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Máquinas Hidráulicas Aplicadas à

Engenharia Mecânica
Claudio Monico Innocêncio
1 HIDRÁULICA

Apresentação

Data de tempos remotos a preocupação das empresas em sanear as necessidades do


mercado por meio de soluções inteligentes, possibilitando, assim, amenizar desafios
trazidos pela história, envolvendo a minimização de esforços e a melhor maneira de
utilizar as leis da Física e do conhecimento. A hidráulica é um destes bálsamos de alívio
para muitas racionalizações de esforços e de processos, na qual atinge vários ramos de
atividade, como as Engenharias Ambiental, Química, de Produção e principalmente a
Engenharia Mecânica, que traduziu e mitigou estas melhorias em vantagens individuais
e coorporativas.

1.1 Origem e histórico

O manuseio da água pelo homem se deve à necessidade de irrigação na antiga sociedade


agraria. De que se tem conhecimento, o primeiro projeto de irrigação aconteceu cinco
mil anos atrás no Egito.

Logo, se viu a necessidade do transporte de água, realizado por meio de tubos. Por volta
de 200 a.c. os romanos já utilizavam tubos de bronze e de chumbo.

Foi por meio dos sistemas hidráulicos que os romanos mostraram sua capacidade como
engenheiros, sendo que, durante 2000 anos, seus famosos aquedutos ficaram em uso.

Os trabalhos científicos de Arquimedes contribuíram com a hidráulica, sendo que, em


250 a.C., ele publicou um trabalho escrito sobre hidrostática que apresentou os
princípios do empuxo (Princípio de Arquimedes) e da flutuação, o que lhe rendeu o título
de o pai da hidrostática.

Sabe-se que, entre 500 a.c. e a Idade Média, na China, no Império Romano e na América,
tanto os sistemas de abastecimentos quanto o de irrigação foram edificados.

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Os romanos tinham dúvidas com relação ao conceito de velocidade e, após 1500 d.C,
houve o entendimento entre escoamento e precipitação. Foi nesse período que a
hidráulica começou a se desenvolver como ciência.

Em 1760, da École des Ponts et Chaussées, em Paris, foi fundada com intuito de organizar
os conhecimentos da engenharia, a primeira escola de engenharia do mundo nos
padrões atuais.

Daniel Bernoulli publicou, por volta de 1738, uma valiosa equação, isto é, a equação de
Bernoulli, mostrando, por meio de formulação, a conservação de energia na hidráulica.

Newton, Descartes, Pascal, Boyle e Leibnitz contribuíram para o surgimento da


Hidrodinâmica no século XVII.

A engenharia hidráulica possui como principais destaques, Euler, Clairaut e D’Alembert


e o já mencionado Bernoulli e teve muitos avanços nos séculos XVIII e XIX, durante o
período clássico da hidráulica.

No quadro 1.1, resumimos algumas contribuições de personalidades da Hidráulica na


história.

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Quadro 1.1 - Hidráulicos notáveis e suas contribuições

Fonte: JACOB, 2015.

1.2 Conceitos básicos

Sabemos que Hidráulica significa “condução de água”. Vem do grego hydor (água) e
aulos (tubo, condução).

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Um significado mais atualizado para a Hidráulica é o estudo do comportamento da água
e de outros líquidos, estando em repouso ou em movimento.

Dividimos a Hidráulica em:

 Hidráulica Geral ou Teórica - Possui uma proximidade com a Mecânica dos


Fluidos.
 Hidrostática - Estuda o comportamento dos fluidos em repouso ou em equilíbrio.
 Hidrocinemática - Trata a velocidades e trajetórias, não considerando forças ou
energia.
 Hidrodinâmica - Faz referência às velocidades, às acelerações e às forças que
atuam em fluidos em movimento.
 Hidráulica Aplicada ou Hidrotécnica.

A Hidrodinâmica trabalha sobre a ótica do fluido perfeito, isto é, uma diminuição do


atrito interno.

A praticidade da Hidrodinâmica é uma grande realidade, visto a utilização dos recursos


tecnológicos computacionais, facilitando o manusear de sistemas de equações
extremamente complexos.

Quando você aplica os conhecimentos práticos e científicos da Mecânica dos Fluidos,


temos a Hidráulica Aplicada ou Hidrotécnica, em função dos fenômenos relacionados à
água, quer parada, quer em movimento.

Os campos de atuação da Hidráulica Aplicada ou Hidrotécnica são:

 Atuação na área Urbana - Considerando os sistemas de abastecimento de água,


de esgotamento sanitário, de drenagem pluvial e de Canais.

 Atuação na área Rural - Considerando os sistemas de drenagem, os de irrigação,


os de água potável e de esgotos.

 Atuação nas Instalações prediais - Considerando instalações Industriais,


Comerciais, Residenciais e Públicas.

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Engenharia Hidráulica ou Hidrotécnica possui acessórios, materiais e estruturas práticas.
Estes são:

 Aterros;
 Barragens;
 Bombas;
 Cais de portos;
 Canais, comportas;
 Diques;
 Dragas;
 Drenos;
 Eclusas;
 Enrocamentos;
 Flutuantes;
 Medidores;
 Orifícios;
 Poços;
 Reservatórios;
 Tubos e canos;
 Turbinas;
 Válvulas;
 Vertedores;
 Etc.

1.3 Propriedades dos fluidos

Estas propriedades fornecem sustentação conceitual para nosso estudo futuro.

1.3.1 Fluidos

Fluidos são substâncias ou corpos cujas moléculas ou partículas têm a propriedade de


se mover umas em relação às outras sob a ação de forças de mínima grandeza.

Os fluidos podem ser divididos em líquidos e aeriformes (gases, vapores).


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Os líquidos têm uma superfície livre, ou seja, uma determinada massa de um líquido, a
uma mesma temperatura, ocupa só um determinado volume de qualquer recipiente em
que caiba, sem sobras. Eles são pouco compressíveis e resistem pouco a trações e muito
pouco a esforços cortantes, por isso se movem facilmente.

Os gases, quando colocados em um recipiente, ocupam todo o volume,


independentemente de sua massa ou do tamanho do recipiente. Eles são altamente
compressíveis e de pequena densidade, em comparação aos líquidos.

1.3.2 Massa específica, densidade e peso específico

A massa de um fluido em uma unidade de volume é denominada densidade absoluta,


também conhecida como massa específica (kg/m3) (density).

O peso específico de um fluido é o peso da unidade de volume desse fluido (N/m3) (unit
weight).

1.3.3 Compressibilidade

Quando falamos de compressibilidade, estamos nos referindo a propriedade que os


corpos têm de reduzir seus volumes sob a ação de pressões externas.

Considerando-se a lei de conservação da massa, um aumento de pressão corresponde


a um aumento de massa específica, ou seja, uma diminuição de volume. Assim temos a
equação 1.1:

dV = -α x V x dp

Onde:

α é o coeficiente de compressibilidade;

V é o volume inicial;

dp é a variação de pressão.

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1.3.4 Elasticidade

Em 1850, Berthelot descobriu uma propriedade que os líquidos têm de aumentar seu
volume quando se lhes diminui a pressão.

Mais tarde provou-se que o aumento de volume devido a uma certa depressão tem o
mesmo valor absoluto que a diminuição do volume para uma compressão de igual valor
absoluto.

Os gases dissolvidos afetam essa propriedade quando se trata de grandes pressões.

1.3.5 Viscosidade/Atrito interno

Este é um dos termos mais conhecidos na hidráulica, pois o atrito interno ou viscosidade
é a propriedade dos fluidos responsável pela sua resistência à deformação.

Define-se a viscosidade como a capacidade do fluido em converter energia cinética em


calor, ou a capacidade do fluido em resistir ao cisalhamento (esforços cortantes).

Conforme a Figura 1.1 mostra, temos:

Fonte: NETTO et al, 2018.

Figura 1.1 - Representação para estudo da viscosidade

Ao se considerarem os esforços internos que se opõem à velocidade de deformação,


pode-se partir do caso mais simples, representado pela Figura 1.1.

No interior de um líquido, as partículas contidas em duas lâminas paralelas de área (A)


se movem à distância (Δn), com velocidades diferentes (v) e (v + Δv).

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A segunda lâmina tenderá a acelerar a primeira e a primeira a retardar a segunda. A
força tangencial (F) decorrente dessa diferença de velocidade será proporcional ao
gradiente de velocidade (igual à velocidade de deformação angular). Conforme
mostramos na equação 1.2, também conhecida por Equação da Viscosidade de Newton.

“μ” = Coeficiente de Viscosidade dinâmica ou viscosidade, isto é, coeficiente


característico do fluido, em determinada temperatura e pressão.

Exemplo: Para a água a 20 oC e 1 atm, tem-se “μ” = 10–3 N × s/m2 = 1 centipoise.

Outro dado muito importante, por meio da divisão do valor da viscosidade “μ” pela
massa específica do fluido “ρ”, encontramos a “viscosidade cinemática” “Vcn”,
conforme a equação 1.3 abaixo:

Vcn = μ / ρ .........................................Equação 3

1.3.6 Atrito Externo

Chamamos de atrito externo à resistência ao deslizamento de fluidos ao longo de


superfícies sólidas.

Em função dos atritos e, em exponencial da viscosidade, o escoamento de um líquido


em uma canalização só ocorre com certa perda de energia, também chamada de “perda
de carga”, conforme identificamos na Figura 1.2.

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Fonte: NETTO et al, 2018.

Figura 1.2 - (a) Sem escoamento, princípio dos vasos comunicantes; (b) com
escoamento, perda de carga.

1.3.7 Coesão, adesão e tensão superficial

A primeira propriedade (coesão) permite às partículas fluidas resistirem a pequenos


esforços de tensão (tração). A formação de uma gota d’água deve-se à coesão.

Quando um líquido está em contato com um sólido, a atração exercida pelas moléculas
do sólido pode ser maior que a atração existente entre as moléculas do próprio líquido.

Ocorre, então, a adesão, conforme mostra a Figura 1.3.

A tensão superficial (τ) tem dimensional [MT–2] no (SI), exprime-se em N/m e varia com
a temperatura.

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Fonte: NETTO et al, 2018.

Figura 1.3 - Adesão de uma gota de água a materiais.

Onde:

α é o ângulo de contato (adesão).

1.3.8 Solubilidade dos gases

Os líquidos dissolvem os gases. Em particular, a água dissolve o ar, em proporções


diferentes entre o oxigênio e nitrogênio, pois o oxigênio é mais solúvel.

1.3.9 Tensão de vapor

Todo líquido tem temperaturas de saturação de vapor (tv) (quando entra em ebulição),
que correspondem a pressões de saturação de vapor ou simplesmente tensões de vapor
(pv).

1.4 Hidroestática

Relembrando, sua lembrança a Hidrostática trata dos fluidos em repouso ou em


equilíbrio.

Quando se considera a pressão (p), consideramos uma força à unidade de área sobre a
qual ela atua.

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Então, no interior de certa massa líquida, temos uma porção de volume V, limitada pela
superfície A conforme mostra a Figura 1.4 e, se dA representar um elemento de área
nessa superfície e dF a força que nela atua (perpendicularmente), a pressão será, de
acordo com a equação 1.4:

p = dF / dA

Fonte: NETTO et al, 2018

Figura 1.4: Representação do conceito de pressão

O termo empuxo é muito importante na hidroestática.

Considerando-se toda a área, o efeito da pressão produzirá uma força resultante que se
chama empuxo ou pressão total.

Essa força é dada pela equação 1.5:

Se a pressão for a mesma em toda a área, o empuxo será E = p × A.

1.4.1 Teorema de Stevin

Para iniciar o teorema de Stevin, vamos analisar a seguinte situação:

Digamos que exista uma cuba de vidro com certo líquido, cuja densidade absoluta seja
dada por ρ, e que esse líquido esteja em equilíbrio.

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Agora, vamos supor a existência de dois pontos contidos no líquido que está na cuba.
Para melhorar o entendimento, veja a representação esquemática, por meio da Figura
1.5:

Fonte: elaborado pelo autor

Figura 1.5 – Representação do Teorema de Stevin

Estando os pontos A e B situados a uma distância hA e hB, respectivamente, da


superfície do líquido, observe que as pressões devidas à coluna de líquido nesses pontos
são representadas pelas equações 1.6 e 1.7:

Realizando a subtração das equações, temos a equação 1.8:

Portanto, podemos gerar as equações 1.9 e 1.10:

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1.4.2 Princípio de Pascal

Você sabia que o freio do seu carro se baseia no princípio de Pascal? Note que, ao pisar
no pedal do freio, você exerce uma pressão sobre um fluido que está contido no sistema.
Esse fluido, digamos ideal, multiplica a sua força, que atua no sistema de freio das rodas.

Vamos começar pelo princípio de Pascal.

Observe que, em um líquido ideal, a pressão é transmitida igualmente em todas as


direções, devido à fluidez do líquido. Para demonstrar o princípio de Pascal, vamos
verificar o esquema a seguir, por meio da Figura 1.6:

Fonte: Elaborado pelo autor

Figura 1.6 – Representação do Princípio de Pascal

Considere os pontos A e B no interior do líquido incompressível em equilíbrio, de


densidade absoluta ρ, em um local de aceleração da gravidade dada por g. A diferença
de pressão entre os pontos A e B é dada pela equação 1.11:

Aumentando a pressão nos pontos A e B por um processo qualquer, eles sofrem um


acréscimo de pressão A Δpa e B Δpb, tal que as pressões passam a ser as equações 1.12
e 1.13:

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Uma vez que o líquido é incompressível, a distância entre os pontos A e B continua a
mesma.

Logo, geramos as equações 1.14 e 1.15:

Igualando as equações 1.11 e 1.15, temos a equação 1.16:

1.5 Hidrodinâmica

É importante lembrar que a Hidrodinâmica faz referência às velocidades, às acelerações


e às forças que atuam em fluidos e em movimento.

Falar de líquidos em movimento nos leva a distinguir dois tipos de movimento (Figura
1.7):

a) regime laminar (tranquilo ou lamelar);

b) regime turbulento (agitado ou hidráulico).

Com o regime laminar, as trajetórias das partículas em movimento são bem definidas e
não se cruzam.

O regime turbulento caracteriza-se pelo movimento desordenado das partículas.

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Fonte: NETTO, 2018.

Figura 1.7 – Regime de escoamento

Na Hidrodinâmica, temos que mencionar a Equação de Bernoulli.

Para se concentrar nos princípios de Stevin e Pascal, necessita-se, primeiramente, focar


na Equação de Bernoulli.

A equação de Bernoulli consegue, de uma maneira prática, lincar os fenômenos naturais


a situações simples para o fluido como, regime permanente, sem perdas por atrito no
escoamento do fluido ou fluido ideal, propriedades uniformes nas seções, fluido
incompressível e sem trocas de calor.

Vamos analisar o esquema a seguir de uma tubulação de água, que será elevada do
ponto P0 C0, a uma altura h0, até o ponto P1 C1, a uma altura h1. Nesse caso, não há
perda de carga, conforme a Figura 1.8:

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Fonte: BRUNETTI, 2008

Figura 1.8: tubulação de água

A equação de Bernoulli (equação 1.17) é dada por:

Para uma tubulação real com perda de carga, a equação de Bernoulli é dada
acrescentando o fator que há relativo à perda de carga pelo fluido conforme a Figura
1.9:

Fonte: BRUNETTI, 2008.

Figura 1.9 – Escoamento com perda de carga

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Neste caso, a equação de Bernoulli (Equação 1.18) fica:

Em que (equação 1.19):

Ha = J x L

Sendo que:

J = perda de carga em m/m;

L = comprimento da tubulação em m.

O método preciso de cálculo da perda de carga unitária é dado pela equação de Darcy-
-Weisbach, conforme a equação 1.20:

Em que as variáveis são:

 J: perda de carga unitária (m/m);


 f: coeficiente de atrito para o escoamento (adimensional);
 C: velocidade de escoamento (m/s);
 g: aceleração gravitacional (m/s2);
 D: diâmetro interno da tubulação (m).

A velocidade de escoamento pode ser obtida pela equação da continuidade, conforme


a equação 1.21:

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Em que:

Q = Vazão, em m3/s.

S = área da seção transversal interna do tubo, em m2.

C = velocidade de escoamento do fluido (m/s).

Hidrometria

A Hidrometria é um subconjunto da Hidráulica, porque lida com “grandezas”


interessantes para análise e observação.

Por meio das medições dos fenômenos de interesse da hidráulica é que experimentos
são analisados, observados e homologados.

A mitigação é interessante a hidráulica quando se trata de grandezas como:

• níveis/profundidades;

• pressões;

• velocidades (de escoamento);

• seções de escoamento (área transversal);

• tempos;

• volumes;

• vazões.

Conclusão

Este bloco mostrou conceitos importantes dentro do “universo” da Hidráulica,


detalhando suas composições e apontando Leis, princípios e teoremas que são as bases
desta parte introdutória. As propriedades dos fluidos foram expostas para melhor
entendimento nos próximos blocos destes elementos textuais.

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REFERÊNCIAS

BRUNETTI, F. Mecânica dos fluídos. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.

JACOB, A. C. P. Um panorama histórico da engenharia hidráulica. Aquafluxus, 2015.


Disponível: <https://bit.ly/3eQzvaL>. Acesso em: 9 jul. 2020.

NETTO, A. et al. Manual de hidráulica. 9. ed. São Paulo: Blucher, 2018.

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