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Texto Para a

Classe Adriel
Rebanho de Deus

1º Igreja
Presbiteriana de
Registro

Curso de Catecúmenos
Prof. Pb. Gilson/Pb. Luiz

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ÍNDICE

Introdução
1. A Profissão de Fé
2. Que significa ser crente?
3. A Palavra de Deus
4. O Credo dos Apóstolos
5. A Trindade
6. Deus o Criador
7. O ser humano
8. A Pessoa de Jesus Cristo
9. A obra redentora de Jesus Cristo
10. A ressurreição de Cristo
11. A ascensão e o senhorio de Cristo
12. A segunda vinda de Cristo
13. O Espírito Santo na vida do crente
14. A igreja de Cristo
15. Os deveres dos cristãos
16. A vida eterna
17. Pequeno dicionário

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SEJA CRISTÃO HOJE
Introdução

O propósito principal deste livro é orientar jovens e outras pessoas que porventura tenham resolvido seguir a
Cristo, mas que ainda não são membros de uma igreja evangélica. Todavia, pessoas que já fizeram profissão de fé
também podem tirar proveito, estudando e meditando nas grandes doutrinas bíblicas apresentadas aqui.

A linguagem é bem simples. Quando se fez necessário usar uma palavra pouco conhecida, seu sentido foi
explicado no próprio parágrafo em que ela aparece, ou no fim do livro onde há um pequeno dicionário de termos
teológicos.

Este livro pode ser usado como texto para as aulas da Classe de Catecúmenos, estudando um capítulo por
semana. É bom que o professor teste bem a eficiência dos alunos, fazendo uso do questionário que se encontra no final
de cada capítulo. Naturalmente, o professor da Classe de Catecúmenos deve enriquecer as aulas com sua própria
experiência, e deve pedir aos alunos que acompanhem as lições com a Bíblia aberta, procurando ler as passagens
citadas.

Se este livro for usado como leitura, por pessoa que deseja conhecer as principais doutrinas da Igreja,
sugerimos que ela consulte a Bíblia, em pontos específicos em que o texto ficar mais claro, se as referências citadas
forem lidas.

O roteiro do livro, a partir do capítulo 4, segue a ordem do Credo dos Apóstolos. Há relação entre esse antigo
documento da Igreja e o Breve Catecismo da Igreja Presbiteriana.

Esperamos que este livro seja bem usado pelas igrejas e pelos candidatos à profissão de fé. Esse é o desejo do
autor e da Comissão de Literatura da Missão Presbiteriana no Brasil.

Na época em que o autor escreveu este livro, era professor de Teologia Sistemática do Seminário
Presbiteriano do Norte, no Recife. Atualmente é Diretor do Curso de Teologia para Hoje, no Colégio 2 de Julho, em
Salvador.

Março de 1980

1. Que é profissão de fé?

É uma declaração pública feita pela pessoa que crê em Jesus Cristo como Salvador, Senhor e Mestre. Jesus
Cristo é o ponto central da fé cristã, porque, por intermédio dele, podemos conhecer o Deus verdadeiro, que é, ao
mesmo tempo, Pai, Filho e Espírito Santo. Mediante a profissão de fé, a pessoa não só faz afirmações sobre o que crê,
mas também faz um compromisso diante de Deus e de seu povo, dizendo que está disposta, com o auxílio do Espírito
Santo, a viver de modo prático o evangelho de Jesus Cristo.

2. É necessário fazer profissão de fé?

Podemos indicar duas razões principais sobre a necessidade da profissão de fé:

1.1. Para seguir os ensinamentos de Cristo e dos Apóstolos. Cristo pediu aos que cressem nele que
proclamassem sua fé. “Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de
meu Pai que está nos céus” (Mt 10.32). Ele ordenou que seus discípulos pregassem o evangelho (Mc 16.15, 16),
fizessem discípulos e ensinassem (Mt 28.19, 20). Ele disse a todos seus seguidores: “e serão minhas testemunhas” (At
1.8). Os apóstolos, seguindo o exemplo de Cristo, exortaram aos que criam, que não se calassem, mas que
proclamassem sua fé. O apóstolo Paulo disse: “Se você confessar com sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu
coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo. Pois com o coração se crê para justiça, e com a boca se
confessa para salvação” (Rm 10.9, 10). O apóstolo Pedro afirma que os crentes foram chamados “a proclamarem as
virtudes daquele que os chamou das trevas para sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9).
1.2. É um compromisso público que nos imprime responsabilidade para com Deus e para com os homens.
Jesus não aprova a atitude daqueles que dizem crer nele, porém preferem ficar ocultos. Há pessoas que trabalham
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muitos anos em fábricas, ou estudam em colégios, e seus companheiros não sabem que elas são crentes no Senhor
Jesus. Se somos de Cristo, não podemos nem devemos esconder esse fato, mas é indispensável proclamá-lo com
humildade e coragem. Já que no dia de nossa profissão de fé damos um testemunho diante de um grande número de
pessoas, nossa responsabilidade aumenta quanto ao testemunho que temos de dar, e isso constitui um estímulo para
nossa vida cristã.

3. Profissão de fé e batismo

O batismo está sempre relacionado com a profissão de fé. Ele é o sacramento da igreja instituído por Cristo
para servir de sinal e de selo para todos quantos se ingressam na comunidade dos que crêem no Senhor Jesus Cristo.
Aqueles que foram batizados na infância devem confirmar o batismo mais tarde, fazendo sua profissão de fé,
declarando que têm a mesma fé que seus pais tinham quando os trouxeram para o batismo. Aqueles que se
converteram e creram em Cristo na idade adulta, professam a fé e são batizados porque ainda não receberam o batismo
numa igreja evangélica. Em ambas as situações, o batismo e a profissão de fé estão inseparavelmente relacionados.

4. Profissão de fé a Ceia do Senhor

Só depois da profissão de fé é que o crente pode participar da Ceia do Senhor. Esta Ceia, também chamada
Eucaristia e Comunhão, é o segundo sacramento da Igreja, instituído pessoalmente por nosso Senhor Jesus Cristo.
Somente os crentes são denominados comungantes depois da profissão de fé e do batismo. É importante que o
candidato à profissão de fé compreenda bem a relação entre os dois sacramentos. O batismo é o sinal e o selo do
ingresso na Igreja. A Ceia do Senhor é o sinal e o selo da participação na comunhão com Cristo e com os que crêem
nele.

5. O dia da profissão de fé

É um dia importante e muito feliz na vida de cada cristão. É um passo decisivo que ele dá, por isso deve ser
feito com sinceridade e responsabilidade. A profissão de fé é um ato de tanto valor que, quem ainda não entende o
sublime significado que ela representa, não deve apressar-se em fazê-la. É necessário que os candidatos à profissão de
fé sejam examinados cuidadosamente pelo pastor e pelos presbíteros e só sejam aceitos se estiverem bem esclarecidos
sobre o passo que vão dar. Os candidatos que não estiverem preparados devem aguardar mais e preparar-se melhor.

6. A profissão de fé é o ponto de partida

Os candidatos à profissão de fé não devem imaginar que este ato é o término da jornada cristã; de fato ela é o
começo de uma nova etapa na vida, quando o crente tem grandes chances de ser útil. Ela é o ponto de partida da
carreira espiritual. Depois da profissão de fé, abrem-se novos caminhos e novas oportunidades para o testemunho e
para o trabalho em vários setores da obra de Cristo. Algumas pessoas ficam satisfeitas e acomodadas depois da
profissão de fé. Em vez disso, devemos sentir-nos alegres e mais dispostos para o serviço do Senhor. Com a profissão
de fé, nossa responsabilidade aumenta em relação a Deus, ao mundo e à igreja.

7. A profissão de fé e o batismo não salvam

Quem nos salva é tão-somente Cristo mediante a fé que o Espírito Santo implanta em nossos corações. O ato
de profissão a fé e de batismo não nos assegura a salvação. O apóstolo Paulo é bem claro sobre esse assunto: “Pois
vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém
se glorie” (Ef 2.8, 9). O candidato à profissão de fé deve entender bem este ponto. Professamos a fé a fim de obedecer
a Cristo. É um ato de obediência, no entanto essa obediência não nos salva. Obedecemos justamente porque já fomos
salvos. A fé verdadeira é acompanhada de boas obras, “Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para
fazermos as boas obras, as quais Deus preparou para as praticarmos” (Ef. 2: 10). “Assim também a fé, por si só, se não
for acompanhada de obras, está morta” (Tg 2.17) .
Questionário

1. Que é profissão de fé?


2. Por que Jesus Cristo é o ponto central da fé cristã?
3. Quais são as duas razões por que devemos confessar publicamente a Jesus?
4. Qual a relação entre profissão de fé e batismo?
5. Qual a relação entre profissão de fé e Ceia do Senhor?
6. Como devemos portar-nos no dia da profissão de f'é?
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7. Que o crente deve fazer depois da profissão de fé?
8. A profissão de fé e o batismo salvam? Por quê?
QUE SIGNIFICA SER CRENTE?

Esta pergunta é muito importante para quantos desejam fazer sua pública profissão de fé.

A palavra crente significa aquele que crê. Ser crente significa ser discípulo de Jesus. Nossa vida é que vai
mostrar ao mundo se realmente somos discípulos de Jesus. Nossas palavras só terão valor se confirmarmos nossos atos
como cristãos genuínos. O Senhor Jesus Cristo e seus apóstolos mostraram com c1areza que há dois aspectos
inseparáveis na vida cristã: a apreensão da sã doutrina e a prática dessa doutrina. O Sermão do Monte e a Epístola de
Paulo aos Ro:manos são os melhores exemplos dessa verdade. Cristão é alguém que crê e expressa sua fé por meio de
suas palavras e de seus atos. As palavras do cristão devem achar concretização em seus atos. O cristão não pode
separar a vida da doutrina. A doutrina é a formulação intelectual que a igreja faz para descrever a experiência viva da
fé. A doutrina não pode substituir a vida cristã. O cristão não pode abrir mão da sã doutrina. “Atente bem para sua
própria vida e para a doutrina” (1Tm 4.16)

1. Ser crente é viver a vida cristã


Tendo como exemplo o Senhor Jesus Cristo, e como orientador o Espírito Santo, o crente pode e deve ser
imitador de Deus como filho amado, e andar em amor, como fez Cristo (Ef 5.1, 2). Não pode mos seguir o exemplo de
Cristo confiados em nossa própria “força de vontade”. Sem o auxílio do Espírito Santo é impossível ser imitador de
Deus. Sem o auxílio do Espírito seremos meros moralistas, não cristãos.

2. Ser crente é relacionar-se com Cristo, com sua Igreja e com o mundo

Note bem: relacionar-se com Cristo, mediante a fé, e relacionar-se com a Igreja mediante o amor que une a
todos os que crêem em Cristo, tornando-os responsáveis diante do mundo. Do modo como Deus enviou seu Filho ao
mundo, assim, em amor, somos enviados como instrumentos de Deus para a salvação de todo aquele que crê e para
aliviar os sofrimentos de todos os que padecem.

3. Ser crente é ser testemunha de Jesus

Como o crente pode ser testemunha de Jesus? Unicamente recebendo o poder do Espírito Santo. O próprio
Cristo declarou a seus discípulos: “Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas
testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (At 1.8). Dotado desse poder, o
crente está capacitado para testemunhar. Testemunhar é comunicar às pessoas o amor de Deus revelado em Cristo e do
qual temos experiência em nossas vidas.

Podemos apontar algumas qualidades do genuíno testemunho do crente:

3.1. É positivo. O crente deve ser conhecido mais pelo que faz do que pelo que não faz. Às vezes ouvimos
pessoas dizerem: “Fulano não bebe, não fuma, não joga, não faz mal a ninguém ... por que ele ainda não é crente?”
Adolfo Hitler também não bebia, não fumava, não se divertia com jogo de azar e não comia carne. No entanto, ele foi
um dos mais monstruosos assassinos do Século XX. Não devemos avaliar a vida de um cristão pela soma das coisas
que ele não faz. O cristão, naturalmente, deixa de fazer muitas coisas erradas e abandona os vícios, mas esse aspecto
do testemunho não é o mais importante. Seu testemunho vai mais além. O testemunho do crente é positivo, isto é, se
manifesta em ações e palavras construtivas e benéficas. O apóstolo Pedro deu um resumo magnífico da vida de Jesus,
quando disse: “Ele andou por toda parte fazendo o bem” (At 10.36). Jesus foi conhecido por sua vida positiva de
amor. Socorria os necessitados, curava os enfermos, ressuscitava os mortos, pregava, ensinava e no fim deu sua vida
em resgate de muitos (Mc 10.45). É nesse sentido que o cristão deve dar testemunho positivo, pois ele é servo de um
Senhor que viveu positivamente.

3.2. É cristocêntrico. O cristão dá testemunho de Cristo. “Vocês serão minhas testemunhas”, foi o que Cristo
determinou. Nosso testemunho deve apontar para pessoa de Cristo. Quando os apóstolos tiveram que escolher um
substituto para Judas, a exigência para o ofício foi: “Porquanto, é necessário que escolhamos um dos homens que
estiveram conosco durante todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu entre nós, desde o batismo de João até o dia em
que Jesus foi elevado dentre nós às alturas. É preciso que um deles seja conosco testemunha de sua ressurreição” (At
1.21, 22). Essa exigência foi estabelecida porque seu testemunho tinha como fundamento sua experiência com Cristo,
para que o testemunho fosse cristocêntrico.

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O crente dá testemunho com o fim de glorificar a Cristo, e não com o fim de receber honras e elogios dos
homens; não para parecer moralmente superior aos demais homens. Seu testemunho não deve ser egocêntrico, e sim
cristocêntrico.

3.3. É comunitário. Quer queira, quer não, quando o crente testemunha, está dizendo ao mundo que ele
pertence à comunidade daqueles que são discípulos de Cristo. Essa comunidade se chama Igreja. Portanto, o crente
não dá testemunho isoladamente, isto é, sem estar relacionado com outros que possuem a mesma fé. Em qualquer
parte onde ele esteja, deve lembrar que é parte do corpo de Cristo.

Depois de dizer tudo isso, concluímos que o crente deve cultivar a alegria, o espírito de boa vontade, a
humildade, o cavalheirismo, e, acima de tudo, deve ter sempre nos lábios e no coração a mensagem do evangelho,
para difundir no ambiente em que vive a alegria das boas-novas da salvação que Deus trouxe na pessoa de seu Filho
Jesus Cristo. Porque, como dissemos no começo deste capítulo, o testemunho deve ser principalmente comunicado,
não através de palavras, mas de atitudes que assumimos diante da sociedade humana e da vida. O crente deve odiar o
pecado e condenar as injustiças, porém deve amar a pessoa do pecador, e estar sempre pronto a amparar todo aquele
que sofre fome, sede, nudez, prisões, doenças e outros males desta vida, e a ver nele a pessoa de Jesus Cristo, e a ouvir
dele, no último dia, aquelas memoráveis palavras: “Digo-lhes a verdade: O que vocês fizeram a algum de meus
menores irmãos, a mim o fizeram” (Mt 25.40) .

Questionário

1. Que significa a palavra crente?


2. Quais são os dois aspectos inseparáveis da vida cristã?
3. Como o crente deve viver a vida cristã?
4. Com quem o crente se relaciona?
5. Que é testemunhar?
6. Por que o testemunho do crente deve ser positivo?
7. Por que o testemunho do crente deve ser cristocêntrico?
8. Por que o testemunho do crente deve ser comunitário?
9. O crente deve ser uma pessoa “do contra”?
10. Você crê ser um crente no Senhor Jesus?

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A PALAVRA DE DEUS

Todo crente tem prazer em ouvir a Palavra de Deus. Uma das maneiras de Deus nos falar é através de um livro
chamado Escrituras Sagradas, Bíblia ou Palavra de Deus.

1. O que a Bíblia realmente é?

Primeiramente, devemos afirmar que a Bíblia é o registro dos fatos e das palavras da Revelação de Deus.
Nesse registro encontramos o testemunho do que Deus fez e do que ele falou em suas relações com o homem e com o
universo. A palavra testamento, que aparece nas duas divisões principais da Bíblia, indica ser ela um livro de
testemunho que ficou registrado para o futuro. O Breve Catecismo declara: “o que as Escrituras principalmente nos
ensinam é o que o homem deve crer acerca de Deus, e o dever que Deus requer do homem”. Por isso as igrejas
evangélicas têm afirmado: “A Bíblia é a única regra de fé e prática.” Ela nos mostra em quem devemos crer e o que
devemos fazer. Ela é a fonte da doutrina e da ética.

2. A Bíblia é a Palavra de Deus

A Igreja afirma que “a Bíblia é a Palavra de Deus”. Essa frase tem sido estudada com empenho pelos mestres
da Igreja. Em torno desse assunto há três palavras importantes que devem ser explicadas para melhor compreensão do
valor da Bíblia:

2.1. Revelação. Esta palavra, na linguagem comum, significa o ato de tirar o véu, descobrir, desvendar. Na

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linguagem religiosa, significa o ato de Deus mostrar aos homens sua Pessoa e sua vontade. Diz o escritor bíblico: “Há
muito tempo Deus falou muitas vezes e de várias maneiras a nossos antepassados por meio dos profetas, mas nesses
últimos dias nos falou por meio do Filho” (Hb 1.1, 2). A Bíblia é um documento que registra as experiências de um
povo, e particularmente de muitos indivíduos que tiveram experiência com a revelação de Deus. Ao lermos a Bíblia
hoje, devemos crer que Deus é o Revelador, e, como ele falou no passado a todas aquelas pessoas, assim pode falar a
nós nos dias atuais. Deus usa vários meios para revelar-se; por exemplo:

(1) Pela natureza (Sl 19.1; Rm 1.20).

(2) Pela consciência moral do homem (Rm 2.15).

(3) Especialmente, se revela por meio de seu Filho encarnado (Jo 1.1, 14, 18) .

Nesse Filho temos tudo o que podemos saber a respeito de Deus (Hb 1.3). A Bíblia é um testemunho dessas
revelações. Por isso devemos lê-la e ouvi-la com ponderação e oração, procurando discernir bem a voz de Deus.

2.2. Inspiração. Essa palavra significa sopro, influência. Na linguagem religiosa, significa a influência do
Espírito Santo orientando os escritores da Bíblia a que registrassem, com fidelidade, os atos e as palavras da revelação
de Deus.

O apóstolo Paulo declara que toda a Escritura é inspirada por Deus (2Tm 3.16). O apóstolo Pedro acrescenta
que “homens falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1.21).

Os escritores da Bíblia foram homens santos que tiveram experiências com Deus. Enquanto escreviam, eram
assistidos pelo Espírito Santo, razão por que tudo quanto escreveram veio a ser útil para nossa edificação.

Outro ponto importante sobre a inspiração da Bíblia é que os escritores não tiveram sua personalidade anulada
pelo Espírito, mas cada um escreveu fazendo uso de seu próprio estilo literário, seu vocabulário pessoal e seus
conhecimentos gerais adquiridos no ambiente em que vivia.

2.3. Iluminação. Essa palavra significa o esclarecimento do Espírito Santo naqueles que ouvem ou lêem a
Bíblia. Somente quando o Espírito opera no homem é que a Bíblia pode ser recebida como palavra de autoridade
divina. Paulo disse que “o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode
entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o homem espiritual julga todas as coisas. . . . Nós, porém,
temos a mente de Cristo” (1Co. 2.14-16) .

o apóstolo João fala da unção do Espírito Santo: “Quanto a vocês, a unção que receberam dele permanece em
vocês, e não precisam que alguém os ensine; mas, como a unção dele recebida, que é verdadeira e não falsa, os ensina
acerca de todas as coisas, permaneçam nele como ele os ensinou” (1Jo 2.27).

A Confissão de Fé Westminster afirma ser necessária a “operação interior do Espírito Santo” para que a
veracidade das Escrituras seja aceita salvificamente. Nesse sentido, o reformador João Calvino chama o Espírito Santo
de “o Mestre do íntimo”.

A iluminação ou a unção do Espírito não se opera apenas no intelecto, mas também nas emoções e na vontade,
predispondo o homem a pôr em prática o ensino de Deus.

Enquanto lemos a Bíblia, ou ouvimos sua leitura e explicação, devemos orar a Deus para que, através da leitura
e da pregação, possamos crescer “na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”.

Que significa a palavra Bíblia?

Bíblia é uma palavra de origem grega e quer dizer livros. Embora tenha forma singular, seu sentido é plural. A
Bíblia constitui uma coletânea de 66 livros. O Antigo Testamento foi escrito em hebraico, que era a antiga língua dos
judeus. O Novo Testamento foi escrito em grego popular, que era a língua mais falada no mundo, na época em que
Jesus viveu aqui na terra.

Além das duas divisões supracitadas, podemos dividir os livros da Bíblia, quanto aos assuntos. Encontramos

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dez divisões:
1. Livros da lei ou Pentateuco (5)
2. Livros históricos (12)
3. Livros poéticos (5)
4. Livros dos profetas maiores (5)
5. Livros dos profetas menores (12)
6. Evangelhos (4)
7. Livro histórico - Atos dos Apóstolos (1)
8. Cartas de Paulo (incluindo Hebreus, que é anônima) (14) .
9. Epístolas universais ou gerais (7)
10. Livro profético – Apocalipse (1)

Em relação à Bíblia, alguém afirmou: “A Bíblia é teocêntrica, quanto a sua autoria; cristocêntrica, quanto a seu
tema; e antropocêntrica, quanto a seu objetivo.”

1. É teocêntrica, quanto a sua autoria, porque Deus foi quem orientou, através de seu Espírito, os autores da
Bíblia.

2. É cristocêntrica, quanto a seu tema, porque Cristo é não só o assunto principal, mas também o centro de toda
a Bíblia. Alguém disse que o assunto da Bíblia pode ser resumido em três frases: Cristo virá, Cristo já veio e Cristo
voltará.

3. É antropocêntrica, quanto a seu objetivo, porque a Palavra de Deus tem endereço certo – o homem
pecador.

Como ler a Bíblia?

Para quem ainda não leu a Bíblia, vem a lume uma pergunta: por onde começar a leitura? Devemos começar
por certas partes mais fáceis de entender como, por exemplo, os Evangelhos e o livro dos Atos dos Apóstolos. Depois
podemos ler o livro dos Salmos, os livros históricos, o Pentateuco, os poéticos e as epístolas dos apóstolos. Só depois
disso é que devemos ler os livros mais difíceis, que são os proféticos. Há vários planos para ajudar o leitor a ler a
Bíblia durante um ano. Um dos planos é aquele que recomenda ao leitor ler 3 capítulos por dia e 5 aos domingos.
Qualquer que seja o plano, o importante é que a Bíblia seja lida em sua totalidade e estudada o máximo possível. Daí a
razão de ser da Escola Dominical, dos cultos com estudos bíblicos, dos cursos especializa dos em instituto bíblicos e
seminários, e dos congressos e retiros que dão ênfase ao estudo da Bíblia. Façamos de nossa Bíblia um livro sempre
aberto e sempre consultado.

Devemos ler a Bíblia com espírito de oração e estudo, suplicando sempre ao Espírito Santo que não só
esclareça nossas mentes, mas também predisponha nossas vontades para que sejamos praticantes da Palavra de Deus
(Tg 1.22).

Questionário

1. Por que a Bíblia é “a única regra de fé e prática”?


2. O que a Bíblia registra em suas páginas?
3. Que quer dizer Revelação?
4. Quais são os meios que Deus usa para revelar-se?
5. Que quer dizer Inspiração?
6. Quem eram os escritores da Bíblia?
7. Que quer dizer Iluminação?
8. Em quantas partes a Bíblia se compõe e como dividi-la segundo seus assuntos?
9. Que significa ser a Bíblia teocêntrica, cristocêntrica e antropocêntrica?
10. Como devemos ler a Bíblia?

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O CREDO DOS APÓSTOLOS

O Credo dos Apóstolos é uma das mais antigas declarações de fé que a Igreja Cristã elaborou depois do Novo
Testamento. Foi usado pelos cristãos desde os primeiros séculos de nossa era. Rufino, antigo pastor que viveu no
quarto século depois de Cristo, cria que o Credo dos Apóstolos foi composto pelos próprios apóstolos em Jerusalém.
Todavia, não há uma prova histórica definitiva para confirmar a suposição de Rufino. É chamado Credo dos Após -
tolos porque reflete as declarações principais que os apóstolos do Senhor Jesus fizeram em seus ensinos e pregações.

A palavra portuguesa, credo, é uma forma latina que significa “eu creio”. É usada para outras declarações
resumidas que a Igreja proclamou sobre os pontos doutrinários. Por exemplo: Credo de Nicéia, Credo de
Constantinopla, entre outros.

Visto que o Credo dos Apóstolos é um resumo bem feito das principais crenças da Igreja Cristã, foi usado desde
o princípio pelos candidatos ao batismo, que tinham que afirmar em voz alta, perante a Igreja, os principais pontos de
sua fé. A síntese doutrinária do Credo é impressionante não só por sua forma, mas também pela seqüência lógica das
afirmações.

1. O Credo dos Apóstolos tem uma estrutura trinitária

Significa que tem como base a doutrina da Trindade, a qual estudaremos no próximo capítulo. Alguns
estudiosos têm dividido o Credo em três artigos: o primeiro fala de Deus, o Pai; o segundo, de Deus, o Filho; e o
terceiro, de Deus, o Espírito Santo. Essa foi a divisão tradicionalmente preferida pelos mestres da Igreja. Neste
capítulo, vamos usar uma divisão sugerida por alguns cristãos mais contemporâneos, mas que seguem a orientação
tradicional, e que tem a vantagem de nos ilustrar com três figuras geométricas: o triângulo, o quadrilátero e o
polígono.

1.1. O triângulo teológico, isto é, o triângulo que se refere ao Deus Triúno. As afirmações de fé que se
encontram no Credo estão fundamentadas sobre esse aspecto triangular: o primeiro lado do triângulo é “Creio em
Deus Pai”; o segundo, “Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor”; o terceiro, “Creio no Espírito Santo”.

1.2. O quadrilátero cristológico, isto é, que se refere a Cristo nas principais expressões de sua obra redentora.
O primeiro lado do quadrilátero se refere à encarnação: “Foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da Virgem
Maria.” O segundo lado se refere à expiação: “Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos; foi crucificado, morto e
sepultado; desceu em Hades.” O terceiro lado se refere a sua exaltação, que inclui sua ressurreição, ascensão e
senhorio: “Ressurgiu dos mortos ao terceiro dia, subiu ao céu e está sentado à mão direita de Deus Pai, Todo-
Poderoso.” O quarto lado se refere a sua volta gloriosa: “de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos.”

O quadrilátero cristológico ocupa lugar centraI no Credo, e é a parte mais extensa. Isso mostra a preocupação
que a Igreja teve, desde o princípio, de centralizar a pessoa de Cristo.

1.3. O polígono soteriológico. Isto é, o polígono que se refere à aplicação que o Espírito Santo faz, nos homens,
da obra da salvação realizada por Cristo. Cristo realizou objetivamente a obra da redenção. O Espírito Santo a aplica
subjetivamente em todos aqueles que são alcançados pela fé. No polígono soteriológico temos a operação do Espírito
na vida dos seres humanos. O primeiro lado do polígono fala do Espírito Santo criando a comunidade dos que crêem,
isto é, a Igreja: “Creio no Espírito Santo, na santa Igreja universal.” O segundo lado fala da comunhão dos santos, isto
é, da comunhão entre os que crêem em Cristo, formando a unidade do corpo de Cristo. O terceiro lado fala da
remissão dos pecados, mostrando como o Espírito liberta o homem, perdoando seus pecados e o justificando pela fé.
O quarto lado se refere à ressurreição do corpo, que é um dos pontos centrais da esperança do cristão quanto ao
futuro. O quinto lado se refere à vida eterna, ou, seja, da perspectiva mais elevada da situação humana, no último
estágio em que Deus coloca o ser humano no plano da salvação.

E assim temos os pontos principais do Credo dos Apóstolos que servirão de roteiro para os próximos capítulos.

Por que vamos seguir o roteiro dado pelo Credo? Uma das razões é porque, quando os cristãos primitivos iam
ser batizados, repetiam o Credo, declarando publicamente suas crenças, as quais eram as verdades que todos os
cristãos aceitavam, segundo o ensino das Escrituras. E, quando ainda não tinham o Credo, era usada outra declaração,
contanto que a fé em Cristo fosse confessada. Como exemplo, temos no livro dos Atos dos Apóstolos um fato que
ilustra essa verdade. Quando o evangelista Filipe anunciou o evangelho ao eunuco etíope, depois de uma ampla
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exposição sobre a vida e obra de Cristo, houve o seguinte diálogo: “Prosseguindo pela estrada, chegaram a um lugar
onde havia água. O eunuco disse: Olhe, aqui há água. Que me impede de ser batizado? Disse Filipe: Você pode, se crê
de todo o coração. O eunuco respondeu: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. Assim, deu ordem para parar a
carruagem. Então Filipe e o eunuco desceram à água, e Filipe o batizou” (Ato 8.36-38).

O candidato à profissão de fé deve decorar o Credo dos Apóstolos para ter na memória o mais antigo
documento dos catecúmenos da igreja primitiva. Fazer uso do Credo na cerimônia da profissão de fé é recordar uma
das mais saudáveis tradições da Igreja.

Antes de entrarmos nos pontos doutrinários do Credo, vamos ter um capítulo especial sobre a doutrina, que é a
base do Credo: a doutrina da Trindade. Depois tomaremos cada expressão do Credo e a examinaremos, servindo assim
de roteiro para nossa compreensão da doutrina e da prática da Igreja de Cristo.

Questionário

1. Desde quando a igreja passou a usar o Credo dos Apóstolos?


2. Qual foi o pastor antigo que se referiu ao Credo?
3. O que a palavra credo significa?
4. Como o Credo era usado nas igrejas antigas?
5. Quais são as três divisões do Credo dos Apóstolos?
6. Quais são os assuntos de cada divisão do Credo?
7. Por que os que vão professar sua fé devem conhecer as doutrinas do Credo?
8. Você conhece o Credo de memória?
9. Por que é saudável o uso do Credo nas cerimônias de batismo e profissão de fé?
10. Quem eram os apóstolos?

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A TRINDADE

O Credo dos Apóstolos deixa bem claro que Deus é ao mesmo tempo Pai, Filho e Espírito Santo. Os
doutrinadores da Igreja deram a esse fato o título Trindade. Tertuliano, um grande cristão, foi o primeiro a usar essa
palavra para explicar estes “três modos de subsistência” de Deus, ou pessoas da Trindade. A palavra pessoa, embora
não explique plenamente o significado do Pai, do Filho e do Espírito Santo, foi a melhor palavra que os cristãos
acharam para falar do “mistério da Santíssima Trindade”.

A doutrina foi baseada na Bíblia, que desde sua primeira página fala em Deus no plural, ainda que se refira a
um só Deus. Nos primeiros versículos da Bíblia (Gn 1.1-3), encontramos ao mesmo tempo Deus o Criador, o Espírito
pairando sobre a face das águas e a Palavra de Deus fazendo surgir o universo e imprimindo-lhe harmonia e beleza.
No mesmo capítulo aparece Deus criando o homem e dizendo: “Façamos o homem a nossa imagem e semelhança.”
Essas expressões de Deus no plural, e seu próprio nome, são indicações do que no Novo Testamento ficou bem claro –
a Trindade.

Assim, podemos dizer que na Bíblia encontramos Deus se apresentando claramente como o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. Uma das maneiras de a Bíblia apresentar a Trindade é através das três expressões de seu amor. Pela
Bíblia sabemos que a expressão principal da Pessoa de Deus é o amor. É sua expressão mais característica. Primeiro,
Deus expressa seu amor como Pai; segundo, Deus expressa seu amor como amigo; e, terceiro, Deus expressa seu amor
como Esposo ou Noivo.

Vamos, pois, considerar esses três aspectos do amor de Deus:

1. Deus expressa seu amor como Pai

Ele é o criador e mantenedor de todas as coisas. Deus, como Pai, deu vida a tudo que existe e deu origem a toda
a criação. Nesse sentido, Deus é o Pai de toda paternidade, porque ele é o primeiro Pai. Vejamos como na Bíblia Deus
manifesta seu amor de Pai:

No Antigo Testamento, Deus é especialmente (a) o Pai do povo de Israel (Dt 32.6; Is 63.16; Jr 3.4; Sl 103.13;
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Ml 1.6; etc.), mas às vezes é considerado Pai universal, ainda que essa idéia seja mais desenvolvida no Novo
Testamento (Mt 11.25); (b) Deus é o Pai dos crentes (Gn 6: 2; Mt 5.9; Jo 1.12); (c) é também o Pai dos anjos (Jó 1.6);
(d) ele é um Pai que cuida de seus filhos (Mt 6. 10; 25.34; 10.29.31); d) ele é um Pai de amor que está sempre pronto a
buscar o homem perdido (Lc 15); (e) ele é um Pai que perdoa (Mt 5.44, 45); (f) é um Pai justo (Jo 17.25); (g) é um Pai
perfeito e misericordioso (Mt 5.48; Lc 6.36); (h) é um Pai santo (Jo 17.11); (i) é um Pai de ação e de trabalho (Jo
5.17); e, finalmente, (j) ele é um Pai que nos repreende, nos educa e nos orienta (Hb 12.5-9). Jesus Cristo, em seus
ensinos, destacou essa expressão do amor de Deus. Por isso, quando ele ensinou seus discípulos a orarem, disse que
chamassem a Deus de “Pai nosso”.

2. Deus expressa seu amor como amigo

Assim que Deus criou o homem, ele resolveu estabelecer um contato amistoso de comunhão pessoal do homem
consigo. Deus é amigo e quer fazer amizade com o homem. A Bíblia diz que “Enoque andou com Deus” (Gn. 5.24) e
que Abraão era “amigo de Deus” (Is 41.8). Sabemos que a amizade entre Deus e o homem foi rompida em decorrência
do pecado, e por isso o homem se tornou inimigo gratuito de Deus. Não obstante ser Deus a parte ofendida, este
procurou o homem para reconciliação. Usou vários meios. Resolveu chamar e escolher um povo da descendência de
Abraão. Escolheu homens desse povo para que revelassem sua amizade. Um deles foi Moisés. O livro do Êxodo conta
que Moisés falava face a face com Deus, “como um amigo fala a seu amigo”.

A maior expressão dessa amizade de Deus com o homem foi a encarnação de seu Filho Jesus Cristo, o qual
veio para destruir a inimizade e os muros de separação entre Deus e os homens. Ele foi chamado “amigo dos
pecadores”. Ele declarou a seus discípulos: “Ninguém pode ter maior amor do que aquele que dá sua vida por seus
amigos. Vocês são meus amigos ... eu os tenho chamado amigos” (Jo 15.13-15). O verdadeiro amigo é aquele que está
pronto a se sacrificar pelo bem e felicidade daqueles que são seus amigos. Jesus é a maior demonstração da amizade
divina.

3. Deus expressa seu amor como Esposo e Noivo

A Bíblia usa a figura do casamento para expressar o amor de Deus ao relacionar.se com seu povo, sua Igreja e
com cada um de nós, individualmente. Através do profeta Isaías, Deus falou a seu povo:

“Pois seu Criador é seu marido,


o Senhor dos Exércitos é seu nome,
o Santo de Israel é seu Redentor;
ele é chamado o Deus de toda a terra.
O Senhor chamará você de volta
como se você fosse uma mulher desamparada
e aflita de espírito” (Is 54.5, 6).

O amor do esposo para com a esposa é diferente do amor de pai para com os filhos e do amor de amigo para
com seu amigo. O ponto central do amor do esposo para com a esposa é a comunhão. Os noivos só se casam porque
estão decididos a passar o resto de suas vidas juntos. Assim Deus estabelece a comunhão do homem consigo através
da obra de seu Espírito Santo. O Deus Espírito Santo é o esposo buscando seu povo e sua Igreja. Uma das primeiras
operações do Espírito Santo é estabelecer a união do crente com Cristo. Essa união com Cristo é descrita na Bíblia
pela figura do matrimônio.

O Deus Espírito Santo, além de estabelecer a comunhão conosco, exige nossa fidelidade a ele. Na Bíblia, a
infidelidade é chamada adultério, isto é, a quebra da aliança e do vínculo que nos une a si. “Adúlteros, vocês não
sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus?” (Tg 4.4). No Antigo Testamento, é bem comum os
profetas condenarem a infidelidade do povo de Deus como sendo adultério, porque Deus fez uma aliança com seu
povo.

Do mesmo modo como o bom esposo deseja a felicidade da esposa, assim Deus quer a felicidade de seu povo:

“Eu me casarei com você para sempre; eu me casarei com você com justiça e retidão, com amor e compaixão.
Naquele dia, declara o Senhor, você me chamará meu marido; não me chamará mais meu Senhor” (Os 2.19 e 16).

No livro do Apocalipse, o encontro de Jesus com a Igreja, no dia de sua vinda, é descrito em termos de festa
nupcial:

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“Regozijemo-nos! Vamos alegrar-nos e dar-lhe glória! Pois chegou a hora do casamento do Cordeiro, e sua
noiva já se aprontou” (Ap 19.7) .

Assim temos a Trindade do Amor: o Pai, o Amigo e o Esposo. Essa é a maneira simples de a Bíblia apresentar
os modos de Deus entrar em contato com suas criaturas humanas.

Questionário

1. Quem foi o primeiro cristão a usar a palavra Trindade?


2. A doutrina da Trindade é fácil de ser assimilada?
3. A doutrina da Trindade está clara na Bíblia? Cite alguns textos.
4. Quais são as figuras que a Bíblia usa para apresentar o assunto?
5. Em que sentido Deus é Pai?
6. Em que sentido Deus é Amigo?
7. Em que sentido Deus é Esposo?
8. Por que essa doutrina é chamada “Trindade do Amor”?

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DEUS O CRIADOR

“Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, criador ...”

O primeiro capítulo da Bíblia apresenta Deus como o Criador. Por isso, a primeira declaração do Credo,
baseada no primeiro versículo da Bíblia, reza que Deus é Criador dos céus e da terra. A expressão bíblica, “os céus e
aterra”, significa: toda a realidade existente. O apóstolo Paulo fala dessa totalidade quando mostra que a criação inclui
“todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis” (Cl 1.16). Tudo o que existe foi criado direta ou
indiretamente por Deus, e sem "ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.2).

Como já vimos no capítulo anterior sobre a Trindade, Cristo foi o intermediário na Criação, cooperando com o
Pai e com o Espírito Santo. A Criação foi obra da Trindade.

Devemos notar que a doutrina da Criação se baseia na fé e não nas conclusões da razão humana, ou nas provas
científicas. A doutrina não se choca com a razão, nem com a ciência; todavia, “pela fé entendemos que o universo foi
formado pela palavra de Deus” (Hb 11.3).

A fé evangélica tem afirmado quatro verdades sobre Deus, o Criador:

1. Deus criou o universo do nada

Essa afirmação é exclusivamente da fé cristã, porque não a encontramos em nenhuma filosofia ou religião.
Várias teorias têm surgido para explicar a origem do universo. Para alguns, o universo é eterno, isto é, sempre existiu.
Para outros, o universo surgiu como emanação de um poder inicial. Para a Bíblia, Deus criou o universo do nada. Essa
declaração significa que, antes de existir o universo, não existia matéria alguma. Era a não-existência, mas “Deus
chamou à existência as coisas que não existem” (Rm 4.17). Deus criou sem material preexistente, “de maneira que,
aquilo que se vê, não foi feito do que é aparente” (Hb 11.3).

2. Deus criou o universo em seis dias

Essa declaração pode enfrentar três interpretações:

2.1. Interpretação literalista

Segue a idéia de que os seis dias referidos no capítulo 1 de Gênesis são dias de 24 horas e que o universo foi
criado nesse exato espaço de tempo.

2.2. Interpretação científica

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Afirma que os seis dias da criação não se referem a dias de 24 horas, mas a longos períodos de séculos e
milênios chamados eras geológicas. Para esses intérpretes, o universo passou por um longo processo até chegar a sua
forma atual. Essa interpretação é preferida por aqueles que procuram ver certa harmonia entre a Bíblia e a ciência.

2.3. Teoria poética ou espiritual

Para esta teoria, o autor bíblico apenas usou a figura poética da semana, com seis dias de trabalho e um de
descanso, para mostrar como Deus criou o universo. Os intérpretes desta teoria não discutem se os dias eram períodos
milenares, mas que o universo é criação de Deus e tudo que vive depende de Deus. A alegoria da semana com seus
sete dias constituiu um artifício literário para expressar essa verdade. Era como se alguém usasse a figura de um dia
para descrever a vida de uma pessoa desde o amanhecer até o ocaso.

Qual dessas teorias você acha mais certa?

3. Deus criou o universo para sua própria glória

Nesta afirmação temos a finalidade do universo. Para que Deus criou todas as coisas? Há algumas respostas
errôneas a essa pergunta. Alguns a respondem dizendo que foi para a felicidade do homem. Deus, de fato, se preocupa
com nossa felicidade, mas será que foi essa a finalidade principal do universo? Certamente, não.

A finalidade principal do universo é a própria glória do Criador. Através da criação, Deus demonstra sua
liberdade, seu amor, especialmente seu poder e sabedoria.

O homem só encontra sua felicidade se porventura colocar sua vida dentro desse alvo da criação: a glória de
Deus. “O fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre.”

Assim, o universo mostra e declara quem é seu Criador. “Os céus declaram a glória de Deus, e o firmamento
proclama as obras de suas mãos” (Sl 19.1). “Pois desde a criação do universo os atributos invisíveis de Deus, seu
eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas”
(Rm. 1.20).

4. Deus criou o universo e viu que tudo era muito bom

O livro do Gênesis registra o seguinte fato: “E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom”
(Gn 1.31). Que significa essa afirmação?

4.1. Significa que o universo estava de acordo com o plano divino, isto é, estava satisfazendo o propósito de
Deus, quando este resolveu criá-lo.

4.2. Quer dizer que a criação, em si, é boa. Deus não é o criador do mal.

4.3. Significa que o universo foi criado para fins elevados e nobres.

Além da criação do mundo visível e material, a Bíblia afirma que Deus criou seres espirituais chamados anjos.
A época da criação dos anjos não está claramente determinada na Bíblia. Contudo sabemos que esses seres tiveram
participação nas várias providências que Deus tomou em seu relacionamento com os homens.

Relacionada com a doutrina da Criação, a Bíblia apresenta a doutrina da Providência. Os teólogos e pensadores
cristãos têm descrito a ação da providência de Deus como “a maneira mui santa, sábia e poderosa de Deus preservar e
governar todas as criaturas e as ações delas para sua própria glória.” Como estamos vendo, ela está relacionada com a
criação. Pela doutrina da Providência, os cristãos têm um forte apoio para não caírem no fatalismo, ou no
mecanicismo, ou no panteísmo, ou na idéia errônea de que tudo o que acontece é obra do acaso. A doutrina da
Providência mostra que este universo tem uma diretriz.

Devemos lembrar também que o universo, como se encontra atualmente, será objeto de uma poderosa e
maravilhosa transformação, na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Com a entrada do pecado e do mal na realidade
universal, foi o propósito de Deus planejar uma regeneração do universo (Ap 21.5). Isso se deve não ao fato de ser
Cristo o Mediador da Criação, mas é ele quem dá sentido à vida universal como o Alfa e o Ômega de todo o universo.

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Devemos render graças a nosso Deus por sua maravilhosa criação e por sua sábia e amorosa providência.

Questionário

1. Que significa a expressão bíblica “os céus e a terra”?


2. Qual é a relação de Cristo com a Criação?
3. Aceitamos a criação pela fé ou pela razão?
4. Que significa a expressão “Deus criou o universo do nada”?
5. Como podemos interpretar a frase “Deus criou em seis dias”?
6. Que quer dizer “Deus criou o mundo para sua própria glória”?
7. Por que a Bíblia diz que tudo que Deus criou era bom?
8. Deus criou os anjos?
9. Que é providência?
10. Qual é o grande valor da doutrina da providência?

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O SER HUMANO

O ser humano é uma criatura de Deus. A Bíblia destaca o fato de o homem ter sido criado sob a atenção especial
da parte do Criador. “Então formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida,
e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2.7) . “Disse também Deus: Façamos o homem a nossa imagem, conforme
a nossa semelhança” (Gn 1.26). A doutrina cristã apresenta alguns pontos muito importantes sobre o ser humano:

1. O homem foi criado a imagem de Deus

Que significa essa afirmação? Seu ponto central é que o homem é personalidade, é um ser que exerce a
comunicação pessoal, o diálogo, a relação, justamente como ocorre com Deus. Este criou o homem com a capacidade
de manter comunhão com ele, o Criador, e de manter comunhão com seu próximo e semelhante. “Disse Deus: Não é
bom que o homem viva sozinho” (Gn 2.18). “Homem e mulher os criou” (Gn 1.27). Assim como podemos manter
relacionamento com outras pessoas humanas, também podemos manter relacionamento com a pessoa do Criador. O
aspecto mais profundo e significativo do relacionamento do homem com seu próximo é chamado amor. Daí a razão
do grande mandamento ser formulado com as seguintes palavras: “Ame o Senhor seu Deus de todo seu coração, de
toda sua alma, de todas suas forças e de todo seu entendimento; e ame seu próximo como a si mesmo” (Lc 10.27).
Essa comunhão de amor foi vivida plenamente pelo Deus-Homem, Jesus Cristo, que é a imagem perfeita de Deus.
Essa capacidade do homem, como a imagem de Deus, também lhe comunica o privilégio de domínio sobre a natureza
e de cooperador de Deus. Pela imagem de Deus, ficamos sabendo que a principal razão da existência humana é para
que o homem viva nessa comunhão, dupla e indissoluvelmente, amando a Deus e ao próximo, pois é assim que a
verdadeira humanidade de cada um pode expressar-se plenamente.

2. O homem é uma unidade psicossomática

A Bíblia descreve a natureza humana em termos globais. São usadas várias palavras para descrever as
diferentes expressões e manifestações da pessoa humana: carne, corpo, alma, espírito, mente, coração, consciência,
entranhas, rins, e a expressão, imagem de Deus. Todas elas fazem parte dessa maravilhosa unidade que é a pessoa
humana. Dizemos unidade porque é muito difícil, e até mesmo impossível, separar ou isolar essas manifestações, tal a
interdependência e a interação que existem entre elas. O apóstolo usa a figura do corpo humano com todas suas
expressões para destacar a unidade que deve haver na Igreja. Na morte física, essa unidade é prejudicada, porque o
corpo deixa de exercer suas funções; Deus, porém, em sua providência, nos preserva em seu seio até a ressurreição do
corpo, quando receberemos novo corpo criado por Deus e adaptado para uma vida de eterna e plena comunhão.

3. O homem, individualmente, é um ser incompleto

O homem em si, como indivíduo, é incompleto e carece de completude em outros seres pessoais.
Espiritualmente, o ser humano se completa na comunhão com Deus, para a qual ele foi criado. Psicossomaticamente,
o homem se completa no casamento: “e serão ambos uma só carne” (Gn 2.24); “não é bom que o homem viva
sozinho” (Gn 2.18). Socialmente, o homem se completa na vida da sociedade. Jesus disse ao moço rico: “Uma coisa

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lhe falta”, porque aquele moço tinha uma existência incompleta. Faltava-lhe a real comunhão com Deus e com o
próximo. Para aquele moço, as riquezas tomavam o lugar de Deus e de seus semelhantes carentes.

4. O homem é pecador

A Bíblia mostra o lado negativo da pessoa humana – o pecado. O capítulo 3 do livro do Gênesis descreve como
o homem caiu. Adão e Eva foram tentados por Satanás e caíram. Foram tentados a não mais se sujeitarem ao governo
de Deus. O cerne do pecado, e raiz de todos os males humanos, é o orgulho, a falsa auto-suficiência do homem em
crer que ele é o próprio Deus. A palavra mais usada nas línguas originais da Bíblia para designar o pecado do homem
é traduzida por errar o alvo. O homem foi desviado da finalidade para a qual foi criado. “Porquanto, tendo
conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças” (Rm 1.21). O Breve Catecismo
descreve o pecado como “falta de conformidade com a lei de Deus, ou qualquer transgressão dessa lei”. Essa
declaração da Fé Reformada apresenta o pecado sob dois aspectos: como estado e como ato.

Todos os homens foram envolvidos na condição de pecado na qual caíram nossos primeiros pais. “Portanto, da
mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a
todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5.12). “Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm
3.23).

Todos os homens cometem atos pecaminosos, consciente ou inconscientemente. Daí vem a pergunta de Jesus:
“Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas?
Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos ruins” (Mt 7.16, 17). Os homens
cometem atos pecaminosos porque estão envolvidos numa condição de pecado. “Se afirmarmos que estamos sem
pecado, enganamos a nós mesmos, e a verdade não está em nós” (1Jo 1.8).

5. O homem necessita de salvação

O homem, no estado de pecado, está morto e perdido. Necessita de vida e salvação. Deus, em seu infinito amor,
desde toda a eternidade, decidiu revelar ao homem um plano de salvação através de seu Filho, já que o homem, por si
só, é totalmente incapaz de voltar-se para Deus e de se salvar.

Visto que o homem, em decorrência do pecado, ficou incapacitado de buscar a Deus, este teve que buscar o
homem. A menos que nos convençamos de que somos pecadores e que necessitamos de salvação, não temos
capacidade para apreciar o plano de salvação que Deus elaborou, enviando seu Filho ao mundo. Para que o homem
recobrasse a verdadeira humanidade, foi preciso que Deus tomasse a iniciativa, e assim restaurasse no homem aquela
imagem original que foi arruinada pelo pecado.

Na condição de pecado, o ser humano com freqüência sente saudade de Deus, já que na condição de pecado sua
vida é irreal e falsa. É muito expressiva aquela famosa declaração de Agostinho: “Fomos criados para ti, e nosso
coração não tem paz enquanto não descansar em ti.” No Salmo 42, o salmista brada: “Como a corça suspira por águas
correntes, minha alma anseia por ti, ó Deus. Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (Sl 42.1, 2).

Quem poderia satisfazer esse profundo anelo do ser humano? Somente o Senhor Jesus Cristo.

Questionário

1. Deus exerceu especial cuidado para com o ser humano na criação?


2. Que significa a expressão imagem de Deus?
3. No grande mandamento, qual o aspecto mais íntimo da comunhão entre pessoas?
4. Como a Bíblia apresenta a pessoa humana? Inteira, ou dividida?
5. Por que a fé cristã proclama a ressurreição do corpo?
6. Em que aspectos o homem, como indivíduo, é incompleto?
7. Qual foi o pecado de Adão e Eva?
8. Que relação há entre nosso pecado e o pecado de Adão e Eva?
9. O homem, no estado de pecado, pode voltar-se para Deus? Como?
10. O homem, no estado de pecado, sente algum anseio por uma vida mais elevada?

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A PESSOA DE JESUS CRISTO

“Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor”

Deus providenciou a salvação para o homem enviando seu Filho ao mundo. O Credo dos Apóstolos declara:

"Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da
Virgem Maria ...” Nessa afirmação do Credo, temos os dois aspectos da pessoa de Jesus Cristo: sua divindade e sua
humanidade. Consideremos sucintamente esses dois aspectos:

1. A divindade de Jesus Cristo

Reconhecemos na pessoa de Cristo a essência do próprio Deus. A expressão, “seu único Filho, nosso Senhor”,
significa que ele não participa meramente da divindade, mas ele mesmo é a Divindade. No Antigo Testamento temos
as seguintes declarações sobre o Messias [Cristo] que havia de vir:

“E ele será chamado


Maravilhoso Conselheiro,
Deus Poderoso,
Pai Eterno,
Príncipe da paz” (Is 9.6).

“Dias virão, declara o Senhor,


em que levantarei para Davi
um Renovo justo,
um rei que reinará com sabedoria
e fará o que é justo e certo na terra” (Jr 23.5, 6).

“Mas tu, Belém-Efrata,


embora pequena
entre os clãs de Judá,
de ti virá para mim
aquele que será
o governante sobre Israel.
Suas origens estão no passado distante,
em tempos antigos” (Mq 5.2).
Em qualquer profecia messiânica do Antigo Testamento, nos livros proféticos, poéticos e históricos, o Messias
que havia de vir é apresentado como sendo Deus.

No Novo Testamento, a apresentação de Cristo como Deus é ainda mais clara. Citemos alguns exemplos:

Mateus, citando o profeta Isaías, confirma a deidade de Cristo:

“A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe chamarão Emanuel, que significa Deus-Conosco” (Mt
1.23).

João apresenta Cristo nos seguintes termos:

“No princípio era o Verbo,


e o Verbo estava com Deus,
e o Verbo era Deus” (Jo 1.1).

O apóstolo Paulo declara a respeito de Cristo;

“Ele é a imagem do Deus invisível,


o primogênito de toda a criação ...
porque aprouve a Deus que nele residisse toda a plenitude” (Cl 1.15, 19).

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O que encontramos claramente no Antigo e no Novo Testamento é a apresentação de Cristo como pessoa
divina, o próprio Deus.

2. A humanidade de Jesus Cristo

A Bíblia afirma que Jesus Cristo foi também homem. O Credo, resumindo essa crença, afirma: “foi concebido
por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria.” Anotemos estas duas expressões: foi concebido e nasceu.
Somente um ser humano real pode ser concebido e nascer. “Ele foi concebido por obra do Espírito Santo”, ou, seja,
sua entrada no mundo não dependeu da iniciativa e da vontade dos homens, mas foi da inteira responsabilidade do
próprio Deus. A doutrina do nascimento virginal de Cristo é importante porque chama nossa atenção para este fato: a
intervenção divina na história, enviando Jesus Cristo ao mundo. “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou
seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4).

No Novo Testamento, lemos que Jesus Cristo era homem completo. Ele se encarnou, assumindo a natureza
humana (Jo 1.14). Ele possuía os elementos essenciais da natureza humana: corpo, alma, espírito, mente, sangue,
coração (Mt 26.26, 28, 38; Jo 11.33; Hb 2.14). Ele estava sujeito às leis do desenvolvimento físico e mental (Lc 2.52).
Ele estava sujeito às tentações e sofrimentos normais (Hb 2.10, 18). Ele passou por experiências normais da pessoa
humana: fome, sede, sono, emoção, raiva, cansaço, pranto, perplexidade, agonia, morte etc. (Mt 4.2; 8.24; 9.36; Mc
3.5; Lc 22.44; Jo 4.6; 11.35; 19.28, 30). Enfim, ele foi uma pessoa semelhante a qualquer um de nós em todos os
aspectos, exceto no tocante ao pecado (Hb 4.15) .
Portanto, hoje podemos afirmar o que a Igreja tem afirmado em todas as épocas de sua existência: Jesus Cristo
é verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

3. Os nomes e títulos de Cristo

Cada um de nós tem um nome. Na Bíblia, os nomes dados a Cristo são importantes, porque descrevem ora sua
pessoa, ora sua missão, ora sua posição como Messias. Cada nome apresenta um aspecto importante do Salvador.
Consideremos cada um de seus nomes.

3.1. Jesus

Esse nome foi dado ao Salvador em seu nascimento. É o nome pelo qual ele era chamado em seu lar, por seus
parentes e amigos. Esse nome não era uma mera palavra sem sentido. A palavra Jesus é a forma grega do nome
hebraico, Josué, que significa salvação. Como disse o anjo ao anunciar o nascimento a José: “e lhe porás o nome de
Jesus, porque ele salvará seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21).
3.2. Cristo
Esse título é também um título. É a tradução grega da palavra hebraica que significa ungido. O termo ungido
era usado para designar o Messias. O nome Cristo chama a atenção para a divindade de Jesus e para seu ofício
messiânico. O Messias é o Redentor prometido no Antigo Testamento e esperado ansiosamente pelo povo de Israel.
3.3. Filho do Homem
Esse título aparece no Antigo Testamento, especialmente no livro dos Salmos e nas profecias de Daniel e
Ezequiel. O uso do nome nos Evangelhos se baseia no sentido de Daniel 7.13, 14. Jesus denominou a si próprio, “o
Filho do homem”, umas quarenta vezes. A expressão “Filho do homem” é usada poucas vezes por outra pessoa. Esse
nome é um tanto obscuro em seu significado, mas tudo indica que Jesus se referia à pessoa do Filho do Homem como
um título escatológico, isto é, relacionado com os últimos acontecimentos do universo, à salvação que Deus trouxe ao
mundo através de seu Filho.

3.4. Filho de Deus

Esse título era usado no Antigo Testamento para os reis, os anjos e o povo eleito em geral, que era considerado
filho de Deus. Esse título formou um dos nomes de Jesus porque chama a atenção para sua pessoa divina e messiânica.
Mas, especialmente, é usado para descrever a relação de Cristo com o Pai, como já vimos na doutrina da Trindade
(Mt. 3.17; 11.27) . Também no sentido de seu nascimento depender de Deus (Lc 1.35).

3.5. Senhor

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Esse título é a tradução grega de um dos nomes de Deus no Antigo Testamento: Adonai. Nos Evangelhos e nas
Epístolas, o título Senhor se refere ao senhorio de Cristo e a sua Autoridade como Deus (Lc 2.11; At 2.36; Fp 2.11) .

Através desses nomes ou títulos, podemos conhecer um pouco mais sobre a pessoa de nosso Salvador, o Deus-
Homem que veio salvar o homem perdido.

Além desses títulos, há várias figuras bíblicas para descrever a obra e a pessoa de Jesus. Exemplo: “O Cordeiro
de Deus”, a “resplandecente estrela da manhã”, “o caminho”, “a porta”, “o pastor” etc: Em todas as páginas do Novo
Testamento, a pessoa de Cristo é glorificada e exaltada.

Questionário

1. Quais são os dois aspectos mais importantes da pessoa de Cristo?


2. Em que sentido Jesus é chamado Deus?
3. Como o Antigo Testamento apresenta a pessoa divina de Cristo?
4. Em que sentido Jesus é chamado Homem?
5. Por que é importante a doutrina do nascimento virginal de Cristo?
6. De que maneira era Jesus um homem igual a nós em todos os aspectos?
7. Quais são os nomes ou títulos de Cristo?
8. Que significam o nome e título Jesus e Cristo?
9. Que significam os títulos Filho do homem e Filho de Deus?
10. Que significa o título Senhor?

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A OBRA REDENTORA DE JESUS CRISTO

“Foi crucificado, morto e sepultado ...”

Veremos agora o que Jesus Cristo fez para a salvação do homem peca dor. Sobre esse aspecto, o Credo nos relata
sucintamente os sofrimentos do Salvador: “padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado;
desceu ao Hades.”

Desde que Cristo se encarnou, ele ficou sujeito a todos os sofrimentos físicos, morais e espirituais a que os
homens em geral estão sujeitos. Mas o clímax de seus sofrimentos está na cruz do Gólgota, quando teve que enfrentar
a morte. A pergunta mais importante deste capítulo é esta: “Por que Cristo tinha que morrer na cruz?” Os cristãos de
convicção reformada têm três respostas a essa pergunta:

1. Para pagar a penalidade do pecado

Vejamos algumas declarações bíblicas: “Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm 3.23);
“o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23); “Sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9.22). O pecado
arrastou após si a condenação. O homem não podia ficar sem castigo. Alguém tinha que pagar para que o erro
cometido fosse reparado. Já que o homem não podia quitar a penalidade do pecado, Deus elegeu seu próprio Filho
para efetuar essa quitação. Assim a morte e o derramamento de sangue do Filho eram necessários para que a quitação
fosse feita.

2. Para substituir os homens

“Mas Deus prova seu amor para conosco, pelo fato de Cristo ter morrido por nós, sendo nós ainda pecadores”;
“pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só
ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida” (Rm 5:8, 18).

Foi o profeta Isaías quem melhor descreveu o sacrifício vicário de Cristo: “Certamente ele tomou sobre si
nossas enfermidades, e nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas
ele foi traspassado por nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e por suas pisaduras fomos
sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair
sobre ele a iniqüidade de nós todos (Is 53.4-6).
18
Essa substituição tinha como finalidade resgatar o homem da escravidão do pecado. “Pois o próprio Filho do
homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.45). Assim como ele
substituiu a Barrabás, o salteador que se destinava a morrer naquela cruz, assim também substituiu a cada um de nós.
Podemos dizer que, diante de Deus, cada um de nós é um Barrabás que deve morrer em decorrência do pecado, mas
que Cristo assumiu nosso lugar.

3. Para satisfazer a justiça de Deus

Deus planejou salvar o homem, mas não realizaria a obra da salvação anulando ou negando sua própria justiça.
“Sendo justificados gratuitamente por sua graça, mediante a redenção que há em Jesus Cristo; a quem Deus propôs,
em seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar sua justiça, por ter Deus, em sua tolerância, deixado
impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação de sua justiça no tempo presente, para
ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.24-26). Nos últimos dois versículos citados,
temos os adjetivos justo e justificador. Destacamos esses dois adjetivos porque eles nos mostram que, ao perdoar o
homem, Deus não deixou de ser justo. Ele tinha que ser justificador justo, e não justificador injusto. Visto como o
homem não podia satisfazer essa justiça, Cristo a satisfez através de seus sofrimentos na cruz. O Breve Catecismo
declara: “Cristo exerce as funções de sacerdote, oferecendo-se a si mesmo, uma vez, em sacrifício, para satisfazer a
justiça divina, reconciliar-nos com Deus e apresentar intercessão contínua por nós” (questão 25).

Essas três respostas tentam explicar as razões pelas quais a morte de Cristo na cruz era necessária, sem a qual o
homem não teria a salvação.

Agora mencionaremos os resultados do sacrifício de Cristo nos que crêem.

1. Libertação

“Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus ...” (Rm 6.22). A libertação é um dos
primeiros resultados da obra redentora de Cristo. A liberdade é um dos atributos da vida cristã. O homem fica livre do
domínio do pecado, embora continue pecador (Rm 6.14). O Novo Testamento compara a libertação do povo de Israel
do Egito com a libertação que Cristo trouxe a sua Igreja. Por isso, Cristo é chamado “nossa páscoa”, em memória da
refeição que os israelitas tomaram na noite em que deixaram a escravidão do Egito. Cristo nos liberta da escravidão do
pecado. “Se, pois, o Filho os libertar, vocês serão verdadeiramente livres” (Jo 8.36) .

2. Perdão

Se o sangue de Jesus nos purifica de todo pecado (1Jo 1.7), então fomos perdoados em Cristo. Sentir-se
perdoado é uma das bem-aventuranças citadas na Bíblia: “Bem-aventurado aquele cuja iniqüidade é perdoada e cujo
pecado é coberto” (Sl 32.1). Esse perdão nos traz alegria, paz e confiança no Senhor, porque sabemos que podemos
chegar a ele, já que ele veio a nós. E se cairmos em tentação, então nos dirijamos a ele, porque, “se confessarmos
nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo 1.9).

3. Reconciliação

“Nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho” (Rm 5.10).
“Deus estava em Cristo reconciliando o mundo consigo, não imputando aos homens suas transgressões” (2Co 5.19).
Essa reconciliação tem um duplo aspecto: é reconciliação do homem com Deus, que traz também a reconciliação do
homem com seu próximo: “Porque ele é nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derrubado a parede de separação
que estava no meio, a inimizade ...” (Ef 2.14).

Assim, a obra redentora de Cristo é completa e satisfatória para realizar a salvação plenária do homem. Tudo o
que Cristo fez foi planejado pelo Pai desde a fundação do mundo. Os que recebem a salvação em Cristo podem ter
certeza de que, pelo amor de Deus, foram recebidos e salvos. Não devemos ter uma arrogante certeza de salvação, mas
uma humilde atitude de que, pelo amor de Deus, recebemos, mediante a fé, a graça da salvação. Confiemos nessa
salvação e a anunciemos aos que ainda não a conhecem, mostrando que “Deus amou ao mundo de tal maneira que deu
seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).

Questionário

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1. Que tipos de sofrimentos Jesus teve?
2. Por que Cristo teve que pagar a penalidade do pecado do homem?
3. Qual o profeta que melhor descreve os sofrimentos vicários de Cristo?
4. Com que finalidade Cristo nos substituiu na cruz?
5. Por que cada um de nós pode ser considerado um Barrabás?
6. Por que foi necessário que Jesus satisfizesse a justiça de Deus?
7. Em que sentido o pecado escraviza o homem?
8. O cristão, depois de salvo por Cristo, ainda tem pecado?
9. O que o crente deve fazer, quando peca?
10. Em que sentido Cristo trouxe a reconciliação?

*******

A RESSURREIÇÃO DE JESUS

“Ressurgiu dos mortos ao terceiro dia ...”

O Credo dos Apóstolos, baseado na Bíblia, afirma que Jesus “ressurgiu dos mortos ao terceiro dia”. Como
aconteceu isso? Os quatro Evangelhos descrevem a ressurreição de Cristo, demonstrando que ele não ficou sob o
domínio da morte. Jesus estava morto, e pelo poder de Deus foi ressuscitado. Seu corpo não só deixou a sepultura,
mas também foi transformado. Depois de ressuscitado, foi visto pelos discípulos e esteve com eles em várias ocasiões,
antes de subir aos céus.

Quais foram as razões que levaram Deus a ressuscitar seu Filho?

1. Porque seu Filho não podia permanecer sujeito à morte

O eterno Filho de Deus não podia ser dominado pelos grilhões da morte, visto ser ele o próprio Criador de
todas as coisas. O apóstolo Pedro diz que a ressurreição se deu para cumprir a profecia, que nesse sentido estava
escrito no livro dos Salmos: “ao qual Deus, porém, ressuscitou, rompendo os grilhões da morte, porque não era
possível fosse ele retido por ela. Porque, a respeito dele diz Davi: Porque não deixarás minha alma na morte, nem
permitirás que teu Santo veja a corrupção.” E Pedro concluiu: “Prevendo isto, referiu-se à ressurreição de Cristo, que
nem foi deixado na morte, nem seu corpo experimentou a corrupção. A este Jesus, Deus ressuscitou, do que todos nós
somos testemunhas” (At 2.24, 27, 31, 32) .

2. Para completar a obra redentora

O sacrifício de Cristo na cruz foi completo e perfeito, mas não dispensa a ressurreição. O apóstolo Paulo disse
que não só a morte de Cristo foi necessária para nossa salvação, pois declara: “Seremos salvos por sua vida” (Rm
5.10). Ressaltando o valor da morte e da ressurreição de Cristo, o apóstolo escreve: “Fomos, pois, sepultados com ele
na morte pelo batismo, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também
andemos nós em novidade de vida” (Rm 6.4). “Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu; para ser
Senhor, tanto de mortos como de vivos” (Rm 14.9). Portanto, não somos salvos só pela morte de Cristo, mas também
por sua ressurreição, porque por ela Deus aprova o sacrifício de Cristo na cruz e nos garante a vida eterna.

Veremos agora os efeitos da ressurreição de Cristo:

1. Ela nos outorga uma nova vida

Isto é, uma nova maneira de viver. “Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que
são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus” (Cl 3.1). “Também nós vivamos uma nova vida” (Rm 6.4).
“Se alguém está em Cristo, é nova criação” (2Co 5.17). Antes de termos Cristo como Salvador, nossa vida estava
imersa na morte, por causa do pecado; mas, através da fé, nossa vida é orientada pelo Senhor que vive. O capítulo três
da carta de Paulo aos Colossenses descreve a nova vida do espiritualmente ressuscitado, contrastando-a com a vida
daqueles que estão mortos no pecado. Todas as relações humanas são mudadas depois da nova vida que Cristo nos
concede.

2. Ela nos dá uma nova esperança


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A esperança que Cristo trouxe com sua ressurreição é única e preciosíssima. As religiões do mundo sempre
apresentaram esperanças falsas. Os pagãos, em suas crendices e filosofia, apresentaram esperanças como a da
imortalidade da alma, da reencarnação das almas e outras. Somente o Cristianismo, baseado na ressurreição de Cristo,
pôde apresentar a certeza da vida futura. Se Cristo não ressuscitasse, não poderíamos ter essa certeza. Disse o
Apóstolo: “E, se Cristo não ressuscitou, é inútil nossa pregação, como é também inútil a fé que vocês têm. Mais que
isso, seremos considerados falsas testemunhas de Deus, pois contra ele testemunhamos que ele ressuscitou a Cristo
dentre os mortos. Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais
dignos de compaixão” (1Co 15.14, 19).

Devemos dar valor à ressurreição de Cristo por causa daquilo que ela nos representa e pelos efeitos saudáveis
que ela traz a nossa vida presente e futura. Há no Brasil, entre muitas pessoas, uma tendência errônea de dar-se
demasiado valor à Sexta-Feira da Paixão e deixar de comemorar, com a mesma ênfase, o Domingo da Ressurreição.
Outros, que se consideram cristãos, têm o crucifixo como símbolo de sua fé. Mas o crucifixo apresenta o Cristo que
foi morto pelo pecado, ao passo que a cruz vazia é que devia ser, e sempre foi, o símbolo da fé cristã, porquanto Cristo
venceu a morte e o pecado deixando vazios a cruz e o túmulo.

Por que guardamos o domingo?

Essa pergunta tem razão de ser, visto que os judeus, e alguns grupos religiosos, guardam o sábado,
apresentando em prol dessa prática inúmeros versículos bíblicos. Então, por que nós evangélicos, que seguimos a
orientação da Bíblia, não guardamos o sábado? Vamos apresentar várias respostas a essa pergunta:

1. Guardamos o domingo em comemoração da ressurreição do Senhor Jesus. Os cristãos, após a ressurreição,


começaram a reunir-se no primeiro dia da semana, que mais tarde foi chamado domingo (Jo 20.26; At 2.1; 1Co 16.1,
2). Com o correr do tempo, esse dia foi se transformando em dia de culto, de descanso e de trabalho espiritual dos
cristãos. Assim, até hoje, quando nos reunimos no domingo para o culto e outros trabalhos, estamos comemorando a
ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo.

2. O sábado judaico do Antigo Testamento foi um dia escolhido para comemorar o evento da Criação. Deus
criou o universo em seis dias e no sétimo descansou. O sábado recorda esse ato do poder de Deus – a Criação. O
domingo foi o dia escolhido por Deus para comemorar o ato sublime da Redenção do homem efetuada por Cristo, que
é a nova Criação. A ressurreição marcou o clímax da obra de Redenção, por isso ele merece ser considerado e
comemorado com atenção e gratidão.

3. A guarda do domingo não constitui uma quebra ou violação do quarto mandamento da Lei de Deus, porque
no Decálogo (Ex 20) Deus ordena que o homem trabalhe seis dias e descanse no sétimo dia. A palavra sábado
derivou-se da palavra hebraica que aparece no Decálogo, shabat, que significa descanso. Seguindo ao pé da letra o
mandamento de Deus, o homem deve trabalhar seis dias e reservar o sétimo dia para descanso e santificação. Não
importa o nome que esse sétimo dia receba: se domingo ou quinta-feira; o fato é que, se for o sétimo dia, será o dia
que Deus pede. Quem, por uma razão ou outra, não pode observar o domingo, pode escolher outro dia. O importante é
ter, em sete, um dia dedicado plenamente a Deus.

Os sacerdotes hebreus guardavam o primeiro dia da semana por ser o único dia em que podiam descansar (Mt
12.5). Assim, a Igreja Cristã, por unanimidade, escolheu o domingo como o dia reservado para o culto e os trabalhos
especiais da igreja que se reúne, comemorando o acontecimento glorioso da ressurreição de Cristo.

Questionário

1. Por que Jesus não foi dominado pela morte?


2. A ressurreição se fez necessária para que o homem fosse redimido?
3. Qual é o efeito da ressurreição em nossa vida diária?
4. A ressurreição de Cristo tem algo a ver com nossa esperança de vida além-túmulo?
5. Que valor Paulo dá à ressurreição de Cristo?
6. No Brasil há muita ênfase na ressurreição de Cristo?
7. Você conhece alguém que guarda outro dia da semana, em vez do domingo?
8. Por que os cristãos guardam o domingo?
9. Qual é o sentido da palavra sábado?
10. Como se deve guardar o domingo?

21
ASCENSÃO E SENHORIO DE CRISTO

"Subiu ao céu, está assentado à mão direita de Deus...”

O Credo dos Apóstolos faz declarações estupendas a respeito de Cristo: “subiu ao céu e está assentado à mão
direita de Deus Pai, Todo-Poderoso...”

A expressão “subiu ao céu” se refere à ascensão de Cristo; e a outra expressão, “está assentado à direita de
Deus”, se refere ao senhorio de Cristo. Consideremos, pois, essas declarações.

1. A ascensão de Cristo

Esse fato não é muito valorizado e enfatizado na doutrinação da igreja, mas é muito importante. Vamos pensar
um pouco no significado da ascensão.

1.1. Devemos relacionar a ascensão de Cristo com seu nascimento virginal

Esses fatos destacam que a entrada e a saída de Cristo do cenário histórico não dependeram da vontade e decisão
humanas, mas exclusivamente de Deus. Dois livros do Novo Testamento descrevem a ascensão de Cristo: o
Evangelho de Lucas e os Atos dos Apóstolos (Lc 24.50; At 1.6-11). O relato histórico nos informa que Jesus, depois
de ressuscitado, passou quarenta dias em contato com os discípulos; e finalmente se reuniu com eles em um monte da
Galiléia. Estava falando com eles, ministrando as últimas recomendações, quando foi subindo diante deles para as
alturas, até que desapareceu entre as nuvens do céu. Um célebre escritor, falando da ascensão, escreveu: “O mesmo
céu que o trouxe, é o céu que o levou.”

1.2. A ascensão significa a aprovação de Deus

Com a ascensão, Deus aprova toda a obra realizada por Cristo em sua encarnação. De fato, agora “tudo estava
consumado” em relação à tarefa completa que o Filho de Deus veio realizar no mundo. O Pai podia recebê-lo com
satisfação e aprovação, porque tudo o que seu Filho veio fazer ele o fez perfeitamente. Podia recebê-lo de volta e
retribuí-lo com aquela glória que ele possuíra antes da encarnação.

2. O senhorio de Cristo

A doutrina da ascensão está estreitamente ligada à doutrina do senhorio de Jesus Cristo. A Carta aos Hebreus
fala que Jesus, “depois de haver feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade nas alturas...”
(Hb1.3). E o apóstolo Pedro, escrevendo sobre a ascensão de Cristo, afirma: “o qual, depois de ir para o céu, está à
destra de Deus, ficando-lhe subordinados anjos, e potestades, e poderes” (1Pe 3.22). O livro do Apocalipse, falando do
Cristo exaltado nas alturas, o denomina “o primogênito dos mortos e o soberano dos reis da terra” (Ap 1.5).

O senhorio de Cristo, ou sua realeza, indica sua função como Rei e como Senhor de todas as coisas.

Devemos entender bem a expressão bíblica usada no Credo: “assentado à direita de Deus.” No antigo Oriente,
os reis costumavam convidar um homem de sua inteira confiança para participar do governo. Quando um rei
convidava um cidadão para assentar-se a sua direita no trono, delegava-lhe autoridade real para tomar decisões e para
governar. Usando uma linguagem contemporânea, poderíamos dizer que a expressão significa, mais ou menos, um
primeiro ministro, cuja autoridade às vezes é igual à do rei. Quando o Novo Testamento afirma que Jesus está
assentado à direita de Deus, significa que ele tem autoridade para governar. “Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo
em meu trono; assim como eu também venci e me sentei com meu Pai em seu trono” (Ap 3.21) .

Com freqüência falamos de Cristo como Salvador e nos esquecemos de falar dele como Senhor, no entanto
devemos destacar a verdade de que o senhorio de Cristo é a continuação de sua obra.Temos que relacionar a doutrina
do senhorio de Cristo com a doutrina do reino de Deus. O reino de Deus foi trazido por Cristo e continua em expansão
pelo mundo fora, num processo que só culminará com a parousia (a vinda) do Senhor Jesus. O Rei desse reino é o
próprio Deus-Homem, Jesus Cristo, que continua, através de seu Espírito, a regenerar vidas, a guiar a Igreja e a levar a
humanidade pelos caminhos da história.

22
3. Áreas do senhorio de Cristo

No exercício de sua realeza, o Senhor Jesus Cristo vem a ser:

3.1. O Senhor do universo

Já que o universo foi formado por intermédio de Cristo, seu domínio continua sobre ele e sua transformação
final será efetuada pelo próprio Cristo, que “faz novas todas as coisas”.

3.2. O Senhor da história

A direção da história da humanidade está sob o cetro de Cristo. O livro do Apocalipse o chama “soberano dos
reis da terra”, “Rei dos reis e Senhor dos senhores”, e na profecia final diz que “o reino do mundo se tornou de nosso
Senhor e de seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos” (Ap 11.15). Ainda o após tolo Paulo, falando sobre a
exaltação de Cristo, afirma:

“Pelo que Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu um nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus
se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para a
glória de Deus Pai” (Fp 2.9-11) .

3.3. O Senhor da Igreja

No Novo Testamento vemos claramente a idéia de Cristo como a Cabeça da Igreja, o Senhor de seu povo. Ele é
“aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e anda no meio dos sete castiçais de ouro” (Ap 2.1), isto é, Cristo
tem nas mãos toda a liderança da Igreja e anda no meio de seu povo. Todos aqueles que pertencem à Igreja foram
salvos para servir ao Deus vivo. São servos do mesmo Senhor que também é seu Salvador.

3.4. O Senhor de cada ser humano


Cristo é o Senhor de cada um de nós. Nem todos, porém, o reconhecem e o aceitam como Senhor. Um dia
todos terão que reconhecê-lo, ainda que nem todos o amarão como seu Senhor. O apóstolo João declara que Jesus
Cristo é a Luz que, “vinda ao mundo, ilumina a todo homem” (Jo 1.8). A vida humana só tem sentido real em Cristo,
porque este é a verdadeira vida. “Para mim o viver é Cristo”, dizia Paulo para mostrar que o sentido de sua vida estava
em Cristo.

Assim, nada escapa ao senhorio de Cristo que já está sendo exercido no mundo, não visivelmente, e que terá
sua completa expressão quando Deus estabelecer todas as coisas.

Diante desta doutrina de Cristo como o Senhor, a única atitude que devemos assumir é a de servos dele.
Reconhecendo que não nos pertencemos, e que fomos salvos por Cristo para uma vida de agradável serviço prestado
amorosamente a Deus. Reconhecendo também que, aquilo que subsiste em nós, a saber, os dons e faculdades, não se
destinam a um uso egoísta; os bens materiais que estão em nosso poder têm de ser usados e distribuídos com
sabedoria, porquanto tudo o que existe de fato pertence ao Criador e terá de ser-lhe devolvido um dia.
A doutrina do senhorio de Cristo deve ter efeito prático na vida de cada cristão e de cada igreja cristã local.
Sabendo que Cristo é o Senhor de tudo, temos, como cristãos e igrejas, a responsabilidade de nutrir interesse por todas
as áreas da vida humana onde o senhorio de Cristo não está sendo reconhecido. A luta da Igreja neste mundo é
proclamar seu senhorio em todos os recantos do globo.

Questionário
1. Os cristãos têm dado bastante ênfase à ascensão de Cristo?
2. Por que a ascensão se relaciona com o nascimento virginal?
3. Que sentido tem a ascensão de Cristo em relação a sua obra redentora?
4. Que relação existe do senhorio de Cristo com sua ascensão?
5. Que significa a expressão “assentado à direita de Deus”?
6. Que relação existe entre o senhorio de Cristo e o reino de Deus?
7.Quais são as áreas do senhorio de Cristo?
8. O senhorio de Cristo é completo no mundo atual, ou ainda se completará?
9. Como devemos aplicar a doutrina do senhorio de Cristo a nossa vida?
10. Por que o cristão não deve nutrir interesse só pelos assuntos religiosos?
23
A SEGUNDA VINDA DE GRISTO

“... de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos”

O Credo dos Apóstolos afirma que Jesus “há de vir para julgar os vivos e os mortos”. O fato e a esperança da
segunda vinda de Jesus Cristo constituem os pontos centrais da vida e da doutrina da Igreja.

1. Três palavras

O Novo Testamento usa três palavras gregas para destacar a esperança dos cristãos quanto à volta de Cristo:

1.1. Apocalipse. Este termo significa revelação.

1.2. Epifania. Este significa manifestação.

1.3. Parousia. Este significa presença ou vinda.

A palavra Apocalipse se refere ao fato de que tudo aquilo que ainda está oculto e desconhecido com relação a
Cristo e a seu reino será descoberto ou revelado no dia de sua vinda (1Co 1.7; 1Pe 1.7; 4.13; Ap 1.1). A palavra
Epifania demonstra que a vinda de Cristo será um aparecimento, quando ele manifestará todas as bênçãos da salva cão
(2Ts 2.8; 1Tm 6.14; 2Tm 4.18; Tt 2.13). A palavra Parousia é a mais usada para referir-se à vinda de Cristo. Na
antigüidade, essa palavra era usada para a visita de um rei, ou de seu representante. Seu sentido principal é presença.
Na Bíblia, ela é usada para indicar a presença completa e real de Cristo com sua Igreja (Mt 24.3, 27, 37; 1Co 15.23;
1Jo 2.28; 1Ts 2.19) .

2. Grandes acontecimentos que precederão a vinda de Cristo

Segundo os ensinos da Palavra de Deus, alguns acontecimentos importantes servirão de sinais e precederão a
vinda de Cristo. Somam cinco:

2.1. O chamado dos gentios

Jesus, em seu sermão profético, declara que o evangelho do reino seria pregado a todas as nações, antes que
viesse o fim (Mt 24.14; Mc 13.10). Ele falou também que muitos gentios se converteriam ao evangelho. Paulo fala da
“plenitude dos gentios” (Rm 11.25). Essas profecias não significam que todos os povos da terra se converterão, nem
que o evangelho será pregado a cada pessoa da terra, através dos métodos que conhecemos, mas que chegará um dia
em que o evangelho será pregado como testemunho a todos os povos, dando oportunidade a que o aceitem ou o
rejeitem.

2.2. A conversão da plenitude de Israel

O Antigo e o Novo Testamentos falam da futura conversão de Israel (Zc 12.10; Rm 11.26). Alguns intérpretes
da Bíblia entendem que todos os filhos de Israel se converterão; outros entendem que somente os eleitos dentre eles
aceitarão o evangelho. O que podemos afirmar é que um grande número de israelitas aceitará Cristo como Salvador.

2.3. A grande apostasia e a grande tribulação

No sermão profético de Jesus, nas cartas do apóstolo Paulo e no livro do Apocalipse há referências à grande
apostasia que se verificará e que estará conectada a uma grande tribulação (Mt 24.9-13; Mc 13.11-13; 2Ts 2.3, 4; 1Tm
4.1-3; 2Tm 3.1-5; Ap 16). A Igreja de Cristo enfrentará essa calamidade. Muitos cristãos enfrentarão momentos de
grande aflição e de dúvidas, e alguns chegarão a perder a fé. “O amor de muitos se esfriará” (Mt 24.12) .

2.4. O aparecimento do Anticristo

O Novo Testamento fala do aparecimento do Anticristo, ou da Besta, como um dos acontecimentos que
precederão a vinda de Cristo (Mt 24.5; 1Jo 2.18, 22; 4.3; Ap 13). No livro do Apocalipse há indicações de dois tipos
de Anticristos: (a) um religioso e (b) outro político. Ao longo dos tempos surgiram várias interpretações sobre o que
seria ou quem seria o Anticristo ou a Besta. As duas interpretações mais aceitas são: a) o Anticristo é um princípio
antidivino e anticristão que tem surgido através da história da humanidade em impérios, organizações ou pessoas; b) o

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Anticristo é uma pessoa escatológica, isto é, que aparecerá no fim dos tempos e que encarnará em si todas as maldades
e todos os pecados contra Deus e seu povo. É difícil dizer qual das interpretações é a mais correta. O que podemos
afirmar é que o mal pode assumir várias formas, todas elas contrárias a Deus.

2.5. Grandes sinais e prodígios

Em seu sermão profético, Jesus afirma que sua vinda será precedida por grandes sinais sobre a terra: guerras,
terremotos, fomes e o aparecimento de falsos profetas; e também sinais no céu: no sol, na lua e nas estrelas (Mt 24.9).
Esses acontecimentos extraordinários servirão de aviso à humanidade sobre a iminência ou aproximação do dia do
Senhor.

3. Como se dará a segunda vinda de Cristo?

Um dos pontos que devemos destacar é que a parousia do Senhor Jesus será um acontecimento único. Assim,
o Novo Testamento apresenta a vinda de Cristo como acontecimento singular e não plural. Naturalmente, nesse
acontecimento singular está inclusa a totalidade da ação de Cristo em ressuscitar os mortos, em receber a Igreja, em
julgar os homens etc. Mas sua vinda será única e para sempre (2Ts 2.1-8; 2Ts 1.7-10). Daremos algumas
características da segunda vinda como as encontramos em textos bíblicos:

3.1. Ninguém sabe o dia


Sua data é ignorada pelos homens e pelos anjos (Mt 24.36; 25.13; At 1.6, 7). Por isso erra o alvo quem marca a
data da vinda de Cristo, como muitos falsos profetas têm feito e depois ficam desmoralizados.

3.2. Será pessoal e visível


Ele voltará pessoalmente (At 1.11; Hb 9.28; Ap 1.7). Este fato é importante porque demonstra que a presença
de Cristo será completa e perceptível.

3.3. Será repentina


Sua vinda será brusca e sem qualquer aviso prévio de que ele está chegando (Mt 24.37, 43, 27; 25.1-12), no
sentido de ser inesperada. Será um acontecimento que surpreenderá a todos quantos não estiverem alertas e vigilantes.

3.4. Será gloriosa e triunfante


Ele virá como Rei e Juiz em todo seu esplendor (Mt 24.30; 25.31). Será um acontecimento que marcará o
clímax da exaltação de Cristo que foi humilhado até a morte, e morte de cruz. Todos quantos se gloriaram sobre ele
terão que suportar sua glorificação sobre eles.

Devemos notar que a doutrina da segunda vinda fala de um acontecimento que revela a razão da existência da
Igreja e exibe a grande esperança dos cristãos. Sem essa esperança, a Igreja não existiria. Por isso, a Bíblia termina
com o cântico de aleluia e amém: “Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22.20) .

A doutrina da segunda vinda de Jesus Cristo é de teor prático e deve relacionar-se com nossa vida diária. Não é
uma doutrina a ser colocada em segundo plano, nem devemos pensar na segunda vinda como fato de um futuro
distante que nada tem a ver com nossa vida atual. Devemos lembrar que a esperança da segunda vinda é que nutre a fé
que o cristão tem no poder e no amor de Deus revelados em Cristo. O próprio Cristo chamou nossa atenção para esse
fato, exortando-nos a sermos servos vigilantes.

Questionário

1. Quais são as três palavras neotestamentárias para a segunda vinda de Cristo?


2. Qual é o significado de cada uma das três palavras?
3. Fale dos cinco grandes acontecimentos que precederão a segunda vinda de Cristo.
4. Qual é o significado de cada um dos cinco acontecimentos?
5. Quais são as interpretações dadas ao Anticristo?
6. A segunda vinda será um acontecimento único ou plural?
7. Por que a data da segunda vinda de Cristo é desconhecida dos homens e dos anjos?
8. Qual é o sentido da frase: “A vinda de Cristo será repentina”?
9. Qual será o clímax na exaltação de Cristo?
10. Como devemos entender a segunda vinda de Cristo para nossa vida atual?

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ESPÍRITO SANTO NA VIDA DO CRISTÃO

“Creio no Espírito Santo ... na remissão dos pecados ...”

Na lição sobre a Trindade, aprendemos que o Espírito Santo é Deus buscando comunhão conosco. Na Bíblia se
usa a figura do esposo que busca a companhia da esposa com o fim de descrever o amor de Deus que sai em busca de
seu povo, de sua Igreja e de cada um de nós.

A função primordial do Espírito Santo é aplicar a obra redentora de Cristo em nossas vidas para podermos
usufruir as bênçãos da comunhão com Deus através de uma vida de serviço dedicado à glória de Deus e útil ao
próximo.

Passamos a indicar os passos dessa atuação do Espírito em nossas vidas.

1. União com Cristo

O Espírito Santo, em primeiro lugar, nos une a Cristo, de tal maneira que nossa personalidade se estreita não só
com Cristo, mas também com o corpo de Cristo, que é sua Igreja, a qual se compõe de todos os que já foram e serão
regenerados e justificados e já estão e estarão unidos com Cristo. A Bíblia usa várias figuras para descrever essa
união:

1.1.Como a união do edifício com o alicerce (Ef 2.20, 22)


1.2. Como a união do esposo com a esposa (Ef 5.31, 32)
1.3. Como a união da videira com seus ramos (Jo 15.1-10)
1.4. Como a união do corpo com a cabeça (1Cor 12.12)
1.5. Como a união da raça humana com Adão (Rm 5.12,21)
.
2. Regeneração

O Espírito Santo nos regenera, isto é, nos comunica nova vida, de tal maneira que nossa personalidade é
conduzida e orientada na direção de Deus e de seu reino. “Digo-lhes a verdade: Ninguém pode entrar no reino de
Deus, se não nascer da água e do Espírito” (Jo 3.5). Essa implantação de nova vida é efetuada no inconsciente, ou,
seja, na raiz profunda de nossa personalidade, de maneira que toda nossa vida consciente é atingida e modificada.

3. Conversão

A conversão é a continuação e conclusão da regeneração. O Espírito Santo completa nossa renovação,


convertendo-nos. A palavra conversão significa mudança de rumo. Opera-se na vida consciente, e dela tomamos
conhecimento. Há dois aspectos inseparáveis na conversão: arrependimento e fé.

Mediante o arrependimento, o pecador sente profunda tristeza e pesar por seu pecado, o abandona e se dispõe a
viver uma vida diferente.

Mediante a fé, o pecador se volta para Cristo, reconhecendo nele a verdade de Deus, e o aceita como seu único
Salvador e confia nele de todo o coração, a ponto de doravante entregar sua vida a seus cuidados.

4. Justificação

Por meio da fé depositada em nossos corações, o Espírito Santo nos apresenta diante do tribunal de Deus
como pessoas justas. Não porque de fato sejamos justos, mas porque fomos justificados por Deus em Cristo. A justiça
de Cristo nos é atribuída ou imputada. Deus nos considera justos em virtude de seu Filho Jesus Cristo satisfazer todas
as exigências da lei a nosso respeito, quando morreu na cruz para cancelar nossa dívida contraída por nossos pecados.

A Bíblia declara que “o justo viverá por fé” (Rm 1.17). Significa que nossa salvação não depende de algo que
porventura exista em nós, ou de algo que porventura possamos fazer, mas depende exclusivamente da graça e do amor
de Deus. Por isso a doutrina da justificação mediante a fé se tornou o ponto doutrinário máximo da Reforma
Protestante do Século XVI, quando os reformadores abriram a Bíblia e mostraram à Igreja o grande erro de fazer a
salvação divina depender dos esforços humanos.

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5. Santificação

Na Bíblia, a palavra santo significa “separado para o uso divino”, quando qualifica pessoas, animais e coisas.
Por exemplo, o templo é chamado santo, bem como o castiçal do templo, a terra, o povo escolhido, os profetas etc.
Essa palavra, quando qualifica homens, animais, ou coisas, revela relacionamento com Deus. O Espírito Santo nos
relaciona com Deus através da santificação que é um processo que começa no dia em que somos regenerados e só
termina após a morte. Podemos destacar alguns aspectos mais importantes desse processo:

5.1. Iluminação

O Espírito Santo ilumina nossa mente e predispõe nossa vontade em relação à Palavra de Deus. Sem a
iluminação do Espírito não podemos entender positiva e eficazmente a Bíblia. Por isso Paulo declara que o homem
natural não entende as coisas do Espírito (1Co 2.14) .

5.2. Dons

A Bíblia ensina que o Espírito Santo concede dons aos crentes. Nas cartas de Paulo há várias listas de dons (Rm
12.6.8; 1Co 12.8, 11, 28; Ef 4.11). Os dons espirituais são diversos. Houve certa tendência para exaltar o dom de
línguas estranhas, mas o apóstolo Paulo mostra que o dom de profecia, ou, seja, o dom de interpretar e anunciar a
Palavra de Deus é mais importante do que falar línguas incompreensíveis. O apóstolo ensinou que os dons visam à
edificação da igreja e que devem ser exercidos por meio do amor. Sem amor, nenhum dom tem valor (1Co 13).

5.3. Frutos

Na carta aos Gálatas há uma referência ao fruto do Espírito (Gl 5.22, 23) . O fruto se refere às expressões
exteriores da vida cristã que são emanadas da vida íntima direcionada pelo Espírito Santo. O fruto é a soma das
manifestações da personalidade cristã em toda sua maturidade. Vale a pena meditar sobre cada expressão do fruto do
Espírito. Cada uma delas deve ser o resultado espontâneo da obra do Espírito Santo na santificação de nossas vidas.

A santificação nos fala mais de uma posição diante de Deus e do próximo, ou de uma relação de vida, do que de
uma qualidade moral ou de um conjunto de qualidades de caráter.

O Espírito Santo usa vários meios para efetuar a santificação na vida do crente. O principal deles é a prática do
amor cristão, seguido pelo interesse pela Palavra de Deus e pelos meios devocionais, como a oração, o culto
individual e público, o serviço cristão na igreja. Mas a verdadeira santificação se expressa numa vida de serviço, de
dedicação à prática da vontade de Deus, de integridade, de lealdade a Deus e ao próximo, de verdadeiro e profundo
senso de solidariedade em face dos que sofrem física e espiritualmente.

“Sejam santos, porque eu sou Santo” é o mandamento que recebemos de Deus. O crente deve estar pronto para
ter uma vida direcionada pelo Espírito Santo, e assim experimentar a verdadeira santificação.

Deve buscar a plenitude do Espírito Santo em sua vida. Que significa plenitude do Espírito? Paulo responde
com as seguintes palavras: “Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo
Espírito, falando entre si com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando de coração ao Senhor, dando
graças constantemente a Deus Pai por todas as coisas, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef 5.18-20). Essas
palavras significam que, do modo como o ébrio se deixa dominar pelo vinho e age impulsionado pelos efeitos do
álcool, assim também, os que vivem na plenitude do Espírito, são conduzidos pelo Espírito e vivem com alegria, ação
de graças e humildade.
Questionário
1. Qual é a principal obra do Espírito Santo?
2. Que é união com Cristo?
3. Que é regeneração?
4. Que é conversão e quais são os dois aspectos inseparáveis da conversão?
5. Que é justificação? Que Cristo fez para nossa justificação?
6. Que é santificação?
7. Que significa a palavra santo?
8. Quais são alguns aspectos da obra do Espírito Santo na santificação dos crentes?
9. Santificação significa perfeição?
10. Como o crente pode cooperar com o Espírito Santo na santificação de sua vida?

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A IGREJA DE CRISTO

“... na santa igreja universal; na comunhão dos santos”

Por que o crente pertence à igreja de Cristo? Porque o Espírito Santo, assim que une o crente a Cristo, o inclui
também no número daqueles que são de Cristo. Então, o que é a Igreja? É a assembléia, a reunião, ou o número
daqueles que pertencem a Cristo. Na Bíblia, a palavra igreja tem várias traduções: multidão, congregação, povo,
assembléia, reunião, sinagoga, entre outras. Sempre se refere a seres humanos. A Igreja não é o templo, nem a
organização, nem a instituição, nem a forma de governo, nem o corpo de doutrinas. É a assembléia de crentes que
mantêm comunhão com Cristo através da presença de seu Espírito.

Que diferença há entre a Igreja e outras assembléias que há no mundo? A Igreja é uma assembléia reunida
com um fim específico e diferente de todas as demais assembléias. A Igreja tem uma missão: ser testemunha de
Cristo, proclamar as virtudes daquele que a chamou das trevas para sua maravilhosa luz. A missão de ser a vanguarda
do reino de Deus na terra.

A doutrina cristã fala dos atributos e das marcas da Igreja. Consideremos esses dois aspectos.

Os atributos são quatro:

1. Santidade

A Igreja constitui um povo separado para o serviço de Deus. A santidade da Igreja não está em seu clero, nem
em suas doutrinas, mas na posição daqueles que são chamados para servir a Deus no mundo. Santidade não é uma
virtude moralista, mas uma relação certa e positiva com Deus. É pela presença do Espírito que a Igreja se torna santa,
isto é, consagrada para cumprir sua missão.

2. Catolicidade

A palavra católico significa universal. A igreja é universal porque o evangelho que ela proclama é direcionado
a todos os homens, visando à salvação de todos os que crêem em Jesus Cristo. Este ordenou que seus discípulos
pregassem a toda criatura e que fizessem discípulos dentre todas as nações. A universalidade da igreja se deriva de sua
mensagem e do propósito universal do eterno plano de Deus.

3. Apostolicidade

Os sucessores dos apóstolos são todos os cristãos. A palavra apóstolo significa enviado. A Igreja é apostólica
porque segue a doutrina e o exemplo dos apóstolos. A Igreja continua a obra dos apóstolos, obedecendo às ordens de
seu Senhor. Os apóstolos foram aqueles homens apresentados na Escritura como sendo diretamente convocados por
Cristo para se tornarem seus discípulos, e que depois foram enviados pelo mundo inteiro para difundir a mensagem do
evangelho.

4. Unidade

Se o mesmo Espírito que nos uniu a Cristo é também o que nos uniu ao povo de Cristo, então a unidade vem a
ser um dos atributos da Igreja. Essa unidade é um dom do Espírito Santo já concedido à Igreja. Devido ao pecado e às
limitações dos cristãos, não tem havido um testemunho perfeitamente leal de obediência à vontade de Cristo expressa
em sua oração sacerdotal (Jo 17.20-24). No mundo desunido de hoje, os cristãos continuam sendo desafiados a dar um
testemunho da unidade que o Espírito realizou e continua realizando na Igreja.

As marcas da Igreja são as que seguem.

As marcas da Igreja são aqueles sinais ou distintivos que a Igreja tem e que a fazem conhecida. Os
reformadores deram à Igreja três marcas. São elas:

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1. A genuína pregação da Palavra de Deus;

2. A legítima administração dos Sacramentos (Santa Ceia e Batismo); e

3. O fiel exercício da disciplina.

Essas marcas são importantes, e, fazendo uso delas, os reformadores chamaram a atenção da igreja de sua
época para a fidelidade que ela deve a sua missão. Todavia, podemos encontrar no Novo Testamento outras marcas
que são mais básicas e mais importantes para a missão da igreja em qualquer época. Consideremos algumas dessas
marcas:

1. Presença do Espírito Santo

Não existe Igreja sem o Espírito, porque. Ele é o Criador da Igreja. No capítulo dois do Livro dos Atos dos
Apóstolos temos a descrição de como a igreja teve início no dia de Pentecostes. O Espírito Santo operou e a Igreja foi
formada. Desde esse dia a Igreja depende da presença do Espírito Santo. A Igreja é a comunidade do Espírito, criada e
mantida por ele. Essa é uma das marcas que faz a diferença entre a Igreja e outras comunidades ou entidades humanas.

2. Amor

_ A marca mais importante que Jesus deu a seus discípulos foi o amor. Disse Jesus: “Um novo mandamento lhes
dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que
vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” (Jo 13.34, 35). Paulo situa o amor como sendo “um
caminho, sobremodo excelente”, mostrando aos cristãos de todas as épocas que sem a marca do amor a Igreja não é de
fato Igreja. O apóstolo João, em suas cartas, apresenta o amor como sendo o ponto central da vida da Igreja, porquanto
a expressão central da personalidade de Deus é o amor, pois “Deus é amor” (1Jo 4.8). A Igreja com freqüência se
esquece dessa sua marca, mas a verdade é que, sem ela, a Igreja não existe, pois ela é fruto ou resultado do amor
gracioso do Deus que a estabeleceu.

3. Serviço

Aqui está uma das marcas da Igreja exaltada pelas palavras e pelo exemplo de nosso Senhor Jesus Cristo.
Primeiramente, ele deu o exemplo, sendo um servo, encarnando a figura do Servo Sofredor descrito pelo profeta Isaías
no capítulo 53 de seu livro. Ele foi servo em sua vida e em sua morte, “pois o próprio Filho do homem não veio para
ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos”. Na cena do lava-pés (Jo 13), Jesus, depois de dar
uma lição de humildade e serviço, disse a seus discípulos: “Não será assim entre vocês. Ao contrário, quem quiser
tornar-se importante entre vocês, deverá ser servo; e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo de todos. Pois nem
mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.43, 44).
Assim, o Senhor quer que seu povo seja um povo serviçal. A Igreja é chamada a servir a Deus no mundo, e não para
ser rainha e senhora, vivendo para desfrutar os privilégios e as honrarias humanas.

4. Testemunho

Outra marca da Igreja é o testemunho. Ela foi convocada para testemunhar. Ela é a comunidade que testifica.
Disse Jesus: “Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em
Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (At 1.8). Que tipo de testemunho a Igreja dá? Ela
testifica do amor de Deus revelado em Cristo; conta a todos que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu
Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).

Com esses atributos e marcas, a Igreja pode ser identificada diante de Deus e dos homens como uma
assembléia que tem por finalidade adorar a Deus, proclamar seu reino, alimentar seus membros e, acima de tudo, dar
testemunho do grande amor de Deus.

Questionário

1. Qual a principal diferença entre a Igreja e outras comunidades humanas?


2. Quais são os quatro atributos da Igreja?
3. Que significa “santidade da Igreja”?
4. Por que a Igreja é tida como universal?

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5. A Igreja já possui unidade, ou ainda precisa buscá-la?
6. Quem são os sucessores dos apóstolos?
7. Que marcas os reformadores deram à Igreja?
8. Que marcas o Novo Testamento confere à Igreja?
9. Quem é o Criador e mantenedor da Igreja?
10. Como a Igreja pode ser reconhecida como Igreja?

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OS DEVERES DO CRENTE

A pessoa que crê em Cristo como Salvador desfruta de muitos privilégios e oportunidades, mas, em
contrapartida, tem não poucas responsabilidades e deveres. Neste capítulo estudaremos a vida do crente em dois
aspectos: o crente como servidor e o crente como ministro.

O serviço do cristão no reino de Deus

A palavra mordomo significa administrador. A Bíblia apresenta quatro bases sobre as quais se fundamenta a
doutrina e a prática do serviço cristão: (1) Não pertencemos a nós mesmos (1Co 6.19, 20; Rm 14.7, 8). Fomos
comprados pelo precioso sangue de Jesus Cristo, de maneira que já não somos senhores de nós mesmos. Agora temos
um Senhor que é nosso proprietário. (2) Tudo quanto possuímos de fato e de verdade não é nosso (1Tm 6.9; 1Co 4.7;
Jo 3.27). Essa verdade bíblica nos confronta com nosso próprio egoísmo e nossa auto-suficiência, porquanto somos
sempre tentados a crer que o que está em nosso poder de fato nos pertence, é exclusivamente nosso. Mas a Palavra de
Deus diz que não é assim. (3) Tudo que temos de fato e de verdade pertence a Deus (1Cr 29.1-4; Sl 24.1; 1Co 8.6; Tg
1.17). Em última análise, tudo aquilo que está em nossas mãos, ou que está em nosso poder, pertence a Deus que é o
Criador e legítimo possuidor de todas as coisas. “Porque tudo isso vem de ti, ó Senhor, e de tuas mãos to darmos.”
Essas palavras de Davi expressam com profundidade a verdade que estamos tentando demonstrar. (4) Tudo o que
temos e somos deve ser usado para a glória de Deus (Rm 11.36; 1Co 10.31; Cl 3.17). Portanto, somos apenas
administradores, não só de nossa própria pessoa com os dons, talentos e oportunidades que de Deus recebemos; mas
também dos bens, poucos ou muitos, que estão por algum tempo em nossas mãos. “Se vivemos, para o Senhor
vivemos; se morremos, para o Senhor morremos; de sorte que, quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor” (Rm
14.7, 8) .

1. A administração do dinheiro

A vida do cristão deve ser toda ela de serviço e de cooperação na causa do Senhor. Um dos pontos mais difíceis
de se pôr em prática na vida cristã é a administração de nosso dinheiro para a expansão e manutenção da igreja. Na
Bíblia descobrimos toda a orientação que ela nos ministra sobre o assunto.

1.1. Motivações básicas da contribuição

(1) Fé em Deus. Ofertamos unicamente porque confiamos em Deus; (2) gratidão. Quem não dá com alegria não
dá corretamente, porque nossa doação deve ser sempre uma expressão de gratidão. “Deus ama a quem dá com alegria”
(2Co 9.7).

1.2. Métodos bíblicos de contribuição

Em todas as ocasiões em que aparece na Bíblia a prática da contribuição ou da oferenda, há um princípio


claro: damos porque recebemos, e não para recebermos. Portanto, todos os métodos que têm surgido em várias
igrejas, baseados em outros princípios, não são métodos corretos. Por exemplo, quermesses, leilões, bazares, rifas,
venda de objetos etc. são métodos que, além de antibíblicos, desorganizam as finanças da igreja local e deseducam os
cristãos. Há na Bíblia três sugestões para a prática da contribuição.

(1) Contribuição mínima. É também chamada dízimo, que significa a décima parte do que uma pessoa recebe e
consagra para o trabalho de Deus (Ml 3.10; .Mt 23.23). Foi a contribuição adotada em Israel e que veio a ser
obrigatória em toda a antiga dispensação.

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(2) Contribuição média. Pode ser descrita pelas expressões bíblicas: “dar o que puder”, ou “de acordo com
suas posses”. Essa contribuição foi usada no Antigo Testamento quando as pessoas traziam ofertas de acordo com sua
condição econômica. Essa era sempre além do dízimo. Essas ofertas incluíam as assim chamadas “ofertas alçadas”, ou
as ofertas que eram trazidas para o sacrifício. Esse método de dar o que se pode dar foi também usado várias vezes no
Novo Testamento. Na igreja de Antioquia (At 11.27-30); na igreja de Corinto (1Co 16.1, 2); e numa parte dos
membros da igreja da Macedônia (2Co 8.3a). Conforme a situação, essa contribuição poderia ser além do dízimo, ou,
raramente, menos que o dízimo.

(3) Contribuição máxima. Esse método pode ser descrito pelas expressões bíblicas: “Dar além do que se pode
dar”, ou “dar além das possibilidades pessoais”. Exemplos: A oferta de Abel (Gn 4.3, 4); a oferta da viúva pobre (Lc
21.1-4); a oferta de Zaqueu (Lc 19.8); as ofertas dos crentes em Jerusalém (At 2.45); as ofertas na igreja da Macedônia
(2Co 8.3b), para citar apenas alguns exemplos. Naturalmente, a contribuição máxima era usada em situações
especiais, porém não deixa de revelar grande fé e profunda gratidão da parte dos contribuintes.

Devemos trazer nossos dízimos ou ofertas, periodicamente, semanalmente, quinzenalmente ou mensalmente,


ou trimestralmente ou anualmente, de acordo com a natureza de nosso trabalho, e o modo de como recebemos o
pagamento pelo trabalho que realizamos.

2. O ministério do cristão

Cristo nos chamou para o exercício de um ministério como parte de seu povo. A Bíblia afirma que ele chamou
seus servos para o ministério e o Espírito Santo distribuiu seus dons entre os vários ministros. Basta ler as passagens
de Efésios 4.11, 12; 1 Coríntios 12.1-10 para nos certificarmos de que ministro não é só o pastor ou os oficiais da
igreja, mas também todos aqueles que foram salvos por Cristo. Naturalmente, cada ministério tem sua característica, e
alguns exigem mais preparo e dedicação. Três são as diretrizes do ministério cristão:

2.1. Para Deus

O fim principal do homem é glorificar a Deus “em espírito e em verdade”. Nesse aspecto do ministério, o
cristão deve procurar ler bem a Palavra de Deus; deve orar constantemente; deve engajar-se no culto da comunidade e
na participação dos sacramentos.

2.2. Para a Igreja

O crente é participante da comunidade daqueles que crêem em Jesus Cristo. Além da contribuição que ele deve
a Deus como parte de seus bens, deve cooperar com os vários trabalhos em que se sentir mais capacitado e com mais
alegria. Todo cristão deve fazer pessoalmente uma contribuição para o desenvolvimento de sua comunidade.

2.3. Para o mundo

O crente é enviado por Cristo ao mundo para testemunhar positivamente a respeito do evangelho. Cristo
forneceu várias figuras do ministro cristão: ele é “sal da terra”, é “luz do mundo”, é “fermento que leveda a massa”. O
cristão deve declarar sua fé ao mundo, isto é, ele não foi chamado para ficar encerrado entre as quatro paredes de sua
comunidade ou de sua vida devocional, mas é convocado para sair e ser missionário no mundo, em qualquer lugar ou
situação que porventura Deus o coloque: seja num lar, ou numa escola, ou num ambiente de trabalho.

Sejamos, pois, administradores fiéis e ministros dedicados.

Questionário

1. Que significa a palavra mordomo?


2. Quais são as quatro bases bíblicas da doutrina da administração cristã?
3. É fácil exercer a administração de nossos bens?
4. Quantas e quais são as motivações básicas para a contribuição?
5. Quantos e quais são os métodos bíblicos de contribuição cristã?
6. Que é dízimo?
7. Por que damos ofertas?
8. Ministro é somente o pastor da igreja? Explique.
9. Quais são as três diretrizes do ministério cristão?

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A VIDA ETERNA

“... na ressurreição do corpo e na vida eterna”

A vida do cristão tem uma dimensão eterna, porque sua esperança não está apenas nesta vida, mas se descortina
para o futuro e para o além-túmulo. A expressão bíblica vida eterna tem a ver com dois pólos ou lados: o presente e o
futuro. Quem crê em Cristo já tem a vida eterna (Jo 17.3). Mas a Bíblia às vezes fala de vida eterna como sendo uma
realidade do futuro: “e receberá ... no mundo por vir a vida eterna” (Mc 10.30).

A esperança da ressurreição do corpo indica o clímax da obra redentora de Deus. Por isso, o Credo declara:
“Creio na ressurreição do corpo e na vida eterna.”

1. Ressurreição do corpo

O plano de Deus para a salvação do homem inclui duas ressurreições: a primeira se concretiza nesta vida e é
chamada também regeneração e conversão (Jo 5.24, 25; Cl 3.1). A segunda se concretizará na vinda de nosso Senhor
Jesus Cristo. Essa é a ressurreição do corpo (Dn 12.2; Jo 5.28, 29; At 24.15). A Bíblia ensina que receberemos novos
corpos, adaptados a uma nova situação. Não sabemos exatamente como será esse corpo, uma vez que a Bíblia o
descreve pelo uso de figuras e comparações. O que podemos dizer é que:

1.1. Será um corpo dado por Deus (1Co 15.35.38; 2Co 5.1.4)
1.2. Será um corpo transformado (Fp 3.21)
1.3. Será semelhante ao corpo de Jesus depois de redivivo (1Jo 3.2; Lc 24.39)
1.4. Será um corpo imortal e incorruptível (1Co 15.52-54)
1.5. Será semelhante ao corpo dos anjos (Lc 20.35, 37)
1.6. Será um corpo revestido de poder (1Co 15.43)
1.7. Será um corpo celestial (1Co 15.40, 47-49)
1.8. Será um corpo espiritual (1Co 15.44)
1.9. Será um corpo glorioso (1Co 15.42)

A ressurreição do corpo, como a regeneração, provém de uma operação miraculosa de Deus, quando ele vier
para renovar todas as coisas. A Bíblia dá muito valor à ressurreição final, porque sem o corpo ficamos incompletos em
nossa expressão pessoal. Somente depois que ressuscitou seu Filho dentre os mortos é que o Pai o recebeu na glória.
Não poderia haver ascensão sem ressurreição.

2. Céu e inferno

Essas duas palavras são usadas para descrever o estado final dos justos e dos injustos, respectivamente.

Se examinarmos bem os seguintes textos bíblicos: Salmo 16.11; Mateus 13.30; Lucas 23.42, 43; João 14.1-3;
Atos 7.55-59; 2 Coríntios 5.8; Filipenses 1.21; 1 Tessalonicenses 4.17; 5.10; e Apocalipse 22.4, 5, chegaremos à
conclusão de que céu equivale à companhia de Deus, à bendita presença de Deus em Cristo, à comunhão com o
Senhor. O ponto central da doutrina do céu é Cristo. Embora o próprio Cristo fale em moradas, casa, lugar, o que é
central está na declaração: “para que onde eu estiver, estejam vocês também.” Na frase que Jesus dirigiu ao ladrão
arrependido aparece a palavra comigo: “Você estará comigo no paraíso”; sem o comigo não há céu, nem paraíso. Não
há céu sem a presença de Cristo. Por isso, um grande cristão disse numa oração: “Se tu, ó Cristo, não estiveres no céu,
prefiro peregrinar contigo na terra, se herdar o céu sem que estejas lá. Onde tu estás, aí está o céu.” Ou, então, nas
palavras daquele hino conhecido:
Bem pouco importa se eu morar
Em alto monte, à beira mar,
Em casa ou gruta, boa ou ruim:
É sempre céu com Cristo em mim.

Por outro lado, se examinarmos os seguintes textos bíblicos: Gênesis 3.23; Isaías 14.12; Ezequiel 28.15-17;
Mateus 3.10; 13.41, 42; 25.30, 41; Marcos 9.47, 48; João 15.6; 2 Pedro 2.4; Apocalipse 3.16; 20.15, entre outros,
chegaremos à conclusão de que o ponto central da doutrina do inferno é a ausência da pessoa e bendita companhia de
Deus. Estar no inferno é ser lançado fora da comunhão da graça de Cristo, é deixar de ver com alegria o rosto do
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Senhor e Salvador. Essa é a eterna separação, a morte eterna, que quase sempre é descrita na Bíblia pelos verbos
lançar e vomitar, significa ser expulso, lançado fora, vomitado do gozo eterno. O inferno, em última análise, é a
conseqüência da rejeição de Deus pelo homem, quando, por seu orgulho, disse não ao Criador e Salvador.

Entre os cristãos existe a tendência para desviar as atenções do centro da doutrina, que é Cristo, para outros
aspectos secundários. Um desses desvios é considerar o céu e o inferno como sendo lugares, no sentido físico e
geográfico. Daí aparecerem descrições coloridas do céu e descrições sombrias e horríveis do inferno. Houve gente que
até tentou localizar geograficamente o céu e o inferno. Outros cristãos têm desviado a atenção para outro aspecto.
Entendem o céu e o inferno como sendo estados psicológicos de satisfação e paz, de um lado, e do outro lado como
angústia e tormento da consciência. Esse desvio da atenção para lugar ou estado tem prejudicado o verdadeiro ensino
bíblico sobre o assunto. Embora haja na Bíblia razões para se pensar no céu e no inferno como sendo lugares, ou
como sendo estados, a ênfase dela está no destino do homem após a morte, e não nesses aspectos. Na Bíblia, a ênfase
principal se relaciona com a companhia e a presença de Cristo. O cristão do período neotestamentário, ao morrer, não
dizia “eu vou para o céu”; mas, “tenho o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor”.

A Confissão de Fé Westminster termina suas páginas mostrando que todo o desfruto do céu procede da
presença amorável de Deus, e que todo o sofrimento do inferno procede da justiça de Deus aplicada aos transgressores
(Cap. XXXIII).

3. O juízo final

A Bíblia apresenta Deus como Criador, como Redentor e como Juiz. Ele julga nossos atos, palavras e
pensamentos. Ele revela ao homem sua vontade justa e santa. Deus nos deu a lei, nos indicando os deveres para com
ele e para com nosso próximo. “Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige: pratique a justiça,
ame a fidelidade e ande humildemente com seu Deus” (Mq 6.8). A Bíblia afirma que no último dia Deus julgará todos
os homens. Será o Juízo Final. “Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus. Assim, pois, cada um de nós
dará conta de si mesmo a Deus” (Rm 14.10, 12). Na parábola do grande julgamento, no capítulo 25 de Mateus, Jesus
nos conta como esse juízo se processará e em que bases se dará o julgamento divino. No capítulo 20 do Apocalipse, o
apóstolo João descreve o Juízo do Grande Trono Branco, mostrando que todos serão julgados em conformidade com
suas obras.
A doutrina do Juízo Final é uma advertência para nós hoje. Não devemos pensar naquele Juízo apenas como
algo do futuro, como se ele de modo algum se relacionasse com nossa vida hoje. O Juízo terá como objeto aquilo que
praticamos na vida diária, em nossos contatos com as pessoas que nos rodeiam. Quem será condenado? Essa pergunta
é respondida em Apocalipse 21.8 e Mateus 25.41-45.

Questionário
1. Que significa vida eterna?
2. Qual a diferença entre a primeira ressurreição e a ressurreição do corpo?
3. Como será o corpo redivivo?
4. Por que a Bíblia dá tanto valor à ressurreição do corpo?
5. Qual a tendência moderna para interpretar o céu e o inferno?
6. Qual é o ponto central da doutrina do céu?
7. Qual é o ponto central da doutrina do inferno?
8. Que significa Deus ser Juiz?
9. Qual é o valor presente e atual da doutrina do juízo final?
10. Quem será condenado no juízo final?

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PEQUENO DICIONÁRIO DE TERMOS TEOLÓGICOS

Apostasia: Abjuração; deserção da fé; ato de uma pessoa que nega a fé que possuía. Por exemplo: Juliano, o apóstata,
foi um imperador romano que foi criado na fé cristã, vindo mais tarde a abandona-la, transformando-se num
perseguidor dos cristãos.

Antropológico: Que tem o homem como centro das atenções e preocupações.

Decálogo: Nome dado aos dez mandamentos da lei de Deus, registrado em Êxodo 20.

Diálogo: Conversa entre duas ou mais pessoas. Palavra usada para descrever a capacidade de comunicação pessoal
dos seres humanos entre si e de sua convivência como seres sociáveis.

Escatologia: Parte da teologia ou da doutrina que trata dos últimos acontecimentos da vida pessoal, da vida da
humanidade, da Igreja e do universo.

Fatalismo: - Idéia religiosa e filosófica que afirma que todos os acontecimentos dependem de uma força cega
chamada fatalidade, ou destino, que domina a vida humana e o universo.

Justificação: - Ato de Deus, o Pai, quando, baseado na justiça de Cristo, o Filho, aceita como justos, através da fé, os
pecadores que o recebem por meio do Espírito Santo. Essa doutrina tem como ponto central o fato de que nossa
salvação depende exclusivamente de Deus, e não de nossos méritos ou boas obras.

Mecanismo: Idéia de alguns filósofos de que o universo é uma grande máquina.

Mordomia: Cargo ou ofício de administrador de bens de uma casa. No sentido bíblico, é a responsabilidade que o
cristão tem de administrar bem os talentos e os recursos que Deus lhe colocou nas mãos. Leia a parábola dos talentos
(Mt 25.14-30)

Panteísmo: Sistema filosófico que identifica a divindade com o mundo, e segundo o qual Deus é o conjunto de tudo
quanto existe: “Deus é tudo; tudo é Deus.”

Parousia: Palavra grega que significa presença, visita, vinda etc. É a palavra mais usada em todo o Novo Testamento
para indicar o fato da gloriosa volta do Senhor Jesus Cristo e sua presença e companhia com a Igreja.

Psicossomático: Expressão formada por duas palavras gregas: psique, que quer dizer alma; e soma, que quer dizer
corpo. É uma expressão usada na psicologia para referir-se aos aspectos espirituais e físicos do ser humano.

Reconciliação: Ato de reconciliar. Renovação da amizade. Jesus Cristo veio ao mundo para reatar a amizade do
homem com Deus, a qual foi quebrada pela intromissão do pecado.

Regeneração: Operação do Espírito de Deus no homem pecador, concedendo-lhe uma nova vida e mudando a
inclinação de sua personalidade.

Relíquia: Remanescente. O grupo de pessoas que ficou fiel à aliança que Deus fez com o povo de Israel. Essa
doutrina é defendida especialmente por Isaías e Paulo. Veja estas passagens: Isaías 10.20-22; Romanos 9.6.8.

Soteriologia: Doutrina da salvação.

Teocêntrico: - Que tem Deus como centro.

Vicário: - Substituto de alguém, ou em lugar de alguém. O sacrifício de Cristo foi vicário, porque foi feito em lugar de
cada um de nós.

Virginal: - Relativo a virgem. Os Evangelhos contam que Jesus nasceu da virgem Maria; por isso, seu nascimento é
chamado virginal.

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5. apêndice
Perguntas da Profissão de Fé do Manual de Culto da IPB

No dia da Pública Profissão de Fé diante da igreja reunida para receber o novo


convertido como membro serão feitas algumas perguntas. Estas questões deverão ser
respondidas com sinceridade, convicção e compromisso de cumpri-las. A fidelidade do
cristão confessada diante da igreja, deve ser uma realidade durante toda a sua vida, em todo
lugar, como uma contínua testemunha de Cristo.
Este 5o apêndice tem o propósito de oferecer antecipadamente as perguntas que serão
realizadas no momento de sua pública profissão de fé. Aqueles que desejam tornar-se
membros de nossa igreja devem entender a compromisso de responsabilidade que estarão
assumindo diante de Deus e do Seu povo ao responder estas perguntas.

1. Crê em um só Deus que subsiste em três pessoas: o Pai, Criador de todas as coisas visíveis
e invisíveis; o Filho, que foi concebido por obra do Espírito Santo e nascido da virgem
Maria, o qual morreu pelos nossos pecados, e ressuscitou para a nossa justificação; e o
Espírito Santo, doador da vida e santificador das nossas almas?

2. Crê que as Escrituras Sagradas do Antigo e do Novo Testamento são a Palavra de Deus e a
única regra infalível de fé e prática dada por Ele à Sua Igreja, e que são falsas e perigosas
todas as doutrinas e cerimônias contrárias a essa Palavra, e todos os usos e costumes
acrescentados à simples lei do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo?

3. Confessa que foi concebido em pecado; que por natureza é incapaz de cumprir
perfeitamente a lei de Deus, inclinado a amar e fazer o que essa lei condena, tendo pecado
muitas vezes por pensamentos, palavras, obras e omissão?

4. Crê firmemente que o sangue de Cristo purifica todo o pecado, e que não há outro meio de
alcançar o perdão, e o poder santificador senão a graça de nosso Senhor Jesus Cristo e a obra
do Espírito Santo, que Jesus dá a todo o que lhe pede?

5. Está agora sinceramente arrependido do mal que tens feito diante de Deus e resolvido a
fazer o uso diligente de todos os meios de graça por Ele ordenados para o bem de Seu povo,
e a seguir os preceitos de Sua lei, deixando de fazer o que Ele te proíbe em Sua Palavra, e
cumprindo toda a sua vontade auxiliado por Sua graça?

6. Promete mais que, como membro desta igreja, estará sempre submisso à sua disciplina, e
às autoridades nela constituídas para seu ensino e governo, enquanto forem fiéis às Sagradas
Escrituras?

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