perigosos pelo modo de produção. A eficiência não é só punir, retribuir, intimidar
ou reabilitar. O objetivo é o controle dos grupos de risco. Neutralização e incapacitação
seletiva. São os incorrigíveis habituais que devem sofrer os efeitos das penas. Identificar,
classificar e gerir os grupos de risco, através de medidas adaptadas ao grupo de risco. Negros,
latinos, árabes, etc. Controle das classes perigosos – novo discurso do capitilismo. Três crimes
e está fora. Regra do baseball. Lógica atuarial – prognóstico de risco da reincidência. Baixo
custo. São perigosos e precisam ser neutralizados. Método para identificar para os criminosos
habituais – usa 7 fatores para identifica-los. Acima de 4 é considerado perigoso.

Quais fatores: reincidência específica, últimos 2 anos, 1 ano na prisão; condenado antes dos 16
anos; passou pela instituição dos menores infratores; uso de drogas; uso de drogas como
adolescente; 2 anos, 1 ano sem emprego.

Probation ou parole (suspensão da pena ou liberdade condicional, respectivamente). Para os


crimes sexuais é maior. Conforme os fatores de risco, eles serão denunciados ou não. O juiz
julgará na sentença os mesmos fatores. É uma linha de montagem. Predadores sexuais –
cadastro. Tabela de risco de reincidência. É transvestido de estatística e ciência. Diferença
entre o diagnóstico clínico e o diagnóstico fatorial estatístico. Essa política não usa diagnóstico
clínico, mas sim prognóstico atuarial, com todas as informações que se tem do sujeito. O
diagnóstico atuarial é mais preciso, porque é multidisciplinar. A política atuarial é superior aos
métodos anteriores. Os fatores de risco determinam a psicopatia. Previsão psicológica do risco.
Arbítrio estatístico. Revalorizou a polícia, e mecanizou o julgamento. A polícia decide quem
prender.

Justiça negocial – muito forte atualmente, aceita condições para ser punido. O direito penal
virou negócio. Ignora a culpabilidade. Prova indiciária. Faz acordo com os perigosos sociais. Os
menos perigosos não apresenta denúncia, dão outras formas de controle. Prisão domiciliar,
monitoramento eletrônico. Ministério Público autônomo, que faz qualquer acordo. 90% dos
processos americanos terminam assim.

Sistema compass – tem outros fatores para prever o risco de reincidência. Se estivermos uma
capacidade de gestão eficiente, não precisa de fundamentos jurídicos e criminológicos para
isso.

Crimes violentos – são os predadores. Programa de gestão da criminalidade. Governo


administrativo da criminalidade. Tudo é gestão da segurança.

Viola legalidade, tipicidade, proporcionalidade, humanidade, culpabilidade, lesividade.

Não se fala em imputação, em responsabilidade penal, não se fala mais em culpabilidade, em


bem jurídico. O vocabulário é como gerir os grupos sociais.

Distribuição diferenciada dos grupos sociais, para incapacitar os mais perigosos. Não há mais
juízo de culpabilidade, e sim periculosidade. Mesma lógica da medida de segurança. Não é o
perigo do fato, mas sim da pessoa. Busca analisar desde o começo para evitar a carreira
criminosa. A sentença não é determinada. Sentença é indeterminável. Medida de segurança
para imputáveis. Presunção legal de periculosidade, basta analisar os fatores. O erro desse
sistema é aleatório – pega 3 pessoas e sorteia 1 criminoso.

Anibal bruno – falou sobre periculosidade.

Ele está selecionado pelo sistema e não tem escapatória.

Pavarini – punir os criminosos.

Difere da lógica silogista – norma, fato, subsunção do fato à norma. Lógica formal.

Aula 3

Até o momento vimos a função retribuitiva, baseada nos próprios fundamentos da sociedade
capitalista, a função da prevenção especial positiva, baseada na função da reeducação e cura,
a função real crítica, de sustentação da sociedade capitalista, e a função especial negativa, de
neutralização e incapacitação de inimigos sociais.

Problemas na justiça criminal negocial, que está aumentando.

Na aula de hoje, falaremos sobre a função prevenção geral positiva (reafirmação do direito,
utilitarismo, manutenção do sistema direito) e da prevenção geral negativa (amedrontamento
dos inimigos sociais selecionáveis, aos sujeitos considerados de alta periculosidade).
Prevenção geral começa como negativa – intimidação. A partir de Fuerbach. Reforma da
legislação penal alemã. Mas veio antes também. Trata-se de uma análise do poder punitivo em
geral, não só da pena privativa de liberdade. Aparece também em Foucault, Vigiar e Punir.
Controle social através do terror. Na idade média havia uma estrutura hierarquicamente
fundamentada pela religião. No capitalismo o que fundamenta sua estrutura de classes é o
direito. São relações econômicas de dominação das classes sociais. São relações de circulação
e reprodução de mercadorias. O crime era visto como um desafio, uma rebeldia à nobreza e à
religião. O processo é inquisitório, uma sequência de interrogatórios para a confissão. Será que
é diferente da atualidade? Na lava jato aconteceu isso, com confissão e delação, ameaça da
prisão preventiva (tortura). A prisão é tortura.

O processo penal é regido pelo princípio da revelação (idade média). Atualmente é o princípio
da demonstração da verdade da prova, segundo critérios científicos. Mas hoje Deus também
faz parte do processo penal. O processo penal é um ritual político de caráter expiatório.
Sofrimento para purificar. A reprodução do poder pelo terror. Dominação e submissão.

A pena como prevenção geral negativa é desestímulo, também, através do terror que se
propagandeia. Teoria da coação psicológica. Foucault também explica isso. Economia dos
interesses, psicologia coletiva. Se o crime é uma vantagem, a pena tem que ser uma
desvantagem, maior do que o crime. Isso provocaria a renúncia ao crime. Aqui tem conceitos
psicológicos. Princípio da vantagem suficiente. A pena tem que ser eficaz, como desvantagem
temida.

Beccaria, não é o rigor da pena que desestimula a prática do crime, mas a certeza ou a alta
probabilidade da punição. Quanto mais a pena se amplia, mais se procura desestimular. Mas
isso não acontece na realidade, pois o que desistimula é a condenação, apenas. O tempo de
permanência no sistema carcerário só provoca mais violências, mais ele é desqualificado para
a vida social.

Talvez a pena poderia intimidar os crimes de reflexão (que são os crimes de colarinho branco,
mas nesses crimes o direito penal não se aplica). Ele não intimida os delitos de impulso, onde
os instintos estão presentes. A primeira reação do direito penal é aumentar a pena. Essa lógica
não resolve.

Essa função ganha conotação política. Os governantes se elegem com esses discursos, de
aumentar a pena para intimidar. Os meios de comunicação também, que acreditam que punir
e aumentar a pena resolve o problema da criminalidade.

Prevenção geral positiva – relembrar os bens jurídicos protegidos, mostrar a força do direito,
mostrar a força da segurança penal e dos bens jurídicos. Administrativização do direito penal,
para garantir interesses do governo. Welzel já falava isso. Roxin também tem esse
entendimento penal. Jakobs também. Estabilização e preservação das expectativas
normativas. Fundador do direito penal do inimigo. O crime desestabilizaria as expectativas, e
a pena teria essa função de reestabilizar. Tem uma ideia de integração social também.

Alessandro Baratta critica – prevenção e integração – uma nova fundamentação da pena na


teoria sistêmica. 1984. Niklas Luhmann – maior sociólogo do sex. XX, era conservador. Baseado
na teoria sistêmica da ação, de Max Weber. Luhmann apresenta o direito como um
instrumento de estabilização do sistema social, porque tudo se organiza segundo as regras
jurídicas. As relações são estabilizadas por causa do direito. Regulariza as relações de poder, as
relações de produção e circulação de mercadorias, regula as relações sociais, nossas ações.
Direito como instrumento de orientação da ação. Direito que estabiliza expectativas e relações
sociais. Mas ele não entende que isso se faz segundo os interesses e as necessidades do
capital. Sociedade elementares se baseiam na confiança recíproca. Nas sociedades complexas
as relações se baseiam na confiança das instituições. Saiu do indivíduo e foi para o sistema. O
valor maior agora é a estabilidade do sistema. O direito é um subsistema. O indivíduo é um
subsistema psicofísico.

Fazer viver os portadores do capital. Foucault. Poder e disciplina.

Teoria sistêmica. Jakobs pega essa ideia do Luhman, e fala que o crime é disfuncional, não
porque viola o bem jurídico, mas porque afeta o sistema, e por isso precisa da pena, para
devolver a confiança da norma. Reconhece a norma e dá validade para a norma. A prevenção
geral positiva é a norma válida. Acaba com os efeitos negativos da pena, pois seria integrativa
(integração social). Miragem jurídica. Função de integração. Crime é uma ameaça à
estabilidade social, porque reduz a confiança no direito. A pena é simbólica. Pena é uma
reação contra fática. Restabelece a fidelidade ao ordenamento jurídico. O decisivo não é a
lesão ao bem jurídico, mas a infidelidade jurídica. Insignificância e lesividade não importam.
Criminalização da vontade do poder. Culpabilidade não tem sentido limitador. O indivíduo não
é o centro da sociedade, mas sim o direito. O indivíduo se tornou um sistema psicofísico.

Talcon Parssons – introdução do livro do Max Weber. Luhman estudou com Parssons. Fundou
a teoria sistêmica.

Técnico jurídico – responsabilidade e culpabilidade individual; isso não é demonstrável


empiricamente; a liberdade de vontade é uma ficção necessária. Psicologia não trabalha com
isso mais. Reprovação pela atitude interior. Crime como um fato simbólico – infidelidade do
direito. Pena como inibição dos demais. Punição pela violação do tabu. Renúncia a impulsos
semelhantes existentes em outras pessoas. A pena é aplicada segundo um critério
tecnocrático, por causa de sua função sistêmica.

Político criminal. Rompeu com teoria neoliberal individualista do direito penal. Crime como
ataque a bens jurídicos individuais. Bem jurídico como interesses subjetivos individuais das
pessoas. Direito penal para proteger bens transindividuais. Teoria sistêmica é funcionalista –
ocorre um abandono da tradição do bem jurídico. Busca proteger o estado social. Ampliação
do direito penal para alcançar complexos funcionais. O que são? Economia, ecologia, sistema
financeiro, sistema tributário, interesses do capital. Direito penal para proteger funções do
Estado. Principal função de controle social. Deslocamento do bem jurídico para funções
(sistema capitalista). Administrativização do direito penal. Integração entre o direito e a
atividade administrativa do estado. Direito penal passa a ser prima ratio. Criminalizar é a
resposta para todas as medidas sociais. O direito penal amplia os problemas sociais. Não
protege o bem jurídico – vale a confirmação da validade da norma. A política criminal busca
manter o modelo da ordenação social. Crime é negação da norma, e a pena é uma contradição
a essa negação às custas do autor.

Ideológica – teoria funcionalista de Durkheim também. Teve uma teoria sistêmica também.
Órgãos que realizam funções. Função é a relação da parte com o todo. Estado social não tem
recurso para manter o sistema penal. A reinserção é uma ideia que nunca teve eficácia. A
disciplina do capitalismo, formação da mão de obra, controlada pelo sistema penal.
Instrumento de disciplina dos setores marginalizados.
Ciência social e técnica jurídica. Alessandro Baratta. O direito é uma técnica de controle social.
Tem que ser trabalhada pelo jurista como se fosse uma ciência social. Tem que ter as
premissas das relações de poder.

Modelo tecnocrático – sistêmico, funcionalista, direito como estabilização do sistema social. A


dogmática entraria aqui também. Conceitos que nos permite trabalhar com a massa complexa
das normas jurídicas. Abordagem penal punitivista, tomando conta da ideologia política.
Dogmática como função de manutenção da realidade social. Conceitos estruturados que
conservam a realidade e as desigualdades. Necessidade da repressão penal, segundo esse
discurso.

Modelo crítico – direito penal como instrumento de luta de classes. Paschukanis. Pena e
estrutura social. Punição tem relação com a estrutura do modo de produção. A medida do
tempo como critério de determinação do valor. Problemas externos e internos da concepção
sistêmica. Direito penal como estabilização dos sistemas sociais complexos, direito como
subsistema. A reação penal não acontece na raiz do conflito (capital), mas na manifestação do
conflito (lutas sociais). A criminalidade é a manifestação social do conflito capitalista. A teoria
exclui os efeitos reais da pena. A pena é uma ruptura com certas relações sociais.
Funcionamento seletivo do sistema penal. O direito penal é seletivo e estigmatizante. A prisão
provisória possui os mesmos efeitos da pena. Prisão preventiva é prisão, punição. O crime de
ação pública demonstra que o Estado é que cria o problema social. O Estado impede a
interlocução entre autor e vítima. A ilusão da ressocialização, é um projeto impossível.
Aproximação entre autor e vítima.

Modelos contraditórios do saber social – modelo tecnocrático (direito penal como centro do
sistema social, resposta penal para problemas sociais, cultura positivista, reproduz material e
ideologicamente a sociedade, alienação da subjetividade do homem, submerso no sistema,
ação penal é suporte psicofísico de ações políticas, reprodução do sistema social, sujeito como
bode expiatório e objeto do sistema penal, cifra oculta, criminalidade real e a criminalidade
aparente, filtros seletivos do sistema, os escolhidos pelo sistema são bode expiatório para
controle social) e modelo crítico (garantismo penal, direitos humanos do acusado, não ter um
modelo de repressão, legalidade, culpabilidade, sistema de garantias, limitação do poder
punitivo do Estado, direito penal não como produção de sofrimentos, limitações formais do
sistema penal, restrição do poder destrutivo do Estado penal, projetos alternativos, sujeitos
das classes sociais inferiores,). Baratta e Pavarini – projeto cidade segura. Sistema de
dominação brutal da periferia, para manutenção das elites.

Aula 4

Pavarini – Punir os inimigos. Melhores ideias de Pavarini.

Sistema de exploração do trabalho carcerária. Disciplina e exclusão dos não proprietários.


Escravidão capitalista. Consciência de classe do proletário. Se entende como sujeito histórico.
Pena como prevenção, como medicina. Descarcerização e estado de bem-estar social.
Neutralização de grupos sociais perigosos. Redescoberta da função da pena. Contra a
criminalidade, seleção e neutralização de pessoas ou de grupos sociais que o estado excluiu.
Justiça penal preocupada com a racionalidade sistêmica. A diferenciação da pena conforme o
nível de periculosidade. O cárcere é a função estatal mais perversa de guerra. O novo discurso
sobre o crime, não interessa mais o saber criminológico. O sistema funciona através de
racionalizações operativas. Operatividade do sistema. Criminologia administrativa, estatística,
contábil. O objetivo é gerenciar a criminalidade. Crime e desvio é um risco calculável e
efrentável. Criminologia da vida cotidiana. Crime não é mais patologia. O crime é uma
atividade comum, uma escolha habitual. Se a ocasião faz o ladrão, então vamos reduzir os
riscos. A tarefa não é mais do estado, mas também da sociedade. Defesa e proteção do crime.
Não interessa mais a causa do crime, só os riscos. Neutralização seletiva de inimigos.

Terrorista – ataca o estado capitalista. Mafiosos. Pedófilos. Delinquentes habituais. O outro. A


guerra contra o inimigo interno. Não interessa vencer. Conseguir uma vantagem tática.
Militarização dos conflitos sociais. Lógica bélica. Territórios são importantes. Ocupação policial.
O estado em uma guerra contra a população. Guerra contra as drogas. Punir mais. Defesa
militar contra os excluídos. Extinção e eliminação dos descartáveis. Cultura anoréxica, de
emagrecimento. Na economia globalizada, não há trabalho e riqueza para todos. Na ciranda
globalizada, mais de 10 milhões de presos. Wellfare state para o Prision state. A ideologia e a
práxis do controle social se encontra nos países hegemônicos. Modos de compreensão da
ordem social. Pena justa – retribuição. O espaço da execução penal é um espaço sem direito,
logo a pena não é justa. Pena útil – prevenção especial positiva, correção.

Dec. 50, finalismo do direito penal, positivismo da periculosidade. Justiça criminal como
agência de controle. Paradigma do defeito, do homem criminoso como defeituoso.
Periculosidade. Responsável pela prevenção especial positiva, pena medicinal, para redução da
criminosidade. Modelo Taylorista de verdade (métodos e felicidade do trabalhador). Massas
disciplinadas e trabalhadoras.

Dec. 80, outros métodos de controle social, como a liberdade condicional, o regime aberto. No
brasil nunca temos o bem estar social. E isso é importante para falar sobre a menor
elegibilidade (prisão tem que ser pior do que a sociedade). Eficácia da prisão pela menor
elegibilidade, tem que ser pior na prisão do que nos piores trabalhadores. Fim da prisão mais
distante, diante da era de ouro do encarceramento.

O direito penal do risco. Há comportamentos neutros e lícitos que são penalizados. Crimes de
perigo abstrato. Os autores não são perigosos, e mesmo assim são capturados. A falta de
produtividade do direito penal, pois os autores dos crimes não são criminosos. O que seria da
empresa dos cadeados, se não fosse os ladrões. Crime de gestão temerária, se for sucesso é
herói, se for errado é crime. Sociedade do Risco, direito penal ambiental, direito contra o
sistema econômico-financeiro.

Linguagem da guerra – incapacitação seletiva dos perigosos. Sistema penal é muito produtivo.
Marx fala sobre a produtividade de cada indústria. O que seria dos cadeados se não fossem os
ladrões. Século de penalidade, Sec. XX. Produção de condenados e encarcerados. Qual a
quantidade da pena legal ou de censura social para manter a punição? Deflação penal,
redução do encarceramento, até a déc. de 50, criminalização primária severa e criminalização
secundária mais branda. Itália – Lombroso, Ferri, Garfallo, Pavarini, Baratta. Mas houve uma
tendência de reencarceramento, no final do sex. XX, com aumento de penas alternativas
também. A percepção da penalidade como questão política. O direito penal como sustentáculo
da violência e da desigualdade. Terrorismo político – brigadas vermelhas, luta pela repressão.
O sentimento de insegurança se supera com a participação democrática.

Penalogia atuarial. Sujeitos débeis, sem garantias, jovens e imigrantes, tóxico dependentes.
Crise da ressocialização. Direito penal mínimo – nos livros, nos códigos, mas é máximo nos
fatos, na criminalização secundário. Crimes predatórios, contra a propriedade. Diferença entre
os livros e os fatos. Como reduzir o direito penal? Como aboli-lo? Isso não vai vir do príncipe,
mas do fracasso da própria prisão. Quem pune trabalha com uma ideologia autoritária, e isso
sustenta a punição. Para o cidadão interesse uma perspectiva garantista. Abolição da pena –
não temos conhecimento da extensão da criminalidade.

Pavarini - Abolição não do sistema penal, mas do cárcere. É muito difícil no presente, porque é
a época de ouro do cárcere. Cultura punitiva reina. Fracasso da estratégia de superação do
cárcere. A pena serve para a produção de sofrimento, como privação de direitos e
expectativas, coisificação e escravidão do preso. Subordinação do preso ao poder do outro.

Ronda dos encarcerados – Van Gogh. Queria pintar a verdadeira dor. Cárcere como um
território sem direito. Um espaço vazio de direito. Sujeição de poderes. O cárcere é uma
refração do direito, não dá para entrar o direito no cárcere. Supremacia do poder. Sujeição do
preso ao poder. Sociologia do crime – criminologia.

Reeducação – modelo correcional, década de 50. Prevenção especial negativa. Subordinação


do preso ao poder disciplinar. Terapêutica penal, correcional. Cárcere como limitação de
direitos e liberdades. Menor elegibilidade nos países periféricos, como o Brasil, dentro da
prisão é pior do que fora. Fora também não tem direitos, tem matanças policiais, etc. O
mesmo tem que acontecer dentro da prisão. Biopolítica – deixar morrer os inúteis e fazer
viver. A necropolítica, a disciplina é fazer morrer e deixar viver. Os presos se matam também.
O mercado da droga também se mata, por causa da criminalização. A violência regula esse
mercado. A matança do Estado. O criminoso como inimigo. A prisão é neutralização,
inocuização. Triunfo da neutralização seletiva. Repressão penal como guerra. Captura do
inimigo, desarmamento do inimigo, neutralização do inimigo. Aniquilação e genocídio. Prisão
como campo de concentração e de campo de extermínio. Não se fala mais em direito dos
presos. Deficit teórico. Os direitos dos presos são sempre condicionais. Dependem do poder
discricionário da autoridade da prisão. Supremacia especial da prisão. Reduz as expectativas de
vida dos presos. Choque de forças. Conteúdo e sentido da pena é a negação de direitos.
Renúncia à prisão e à punição. Se libertamos da necessidade de punir. Sociedade baseada na
desigualdade. Podemos imaginar uma sociedade sem prisão? Na época podia, hoje é mais
difícil, por causa do grande encarceramento. Falência do cárcere. O cárcere só pode ser
abolido com a superação do modo de produção. Reducionismo e abolicionismo. Ultima ratio.
Penas alternativas. Substitutivos penais. Na realidade, houve um aumento dos substitutivos
penais sem redução do cárcere, como nos EUA. Cárcere funciona contra a criminalidade –
reduz a reincidência, mas pela exclusão social, pela neutralização de sujeitos que o Estado não
quer incluir. Não quer mais saber as causas dos crimes. Estatística para medir os riscos.
Neutralização seletiva dos inimigos. Penalista é quem acredita na pena. Abolicionista.

No Brasil, o trabalho era exceção. Como o trabalho na prisão concorre com o trabalho fora.
Prisão construídas como fábricas. Indústria do encarceramento.

Zaffaroni é garantista.

Problema da negociabilidade da pena.

Aula 5

Continuando na Teoria da Pena em Pavarini.

Flexibilidade da Pena. Pena como negócio, com objetivos que não era do processo penal,
combate à criminalidade organizada, início na década de 80. Isso se deu também com a criação
de alternativas à pena privativa de liberdade. No plano normativo, a pena tem determinados
critérios. No momento da aplicação ou da execução da pena, cria-se novos critérios, para
remodelar a pena às suas finalidades não legais. Foi assim que surgiu a colaboração/delação
premiada, para deixar a pena como algo flexível, para atingir objetivos não previstos em lei.

Se não colabora, aí é punido. Produção de condenados inocentes. Melhor ser punido do que
provar a inocência. Virou um negócio penal. Máxima flexibilização, com a máxima renúncia dos
direitos do acusado. Qualidade deplorável de condenações, baseada em delações.

Direito penal regido pela lógica da premialidade. As consequências penais variam conforme as
pessoas aceitem ou não delatar outros. Importante analisar também a questão da tortura
como meio de coação contra o preso. Violações de prerrogativas profissionais dos advogados.
A prisão é uma tortura física, psíquica, extraordinária. A lógica da premialidade. Flexibilização
da pena desintegrou o sistema penal. Não havia tortura para o preso delatar. Negócio penal
desintegrou o sistema penal clássico. Introduziu um mecanismo que viola a ampla defesa.
Quando está em processo de colaboração, há sigilo. Dentro do discurso acusatório isso está
prefeito e estruturado. Equilíbrio de instâncias da política criminal.

Negociabilidade de um direito penal desigual, inefetivo e incerto. Desigualdade na seleção dos


bens jurídicos, desigualdade na seleção das pessoas criminalizáveis. A operatividade do direito
penal é inefetivo por não alcançar o fim oficial. É incerto porque não se sabe previamente
quem será selecionado.

60% dos crimes contra o patrimônio não chega ao conhecimento da polícia. 80% dos autores
não são identificados. Cifra oculta. Criminalidade artificial, que não tem eficiência.
Criminalidade real - crimes de máximo. Em 100 crimes, temos apenas 1 condenado. Do ponto
de vista da produtividade, é praticamente penal.

Louk Houlsman defende isso - o sistema penal está falido e é ineficiente. Não dá conta de 10%
do seu mercado em regime de monopólio. Natureza classista dessa criminalização secundária -
variáveis socioeconômicas (posição de classe do agente), natureza classista do processo penal.
O discurso do direito penal. Abstratamente o direito penal é uma coisa, mas concretamente
ele é outra. Negócio penal segundo uma lógica atuarial. Culpabilidade como reprovação, a
pena como medida da culpabilidade. Aqui estamos falando da comercialização da pena. O
sistema penal é da vontade do capital, e isso navega em sentido contrário ao direito penal
mínimo. Amplia a pena, amplia os crimes, amplia o rigor das penas. Novo discurso penal, para
produzir convencimento. Notar as fissuras do direito penal, e como ele está mudando.

Negócio penal e penologia atuarial - busca de conservação dos sistemas materiais de justiça
criminal, função de garantir e manter o sistema e as relações penais. Agora com o negócio
penal, as penas funcionam.

A pena funciona, de maneira seletiva, e pode funcionar ainda melhor. O discurso sistêmicos
não é mais aquele de que nada funciona, de que é impossível ressocializar, etc. Não precisa
mais de múltiplos profissionais, precisa-se, apenas, de estatísticos e dados. As penas
funcionam, de maneira seletiva, direcionada para grupos sociais perigosos. O direito penal
pelo que ele é, e não pelo que ele seja. Discurso progressista - sistema penal em crise,
depressão profunda, sistema desigual. Discurso populista - pena útil, é preciso punir, meios de
comunicação, políticos, receptividade popular. O discurso populista não é ideológico, mas é
tecnocrático, administrativo, de neutralização de selecionados, segundo esse discurso o
cárcere funciona para reduzir a criminalidade e reduzir a reincidência, através da neutralização
seletiva.
Governo administrativo da penalidade. Eficiência da justiça penal. Cálculo probabilístico da
criminalidade. Retórica como cálculo estatístico para selecionar grupos problemáticos - jovens,
negros, latinos, mexicanos, estrangeiros. Grupos sociais problemáticos. Inversão do paradigma
do discurso. Sofrimento penal não se relaciona mais com castigo proporcional, retribuição, etc.
Estamos falando de gerência de grupos sociais perigosos. Como gerir grupos sociais perigosos
para evitar crimes futuros. Pena não é para corrigir, não é para retribuir. Otimizar recursos
escassos, para otimizar a neutralização. Incapacitar perigosos (sem culpabilidade,
proporcionalidade, etc). Adoção de critérios estatístico. Não interessa o critério da
personalidade. Conter as pessoas, apenas. Predição da criminalidade - forma de prever,
prognóstico da criminalidade.

Discurso progressista – crise profunda do sistema penal. A pena não funciona. São intelectuais
sistêmicos, que querem fazer o sistema funcionar. Sistema produz e reduz desigualdade social.
Ociosidade programada nas unidades penitenciárias.

Discurso populista – está no parlamento, na imprensa, fala da utilidade da pena. A pena é útil.
Toma conta dos meios de comunicação, ideológico, legislativo. Tem receptividade popular. O
compromisso aqui é tecnocrático. Integração prevenção. Cárcere funciona contra a
criminalidade, reduzindo criminalidade e reincidência. Mas não usa o método da
ressocialização, mas sim da neutralização seletiva de grupos sociais. Cultura tecnocrática e
administrativa. Objetiva a eficiência da justiça penal.

Cálculo probabilístico de distribuição estatística da criminalidade. Não tem mais


responsabilidade individual dos fatos, mas sim o risco de desvio, governo administrativo da
penalidade. Não há mais imputação da responsabilidade penal. Gerência de grupos sociais
perigosos. Recursos escassos para reduzir os riscos. Incapacitar seletivamente os mais
perigosos. Distribuição diferenciada de pena, com base em critérios estatísticos.

Predição, previsão, prognóstico da criminalidade. Predição é prever. Não há teoria cientifica


capaz de prever a conduta e a ação futura de alguém. Isso é anti direito penal do fato e da
culpabilidade. Periculosidade é algo indefinível e abstrato, sem critério. Como pode um
cientista ser neutro? Método positivista: determinação da conduta, objetividade do dado,
neutralidade do cientista, e quantificação de dados. Tudo isso para tentar prever criminosos.
Aqui não interesse o injusto e a culpabilidade, nem mesmo o fato em si, apenas o autor. Só
estatística vale o que seja crime. Evitar uma carreira criminosos futura. Governo altera a
penalidade, e a sentença não determinada, tem pouca finalidade material, não há sentença.
Lombroso falava em medidas de segurança com base na periculosidade. Presunção legal de
periculosidade: predição da criminalidade, predição do comportamento criminoso futuro.
Características psicossociais que determinam a periculosidade, risco de reincidência. Direito
penal do autor nato, busca de traços de periculosidade. Princípio do baseball – três faltas leva
à perpétua. O sistema de neutralização não funciona, pois serve apenas para aumentar a pena
e o encarceramento. Mais do que isso, fracassa no momento da escolha do perigoso. Vira um
sorteio, algo sem parâmetro científico. Obsessão da predição. Tem falsos positivos e falsos
negativos.

Se incapacitarmos todos os criminosos, mesmo assim não haveria redução de criminalidade.


Isso porque os crimes de massa são situacionais e oportunísticos. Oferta de ocasiões de
delinquência em determinadas sociedade, modelo situacional, determinam o número de
crimes. Sociedade que estimula sentimentos egoísticos, excludente e agressiva, razão pela
qual pode se pensar no modelo situacional. Modelo da oportunidade.
Critério para a predição da criminalidade – déficit, defeitos sociais, raciais, econômicos,
gênero, etc. Predição de criminalidade se baseia em defeitos. Existe um problema social,
portanto, que está na origem da definição de perigoso. A sociedade produz pessoas perigosas.
Todos que se encontram em posição social desfavorecida são considerados perigosos.
Arquipélago carcerário. Mais penalidade não significa mais segurança.

Novos discursos: Direito penal do inimigo de Jakobs. Tolerância zero. Crime organizado. Polícia
operativa (não investiga fatos, mas em desvendar organizações criminosas). Política criminal
atuarial. Discurso moderno e pós moderno. Sistema de produção e sistema de punição –
relação entre fordismo e pós-fordismo. Filosofia da parcimônia no fordismo – pena útil,
razoável, contra o excesso de castigo. Depois disso veio o excesso de castigo. Democracia de
opinião. Sujeitos se elegem prometendo punir. Inflação de penalidade. Crise da democracia
representativa, e emergência da democracia de opinião – percepção dos sentimentos da
população, medo, rancor, raiva, a opinião pública se alimenta dessa resposta punitivista.
Velhas receitas para novos problemas – atalho repressivo é ilusório. Ampliação das taxas de
encarceramento não resolvem.

Estamos chegando em um novo fundamentalismo penal. A mágica que vai resolver os


problemas. Pena como fidelidade jurídica do cidadão. Pena e produção econômica.

Aula 6

Pena como negócio. Na sociedade capitalista, tudo se transforma em mercadoria. Preço de


mercado da pena. Oferta e procura entram na composição do preço, mas tem mais do que
isso. O que constitui o preço é determinado pelo tempo de trabalho social de produção da
mercadoria. Valor de uso e valor de troca. Tudo se produz para o mercado. Todo trabalho é
mercadoria. Trabalhar esses conceitos para a questão do crime. O crime e a pena passaram a
ser objeto de negociação. Preço do crime e da pena é o tempo de liberdade que é privado. Isso
está cada vez mais presente no brasil. A lava jato mostrou isso, o crime e a prova como
negócio. Isso está invadindo os princípios do direito penal, como a legalidade, a culpabilidade,
fazendo com que esses conceitos desapareçam.

O preço do crime é a pena, é o valor de troca da mercadoria penal. A pena passa a ser
mercadoria. O mesmo acontece com o crime. É uma mercadoria extremamente valiosa. Nós
não passamos pelo estado de bem estar social, só o estado de mal estar, o estado penal, com
aumento da pena, etc. Há mercadorias que não são circuladas legalmente, como o mercado
informal, e o Estado penal adentra nesse negócio. Mercado da droga também. Aumento do
discurso de combate contra as organizações criminosas. O estado como organização jurídica
legal que possui aparato de poder. O estado possui outras funções sociais, mas continua
apelando para o sistema penal. O estado tem que ser um grande investidor na economia. O
estado como assegurador das relações de mercado. E como fica o estado partidário que não se
amolda à proteção do mercado, como o PT? Manteve o mesmo direito penal bélico, como a lei
de drogas e a lei das organizações criminosas.

Alberto Yussef foi o primeiro a negociar sua pena. Lei de organização criminosa inaugurou a
delação premiada, e isso se deu no Governo Dilma. Isso significa que o Estado permaneceu
penal e capitalista nesse período. Perdão como negócio. Redução da pena. Pena como valor de
troca da delação premiada. Delação premiada é meio de obtenção de prova (colaboração
premiada), assim como a captação de sinais, ação controlada, acesso de registros telefônicos,
interceptações. Direito penal bélico – uso da investigação criminal para combater o inimigo.
Métodos de guerra. A investigação virou uma operação de guerra. As investigações não
avançam sem o negócio penal. Prática que muda a natureza do direito penal. Todos os
princípios do direito penal vão desaparecendo, legalidade, igualdade, culpabilidade, etc. Fala-
se agora em eficiência, e o preço dela é a abolição dos princípios do direito penal. Viola-se
garantias penais. Base é as relações comerciais, e daí deriva os demais sistemas jurídicos e
políticos de controle social, disciplinando as relações de produção e circulação de mercadorias.
Sistema de comercialização e o sistema de punição. As pessoas são presas sem fatos, só por
causa da delação. Teoria jurídica da pena e da investigação. Estamos trabalhando com algumas
faces da estrutura da dogmática penal. Teoria para imputar culpas, fatos, penas e autores.

Criminologia – transição do discurso jurídico crime-pena para um discurso criminológico (não é


imputação de culpa, mas discussão do crime).

Teoria jurídica é método formal, lógica.

A criminologia tem outro métodos, método indutivo (tradicional). Na crítica é método


dialético, marxista.

Criminologia busca explicar os fatos criminosos. Tentando ser uma ciência tão exata quanto a
biologia, no seu início. Método científico na tentativa de explicar o comportamento criminoso.
Início com Cesare Lombroso. Concepção determinismo, leitor de Darwin. Estudou as pessoas
presas, aceitando a premissa de que elas eram criminosas. Denominou alguns de criminosos
natas. Atavismo de Darwin. Criminoso é atávico, degenerado. Defeituoso. Buscou analisar
marcas de defeitos dos sujeitos, congênitos, defeituosos, genéticos. Perigosidade, não
culpabilidade. Positivismo. Capacidade criminogênica potencialmente percebida na genética.
Corrigir ou não corrigir os defeitos. Trabalha com conceitos dito científico, não metafísico,
como o direito penal o era. Livre arbítrio e determinações genéticos, debate não resolvido
ainda. Determinismo x livre arbítrio. Nossos sistema é baseado no livre arbítrio. A religião
também influencia essa questão do livre arbítrio, do pecado, e Lombroso está inserido nesse
contexto, contestando essa cultura. Ele tentou explicar o comportamento criminosos, baseado
na genética, também na psicologia, etc. Crime como defeito do sujeito. Dificuldade de
acolhimento na época. Nessa mesma época Marx lançava O Capital. A questão no positivismo
é saber porque determinadas pessoas são criminosas, dando o crime como algo existente
ontologicamente, enquanto que nas teorias críticas questiona se porque determinadas
pessoas são criminalizadas, porque determinados comportamentos são considerados crimes.
Essas questões não estão presentes no positivismo criminológico.

População carcerária está lá por não ter defesa. Lombroso não percebeu isso, não percebeu a
desigualdade social, não percebeu a violência do estado.

O que é criminologia crítica, de Baratta.

Qual a função social dos processos criminais. Mudar a imagem da realidade e difundem essa
imagem, isso é construtor e destrutor de realidades. Não precisa mudar a realidade, mas
mudar a imagem da realidade. Falaremos também sobre a neutralização, sobre as funções da
prevenção, etc. Baratta também fala sobre a ressocialização. Política criminal bélica, pena
como mercadoria, investigações bélicas e guerreiras, introduziu no sistema penal uma nova
política criminal, usada nos processos criminais. Habilidade de negociar. Negociar se tornou
um critério da punir ou não punir.
Ainda a questão da pena como ressocialização. A política criminal atuarial abandonou a pena
ressocializadora. Não há mais isso. Agora é só neutralização, isso é retribuição também, de
punir por si só. Prevenção especial positiva.

Política criminal realista, idealista e crítica. Realista – cárcere não ressocializar, mas deve
neutralizar e retribuir justamente. Compensação ou expiação da culpabilidade. Purificação da
culpa, do mal que causou. Mal justo contra o mal injusto. Idealista – não ressocializar, mas é
melhor do que retribuição, pensamento metafísico, luta ideal pela ressocialização, reforma.
Crítico – não ressocializar, mas precisa falar de ressocialização, não através do cárcere, mas
apesar do cárcere. O cárcere não ressocialização, mas temos que falar de ressocialização
apesar do cárcere. Não existe cárcere bom, ele perde vida, reduz a expectativa de vida, não há
cárcere melhor.

Mas temos que diferenciar cárcere melhor e pior. Essa questão ajuda nessa ressocialização
apesar do cárcere. Não deve criar obstáculo para melhoras no cárcere, para reforma. Não é
quanto pior, é melhor. Apesar do cárcere. Objetivo próximo é menos melhor cárcere. Máxima
redução do cárcere, e substitutivos do cárcere. Vamos ser contra? Não, para Baratta. Diversão
da pena, penas diversas, formas de substituição do cárcere. O objetivo remoto é sempre a
abolição do cárcere. Não podemos ficar indiferentes às dores que acontecem no cárcere. Não
devemos manipular os presos, pois eles sabem da realidade. O cárcere como serviço também,
para ajudar a ressocialização, apesar do cárcere.

A lei da organização criminosa representa uma nova política criminal, que possui efeitos
econômicos, como o desmonte da Petrobras, por causa de uma política criminal sem critérios.
Eles precisam da imprensa para manter a destruição. Maremoto, tsunami sobre a economia e
sobre a política brasileira.

Voltando para a questão da criminologia, depois deste adendo sobre a pena.

Lombroso fez um trabalho científico que pesquisava as causas do comportamento criminosos.


Positivismo é um método de pesquisa que busca a causa, os efeitos, a simbiose entre eles.
Determinações causais do fenômeno. Explicações causais, etiológicos. Etiologia é o estudo das
causas, esse conhecimento explicativo. O direito penal imputa fatos, exame do fato para
imputá-lo. Explicação da gênese do fenômeno. Porque esses sujeitos praticam crimes. Na base
disso está a teoria do consenso, que ignoram as desigualdades, a luta de classes, a distinção
entre capital e salário. Criminalidade por defeitos do sujeito. Não abrange as contradições da
sociedade. Se baseiam apenas em defeitos pessoais, atavismo, defeitos morfológicos,
genéticas, hereditárias, instintivas (energia biológica, coisas que não controlam), impulsos.
Criminologia etológica (estudo de animais para transferir para os seres humanos, lei geral dos
animais para o ser humano, Conrad Lawrence). São baseadas na sociedade igualitária, que
ignoram determinadas dinâmicas do poder. Os fora do mercado precisam ser controladas de
outra forma, como a punição, o cárcere, etc. Uso da psicologia também. Teve teorias sociais
também. São criminologias tradicionais.

A teoria crítica, do conflito, desloca o objeto de estudo do sujeito para o sistema de justiça
criminal. Criminoso é aquele que o direito indica como tal. O objeto de estudo é o processo de
criminalização. Comportamentos que são criminalizados e outros não. Sistema penal lotado de
pobres. Caráter de classe do sistema penal. Método marxista, histórico e dialético. Estrutura
social e sistema punitivo. Dominação do capitalista sobre o trabalhador. Relação política e de
poder, garantida pelo direito. Labbing ajudou nisso, pela construção social da criminalidade.
O crime não é uma qualidade do ato, mas uma qualidade atribuída ao ato pelo direito e pela
política econômica.

Aula 7

Maurício Cirino dos Santos. Promotor de Justiça.

Pavarini, Sebastian Sherer, Máximo Sosso deram aula no ICPC.

Papel da pena privativa de liberdade na sociedade de classes. Função da pena na sociedade de


classe. O MP ainda é uma instituição repressora, mesmo com a oxigenação sofrida com o
advento da Constituição Federal. Defensor da Audiência de Custódia, resistência do MP e do
TJ, falando que era instituto para soltar bandido.

Sistemas de Produção e Sistemas de Punição – Um estudo crítico sobre a história da pena na


penologia revisionista. Orientadores – Alvise Sbraccia e Massimo Pavarini.

Modificações do sistema de produção e os efeitos nos sistemas punitivos. Inter-relação


necessária.

Objetivos – demonstrar a relação de interdependência necessária entre sistemas de produção


e sistemas de punição, ao longo da história da pena, a partir de uma abordagem estrutural,
estruturada nas classes sociais. Demonstrar que as grandes transformações nos sistemas de
produção capitalista ao longo da história determinaram alterações específicas no sistema de
penas, nas modalidades das penas, e nos níveis de severidade penal, ou seja, nas funções
atribuídas à pena criminal. Demonstrar que a história do nascimento da instituição carcerária,
destinada ao cumprimento PPL, coincide com a história da gênese e desenvolvimento do
sistema de produção capitalista na Europa. Demonstrar que o cárcere possui uma função
auxiliar à manutenção e reprodução do sistema capitalista de produção e circulação de
mercadorias.

Percurso histórico – feudalismo da baixa idade média (pré capitalismo), mercantilismo da era
moderna (gênese do capitalismo), revolução industrial (desenvolvimento e consolidação do
capitalismo). Iluminismo (conquistas da burguesia capitalista), surgimento e evolução do
sistema penitenciário moderno, Taylorismo, fordismo, guerras mundiais, pós fordismo e
globalização (transição do capitalismo competitivo ao monopolista).

Obras – Criminologia, uma fundamentação para o direito penal – Albrecht. Il Governo


dell’’Eccendenza. PostFordismo e controlo dela moltitudine. Zero Tolleranza, Strategie e
Pratiche dela societá di controlo – Alessandro DE GIORGI.

Governar ela Penalitá. Estrutura socciale, processi decisionali e discorsi pubblici sulla pena.
Punir os Inimigos. Criminalidade, exclusão e insegurança. Pavarini.

Carcere e Globalizzazione. Il boom penitenziario negli Stati Uniti e in Europa. Lucia Re.

Punir os pobres. Wacquant.

Fase Feudal – sociedade em estamentos, nobreza e senhores feudais de um lado, servos e


camponeses, clero, autoridades eclesiásticas e membros da igreja, economia de subsistência.
Justiça Privada. Rei tinha poder descentralizado aos senhores feudais, que explorava os servos.
Sistema de indenizações e fianças. Diferenças de status sociais. Sistema de punições corporais
e capitais (Método punitivo, espetáculos punitivos, sangrias). Canalização do sistema a grupo
de subalternos. Desvalorização da vida humana. Economia política do corpo (Foucault). Poder
soberano do rei sobre o corpo. Aqui, a pena é uma retribuição, uma pena (mal) justo contra
um crime (mal) injusto. As prisões eram apenas local de espera para as penas corporais.

Posteriormente, mercantilismo. Manufatura. Acumuluação primitiva do capital em que há


separação do produtor dos meios de produção. Expropriação dos meios de produção dos
camponeses. Eles se transformaram em operários assalariados. A fúria do capital. Expulsão dos
camponeses dos seus locais de produção. Camponeses não eram produtivos na manufatura, e
eles foram expulsos, forçando a vagabundagem e a mendicância, com crimes patrimoniais
também. Extermínio dos camponeses. Isso afetou o sistema punitivo. Legislação direcionada
para reprimir vagabundos e mendigos, bem como camponeses inúteis.

Mas a manufatura precisava de mão de obra qualitativa e quantitativa. Havia escassez de mão
de obra, que impedia o avanço do mercantilismo e da acumulação do capital. Work House
surge então, como prisão com trabalho obrigatório para os vagabundos e mendigos. Influência
nos hospitais gerais da França também. Work house era casa de detenção com trabalho
obrigatório, e isso resolveu parcela da escassez de mão de obra da manufatura. O trabalho
forçado ajudou no desenvolvimento do mercado. Mão de obra era qualificada era
transformada com base na disciplina e na adequação das técnicas de trabalho. Trabalho
disciplinar e opressor, moldando os camponeses pedagogicamente. Isso normalizou a cultura
da exploração do capitalismo. O direito penal passou a ver valor à mão de obra, diminuindo as
penas corporais e capitais, mandando-os para os Work House. Reaproveitar força de trabalho
humano, para aumentar a exploração do capital. Houve uma diminuição das penas cruéis e
avanço das penas de trabalho. E isso não se deu por causa do humanismo, mas sim por causa
da estrutura econômica. A pena não seria nem curta demais e nem perpétua.

Revolução industrial. Desenvolvimento e consolidação do modo de produção capitalista. Fase


de consolidação da expropriação da mais valia. Valorização do capital. Normalização da
disciplina e da organização do capital. Avanço das máquinas. Aumento das fábricas.
Recomposição democrática da Europa. Fase de ouro do capitalismo e de trevas do proletário.

Grande excedente de mão de obra e degradação e queda das workhouse. Aumento da


criminalidade patrimonial. As work house se torna pouco útil, já que a mão de obra era
excessiva. Elas abandonam a função de trabalho, para se deter em opressão e tortura, com
excesso de disciplina. A prisão puramente punitiva. A estratégia era: terríveis condições dentro
dessas prisões, ninguém queria adentrar, e assim os desocupados ficaram intimidados, e
aceitaram situações de trabalho exploratórias. Nas prisões as condições deveriam ser piores
que as condições fora de lá.

Iluminismo – contemporânea na revolução criminal. Beccaria foi influente. Abolição das penas
de morte e de tortura. Proporcionalidade. Legalidade, irretroatividade. Pena privativa de
liberdade como centro do sistema punitivo.

Trabalho de Foucault – iluminismo é reformista, não tinham motivos humanitários ou proteção


de garantias. Serviam apenas para formar teoricamente e politicamente os interesses da
burguesia. Como isso? Aumento dos crimes patrimoniais na revolução industrial, em
decorrência do desenvolvimento do mercado. Acumulação de capital e de riqueza produzindo
pobreza e fome. A pena serviria para proteção da propriedade privada, para reprimir crimes
patrimoniais, para servir os interesses da burguesia. Conquistas da burguesia: legalidade do
sistema penal, com método de controle mais eficiente e legitimado; proteção do direito à
liberdade; impedir influência do absolutismo no direito penal e na liberdade da burguesia, que
buscava ascensão de poder; critérios para pena privativa de liberdade, a pena como
mercadoria, com valor de troca o tempo, equivalente e troca entre crime e pena, com o tempo
como paradigma, tempo mensurável como mercadoria; uso generalizado do cárcere, como
sistema de controle avançado. O iluminismo não era tão humanitário, mas de consolidação das
conquistas da burguesia capitalista. Elevação no número de condenações por crimes
patrimoniais e penas privativas de liberdade. Prisão como paradigma do sistema de controle.
Prisões superlotadas, proliferadoras de doenças, práticas de tortura. 160.000 condenados da
Inglaterra foram levados para a Austrália. Usa da pena também contra os colonizados. A
colonização da Austrália pela Inglaterra. Exploração da mão de obra dos condenados expulsos
dos países colonizadores. Quando virou concorrente da mão de obra livre, essa mão de obra
ficou desnecessária e aboliu-se a exportação dos condenados. Prisão como paradigma para
reduzir o nível de vida das classes mais exploradas.

Modelos de prisão – Philadelfia e Auburn. Adotaram o modelo panóptico de Bentham.


Princípios da inspeção e da disciplina. Isolamento celular + trabalho produtivo. Vigilância com
número mínimo de pessoas, em torre central, sem visibilidade interior. Observatório humano
ímpar, com laboratório para descobrir tipologia de novos criminosos. Poder disciplinar seria
usado para disciplinar indivíduos. Sistema duplo de punições e recompensas. Laboratório de
poder para produzir corpos dóceis e úteis. Isso surge também no contexto da revolução
industrial. Mão de obra como máquina altamente produtiva. Intelecto submisso e dominado
pelo empregador capitalista. Unidade penitenciária como principal instituição auxiliar da
fábrica.

Modelo de Philadelfia – unidade celular contínua, completo isolamento. Seita dos quakers.
Meditação moral para fins de ressocialização.

Modelo de Auburn– unidade celular noturno, diurno silencioso, com trabalho em comum.
Sentido econômico. Não permitia meditação moral.

A mudança do modelo varia conforme o nível de desenvolvimento do modo de produção de


cada localidade e de cada tempo. Variava conforme a quantidade e a qualidade de mão de
obra disponível. Mão de obra excessiva – isolamento perene. Mão de obra em falta – disciplina
pelo trabalho.

Era da industrialização nos Estados Unidos. Grande demanda por força de trabalho. Escassez
da mão de obra. Abandono do sistema de Filadélfia e adoção do modelo de Auburn. Oficinas
no interior da prisão, ou trabalho fora da prisão. Barateamento dos custos da produção,
reduzindo salários, e fortalecendo a economia norte americana. O cárcere se transforma em
fábrica. Principais características em Auburn: contract (oficinas com disciplina produtiva do
empresariado privado, disciplina comportamental, dentro da penitenciária); leasing
(privatização da pena, transmitida ao empresariado privado, locação temporária dos presos,
pagamento ao Estado, poder totalitário do empresariado, máximo de possibilidade lucrativa,
sem imposto, exploração do trabalho voltada para o máximo lucro possível, sem limites
humanitários, regime disciplinar duro, forma degradante de corrupção, pacto implícito entre
empresariado privado e poder judiciário, para ter penas maiores para ter mais exploração do
trabalho). Falência da penitenciária privada posteriormente por causa das denúncias de
corrupção.

Transformação do sujeito em proletário, dentro das lógicas capitalistas.


Aula 8

Taylorismo e fordismo.

Taylorismo – controle rígido de controle do trabalho.

Fordismo – linhas de produção, padronização das condutas do trabalhador. Atividade


mecânica padronizada.

Exploração da jornada de trabalho. Grande geração de empregos. Ciclo de prosperidade dos


Estados Unidos. Introdução no cárcere da cultura do trabalho capitalista. Vertente
correcionalista da pena, prevenção geral positiva. Houve uma diminuição na criminalidade da
época. Substituição da pena de encarceramento pela fiança, para diminuir o encarceramento.
Capitalismo competitivo para o capitalismo monopolista. Redução abrupta da depressão de
29. Tensão territorial. Guerras mundiais. Estado do Welfare, assistencialismo penal.
Intervenção da economia. Rede pública de assistência social. Aumento relativo dos salários.
Aumento do poder de consumo. No walfere, teve um nível baixo de encarceramento, até o
início da dec. 70. Prática de não encarceramento, outras formas de punição. O sistema de
produção não precisa da função pedagógica da pena.

Pós Fordismo e globalização – superação do modelo fordista de produção. Proletariado


disciplinado à exploração. Privilegiamento do capital constante. Maquinário produtivo
tecnológico. Menosprezo do Capital Variável (Mão de obra humana). Nova e diferenciada
forma de produção. Nova e diferenciada mão de obra. Não é mais força física produtiva, mais
intelectual, especialização técnica. Introdução de linguagens e saberes científicos
multidisciplinares. Nova forma de produção do pós fordismo. Consequências no mercado
produtivo: excedente de mão de obra, geração desenfreada de desemprego e subemprego na
transição para o pós fordismo. Economia informal, economia ilegal, mão de obra excluída da
produção. Tem mão de obra marginalizada na produção também. Sobre estes, o Estado tem
que adotar novos métodos de controle social. O sistema de justiça criminal vai ser chamado
para agir. Dec. 70 teve a crise do petróleo também.

Dec. 70 – Duas frentes de discurso nos EUA. Discurso técnico – sistema correcionalista.
Discurso político midiático – segurança e ordem social. Grande crescimento da criminalidade
de rua. Grandes movimentos sociais também, com clima de grande conflito do povo com o
governo. Estado vê a necessidade de controlar esses movimentos. Conservadores – penas mais
severas, contra o desencarceramento, discurso de que reduziria a criminalidade e a rebeldia
dos movimentos populares. Surgimento de uma criminologia a serviço do Estado. Criminologia
administrativista, que defende as funções do governo. Habilidade em lidar com estatísticas.
Abandono do estudo dos processos de criminalização. Governo administrativo da
criminalidade. Política penal atuarial. Redução dos riscos de vitimização. Neutralização seletiva
dos inimigos sociais. Passagem do Estado de inclusão para exclusão do Prision-Fare.
Substituição da guerra contra a pobreza para guerra contra os pobres. Risco de ocorrência de
crimes. Cálculo estatísticos sobre classificação e identificação dos inimigos sociais.
Neutralização seletiva dos riscos. Linha demarcatória da cidadania – os outros que não se
adentram no sistema de produção e os rebeldes de determinados movimentos, minorias
étnicas. Medidas de segurança dos jovens. Criminalização com base na periculosidade, e não
na culpabilidade. Políticas judiciárias de severidade penal. Políticas de controle social de
repressão policial penal. Retóricas Político-eleitorais e midiáticas. Técnicas de prevenção e
tecnologias de controle orientadas à vigilância e limitação de acesso. Processo de reforma de
sistema judicial do indeterminate sentencing. Estratégias de controle social conduzidas por
repressão policial: trinômio tolerância zero, war on crime, war on drugs. Sistema judicial de
severidade extrema: tree strikes and you’re out (baseball).

Política penal atuarial.

Sistema judicial do indeterminate sentencing – modificação da pena pela sentença,


discricionariedade. Sistema do truth sentencing – para determinados crimes que despertavam
alarme social, baseado na certeza e severidade na aplicação da pena. Aumento da duração das
penas e legitimação da detenção. Determinada tipologia. Mas ao mesmo tempo causava
engessamento judicial. Boca da lei. Sistema mandatory sentencing – tabelamento de crimes e
de penas. Quantum específico ou mínimo a ser cumprido no interior da prisão.

Trinômio tolerância zero, war on crimes e war on drugs. Ronald Reagan. Bill Clinton. Bush.
Explosão da população carcerária. Aumento do controle policial sobre as drogas. Aumento das
prisões por práticas de crimes relacionadas à drogas, aumento da severidade. War on crime –
Nova York na década de 90. Prefeito Rudolph Giuliani. Chefe de Polícia William Bratton.
Política de tolerância Zero. Aperfeiçoamento da política de repressão. Raízes na teoria das
janelas quebradas, degradação urbana = fator criminógeno. Não foi comprovada
cientificamente. Máximo controle social e repressão policial. Aumento do número de prisões
por pequenos crimes. Realidade seletiva da violência policial racial. Redução da criminalidade
não era consequência do punitivismo e da repressão. Denúncias de ação policial repressiva.
Afroamericanos e latinos selecionados.

Sistema judicial de severidade penal. Baseball. Repressão de determinados crimes. 3ª


condenação e perdia o direito à vários benefícios penais. Pena detentiva de 25 a 40 anos ou
prisão perpétua. Vários Estados adotaram esse sistema punitivo. 2004 na Califórnia – crimes
graves e crimes leves, como furto. Lista de crimes. 3ª condenação em qualquer tipo de crime,
ensejando pena perpétua ou longa de até 40 anos. Quase 7 milhões de pessoas controladas
pelo Estado americano. Maior população carcerária do mundo.

Para que a política criminal atuarial se desenvolva e se implante, é preciso uma difusão de
ideias, como o medo social da insegurança no povo, no psiquismo social, da ameaça da
criminalidade. Difusão da ideia de que o criminoso é inimigo que precisa ser neutralizado. A
segurança pública precisa ser centro dos debates, para difusão do medo. O Pós fordismo
precisa desse pavor social. Para legitimar a severidade penal e o discurso punitivismo. Pânico
de insegurança. Demanda por maior proteção e segurança. Controle social e opinião pública.
Discurso para tutela preventiva de risco. Políticas da nova prevenção. Transposião da
segurança pública para o privado tmb, como medidas preventivas. Para garantir a ordem
pública. Suspeitos de práticas de crimes. Forma de limitação de acesso. Dispositivos ou
artifícios anti mendigos, anti pobreza. Implantação desses mecanismos, para proibir mendigos.
Realidade que tem que sair dali, não que tenha que ser resolvida socialmente. Reconfiguração
da arquitetura urbana. Política da nova prevenção, cultura autuarial, novas metrópoles
punitivas. Reconfiguração do espaço sócia. Segregações sociais e territoriais. Linha
demarcatória entre incluídos e excluídos. Condomínio e favelas, pobreza e riqueza em
convívio. Facilita a prevenção. Próspero mercado da segurança privada – redução da
oportunidade de crimes, prevenção situacional de crimes. Leve aumento da sensação de
segurança. Mudança de endereço da criminalidade. Aumento de câmeras eletrônicas, amenta
de cercas, vigilância privada, câmeras em locais públicos e privados, dificuldade de acesso à
lugares públicos e privados (shoppings). Conforme as características pessoais e sociais. Grupos
organizados de vigilância constante e difusa, ou grupos privados de auto defesa. Vizinhos de
olho, vizinhos solidários, etc. Formas de proteção coletiva. Espécie de prevenção é suficiente
apenas para prevenir vandalismo urbano. Mas estimula comportamentos policialescos e
repressivos. Política criminal penetra toda parte, inclusive no âmbito privado. Ideologia norte-
americana dissemina a cultura de máximo policiamento e máxima repressão. Prática
repressiva da tolerância zero. Foi disseminando na Europa, a diferentes países. Nova cultura de
controle.

Isso provocou um aumento generalizado da população carcerária em vários países europeus.


1/3 de presos provisórios. Imigrantes são grande parte dos selecionados pela Europa.
Aumento da migração na década de 80, Itália e Grécia como porta de entrada. Refúgio
também. Dificuldade de concessão de cidadania à imigrantes, prejudicando a integração social.
Aumento das fronteiras. Dificuldades estrangeiras. Centros de permanência – detenção
administrativas de estrangeiros, prisões administrativas. Imigrantes extracomunitários – fora
da Europa.

América do Sul e Brasil. Aumento exponencial da taxa de encarceramento no Brasil. 40 % de


presos provisórios. 60% de negros. 80% até o ensino fundamental. Mandados de prisão sem
cumprimento de 373.991. Políticas penais de severidade, com privilégio ao encarceramento.
Políticas de repressão dos EUA. Virada da dec. 80 e 90. Exércitos de guerra com tropas de elite
da polícia militar, transvestida em polícia pacificadora. Leis penais criminilazodaras. Lei de
prisão temporária. Lei de crimes hediondos. Leis antidrogas. Princípio da less eligibility.
Tragédias dentro do espaço carcerário para disciplinar quem está do lado de fora.

Uma função ideológica declarada de repressão da criminalidade e de controle e ou redução do


crime, através da superestrutura política e jurídica do estado e sob o discurso do direito penal
igualitário, protetor e correcional.

Uma função real, oculta, de manutenção e reprodução das relações antagônicas de poder e
pressão política das classes dominantes e de exploração econômica das classes dominadas, no
contexto do sistema capitalista de produção de mercadorias, fundado na separação
trabalhador/meios de produção, ou seja, na contradição entre capital/trabalho assalariado.

História do fracasso da prisão. Não erra no seu objetivo. Em realidade, reproduz criminalidade.
Negação do mito do direito penal igualitário. Criminalização nas três vertentes – primária,
secundária e terciária. Tipos penais selecionados a partir de interesses protegidos das classes
dominantes, e de práticas das classes marginalizadas. Ausência de tipos sobre condutas das
classes dominantes. Valor simbólico, sem repressão. Retirada de imputabilidade,
culpabilidade, e uso de metarregras, para sentenciar o inimigo. Execução penal rígida –
reprodução das desigualdades das lutas sociais, estigmatizados sociais. Recrutamento de
indivíduos marginalizados. Exército industrial de reserva.

Fim.

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