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ANJOS, José Carlos 4

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sições entre um estranhamento total e o engaja-

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tecidas por Rita Segato, do multinaturalismo de

This article has the objective of establishing a dia-


logue with different sights on the possibilities of
1

Mundo Rural”, sob responsabilidade do professor José


moment of assuming one of these points of view,
2
Doutorando em Desenvolvimento Rural no Programa
taking between a total strangeness and the par-
ticipating engagement, which sometimes might
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of possibilities, a permanent (reciprocal and sha-


4 red by both natives and non-natives) tension is
settled, generated by the double movement of
still open and where different perspectives move -
through, not only competing but sometimes over-
lapping and complementing each other, which -
ad hoc e a posteriori
to discuss such set of problems from the seminal Por outro lado, tal procedimento permite ao pes-
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sion on the native point of view, from the criticism
to the claim of rational speech made by Rita Sega- -
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também o mal estar gerado pelo distanciamento

Procurar descrever, interpretar e entender o


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tanto sobre o ponto de vista do observador sobre os


sujeitos, pessoas ou grupos sociais estudados como, Porém, a despeito deste tipo de procedimento,

estranhamento da realidade vivida-estudada e o

restringe aos estudos antropológicos, tendo em vis- 5


de e no

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no campo”,
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- po genérico, muito menos de um método ou técnica, mas
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ou grupo social estudado, os instrumentos de cole-
no campo”,
, além de dados pitorescos sobre seu
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de vista e, também, aspectos subjetivos, afetivos


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fato, este é hoje um debate aberto e com diversas

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correm em paralelo dentro do campo antropo-


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dilemas acima referidos, visto aglutinarem em
ponto de vista do outro sem aviltar sua comple- -
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os limites e implicações provenientes da tradu-

- 1.1 Ponto de vista nativo como ponto de


partida

Desde meados do século passado, perguntas


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metodológica e epistemológica sobre a base e


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primeiro, como salienta Oliveira (2003), uma -

durante trabalho de campo nas ilhas Trobriand

A origem tanto do interesse metodológico e


epistemológico como destas preocupações éticas
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- modos, tormentos e preconceitos de Malinowski
pólogo buscar um estranhamento relativo, uma

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Obviamente, estamos cientes acerca da im-
possibilidade de se propor uma abordagem con- -
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nada), condições de desenvolver uma sensibi-
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cial de pensar o mundo e perceber os outros

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go “tomar o lugar do nativo”, mas, igualmente,

ser um dos temas mais discutidos nas últimas -


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de se apropriar do ponto de vista nativo:


imediato e aos eventos vividos circunscritos ao
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termo “êmico”
universo discursivo de outras disciplinas, como bio-

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a partir das próprias categorias cognitivas e lin- -

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interagir7 -
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8
- pessoa (do nativo e do antropólogo) seria uma
veu simplesmente desaparece 10
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- Assim, partindo deste lugar comum, o autor


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desolador12, haveria grande vitalidade intelec-
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- te a respeito do “eu”, contando com conceitos
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conceito de dentro (batin) englobava o universo
dos sentimentos e como seu comportamento é

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- desenvolver este comportamento ideal deveria

ao mesmo tempo, a atribuir sentidos simbólicos, 10


Sobre este aspecto, importante destacar um dos in-
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bem bem antropólogos desde muito tempo, nativos, entre
- de vista nativos, cada um possuindo seu próprio ponto de
-

- semelhanças e distinções, mas seus aspectos contraditó-


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dor11 -

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para navegar por outras terras e mares), nos dois casos

-
sistematicamente ajena a las tonalidades distin-
12

- intuito de estabelecer um efeito contrastivo, se lida desde

-
de pessoa nas sociedades por ele estudadas em
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ser buscado nas duas esferas do eu: interiormen-
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de serenidade13 subjetiva entre manifestações simbólicas isoladas

pessoas se relacionavam com concepções sociais, -

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- Seguindo esta perspectiva, em outro artigo tam-
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cultura de um povo, comunidade ou grupo social
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(a estrutura, a moral, as regras gerais, a hierar-
Neste caso, o trabalho antropológico resultaria
cognitiva, este propõe, como método, saltar de um
lado ao outro em busca do todo a partir das partes

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- cia e inteligibilidade em meio a um emaranhado
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onde se deram as ações, as sensações das pessoas
isolada surge com uma estrutura simbólica única, -
cia vivida em sua completude e integridade para

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outras estruturas conceituais dicotômicas como as
- 13

-
- um ato, um ritual, um discurso ou um ponto de
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1.2 Pontos de vista e sua interpretação


como túmulo
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o antropólogo, de modo estratégico, simplesmen-
sobre (des)encontros entre pontos de vista nativo e
antropológico, mas sim inúmeros modos de perce-

do relativismo: o discurso racional da antropologia Como se pode notar, na perspectiva interpre-


frente ao sagrado” (1989), a autora alerta para o
bruto precisaria ser lapidado e amalgamado pelo
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Conforme Segato (1989), como efeito colateral, primeiro, este podendo ser simplesmente descar-
-
tempo) pelo substantivo (cujo conteúdo passa a ter
o ato de se distanciar das (ou mesmo eliminar e

Assim, atribuir sentido ao comportamento nativo


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melhor, o devoraria transformando este último em -

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mento cognitivista), ao conferir enorme peso a ra- trumentos e seu aparelho auditivo lhe proporcio-

modo, como “tentar compreender passa pela des-

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modo, ao fabricarmos um sentido para determina-
ou do evento vividos em si mesmos, ambos irredu- do fenômeno (seja este um ritual, um mito, uma
-
- mos este em algo acessório, redundante, cosméti-
- co, banal, sem importância (ao menos, em termos
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mitos, trejeitos e comportamentos (devidamente

marcou o tempo da matança (material ou simbó-

interlocutores (antropólogo e nativos) vindos de

vista de uma das pontas (branca e antropológica)


-

sua humanidade, esta última, no entanto, per-

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Uma outra abordagem contemporânea sobre o -
- mitivo”, agindo “como um animal”, tais seres, em
- determinados momentos, teriam a capacidade de

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amos, na origem, de uma humanidade comum,

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No caso, este último indicaria um modelo cos-

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mos, segundo este ponto de vista, uma outra hu-
manidade, uma “humanidade natural”14
- discurso do antropólogo sua vantagem estratégica

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tância média, por um lado, de noções operacionais
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no cotidiano local e, por outro, de conceitos abs-

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lugares-olhares permitiria ao observador descre-
ver, mapear e interpretar componentes cosmo-
lógicos nativos, destrinchando assim concepções -
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impossibilidade, mas a desnecessidade metodoló- -


gica e epistemológica do antropólogo pretender se

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os pontos de vista nativos poderiam ser captados,
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tropólogo com o ponto de vista nativo “envolve uma

- em ressonância interna dois pontos de vista com-

- -
to de vista nativo, seria preciso direcionar o esforço
proposições do primeiro recolocam, ou melhor, re- -

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ao próprio evento “encontro”), este ato em si (ter
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propostas elaboradas por Viveiros de Castro podem ser

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distintas perspectivas sobre este mesmo mundo),
narrativa), todo um conjunto de pré-disposições, -
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-
mais “convencional” tenderia a imaginar a nature- -

seriam as pessoas, suas idiossincrasias e suas pers-


pectivas sobre um mundo dado, sobre uma mesma -

cultura, de Roy Wagner (2010), também neste caso

-
entre substância e acontecimento na cosmologia
haver diferença no interior 15

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dem diferentes pontos de vista (orientados segun- choveu onde eu estava”) constituem, de fato, parte
do diferentes “culturas”), um dos elementos chave do procedimento de relacionar a haste variante do

-
mesmo acontecimentos aparentemente (ao menos

-
Juruna, sejam vinculados (segundo o ponto de vista
é reformulada pelo autor:

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- -

incoerente, absurdo e, para os mais “moles”, como

- uma dada cultura, seja ela Juruna, Araweté ou ou-


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- 15
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De todo modo, a ideia central dentro do mains-


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muito diferente sobre isso e conseguir impô-la a nós:


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no (1985) 16

- de tempo, possibilitando assim captar seu ponto


-
- seria alguém com capacidade de apreender a re-

esta perspectiva só pode aparecer aos olhos dos


outros, o ponto de vista é pura diferença, devendo

o ponto de vista nativo levaria a necessidade


do antropólogo procurar se colocar em um pon-
to mediano, entre o fragmento concreto local (a
de acordo com tal referencial, a ambiguidade natu- -

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pode ser controlado pelo verdadeiro conhecimen- Neste ponto Segato (1989), ao ressaltar a neces-

seja verdadeiro, porém somente na medida em


este incita o etnógrafo a partir para um “mergulho

a sério ao ponto de enfrentar a magia e o misté-


-
tre pontos de vista distintos (ou mundos distin- -
tos, cosmologias distintas, realidades distintas,

Goldman (2006a) como Castro (2002b) apontam -

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terna dois pontos de vista completamente hete- 16
- localidade da África do Sul, com africaners
- -

etnografado ou analisado, mas, sim, como a pró-

relacionadas ao trabalho antropológico a partir

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medida, separações ontológicas ocidentais tais como
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-

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pologia é comparar antropologias, nada mais nada
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- ), somos levados
17
ca isto : “nós”, antropólogos , também somos na-
17

A ideia de Wagner, “somos todos antropólogos”,


havia falecido até o lugar onde seriam “despachados”,
no momento do “despacho” escutou tambores tocando ao
nativa
do antropólogo, embora pareçam claramente
estar pensando: somos nativos, tudo bem, mas
somos mais alguma coisa depois de retornar ao terreiro, ao conversar com um dos
antropológica do nativo, sugere uma
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Tal mudança de perspectiva permite deslocar -


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- ela ao ponto disto levar a algum tipo de “trans-

como diferente, mas, sobretudo, como possi-

-
perienciar implica em alguma medida abrir a
guarda e sair de si, sair do próprio pensamen- -

necessidade de se dar a chance (se colocar na

Como percebeu Goldman (2006b) sobre o


do desconhecido e do estar com os outros sem
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rulho, como música ou mesmo como sendo as a diferença, comentada por Gordon ou, como
-

Goldman acerca dos “tambores” por ele ouvidos


Sobre tal procedimento, este último (2006b)
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narmos uma outra alternativa, ou melhor, um
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funcionariam como meras “unidades de medi-

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lista-objetivista” ou mais “idealista-teológica” -
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- trabalhada por Goldman (2006b), esta implica


- pensar e mesmo reagir a “alteridade” estando
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rio de pretender se colocar no lugar do outro,
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entre “eu e os outros” em seu duplo sentido,
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locutores sem necessariamente se colocar no
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de Goldman (2006a), devir seria o movimento


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aparentemente contraditórios como um devir Neste sentido, também perde relevância


a necessidade de uma completa identifica-

mais interessa, neste caso, é correr o risco de


“tomar parte nos jogos nativos” (GOLDMAN,
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do etnógrafo com seus nativos parece ser uma


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dessas figuras muito evocadas e jamais vis-
torna “realmente” animal, como tampouco o
- como salienta Wolfe (1997 apud CARVALHO,

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pensar como nativo ou interpretar o nativo, ao dos envolvidos, mas, sobretudo, contribui para
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formadora vivida como travessia (o “entre”) sonância na teoria musical, a possibilidade de
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