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Riley falando sobre o morrer para Erin no episódio 4, 1ª temporada (29min).

“Quando eu morrer...meu corpo para de funcionar. Desliga de uma vez ou


gradualmente. A minha respiração vai parar, o meu coração vai parar de bater. Morte
clínica. E um pouco depois, tipo, cinco minutos depois, meus neurônios vão começar a
morrer. Mas nesse meio tempo, neste intervalo, meu cérebro começa a liberar DMT. É
uma droga psicodélica liberada quando sonhamos, então... vou sonhar. Vou sonhar mais
do que eu jamais sonhei, porque isso é tudo. É a última descarga de DMT de uma vez.
Meus neurônios vão estar trabalhando, e verei um espetáculo de lembranças e
imaginação. Vai ser uma intensa...viagem. Vai ser alucinante porque minha mente vai
buscar lembranças de curto e longo prazo, sonhos misturados com memórias, e...a
cortina cai, o sonho derradeiro. Um último grande sonho enquanto minha mente esvazia
o depósito e então...eu acabo. A atividade cerebral cessa e não resta nada de mim.
Nenhuma dor, nenhuma lembrança, nenhuma consciência de quem eu fui, de eu tenha
ferido alguém. De que já matei alguém. Tudo permanece com era antes de mim. A
eletricidade se dispersa do meu cérebro até sobrar só tecido morto. Carne.
Esquecimento. E as outras coisas que fazem parte do meu corpo, os micróbios, bactérias
e bilhões de outras coisas que vivem nos meus cílios, no meu cabelo, na minha boca, na
minha pele, no meu intestino e tudo mais, seguirão vivendo, e comendo. Estou servindo
a um propósito. Estou alimentando a vida. Quando me decompuser e as minúsculas
partes de mim forem recicladas. Estarei em bilhões de outros lugares. Meus átomos
estarão em plantas, insetos e animais, e eu serei como as estrelas no céu. Um momento
estão lá e, no seguinte, espalhadas pelo cosmos.

Diálogo imaginário da personagem Erin Greene (Kate Siegel) enquanto morria sobre a
morte com o falecido Riley, seu grande amor, em Midnight Mass (Netflix, ultimo
episódio da 1 temporada, nº 7 – Livro VII – Apocalipse):

“O que acontece? O que acontece quando morremos? É, o que acontece? Então, para
você, o que acontece quando morremos? Falando por mim mesma? Sim, falando por
você mesma. Falando por mim. Eu mesma (myself). Eu mesma (myself). É esse o
problema. É esse o problema com a coisa toda. Essa palavra, “self”. Não é essa a ideia.
Não está certo, não está. Não está. Como fui esquecer isso? Quando eu esqueci isso? O
corpo morre uma célula de cada vez, mas os neurônios continuam em atividade.
Pequenos relâmpagos, como fogos de artifício dentro. Eu achei que ficaria desesperada
ou com medo, mas não sinto nada disso. Nada disso. Estou muito ocupada. Estou muito
ocupada neste momento. Lembrando-me. É claro. Eu me lembro de que cada átomo do
meu corpo foi criado em uma estrela. Essa matéria, este corpo é basicamente espaço
vazio. E a matéria sólida? É apenas energia vibrando bem devagar, e não há um “eu”
(me). Nunca houve. Os elétrons do meu corpo dançam e se misturam com os elétrons do
chão embaixo de mim e do ar que já não respiro. E eu me lembro de que não existe um
ponto onde tudo isso acaba e eu começo. Eu lembro que sou energia. Não memória. Não
um “eu”. Meu nome, personalidade e escolhas vieram depois de mim. Eu existia antes
deles e existirei depois e tudo o mais são imagens que recolhi pelo caminho. Sonhos
fugazes impressos no tecido do meu cérebro moribundo. E eu sou a eletricidade
correndo por ele. Sou a energia ativando os neurônios. E estou voltando. Só de lembrar,
estou voltando pra casa. Como uma gota d’água voltando para o oceano, do qual sempre
fez parte. Todas as coisas ...uma parte. Todos nós... uma parte. Você, eu minha menina,
minha mãe e meu pai, todos que já viveram, cada planta, cada animal, cada átomo, cada
estrela, cada galáxia, tudo. Há mais galáxias no Universo do que grãos de areia na praia.
É disso que falamos quando dizemos “Deus”. O Único. O cosmos e seus sonhos
infinitos. Somos o cosmos sonhando consigo mesmo. O que acho ser minha vida é
simplesmente um sonho, toda vez. Mas me esquecerei disso. Sempre esqueço. Sempre
esqueço meus sonhos. Mas nesta fração de segundo, no momento em que eu lembro, no
instante em que lembro, compreendo tudo de uma vez. Não existe o tempo. Não existe
morte. Avida é um sonho. É um desejo (wish) feito repetidamente por toda a eternidade.
E eu sou tudo isso. Sou tudo que há. Sou o todo. Sou o que sou.”

In: Missa da Meia-Noite - Original title: Midnight Mass - TV Mini Series


2021 - 7h 30min – Criador : Mike Flanagan

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