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RESENHA

O objeto desta resenha é o artigo produzido por Marques, Borges e Reis (2016),
os quais realizaram um survey com servidores públicos do estado de Minas Gerais para
analisar como esse segmento reagiu à reforma administrativa instituída pelo governo a
partir de 2003, especificamente no que se refere ao gerenciamento de pessoas e aos
impactos da implantação da avaliação de desempenho individual. A resenha está
dividida em cinco partes: introdução, referencial teórico, metodologia, resultados e
conclusões.
Na introdução, os autores situam o leitor quanto à pesquisa realizada,
explicitando que, no setor público, a satisfação do cidadão com o serviço ofertado é um
fator que interfere diretamente na condução de reformas e mudanças organizacionais.
Tais mudanças no gerenciamento de pessoas referem-se às alterações feitas no modo
como elas trabalham e interagem, ou seja, essas mudanças requerem novos
comportamentos não somente dos indivíduos, mas também das equipes de trabalho. As
mudanças organizacionais, por sua vez, acabam interferindo na satisfação no trabalho,
uma vez que as mudanças podem ser interpretadas de forma positiva, como uma
oportunidade, ou de forma negativa, como uma ameaça.
No referencial teórico, os autores dialogaram com diversos pesquisadores da
área da Administração que estudam a mudança organizacional e a satisfação dos
trabalhadores frente a esses mudanças. Dessa forma, a mudança organizacional pode ser
definida como “[...] qualquer transformação de natureza estratégica, cultural, humana,
estrutural ou de outra natureza que gera impacto na organização” (MARQUES,
BORGES; REIS, 2016, p. 43).
Considerando que essas mudanças envolvem dimensões cognitivas, emocionais
e comportamentais, nem sempre elas são interpretadas de forma positiva pelos
servidores, e isso pode ser um fator que interfere no sucesso ou fracasso da mudança
proposta. Sendo assim, quando uma organização opera mudanças em seus processos, o
trabalhador esboça reações que, dentro de um continuum, podem ir desde a resistência
ativa à cooperação plena. A posição ocupada dentro desse continuum depende da
percepção do trabalhador acerca da mudança, ou seja, se ele entende que ela será
benéfica ou prejudicial a si próprio. Nesse sentido, a resistência do trabalhador à
mudança é expressa em um comportamento defensivo, no qual ele se protege dos efeitos
– reais ou imaginários – que essa mudança poderá ocasionar.
Além disso, a reação do servidor à mudança está diretamente relacionada à sua
satisfação no trabalho que, segundo os autores, refere-se à percepção que esse indivíduo
tem de como seu trabalho preenche determinados valores individuais. Conforme
apresentado pelos autores, quando uma organização se preocupa com a satisfação do
trabalhador e com essa possível resistência à mudança, ela investe na comunicação, no
treinamento e na sensibilização. Quando isso é desconsiderado, corre-se o risco de
comprometer o clima organizacional e de não se obter êxito na mudança implantada.
Após discorrer sobre esses aspectos teóricos, os autores explicaram que a
reforma administrativa no governo de Minas Gerais no âmbito do gerenciamento de
pessoas assentou-se em três eixos: a avaliação de desempenho individual, que foi o foco
do estudo realizado, a reestruturação das carreiras e o realinhamento de competências.
A implantação da avaliação de desempenho individual teve como intuito
proporcionar maior objetividade e imparcialidade às avaliações; melhorar a
remuneração dos profissionais competentes e afastar aqueles que obtivessem
repetidamente desempenho insatisfatório. Dessa forma, pretendia-se melhorar a
qualidade dos serviços prestados à população. A aferição do desempenho do servidor,
que poderia ser considerado excelente, bom, regular ou insatisfatório, foi feita a partir
dos seguintes critérios: qualidade do trabalho; produtividade; iniciativa; presteza;
aproveitamento em programas de capacitação; assiduidade; pontualidade; administração
do tempo; uso adequado dos equipamentos e instalações; aproveitamento dos recursos;
racionalização de processos e capacidade de trabalho em equipe.
A implantação da avaliação de desempenho individual provocou impactos na
vida dos servidores, uma vez que de acordo com o conceito obtido eles poderiam ser
promovidos, receber adicional de desempenho e prêmio por produtividade. Por outro
lado, a obtenção de notas insatisfatórias repedidas vezes poderia ocasionar a demissão
do trabalhador. Sendo assim, essa dinâmica gerou sentimentos de apreensão e até
mesmo rejeição quanto a essa forma de avaliação.
A seguir, os autores descreveram a metodologia da pesquisa, de natureza
explicativa, que constou da aplicação de um survey a um número significativo de
servidores. Após apresentar explicações quanto ao instrumento de pesquisa bem como à
coleta e análise dos dados, os autores apresentaram o resultado, composto pela análise
descritiva dos dados e pela análise da hipótese de pesquisa.
Na conclusão da pesquisa os autores retomaram o objetivo principal do estudo
que foi compreender como a reação individual à mudança organizacional influencia os
níveis de satisfação no trabalho. Sendo assim, concluiu-se que as reações positivas dos
servidores à implantação da avaliação de desempenho individual resultaram em níveis
de satisfação no trabalho significativamente mais elevados, ao passo que a situação
contrária, de resistência à mudança organizacional, resultou em índices inferiores de
satisfação.
Também a título de conclusão, os autores constataram que a reação individual à
mudança organizacional é um fenômeno complexo, pois depende de aspectos
psicológicos, valores, crenças e emoções do trabalhador. Assim, a cooperação ou a
resistência se dá por motivações diferentes.
Os servidores que cooperaram com a implantação da avaliação individual de
desempenho entendem que as mudanças realizadas não afetaram o clima
organizacional. Por outro lado, os servidores que resistiram às mudanças justificaram
que a organização e os profissionais envolvidos na concepção e implantação da
avaliação de desempenho não são os mais capacitados para a tarefa.
A pesquisa apresentada é de grande interesse às pessoas que estudam a
Administração Pública ou que estão, de uma forma ou de outra, envolvidas com a
temática. Conforme observado, promover mudanças organizacionais, seja em
instituições públicas ou privadas, constitui-se em uma necessidade premente em uma
sociedade em constante evolução. A leitura do artigo possibilitou conciliar aspectos
teóricos com a prática vivenciada pelos sujeitos que passaram por significativas
mudanças em seu ambiente de trabalho.
As mudanças são importantes e necessárias, porém elas devem ocorrer em um
contexto de respeito e escuta aos servidores, pois são eles que lidam diariamente com as
demandas da população. Quando as mudanças acontecem em um clima dialógico, e não
impositivo, haverá mais chances de envolvimento do servidor, que provavelmente ficará
mais satisfeito com suas condições de trabalho. A satisfação no trabalho, por sua vez,
acaba impactando positivamente na qualidade do serviço prestado à população. Sendo
assim, quando se pretende implantar mudanças, tendo em vista a melhoria do
atendimento ao público, os gestores devem primar pelo diálogo, pela clareza da
comunicação e pela sensibilização do servidor, levando em consideração os aspectos
psicológicos e emocionais que podem interferir no processo.

REFERÊNCIA
MARQUES, Antônio Luiz; BORGES, Renata; REIS, Isabella do Couto Reis. Mudança
organizacional e satisfação no trabalho: um estudo com servidores públicos do estado de
Minas Gerais. Rev. Adm. Pública - Rio de Janeiro 50(1):41-58, jan./fev. 2016.

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