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Dying

Becoming Energy
Being Reborn
&
Bathing in Truth

Record:
Date: October 10th, 2020.
Set: Leves sintomas de depressão e uma tendência nihilista
que me acompanhou por toda a minha vida: todos
aniquilados pela viagem.
Setting: Sala de estar, deitado no sofá, tendo uma pessoa que
eu amo como TripSitter.
Intenções:

 Abrir os portões da criatividade e entusiasmo para a


escrita & a arte de storytelling visual com elementos
cômicos;
 Transmutar o meu nihilismo em vitalidade cognitiva;
emocional & artística.
 Curar os meus traumas emocionais.
-
9:10 PM: Como as 7 Gramas de Cogumelos mágicos em
jejum de 7 horas.
9:25 PM: Entrada. Normalmente a entrada é a parte mais
intensa e desconfortável. Mas nessa dose, a entrada foi cheia
de risos; humor & leveza. Muita fraqueza corporal, o que me
fez deitar. A partir daí, não consigo gravar mais nada, apesar
de ter tentado levantar algumas vezes.
A partir do momento em que eu deito, tempo e espaço
ficam completamente distorcidos. Terei alguns relapsos de
consciência de tempo & espaço apenas após às 12:00 AM.
-
The Beginning

Assim que deitei e fechei os olhos, fui guiado pelo


soundtrack: Music for Mushrooms, a playlist for the
psychedelic practitioner.
Minha audição ficou EXTREMAMENTE sensível, a
ponto de eu conseguir discernir cada melodia; sons da rua;
barulhos de vizinhos; meus gatos batendo na porta para
entrar...
Ficou tão sensível, de fato, que achei que a música
estava tão alta que todo mundo do prédio estava ouvindo.
As primeiras visões foram um show de luz e imagens
aleatórias, sem muito nexo ou lógica por trás. McKenna diz
que o Other (a entidade por trás dos cogumelos mágicos) faz
um show de cores e arte para aqueles que não querem ou
não possuem a coragem de se aprofundar muito na
hiperdimensão psicodélica.
Porém, eu queria a verdade. Toda a verdade. Não só a
verdade universal e cósmica – eu queria toda a verdade sobre
mim, também.
Tome cuidado com o que você deseja.

A Morte do Ego & Uma Jornada Guiada pelo “Other”

O show de imagens aleatórias e lindas acabou. A partir


daí, eu consegui analisar tudo com a minha capacidade
cognitiva & intelectual intacta, analisando os simbolismos &
as epifanias de uma forma lúcida, por mais estranhas e
alucinantes que foram.
Nunca tinha tido uma viagem tão clara e lógica como
essa: a viagem inteira eu consegui abstrair conceitos;
emoções e símbolos.
Desde que eu deitei até a minha primeira visão eu fiquei
tentando fechar os olhos. Mas eu já estava com os olhos
fechados. Então eu tive a nítida imagem de que o olho que
estava aberto era o terceiro olho – eu até senti o terceiro
olho, fisicamente, tal como você sente os seus olhos. Eu
tentei fechar o terceiro olho, mas é claro que não consegui.
Uma vez aberto, ele só se fecha quando a substância
psicodélica que você ingeriu seja absorvida e expelida pelo
seu sistema.
É estranho como o motife de insetos é tão comum em
viagens com cogumelos mágicos. Várias pessoas reportam
que também entram em contato com entidades que se
assemelham a insetos – durante a viagem, eu vi várias.
Na primeira visão lúcida, eu estava deitado enquanto
alienígenas insectoides realizavam uma cirurgia espiritual.
Senti como se eles estivessem removendo o meu Ego do
meu corpo para que eu pudesse viajar pelo plano astral.
Após a cirurgia, eu senti um puxão enorme na região do
umbigo – parecia que eu estava sendo sugado por um
buraco negro.
É aqui que muitos entram em uma bad trip, porque eles
tem medo e receio de perderem suas identidades. Por isso
que o lema da experiência psicodélica é: Let Go. Deixe Fluir.
Se você tentar ir contra o fluxo da experiência, você irá
sofrer imensamente.
É como se você estivesse prestes a cair em um abismo,
mas você está segurando-se com as pontas dos dedos na
borda do penhasco, com medo de cair.
Solte.
Deixe que O Other te guie.
Você não terá controle nenhum sobre a experiência.
Assim que eu me soltei e caí no abismo, eu conheci a
energia cósmica que o McKenna chama de O Outro, a
entidade por trás dos Cogumelos Mágicos; os religiosos
chamam de deus, e os cientistas chamam de Universo.
O termo “Viagem” é perfeito para designar a
experiência psicodélica. Porque na sua perspectiva subjetiva,
você VIAJA. Você vai para outra dimensão, tão bizarra e
peculiar que a linguagem; os sentidos e todo o seu
conhecimento humano falha ao tentar entender ou capturar.
As ideias que você consegue trazer para a nossa
dimensão e realidade são as ideias pequenas, porque a maior
parte da experiência é indizível e inexplicável.
Eu vou fazer o meu melhor para tentar traduzir a
experiência que eu tive, mas por mais que eu use a linguagem
de uma forma poética e racional, ainda assim vai ser uma
mera sombra dentro da caverna sendo projetada por uma
fogueira – uma representação grotesca e tosca.
Como eu vou precisar referenciar essa entidade várias
vezes durante o relato, irei chamá-lo de A Fonte. Porque na
minha perspectiva, essa energia é a fonte de tudo: é o Big
Bang e o Omega Point; é a sua mãe e o seu gato; é você e
Jesus.
A Fonte é a energia que deu origem ao Universo, e nós
somos A Fonte olhando para si mesma.
Não só olhando, como experienciando tudo o que há
para se experienciar.
A epifania que eu tive é que quando morremos,
voltamos para A Fonte.
Ela nos absorve e nos abraça como uma mãe. Porque
ela é a nossa mãe.
A nossa energia partiu dela.
Somos meros apêndices temporários do Universo.
E existimos como seres capazes de
sentir;
pensar;
criar;
chorar;
gritar;
brigar...
Seres magníficos e mágicos, com o potencial divino de
imaginar universos; personagens e histórias repletas de amor;
drama; redenção e risos. Somos o Universo sentindo e
pensando enquanto tenta entender porque existimos.
E nunca teremos a resposta enquanto vivos.
A ciência nunca responderá o porquê, apenas o como.
Porque a ciência está fadada a medir o universo físico e
tridimendisional newtoniano, sendo que existem outras
dimensões fora do alcance dos instrumentos e equações
científicas.
Apenas quando exalarmos o nosso último suspiro e nos
unirmos com A Fonte novamente é que iremos entender
que sempre fomos TUDO;
Que a morte é uma ilusão.
A morte é tão segura quanto respirar.
Não há porque temê-la
Mas isso não quer dizer que não devemos viver com o
máximo de júbilo e intensidade possível, porque a vida é
uma só.
Brincamos de identidade
De ego
Com nossos nomes e corpos provisórios
Mas tudo isso não passa de uma experiência que A
Fonte quer ter
Essa é a razão de estarmos vivos
Estamos aqui para viver e experienciar todo o espectro
de emoções e pensamentos que o nosso cérebro
proporciona
Estamos aqui para sentir o prazer de ter um corpo
De comer e transar e rir e pensar
De criar e chorar de rir e amar
De brigar e achar que estamos certos enquanto
ninguém sabe o que é certo
Tudo isso
Para que no final
A gente entenda:
Tudo o que importa é a energia que une
E essa energia é o Amor
Até a gente colocar em prática essa filosofia
Viveremos em um inferno terreno
Onde todos sofremos
E ninguém está feliz ou sereno
Porque enquanto a Amazônia queima
E o suco de dinossauro (petróleo) é mais importante do
que a saúde da Mãe Gaia
Estaremos fadados a perpetuar o sofrimento.
-
Essa epifania é uma tradução livre do sentimento que
eu tive enquanto eu era guiado pela Fonte.
Após ter a sensação de ser sugado por um buraco
negro, eu fui guiado pela Fonte.
Ela/Ele/Eles/Elas (como eu me referi à Fonte durante
a viagem inteira, porque a Fonte é tudo, portanto não tem
um pronome específico) me guiou para o que eu experienciei
como o núcleo do Universo; onde a verdade absoluta sobre
tudo e todos estava.
A Fonte me levou até o portal da verdade, e perguntou
em um tom sarcástico e irônico (A Fonte possui um humor
absurdo; ao mesmo tempo em que ela é implacável ao
mostrar todas as verdades, ela também injeta um humor em
cada interação) se eu queria que a verdade fosse revelada pra
mim.
Se eu queria que o Portal de toda a Verdade fosse
aberto.
Nessa hora, eu já não sabia mais quem eu era.
Se alguém chegasse na sala e me tirasse do transe astral,
eu não saberia responder o meu nome.
Mas ainda havia um resquício de ego em mim, e de
alguma forma eu sabia que o Portal era o Último Portal:
aquele que todos atravessamos quando morremos.
Nessa hora, eu me caguei de medo.
Eu não queria saber toda a verdade.
Eu não estava preparado.
Então, telepaticamente (toda a conversa entre eu e A
Fonte foi de forma telepática) eu disse que não queria saber
a verdade.
A Fonte riu (telepaticamente) e me disse:
“Vocês são todos iguais. Vocês querem a verdade, mas
quando eu estou prestes abrir a cortina e revelá-la para
vocês, vocês se acorvadam e fogem.”
Nessa hora, eu mudei de posição no sofá.
Viajar na hiperdimensão psicodélica é equivalente à
correr uma maratona: tem momentos em que você consegue
navegar e absorver milhares de revelações em minutos. Mas
chega uma hora em que você absorveu tanto, que tudo o que
você quer é descansar.
Enquanto eu estava “correndo”, a minha posição era
virada de barriga pra cima. Quando eu cansava e não
aguentava mais tantas verdades, eu virava de lado, na
posição fetal.
Após a verdade quase ser revelada pra mim, eu virei na
posição fetal e fiquei um tempo assim.
A Fonte, sentindo que eu estava no meu limite, me
deixou descansar por um tempo.
Durante esse tempo, a música guiou a viagem por um
tempo novamente.
A Fonte, misericordiosa, enfeitou a viagem com
imagens lindas e cores novamente. Dentre elas, diversas
entidades; planetas e representações artísticas diversas que
não me recordo mais.
Após recuperar meu fôlego astral, eu voltei a deitar de
barriga pra cima.
A fonte, com seu humor sempre presente, sorriu e me
guiou para as verdades pessoais.

Adeus, Nihilismo & Vitimismo.

É importante ressaltar que o tempo inteiro eu mantive


uma conversa com A Fonte.
Uma conversa telepática, em que palavras não foram
usadas, e sim intenções.
As minhas intenções foram:
Eu preciso saber o meu propósito como humano;
Eu preciso saber se a minha atração pela escrita & pela
necessidade de querer compartilhar a verdade para outras
pessoas é algo ilusório ou se eu realmente tenho o dom;
Eu preciso saber se eu passei a minha vida inteira em
uma ilusão de que eu era algo que eu não nunca fui: uma
alma única com o potencial de criar arte maravilhosa
enquanto canaliza a verdade, sem fundamentalismo ou
egocentrismo.
A resposta da Fonte me assustou, porque me fez achar
que eu estava entrando em um vórtex de complexo
messiânico.
A Fonte me disse:
“Você sempre foi atraído pelas almas mais geniais,
humorísticas e criativas da história:
Eistein; John Lennon; Bill Hicks; George Carlin;
Terence McKenna; Joe Rogan; Duncan Trussel; Doug
Stanhope; JK Rowling; Patrick Rothfuss; Bhuda; Jim
Morrison…
Não é a toa que você se sente atraído por essas almas.
Nós somos atraídos por tudo o que ressoa dentro da
gente.
O que existem nas almas que você admira, existe em
você.
Você possui o potencial para catalizar tanta arte
maravilhosa quanto todos os senseis que você admira.
Você só não o fez até agora porque você se limita.
Você tem medo.
Não é a sua culpa.
Foi a forma que você foi criado.
Mas não culpe seus pais.
Culpe sua sociedade.
Você vive em uma sociedade em que o senso crítico; a
autenticidade e a criatividade não são valorizadas.
A sua sociedade é uma fábrica de robôs de carne.
As pessoas da sua sociedade são guiadas pelos dogmas
religiosos e pela droga mais poderosa da história: A
Mídia/Televisão.
A sua educação não foi criada com o intuito de formar
seres capazes de pensar por si próprios.
A maior parte da sua espécie está fadada a viver como
robôs programados pelo sistema: seguindo os códigos
implantados por uma elite capitalista que só foca no lucro a
curto prazo, enquanto a Terra e a Natureza Definha
lentamente.
Mas tome cuidado:
É fato que você possui o potencial cognitivo e
linguístico para criar memes que irão influenciar várias
mentes humanas, além de possuir uma antena para captar
almas similares com a sua.
Mas cuidado com o Ego.
Muitos entram nessa dimensão e voltam gritando as
verdades vistas aqui como se fossem o Messias.
Não seja um deles.
Grite a sua verdade, mas de uma forma coerente e
sensata, que respeite as regras da sua sociedade atual.
E, claro:
Em um tom cômico.
Nunca se prenda à seriedade sisuda de um filósofo seco
e sem brilho.
Lembre-se do quote de um de seus mestres:
“O Homem sofre porque leva a sério o que os deuses
criaram por diversão – Alan Watts”.
Ache o equilíbrio entre o profeta insano e o
comediante.
Seja um Shaman Moderno.
E, sim:
Você possui todo o potencial para ser quem você
quiser.
É apenas uma questão de agir; criar e compartilhar.
A inatividade é a morte da criatividade e da alma.
Não absorva.
Crie.
Não leia, apenas.
Escreva.
Não seja um consumidor passivo e anestesiado.
CRIE A SUA REALIDADE... OU VIVA NA
REALIDADE DOS OUTROS.
-
Novamente, eu estava sem fôlego.
Eu me virei na posição fetal novamente, e foi aí que eu
me conectei com o círculo dos meus mestres que já
morreram.
Eu pensei:
“Eu quero conversar com os meus mestres. Eu quero
me comunicar com o McKenna; com o Bill Hicks; com o...”
E então eu não conseguia pensar mais.
Eu fui sugado para a parte da hiperdimensão astral em
que os meus mestres estavam.
O bizarro é que eles não estavam em lugar nenhum,
porque eles estão mortos, logo eles estão unidos com A
Fonte.
Eles são A Fonte.
Então, A Fonte os materializou.
Eles estavam em um círculo.
Mas eles não eram corpos; eles eram energias/almas.
Em uma tentativa de reconhecer alguém, um deles se
manifestou:
Uma parte da energia do círculo vibrou e começou a
materializar a face do Jim Morrison (um dos psiconautas
mais hardcore de todos – passou um período da vida
tomando LSD com uma frequência absurda).
Morrison, também conhecido como o Shaman Lagarto,
não quis falar comigo. Ele fez o sinal universal de silêncio: o
dedo indicador no meio dos lábios, e então apontou para
baixo:
Ao olhar para baixo, eu enxerguei a Terra.
Morrison transmitiu o que ele queria dizer
telepaticamente:
“Shhhh. Eu quero ver o que eles estão fazendo”.
De alguma forma, eu sabia que o meu corpo estava lá,
na Terra, enquanto a minha alma estava na dimensão astral
onde as almas residem.
The Truman Show
E então A Fonte me guiou novamente. Dessa vez,
ela/ele/eles/elas me levou para o que eu senti como se fosse
o “núcleo” do Universo.
A Fonte revelou para mim que a minha realidade não
passava de um show criado por eles. Tudo não passava de
um filme de todos os gêneros: horror; comédia; ação;
fantasia; romance; erótico; infantil...
Mas por que criar uma Terra e uma espécie capaz de
experienciar todo o espectro de emoções?
Porque A Fonte queria esquecer que ela era A Fonte.
Ela queria se dividir em diversos fragmentos e
experienciar a confusão que é ser um ser capaz de pensar;
sentir e criar mas que não sabe a verdade.
Apenas os seres humanos que buscam a verdade e
acabam conhecendo os psicodélicos devido à sua intensa
busca pela verdade são os humanos que terão um vislumbre
da verdade.
Mas após a viagem com os psicodélicos - após terem
absorvido a verdade telepaticamente enquanto viajam no
hiperespaço - eles voltarão para os seus corpos. Logo, a
experiência deixará de ser tão relevante e irá começar a
parecer um sonho. Essas pessoas irão esquecer as verdades
reveladas e com o tempo irão voltar a seguir os padrões de
comportamento e pensamentos de sua cultura/zeitegeist
atual.
Um dos psiconautas mais intensos e uma das almas
mais brilhantes da história humana descreveu esse
sentimento perfeitamente em um poema:
“The world is like a ride in an amusement park, and when you choose to go on it you think
it's real because that's how powerful our minds are. The ride goes up and down, around and
around, it has thrills and chills, and it's very brightly colored, and it's very loud, and it's fun
for a while. Many people have been on the ride a long time, and they begin to wonder, "Hey,
is this real, or is this just a ride?" And other people have remembered, and they come back
to us and say, "Hey, don't worry; don't be afraid, ever, because this is just a ride." And we …
kill those people. "Shut him up! I've got a lot invested in this ride, shut him up! Look at my
furrows of worry, look at my big bank account, and my family. This has to be real." It's just
a ride. But we always kill the good guys who try and tell us that, you ever notice that? And
let the demons run amok … But it doesn't matter, because it's just a ride. And we can
change it any time we want. It's only a choice. No effort, no work, no job, no savings of
money. Just a simple choice, right now, between fear and love. The eyes of fear want you to
put bigger locks on your doors, buy guns, close yourself off. The eyes of love instead see all
of us as one. Here's what we can do to change the world, right now, to a better ride. Take all
that money we spend on weapons and defenses each year and instead spend it feeding and
clothing and educating the poor of the world, which it would pay for many times over, not
one human being excluded, and we could explore space, together, both inner and outer,
forever, in peace.”

Um barulho altíssimo me puxou para o plano terreno


tridimensional: meu gato – tão grande e forte que mais
parece uma pequena pantera - conseguiu abrir a porta da
sala.
Peeta, o gato mais cachorro do mundo: tão amoroso e
companheiro que não parece um gato. Ele não conseguiu
ficar muito tempo sem receber o carinho do “pai” dele
(falando nisso, eu viajei com uma camisa em que a estampa
era o “Melhor Pai Gato do Mundo, haha).
Após o susto, fiquei extremamente feliz por finalmente
ter algum contato físico com seres que eu amo após passar
tanto tempo na dimensão psicodélica; lá, o tempo & espaço
se distorce a ponto de que um minuto parece uma hora.
Meu gato subiu no sofá e veio em direção à mim. Foi aí
que percebi que a minha visão já não conseguia mais
sintonizar com o plano físico. Peeta estava se movendo em
frames, tal como se a realidade estivesse com um Lag.
E então a minha tripsitter entrou na sala, aproveitando
a brecha do Peeta.

Conhecendo-Me: 10 anos de Terapia condensada em horas

Ressaltando novamente: todas as ideias vieram em um formato


telelático e repleto de intenção. Palavras não foram usadas. Estou
apenas traduzindo as epifanias que eu tive.
Minha tripsitter deitou do meu lado, e eu senti uma
necessidade incontrolável de mostrar a minha alma; coração
e mente para ela.
Mas a minha alma ainda estava 90% no plano astral, e
eu mal conseguia focar neles.
Quando eu tentava, o Peeta parecia um gato de
desenho: na realidade ele estava amassando pãozinho em
cima de mim, mas o que eu estava vendo era um gato com
um chapéu e uma bengala, dançando.
E quando eu tentava focar na minha tripsitter, o rosto
dela morfava o tempo inteiro: o rosto dela tomou a forma de
entidades alienígenas e envelheceu décadas em segundos.
E então começou a terapia que fez com que eu
enxergasse tudo o que constitui a minha personalidade de
uma forma clara e lúcida: todas as verdades; shadows;
fraquezas; ilusões; mentiras; traumas emocionais; qualidades
e relacionamentos vieram à tona.
Tudo o que eu ignorei por tanto tempo foi revelado.
Eu comecei a falar freneticamente. A maior parte do
tempo as minhas sentenças não passavam de ideias
fragmentadas e desconexas, porque durante a viagem o fluxo
de epifanias jorra como as cataratas do Iguaçu – é quase
impossível você guiar o fluxo, você apenas relaxa e deixa
fluir.
Comentei o quão apático e anestesiado eu estava. Eu
não passava de eum receptáculo de conhecimento, obcecado
por almas brilhantes que moldaram a minha forma de pensar
e sentir, desde escritores; comediantes; filósofos e cientistas.
O meu foco deixou de ser o amor e passou a ser uma
necessidade insana e egoísta de querer evoluir a minha
capacidade intelectual; cognitiva e criativa a ponto de ignorar
as pessoas que eu amo.
Então, eu passei a consumir Arte & Conhecimento tal
como um buraco negro, sugando tudo e não criando nada.
Livros; jogos; música; podcasts; filmes; seriados;
mangás; anime; filosofia psicodélica... A Arte & A Verdade
viraram o meu único foco, e eu parei de compartilhar a
minha alma com as almas que eu amo & me amam.
Eu virei uma esponja de energia criativa que absorvia
tudo mas não retribuía nada.
Eu me escondi em uma Persona passiva; medrosa e
insegura.
Eu achei que estava me fortalecendo, mas estava me
enfraquecendo.
Só fortalecemos por meio da ação, não da passividade.
É necessário um equilíbrio entre absorver e criar.
Acredito que a leitura e a evolução é essencial, porém ficar
estagnado no modo passivo é o mesmo que estar morto,
pois você neste estado você não passa de um receptáculo;
um HD; um armazenador de memes e conceitos que não
cria e consequentemente não vive.
As pessoas geniais são as almas que criam e expõem
suas ideias; memes; emoções e filosofias sem medo ou receio
de serem julgadas.
Essas são as almas que criam ondas positivas no
zeitegeist e fazem com que a humanidade evolua
emocionalmente; intelectualmente e espiritualmente.
E eu era uma das almas que se auto sabotava e se auto
limitava, porque eu fui criado por pais que se auto
sabotavam e se auto limitavam. Mas eu não culpo os meus
pais. Eles são apenas vítimas do sistema corrupto e insano
que nós vivemos.
Não vivemos em uma sociedade em que o pensamento
crítico; a criatividade e a verdade são priorizados. O que a
educação; a mídia e a cultura propagam são os memes
dogmáticos que vêm prontos em pacotes. A metáfora de que
somos robôs de carne com hardwares prontos para serem
preenchidos com softwares é perfeita: a maioria das pessoas
absorvem esses pacotes de softwares e vivem suas vidas
acreditando e agindo de acordo com as crenças que foram
instaladas em seu sistema.
E os hackers são os gênios que decifraram o sistema e
conseguiram ver todos os 1’s e 0’s que foram programados
pela elite que criou o sistema.
Esses gênios foram: John Lennon; Bill Hicks; George
Carlin; Jim Morrison; Joe Rogan; Duncan Trussel; Terence
McKenna; Hunter Thompson; Bukowski…
O que eles têm em comum?
Todos eles viajaram com psicodélicos.
Coincidência?
I Don’t Think So.
Eu realmente acho que os psicodélicos são as chaves
que abrem as portas das verdades que vão além da dimensão
tridimensional Newtoniana.
Afinal, a realidade que todos concordamos que existe
também não passa de uma simulação criada pelos
componentes químicos que estão no nosso cérebro – nós
somos drogas. A realidade consensual é criada por drogas. O
conceito de sobriedade não existe.
Além dessas epifanias, eu também enxerguei o quão
falso e insensível eu era: eu escondi as minhas verdadeiras
personas e mostrei apenas personas falsas para as almas que
mais me amaram.
Em suma: eu finalmente consegui enxergar o quão
covarde; falso; arrogante e narcisista eu era.

The Joker & Clown Theme


&
Becoming Energy

E então a minha tripsitter foi mijar.


Assim que ela saiu, a terapia intensa deu uma trégua e
eu parei de falar freneticamente. Eu olhei para a parede em
que a luz da TV (ainda tocando Music For Mushrooms)
estava refletida.
Aí começou uma sessão de filme que pareceu durar uns
30 minutos:
As sombras viraram formas diversas:
A primeira forma foi uma mulher com um chapéu e
uma cesta, andando.
Depois vieram outras formas – a de um homem
dançando; a de um homem pelado com um pau ereto…
A partir daí, tudo o que eu olhava adquiria uma
fisionomia humana: eu vi rostos de palhaços; do Terence
McKenna, etc...
O tema de palhaço/joker/comediante foi presente do
começo ao fim.
A conclusão que eu tive desse tema foi de que eu
sempre fui atraído por comediantes, porque eles
representam a verdade sem frescuras. Eles são os filósofos e
shamans modernos, aceitos pela nossa sociedade como
“comediantes”, mas são eles que possuem a liberdade de
expressão de falar o que querem enquanto criticam a
sociedade; a política; as religiões e a elite capitalista sem
sofrer punições legislativas.
Eles usam a arte como um meio de propagar a verdade,
o amor e o senso crítico, enquanto fazem as pessoas rirem.
Afinal, o remédio sempre desce melhor com um toque de
açúcar.
As almas que eu mais admiro são os jokers – eles são os
humanos mais corajosos de todos. Eles expõem seus
pensamentos; corpos; emoções e brincam com a linguagem
para evocar o riso. O riso é a consequência de iluminar as
almas - que estão adormecidas - com a verdade. O
joker/comedian é o único rótulo pode ser ele mesmo sem
ressalvas ou medo de perder o emprego.
Pessoas que têm trabalhos em que precisam seguir
regras e obedecer seus chefes não podem ser elas mesmas.
Elas precisam usar personas falsas para se adequarem ao
ambiente de trabalho. Caso elas fujam da conduta
profissional, elas correm o risco de ficarem sem emprego e
consequentemente não conseguirão sobreviver no sistema.
E quanto mais tempo você finge ser quem você não é,
mais você perde a sua verdadeira essência, e com o tempo
você irá virar uma casca vazia sem alma ou originalidade,
apenas mais um número; um NPC (Non Playable Character)
e a sua vida será robotizada e anestesiada.
A maioria das mortes não são lamentadas porque as
almas que morreram foram vítimas da cultura em que viviam
e não tiveram a sorte de absorverem memes que catalisasse
almas originais, capazes de pensar por si mesmas.
Por isso que as almas mais livres de todas são os
Jokers/comedians. Quase não há limite para a arte de um
comediante.
Escritores vêm em segundo lugar – mas são poucos os
escritores que possuem almas livres. A maioria ainda aceita
os pacotes de softwares do zeitegeist atual. Eles tendem a
serem covardes; squares; sem brilho ou selvageria. De todos
os escritores que me influenciaram apenas o Bukowski e o
Hunter Thompson são almas livres, que criaram a sua
própria persona sem ter medo ou receio de serem renegados
pela sociedade. Talvez o álcool seja um fator essencial para a
ousadia de um Outsider excêntrico capaz de ser você mesmo
sem pensar nas consequências, pois tanto o Bukowski
quanto o Thompson são alcoólatras legendários.
Na minha perspectiva, eu já estava assistindo os filmes
na parede por vários minutos enquanto filosofava sobre
tudo isso. Mas apenas passou o tempo necessário para a
minha tripsitter mijar e voltar para o sofá.
Assim que ela voltou e deitou do meu lado, eu
continuei a falar freneticamente, tentando canalizar o fluxo
de ideias em sentenças lúcidas e racionais. Mas a quantidade
e frequência de epifanias eram tão intensas que eu não
conseguia falar coerentemente.
Nos intervalos das minhas falas, eu respirava fundo e
comentava: “Estar na hiperdimensão psicodélica é uma
maratona psíquica; a sua mente está correndo
alucinadamente (literalmente) e chega uma hora que você
precisa parar de correr, respirar fundo e então voltar a
correr”.
Mas pelo que eu me recordo, a ideia que eu estava
tentando expressar é a seguinte:
Somos todos energia.
“Se você quiser entender como o universo funciona,
pense em termos de energia, vibração e frequência”
Nicola Tesla.
A ciência já chegou nessa conclusão, mas sentir na pela
que eu e você e tudo o que existe é energia é completamente
diferente de entender por uma perspectiva racional e
analítica.
Quando você ingere uma dose “Heroica” de
psicodélicos, você VIRA energia.
E de alguma forma intuitiva, eu entendi que A Fonte é
a energia que criou o universo. Ou seja, nós somos A Fonte
– e ao morrermos nós voltaremos para A Fonte.
O clichê psicodélico que todos têm ao ingerir altas
doses de que “SOMOS TODOS UM” é porque todos
sentimos que viramos energia. Não usamos nossos sentidos
físicos; intelectuais ou linguísticos para chegar nessa
conclusão. É um sentimento místico, completamente fora de
qualquer embasamento corporal ou científico.
Eu entendi que a dinâmica de relacionamento entre
TODOS os seres vivos é baseada em energia.
Eu senti as energias das pessoas que eu amo & e me
amam. E eu percebi que eu não projetei muita energia
positiva e calorosa para elas. Todos os problemas de
relacionamentos que eu tenho é devido à esse desequilíbrio
de energia. Se você quiser ter um relacionamento saudável –
seja com qualquer pessoa, desde um familiar à um
relacionamento amoroso – alimente as pessoas que você
ama com amor e energia positiva. Caso contrário, os
relacionamentos serão lentamente corroídos por energias
negativas.
E eu senti o quão poderosa é a energia do amor. O
amor é a energia que move o mundo – nós confundimos
poder e dinheiro com energia positiva, mas tais energias são
as energias que estão sugando a Mãe Gaia enquanto
causamos a extinção de milhões de espécies, além de
estarmos cometendo um suicídio lento e doloroso.
A única energia que alimenta e cura é a energia do
amor.
É por meio da energia do amor que conseguimos ser
felizes; viver em paz e harmonia.
Não é a toa que John Lennon – outro psiconauta
inveterado, que teve a sua vida & filosofia moldada pelo uso
de LSD – diz:
“All You Need Is Love, Love... Love is All You
Need…”
Eu tentei explicar todas essas epifanias de uma forma
insana e incoerente para a minha tripsitter. Obviamente, ela
não entendeu.
Eu até cheguei a exclamar: “Eu tenho certeza absoluta
de que essa dimensão em que eu estou agora é a dimensão
que iremos quando morrermos!”.
Mas agora que estou sóbrio vejo o quão
fundamentalista eu fui enquanto viajava.
Só porque eu e milhões de pessoas sentimos que o
plano astral psicodélico é o plano que estávamos antes de
nascer & o plano que iremos quando morrermos, isso não
nos dá o direito de afirmar sem sombra de dúvidas de que
nós descobrimos a verdade sobre a vida além da morte & do
nascimento.
A certeza de ter descoberto as verdades do Universo
enquanto você viaja com psicodélicos é um sentimento que
vai além da razão; intuição e emoção. Por isso que os
termos: espiritual; místico e “Iluminado” foram criados.

E então bateu a sede e a vontade de mijar. Eu nunca


tive tanta sede em doses menores, mas por algum motivo
essa dose me fez ficar com muita sede a partir do ápice
(terceira hora de viagem).
Eu levantei – lenta e cuidadosamente – e fui beber
água. Meus gestos eram fluídos e lentos, e estava bastante
difícil andar.
Consegui beber água, e então fui mijar.
Mas eu não estava andando. Eu estava fluindo. Meus
braços e coluna estavam deslizando pelo tempo e espaço. E
então eu entendi as danças havaianas: as mulheres fazem
aqueles gestos de “ula ula” enquanto rebolam o quadril. Tal
dança representa perfeitamente o estado em que eu estava.
Eu não conseguia andar rigidamente ou com intenção. Tal
como no começo da viagem, quando eu me gravei rindo
enquanto mexia os braços em formato de ondas: a
necessidade de se mover fluidamente me dominou
completamente.
Ao chegar ao banheiro, me deparei com o espelho e o
meu reflexo.
E então fiquei completamente fascinado pelo meu
receptáculo de carne: meu corpo.
Não é a toa que também há o clichê de que quando as
pessoas estão viajando elas passam minutos – ou até mesmo
horas – olhando-se no espelho.
Looking at the mirror & Taking my persona too seriously
Gratitude

Timeline: Em torno da meia-noite.


Ao me olhar no espelho, eu comecei a envelhecer e à
rejuvenescer décadas em segundos, tal como quando eu
olhei para a minha tripsitter.
Com o tempo, o tempo & espaço se estabilizaram, e
então eu consegui me ver.
Mas não só ver a minha aparência e o meu reflexo.
Eu consegui ME VER, de fato. Como se eu estivesse
olhando para a minha alma e não a minha casca temporária
corporal, repleta de gases; líquidos e bactérias.
E a minha alma não era linda.
Eu comecei a fazer caretas e a me enxergar de todos os
ângulos e expressões faciais possíveis.
Minhas pupilas estavam tão grandes que mal dava para
ver a íris dos meus olhos.
Fiz até mesmo a expressão em que você empurra o
queixo para baixo até que uma papada gigantesca se forme e
você fique com um queixo duplo. Nessa hora, toquei a
papada com o indicador e comecei a murmurar
“BILU BILU BILU” e rir silenciosamente e histericamente.
Foi a primeira vez que eu realmente olhei para o meu
rosto como ele realmente é, não como eu quero que ele seja.
Eu percebi que a minha vida inteira eu tentei passar
uma imagem de um homem estoico; forte; lindo; inteligente
e intelectual.
O que eu vi foi um narcisista que se preocupa demais
com a aparência; a forma de falar e agir.
Eu passei a vida inteira me levando a sério demais, ao
mesmo tempo em que as almas que eu mais admiro são as
almas que não se levam a sério – pelo contrário, se auto-
depreciam enquanto usam linguagem de uma forma poética
para revelar a verdade em um formato cômico.
Eu percebi que a maior parte da minha vida eu usei
personas falsas que não condizem com a minha alma e com
a minha verdadeira personalidade.
O medo de não ser aceito pela minha família devido ao
fato de não ser uma pessoa comum, que busca uma carreira
estável por meio de trabalhos adquiridos por meio do
esforço de se formar em uma área específica.
O medo de não querer que eles saibam sobre a minha
paixão pela verdade; arte e amor.
O que é bizarro, porque a verdade; a arte e o amor
deveriam ser os pilares da civilização.
Mas a realidade é que a verdade é distorcida pela mídia
para que as pessoas que estão no poder (a elite capitalista)
continue no poder; a arte é considerada supérflua, um mero
entretenimento, e pessoas que escolhem a arte como meio
de sobrevivência não são consideradas membros respeitáveis
da sociedade (até que você consiga sucesso, aí você é
consagrado uma estrela) e o amor é visto como um
sentimento para os fracos; o que importa é o poder e a
habilidade de superar os seus competidores.
O papel da educação não é criar seres humanos com a
capacidade de pensar criticamente e usar a criatividade para
criar artes maravilhosas e épicas. A educação não alimenta o
senso de curiosidade. Ela aniquila a curiosidade natural de
todo ser humano. O modelo da educação atual tem como
propósito criar cidadãos obedientes, que respeitem a
autoridade e que aprendam o mínimo de conhecimento
necessário para ingressar no mercado de trabalho. É o
mesmo que sugar todas as cores e entusiasmo intrínseco na
nossa espécie e substituir por regras; modelos de
comportamento e pensamento.
A viagem foi marcada com essas longas epifanias. O
meu terceiro olho foi aberto e eu não conseguia deixar de
ver toda a verdade sobre tudo.
Honestamente, eu já estava exausto.
Mas a viagem ainda mais umas 4 horas até eu voltar
completamente para a baseline.
Eu continuei olhando-me no espelho e pensando sobre
a minha vida:
Eu era o meu maior inimigo. Eu que impus limites
imaginários sobre o que eu poderia realizar por meio da
minha criatividade; linguagem e ações.
Eu que estava aceitando uma vida desgraçada e sem
esperança de um escritor que não escreve; um storyteller
digital que não gravava vídeos...
Eu estava criando o meu próprio inferno.
Nós somos os criadores das nossas realidades.
Os heróis da humanidade foram os que agiram de
acordo com os seus sonhos, sem temer ou desistir
antecipadamente porque seus objetivos eram difíceis ou
repleto de obstáculos. Eles agiram mesmo perante
probabilidades ridículas que beiravam ao impossível.
Nós criamos as nossas próprias histórias, portanto, nós
temos o potencial de sermos os heróis de nossas histórias.
Seja o herói de sua historia.
As melhores historias são as dos heróis que estão
prestes a desistir: heróis que tiveram suas esperanças
aniquiladas; heróis que não possuem nada além da sua
capacidade de continuar lutando, usando de todos os
artífices intelectuais; emocionais; criativos e espirituais para
atingirem seus objetivos.
Quando o herói levanta pela centésima vez, mancando;
sangrando; chorando e gritando, e finalmente consegue
atingir o seu objetivo: e normalmente o objetivo é superar a
si mesmo. Porque o herói é aquele que supera não só os
obstáculos que estão na sua frente, mas também supera a si
mesmo. Ele evolui a cada dia, continuando a aprimorar suas
habilidades na área em que escolheu vencer.
Essa é a história que possui uma ressonância universal
com todos os seres humanos
E eu percebi que eu já não era o herói da minha própria
historia. Eu era um personagem secundário, insignificante.
Aí eu percebi a ironia da minha vida:
Para quem dedicou tanto tempo para ler e entender a
arte da escrita para que eu pudesse escrever histórias épicas e
emocionantes que tivessem ressonância com os meus
leitores, eu era um péssimo autor da minha própria vida.
Eu estava escrevendo a história de um humano passivo,
que transbordava de potencial latente. Um potencial que
estava começando a apodrecer por estar estagnado por tanto
tempo.

Time To Create
And Clean My Soul
From All
The Cobwebs & Spiders

Após passar cerca de uns 20 minutos no banheiro


tendo essas epifanias e revelações, eu voltei para a sala. A
minha tripsitter já estava com sono. Eu deitei do lado dela e
após um tempo eu reclamei que eu já estava tão exausto que
não aguentava mais enxergar a realidade com o terceiro olho.
Eu já tinha visto a minha alma como ela realmente é; já tinha
viajado para o núcleo do Universo e quase tive um vislumbre
da Última Verdade; vi almas de meus mestres que já
morreram...
Ela ignorou a minha reclamação e murmurou para eu
relaxar e deixar a viagem fluir Foi o que eu fiz.
Após um tempo, eu comentei algumas insanidades,
inclusive um lapso em que eu achei em que eu estava
canalizando as almas da mãe e da avó da minha tripsitter
(ambas já falecidas). Eu lutei para que elas não entrassem no
meu corpo, porque eu não queria canalizá-las. Essa foi uma
das partes mais bizarras da experiência. Até porque condiz
com a minha teoria de que a hiperdimensão psicodélica é a
dimensão pré & pós morte, logo todas as almas que
morreram estão nessa dimensão, unidas com A Fonte.
Isso me fez indagar nas pessoas que se julgam ser
“médiums”, capazes de canalizar espíritos e almas que
residem no plano astral. Um dos mais famosos é o Paul
Selig, que diz ter o poder da clarividência e consegue
canalizar vários espíritos enquanto conversa com alguém.
Honestamente, eu acho que isso é charlatanismo. Eu
não acho que existam médiuns com esse poder, e o que eu
senti não passou de uma alucinação absurda.
Mas ainda assim, eu não descarto a possibilidade. É
possível, mas a probabilidade é ridícula de pequena.
Eu não descarto porque até mesmo a ciência chegou
em um ponto em que o Universo se tornou mágico e
impossível. Então, coisas mágicas e impossíveis acontecem.
Portanto, médiuns que possuem a capacidade de canalizar
almas, sendo tal feito algo mágico e impossível, estão dentro
do espectro de possibilidade científica.
Após esses eventos peculiares, eu deixei-a dormir. A
partir daí, o resto da viagem foi praticamente introspectivo.
Eu continuei a sentir vibrações enérgicas – eu era
energia, tudo era energia.
E então eu olhei para cima e novamente, tal como
ocorreu na minha viagem com 5 G – o primeiro relato que
eu publiquei aqui no canal – eu vi uma sombra de uma
Aranha gigantesca.
E então, no cantinho do teto, eu vi teias e uma aranha
marrom andando pra lá e pra cá.
Após passar algum tempo olhando para a aranha, eu
finalmente entendi o porquê de eu sempre ver aranhas nas
minhas viagens psicodélicas:
Um dos símbolos que a aranha representa é a Morte. E
desde minha primeira viagem, eu estive em contato com a
morte. Porque por anos, eu fiquei paralisado pela
inatividade; pelo medo e pela insegurança.
E tal inatividade estava literalmente me matando.
A minha mente estava transbordando de
conhecimentos literários; filosóficos; científicos; artísticos,
etc...
Mas não importa o quanto conhecimento você tenha, o
importa é o modo em que você aplica o seu conhecimento.
O conceito de sabedoria é saber viver de uma forma
equilibrada; feliz; saudável e harmônica. Sabedoria não é
acumular livros; documentários; seriados, arte, etc...
E eu não estava colocando o meu conhecimento em
prática.
A minha mente, transbordando com palavras, conceitos
e sonhos estava repleta de teias de aranhas e pó, enquanto a
entropia reinava – causa dos sintomas da minha apatia e
depressão. Eu estava usando a minha alma como depósito,
com medo de compartilhá-la com os outros porque eu não
me considerava pronto ou evoluído o suficiente.
E se eu continuasse a depositar tudo o que eu consumia
sem criar e compartilhar, eventualmente a minha mente seria
consumida pelas aranhas. Eu literalmente iria morrer caso eu
continuasse apático e inativo, sendo um consumidor covarde
e preguiçoso.
Foi aí que eu decidi:
A partir de agora, é criar, compartilhar e agir.
Chega de inatividade.
É hora de eu virar o herói da minha história.
Voltando para a Baseline

A minha tripsitter já estava dormindo profundamente.


Eram cerca de 3 horas da manhã. Eu levantei e fui beber
água e comer alguma coisa.
Eu bebi água e esqueci que ia comer alguma coisa, e
então fiquei andando pela casa, olhando para os meus gatos.
Fui até o quarto, peguei um dos meus gatos no colo e fiquei
acariciando ele. Eu tenho 6 gatos, pelo menos 4 vieram e
ficaram me rodeando. Eu já li em alguns relatos de viagem
que gatos sentem quando o dono está viajando com
psicodélicos, e devo admitir que eu tive a mesma impressão.
Nesse momento, eu senti uma gratidão absurda pela
vida; pelos meus gatos; pela minha família; pela minha
tripsitter e por todas as pessoas que eu amo.
Eu senti uma necessidade absurda de cuidar de todos e
alimentá-los com a energia mais calorosa; colorida e amorosa
de todas (eu ainda estava sentindo que tudo era energia,
inclusive os sentimentos e emoções que transmitimos para
as pessoas).
Após passar alguns minutos acariciando meus gatos, eu
fui para a cozinha onde finalmente decidi comer. Eram umas
4 horas da manhã, então já fazia 14 horas desde que eu tinha
comido. Bizarro que eu estava com nada de fome, mas eu
sabia que eu tinha que comer porque meu corpo estava
fraco.
Então, como o bom ser iluminado que eu sou, eu comi
dois pedaços de pizza e bebi uma Budweiser.
Me arrependi na hora.
Comida mortífera não combina com psicodélicos.
Psicodélicos não só curam a mente: curam o corpo,
também. Eu senti uma necessidade de comer algo saudável e
que não faça mal para o corpo.
Mas a Budweiser foi essencial: foi graças a ela que eu
consegui dormir, 30 minutos depois.
Eu tive um sono sem sonhos, e acordei cedo porém
sem sono.
Passei o dia seguinte (domingo) completamente exausto
e fraco, mas com um afterglow lindo, me sentindo calmo e
contente.
Na segunda, acordei com um humor tão elevado que eu
chegava a estar eufórico.
Termino de escrever esse relato no dia 13 de outubro,
na terça.
E ainda sinto um afterglow que faz com que eu me
sinta muito mais grato, contente, calmo e feliz do que antes
da viagem.
Os meus sintomas de depressão leve sumiram.
A minha perspectiva nihilista foi aniquilada.
Agora, eu só quero criar; compartilhar; cuidar das
pessoas que eu amo e divulgar memes que eu considero
benéficos para o zeitegeist, com o intuto de ser um agente da
evolução.
Defendendo a Arte, a Verdade e o Amor.
Limpe as teias de aranha da sua alma e não deixe que as
aranhas comam o seu cérebro.
Seja o herói da sua história.

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