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TRABALHO INTERMITENTE:
flexibilização ou precarização de direitos?
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................................
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................
ARTIGO CIENTÍFICO
BACHARELADO EM DIREITO
NITERÓI
DEZEMBRO DE 2017
2 ASPECTOS ATUAIS DO TRABALHO INTERMITENTE
No Brasil, a reforma trabalhista trouxe uma nova forma de contratação com o objetivo
de flexibilizar o mercado de trabalho, regulamentada pelo artigo 452-A da Lei 13.467/17,
alterado pela medida provisória 808/17, a qual acrescentou os artigos 452-B ao 452-H à CLT.
O trabalhador vincula-se ao empregador por um contrato escrito, bilateral, remunerado,
proporcionalmente não inferior ao salário mínimo por hora ou por jornada, com subordinação,
sem habitualidade e, consequentemente, sem garantia de perceber um mínimo remuneratório.
Todas as verbas relativas aos direitos trabalhistas protegidos constitucionalmente são pagas
em conjunto, e, como cita Delgado1: “incluem as seguintes parcelas: remuneração; férias
proporcionais com acréscimo de um terço, décimo terceiro salário proporcional; repouso
semanal remunerado; adicionais legais”.
O trabalho intermitente já é uma realidade consolidada em vários países, por exemplo:
o contrato a zero hora (zero hours contract) do direito inglês; o trabalho intermitente do
direito continental europeu. O primeiro baseia-se na livre negociação direta entre as partes e o
segundo é, em regra, garantido por negociação coletiva e forte legislação protetiva.
Na Inglaterra, o contrato a zero hora não tem definição legal, não há garantias ao
trabalhador, que somente percebe remuneração caso seja requisitado e efetivamente trabalhe.
Há risco de abuso nesta forma de contratação, muito utilizada por gigantes como Mc
Donald’s, por exemplo, que pode transformar um posto de trabalho regular contínuo, com
garantias jurídicas, em um trabalho precário, sem regramento legal, ao convocar
continuamente os mesmos trabalhadores nesta modalidade contratual.
Nos Estados Unidos é denominado trabalho por convocação (on call employment),
que se caracteriza como tempo em espera no qual os trabalhadores aguardam na própria
empresa ou fora dela, à critério do empregador, a fim de que este possa ser devidamente
localizado. A lei de proteção ao trabalhador Fair Labor Standards Acts (FLSA) veda a
remuneração abaixo do mínimo estipulado. Entretanto, conforme Pacheco, et al2: “A principal
lei federal trabalhista nos Estados Unidos, a Fair Labor Standard Act (FLSA) de 1938, que
cobre a maior parte dos trabalhadores do país, não trata do trabalho intermitente”. A
1 DELGADO, Maurício Godinho; DELGADO, Gabriela Neves. A reforma trabalhista no Brasil: com os
comentários à Lei n. 13.467/2017. São Paulo: LTr, 2017, p. 156.
2 PACHECO, Flávia; et al. Análise comparativa normativa: trabalho intermitente no brasil e em diplomas
A zero hour contract thus enables employers to call on staff at any time and not pay
them when they are not needed. There are no specific rules covering the position of
persons working under such contracts [...]. As a general rule persons working under
zero hours contract are unlikely to be able to accrue continuity of employment but
can do so if, in practice, they work regularly. 4
3 SCROUP, Henry; BARMETT, Daniel. Employment Law Handbook2008. Londres: Law Society, 2008. p. 30.
4 Tradução livre: O contrato a zero horas, assim, permite que os empregadores convoquem funcionários em
qualquer momento e não os paguem quando não são necessários. Não existem leis específicas que abranjam a
posição das pessoas que trabalham sob tais contratos [...]. Como regra geral, as pessoas que trabalham sob
contrato de zero horas improvavelmente teriam a capacidade de se manterem em empregos continuamente, mas,
na prática, eles trabalham regularmente.
5 LIMA, Francisco Gérson Marques de. Trabalho intermitente, [Net], 2017, p.3.
agrícola, serviços médicos em jogos de futebol, etc., podem recorrer a esta modalidade de
recrutamento.
Na Itália, o trabalho intermitente é regido pelo decreto legislativo 81/2015. É um
contrato a tempo determinado, escrito, por um período fixo, pelo qual um trabalhador é
disponibilizado a um empregador de forma descontínua ou intermitente, de acordo com os
requisitos estabelecidos nas convenções coletivas, em períodos predeterminados durante a
semana, mês ou ano. Na falta de convenção coletiva, pode ser autorizado por decreto do
ministro do trabalho ou do ministro de assistência social. Possui limitação quanto à faixa
etária: permite trabalhadores com idade inferior a vinte e quatro anos no termo inicial e não
superior a 25 anos no termo final do contrato e trabalhadores com mais de cinquenta e cinco
anos. Excetuando-se o trabalho nas áreas de turismo, obras públicas e entretenimento, o
empregado pode trabalhar para o mesmo empregador por não mais do que quatrocentas
jornadas efetivamente trabalhadas no intervalo máximo de 3 anos. Caso estes limites sejam
ultrapassados, o contrato torna-se automaticamente a prazo indeterminado,
independentemente de subterfúgios formais.
Na França, conforme o Article L3123-31, é necessária negociação coletiva com os
sindicatos para autorizar a contratação de mão de obra na modalidade trabalho intermitente.
Segundo Gurgel6, a lei permite contratação sem negociação coletiva por empresas adaptadas
que empreguem 80% de sua mão de obra com trabalhadores com deficiência e por centros de
distribuição de trabalho; em fase experimental, estão liberados do acordo os empregos
sazonais cujas atividades têm períodos de aumento e diminuição relativamente constantes por
motivos climáticos ou econômicos. As áreas em que são autorizadas pelo Estado tais
trabalhos são: turismo, trabalhos sazonais e, no silêncio da lei, os Acordos Coletivos devem
definir tais atividades.
A medida provisória 808/17 encontra-se em apreciação do Congresso Nacional, é
incerto se haverá ou não limites a esta forma de contratação, tal qual descritos nos países do
continente europeu ou se terá menos restrições como nos Estados Unidos e Inglaterra.
6 GURGEL, Maria Aparecida. O contrato de trabalho intermitente é incompatível com a reserva de cargos para
pessoas com deficiência em empresas com cem ou mais empregados, [Net] 2017. p. 1.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SCROUP, H; BARMETT, D. Employment Law Handbook. 4th ed. Londres: Law Society,
2008. 460 p. ISBN 978-1-85328-674-2.