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Ainda o 7 de setembro

Marcos José Diniz Silva*

Passamos mais um “7 de setembro”. Em todo país ocorreram desfiles militares e


civis do “Dia da Pátria”, com muitos espectadores. Mas, além disso, vigora pouco
interesse nacional pelo assunto. O tema ainda é muito militarizado, revelando a
fragilidade histórica da sociedade civil. Então, o que dizer e o que fazer com referência
à data símbolo do nosso Estado-nação, para além de uma Independência como evento
isolado e de personagens míticos?
O assunto merece ampla e contínua reflexão conjugando-o no eixo passado-
presente-futuro. Misto de negociações palacianas e guerra de independência cruenta,
mobilizando massas militares e civis de grande vulto - segundo o historiador Honório
Rodrigues -, a Independência do Brasil não representou independência de fato, pois
tornamo-nos uma quase colônia inglesa por todo o século XIX, através de tratados,
endividamento e monopólios que emperraram nosso desenvolvimento econômico e
social. Exceção foi a positiva pressão inglesa contra o tráfico negreiro, para atender seus
interesses lá e cá. Era o começo do fim da escravidão... No plano cultural nossas elites
nada fizeram pela educação do povo, atarefadas em sorver a cultura da Europa
“civilizada”.
Com a República e seu ufanismo modernizante, o Brasil manteve-se por quase
todo o século XX, como nação agrário-exportadora, endividada, vulnerável às crises
mundiais e às panacéias ideológicas de cores variadas, mal entendidas e mal aplicadas à
realidade brasileira.
Hoje, no mundo globalizado, deve-se elevar a consciência nacional cultivando a
soberania como alternativa à ilusória Independência. Cabe aos brasileiros a defesa de
nossas riquezas do solo, subsolo e mar territorial ante as investidas sorrateiras das
nações desenvolvidas, sob pretextos de proteção ambiental, defesa dos índios e combate
ao narcotráfico. Urge firmar opinião soberana sobre nosso patrimônio natural e
histórico-cultural, direcionando competências intelectuais e científicas para o bem-estar
da nossa gente. Passado e presente em interação, superando o maltrapilho civismo por
um orgânico soberanismo.

(*) Historiador. Professor da UECE.

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