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Sola Scriptura, Sola Christus, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria
Teo Cavaco, 15 de outubro, 2017
No cárcere, sentenciado pelo Papa para ser queimado vivo, John Huss disse: "Podem
matar o ganso (em alemão, sua língua natal, huss é ganso), mas daqui a cem anos, Deus
suscitará um cisne que não poderão queimar".
Quando, a 31 de outubro de 1517 (cento e dois anos após a morte de John Huss)
Martinho Lutero afixou à porta da capela da cidade universitária alemã de Wittemberg, onde
era professor, as suas famosas 95 teses (ou 95 proposições para serem debatidas), tinha como
principal objetivo debater vários pontos teológicos da doutrina católica romana, sobretudo a
questão sobre se a salvação era pela fé somente, ou se era necessária a ajuda das obras
praticadas pelos cristãos (por exemplo as ignominiosas indulgências, do latim indulgentia, que
provém de indulgeo, "para ser gentil" - a remissão, total ou parcial, da pena temporal devida,
para a justiça de Deus, pelos pecados que foram perdoados, ou seja, do mal causado como
consequência do pecado já perdoado através da confissão sacramental, concedida pela Igreja
Católica no exercício do “poder das chaves”, por meio da aplicação dos superabundantes
méritos de Cristo e dos santos, por algum motivo justo e razoável. Embora "no sacramento da
Penitência a culpa do pecado seja removida, e com ele o castigo eterno devido aos pecados
mortais, ainda permanece a pena temporal exigida pela Justiça Divina, e essa exigência deve
ser cumprida na vida presente ou depois da morte, isto é, no Purgatório”1. Uma indulgência
oferece ao pecador penitente meios para cumprir esta dívida durante a sua vida na terra,
reparando o mal que teria sido cometido pelo pecado).
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https://www.facebook.com/ComunidadeSaoJoaoBatistaDoJdPeryAlto/posts/161315630746053,
consultado a 13 de outubro, 2017
características muito além da doutrina oficial, afirmando que "assim que uma moeda tilinte no
cofre, uma alma sai do purgatório".
E, em 1517, o próprio Papa Leão X ofereceu indulgências para quem desse esmolas
para construir a Basílica de São Pedro em Roma - o agressivo marketing de Johann Tetzel em
promover esta causa provocou Martinho Lutero a escrever algumas das suas 95 Teses (“as
indulgências não levam a alma diretamente ao céu, uma vez que o papa nenhuma pena
dispensa às almas no purgatório das que segundo os cânones da Igreja deviam ter expiado e
pago na presente vida", ou “deve-se ensinar aos cristãos que o papa, por dever seu, preferiria
distribuir o seu dinheiro aos que em geral são despojados do dinheiro pelos apregoadores de
indulgência, vendendo, se necessário fosse, a própria catedral de São Pedro”2).
- Ulrich Zuínglio, o líder da reforma suíça e fundador das igrejas reformadas suíças.
Independentemente de Martinho Lutero, que era doctor biblicus, Zuínglio chegou a conclusões
semelhantes pelo estudo das escrituras do ponto de vista de um erudito humanista. Zuínglio
não deixou uma igreja organizada, mas as suas doutrinas influenciaram as confissões
calvinistas: enquanto Lutero quis responder à questão "como serei salvo?", Zuínglio propôs
outra: "como será salvo o meu povo?";
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http://www.arqnet.pt/portal/teoria/teses.html, consultado em 13 de outubro, 2017
- Martim Bucer, reformador protestante em Estrasburgo, que influenciou as vertentes
luterana, calvinista, anglicana em doutrina e práticas; foi originalmente um membro da Ordem
Dominicana, mas depois, influenciado por Martinho Lutero, em 1518 anulou os seus votos
monásticos, começando a trabalhar para a necessidade de uma Reforma na Igreja Romana;
- Menno Simons (reforma radical), teólogo originário da Frísia (hoje Holanda), primeiro
ordenado padre católico, em 1524, mas depois considerado um dos reformadores radicais,
ligado aos anabatistas; convertido ao Anabatismo em 1536, a sua influência sobre o grupo foi
tão forte que estes, no norte da Europa, foram chamados de menonitas;
- e tantos outros.
Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus
Cristo (Romanos 5:1) - este texto bíblico foi um dos que principalmente motivaram Martinho
Lutero a empreender uma Reforma, algo que, como já vimos, outros, antes, pressentiram.
Neste contexto, os Cinco solas são frases latinas que definem os princípios
fundamentais (os credos teológicos básicos dos reformadores da Reforma Protestante), em
contradição com o pensamento, a conduta e o ensino da Igreja Católica Apostólica Romana, a
qual tinha usurpado os atributos ou qualidades divinos para a Igreja e sua hierarquia,
especialmente para o seu superior, o Papa. A palavra latina "sola" significa "somente" em
português.
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Segundo Kuhn, para que haja quebra de paradigma é preciso que haja uma insatisfação
Fui convidado a convosco conversar acerca de um deles, o Sola Christus (somente
Cristo), o ensinamento de que Cristo é o único mediador entre Deus e a humanidade, e que
não há salvação através de nenhum outro - ao rejeitar todos os outros mediadores entre Deus
e a humanidade, este princípio doutrinário rejeita o sacerdotismo, que é a crença de que não
existem sacramentos da igreja sem os serviços de sacerdotes ordenados por sucessão
apostólica, sob a autoridade do papa.
E não há salvação em nenhum outro: porque abaixo do céu não existe nenhum outro
nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos Atos 4.12.
Mas, no século XVI, a afirmação Sola Christus tinha, a meu ver, um outro alcance: com
efeito, por exemplo Lutero também pregou o "sacerdócio geral dos batizados" (mais tarde
modificado no luteranismo e na teologia protestante clássica para "sacerdócio de todos os
crentes"), ou seja, negou-se o uso exclusivo do título de padre (do latim sacerdos) para o clero
– o qual tinha, assim, a função do ministério sagrado para o qual está comprometida a
proclamação pública do Evangelho e da administração dos sacramentos.
Talvez estejamos a assistir, nos últimos anos, nos países ocidentais, à secularização da
fé evangélica, a uma erosão da Fé Centrada em Cristo - uma Fé “à deriva”, sem Valores
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https://pt.wikipedia.org/wiki/Cinco_Solas
http://oscincosolas.blogspot.pt/2012/09/os-cinco-solas-da-reforma-protestante.html
http://www.monergismo.com/textos/cinco_solas/cinco_solas_reforma_erosao.htm
absolutos, de um individualismo permissivo, na qual, muitas vezes, os seus interesses se
confundem com os da cultura.
Qual tem sido o resultado? O que me aprouve chamar de uma “Fé de substituição”.
- a santidade pela integridade | Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou
santo (1 Pedro 1:16);
- a esperança duradoura pela gratificação imediata | Mas nós, que somos do dia,
sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor, e tendo por capacete a esperança
da salvação (1 Tessalonicenses 5:8);
- Cristo e a Sua cruz por mim | Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as
coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus (Colossenses 3:1).
2. Negamos que o evangelho esteja a ser pregado se a obra substitutiva de Cristo não
estiver a ser declarada e se a fé em Cristo e na Sua obra não estiver a ser invocada.