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FABIO TOMBINI
“(...) Usando drogas eu
me sentia extremamente
feliz, criava-se uma
felicidade imediata que
era proporcional a todas
as outras pessoas que
estavam junto comigo
e que eram usuárias de
drogas como eu.”
u PÁG 9 e 10
José Vargas
“A gente misturava
esterco de cavalo com
pimenta, só de sacanagem,
O maior entre todos os pra zoar com os caras.
Eles compravam. A gente
festivais musicais fincou fechava, enrolava como
os pés na história mundial um baseadinho: colocava
fumo, a pimenta preta e
deixando marcas nos o esterco de cavalo. Eles
sonhos da juventude que pensavam que aquilo era
droga.”
se seguiu aos pedidos de
Mateus Rodighero
u PÁG 11
paz e amor.
música
Miles Davis
A profusão de
improvisos que mudou
o curso do Jazz
completa cinquenta
anos
+ +
u PÁG 19
+++ crônicas +++ MAIS
Felizes para quando Sinal de tempo bom Mapa da Mídia
Faro
“Agora ela vive rodeada de unguentos Renovare, poções “Pequenas coisas” simplesmente surgem a nossa frente, Fotojornalismo
Avonus, olhos de lagartixa, pelo de camelo, intestinos de carregando em si a possibilidade de levar boas novas
rato e outros ingredientes estranhos (...)” aos corações, apenas por sua bela existência.”
...e outras
PRALER
página2
FALE COM O PRALER Críticas ou Sugestões: agenciaj@upf.br Mande seu texto: agenciaj@upf.br Telefone: (54) 3316.8489
agenda editorial
Grande Prêmio Ayrton Senna de
Jornalismo
Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo
Mudança de pauta
O Instituto Ayrton Senna promove o 10º GP
Ayrton Senna de Jornalismo. A iniciativa, em estes marcos de uma (r)evolução pauta, lançamentos e oportunidades
parceria com a Maxpress e a TV1 Comunicação
O primeiro PraLer/Zer que deixa
e Marketing, tem como objetivo reconhecer e a gráfica neste segundo semestre de cujos respingos ainda resvalam na para estudantes.
estimular jornalistas e veículos de comunicação 2009 traz como principal ingrediente atualidade, propondo, justamente, Completam este periódico da
que desenvolvem produtos jornalísticos que de seu recheio a profusão de sons, realizar um paralelo entre passado e Faculdade de Artes e Comunicação
evidenciam a importância da educação na cores, formas e personalidades em presente. Conservando as evidentes suas já tradicionais e plurais
construção da sociedade. congregação que compôs o maior diferenças, a juventude ainda mantém crônicas e duas entrevistas: uma
De abrangência nacional, a premiação entre todos os festivais musicais: os mesmos interesses dessa geração revela o perfil de um ex-hippie que na
contempla trabalhos que: Woodstock. que já foi para os anais da história lucidez do amadurecimento defende
- colocam em evidência os problemas e a busca pela abertura das portas da
desafios da educação;
Marcando com um imenso ponto e hoje rememora seus belos tempos
- descrevem experiências e iniciativas bem de exclamação aquele 1969 – e por de rebeldia juvenil do conforto do percepção sem o uso de drogas, a
sucedidas no campo da educação; que não as revolucionárias décadas sofá da sala de estar decorada com outra paradoxalmente desvenda a
- demonstram o impacto, a longo prazo, da de 50 e 60, que numa convergência os proventos de trabalhador da submersão nesse universo das drogas
educação em áreas como política, economia, de amadurecimento social e revolta, sociedade de classes? sem censura ou exacerbação de
saúde, cultura, meio ambiente e cidadania. desbravaram os caminhos para a Música, liberdade, igualdade, seus efeitos encantatórios, através
Nesta edição, o GP de Jornalismo distribuirá oposição aos dogmas tradicionais; amor, paz, sexo e transgressão ainda do relato literalmente ácido de uma
prêmios no valor total bruto de cem mil reais para igualdade civil perante a povoam o imaginário. O sonho juventude transviada.
(dividido em cinco) categorias Jornal, Revista, Agradecemos a todos os alunos
Televisão, Rádio e Internet. lei; para a arte marginal; para o não acabou, mesmo assim, pode
Poderão ser submetidos ao Grande Prêmio antibelicismo; para a liberação ser relembrado – até mesmo por e ex-alunos que colaboraram com
trabalhos realizados por jornalistas. Nas sexual; para a expansão da aqueles que não o viveram. Adentre suas produções textuais, sugestões,
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categorias Jornal, Revista, Televisão e Rádio consciência;... que culminariam com a um fantástico mundo de tons dicas, críticas e elogios. Aguardamos
a reunião pacífica de meio milhão psicodélicos vibrantes num Especial esperançosamente sua colaboração,
OUTUBRO 2009 Nº20
09 e 10
pelo telefone 41 3219-1488.
mapadamídia
COLABORE Na TV, no rádio, jornal ou revista: fique de olho na mídia e envie sua colaboração para agenciaj@upf.br
daredação
Religião é discussão: a opinião de uma leitora à
Censura no Estadão crônica “Deus do Nada” (PraLer 19)
Prezados membros do Conselho Editorial voz, não responde, não aparece.
e Sr. Gilberto Bernardi Jr.! Por isso sugiro que não espere por Deus
O conceito geral de censura remete para que as coias boas aconteçam no nosso
à ditadura, tempos sombrios onde o Há um mês, aproximadamente, recebi a mundo. Elas dependem infinitamente mais
AI-5 prendia e fechava redações por edição de junho do jornal PRALER. Como de nós do que Dele.
todo território nacional. Acreditamos faço todos os meses, fiz a leitura quase
que ela não irá voltar, certo? Errado. integral da edição, motivo pelo qual quero Não acho que as pessoas devem ser
parabenizá-los pelo trabalho feito, não reprimidas do seu direito de se manifestar,
Infelizmente a censura ainda dá sinais só neste mês como nos anteriores. Desde de reclamar, de criticar. Mas vejo que o alvo,
de vida e assombra a liberdade de que conheço o jornal, foram muitos os dessa vez, foi o errado. Há muito que se
expressão, tão exaltada e ardorosamente momentos de agradável leitura, absorção de questionar sobre as igrejas, as instituições,
defendida há poucas semanas pelos conhecimentos, opiniões, entretenimento e suas histórias, algumas de suas invenções e
magistrados que votaram contra a reflexões que experimentei. Meus parabéns ritos e, principalmente, os homens que delas
e continuem com esse trabalho. Com certeza fazem parte e que, por vezes, as manipulam ao
exigência de diploma ao jornalismo. eu deveria ter escrito antes, mas temos o seu bel prazer. Criticar a Deus, levianamente
No mês de julho, o jornal Estado de mau hábito de nos manifestarmos apenas e com aparente desconhecimento, não
São Paulo foi proibido, conforme ordem quando algo não nos agrada, ao invés de constrói nada de positivo, ao meu ver, pois
judicial impelida pelo desembargador valorizarmos e elogiarmos as experiências o que ganharemos com um povo descrente,
Dácio Vieira, de transcrever qualquer positivas que os outros nos proporcionam. desesperançoso e sem fé?
Eu não sou diferente! Me perdoem por isso. Uma boa semana a todos e obrigado por
trecho das gravações da Operação Resolvi escrever justamente porque, esse espaço para que eu, leitor assíduo do
Boi Barrica. Orquestrada pela Polícia acontecimento de oportunismo político, pessoalmente (e é importante que isso fique PRALER, possa me manifestar.
Federal, ela investiga as contas e um claro caso de protecionismo. bem claro), considerei muito equivocada Um abraço,
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negócios de Fernando Sarney, filho de Quais são os critérios? Se a Polícia a inclusão da crônica O DEUS DO NADA Giezi Schneider
José Sarney, sob a alegação de que o Federal liberou trechos das gravações à na edição do mês de junho. Desde que a li,
F
usava para palitar os dentes e fazer
oi lentamente que os estalos desagradáveis - decidiu
dois se transformaram. mudar-se para a torre mais alta do
Uma risadinha maligna castelo. O dragão procurou, então,
dela aqui, uma respiração mais o calabouço mais profundo e lá se
quente dele ali; uma verruguinha aninhou.
que surgiu no nariz dela, umas Agora ela vive rodeada de
escaminhas nos braços dele; um unguentos Renovare, poções
gosto exagerado por vassouras Avonus, olhos de lagartixa, pelo
que ela começou a desenvolver, de camelo, intestinos de rato e
um gosto exagerado por espadas outros ingredientes estranhos,
que ele começou a perder; um como máscaras faciais de pepino,
vestido que já não mais entrava cremes redutores de expressão
4
“
Lobo-Mau e vídeos pornográficos
- incluindo recolher a pele dele infantis encontrados em sua toca.
“
u Acadêmica de Jornalismo VIII Nível e estagiária da com sorriso indiscretamente
AgexJ
5
dia. beijo.
Nesse momento, em que
O
que você pensa quando administradores; ou fizessem
ouve alguém dizer que concurso público? Quem iria
fulano está feito na vida? empilhar tijolos, recolher o lixo
Você imagina que o tal fulano faz das ruas, empacotar compras no
o quê? Seja franco. Provavelmente mercado, organizar depósitos,
ele passou em um concurso entregar frutas? Não é maldade,
público daqueles em que o que mas é evidente que não há lugar
se trabalha é inversamente para todos. É simples: alguém
proporcional ao que se ganha tem de estar nessas funções,
e o salário é alto, não é? Ou assim os que as exercem (maioria
ele é um médico, engenheiro, esmagadora no país) necessitam
administrador, etc. Por que será mais do que urgentemente de
que dificilmente se dirá a um melhor remuneração.
pedreiro que ele está feito na Concordo que pelo tempo de
6
“
que algumas profissões são de
sucesso e outras não? Ser um
profissional da construção civil,
por exemplo, é inferior a ser, por
exemplo novamente, um gerente
administrativo? Observe que Todos desenvolvem através de suas íntimas
fato curioso: as profissões com
maior remuneração são as com
maior tradição política no Brasil.
peculiaridades uma pequena importância,
Médicos, engenheiros, advogados,
administradores e concursados
extremamente significativa, nesse imenso planeta
(são exemplos), desde o império
ocupam cargos legislativos, que comprimido pelo desejo do ter e do poder. Sempre
entre outras coisas definem
remunerações, como o salário
mínimo, e quais profissões
devem ganhá-lo. Estranho que
nenhuma dessas profissões ganha
“
procuramos um lugar de destaque, mas encontrá-
lo está sendo uma tarefa árdua e escassa.
o mínimo...
Pense comigo: e se todos
os jovens no Brasil quisessem
CRÔNICA
La Dolce Vita!
Pensa-se, de uma forma simples, o cotidiano aqui pincelado com gotículas minuciosas
A
ndar pelas ruas hoje em dia cobertos de colagens, pôsteres,
significa perambular numa recordações, fotografias reais de
profusão de ofertas e cores pessoas vivas, podemos constatar
que desnorteiam a caminhada... que apesar das décadas trocarem
Certa manhã, o vento gritante no calendário muita coisa passa
dos pampas ecoava na face um pelas ruas e, ao contrário da
som estridente que balançava informação que a gente vê com
até mesmo os galhos maciços das os olhos invisíveis e escuta com
árvores na praça do outro lado os ouvidos do inconsciente,
da rua, bagunçando os cabelos, elas ficam, permanecem nos
jogando-os para trás. modismos das pessoas que
Pessoas caminham apressadas transitam, no supermercado, na
nas primeiras horas da manhã padaria, no posto de gasolina,
7
ao tempo que se abrem as portas dentro dos carros, nas “baladas”,
“
sozinho, estático no sinal. nova estação com cortes de cabelos
Ambos contracenam em um novos, roupas novas, espírito
cenário habitual que pode ser
contemplado em qualquer cidade,
Inspirar-se é como abrir renovado e, quem dera, as contas
pagas e, até mesmo, os bichos
ou especificamente nesta que
estou a retratar.
uma janela, abrir os aclimatizam-se ao ambiente que
deixa de lado o cinza-azulado dos
Estão por demais preocupados
com suas tarefas diárias que,
compartimentos de si mesmo dias de inverno para dourar-se
com o sol em temperaturas um
inevitavelmente, não param para
pensar, ou apenas observar o
e deixar com que as coisas pouco mais elevadas. Torna-se
mais compreensível a ideia dos
fluxo sutil de informações a que
estão expostos. A rota para o
ao nosso redor entrem por povos celtas de criarem a roda do
ano e comemorarem o Sabatt, o
trabalho é interceptada por uma
visita à revendedora de celulares,
entre os orifícios da nossa ano novo no início de uma nova
estação. Pois visualmente tudo
passando pela boutique e, enfim,
chega-se ao destino.
pele, invadam a corrente se renova, se reinventa, o que
está em falta no mercado, diga-
Há um homem pintado de
colorido enfeitando o trânsito. E
sanguínea e provoquem um “ se de passagem, é a ousadia. E
esses transeuntes insones, que
ele não é sinaleira, nem mesmo
outdoor, não é panfleto, nem
estrondo dentro de si... não se cansam de perambular
todo dia pela cidade, estão muito
placa de sinalização, mas, sim, preocupados em combinar o
um palhaço malabarista, um sapato com a bolsa e vice versa e
guerreiro preso ao divã do capital, realidade remete a imaginação a é tratado como objeto de coleção, não percebem que isto está fora de
que cedo inventa uma maneira uma rua qualquer, inundada de ou simplesmente velharia, coisas moda. Deveriam procurar um meio de
de sobreviver a mais um dia e, pessoas muito preocupadas com o que por um período curto de inspirarem-se. Inspirar-se é como abrir
como os personagens anteriores, seu ir e vir. tempo ficaram para trás e agora uma janela, abrir os compartimentos
atua como se estivesse vendado, Não muito distante dali, um são resgatadas com unhas e dentes de si mesmo e deixar com que as coisas
balançando sobre a corda bamba grupo de pessoas é facilmente para profanar em altos brados um ao nosso redor entrem por entre os
do asfalto, onde pode a qualquer identificado entre a passagem elo entre os mortos e os vivos, os orifícios da nossa pele, invadam a
momento deslizar e cair. habitual diária, uma comunidade, objetos motumbos ressuscitam! corrente sanguínea e provoquem um
Pensa-se, de uma forma simples, uma junção de amigos, uma tribo... Ao revirar um destes baús estrondo dentro de si, pelos se arrepiam,
o cotidiano aqui pincelado com Como um lastro de bala que deixa urbanos, um lugar específico, coração bate em ritmo acelerado, boca
gotículas minuciosas de tinta fagulhas no caminho o tempo um ponto de encontro onde quase sem ar, como apaixonar-se por si,
fresca antes que ela seque e se encarrega de resgatar para a amigos sentam e tomam cerveja dentro de si e, então, refletir no espelho
vire uma moldura bonita para atualidade aquilo que outrora era trocando farpas sobre os times do mundo todas essas sensações que
uma parede destemperada. Esta chamado de moderno e que hoje de futebol para que torcem ou respingam um alívio estarrecedor.
CRÔNICA
Curta-metragem
Maria Teresa Weidlich
uAcadêmica de Jornalismo VIII Nível e estagiária da AgexJ
Porquês surgem a cada
acordadas
segundo
Demitem-se
Espelhos estilhaçam- Casam-se
Correm as se em pedaços Separam-se
estações;... Belezas são
Flores murcham, Rompem-se
construídas preconceitos
pessoas nascem
Marcas são consagradas
Alguns partem para jamais voltar...
Criam-se conceitos
Carros são vendidos Reatam-se relações...
Outros voltam de viagem
Cidades são Perde-se
Festeja-se assaltadas
Chora-se
Lembra-se
Lixo é produzido
Brinca-se E a natureza devastada
Esquece-se
Abusa-se
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novamente,
Se esvai
Constrói,
Jornais são jogados no lixo desconstrói...
Sem pais, com pais, Ou servem de adorno Fala, mente
Sem registro ou em algum canil
documento Pensa, dissimula
Pacifistas são Aprende...
Com casa, comida, mortos
amor... Incoerente
Ditadores constroem
Idealiza-se nações
Descontente
A
s paredes listradas expressam tinha som? O recepcionista disse
o colorido moderno e que não, e assim foi sucessivamente.
antenado, que divide o espaço Saímos à procura de um hotel que
com móveis estrategicamente tivesse som no quarto. Rodamos
posicionados numa pequena sala. A a cidade inteira e nenhum tinha.
tarde lá fora está daquelas em que Então, resolvemos pagar um motel,
os dias de inverno dizem adeus. porque sempre que eu usava drogas
Muita luz irradiando na cidade. O a primeira reação que eu tinha era
presságio de uma nova estação é ir direto para perto de um som.
o tema perfeito para uma imersão Chegamos no motel, usamos, e eu
num universo igualmente vivo. passei a noite inteira fora do quarto,
Entretanto, povoado por uma olhando para o telhado achando que
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química, neste mundo, denominada alguém iria chegar lá e nos pegar de
“droga” e alucinado com doses
“
uma viagem ao submundo de um efeito da droga, eu lembrava deles,
inconsciente, onde um transe na vida mas sabia diferenciar o que era
pode ser facilmente um mote para alucinação e o que era realidade.
o além. Nosso entrevistado, Fábio
Tem coisas que eu realmente
Eu sempre levava um ursinho Puff
Tombini, tem 27 anos, dos quais dez junto comigo. Um dia eu resolvi
viveu sob o efeito das drogas. ser o ursinho Puff. Nós estávamos
A linha tênue que se apresenta
entre o mundo real e o imaginário não sei explicar são umas numa reuniãozinha na casa de uns
amigos, eu fui para o banheiro do
de uma mente deturpada pelo
uso de substâncias químicas pode viagens muito loucas. quarto e utilizei a droga. Quando
voltei para a sala, eu estava vestido
“
ser apresentada como parte de de Puff, a camiseta que eu usava
uma narrativa que perpassa a era vermelha, fiz dela uma regata
história das fugas da humanidade. e escrevi Puff com canetinha,
Fugas estas que não se trata de de si mesmo compõem um quebra- outra atmosfera, como se fôssemos arranquei a cabeça do urso que
estratégias engendradas por cabeça entrecortado por memórias superiores ao resto do mundo. eu tinha, tirei toda a espuma de
exércitos de batalha, mas que se provindas de experiências que Tudo realmente virava uma festa. dentro e fiz uma máscara. Eu era
baseiam na própria necessidade marcam, desgastam, expandem ou Nós frequentávamos lugares onde o Puff mais esquelético que todo
humana de adentrar em universos detonam uma mente sem limites, as pessoas iam para usar drogas, mundo já viu na vida. Quando eu
perceptivos que a razão desconhece que aos poucos junta cada peça para principalmente o ecstasy, dançar e cheguei na sala, o pessoal se jogou
ou, simplesmente, fantasiar uma tentar se reconstruir. se divertir. Eu não conseguia ficar 15 no chão. Algumas vezes eu me
realidade mais cômoda e alegre, minutos em casa de tanta paranoia vestia de Amy Whinehouse, com
como aquela apresentada no seriado (...) Usando drogas eu me sentia decorrente do uso de cocaína peruca e tudo. O dia mais feliz da
da televisão. Onde um “felizes para extremamente feliz, criava-se injetável. A primeira dosagem eu minha vida foi quando chegou de
sempre” dura o tempo necessário uma felicidade imediata que era já ficava paranóico, achando que Londres o irmão de uma amiga
para o efeito da droga se esvair e proporcional a todas as outras meus amigos iam chegar e me ver, que morava comigo. E ele trouxe
deixar o corpo como numa casa pessoas que estavam junto comigo e pois eu usava escondido. Eles não MDMA, e nós tomamos. Eram oito
onde acontece uma festa, quando que eram usuárias de drogas como aceitavam, achavam muito punk. horas, eu a namorada dele, que era
todos vão embora restam o lixo e a eu. Sentíamos vontade de nos tocar Um dia eu e um amigo estávamos inglesa, e ele. Passamos a noite
bagunça. Fragmentos de uma ruína e éramos transportados para uma usando e resolvemos na loucura ir inteira conversando, eu não falava
ENTREVISTA
“
inglês e ela não falava português, uma pessoa muito especial por
mas a gente super se entendia. Às ter conhecido o lado ruim e agora
9 horas da manhã do outro dia lá ter a possibilidade de enxergar o
estava eu na beira da praia. Acordei Quando passava o efeito da droga eu caminho certo a seguir.
todo mundo para ir pra lá.
Com ácido, teve uma vez que lembrava deles mas sabia diferenciar o “ PraLer:Você imagina sua vida
nós tomamos um doce inteiro. sem a experiência com as
Estávamos em umas seis pessoas e que era alucinação e o que era realidade. drogas?
fomos para o melhor lugar para se F.T: Eu imagino que eu não
dançar house, em Floripa. Todos teria toda essa quantidade de
nós viajamos na mesma coisa, que informações e de experiências.
era a maldade. Nós vimos toda Não me arrependo hoje em
podridão do lugar, enxergávamos nenhum momento, apenas de ter
todas as pessoas completamente machucado algumas pessoas. Mas
diferentes. Víamos que elas não foi uma época incrível e de grandes
estavam ali para se divertir, todos experiências pessoais.
pareciam demoníacos. Tinha um
menino de olhos azuis que eu PraLer: Atualmente, você acredita
sentia muita vontade de queimar que as drogas tenham poder sobre
os olhos dele de tão demoníacos os jovens a ponto de roubar-lhes a
que me pareciam. Foi uma energia individualidade?
completamente ruim. Depois F.T: Com certeza. Mais ou menos
disso eu nunca mais voltei lá. como eu coloquei no início, aquela
Nós ficamos a noite inteira nessa história de perder o controle da
viagem. Depois que voltamos vida. É a questão da cultura de
ao normal, comentamos sobre e que temos que estar no meio de
realmente todo mundo viajava algo, temos que fazer parte de
na mesma coisa. Uma hora eu algo; então, alguns jovens acabam
10
“
eu tinha tomado bala, essa viagem dos meus olhos extremamente percepção, e hoje?
é bem transpotting. Fechei a porta alucinados... F.T: O uso de substâncias desse
Quando tu começa a usar
do mictório e fui me alongar, Desde meu primeiro tempo pra cá cresceu e muito. Acho
drogas, tu cria um mundo à parte,
alongava as pernas, e enquanto eu contato com as drogas se passaram que também isso está relacionado
então tu perde a confiança da
olhava para baixo e não as tinha, 13 anos. Eu cheguei ao ponto em à ansiedade. As pessoas estão
família, a confiança dos amigos
no lugar das pernas aparecia um que nada mais me satisfazia. ansiosas, a sociedade está doente.
e principalmente da sociedade.
relógio azul em forma de alga Abusava das drogas, e comecei Tem que se ter tudo agora, inclusive
Perde completamente a autoestima
marinha. Eu tenho a impressão a utilizá-las juntas. Misturava a felicidade, esta encontrada
e a vontade de viver por causa das
que eu fiquei ali paralisado horas cocaína, ecstasy, maconha e LSD. (falsamente) nas drogas.
depressões frequentes causadas
olhando aquele relógio no lugar A certa altura minha vida girava
após o uso, sem falar na perda de
das minhas pernas. Não tenho em torno da droga. Eu trabalhava PraLer: Qual a sua opinião a
controle total da vida, que não é
ideia de quanto tempo foi. para gastar o dinheiro em festas respeito dos eventos que permeiam
mais você quem manda na droga, a
Toda vez que eu voltava das e abusar delas, ocasionando até a história das drogas como o
droga manda em você.”
festas, meu quarto era nos fundos mesmo a venda de bens familiares Woodstock. Você vê alguma relação
da casa, perto da lavanderia,
eu e meu amigo nós sempre
escutávamos um som e ficávamos
para o uso. Então, eu passei a
esquematizar meu suicídio, pois
a droga se tornou uma obsessão.
“
hoje em função dessa globalização
com as RAVES atuais?
F.T: Woodstock é um grande
marco histórico da juventude.
balançando a cabeça. Um dia, nós Perdi o controle de tudo na minha e dessa pressa, todas as pessoas Foi um evento que as pessoas
fomos descobrir que era a máquina vida. Graças a Deus esse suicídio veem no uso de drogas uma saída estavam em busca dessa felicidade
de lavar roupa que estava sempre não deu certo e, então, eu resolvi para os problemas do cotidiado. e estavam dispostas conquistá-
ligada. pedir ajuda à minha família que Uma fuga, uma válvula de escape la a qualquer custo. A diferença
No pós-festa, quando eu comecei até então não sabia de nada, e para as cobranças normais que para as RAVES de hoje é que as
a me injetar, eu ficava três dias também contei com a assistência todo mundo tem que enfrentar. pessoas frequentam estas festas
virado. Eu ia fazer alguma coisa, profissional. em que a felicidade termina ao
automaticamente eu ligava o som, PraLer: Quais são seus amanhecer. Em Woodstock os
eu não conseguia ficar parado, principais ícones musicais. jovens realmente tinham o firme
sempre arrumava algo pra fazer. PraLer: Qual é a relação que Eles usam drogas? propósito de se criar um mundo
Eu também tinha a ideia fixa você faz das drogas com a F.T: Sim, um dos exemplos mais mais feliz e melhor para se viver,
na cabeça de que tinha perdido sociedade. Na sua opinião, recentes é a Amy Whinehouse. e compartilhavam ideais comuns.
algo e precisava encontrar. Aí que papel elas possuem neste Geralmente quem usa droga é uma Atualmente as pessoas vão nas
eu bagunçava tudo pra achar cenário? pessoa muito inteligente, que não RAVES em busca de uma satisfação
algo que eu nem sabia o que era. F.T: Eu acho que é cultural. sabe aproveitar o seu potencial e momentânea e individualista,
Também adorava ficar na janela Ensinam às pessoas a beberem geralmente não consegue lidar a felicidade dos outros é
observando o ir e vir das pessoas comemorações e fora delas com isso, seja ela estrela ou pessoa consequência. Não existem ideais
na rua, assim a convenção do também. E o álcool nada mais é que que vive no anonimato, acabando, comuns, nem mesmo experiências
tempo se misturava ao movimento um gatilho para todo o resto das assim, se boicotando com o uso que buscam mudar o mundo.
ininterrupto que eu via através drogas. E a sociedade que temos de drogas. Hoje eu me sinto Apenas a satisfação individual.
ENTREVISTA
U
m dia de sol primaveril,
brisa leve e folhas caídas na PraLer: Nesta época, tu te
estrada, campos coloridos recordas qual era o principal
de um verde intenso sob a luz das meio de comunicação utilizado
primeiras horas da tarde. Uma para atingir o público jovem?
travessia aos recantos longínquos Quais eram as formas de
do mundo em meio a pensamentos entretenimento disponíveis?
acelerados, pauta, tempo, pressa, J.V: O meio de comunicação era
quilômetros rodados e trilha sonora o rádio. Mas não existia rádio FM,
impecável: alegre e um tanto por exemplo. Naquela época eu já
histérica. Clima ideal para fazer trabalhava em rádio, comecei com
nascer, a partir dali, uma entrevista. 16 anos. O boom da televisão aqui
11
Estou a caminho da cidade onde as no interior se deu mais na década
pessoas não são tocadas... colocava fumo, a pimenta preta e grupos que consumiam mais
D
esfilando pelas ruas, festas que duram até 24 horas. um dos primeiros nomes que nos neste cenário, e nele
zapeando na TV, Qual é a relação deles com as vem à mente quando trata-se do eis que se desenrola
ilustrando os espaços drogas? Por que elas insistem em uso de drogas, a prova viva disto
nobres dos portais na internet, se fazerem presentes em quase é seu livro Paraísos Artificiais.
nos bares, nos pubs, nos todas as manifestações culturais Trata-se de uma relação paradoxal
parques, na moda, no cinema e e de expressão da juventude esta das drogas com a sociedade,
também na música que toca no ontem, hoje e provavelmente no a comprovação é de que
mp3. Onde estão os expoentes futuro? Estes dias David Coimbra, muitas pessoas não se dão
da nossa geração? Vemos que cronista da Zero Hora, que conta que remédios, por
com o passar dos anos, com muito faz sucesso com o pessoal exemplo, álcool e cigarros,
as mudanças socioculturais e mais jovem, por conduzir na são drogas poderosíssimas
econômicas, nos condicionamos narrativa de seus textos além de capazes de alterar
ESPECIAL
13
uma trama de como o LSD se tornou uma um círculo de relações e influências nunca antes vendada, não sendo capaz de questionar de que
droga patenteada por Timothy Leary. Uma visto. Na pós-modernidade não apenas os sentidos forma as drogas tomaram uma proporção tão
Ban the
A
as ruas
crítica a
v e
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estabele uso de armas
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livre, le dos pela socie ucleares, a co
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no final solta das pant e, uma negaçã tação extrema
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represe s anos 60 -, alé nas, batas e ve xplícita ao sist os valores
pílula a n tando s m do ap s tidos flo e ma, a m
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da cont iconcepcional- novo posicion u da imagem d is - que invadi a
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revoluc cultura surge, configuraram e r
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geração te slu na im
ao que ratura, música mbrar o mun percepção juv ento Beat,
Bob Dy v , d e n
lan, Th iria a ser cham moda e arte da o. O movimen il da época
e Beatle a d a : “cont é p o ca, co t o teve cla
de Jimi s, A
Hendri llen Gisberg, racultura”. No ndicionando a ras
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o, inscr Janis Joplin, p k Kerouac, en es pungentes c ela
sairem. e veram s or uma tre outr o
E ua cur os, sepa mo
inquiet stes ícones refl s iniciais na h ta questão de rados
açõ et ist an
se ao ot es e questiona iram, cada um ória para de lá os na linha
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pregand pó do n a
o o lem s-guerra e os va s jovens de sua eira, as princ is
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14
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ruas e inc ssa gigante o disso
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A revolução psicodélic
para a mídia a se tornou especial
As drogas se espalharam
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o movimento hippie. A is do que
indústria cultural transmi
psicodélicos através de mú tia os valores
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as mídias traduziram o esp
60, e nelas as drogas estav írito dos anos
am presentes, de forma qu
invadiu até mesmo as casas e o movimento
dos mais conservadores. De
mídia descobriu um bom filã finitivamente a
o de mercado para vender
prova disso são os ícones seus produtos,
cinematográficos dessa époc
rider” e o musical “Hair”. a, como “Easy
Tempos de flower-power.
Tempos em que as balas da
flores. Tempos em que o am vam lugar às
or às causas perdidas fazia
Tempos de união. Tempos de va ler o perigo.
igualdade. Tempos de comu
de amor livre. Tempos de nhão. Tempos
prazer. Tempos de liberd
revolução. Tempos de ard ad e. Tempos de
or nos vasos sanguíneos. Te
Tempos de criatividade pu mpos de torpor.
lsante. Tempos de rebelião
Tempos de música. Temp . Tempos de arte.
os de poesia. Tempos de
amor. Tempos de Paz e Am paz. Tempos de
or. Tempos que se foram.
ser o hoje. Te mpo que pode
ESPECIAL
WOODSTOCK 40 anos depois O mais famoso evento da história do rock, a “Feira de Arte e Música
de Woodstock”, representa mais do que a pacífica reunião de cerca
de 500.000 pessoas para prestigiar 32 inebriantes performanc
es
musicais. Woodstock se tornou um ideal que permeia nossa cultur
a,
política e socialmente, além de, é claro, musicalmente.
O ápice dos revolucionários anos 60 foi uma faísca de incomparável
beleza da consciência de se fazer parte de um imenso organismo
pulsante. Esse é, talvez, o maior significado do festival: o sentimento
de união com o próximo sentido por cada um que esteve direta
ou
indiretamente envolvido com ele: idealizadores, trabalhador
es,
público e todos os demais que apesar de não estarem reunidos
em
Bethel, puderam ser tocados pela atmosfera de paz, solidariedad
e,
cooperação e amor!
Toda a vibração de Aquário que emanava de Woodstock exprim
ia
a atualidade da América repugnada por uma guerra insensata,
pela
discriminação que ainda permeava seu território e profundam
ente
inspirada pela não-violência. Aqueles três dias de paz, amor e músic
a
se tornaram um adjetivo imediato que denota o poder dos joven
s
sessentistas.
16
Sob o mote de ser “Uma livre. muitas pessoas, o cabelo longo e as Casualmente, Elliot Tiber, dono
Exposição Aquariana”, o evento, Juntos, eles fundaram a roupas descuidadas de quem iria a de um hotel em White Lake, o El
ocorrido entre 15 e 18 de agosto Woodstock Ventures, realizadora Woodstock eram associados com a Monaco, que tinha 80 quartos -
de 1969, foi iniciado através dos do evento. Rastreando a zona política de esquerda e o consumo de quase todos eles vazios, procurou
esforços de Michael Lang, John rural para encontrar o espaço que drogas. os empreendedores. Tiber possuía
Roberts, Joel Rosenman e Artie acolheria o mais famoso festival de Woodstock foi oficialmente algo de imensa valia: uma permissão
Kornfeld. todos os tempos, encontraram o banido de Walkill em 15 de julho de da cidade de Bethel para fazer um
Roberts e Rosenman eram Mills Industrial Park, em Wallkill. 1969. Sob o aplauso de residentes, festival musical. Já o local...
“jovens com capital ilimitado Os 300 acres do local tinham um membros do conselho municipal A área oferecida por Tiber
a procura de interessantes acesso perfeito: a menos de 2 km da disseram que os planos dos para Woodstock eram 15 acres
oportunidades de investimento Rota 17 que dava na autoestrada do organizadores eram incompletos; pantanosos atrás do hotel. Isso
e propostas de negócios”, como estado de Nova Iorque e saía direto que banheiros ao ar livre, como os não era, nem de longe, o suficiente
dizia o anúncio publicado por da Rota 211, uma estrada principal. que seriam usados no concerto, eram para o público até então esperado –
eles no The New York Times e Além disso, o local tinha o essencial: ilegais em Wallkill. Duas semanas cerca de 50.000 pessoas.
Wall Street Journal. eletricidade e água encanada. Mas as antes, o conselho da cidade já Elliot indicou a propriedade do
Lang e Kornfeld responderam a vibrações do parque industrial não tinha aprovado uma lei requerendo seu amigo Max Yasgur. O lugar
este com a proposta de instalação eram as desejadas, estava faltando licença para qualquer ajuntamento era mágico, perfeito! O campo em
de um estúdio de gravação na o ambiente de “volta à terra” que se de mais de 5.000 pessoas. forma de bacia se inclinando, uma
cidade de Woodstock, terra que pretendia. Esta decisão do conselho, apesar pequena subida para o palco, um
acolhia astros, como Bob Dylan, Uma grande oposição ao de seu lado trágico, fez um favor à lago ao fundo. O negócio foi fechado
Janis Joplin e Jimi Hendrix. Woodstock foi feita pelos Woodstock Ventures. As notícias ali mesmo sobre as pastagens que
Porém, a ideia evoluiu para um conservadores residentes da sobre o que tinha acontecido fez em breve abrigariam uma multidão
festival musical e artístico ao ar pequena cidade. Nas mentes de chover interesse sobre o festival. em comunhão.
ESPECIAL
WOODSTOCK
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17
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É hora de música…
Trinta e dois dos mais conhecidos opções para a abertura: Hardin, Grateful Dead e Santana. Eram quase 9 horas de segunda-
músicos da época, entre eles Jimi que já perambulava alterado pelos O sol surgia da escuridão feira quando Jimi Hendrix, a
Hendrix, Janis Joplin, Jefferson bastidores, e Richie Havens, que num amanhecer não dormido maior entre todas as estrelas
Airplane, The Who, Creedence parecia pronto. A escolha era de domingo, enquanto a voz de de Woodstock, fez soar o hino
Clearwater Revival e Greatful Dead, evidente. Grace Slick, vocalista do Jefferson norte-americano distorcido pelo
se apresentaram em frente àquela Toda vez que Havens tentava Airplane, propagava no ar as inigualável encontro dos seus
massa amorfa vibrando na mesma parar de tocar, como as outras palavras: “uma pílula o faz maior, dedos à guitarra. A execução durou
sintonia. atrações ainda não tinham chegado, e uma pílula o faz pequeno…” Era apenas três minutos: três minutos
Os três dias de música começaram ele prosseguia. Finalmente, depois mais um dia de veneração ao rock. suficientes para entrar de sola
precisamente às 17:07, do dia 15 de quase três horas de show, The Band, Joe Cocker, Crosby, na eternidade; três minutos que
de agosto de 1969, uma sexta- soavam seus acordes derradeiros, Stills & Nash, Ten Years After, resumem o espírito do maior evento
feira dedicada ao folk. Entre as os improvisados de Freedom, a Johnny Winter e Jimi Hendrix musical do mundo: a desconstrução
atrações do primeiro daqueles dias lendária música que repercutia ainda subiriam ao palco. de paradigmas!
de celebração ao espírito hippie os anseios e a realidade
estavam Tim Hardin, Arlo Guthrie, vislumbrada ao vivo e a
The Incredible String Band e a cores – e que cores -, de
grande estrela Joan Baez. quinhentos mil jovens.
A largada para Woodstock No sábado, a lama
estava planejada para acontecer produzida pelo contato da
uma hora antes, mas como os água que despencava do
artistas estavam espalhados pelos céu com a terra pisoteada
hotéis da região – a quilômetros por aquela multidão
da propriedade de Yasgur e o desprendida de “valores”
engarrafamento não permitia sua moralistas cheirava a
chegada ao ambiente daquela haxixe, enquanto o palco
congregação -, os promotores vibrava com rock’n’roll
estavam contratando helicópteros de explodir os tímpanos
para trazer os artistas e materiais, de gigantes, como The
contudo, o primeiro chegou Who, Jefferson Airplane,
atrasado e só pôde trazer poucas Janis Joplin, Creedence
pessoas, não bandas – haviam duas Clearwater Revival,
ESPECIAL
WOODSTOCK
40 anos depois
Nada é tão diferente
quando tudo pode se ao mesmo tempo volta
recriado. Trata-se apen r
presente...
“
u Acadêmica de Jornalismo VIII Nível e estagiária da AgexJ
O
virtuoso experimento de Miles Davis e seu
sexteto dos sonhos composto por Julian
“Cannonball” Adderley, no sax alto; John ‘Em poucos takes o maior álbum da
Coltrane no sax tenor; Bill Evans e Wynton Kelly, história deste ritmo instigante e envolvente
nos pianos, Paul Chambers, no contrabaixo e
Jimmy Cobb, na bateria Kind of Blue, o álbum
era gravado no acetato que permitiria
mais vendido na história do charmoso estilo, há sua reprodução e apreciação por amantes
meio século encanta pela irretocável beleza de do estilo musical da época, do presente e,
“
suas composições. certamente, do futuro’
Este revolucionário exemplar de êxtase
musical, lançado originalmente em 17 de agosto
de 1959, consolida a modalidade como modelo
19
de compor Jazz. Em contraste com o estilo hard
bop, explorado até então por Davis, nesta que
é considerada por muitos a sua obra-prima,
A Bela e a Tristeza
Falando sobre amor, Rachael comove o coroção de quem ouve.
N
ão é música para quem se sente bem. em 2004, “Happenstance” contém entre suas
Não é uma música para ficar legal faixas verdadeiras obras da dor-de-amor,
ou colocar numa festa com amigos. porém tem coisa mais animada. Seu hit foi “Be
Definitivamente não é um tipo de música alegre. Be Your Love”, que deu maior reconhecimento
Muito longe disso. Apesar de uma agradável e à cantora e serviu de trilha para vários seriados
suave voz, Rachael Yamagata faz um som para e filmes, como “The OC” e “Quatro Amigas
se acabar, bem de fossa mesmo. A cantora e um Jeans Viajante”. “Worn me Down”,
americana com descendências japonesa, alemã que tem um estiloso clipe, “1963”, “Letter
e italiana faz músicas para pessoas que estão Read” possuem ritmos mais entusiasmados,
vivendo um amor complicado ou para aqueles devidamente acompanhadas de uma batida
que ainda não conseguiram esquecer alguém pop. Mas a principal característica da nossa
e, consequentemente, estão com o coração querida Rachael é saber ser triste, o que faz
em pedaços. Mas como uma hora ou outra de uma maneira esplendorosa. Músicas
todos nós passamos por situação semelhante, depressivas e tristonhas como “I’ll Find a
aí está o motivo de suas canções tocarem tão Way”, “Quiet” e Even So’ fecham o setlist.
profundamente quem escuta. Mas música, assim como qualquer
20
Sua introdução no mundo da música foi no outra forma de expressão artística, é algo
mínimo inusitada, se comparada com o restante extremamente relacionado com o lado
OUTUBRO 2009 Nº20
de sua carreira. Em Chicago ela participou como pessoal, cada um interpreta o que vê ou ouve
backing vocal da banda Bumpus, que tocava de acordo com os seus sentimentos. Por isso
um misto de funk, soul e hip-hop. Mas antes não seria precipitado dizer que “Reason Why”
disso ela aprendeu sozinha a tocar piano e não é a música mais forte e a mais visceral de todas
demorou muito para perceber que iria trilhar as faixas do álbum. Sua letra fala sobre
um caminho bem diferente do Bumpus. querer ficar com alguém e não poder, de
Cresceu ouvindo James Taylor, Cat Stevens, procurar seu rosto em todos os lugares,
Stevie Nicks e Simon & Garfunkel no rádio de exaltar como o amor nunca morre explicados, mesmo ainda gostando dela. Fora
de casa. Outra grande e até óbvia influência até terminar de modo perfeito com lançada no EP “Live at the Loft” em 2005, mas
foi Joni Mitchell, a qual se assemelha muito o singelo e certeiro verso: “but you somente anos depois foi lançada oficialmente
na temática melancólica. and I know the reason why”. em um álbum de estúdio. “Duet” e “Over and
E nesse contexto seu primeiro álbum Já no seu último trabalho Over” são canções que merecem destaque pelos
até que não pega tão pesado. Lançado lançado, o furo foi muito mais mesmos motivos.
embaixo. O álbum, que saiu em Em “Teeth Sinking Into Heart” é onde estão
outubro de 2008, se divide em as mais pauleiras. Essa é a diferença básica
duas partes: “Elephants” e “Teeth entre os dois CD’s. Enquanto o primeiro é triste,
Sinking Into Heart”. O primeiro arrastado e melancólico, o segundo é quase que
segmento começa com música de uma espécie de redenção disso tudo. Passado
título homônimo. Lentos acordes o choro você se recupera do processo todo, saí
do piano acompanhados de violinos e quebrando tudo e mandando o universo inteiro
versos como “você está me forçando a a merda. Todas as músicas são mais rápidas
lembrar quando tudo que eu quero é pesando bastante para o lado do pop rock
te esquecer” já dão uma mostra do (exceto “Don’t”) e com letras mais irônicas,
clima para todo o resto. E é este deixando meio de fora o sentimentalismo.
álbum que tem, provavelmente, Mas não se engane, isto é somente um
sua faixa mais bonita e depressiva: pequeno estalo se comparado ao geral. Rachael
“Sunday Afternoon”. Certamente Yamagata é a tristeza amorosa na sua essência,
biográfica, ela abandona uma acompanhada de uma doçura melódica que
pessoa por motivos não faz sua música ser obrigatória para todos os
apaixonados, desapaixonados e também para os
que apenas pretendem ouvir um bom som. Vale
a pena ouvir essa bela morena e sua visão poética
do sentimento mais necessário, imprevisível,
sofrido e nobre que um ser humano pode ter em
sua vida, também conhecido como amor.
u DISCOGRAFIA
- Happenstance (2004)
- Live at the Loft & More (2005)
- Loose Ends (2008)
- Elephants… Teeth Sinking Into Heart (2008)
FARO
A
s bombas estrondosas que que os corpos se movimentassem no revelar uma experiência tensa, difícil
incandesciam os céus já ritmo de uma sexualidade até então e por vezes traumática, torturante,
não eram mais lançadas. A comportadamente adormecida, extasiante, nauseante, cínica..., mas
crueldade que exterminava seres fosse na literatura Beat de sempre esperançosa. Uma incursão
humanos em série já era apenas personagens rotos e esfarrapados, por este mundo de sensações é
uma dolorosa lembrança na liberais, que não negariam uma oferecido por “O Uivo, Kaddish e
memória. As paisagens devastadas dose de qualquer coisa que os fizesse Outros Poemas”, uma compilação
pelo horror já estavam sendo transcender o corpo e/ou a mente de obras-primas do autor.
substituídas por novas construções num bar aos acordes virtuosos do Desde os primeiros versos de “O
erguidas em cimento e tijolos... Jazz. Uivo”:
Enquanto isso, a nação que Inspirada nos rostos pouco
mudara o curso do segundo heróicos de desconhecidos que Eu vi os expoentes da minha
conflito bélico em escala mundial vagam na escuridão, faces, por geração destruídos pela loucura, de alucinógenos ou na loucura,
vivia a aparente tranquilidade muitas vezes, vistas no espelho, morrendo de fome, histéricos, nus, de fantasmas às margens de sua
oferecida pelo bem-estar da o movimento literário sacudiu a arrastando-se pelas ruas do bairro sociedade, a leitura da poesia
sociedade de consumo, às sombras poeira da quadrada literatura norte- negro de madrugada em busca uma ginsbergiana é surpreendente e
do preconceito excludente americana ao adicionar a ela a força dose violenta de qualquer coisa plural: passando do inferno familiar
que relegava aos negros a do improviso jazzístico, criando “hipsters” com cabeça de anjo assombrado pela insanidade
subserviência; do inconformismo obras-símbolo da liberdade, com ansiando pelo antigo contato materna em Kaddish; pelo sarcasmo
com o moralista e hipócrita furor, radicalismo e ousadia criativa celestial com o dínamo estrelado crítico de “América”, ao lirismo de
conservadorismo puritano que e existencial. da maquinaria da noite, que
21
“Transcrição de Música de Órgão”.
cerceava a cultura e a conduta Na poesia beat, o nome de Allen pobres, esfarrapados e olheiras Ao fim, este experimentalismo
social; e da caça às bruxas vestidas Ginsberg ressoa misticamente. fundas, viajaram fumando sentados
T
ruman Capote inaugura o A narrativa inicia ambientando guarda elementos como. Como o crime e trabalhou em diversos ramos. No
gênero literário “Romance de o leitor à típica pequena cidade de foi executado, qual a razão que levou entanto, a infância traumática já havia
não-ficção” com A sangue frio. O interior, onde a paz, a amizade e a os bandidos a executarem uma família lhe causado sérios danos psicológicos
livro narra um fato real que chocou os fraternidade reinam soberanas. Neste inteira,... para contá-los no decorrer da que foram agravados por um acidente,
Estados Unidos, o brutal assassinato lugar vive a família de um próspero narrativa. que deixou como cicatriz uma pequena
de quatro membros da família Clutter, fazendeiro, Herb Clutter, membro da Outra grande particularidade do deficiência motora, mas que lhe
em uma pequena cidade do Kansas, e Igreja Metodista local, muito respeitado texto de Truman Capote é o seu poder deixava envergonhado, pois pensava
dá uma lição de jornalismo ao fazer e querido pelos munícipes. Todas as de descrição, por exemplo, a descoberta que as pessoas sentiam asco ao vê-lo.
uma análise completa da chacina e atividades dos membros da família, da chacina é descrita de tal maneira que A narração segue contando as
da vida dos “personagens” envolvidos Bonnie (Sra. Clutter), Nancy e Kennon o leitor é capaz de “sentir” a tristeza e peripécias de Perry e Dick após o
na trama, através de depoimentos (filhos do casal) e do próprio Sr. Clutter indignação presentes em cada um dos crime, uma mal fadada viagem para o
coletados pelo escritor em seu árduo no dia 14 de novembro (dia anterior moradores da pequena cidade. Esta México, o paraíso por eles imaginado,
trabalho de pesquisa. ao crime) são relatas com riqueza de riqueza de detalhes também permite o retorno aos E.U.A... E descreve as
detalhes, o que faz com que o leitor se percebermos uma certa dose de investigações, o abalo que a falta de
sinta próximo, como um conhecido, arrependimento, culpa e apreensão nos provas e de suspeitos causou nos
dos bondosos personagens. pensamentos de Perry. policiais destinados a averiguar o caso
O livro apresenta uma característica Outra descrição impecável feita por e os meios pelos quais conseguiram
muito marcante, a narrativa não linear. Truman Capote é a de Perry Smith, ela chegar aos assassinos.
Ao mesmo tempo em que conta como faz com que sintamos pena de um dos Obviamente, não vou contar o
as vítimas viviam seus derradeiros responsáveis por este crime bárbaro. desfecho desta incrível narrativa de
momentos, narra o tenso dia dos Perry tem uma trajetória de vida difícil, Truman Capote. Fica a dica para todos
assassinos, Perry e Dick, e a frieza com ainda criança foi separado do pai, a mãe aqueles que apreciam a boa literatura.
que acertavam os últimos detalhes para era alcoólatra, começou a apresentar A sangue frio, o perfeito relato de um
“o crime perfeito”. características agressivas, era mandado crime com todas as suas nuances e
Capote poderia ter narrado para reformatórios onde apanhava versões.
detalhado e cruamente o assassinato. quase diariamente. Algum tempo
Mas em prol do suspense, e com a depois, o pai retomou a sua guarda e
finalidade de atrair a atenção do leitor, com o pai viveu em inúmeros lugares Júlia Fedrigo de Albuquerque
FARO
P
arecia, no início, um perspectiva de vida, vivendo numa reencontram, depois de tomarem
projeto ousado demais: comunidade de imigrantes do rumos diferentes.
fazer um filme épico leste europeu em Nova Iorque. Ao A música de Ennio Morricone é
sobre gangsteres judeus em encontrar Max (James Woods), praticamente um personagem do
Nova Iorque. Com quatro horas outro judeu, igualmente sem futuro, filme. A fotografia é outro ponto
de duração então, era algo que formam a espinha dorsal de um alto de Era Uma Vez na América,
certamente seria recusado bando tão violento quanto arrivista, além dos atores secundários como
pelos grandes estúdios. Assim, que usará de todos os meios para Tuesday Weld e Treat Williams.
o longa-metragem foi realizado conseguir dinheiro, belas roupas Leone criou o seu estilo de narrar,
com pouco mais de duas horas e belas mulheres. A inteligência que exige grande preocupação com
de duração. O diretor, Sérgio de Noodles, aliada à total falta de a imagem, sempre forte, sempre
Leone, fez de Era Uma Vez na caráter de Max, trarão sucesso ao épica.
América, uma das grandes obras pequeno grupo, apesar da oposição O cineasta, que dirigiu westerns
primas do cinema. Com cenários de outros criminosos do bairro. Até spaghettis, entre os quais se
e figurinos de três épocas e com aí, pode-se classificar como clichê destaca Era Uma Vez no Oeste, e
Robert De Niro e James Woods de filme de máfia. sempre ficava insatisfeito com seus
nos papéis principais, o filme O que Sérgio Leone oferece de filmes, deve ter sofrido muito com
não teve sucesso de bilheteria diferente nesta obra é o elemento a mutilação e o fracasso iniciais
nos EUA. Em compensação humano. Os personagens, quando de seu último filme. Mas, quando
teve sucesso consagrador na adolescentes, crescendo no uma obra tem tantas qualidades,
Europa. A trama está centrada submundo nova-iorquino, têm sempre acaba vencendo. Foi o que
22
em Noodles (Robert De Niro nas aventuras amorosas e lutas com aconteceu para o épico monumental
versões “adulto” e “velho”). No grupos rivais. Uma vez adultos, deste diretor criativo e inovador.
OUTUBRO 2009 Nº20
MISTÉRIOS E PAIXÕES
O Homem-Urso
Na selvagem natureza
V
ocê que está lendo esse os animais do que
texto: “Até aonde iria por qualquer outra coisa.
uma causa?” Timothy Na verdade era uma
Treadwell foi até o fim, as últimas relação recíproca, pois
e extremas consequências. No da mesma forma que
documentário “O Homem-Urso” Treadwell protegia
o diretor alemão Werner Herzog os ursos, os mesmos
presta um tributo à vida e morte lhe deram um abrigo
do ecologista que dedicou sua vida da humanidade que
aos ursos. tanto abalou sua fé.
Treadwell passou 13 anos Encontrou neles uma
acampando durante os verões saída para sua vida
numa reserva florestal do Alasca, desregrada e sem
estudando, protegendo e lutando rumo. Encontrou,
em prol dos ursos pardos. Mas enfim, uma razão de
veio a falecer, juntamente com a viver.
namorada, devorado por um dos Alguns indagam se
23
animais, em outubro de 2003. era necessário proteger
Ele praticamente largou tudo, os ursos, afinal eles
u O Homem urso
(Grizzly Man) Direção: Werner Herzog
Elenco: Werner Herzog, Larry Van Dale,
Warren Queeney, Katheleen Parker
Duração: 103 minutos
FOTOGRAFIA
O momento decisivo
“Tirar uma foto é como reconhecer um evento. Naquele exato momento e numa fração de segundo, você organiza
as formas que vê para expressar e dar sentido ao evento. Fotografar é colocar na mesma linha de mira a cabeça, o
olho e o coração. É uma forma de viver.” HCB
24
Behind the Gare St. Lazare, 1932 On the Banks of the Marne, França, 1938
u O homem pulando sobre a água há poucos centímetros da uUm dos assuntos favoritos do Bresson eram os acontecimentos
superfície é o perfeito exemplo do “momento decisivo”. Detalhe simples do cotidiano. No caso, uma família almoça
para a analogia com o cartaz da bailarina ao fundo. tranquilamente à beira de um rio.
U
m dos maiores mestres Viajou pelo mundo munido estabelece uma ponte entre o ser antes de completar 90 anos,
da fotografia, o francês de uma discreta Leica captando humano e o mundo. Jamais utilizou mas sua obra ficou eternizada.
Henri Cartier-Bresson grandes momentos da história qualquer forma ou ferramentas Quem deu a melhor definição
revolucionou o fotojornalismo como a morte de Gandhi, o começo para alterações em suas fotos, para o que ele representou no
moderno. Seu conceito era que da era Mao Tse Tung e a Guerra incluindo o flash, além de ser mundo do fotojornalismo e das
deveria esperar o “momento Civil Espanhola. Trabalhou para totalmente contra as montagens artes foi seu amigo e biógrafo,
decisivo” para tirar uma foto, revistas como “Vogue” e “Life”, com atores. Costumava dizer que a Pierre Assouline: “Se o século
isto é, o segundo exato entre fundou a agência de fotojornalismo fotografia era um presente do acaso XX foi o século da imagem,
o acontecimento e o apertar “Magnum” e fotografou nomes e que devíamos tirar proveito disso, Cartier-Bresson foi o olho desse
do disparador. Ele tinha como Albert Camus, Coco Chanel, visto que o ofício é uma constante século.”
sensibilidade e talento de sobra William Faulkner, entre outros. briga contra o tempo.
para saber distinguir esta fração Porém seu tema preferido era Bresson faleceu no dia 3 de agosto Marcus Vinícius Freitas -
de tempo. a reportagem fotográfica, que de 2004 em Provence, poucos dias Jornalismo do II nível