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O PAPEL DA PESQUISA NO ENSINO MÉDIO POLITÉCNICO

Paulo José Menegasso


(pjmenegasso@hotmail.com)

RESUMO
Busca-se um novo enfoque ao Ensino Médio, que parece não cumprir o papel de
preparação do estudante para a graduação e nem mesmo para o exercício da cidadania.
Com objetivo de apresentar alternativas, este trabalho analisa o processo de ensino
politécnico numa escola pública. A fundamentação dessa proposta está apoiada no
educar pela pesquisa que tem como objetivo incentivar o questionamento dentro de um
processo de reconstrução de conhecimento. Segundo Moraes (2002) esse processo pode
ser entendido como a produção de um conhecimento inovador que inclui interpretação
própria, formulação pessoal, saber pensar e aprender a aprender. No Colégio Estadual
Dom João Becker existe, desde 2006, uma experiência com enfoque em competências e
habilidades integrando diversas áreas de conhecimentos e suas tecnologias, com os
eixos Cultura, Ciência, Tecnologia e Trabalho. Utilizando-se essa experiência, há
atualmente um processo de construção de projetos de pesquisa em cinco turmas de
primeiro ano do Ensino Médio diurno envolvendo cerca de cento e sessenta alunos. A
atividade está centrada no aluno, onde de forma individual ou em duplas estão
elaborando passo a passo a construção de projetos em temas por eles definidos e
constantes em quatro eixos previstos do programa proposto pela Secretaria da Educação
do RS. A orientação docente ocorre em turno inverso, e pela internet utilizando-se das
novas mídias e redes. Os docentes em ações multidisciplinares orientam diversos grupos
de alunos extrapolando os limites de aula, de assunto, e de atividade. Um grande
movimento cultural e uma quebra de paradigma das atividades do Ensino Médio
parecem indicar como uma importante atividade na construção de novos saberes
elevando o nível cultural dos alunos do primeiro ano do Ensino Médio no campo da
ciência e tecnologia. Segundo Demo (1997) a pesquisa assume importante papel nesta
etapa da educação tornando-se uma maneira própria de aprender. O aluno passa de
objeto do ensino para parceiro de trabalho, assumindo-se sujeito do processo de
aprender, tornando-se um sujeito ativo e autônomo para criar, construir e articular
informações com os conhecimentos já adquiridos na busca de soluções para suas
inquietações. Finalmente, observa-se que na medida em que os alunos realizam as
atividades de pesquisa, tornam-se mais participativos, mais presente nas aulas e se
tornam mais dedicados à leitura e escrita elevando o seu nível cultural onde o centro do
processo está no aluno, a escola e os docentes são promotores e orientadores do
processo.

Palavras-chave: Ensino politécnico, Educação, Pesquisa.


INTRODUÇÃO

O presente trabalho analisa o processo e as atividades desenvolvidas durante o


período letivo de 2012, no Colégio Estadual Dom João Becker acerca do modelo de
ensino politécnico. A fundamentação dessa proposta está apoiada no educar pela
pesquisa que tem como objetivo incentivar o questionamento dentro de um processo de
reconstrução de conhecimento.
Segundo Moraes (2002) esse processo pode ser entendido como a produção de
um conhecimento inovador que inclui interpretação própria, formulação pessoal, saber
pensar e aprender a aprender. Nesse colégio existe, desde 2006 uma experiência com
enfoque em competências e habilidades integrando diversas áreas de conhecimentos e
suas tecnologias, com os eixos Cultura, Ciência, Tecnologia e Trabalho. Utilizando-se
essa experiência, realizou-se um processo de construção de projetos de pesquisa em
cinco turmas de primeiro ano do Ensino Médio diurno envolvendo cerca de cento e
sessenta alunos, organizados em 65 grupos e cada grupo num único projeto de pesquisa.
As atividades de orientação foram em sala de aula, e em turno inverso com dois
períodos semanais e pela utilização das mídias sociais. Tem sido de grande aprendizado
para ambos uma vez que esta atividade foi planejada para ser desenvolvida durante o
ano letivo de 2012.
Concordamos com Galiazzi (2004) ao afirmar que o desenvolvimento da
pesquisa em sala de aula em grupo com alunos sempre envolve questionamento,
argumentação e validação. A sala de aula em grupos tem mostrado ser um espaço
profícuo de enriquecimento das teorias sobre os processos, sempre complexos, de
ensino e aprendizagem presentes em sala de aula e, dessa forma, contribui para a
consolidação de um conhecimento profissional mais enriquecido e fundamentado em
cada um dos participantes.
A educação deve levar o jovem a ser um ser pensante, capaz de ponderar,
observar valores e agir com autonomia e responsabilidade. Enfim, deve libertar a pessoa
(FREIRE, 1972).
O processo inicialmente, além do planejamento de todas as etapas, se constituiu
de um processo de formação e discussão pelos docentes autores desse artigo e que
semanalmente se reuniram com os alunos para orientação e coordenação.
Para reflexão e suporte teórico dos docentes no processo oportunizou-se pelo
coordenador do processo de um resumo de cinco textos subsídios de fundamentação
teórica do processo contendo as perspectivas epistemológicas tradicionais, o empirismo
e racionalismo, o positivismo como doutrina científica, o círculo de Viena, observações
epistemológicas de Gaston Bachelard, síntese do pensamento de Feyerabend, o
humanismo e o anarquismo epistemológico, a estrutura das revoluções científicas de
Tomas Khun, síntese de Karl Popper e o racionalismo crítico.
Esses textos foram importantes porque também os docentes se formam com um
embasamento filosófico do processo ensino aprendizagem que o processo suscitou.

MATERIAIS E METODOS

Os projetos foram planejados para atender a metodologia científica onde os


alunos desenvolvem durante o ano letivo os passos previstos.
Um docente orientou duas turmas e os demais cada um uma turma inclusive no
turno normal e no inverso.
Cada docente ao longo da semana pela internet, em e-mails, e nas redes sociais,
Facebook, Orkut, Twiter e em blogs, orientou seus alunos para a construção de cada
projeto, escrita, reescrita, críticas, reflexões e busca de novas informações, em livros,
site, e entrevistas pessoais em alguns casos.
Todos os projetos foram desenvolvidos pelos alunos e na sua redação final,
corrigida. Apresentadas com abstract na forma de artigo com inglês, espanhol, e
português, lidos nas diversas línguas no dia da apresentação aos pais e comunidade
escolar.
Cada projeto foi escrito segundo as normas contendo uma capa, o título, nome
dos autores, local e data do projeto (mês e ano), Introdução (contendo o problema da
pesquisa, hipóteses, objetivos e justificativa) (Obs – os objetivos e hipóteses de
pesquisa podem ser apresentados em um item à parte), Revisão da literatura (ou da
produção científica já acumulada sobre o tema), Materiais e métodos (ou Metodologia),
Cronograma, Orçamento, Referências bibliográficas.
A avaliação estava prevista por competências e habilidades, atendendo
minimamente a metodologia científica para projetos de pesquisa semelhantes ao
processo na graduação.
No quadro 1, mostrado a seguir, constam as competências e habilidades
esperadas dos discentes após o desenvolvimento do trabalho.
Quadro 1 – Competências e habilidades pretendidas com a pesquisa

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para Coll (1994), no ensino-aprendizagem escolar e construção do conhecimento

o fio condutor é a problemática da aprendizagem escolar, vista da perspectiva

construtivista como o resultado de uma interação entre três elementos: o aluno,

construtor dos significados; os conteúdos, objetos de aprendizagem; e o professor,

mediador entre ambos.

Quando se questiona se a construção dos projetos de pesquisa como um processo

de iniciação cientifica realizada é um caminho correto para ser seguido e aprimorado na

construção do conhecimento, o registro de um aluno parece indicar nesse sentido:

Considero a de iniciação científica um marco no processo de aprendizagem


na escola onde somos submetidos a buscar algo até então desconhecido, isso
é pesquisa. É viajar no mundo do conhecimento, da leitura de artigos,
revistas, livros, sites, blogs, jornais.
Entende-se que isso não é o bastante, pois para que um aluno-pesquisador tenha

êxito em seus trabalhos é necessário que o mesmo tenha uma base de apoio. Lamenta-se

que essa cultura de apoio, compromisso, participação efetiva não foi suficientemente

compreendida pela comunidade escolar, e nem se tem conseguido apoio financeiro.

Acredita-se que a proposição de utilizar a pesquisa como um processo de

aprendizagem se constitui como um fio condutor que move a curiosidade do aprendiz,

para o processo de construção do conhecimento, e que independe das disciplinas e dos

conteúdos, mas que se utiliza de informações de todas elas, tornando-se um processo

motivador para o aluno que retoma seus estudos regulares, porque além da descoberta

ele se constrói como cidadão, como ser pensante e proponente de alternativas científicas

e tecnológicas (MENEGASSO, 2011).

A maioria deles menciona que a pesquisa é uma busca de conhecimento, que os

motiva neste processo de fazer ciência, e que se torna mais claro no final de cada

semestre quando apresentam os resultados de seus projetos de pesquisa num seminário

e tem se constituído em um momento de divulgação de ciência na escola.

Numa escola pública, onde muitas vezes não há material para experimentação

científica, nem apoio para a realização de pesquisas, é uma ousadia dos alunos

conseguirem inovações partindo de seus questionamentos e conhecimento popular

adquirido com suas experiências de vida. Isto é uma demonstração clara de habilidades

e competências construídas durante o processo de aprendizagem.

Aprimorar a iniciação científica através da superação das dificuldades apontadas

pelos alunos e docentes que vivenciaram o processo deve ser nossa meta. Precisamos

envolver os professores na construção de uma cultura de ciência de orientação aos

alunos na construção de projetos de pesquisa.


Neste sentido, a educação pela pesquisa é, de acordo com o pensamento de

Demo (1997, p. 12) uma proposta de:

instrumentalização da cidadania, não dos fins da educação, que


permanecem os mesmos (cidadania, humanismo, afeto e auto-
afirmação, visão global do ser humano). Assim, em termos de
instrumentação parece evidente que a construção do conhecimento é
a arma primordial da equalização de oportunidades.

A cultura de ciência através de pesquisa mostrou-se um instrumento motivador

que deve ser aprimorado, pois os alunos se envolvem e adquirem habilidades que os

programas das disciplinas não contemplam. A qualificação de técnicos em química

capazes de resolver problemas utilizando os projetos tem sido muito maior que o ensino

regular previsto no programa escolar.

CONCLUSÃO
Observou-se que na medida em que os alunos realizam as atividades de
pesquisa, que ocorreram durante todo o ano de 2012, tornaram-se mais participativos,
mais presente nas aulas e se tornaram mais dedicados à leitura e escrita elevando o seu
nível cultural onde o centro do processo está no aluno, a escola e os docentes são
promotores e orientadores do processo.
As apresentações dos seminários e as bancas na forma de feira de ciências
oportunizou aos alunos uma experiência rica de diálogo, determinação e de grande
satisfação pessoal ao explicar a cada visitante e aos ouvintes a pesquisa, seus resultados
e o que tem aprendido no processo.
Uma das orientadoras prof. Miriam, autora desse artigo diz que a satisfação e a
gratidão dos alunos tem sido no valor de dez mil reais por mês, mais que os
microscópicos, salários recebidos, e que nem todos os docentes aproveitaram o processo
e o momento histórico. Outros professores Nei e Vilson manifestam grande satisfação
de ver que o processo apesar das dificuldades e de que nem todos os alunos
participaram ativamente foi muito positivo. As professoras Rosaeli e Rosane, afirmam
que foi um processo difícil mas muito recompensador, pela dedicação e desempenho do
grupo de alunos que levaram até o final suas pesquisa e que apontaram dados
importantes como a redução da reprovação escolar analisada nos últimos cinco anos.
A supervisora escola Maria Limasil observou que no início do ano letivo quando
o processo foi apresentado aos pais dos alunos havia um certo receio de que os mesmos
não iriam estudar os conteúdos das disciplinas mas que no final o processo mostrou que
a pesquisa alargou os conhecimentos e ampliou a dedicação dos alunos aos estudos e
que os pais ficaram muito orgulhosos de ver seus filhos apresentando seminário e o
resultado das pesquisas à comunidade escolar. O coordenador do processo ponderou que
a qualidade de muitos dos trabalhos apresentados se equivale aos de graduação e que
nós docentes também aprendemos no processo.

REFERÊNCIAS

COLL, C. Aprendizagem escolar e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artes


Médicas, 1994.

DEMO, Pedro, Pesquisa e Construção de Conhecimento. Rio de Janeiro: Tempo


Brasileiro 1997.

DEMO, Pedro. “Educar pela Pesquisa”. Campinas: Autores Associados, 1997.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1972.

GALIAZZI, Maria Carmo. A natureza pedagógica da experimentação. Química Nova,


v. 27, nº 2, p. 326-31, 2004.

MENEGASSO, Paulo José. Análise de uma proposta de ensino de compostos


inorgânicos e reações químicas, e da pesquisa de iniciação científica no ensino
profissionalizante pós-médio. Dissertação (Mestrado em Programa de Pós-graduação
em Educação em Ciências). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
2011.

MORAES, Márcia Cristina. Do Ponto de Interrogação ao Ponto: a utilização dos


recursos da internet para o educar pela pesquisa. Porto Alegre: Ed. da Autora, 2002.

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