Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
INTRODUÇÃO.
Para Edwin L. Herr (2011), o século XX foi o mais produtivo em relação à preocupação
técnica no desenvolvimento e implementação de intervenções no campo da orientação
profissional, apesar de haver registros antes de 1900, de atividades nesse sentido,
que, segundo ele, “demonstraram a forma como diferentes sociedades praticavam a
ajuda às pessoas, no que respeita às questões do trabalho ou, mais precisamente, o
modo como se colocavam as pessoas num trabalho em função da sua condição social
ou casta, ou objetivos políticos” (p. 13).
Ele ainda observa, que “as abordagens contemporâneas das intervenções de carreira
são, na Europa, América do Norte e, mais recentemente, na Ásia, África e América do
Sul, essencialmente, manifestações do século XX” (p. 13). E que as abordagens desse
século, se configuraram nas duas últimas décadas do século XIX, nos serviços diretos
com adolescentes e adultos, nesse período e nas primeiras do século XX. Durante tal
período, surgiram relevantes trabalhos de investigações que configuraram o quadro
teórico, como também o surgimento das intervenções de carreira.
Pode-se citar como os pioneiros na área, segundo Herr (2011), na França, Alfred
Binet, com seus testes de inteligência; Spranger, na Alemanha, por ter estudado “a
relação entre os tipos de personalidade e os diferentes tipos de emprego; as
investigações de Munsterberg, também na Alemanha, nas áreas de escolha
vocacional e do rendimento do trabalho”, como também nos “Estados Unidos, sobre o
estudo dos problemas educacionais e da carreira dos estudantes”, contribuições de
Jesse B. Weaver e de Eli Weaver (p. 13). Além de outras.
Apesar de não haver, na ocasião, bases científicas ou teóricas que fundamentassem
tais “modelos de intervenções de carreira destinadas a melhor compreender e a
facilitar o ‘comportamento na carreira’ dos indivíduos, ou mesmo conhecer de que
forma as diferenças culturais poderiam estar refletidas nessas mesmas intervenções”
(pp. 13-14), devem-se reconhecer tais pessoas como os escultores da arte de orientar
pessoas para a vida profissional. Eles deram o ponto de partida para uma área que,
hoje, apesar da diversidade de modelos existentes, ainda há muito que fazer.
Ele se refere à abordagem traço e fator, de Frank Parsons[3], como a mais conhecida
e venerada. Essa abordagem na atualidade ainda é respeitada. Partes dos seus
pressupostos foram tomados emprestados por outros modelos de intervenção em
orientação profissional. Herr (2011) acrescenta que “o particularmente importante no
modelo de Parsons é que este constituiu uma base conceitual que direcionou, durante
o século XX, muitas das investigações sobre carreira”. E, que ao modelo inicial foram
acrescentados outros passos, e “estabelecidas as bases científicas que
fundamentaram cada um dos três passos do referido modelo: identificar e medir as
diferenças individuais, apresentar as diferenças do conteúdo das atividades dentro de
cada profissão, e clarificar os elementos do processo de tomada de decisão” (p. 16).
Desse modo, Herr coloca o leitor a par dos elementos básicos da teoria traço fator.
Em meados desse mesmo século (em referência ao século XX), surge uma nova visão
acerca da orientação vocacional, isso se deu através do argentino Rodolfo
Bohoslavsky (2015), que, contrário à psicotécnica, lança as bases de uma orientação
vocacional na abordagem clínica, cujo modelo teórico preconiza o sujeito como dono
de sua própria escolha. Então, a estratégia clínica passou a servir de norte para o
processo de orientação do adolescente em situação de escolha profissional, entre os
argentinos e posteriormente entre os brasileiros.
Destarte, investigar sobre a teoria proposta por Bohoslavsky, nas suas possibilidades
de intervenção na orientação de jovens em situação de escolha será o principal norte
desse trabalho. Para isso, será utilizada a metodologia denominada de pesquisa
bibliográfica, com o intuito de respondera à seguinte pergunta: como se dá o processo
de orientação vocacional na abordagem clínica de Bohoslavsky?
Em 1960, ele lança o livro “Orientação Vocacional: uma estratégia clínica”, que traz os
fundamentos da sua abordagem. Nesta obra, “propõe a compreensão do indivíduo
como sujeito de escolhas, numa crítica à modalidade psicométrica em Orientação
Vocacional que tomava o indivíduo como objeto de sua intervenção”. De nítidas bases
psicanalíticas, ele preconizava que: “o vocacional seria uma resposta do sujeito a
quem ele é, não ao que ele faz, da ordem do ocupacional” (Ibid., p. 120).
Bohoslavsky veio para o Brasil, convidado pela Professora Maria Margarida Carvalho,
a fim de ministrar aulas baseadas no livro que lançara, fundando aqui, “todo um modo
de trabalhar, denominado de abordagem clínica”. Influenciando sobremaneira a
Orientação Profissional no Brasil, particularmente na Psicologia. (Id.)
Descontente com o tratamento que a ele foi dispensado na USP, ele se muda para o
Rio de Janeiro, onde continua com suas atividades de orientador e leva uma vida
boemia. Morre em 1977, deixando outro livro, cujo título é: Vocacional: teoria, técnica
e ideologia. Nessa obra, ele reformula a estratégia clínica e a aproxima do social, além
de outros temas.
ORIENTAÇÃO VOCACIONAL/OCUPACIONAL
A PSICOLOGIA CLÍNICA
Para Bohoslavsky (2015, p. 6-7), a psicologia clínica está caracterizada como uma
estratégia de se abordar o seu objeto de estudo, o comportamento humano. O autor
tem consciência de que essa afirmativa não é compartilhada com muitos outros
autores. Para ele, ‘estratégia’ é aludida ao tipo de ‘observação’ e de ‘atuação’ sobre o
comportamento humano, sem dar tanta importância ao que é observado ou mesmo
‘sobre o que se age’. Tal estratégia serve para se estudar tanto o comportamento
sadio, como o doente. Pode ocorrer no âmbito do trabalho, ou seja: psicossocial,
sociodinâmico, institucional ou consultório; no campo de trabalho familial, penal,
educacional, recreativo, ocupacional e outros. Como também em relação ao “propósito
de quem empregue tal estratégia em situação humana”, seja a fim de modificar,
compreender ou explicar ou, ainda na prevenção de dificuldades. O autor, ainda afirma
que, a observação é uma estratégia, além de ser “uma atuação autoconsciente sobre
a condição humana”.
A ESTRATÉGIA CLÍNICA
Segundo Bohoslavsky (op. cit., p.10), a estratégia clínica pode estar a serviço de se
conhecer, investigar, compreender, modificar o comportamento humano. Isso pode
acontecer tanto no âmbito psicossocial (individual), quanto no sociodinâmico (grupal),
como também nos âmbitos institucional e/ou comunitário. Afastando-se desse modo
da modalidade estatística.
Fonte: elaborado pelo autor a partir de Lehman et al., (2011, p. 125-127 (v1))
SOBRE A VOCAÇÃO
Percebe-se que tal tarefa carrega em si grande complexidade, desse modo, exigindo-
se do orientador, um conhecimento profundo na área, isso pressupõe também uma
continua formação a fim de levar a cabo tal tarefa. Pois “(…) sua prática, que atende a
uma imperiosa necessidade atual, requer não só a explicitação de técnicas e recursos
para uma análise exaustiva dos mesmos, como também a formulação de esquemas
conceituais pertinentes à sua temática específica” (Bohoslavsky, 2015, p. 2).
Mas adolescer é isso: é experienciar o novo, para que haja aprendizado. Será
imperioso que se aprenda a enfrentar as mudanças oriundas dessa nova fase, criando
estratégias para o seu enfrentamento. Isso será imprescindível que se aprenda a lidar
com as perdas, mas que mantenha a esperança de que há os ganhos, as vitórias; o
aprendizado.
Adolescer é deixar para trás, a infância, e com ela vão-se os modos infantis de ser.
Vão-se os cuidados que uma criança requer. Com a nova fase, novos
comportamentos serão requeridos, surge a necessidade da responsabilidade sobre si,
e sobre o outro. Surgem novos modos de pensar, de agir. Surgem cobranças, como
exigências da própria vida. Surge, então, um novo sujeito que deverá construir o seu
próprio caminho que servirá como exercício para a vida adulta. Surgem os medos, os
novos interesses. O adolescente precisará aprender a lidar com as mudanças que lhe
são novas. Desse modo, será necessário o apoio da família, da escola, da
comunidade, dos amigos, a fim de que possa enfrentar as responsabilidades que
advirão que o fará constituir-se enquanto sujeito de “ser-no-mundo”. Será necessário
aprender a enfrentar o turbilhão de eventos que podem imobilizá-lo diante de tantas
coisas novas que surgirão, quase que de repente. Tudo isso para anunciar um novo
alvorecer: a vida adulta.
Bohoslavsky (2015, p. 28) coloca que “para um adolescente, definir o futuro não é
somente definir o que fazer, mas, fundamentalmente, definir quem ser e, ao mesmo
tempo, definir quem não ser. Ainda, segundo o autor, se o adolescente se preocupar
“somente com o que fazer, o psicólogo deve restituir-lhe a parte da realidade que
esteja escamoteada”, desse modo, “terá que lhe mostrar que forma deve ser escolhe
ou quer escolher. E quando se preocupa somente com que coisa ser, terá que lhe
mostrar que relação tem a ocupação com (sic) concreta com esse modo de ser que se
propõe a assumir”. Assim, o psicólogo orientador, estará à disposição do orientando,
no sentido de guiá-lo à autopercepção, que se faz tão necessária no processo de
tomada de decisão.
Tais vínculos, segundo Bohoslavsky (2015) podem ser atuais, que são os “aspectos
manifestos e não manifestos da relação com o profissional. Condensam e expressam
vínculos passados (da história do sujeito) e potenciais (com o objeto do futuro, em
termos de projetos). O psicólogo concentrado nos vínculos atuais diagnostica os
vínculos passados e atua sobre os potenciais” (p. 29). Daí a importância do
estabelecimento do vínculo desde os primeiros contatos que se dão entre orientando e
orientador, pois isso facilitará todo o processo.
Rapidez e estereotipadas ou
Relação de objeto. Tolerância da
Escolha excessiva labilidade de cargas.
ambiguidade e da ambivalência.
Bloqueios afetivos.
Transtornos na elaboração de lutos.
Decisão Ação sobre a realidade. Projetos.
Fracasso no controle de impulsos.
O PROCESSO
DIAGNÓSTICO
PROGNÓSTICO
ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL
Espaço Individual
Tempo 15 a 20 sessões
SETTING
Frequência 1-2vezes por semana
Atitude Neutralidade
Atividade-
Ativo
Passividade
“Escuta” Todas as associações
Prospectiva – ligada ao desenvolvimento da
Interpretação
identidade vocacional
Interpreta-se apenas quando interfere no
TÉCNICA Transferência
enquadre
Semiaberto – Organizado em 3 momentos:
Planejamento [Diagnóstico, Prognóstico e Orientação
Profissional propriamente dita]
Predominância
Projetivas não gráficas (R-O, minibiografia,
das técnicas
etc.)
auxiliares
Testes [Weschler; TAT; BBT; EAP e outros]
PRINCIPAL PÚBLICO
Adolescente
ATENDIDO
Contribuir para que o entrevistado tenha
acesso a uma identidade vocacional através
OBJETIVO DO PROCESSO
da compreensão dos conflitos e situações
EM OP
que hajam impedido de aceita-la de modo
integrado e não conflitivo.
Colaborar no esclarecimento e na assunção
MEIO a uma identidade vocacional adulta de
maneira não diretiva.
Fonte: Adaptado de Marcos Lanner de Moura, 2014, p. 64
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
REFERÊNCIAS
LEHMAN, Y.P., Silva, F.F., RIBEIRO, M.A. & UVALDO, M.C.C.. Segunda demanda
chave para a orientação profissional: como ajudar o indivíduo a entender os
determinantes de sua escolha e poder escolher? Enfoque psicodinâmico. In: RIBEIRO,
M.A. & L.L. MELO-SILVA. (Orgs.). Compêndio de orientação profissional e de
carreira: perspectivas históricas e enfoques teóricos clássicos e modernos. (v.1,
pp.111-134). São Paulo: Vetor, 2011.
[1] Professor Sergipe/Brasil
[3] “Foi engenheiro, advogado e reformista social que se preocupou cada vez mais em
desenvolver técnicas para ajudar crianças, adolescentes e adultos a ficarem
verdadeiramente esclarecidos sobre os empregos à sua disposição. Parsons propôs
um modelo tripartido para quadro de referência das intervenções de carreira, que veio
a transformar-se na abordagem de intervenção mais popular do século XX; a
abordagem de traço e fator”. Herr (2011, p. 15).
Disponível em https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/orientacao-
vocacional-adolescentes