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A República e os brasileiros
Diante desse fato, fica-nos a pergunta: Por que não se festeja, não se cultua, não se
reflete sobre a data da implantação da República, ao menos como se faz com o “7 de
Setembro”?
Antes de mais nada, adianto que não tenho razões para defender, aqui, o culto à
Independência, principalmente no formato oficial ainda praticado. Entretanto, o
desconhecimento e o desinteresse com a data magna da República é, no mínimo,
curioso.
As datas oficiais a que costumamos, desde a vida escolar, lembrar, festejar e cultuar,
foram criadas a partir do interesse político das elites brasileiras, no alvorecer de nossa
formação política, após o domínio colonial português.
Bem ou mal, com caráter formal ou com reflexão crítica e protestos, o 7 de Setembro
não passa em branco. Pois, aos governantes, interessa o capital político resultante da
promoção e realização dos festejos, onde se apresentam como patriotas e partícipes
da luta permanente pela liberdade e grandeza do seu povo. A sociedade civil, por seu
turno, dia a dia, tem avançado na reflexão crítica dos limites e conservadorismo da
Independência, sobretudo, atualizando o debate para as ameaças do Império do Norte
sobre nosso patrimônio ambiental; sobretudo, da imensidão amazônica, de que somos
acusados de corruptos e despreparados para possuí-la .
Creio que seja possível refletir historicamente sobre essa questão. Em primeiro lugar,
tivemos no dia 15 de novembro de 1889, a culminância um tanto improvisada, de um
golpe militar que destituiria o imperador D. Pedro II, pondo fim à monarquia. A
derrubada do Império refletiu a vitória política de uma elite econômica de cafeicultores
paulistas, aliados à oficialidade do Exército, que vinha há, pelo menos, uma década
indispondo-se com a monarquia, defendendo interesses corporativos e pregando a
modernização do País. Em outras palavras, esses grupos e as camadas médias
urbanas acreditavam que era hora de o Brasil livrar-se dos arcaísmos como
escravidão, religião oficial, agricultura, e entrar de vez na modernidade industrial, no
trabalho livre, na civilização.
Houve quem pensasse que, no movimento republicano, estavam em jogo as
contradições entre republicanos progressistas abolicionistas contra monarquistas
escravistas conservadores. Nada mais ingênuo. A abolição da escravidão, um ano
antes da implantação da República, não foi bem o que queriam muitos da elite
republicana.
Nesses termos, o “15 de Novembro”, como o “7 de Setembro” não são datas apenas
para o panteão da memória da pátria, mas acontecimentos para a reflexão histórica
cotidiana. Mais que um feriado, no “15 de Novembro”, devemos procurar enxergar que
República, que (res) pública = coisa pública, convidando-nos à reflexão cidadã sobre o
poder público, os bens públicos, os espaços públicos, os recursos públicos...
República é mais que uma forma de governo, é condição para cidadania, é meio para
a democratização da sociedade, é, por fim coisa pública que devemos viver, ampliar,
aperfeiçoar, apesar dos pesares.
Marco José Diniz Silva
Professor de História da Feclesc/ UECE / mestre em sociologia pela UFC.
(diniz.silva@uol.com.br)