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Questões de Literatura – Professor(a) – Thaís - A falência

Nome 2ª série Nº Conceito

Nº de questões 3 Data 13 / 10 /20

1. O romance A falência foi escrito por Julia Lopes de Almeida: uma mulher em pleno século XIX brasileiro.
No entanto, autora e narrador não são figuras coincidentes em seu romance, tal qual já havíamos
percebido na leitura de Quincas Borba. No romance de Machado de Assis falamos de um narrador
cínico, aderente ao campo de ideias do Humanitismo. E neste romance, como se comporta o narrador?
Para responder a essa questão, analise os trechos abaixo e extraia dessa leitura e observação uma
descrição analítica do narrador:

Texto I.
“O dr. Gervásio mal a cumprimentou; sentia-se colado de espanto àquele chão poeirento. Os seus
amores, que ele julgava bem ocultos, tinham varado as sacristias e ido do Botafogo elegante até aos casebres
do Castelo e da Conceição! Quis desmentir a velha; mas os seus olhos claros, de um castanho louro, não o
deixaram falar, cortando-lhe pela raiz qualquer protesto. Ela não falara só pela boca, que a tinha sincera; mas
também pelos olhos, em cuja limpidez aparecera toda a verdade.
O médico viu-a, com ódio, ir arrastando, na sua peregrinação de fé, as pernas inchadas, rebolando os
quadris largos, bem fornidos e que ainda os franzidos da saia exageravam. Apressou-se em voltar-lhe as costas,
com medo que ela tornasse, para lhe dizer ainda alguma coisa do pecado.
O que lhe repugnava, sobretudo, era a solicitada intervenção do padre. Desde então deixou de reparar
nas coisas, para pensar em si. E os seus sentimentos eram de espécie confusa e tristonha.
Em outros tempos, de mais verdes anos, a divulgação de tais amores não o desgostaria, talvez... Ser
amante de uma mulher bonita e cobiçada não é coisa que fique mal a um homem... Por ela, sim, devia ter
cuidados e mistério; mas esse mesmo dever de discrição absoluta não seria abafado pela voz do egoísmo,
sempre a mais imperiosa nos homens, e pela da vaidade, se outras circunstâncias não lhe exigissem segredo? As
almas fortes dos homens têm dessas pequenices, e a dele, sabia-o bem, era como as dos outros, amigas, sem
propósito, de causar inveja aos menos afortunados...”

Texto 2.
“Por que? Que direito teriam uns a todas as primícias e regalos da vida, se havia outros que nem por uma nesga
viam a felicidade?
Sabia a história da Sancha: uma negrinha vinda aos sete anos da roça para a casa das tias, com sentido
no pão e no ensino. Era dos últimos rebentões dessa raça que vai desaparecendo, como um bando de animais
perseguidos.
E tudo dela repugnava a Ruth: a estupidez, a humildade, a cor, a forma, o cheiro; mas percebera que
também ali havia uma alma e sofrimento, e então, com lágrimas nos olhos, perguntava a Deus, ao grande Pai
misericordioso, porque a criara, a ela, tão branca e tão bonita, e fizera com o mesmo sopro aquela carne de
trevas, aquele corpo feio da Sancha imunda? Que reparasse aquela injustiça tremenda e alegrasse em felicidade
perfeita o coração da negra.
- Sim, o coração dela deve ser da mesma cor que o meu, cismava Ruth, confusa, com os olhos no altar.”

RESPOSTA 1.

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2. Leia o fragmento abaixo e, então, responda:

“A terra suava de farta; não lhe faltava nem o adubo que lhe dá força, nem o ornamento que lhe dá graça.
Afigurou-se então a Teodoro, com clareza, que a vida é uma coisa bem boa para quem vence e faz cair sobre o
terreno que o circunda a chuva de ouro fecundante.
No seu orgulho de homem saído do nada, aquele gozo material da riqueza enchia-lhe a alma de uma
espécie de heroísmo. Era como se ele tivesse feito tudo, desde as pedras dos fundos alicerces do seu palácio até
as mais esquisitas frutas do seu pomar e as mais divinas flores das suas roseiras. Semente germinada à custa do
seu dinheiro, era obra sua, envaidecia-o, como se a suprema perfeição da planta lhe tivesse saído de entre os
dedos poderosos.
Em todo esse sentimento de conquista havia a bondosa ingenuidade de ter sabido criar para os seus uma
felicidade perfeita. Nunca os filhos saberiam o que era uma infância como fora a sua, desagalhada, errante;
nunca a mulher saberia o que era ter um desejo sem esperança de satisfação, e a todos envolveria sempre o
luxo, a abundância e a alegria.”

O trecho descreve Francisco Teodoro orgulhoso de suas conquistas e como isso se estende a sua família.

a) Descreva como Mário, Paquita e Camila estariam inseridos nesse cenário criado por Teodoro, eles
condizem com o que o homem imagina para si e para os seus? Justifique sua resposta.

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b) Como esta cena transcrita se contrapõe à situação de Mota e Emília?

3. Leia o trecho a seguir:

“Cada homem é criado para um fim. O dele tinha sido o de ganhar dinheiro; ganhara-o, cumprira o seu
destino. Não podendo recomeçar, inutilizado para a ação, devia acabar de uma vez. Toda a energia da sua vida
se concentraria num movimento único e decisivo.
Ruth subia a escada. Ele foi colar o ouvido à porta para escutar-lhe os passos. Beijaria o lugar em que ela
punha os pés... Esteve assim longo tempo, depois voltou-se e foi sentar-se a um canto, esperando...
Pouco a pouco a casa adormecia, até que se encheu toda do pesado silêncio do sono.
À uma hora Francisco Teodoro levantou-se muito pálido, persignou-se e rezou, ali mesmo, entre o lampejar
das molduras e o ar atrevido do cavalheiro de bronze. Finda a oração, caminhou resolutamente para a sua
secretária. A bulha dos seus passos firmes abafou um sussurro leve de saias que deslizavam pela escada abaixo.
Francisco Teodoro tirou da gaveta o seu revólver, olhou-o um instante e encostava-o no ouvido quando a
mulher apareceu na porta, muda de terror, estendendo-lhe as mãos. Ele cerrou logo os olhos à tentação da vida
e apressou o tiro.
E toda a casa acordou aos gritos de Camila que, com os braços no ar, clamava por socorro.”

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Lendo os fragmentos das questões 2 e 3, explique (não identifique ou descreva apenas – explique!):

a) A transformação por que passa Camila depois do suicídio de Teodoro;


b) Por que o romance não acaba com a morte desse personagem?

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