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RESUMO

Pretende-se com este trabalho decorrer sobre o papel do psicopedagogo e da


psicopedagogia no Brasil, além de delinear algumas das principais dificuldades de
aprendizagem presentes nas escolas e que causam transtornos na vida dos alunos.
É importante conscientizar, refletir, pesquisar e debater sobre as mais diversas
dificuldades de aprendizagem para a construção de um olhar e uma consciência
crítica nas pessoas e nos profissionais de educação de forma a se estabelecer uma
educação mais justa e democrática a todos, além de mais inclusiva, e transformar a
vida dos indivíduos que passam pelos profissionais de psicopedagogia. Para tanto, a
metodologia adotada é a de pesquisa bibliográfica, pois é uma das abordagens mais
eficazes para se conhecer e atualizar sobre determinados assuntos acerca de
pesquisas e conhecimentos produzidos por uma área de conhecimento. Por fim,
nota-se a grande importância de estabelecer uma relação com as informações
produzidas sobre transtornos de aprendizagem, uma vez que estes estão sempre
sendo atualizados e seu diagnóstico complexo exige um olhar diferenciado.

INTRODUÇÃO

A Psicopedagogia é uma área muito abrangente em conhecimento, pois se


utiliza de conhecimentos de diversas áreas para construir o pensamento deste
profissional e receber e trabalhar com seu paciente da forma mais assertiva e
motivadora para a superação deste individuo.
A importância em se pesquisar e trabalhar com as dificuldades e transtornos
de aprendizagem como forma de se aprender e melhorar o trabalho do profissional
da psicopedagogia é inerente para a construção de um olhar crítico e analítico em
relação ao individuo assistido.
Pesquisar, compreender, discutir e analisar a história da psicopedagogia no
Brasil, bem como o papel desta na sociedade atual para a construção de um mundo
mais inclusivo e para uma melhor educação de pessoas com as mais diversas
dificuldades, além de se interessar em aprimorar os conhecimentos relativos às
dificuldades e transtornos de aprendizagem que podem estar presentes no nosso
dia a dia para avaliar e intervir corretamente para um melhor desenvolvimento dos
pacientes.
Procura-se ater-se à bibliografias brasileiras existentes e aos nomes mais
conhecidos no meio da psicopedagogia, principalmente, aos trabalhos publicados
por Nádia Bossa, artigos científicos publicados e sites das principais instituições
brasileiras referentes às dificuldades e transtornos aqui delineados.
Para tanto a metodologia adotada é a pesquisa bibliográfica, uma vez que se
faz necessário estar em contato com tudo que é dito, escrito ou filmado sobre a
profissão. A pesquisa bibliográfica não tem como objetivo a simples repetição do que
foi dito, mas proporciona o estudo de determinado tema sob um novo olhar ou
abordagem, possibilitando conclusões diferenciadas através de um analise crítica.
Por fim, no primeiro capítulo abordam-se os fundamentos da psicopedagogia,
sua história no Brasil, legislação e, também a atuação do psicopedagogo no
mercado. O capítulo segundo trata-se dos processos de aprendizagem e seus
problemas, bem como as dificuldades e transtornos de aprendizagem, mais
especificamente as do paciente avaliado em estágio obrigatório do curso. Ao
capítulo terceiro coube o informe pedagógico resultante da avaliação deste mesmo
paciente.
Capítulo I

Fundamentos da Psicopedagogia

1.1. História da Psicopedagogia no Brasil

Pesquisar a psicopedagogia nos remete a algumas partes do planeta desde o


ponto que se deu a sua origem até a sua chegada ao Brasil e, devido à proximidade
geográfica nos baseamos muito no seu histórico na Argentina, consequentemente
as ideias dos argentinos muito têm influenciado a prática brasileira.
Contudo, para entendermos o histórico Argentino que permeia a
Psicopedagogia brasileira temos que retomar um pouco da história Europeia quanto
às suas preocupações com as dificuldades de aprendizagem no final do século XIX,
advindas principalmente devido à revolução industrial que transformou as formas de
trabalho e, também, as escolas.
Com o advento da revolução industrial surge uma sociedade mais tecnicista
demandando, assim, uma mudança nas formas de trabalho e de educar o cidadão
para o mundo. O domínio das maquinas nos meios de produção requereu da
população uma maior qualificação e especialização e, também, atualizações
constantes. A escola de torna um ponto de sustentação por teoricamente garantir
uma igualdade na aquisição de conhecimentos e no desenvolvimento do individuo,
no entanto, é a partir daí que a mesma passa a confirmar que a causa do fracasso
escolar e das desigualdades sociais são as diferenças individuais.
Na Europa, os primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados, em
1946, por J Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica. Estes
Centros uniam conhecimentos da área de Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, onde
tentavam readaptar crianças com comportamentos socialmente inadequados na
escola ou no lar e atender crianças com dificuldades de aprendizagem apesar de
serem inteligentes (MERY apud BOSSA, 2000, p. 49).
Na literatura francesa – que, como vimos, influencia as ideias sobre
psicopedagogia na Argentina (a qual, por sua vez, influencia a práxis brasileira) –
encontra-se, entre outros, os trabalhos de Janine Mery, a psicopedagoga francesa
que apresenta algumas considerações sobre o termo psicopedagogia e sobre a
origem dessas ideias na Europa, e os trabalhos de George Mauco, fundador do
primeiro centro médico psicopedagógico na França,..., onde se percebeu as
primeiras tentativas de articulação entre Medicina, Psicologia, Psicanálise e
Pedagogia, na solução dos problemas de comportamento e de aprendizagem.
(BOSSA, 2019, p. 47).
Através desta articulação de saberes esperava-se conhecer melhor a criança
e o seu meio para se compreender e se determinar uma ação reeducadora. Era
muito importante na época diferenciar os que não aprendiam, apesar de serem
inteligentes, daqueles que apresentavam alguma deficiência mental, física ou
sensorial.
É possível observar que a psicopedagogia teve uma trajetória interessante
sendo que no início tinha um caráter médico-pedagógico do qual se fazia parte uma
equipe profissional multidisciplinar.
A Europa teve influencia direta na Psicopedagogia Argentina. De acordo com
a psicopedagoga Alicia Fernández (apud BOSSA, 2019, p. 52), a Psicopedagogia
surgiu na Argentina há mais de 30 anos e foi Buenos Aires a primeira cidade a
oferecer o curso de Psicopedagogia.
Na Argentina, a psicopedagogia tem um caráter diferenciado da
psicopedagogia no Brasil. São aplicados testes de uso corrente, “alguns dos quais
não sendo permitidos aos brasileiros...” (Id. Ibid., p. 54), por ser considerado de uso
exclusivo dos psicólogos (BOSSA, p. 55). “... os instrumentos empregados são mais
variados, recorrendo o psicopedagogo argentino, em geral, a provas de inteligência,
provas de nível de pensamento; avaliação do nível pedagógico; avaliação
perceptomotora; testes projetivos; testes psicomotores; hora do jogo
psicopedagógico” (Id. Ibid., 2019, p. 62).
A psicopedagogia chega ao Brasil, na década de 70, onde dificuldades de
aprendizagem nesta época eram associadas a uma disfunção neurológica
denominada de disfunção cerebral mínima (DCM) que se tornou um diagnóstico
muito recorrente neste período, servindo para esconder problemas
sociopedagógicos (Id. Ibid., 2019, p. 63-64).
No início, os problemas de aprendizagem foram estudados, pesquisados e
tratados por médicos e ainda é possível vermos hoje em dia famílias recorrendo a
estes profissionais quando se há um caso de crianças com dificuldades escolares.
E a Psicopedagogia é introduzida no Brasil, em 1970, baseado justamente
neste modelo médico de atuação trabalhando sob este viés nos problemas de
aprendizagem. Nesta mesma época iniciaram-se os cursos de formação de
especialistas em Psicopedagogia na Clínica Médico-Pedagógica de Porto Alegre,
com duração de dois anos. (BOSSA, p. 68).
A Psicopedagogia no início era uma ação que seguia diretrizes da Medicina e
da Psicologia e, por fim, perfilou-se como um conhecimento independente se
complementar, que possui um objeto de estudo: o processo de aprendizagem, e de
recursos diagnóstico, corretores e preventivos próprios. (VISCA apud BOSSA, 2019,
p. 25).
Determinado isto de uma formação independente, porém complementar,
destas duas áreas, o Brasil recebeu diversas contribuições para o desenvolvimento
da área psicopedagógica, principalmente de profissionais argentinos tais como: Sara
Paín, Jacob Feldmann, Ana Maria Muniz, Jorge Visca, dentre outros.
Visca implantou CEPs (Centros de Estudos Psicopedagógicos) no Rio de
Janeiro, São Paulo, capital e Campinas, Salvador, e Curitiba. Deu aulas em
Salvador, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Itajaí, Joinville,
Maringá, Goiânia, Foz do Iguaçu e muitas outras. (Cf. BARBOSA, 2002, p. 14).
Este movimento deu início ao surgimento de diversos cursos da área e o
crescimento continua ascendente o que demonstra uma grande procura pela
profissão e pelo profissional. Todavia, esta alta procura pode resultar em cursos e
diplomas inadequados. De acordo com Simaia Sampaio (2004), “Devemos, portanto,
escolher com muito cuidado a Instituição que desejamos fazer o curso de
Psicopedagogia. Tenho conhecimentos de cursos que no período do estágio
abandonam seus alunos sem a devida orientação. Existe, em nosso país há 13 anos
a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) que dá um norte a esta
profissão. Ela é responsável pela organização de eventos, pela publicação de temas
relacionados à Psicopedagogia, cadastro dos profissionais.”
O histórico da Psicopedagogia no Brasil é recheado de influencias mundiais e
de profissionais de grandes nomes na área e, apesar disso tudo, nossa história com
ela é ainda recente e tem muito a se pesquisar e desenvolver.
1.2. Legislação e Código de ética da Psicopedagogia

Toda profissão tem sua legislação regente e seu código de ética a ser
seguido pelos seus profissionais com o objetivo de estabelecer condutas e orientá-
los para uma boa prática profissional.
Segundo Nadia Bossa:

O código de ética deve pautar-se em princípios e normas que expressem o


respeito ao sujeito humano e seus direitos fundamentais, tais como consta
da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Deve ainda comprometer-se com a educação brasileira de forma que suas
práticas possam se fazer presentes em qualquer contexto onde esteja
presente a relação ensino-aprendizagem. (BOSSA, 2019, P.127).

O papel do psicopedagogo é muito importante no desenvolvimento daquela


criança, adolescente ou jovem adulto que tem alguma dificuldade de aprendizagem,
por isso, a sua práxis tem sempre que estar pautada sob um olhar clínico e sob os
principais órgãos e códigos que regem a profissão, a educação e os direitos dos
estudantes.
É possível ver tudo isso incluso no Código de Ética do Psicopedagogo:

O Código de Ética tem o propósito de estabelecer parâmetros e


orientar os profissionais da Psicopedagogia brasileira quanto aos
princípios que regem a boa conduta profissional e instituir diretrizes para
o exercício profissional.

A atualização do Código de Ética é prevista para que se mantenha em


conformidade com as expectativas da categoria profissional e da sociedade.
Capítulo I – Dos Princípios:

ARTIGO 1º

A Psicopedagogia é um campo de conhecimento e ação interdisciplinar em


Educação e Saúde com diferentes sujeitos e sistemas, quer sejam pessoas,
grupos, instituições e comunidades. Ocupa-se do processo de
aprendizagem considerando os sujeitos e sistemas, a família, a escola, a
sociedade e o contexto social, histórico e cultural. Utiliza instrumentos e
procedimentos próprios, fundamentados em referenciais teóricos distintos,
que convergem para o entendimento dos sujeitos e sistemas que aprendem
e sua forma de aprender.

Parágrafo 1º - A intervenção psicopedagógica é da ordem do


conhecimento, relacionada com a aprendizagem, considerando o caráter
indissociável entre os processos de aprendizagem, as dificuldades e as
possibilidades dos sujeitos e sistemas.

Parágrafo 2º - A intervenção psicopedagógica ocorre com diferentes


sujeitos e sistemas, quer sejam pessoas, grupos, instituições e
comunidades, considerando os processos de aprendizagem e seus
contextos, em situações de pesquisa, de atendimento clínico e /ou
institucional.

ARTIGO 2º

A Psicopedagogia é de natureza inter e transdisciplinar, utiliza-se de


recursos próprios para a compreensão do processo de aprendizagem dos
sujeitos e sistemas com vistas à intervenção.

ARTIGO 3º

A atividade psicopedagógica tem como objetivos:

- propor ações frente aos processos de aprendizagem e suas dificuldades;

- contribuir para os processos de inclusão escolar e social;

- realizar pesquisas científicas no campo da Psicopedagogia;

- mediar as relações interpessoais nos processos de aprendizagem


com vistas à prevenção de dificuldades e/ou à resolução de conflitos.

ARTIGO 4º

O psicopedagogo deve, com autoridades competentes, refletir e


elaborar a organização, a implantação e a execução de projetos de
Educação e Saúde no que concerne às questões psicopedagógicas.

Capítulo II – Da Formação:

ARTIGO 5º

A formação do psicopedagogo se dá em curso de graduação e/ou em curso


de pós- graduação em Psicopedagogia, ministrados em instituições de
educação superior devidamente reconhecidas e autorizadas por órgãos
competentes, de acordo com a legislação em vigor.

Capítulo III – Do Exercício das Atividades Psicopedagógicas:

ARTIGO 6º

Estarão em condições de exercício da Psicopedagogia os profissionais


graduados e/ou pós- graduados em Psicopedagogia como também, os
profissionais com direitos adquiridos anteriormente à exigência legal e os
profissionais reconhecidos pela ABPp.

Parágrafo 1º - O psicopedagogo ao promover publicamente a


divulgação de seus serviços, por meio de recursos físicos e/ou virtuais,
deverá fazê-lo de acordo com as normas da ABPp e os princípios deste
Código de Ética.

Parágrafo 2º - O atendimento psicopedagógico deve ser realizado com


equidade em ambiente apropriado.

ARTIGO 7º

O psicopedagogo deve manter o sigilo profissional e preservar a


confidencialidade dos dados obtidos em decorrência do exercício de sua
atividade.

Parágrafo 1º - Não se entende como quebra de sigilo informar sobre os


sujeitos e sistemas a especialistas e/ou instituições comprometidos com o
atendido e/ou com o atendimento, desde que autorizado pelos próprios
sujeitos e/ou seus responsáveis legais e sistemas.

Parágrafo 2º - O psicopedagogo não revelará, como testemunha, fatos de


que tenha conhecimento no exercício de seu trabalho, a menos que
seja intimado a depor perante autoridade judicial, e/ou em situações que
envolvam risco à integridade física, moral ou risco iminente de morte.
ARTIGO 8º

O resultado de um processo de avaliação só será fornecido a terceiros


interessados mediante concordância do próprio avaliado ou de seu
representante legal.

ARTIGO 9º

Os registros de atendimento psicopedagógico são documentos sigilosos


cujo acesso é restrito ao profissional psicopedagogo responsável. O
material deve ser guardado por um período de 5 anos.

Parágrafo 1º - Os registros psicopedagógicos, em suporte de papel ou em


eletrônico, deverão permanecer arquivados por um período de 5 anos após
o encerramento do atendimento.

Parágrafo 2º - A divulgação pública de registros, imagens e áudios,


decorrentes de atendimento psicopedagógico, só poderá ser feita mediante
consentimento e/ou autorização dos sujeitos e sistemas ou seu responsável
legal. Sobre o uso de imagens para qualquer finalidade deve haver
autorização por escrito, inclusive imagens em mídias sociais e/ou
quaisquer meios de comunicação.

ARTIGO 10

O psicopedagogo procurará desenvolver e manter boas relações com os


componentes de diferentes categorias profissionais, observando, para esse
fim, o seguinte:

- trabalhar nos estritos limites das atividades que lhe são reservadas;

- reconhecer os casos pertencentes aos demais campos de


especialização, encaminhando-os a profissionais habilitados e qualificados
para o atendimento.

Capítulo IV – Das Responsabilidades:

ARTIGO 11

São deveres do psicopedagogo:

a) manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e técnicos


que tratem da aprendizagem humana;

b) desenvolver e manter relações profissionais pautadas pelo respeito,


pela atitude crítica e pela cooperação com outros profissionais;

c) assumir as responsabilidades para as quais esteja preparado e nos


parâmetros da competência psicopedagógica;

d) colaborar com o desenvolvimento da Psicopedagogia por meio da


participação em eventos, pesquisas e publicações, entre outras
possibilidades;
e) responsabilizar-se pelas intervenções feitas e fornecer definição
clara do seu parecer oral e/ou escrito aos sujeitos e sistemas
atendidos e/ou aos seus responsáveis;

f) preservar a identidade dos sujeitos e sistemas nos relatos e discussões


feitos a título de exemplos e estudos de casos;

g) manter o respeito e a dignidade na relação profissional para a harmonia


da classe e a manutenção do conceito público;

h) submeter-se à supervisão psicopedagógica e ao processo terapêutico


pessoal.

Capítulo V – Dos Instrumentos:

ARTIGO 12

São instrumentos da Psicopedagogia, aqueles que servem ao seu objeto de


estudo - a aprendizagem humana. Sua escolha decorrerá da formação
profissional e competência técnica do psicopedagogo.

Capítulo VI – Das Publicações Científicas:

ARTIGO 13

Na publicação de trabalhos científicos deverão ser observadas as seguintes


normas:

- as discordâncias ou críticas deverão ser dirigidas à matéria em discussão


e não ao seu autor;

- em pesquisa ou trabalho em colaboração, deverá ser dada igual ênfase


aos autores e seguir normas científicas vigentes de publicação.

- em nenhum caso o psicopedagogo se valerá da posição hierárquica


para fazer publicar, em seu nome exclusivo, trabalhos executados sob sua
orientação; em todo trabalho científico devem ser indicadas as
referências bibliográficas utilizadas, bem como, esclarecidas as ideias,
descobertas e as ilustrações extraídas de cada autor, de acordo com
normas e técnicas científicas vigentes.

Capítulo VII – Da Publicidade Profissional:

ARTIGO 14

Ao promover publicamente a divulgação de seus serviços, deverá


fazê-lo com exatidão e honestidade, cumprindo e fazendo cumprir as
determinações deste Código de Ética.

Capítulo VIII – Dos Honorários:

ARTIGO 15

Os honorários são tratados previamente entre os sujeitos e sistemas


ou seus responsáveis legais e o profissional, a fim de que: - representem
justa contribuição pelos serviços prestados, considerando condições
socioeconômicas da região, natureza da assistência prestada e tempo
despendido; - assegurem a qualidade dos serviços prestados.

Capítulo IX – Da Observância e Cumprimento do

ARTIGO 16
Cabe ao psicopedagogo cumprir este Código de Ética.

Parágrafo único - Constitui inobservância ética:

- utilizar títulos acadêmicos e/ou de especialista que não possua;

- permitir que pessoas não habilitadas realizem práticas psicopedagógicas;

- fazer falsas declarações sobre quaisquer situações da prática


psicopedagógica;

-encaminhar ou desviar, por qualquer meio, atendimentos para si;

- receber ou exigir remuneração, comissão ou vantagem por serviços


psicopedagógicos que não tenha efetivamente realizado;

- assinar qualquer procedimento psicopedagógico realizado por terceiros, ou


solicitar que outros profissionais assinem seus procedimentos.

ARTIGO 17

Cabe ao Conselho Nacional da ABPp zelar e orientar pela fiel


observância dos princípios éticos da classe e alertar ao psicopedagogo em
caso de inobservância, se necessário.(...)

(ABPp, 2019)

Conforme se pode ler no Código de Ética é imprescindível que o profissional


desta área esteja sempre atualizado e atento às novidades de sua profissão e,
também, em constante reavaliação de seus pacientes para que seja possível
superar os problemas de aprendizagem e, assim, acontecer o sucesso escolar do
mesmo.

1.3. Atuação do Psicopedagogo

O nome desta área é muito sugestivo e muitos pensam que a Psicopedagogia


é uma junção ou ramificação que surgiu a partir de duas áreas do conhecimento:
Pedagogia e Psicologia, mas na verdade trata-se de campo de conhecimento
independente e multidisciplinar, o qual se utiliza do conhecimento desde a
antropologia até a neurociência.
Este profissional se dedica a pesquisar, estudar e entender o processo de
ensino-aprendizagem. Descobrir como o conhecimento é construído, como ocorre o
processo de aprendizagem e, assim, permitir uma educação mais eficiente a cada
individuo.
Ele observa cada paciente como um ser único, provido de capacidade de
aprender independente de seus problemas ou transtornos de aprendizagem,
trabalhando em cima destas problemáticas, superando-as quando possível,
auxiliando o seu paciente a potencializar suas habilidades individuais e, assim,
aprender de acordo com a sua real capacidade e até desenvolver ações preventivas
a partir do acompanhamento.
Este olhar clínico e diferenciado focado na habilidade de aprender de cada
um é o que tem tornado o Psicopedagogo muito requisitado no mercado de trabalho
e sua área de atuação cada vez mais abrangente.
A Psicopedagogia pode ser dividida em clínica e institucional. O profissional
da área clínica atua em consultórios atendendo de forma individualizada trabalhando
em parceria com equipes multidisciplinares dependendo da necessidade de cada
paciente. O pedagogo institucional atua em escolas, empresas ou hospitais podendo
trabalhar com pacientes individuais ou com grupos de pessoas avaliando
comportamentos e identificando fatores que possam influenciar o desempenho
individual com repercussões coletivas.
Dentro destas subdivisões encontramos um vasto campo de atuação, como
cita Nadia Bossa em seu livro:

Segundo Lino de Macedo (1990), o psicopedagogo, no Brasil, ocupa-se das


seguintes atividades:

1. Orientação de estudos – consiste em organizar a vida escolar da


criança quando esta não sabe fazê-lo espontaneamente. Procura-se
promover o melhor uso do tempo, a elaboração de uma agenda e tudo
aquilo que é necessário ao “como estudar” (como ler um texto, como
escrever, como estudar para a prova etc.).
2. Apropriação dos conteúdos escolares – o psicopedagogo visa propiciar
o domínio de disciplinas escolares em que a criança não vem tendo um
bom aproveitamento. Ele se diferencia do professor particular, pois o
conteúdo escolar é usado apenas como uma estratégia de ajudar e
fornecer ao aluno o domínio de si próprio e as condições necessárias ao
desenvolvimento cognitivo.
3. Desenvolvimento do raciocínio – trabalho feito com os processos de
pensamento necessários ao ato de aprender. Os jogos são muito
utilizados, pois são férteis no sentido de criarem um contexto de
observação e dialogo sobre processos de pensar e de construir o
conhecimento. Este procedimento pode promover um desenvolvimento
cofnitivo maior do que aquele que as escolas costumam alcançar.
4. Atendimento de crianças – a Psicopedagogia se presta a atender
deficientes mentais, autistas ou crianças com comprometimentos
orgânicos mais graves, podendo até substituir o trabalho da escola.
Para Lino de Macedo, essas quatro atividades não são excludentes
entre si, nem em relação a outras. O atendimento psicopedagógico
poderá, em determinados casos, recorrer a propostas corporais,
artísticas etc. De qualquer forma, está sempre relacionado com o
trabalho escolar, ainda que com ele não esteja diretamente
comprometido.

(BOSSA, 2019: P. 39-40)

Hoje em dia a atuação do Psicopedagogo é crescente, ele pode trabalhar em


diversas áreas e lugares diferentes. Seu trabalho é muito importante independente
do campo em que escolher, pois o objetivo principal é sempre o mesmo: dar ao
indivíduo autonomia de aprender e potencializar suas habilidades, portando, este
profissional deve estar sempre estudando e, principalmente, ser muito comprometido
com sua prática.
Capítulo II

PROCESSOS DE APRENDIZAGEM

2.1. Processos de Aprendizagem

Aprendizagem pode ser dita como a capacidade de se aprender ou adquirir


algum conhecimento a partir de um método ou uma experiência. Esta já era objeto
de estudo desde a Antiguidade onde já se havia o interesse em compreender como
o ser humano aprende. Com o surgimento das disciplinas cientificas, dentre elas,
principalmente a Psicologia, contribuíram muito para o entendimento e
desenvolvimento de teorias sobre a construção do conhecimento e o
desenvolvimento desta capacidade humana. Mais adiante, tais observações
contribuíram para o surgimento de campos de estudo que se estruturaram em torno
das teorias de aprendizagem relacionando-as com o processo de construção do
conhecimento a partir do sujeito que aprende.
O processo de aprendizagem é um tanto complexo, contudo todas as teorias
de aprendizagem correlacionam o aprender com as condições internas e externas
do sujeito. Vendo o aluno como um indivíduo único e suas particularidades como
fatores para uma aprendizagem efetiva. Tendo em vista a ação do sujeito sobre o
meio, a maneira como se comporta, se organiza e recebe as informações, a
aprendizagem se dá através da transformação que ocorre da experiência do
individuo e das interações que este estabelece.
Estudiosos consideram a aprendizagem como um processo que despertou o
interesse dos teóricos da Psicologia. A partir disso, muitas teorias surgiram sobre
este objeto de estudo e pode-se dividi-la em dois grupos: as teorias do
condicionamento e as teorias cognitivistas. Dos teóricos do condicionamento pode-
se citar: Skinner, Pavlov, Watson e Thornidike. As teorias cognitivistas podem ser
sub-divididas em mais grupos, mas alguns de seus representantes, são: Piaget,
Vigotski, Wallon e Ausubel.
O primeiro grupo considera que a aprendizagem é uma mudança de
comportamento advindo de ações ou do ambiente. O segundo grupo considera que
a aprendizagem ocorre de uma organização cognitiva que tem origem da relação do
sujeito com o mundo e estas condições externas podem afetar a organização do
conhecimento. Para os comportamentalistas, o reforço é o que estimula um hábito e
a aprendizagem. Para os cognitivistas, o que mantém o que foi aprendido é a
atenção e a memória.
As teorias existem para nos guiar no melhor caminho para entendermos o
processo de aprendizagem de cada pessoa. Não há certa ou errada, cada pessoa
tem o sua forma de aprender e construir conhecimento e por isso essas teorias nos
mostram diferentes formas de se ensinar e aprender.
Aprendizagem, portanto, é o processo que necessita de muitas ferramentas e
de desenvolvimento único para cada individuo. Compreender este processo e
intervir nele, independente do ritmo de aprendizagem, resulta na construção do
conhecimento e em desenvolvimento cognitivo, tornando, assim, o sujeito o maior
responsável pela própria aprendizagem, capaz, então, de refletir e pensar com
autonomia e utilizar o conhecimento a novas situações ao longo da vida.

2.2. Problemas de Aprendizagem

A Psicopedagogia tem como seu objeto de estudo a aprendizagem e,


portanto, cabe a ela observar, estudar, analisar, diagnosticar e intervir, dentro das
suas possibilidades e amparada por uma equipe multidisciplinar, em um problema
que pode comprometer o desenvolvimento da capacidade de aprender de um
individuo. As dificuldades e problemas de aprendizagem são indissociáveis da
prática psicopedagógica, como é dito no Código de Ética:

Parágrafo 1º - A intervenção psicopedagógica é da ordem do conhecimento,


relacionada com a aprendizagem, considerando o caráter indissociável
entre os processos de aprendizagem, as dificuldades e as possibilidades
dos sujeitos e sistemas.

(ABPp, 2019)]

É papel deste profissional potencializar a capacidade de aprendizagem do


seu paciente levando em consideração os problemas e distúrbios que este possa
ter, sempre pensando, dentro deste âmbito, em trazer uma melhoria e uma
superação para este individuo.
Este tópico aborda alguns problemas de aprendizagem, mais especificamente
os que foram queixa do paciente que passou pela avaliação Psicopedagógica
realizada em virtude de Estágio Obrigatório.

2.2.1. TDAH

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno


neurobiológico que pode se manifestar na infância e acompanhar o sujeito por toda
a vida. Seus sintomas mais comuns são: desatenção, inquietude e impulsividade.
Embora haja controvérsias sobre a existência do TDAH, ele é reconhecido por
diversos países e pela Organização mundial da Saúde (OMS), inclusive em alguns
países existem leis que protegem os portadores deste transtorno, principalmente
quanto ao terem um tratamento diferenciado no ambiente escolar.
Este transtorno tem uma prevalência de 3 a 5% entre crianças e adolescentes
que são encaminhados para serviços especializados de diversas regiões do mundo
(Associação Brasileira de Déficit de Atenção, 2021). Segundo os pesquisadores
Andrade e Scheuer (2004) este transtorno é motivo de 30% a 50% dos atendimentos
em saúde mental nos Estados Unidos. E, ainda, foi reconhecido como “um dos
problemas mais graves e importantes da saúde publica americana” (Caliman, 2008,
p. 560). O TDAH é uma realidade e em muitos casos acompanha os pacientes na
vida adulta, embora alguns sintomas sejam amenizados com a idade.
Dos sintomas mais facilmente observados em crianças são a inquietude e
agitação. Principalmente no período pré-escolar essas crianças movem-se a todo o
momento e dificilmente ficam sentadas por longos períodos de tempo. São pessoas
que tem dificuldades em manter a atenção em atividades repetitivas, longas o que
não lhes são interessantes.
Distraem-se com facilidade com o ambiente externo, mas, também, podem se
distrair com os próprios pensamentos, costumam cometer muitos erros por
distração. Devido à atenção ser um componente fundamental para a cognição e a
aprendizagem, uma vez que tem relação direta com o funcionamento da memória,
normalmente, estes indivíduos acabam retendo poucas informações ou
esquecendo--as. Contudo, essas características de agitação e esquecimento podem
ser alteradas quando se trata de algo que o interesse muito, pois ativa sua zona de
prazer e favorece a concentração e atenção.
Outro sintoma é a impulsividade, costumam agir sem ponderação de seus
atos, interrompem os outros, não esperam a vez e agem sem pensar nas
consequências de seus atos. Normalmente quando associada à agressividade, pode
trazer grandes problemas para as relações sociais e fazer com que o sujeito se
coloque em situações de risco.
O TDAH tem chamado atenção e a apesar da sua relevância, o diagnóstico
ainda é controverso devido à grande variância em taxas de prevalência encontradas.
Os critérios e as diferenças metodológicas para diagnóstico estabelecidos pelo
Manual de Diagnostico e Estatística de Desordens Mentais – DSM-IV são subjetivos
são responsáveis pelas discrepâncias quanto aos sintomas do transtorno.
O DSM-IV (2002) estabelece que devam ser identificados ao menos 6
sintomas, tanto para desatenção o quanto para hiperatividade e impulsividade. Estes
sintomas devem estar presentes pelo menos por 6 meses com intensidade e
frequência acima da média e do nível de desenvolvimento da criança, assim,
gerando problemas para o indivíduo em qualquer esfera da sua vida. Além de que
estes devem acontecer em ao menos dois ambientes diferentes e que sejam
observados antes dos 7 anos.
Este transtorno é multifatorial e da mesma forma deve ser o seu diagnóstico,
ou seja, multifacetado. Ele envolve muitos fatores e, por vezes, uma equipe
multidisciplinar (psiquiatra, neurologista, neuropediatra etc.). Como não há um teste
específico, torna-se necessário observar e obter dados de diversas áreas e
situações diferentes.
TDAH não é um problema especifico do aprendizado, contudo o seus
sintomas afetam diretamente a capacidade de aprender do sujeito, como a
desatenção e inquietude, portanto é necessário que o tratamento seja multimodal,
ou seja, uma combinação de medicamentos, terapias, orientação aos pais e
professores e, também, técnicas que o portador deve aplicar no seu dia a dia.
A importância de se diagnosticar e tratar o TDAH desde cedo é evidente e
conhecida, visto que a descoberta tardia pode acarretar em muitas consequências
para o individuo. Em crianças há a dificuldade de ater-se aos detalhes, concluir
atividades, organizar ideias, planejar, memória de curto-prazo. Em muitos casos
relaciona-se ao insucesso educacional, baixo desempenho profissional, perda de
renda familiar, impacto econômico e social (Biedman, 2006; Rohde & Halpern,
2004).

2.2.2. TEA

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) um transtorno neurobiológico


complexo do desenvolvimento comportamental que pode se manifestar em
diferentes graus. Este transtorno apresenta-se com alterações no comportamento
social, comunicação e linguagem. Ele altera como as células nervosas se
comunicam e se organizam afetando o processamento de informações.
Com o crescimento em pesquisas e informação têm aumentado o número de
diagnósticos no mundo todo. Considera-se que 1 a 2 milhões de brasileiros entejam
dentro dos critérios para o espectro autista, sendo que 400 a 600 mil com menos de
20 anos, e entre 120 e 200 mil menores de 5 anos (IBGE, 2000).
Estima-se que 1 a cada 160 crianças se enquadre no TEA. Os primeiros
sinais podem ser observados em bebês de poucos meses. Uma criança dentro do
espectro autista geralmente tem dificuldade de interagir socialmente, como manter
contato visual, expressões faciais, expressar emoções e fazer amizades. Também
apresentam dificuldades na comunicação e acabam utilizando linguagens repetitivas
e podem ter bloqueio para começar e manter um dialoga. Podem apresentar
alterações comportamentais como manias, apego a rotinas, ações repetitivas,
interesse intenso por assuntos e coisas especificas, dificuldade de imaginação e de
entender linguagens figuradas e sensibilidade sensorial (hiper ou hipo). Por vezes,
podem apresentar agressividade com os outros e consigo mesmos. Sintomas que
estão presentes desde a infância e limitam ou prejudicam o funcionamento diário do
indivíduo (APA, 2014).
As subcategorias fazem parte do TEA, e o comprometimento pode ocorrer em
três níveis de gravidade. No nível um, o indivíduo exige apoio; no nível dois, exige
apoio substancial; e no nível três exige muito apoio substancial (APA, 2014).
Os primeiros sintomas de TEA podem começar a ser observados entre 1 e 2
anos de idade. Dependendo do grau de seriedade dos atrasos de desenvolvimento
de cada criança podem ser percebidos antes ou depois deste período. Contudo, um
diagnóstico mais assertivo só pode ser feito após os 3 anos de idade, uma vez que
este é feito, principalmente, pela observação direta do comportamento e um
entrevista com os pais e/ou cuidadores que pode incluir testes e exames
confirmatórios. Considerando-se que o TEA se manifesta em diversos graus e
comumente os de grau mais leve acabam sendo confundidos com outros
comportamentos, como timidez, excentricidade ou falta de atenção, é importante um
acompanhamento médico multidisciplinar para um diagnóstico e tratamento mais
efetivo. Existem dois manuais que são os mais utilizados no Brasil e
internacionalmente para diagnostico, são eles: O CID e o DSM.
Quanto mais precoce o diagnóstico mais rápida a busca por especialistas,
mais efetivo o tratamento e, portanto, melhor o desenvolvimento desta criança.
O tratamento envolve intervenções de uma equipe multidisciplinar de
médicos, fonoaudiólogos, pedagogos, terapeutas ocupacionais, psicopedagogos,
entre outros, além da insubstituível orientação e treinamento dos pais e/ou
cuidadores, pois o contexto familiar é fundamental para o aprendizado de
habilidades sociais e reforço de comportamentos adequados. Um programa de
intervenção personalizado é o mais indicado, pois nenhuma pessoa com autismo é
igual à outra.
Diferentes terapias são associadas para testar e melhorar as habilidades
sociais, comunicativas, adaptativas e organizacionais. Regularmente, essas terapias
podem ser combinadas com medicações para tratar condições relacionadas, como
insônia, hiperatividade, agressividade, falta de atenção, ansiedade, depressão, entre
outros. Entretanto, é importante enfatizar que não existem medicamentos
específicos para o tratamento do autismo.
TEA é um transtorno que vai além de sua complexidade e está longe de ser
definido com exatidão, pois não existem meios de testá-lo e muito menos de medi-lo.
Portanto, as pesquisas que estão sendo realizadas ultimamente estão distantes de
apresentarem algo parecido com uma “cura” e, então, está condição acaba
acompanhando o individuo por toda a sua vida.
Capítulo III

AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

3.1. Informe Psicopedagógico


Este capítulo trata-se da avaliação psicopedagógica do paciente supracitado,
delineando todas as dificuldades observadas e as sugestões de acompanhamento e
intervenção.

NOME: JOÃO OTÁVIO FREVIZOLI


DATA DE NASCIMENTO: 17/06/2010
PERÍODO DE AVALIAÇÃO: 10/03/2020 a 22/09/2020 (DE 17/03 A 01/09 –
PAUSA REFERENTE A PANDEMIA COVID19.)
ESCOLA: EMEF E EJA “MARIA VICENÇOTTI”
SÉRIE: 5º ANO
ESTAGIÁRIO: LEONARDO JOAQUIM

A título de socialização das informações segue abaixo o informe, resultante


da análise e avaliação de:
JOÃO OTÁVIO FREVIZOLI, nascido em 17/06/2020 atualmente com 10 anos
de idade.
Foi encaminhado para avaliação psicopedagógica pela Escola EMEF E EJA
“MARIA VICENÇOTTI”.
O encaminhamento psicopedagógico, partiu da queixa de que o paciente em
questão apresenta um quadro de desatenção e dificuldade de aprendizagem.
Queixa esta que se confirma durante as sessões de avaliação realizadas com
o paciente. Demonstrando uma baixa concentração e paciência quando a atividade
realizada é longa ou não lhe interessa, além de apresentar problemas no vínculo
com a escola e aprendizagem.
A avaliação se deu no período de 10/03/2020 a 22/09/2020 (com uma pausa
entre 17/03 e 01/09/2020, referente à pandemia COVID19), com um encontro
semanal com duração de 1 hora de análise diagnóstica.
No diagnóstico foram utilizados os seguintes recursos avaliativos:
- Entrevista com a mãe do paciente e Anamnese;
- Primeiro encontro com o paciente;
- E.O.C.A
- Provas Piagetianas: conservação de volume, massa, intersecção de classes
e inclusão de classes.
- Verificação de algumas atividades pedagógicas: ditado de palavras, régua
numérica e atividades matemáticas.
- Provas projetivas: jogo da memória, incluindo, os desenhos projetivos.
Foi possível constatar que o comportamento apresentado até então, reflete
questões múltiplas resultantes da construção e constituição do sujeito e das relações
estabelecidas com os ensinantes e com o mundo.
No aspecto corporal, o analisado queixou-se de dor ao escrever por muito
tempo, levantando-se a hipótese de Dor Gráfica, mas que, durante as sessões e
testes seguintes realizados referentes a esta queixa, mostrou ter sido algo pontual e
não relacionado a algo construído psicologicamente pela relação com a escola.
Sendo assim, descartado tal ponto.
Na área cognitiva detectaram-se, algumas dificuldades matemáticas, citadas
inclusive pelo próprio paciente, referente à divisão e a multiplicação.
Possuí dificuldades quanto à competência linguística, na escrita de palavras
com S, Z e X, quando essas letras possuem o mesmo som.
No nível afetivo-social, foi percebido baixo estima, além de sentimentos como
exclusão, o que dificulta a formação dos vínculos importantes para seu
desenvolvimento afetivo.
No aspecto pedagógico apresenta dificuldades próprias, impedindo que se
estabeleçam vínculos com o conhecimento, devido à baixa estima apresenta falta de
criatividade e interesse nas atividades propostas, demonstrando um cansaço mental
rápido resultando, então, em queixa de baixa memória e atenção, estes, também,
resultantes do seu diagnóstico de TDAH. Além das dificuldades nas relações
estabelecidas com seus ensinantes.
O paciente traz um histórico de falta de apoio escolar e falta de rotina de
estudos em casa, deixando de realizar atividades escolares e, assim, causando uma
defasagem de conhecimentos referente ao ano escolar.
Faz-se necessário que sejam estabelecidos, estímulos significativos para que
se estruturem novas formas de pensar.
Portanto quanto às recomendações necessárias ao seu desenvolvimento,
considera-se:
1)    Criação de um espaço e rotina para estudos dentro de casa, a fim de
criar um vínculo de responsabilidade e importância com a escola e com o que é
aprendido.
2)    Atividades de escrita e leitura para que se haja um enriquecimento no
vocabulário e, por conseguinte, na escrita.
3)    Troca de professora, a fim de que os vínculos afetivos com os elementos
da aprendizagem possam ser estabelecidos.
4)    Sugerimos a intervenção psicopedagógica clínica de apoio, bem como
acompanhamento psicológico para trabalhar o afetivo-social referente à baixa estima
e criatividade, além de estabelecer um acompanhamento referente ao diagnóstico
de TDAH.
5) Sugerimos uma avaliação neurológica para investigação do TDAH e TEA
(para uma nova avaliação referente ao diagnóstico anterior apresentado pela
psicóloga) para referendar comportamentos característicos não observados na
avaliação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A psicopedagogia no Brasil está caminhando e tem um longo percurso para


ser reconhecida corretamente e entendida como uma especialidade a parte da
psicologia e pedagogia. Tem sido valorizada desde o reconhecimento de algumas
que são hoje as principais dificuldades de aprendizagem, como o TDAH e, então
este profissional vem sendo muito procurado para o tratamento acarretando um
crescimento exponencial para a profissão.
As dificuldades e os transtornos de aprendizagem são problemas que estão
no dia a dia dos pacientes e causam grandes perdas, não somente na
aprendizagem, mas também socialmente e emocionalmente trazendo transtornos
psicológicos ao aluno e ao seu desempenho escolar.
Cada dificuldade possui sua particularidade e o seu nuance, podendo ser
quase imperceptível ou grave, por isso uma avaliação minuciosa por uma equipe
multidisciplinar se faz necessária e é o mais indicado para se ter um diagnóstico
mais assertivo.
O psicopedagogo deve ter um olhar treinado e clínico para observar cada
detalhe e ter um olhar particular para cada paciente tentando entender a sua
dificuldade e, assim, intervir da melhor forma possível para amenizá-la e trabalha-la
para, então, potencializar a capacidade de aprendizagem deste individuo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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<https://tdah.org.br/sobre-tdah/o-que-e-tdah/> Acesso em: 10 jan. 2021

ABRACI: Associação Brasileira de Autismo Comportamento e Intervenção.


Diagnóstico. Disponível em: <https://abracidf.com/index.php/autismo/diagnostico/>
Acesso em: 12 jan. 2021.

AMA: Associação de Amigos do Autista. Diagnóstico. Disponível em:


<https://www.ama.org.br/site/autismo/diagnostico/> Acesso em: 15 jan. 2021

BOSSA, Nadia A. A psicopedagogia no Brasil contribuições a partir da prática. 5. ed.


Rio de Janeiro: Wak Editora. 2019.

DOMINGOS, Neide Micelli; LARROCA, Lilian Martins. TDAH – Investigação dos


critérios para diagnóstico do subtipo predominantemente desatento. São Paulo:
Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional.
Volume 16, número 1. 2012.

Código de Ética do Psicopedagogo. Disponível em:


<https://www.abpp.com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html>. Acesso em:
15 dez. 2020.

JUNIOR, Wilson de Mello; MARTINUCCI, Bruno; JUNIOR, Luiz Antonio Lupi;


MATHEUS, Selma Maria Michelin. Neurobiologia da aprendizagem escolar. II
Congresso Nacional de Formação de Educadores. XII Congresso Estadual Paulista
sobre Formação de Educadores.

Organização Mundial da Saúde, OMS. CID 10 – Classificação De Transtornos


Mentais e de Comportamento: Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas. Porto
Alegre: Artmed, 1993
SAMPAIO, Simaia. Manual Prático do Diagnóstico Psicopedagógico Clínico. 7. Ed.
Rio de Janeiro: Wak Editora. 2018.
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