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2)
A coesão referencial
Estabelece-se entre dois ou mais termos, sendo que um deles remete-se a outro elemento do texto
ao menos, a que chamamos referente. É construída por meio de vários processos que envolvem
mecanismos de reiteração, substituição, repetição, síntese, etc.
“A água é um dos bens mais preciosos que a humanidade possui. Essa, que há anos parecia ser infi
nita, está escassa.” (anáfora)
“A Suíça é um país que tem se aproveitado de obscuras e imorais regras do seu próprio
sistema bancário que permitem o depósito de dinheiro das mais duvidosas origens em
seus bancos. Lá, parece que as aparências realmente enganam.” (anáfora)
“A necessidade de alimento fez com que, em muitos países ao longo do ano de 2008, milhares de
pessoas fossem às ruas protestar contra essa situação. Mostrar-se necessitado de algo tão
essencial, não é vergonhoso a não ser para a humanidade e para a ideia de civilização.”
- Substituição por epíteto - palavra ou frase que qualifica pessoa ou coisa individualmente ou em
grupo.
Exemplo:
"Argentina, Uruguai e Colômbia são países que são vistos como entre os mais prósperos da
chamada América espanhola. Tais países são em parte produto, portanto, da cultura imposta pela
Espanha durante a Colonização, mas também dos horrores e das injustiças atribuídas por muitos
historiadores aos conquistadores e colonizadores espanhóis."
"Paris foi uma cidade em que se encontraram muitos dos maiores intelectuais e artistas da história
da humanidade. A Cidade Luz ainda tem esse perfil, ainda que a qualidade dos homens e mulheres
do universo da intelectualidade e da arte que lá se encontram não seja o mesmo de outrora."
"Charles Baudelaire é um dos mais importantes poetas franceses. Sua obra máxima é o livro de
poemas 'As Flores do mal'. Baudelaire também escreveu 'Paraísos artificiais', que trata de diversas
questões acerca do ópio, do haxixe e do vinho."
- Reiteração por elipse - consiste na omissão de um termo ou expressão que pode ser subentendido
pelas referências contextuais ou por já ter sido citado anteriormente.
Exemplos:
"Os EUA envolveram-se ao longo de sua história em vários conflitos pelo mundo. O Brasil, por sua
vez, em poucos."
- Reiteração por metonímia – nesse caso, a coesão é estabelecida por uma relação de contiguidade
semântica entre os termos, em que um remete-se ao outro por nome que representa parte de um
todo.
Exemplo:
- Reiteração por associação - uma palavra retoma outra porque mantém com ela, em determinado
contexto, vínculos que podem ser associados ao campo léxico, semântico ou estilístico ao qual
ambas pertencem.
Exemplo:
"As regiões de Santa Catarina e Maranhão foram pouco tempo atrás alvos de
grandes enchentes responsáveis pelo sofrimento e pela destruição dos lares de milhares. Entretanto,
tais alagamentos foram tratados de forma muito diferente pela mídia e, conseqüentemente, pelos
brasileiros, pois aquela foi beneficiada por amplas campanhas feitas pelas maiores redes de televisão
brasileiras, já esta foi praticamente ignorada pela chamada grande mídia."
- Reiteração por hiperonímia – relação estabelecida entre um termo mais genérico com outro mais
específico ou limitado.
Exemplo:
"A água é muito mais do que um recurso com que os seres vivos hidratam-se. Esse líquido,
muitas vezes banalizado, é essencial para a existência da vida no planeta. Desde nossa origem até
a atual crise pela qual essa substânciapassa, indiscutivelmente, sua história cruza-se com a da
humanidade e a do mundo."
A coesão sequencial
Esse processo coesivo diz respeito aos procedimentos linguísticos por meio dos quais se
estabelecem, entre segmentos do texto, diversos tipos de relações semânticas ou pragmáticas, à
medida que o texto progride com o acréscimo de novas idéias. É construída por meio de dois
mecanismos: a recorrência e a progressão.
“Um homem compra, compra, compra
Sem parar
Compra porque não sabe ver a si mesmo
Compra porque quer esconder de si mesmo
A razão última de tantas e variadas compras
Compra, compra, compra
Por não ter mais o que comprar
pois
tudo já foi vendido.” Vitório Sá (recorrência de termos)
“Se não houvesse desperdício de água, muitas pessoas não morreriam
de sede. Se não houvesse desperdício de água, a necessidade de haver racionamentos
no consumo desse recurso natural seria menor. Se não houvesse desperdício de água...”
(paralelismo)
“Se o terrorismo não é, como a História mostra, um fenômeno exclusivamente islâmico como muitos
pensam, então, devemos repensar o preconceito que acumulamos em relação a esse povo que tanto
contribui para o avanço da humanidade nos últimos séculos.”
“Embora sejamos uma espécie aparentemente incapaz de antever seus erros, apesar de nossa tão
elogiada racionalidade, alguns homens têm tornado-se capazes de nos alertar sobre nossos
principais erros, sempre amparados pelo desejo inesgotável de conhecer. Portanto, o estudo e o
acesso à cultura são os únicos meios de sobrevivermos a nós mesmos.”
(Paul Valéry)
A coerência textual está diretamente ligada à possibilidade de ser estabelecido um sentido para um
texto; ela depende de vários fatores para ser desenvolvida, tais como o conhecimento dos
interlocutores sobre o assunto, a informatividade do texto, a intertextualidade, etc. Sem esses
elementos, dentre outros, o texto pode ser até parcialmente compreensível do ponto de vista
linguístico, entretanto não terá validade como expressão do pensamento em relação ao qual se
requer organização, pertinência e embasamento teórico ou empírico, a fim de estabelecer-se um
processo de comunicação amplamente produtivo entre os envolvidos em uma dada situação
comunicativa.
Por isso, a coerência textual é regida pelo princípio da interpretabilidade possível para
o interlocutor ligado à inteligibilidade do texto produzido por um locutor atento às intenções
comunicativas pretendidas numa situação de comunicação específica. Essa interação determina a
capacidade que o leitor terá para compreender de forma satisfatória o sentido do texto.
- A intencionalidade trata do modo como os locutores usam textos para alcançar seus objetivos,
para tanto adéquam suas produções discursivas com o intuito de obter os efeitos desejados nos
interlocutores. Esse processo dialoga e é dependente da aceitabilidade, outro fator de coerência
textual, que o interlocutor pode ter de forma consciente ou não em relação aos mecanismos e às
ideias apresentadas pelo autor de um texto. O mediador desse processo entre a intencionalidade e a
aceitabilidade é a argumentatividade, que se manifesta textualmente por meio de muitos
procedimentos e recursos retóricos empregados com o objetivo de convencer alguém sobre um
determinado ponto de vista. Dessa forma, a argumentatividade permeia todo processo linguístico, já
que a maioria dos linguistas admite não haver textos neutros, ou seja, não há interação textual em
que não seja possível mesmo inferir alguma intenção argumentativa.
- A consistência é o fator de coerência textual responsável por garantir que as partes de um texto
contribuam entre si para cooperar com a produção de um texto que seja uma unidade de sentido
completa e pertinente com a realidade imediata ou interior à própria produção textual. Por relevância
entende-se o fator de coerência capaz de orientar a produção textual de um indivíduo no sentido de
cooperar com uma discussão subjacente à situação comunicativa , ou mesmo em um diálogo.
Como forma de resumir e sintetizar as ideias acima, a partir do texto dos autores que norteiam a
concepção de Coerência Textual usada como referência teórica nesta teoria, segundo Koch e
Travaglia:
“Não existe o texto incoerente em si, mas o texto pode ser incoerente em/ para determinar situação
comunicativa. [ ... ] O texto será incoerente se seu produtor não souber adequá-lo à situação, levando
em conta intenção comunicativa, objetivos, destinatários, regras sociais culturais, outros elementos da
situação, uso dos recursos lingüísticos etc. Caso contrário, será coerente.
É evidente que a capacidade de cálculo do sentido pelo receptor é fundamental. Pode acontecer que,
mesmo o texto sendo bem estruturado, com todas as pistas necessárias ao cálculo do seu sentido,
um receptor pode, no nível individual, não ser capaz de determinar o sentido por limitações próprias
(não domínio do léxico e/ ou estruturas, desconhecimento do assunto, etc.), nesse caso, não dirá,
sobretudo considerando o produtor, que o texto é incoerente, seu comentário será: 'Não consegui
entender este texto'."
(Ingedore Grufeld Villaça Koch e Luiz Carlos Travaglia. A coerência textual. São Paulo: contexto,
1993.p.50)