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Unidade III
7 DISCRIMINAÇÃO E DESIGUALDADE
Dados sobre discriminação e desigualdade têm sido amplamente divulgados nos últimos anos, e a
questão continua a intrigar pesquisadores, a dificultar ações de governantes e a assustar a sociedade
civil. O Brasil conta com um dos mais equipados centros de pesquisa sobre desigualdade no mundo, o
Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada (IPEA).
Na prática, são várias as divergências acerca da melhor solução para essas questões. É certo que,
contra a desigualdade, se luta com distribuição, porém, existem inúmeras formas de partilhar renda e
oportunidades. Uma das propostas são as chamadas políticas de ação afirmativa, também designadas
como política de cotas.
Gostaríamos de esclarecer que, antes de assumir uma posição favorável ou contrária a essas
políticas de redistribuição, é fundamental que nos empenhemos em conhecer e entender melhor
o que elas são, sua história em nível mundial, as consequências de sua implementação em outros
contextos e países e ainda conhecer o percurso assumido por algumas das polêmicas que têm
suscitado.
O relativismo cultural defende que o bem e o mal, ou seja, que a ética, é relativa a cada cultura. O
“certo” corresponde ao que é “socialmente aprovado” num dado contexto.
Porém, se nos ativermos ao fato de que cada cultura é válida e verdadeira em si, como podemos
pensar em mudanças em sociedades reprimidas e desiguais, tendo o relativismo em mente? É cabível
refletir sobre mudança propriamente dita, dentro da vulgata relativista? Se considerarmos uma sociedade
em que as mulheres são reprimidas, na qual raças são segregadas, em que se impõem métodos punitivos
que impliquem violência física extrema, podemos julgá-las válidas?
O relativismo cultural foi uma imensa contribuição para desmoralizar a arrogância etnocêntrica dos
países europeus em seu contato com outras culturas. Os relativistas colaboraram para desmoronar uma
das bases ideológicas do imperialismo, mostrando para o mundo que o método de agir dos europeus
não era o único válido e nem o melhor, mas sim mais um entre tantos possíveis.
Tomemos como apoio um artigo do famoso filósofo Rouanet, de 1990, no qual ele trava um diálogo com
o igualmente importante antropólogo brasileiro Roberto Cardoso de Oliveira. Rouanet (1990) coloca que:
Porém, o autor coloca questões acerca da supremacia do relativismo, afirmando que essa ausência
de qualquer forma de julgamento colocada pelos relativistas acaba por se converter em uma aprovação
imediata. Ainda diz que
em boa lógica, os relativistas teriam que limitar-se a dizer que não têm
elementos para dizerem se uma cultura é ou não válida. Em vez disso, dizem
que todas as culturas são igualmente válidas. (ROUANET, 1990, p. 124)
O ponto é que, segundo o autor, os antropólogos (e a visão relativista) sempre encontram justificativas
para todo ato em sociedade, seja ele bom ou ruim. E onde fica a ética?
Por exemplo, assinala-se que o relativismo cultural não escapa ao dilema que
está na raiz de todo relativismo: afirmar o relativismo é negar o relativismo,
porque significa dizer que pelo menos uma tese – a relativista – não é
relativa. (ROUANET, 1990, p. 129)
O pós-guerra testemunhou uma onda antirrelativista dentro da antropologia, sendo este o bojo
dos estudos da área nos anos de 1950. Para esses antropólogos (ver Ralph Linton, Clyde Kluckhohn,
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Unidade III
Robert Redfield e Alfred Kroeber, entre outros), os relativistas partem de uma ideologia romântica,
nostálgica e, na melhor das hipóteses, ingênua, idealizando os valores exóticos das culturas não
contaminadas pela civilização ocidental. Porém, vale a pena ressaltar, como o fez Rouanet, que
muitas dessas culturas, longe de serem paraísos bucólicos, são sociedades miseráveis, repressivas e
extremamente desiguais em diversos aspectos sociais.
Com o intuito de preservar a “pureza” dessas culturas, o relativista é contra toda e qualquer mudança
social, pois acredita que qualquer alteração irá “contaminá-la” com valores externos aos seus. Muitas
vezes, o pesquisador relativista vai contra a vontade dos membros do grupo em questão, que desejam,
precisamente, aquelas inovações estigmatizadas pelos relativistas, como é o fato entre muitos povos
indígenas no Brasil.
Nos anos de 1960, nos EUA, a mobilização em prol dos direitos civis – cuja bandeira clamava
igualdade de oportunidades a todos – teve um forte impacto na eliminação de leis segregacionistas no
país. Nesse período, o movimento negro surge como uma das principais forças atuantes na arena social,
com lideranças de projeção nacional.
É nesse contexto que se desenvolve e que se cria o conceito de ação afirmativa; uma política
pública que requer, no papel do Estado, a inclusão da garantia de oportunidades para populações
legitimamente menos favorecidas. Uma vez que por décadas vigoravam no país leis segregacionistas,
o movimento negro conseguiu quebrar essas correntes e exigiu compensação por tudo o que lhes
foi privado.
Os Estados Unidos completam mais de cinquenta anos de experiência sobre o tema, e isso nos
oferece um ótimo campo para analisar os impactos que a implementação dessa política pode causar em
longo prazo.
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Introdução ao Pensamento Antropológico
A ação afirmativa não ficou restrita aos Estados Unidos. Vários países da Europa, da África e da Ásia
tiveram experiências semelhantes, o que nos fornece um material comparativo interessante e importante.
As ações afirmativas possuem diversas formas, variando desde ações voluntárias, compulsórias,
estratégia mista, programas governamentais ou privados, até leis e orientações a partir de decisões
jurídicas ou de agências de fomento e regulação.
Contudo, no Brasil, tais questões nunca foram discutidas em termos de raça, e hoje é a sociedade
civil organizada que requer um debate dentro desses termos. Segundo Moehlecke (2002):
Lembrete
As primeiras pesquisas sociológicas sobre o Movimento Negro no Brasil aparecem nas análises sobre
relações raciais, especificamente nos estudos financiados pela UNESCO. As interpretações sobre essa
mobilização social estavam associadas às visões que os autores tinham das relações raciais entre brancos
e negros.
As análises de Florestan Fernandes2, por exemplo, refletiam uma tendência geral de interpretar
a história do Movimento Negro como uma linha evolutiva, apresentando avanços de acordo com a
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modernização da sociedade brasileira. Esses estudos partem da ideia de que o movimento teve origem
num estágio de anomia social dos negros, recém-saídos da escravidão, passando pela fase da organização
de seus primeiros jornais, até chegarem a um estágio mais consciente no qual puderam refletir sobre a
realidade racial brasileira.
Essa forma de analisar a história do Movimento Negro brasileiro tinha como concepção o modelo
estrutural-funcionalista, que associava as razões dos protestos apenas às causas econômicas. Desse
modo, a organização negra estaria voltada a integrar aquela população à sociedade, buscando um estilo
democrático de vida e inexistindo, assim, uma consciência de raça.
Nessa mesma linha, Georg Andrews3, apesar das críticas a Florestan Fernandes, entende o Movimento
Negro como resultado do processo de industrialização e considera as décadas de 1970 e 1980 como
marco de sua conscientização racial.
Para os novos estudos sobre a temática, entender a identidade coletiva tornou-se a questão central,
uma vez que as abordagens econômicas começam a ser questionadas. Pesquisas como a de Regina
Pinto4, por exemplo, buscam entender o histórico do Movimento Negro associado à luta em definir o ser
negro, ou seja, construir uma identidade não estigmatizada.
A aprovação da lei representou para o movimento negro brasileiro a concretização de mais um êxito
na luta contra o racismo e a discriminação. Nesse contexto, a Conferência Mundial sobre o racismo, a
discriminação racial, a xenofobia e as formas correlatas de Intolerância, ocorrida em Durban, África do
Sul, no ano de 2001, representam o marco dessa vitória.
Entre as primeiras medidas implementadas estão a política de cotas para estudantes de escolas
públicas e para negros nas universidades públicas5; as políticas de cotas do Ministério do Desenvolvimento
Agrário e o programa Diversidade na Universidade, do Ministério da Educação.
2
FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classe, São Paulo: Ática, 1978.
3
ANDREWS, George R. Negros e brancos em São Paulo (1888 - 1988) Bauru - SP: Edusc, 1998.
4
PINTO, Regina Pahin. Movimento negro em São Paulo: luta e identidade. São Paulo, Tese de Doutorado, FFLCH-USP, 1993.
5
A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade do Norte Fluminense foram as primeiras
Universidades públicas a adotarem cotas para negros.
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Introdução ao Pensamento Antropológico
Assim, em 2003, após a posse presidencial, é assinada a Lei 10.639, instituindo a obrigatoriedade do
ensino de História e Cultura Afro-brasileira no currículo do ensino básico. Nesse mesmo ano, foi criada
a Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial, a SEPPIR. Em 2005 foi realizada a
I Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, ampliando os debates encaminhados pelo
Movimento Negro e setores acadêmicos, na busca de uma sociedade mais democrática.
A realidade vivenciada pela população negra no Brasil foi marcada pela ausência do direito de
participação significativa na vida social. Trazidos na condição de escravos durante o período colonial,
os negros tiveram sua cidadania negada devido às duras condições de vida e trabalho impostas pelos
senhores. Na posição de trabalhadores escravizados numa economia agrária, não tinham qualquer
oportunidade de acesso à escolarização formal e à assistência médica ou judicial, comprometendo suas
perspectivas de ascensão social, assim como sua própria garantia de vida.
Com as pressões internas e externas ocorridas no século XIX exigindo o fim da escravidão,
representantes da elite brasileira começam a elaborar o projeto de substituição do trabalho escravo
para o assalariado. Nesse contexto, é aprovada a Lei de Terras de 1850, que estabelecia novos critérios
para sua aquisição, o que impedia que a população negra emancipada pudesse ocupar as faixas de
terra livres, ou seja, sem proprietários. A partir dessa lei, a concessão de terras chegava ao fim e as
chamadas terras devolutas (sem donos) poderiam ser obtidas somente por meio da compra junto ao
governo.
aceitação no Brasil entre 1870 e 1930. Daí os investimentos na imigração de trabalhadores europeus e
as barreiras para a vinda de negros e asiáticos.
George Reid Andrews, em sua pesquisa sobre as relações raciais em São Paulo durante o período de
1940 a 1988, descreve a discriminação sofrida pela população negra no mercado de trabalho, nos clubes
sociais e associações privadas. As consequências dessas barreiras raciais se refletem na subordinação
social e econômica do grupo negro.
No início do século XX, um número significativo de famílias negras chegava aos centros urbanos
em busca de oportunidade de trabalho e melhores condições de vida. No entanto, para muitos, essa
migração foi marcada pelas péssimas condições de vida nas cidades com os problemas de saneamento
e epidemias, falta de escolas e pelas políticas públicas discriminatórias.
Dados recentes mostram que no Brasil houve uma pequena redução da desigualdade entre brancos
e negros no campo econômico, assim como no acesso à educação e às oportunidades de trabalho, o que
comprova que ainda existe um longo caminho na conquista da cidadania.
A questão principal do debate sobre as cotas é se elas caracterizam uma garantia de acesso a
oportunidades por grupos menos favorecidos ou se acabam por favorecer um grupo em detrimento de
outro, ou outros.
Segundo Marcelo da Silva Prado do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio
de Janeiro, uma das primeiras instituições públicas no Brasil a assumir a política de cotas,
E Prado continua:
No Brasil, existem políticas de ações afirmativas para mulheres, negros e deficientes. No interior de
uma sociedade tão desigual como o Brasil (um dos países mais desiguais do mundo, segundo estudos
do IPEA), ser totalmente contra o sistema de cotas parece maldade. Mas elas nem sempre caem sobre a
parcela realmente necessitada da população, e considerá-las como a solução mais eficaz pode acabar
criando um problema a mais. Como continua Marcelo Prado,
Não buscamos simplificar essa discussão, senão, neste ponto, afirmar alguns problemas
contemporâneos que recobrem nosso tema.
Neste sentido, cor é tomada como categoria empírica, manifestação objetiva de características
fenotípicas ainda que sua denominação seja inteiramente subjetiva e ambígua, por falta de uma regra
precisa de descendência racial. (GUIMARÃES, 2005, p. 103).
E na tentativa de responder, o autor observa que junto com este evento que se dá no fenótipo, ou
seja, a pigmentação da pele, vêm junto outras atribuições da aparência como, por exemplo, formato
do nariz e dos lábios, o tipo de cabelo etc., acrescentando sua estreita associação com a hierarquia e a
estratificação social e econômica, juntamente com as relações de poder e prestigio social.
O que define a posição social de cada sujeito de cor negra, ou seja, a escola que ele terá acesso, o
tipo de trabalho que realizará, seu lazer, seu acesso aos bens de consumo, é também o que condiciona a
participação e seu acesso à arte, ao esporte e à cultura em geral. Este processo restringe sua participação
social e seu acesso à cidadania mais elementar. De tal sorte, determinado desta forma, sua produção e
reprodução social e humana define seu lugar no mundo.
Desta maneira, Guimarães (2005) apresenta dois quadros em que expõe os principais discursos
usados no debate sobre ação afirmativa. De um lado os que defendem e do outro os que são contra. O
primeiro quadro é sobre o debate norte-americano e o segundo quadro é sobre o debate brasileiro.
Contra A favor
Contrariando o credo americano no mérito individual, São a melhor forma de corrigir distorções nos
demonstrado na competição, a partir de oportunidades mecanismos de alocação de recursos, por meio da
iguais. competição por mérito.
Alienam os aliados brancos na classe operária e entre os Raça é um dos critérios reais, embora não declarado,
liberais. usados tanto na alocação de recursos, quanto na
política.
Fomentam atitudes racistas. Estão sob ataque de forma mais sutis de racismo.
Medidas universalistas teriam o mesmo efeito. Medidas universalistas não rompem os mecanismos
inerciais de exclusão.
Prejudicam, mais do que ajudam, o objetivo de diminuir Entre prós e contras, são ainda as políticas mais
a importância da raça. eficientes.
São estigmatizadores dos grupos beneficiados. Proveem role models de êxito profissional para negros.
Ferem os direitos constitucionais daqueles que passam a Nenhum tribunal americano considerou, até hoje,
ser excluídos em consequência de sua aplicação. inconstitucional a operação de políticas que usam
critérios raciais explícitos.
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Introdução ao Pensamento Antropológico
Contra A favor
Significam o reconhecimento de raças e distinções de Raça é um dos critérios reais, embora não declarados, de
raças no Brasil e isso contraria o credo brasileiro de que discriminação, utilizados em toda a sociedade brasileira;
somos um só povo, uma só nação. para combatê-lo, é mister ir contra sua existência.
Não se pode discriminar positivamente no Brasil, porque Esses limites não existem em nenhum lugar, o que
não há limites rígidos e objetivos entre as raças. dá conta, na discriminação, tanto positiva quanto na
negativa à construção social da raça (identificação
racial).
A indefinição dos limites raciais no Brasil ou a ausência Esse risco é real. Políticas de ação afirmativa requerem
de tradição de identificação racial daria margem a que reconhecimento oficial das identidades raciais. No
oportunistas se aproveitassem da situação. entanto, a discriminação positiva, por ser pontual,
não pode reverter, em curto prazo, a estrutura de
discriminação existente; por isso, o oportunismo
esperado seria mínimo.
Medidas universalistas teriam o mesmo efeito. Medidas universalistas não rompem os mecanismos
inerciais de exclusão.
Não há, na sociedade brasileira, consenso sobre a
desigualdade social provocada por diferença de cor e
raça.
Reforçariam práticas de privilegiamento e de Teriam o efeito contrário: ao inverter a desigualdade,
desigualdade hierárquica. poriam a nu o absurdo da ordem estamental.
Ferem os direitos constitucionais daqueles que passam a Não há base legal para demonstrar a
ser excluídos em consequência dessa aplicação. inconstitucionalidade de políticas de ação afirmativa.
Nosso grande desafio como nação, portanto, é não cair numa paralisia, a um
só tempo relativista e fatalista, ou seja, não aceitar, como traço definidor
da nação aquilo que criticamos. Não podemos continuar a dispensar
um tratamento formalmente igual aos que de fato são tratados como
pertencendo a um estamento inferior. Políticas de ação afirmativa têm, antes
de mais nada, um compromisso com o ideal de tratarmos todos como iguais.
Por isso, e só por isso, em certos momentos, em algumas esferas sociais
privilegiadas, que aceitamos tratar como privilegiados os desprivilegiados.
(GUIMARÃES, 2005, p. 196)
O fato é que vivemos numa sociedade desigual, e os mecanismos para mudar essa situação são
muitos e bastante polêmicos. Na próxima seção, discutiremos algumas teorias que visam à mudança
social.
Lembrete
A teoria da ação comunicativa, conceitualizada pelo sociólogo alemão Jurguen Habermas (1987),
afirma duas premissas:
• (1) a mudança é necessária no caso de grupos materialmente carentes ou regidos por normas e
instituições de caráter repressivo;
• (2) ela deve ser conduzida de modo a levar plenamente em conta a autonomia das populações
interessadas.
Ou seja, o autor desarticula os argumentos do relativismo por mostrar que, sem perder o senso
de ética e respeito mútuo, sociedades repressivas e miseráveis têm de mudar para melhorar suas
condições. Além disso, questiona também o etnocentrismo por propor um diálogo argumentativo
com tais populações.
Uma das justificativas para a atitude relativista é que não há padrões comuns que permitam um
acordo quanto ao conteúdo da mudança. Nesse caso, a ação afirmativa se apresenta como uma das
únicas soluções possíveis para mudar a situação de um grupo, por exemplo, excluído economicamente.
Relembrando Rouanet (1990), o relativismo tem ainda outra justificativa para recusar a mudança,
fortalecendo a crença de que
O relativismo pode ser compreendido como um modo de infantilizar as culturas e os povos; assim o
entende a antropologia pela luz da ação comunicativa.
Rouanet (1990) coloca uma ilustração que nos cabe perfeitamente em contexto:
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Introdução ao Pensamento Antropológico
A ação comunicativa trata todos os seres humanos como indivíduos passíveis de dialogar por
meio do raciocínio e da argumentação, capazes de conduzirem e escolherem seus próprios destinos.
Segundo o autor, o relativismo implica excluir do âmbito argumentativo os membros de certas culturas,
infantilizando-os. (ROUANET, 1990, p. 137)
Assumir que todos os aspectos de uma cultura são legítimos simplesmente em prol da diversidade
dispensa seus integrantes de argumentarem a favor dessa legitimidade.
Entre uma infantilização baseada no fato de que certas culturas são inferiores ou de que todas
são portadoras de uma sabedoria inata, o antropólogo comunicativo recusa, de todo, a estratégia da
infantilização:
Todos os homens são ou devem tornar-se iguais, sim, mas são iguais
por serem dotados do atributo comunicativo por excelência, que supõe
o direito à capacidade de apresentar argumentos e de refutá-los.
(ROUANET, 1990, p. 138)
Assim, o antropólogo encontra campo ético para dispor de argumentos contra uma ação que ele
considere injusta – o infanticídio, a tortura, a circuncisão feminina etc. – e se colocará pronto para
argumentar – e não impor – com os praticantes. Igualmente, ele dá razão aos ingleses quando proibiram
a prática indiana de queimar as viúvas na fogueira e os condena quando massacraram as populações
indígenas. (ROUANET, 1990, p. 136)
Como a teoria da ação comunicativa não nos impõe qualquer postura relativizante, não precisamos
sofrer dilema existencial algum em nosso repúdio à circuncisão feminina, feita a sangue frio e sem o
consentimento da parte envolvida:
Nessa perspectiva, a antropologia tem de tratar seus interlocutores como seres racionais, capazes de
argumentação.
Portanto, vale a pena tentar a relação argumentativa e investir na comunicação. A teoria da ação
comunicativa pressupõe que todos os povos são passíveis de dialogar e de expressar suas necessidades
e suas atitudes. Não se faz mais necessária a interlocução: os antropólogos não são mais os únicos seres
capazes de dizer aos nativos o que sua cultura significa, tanto para eles, quanto para o resto do mundo.
A antropologia, na perspectiva comunicativa, implica que todos os povos estudados têm capacidade
cognitiva de se expressar, e o diálogo é a ferramenta principal neste processo.
Dito isso, temos, portanto, um mecanismo que nem sempre é utilizado, mas que tem como objetivo
uma abrangência universal: os direitos humanos. Essa ferramenta almeja ultrapassar as fronteiras do
relativismo cultural, pois coloca limites às culturas, pensando no que é global: o ser humano que existe
além de sua cultura. Ela também limita o método comunicativo, pois restringe o diálogo em nome do
mesmo ser humano universal.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da
Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.
O movimento de universalização dos direitos humanos, ou seja, que articula um acesso universal
a tais direitos, compreendendo todas as raças, credos, sexos, orientações sexuais etc., sob a condição
máxima de serem humanos, constitui um passo importante na história recente da humanidade.
A Declaração surgiu exatamente após a Segunda Guerra Mundial (1940-45) como a resposta
humana às desumanidades e aos horrores cometidos durante o regime do nazismo, tendo em mente
que muitas atrocidades poderiam ser evitadas se um efetivo sistema de proteção internacional aos
direitos humanos existisse.
Dentre os pressupostos da Declaração de 1948, dois pontos são de suma relevância: (1) a universalidade
e (2) a indivisibilidade desses direitos.
1. Universalidade, ou seja, o alcance dos direitos humanos, é universal, enfatizando que a condição
de pessoa é o requisito único para a titularidade de direitos.
2. Indivisibilidade, uma vez que não se pode mais conceber direitos civis desconectados dos direitos
econômicos, políticos, sociais e culturais. Ou seja, a Declaração de 1948 faz um esforço abissal de
mostrar que a violência, a economia e a cultura são partes de um todo, enfim, não havendo como
desassociar o ser humano do meio.
Lembrete
Para que o termo universalização seja de fato legitimado, foi formado um sistema de defesa desses
direitos. Esse sistema é integrado por tratados internacionais de proteção que refletem a consciência
ética contemporânea compartilhada pelos Estados que o acolheram.
Esse artigo nos coloca que todos temos o direito de existir, independente de raça, religião, opção
sexual ou gênero. Ou seja, pressupõe a igualdade, mesmo cada indivíduo sendo diferente, pois a igualdade
que se propõe não é pela diferença, e sim pelos direitos.
Todas as diferenças entre as pessoas são passíveis de serem expressas, relembrando um pouco o
que discutimos no item da teoria da ação comunicativa, ou seja, a Declaração não institucionaliza a
diferença, mas a coloca no patamar da discussão, da argumentação. O décimo quarto artigo explicita
que toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem
interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios
e independentemente de fronteiras.
Existem fortes críticas acerca da validade e das raízes de ter a Declaração como mediador de conflitos.
Nota-se que a Declaração não é norma, nem lei; ela é uma linha de pensamento a ser seguida. Autores
como o ganhador de um prêmio Nobel, Amarthya Sem, acreditam que, se não houver um esforço dos
países em integrar na sua Constituição as metas da Declaração, os direitos humanos universais não
sairão do papel.
E não é que retornamos à nossa discussão inaugural desta unidade III? Se formos nos ater ao
relativismo cultural, a Declaração perde todo o seu valor.
Dentre os valores que são relativos e próprios a cada cultura particular, existe uma parcela deles que
é fundamental, irrevogável e que constitui um padrão mínimo legal. A Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948 buscou delimitar as fronteiras desse patamar da ética humana. Esses são os direitos
humanos.
Saiba mais
Conclusão e síntese
Traçamos, nessas três unidades, a jornada do pensamento social desde que ele se formalizou em
diversas disciplinas acadêmicas, tais como Sociologia, Antropologia (social e cultural), Ciência Política,
Filosofia, História, Geografia, Psicologia Social, Teoria Crítica, Estudos Culturais, entre outras.
Na Unidade I, nosso objetivo foi o de situar os futuros assistentes sociais no contexto do pensamento
social em seu berço: como o imperialismo moldou o pensamento social do início do século XX. Esse
contexto histórico é relevante, uma vez que, sem esse apoio, seria impossível compreender as raízes
do pensamento social, questão esta de tanta importância para que tenhamos em mente que o mesmo
existe em paralelo às ações das pessoas.
Devemos enfatizar a relação existente entre teoria e ação: as pessoas com as quais iremos trabalhar
são atores passíveis de moldar as formas de se teorizar a sociedade e, com isso, de definir formas de se
implementarem políticas públicas, ações sociais, entre tantas possibilidades.
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Introdução ao Pensamento Antropológico
Na Unidade II, continuamos na jornada do pensamento social, trazendo-o mais próximo para os dias
de hoje. No mundo contemporâneo, globalizado, temos diversas culturas se relacionando entre si de
forma jamais vista na História da humanidade.
As culturas sempre estiveram em contato e em diálogo no curso da História, mas hoje, por razões
referentes aos avanços nos meios de comunicação e transportes, temos um contato maior e mais
duradouro, intenso. Essa convivência gerou a necessidade de se organizar o mundo: tendo diversas
pessoas, oriundas de diversas culturas, dividindo um mesmo espaço, fez-se necessário delimitar as
fronteiras das possibilidades, proporcionar aos menos privilegiados este processo de convivência e,
assim, encontrar caminhos para uma coexistência harmoniosa.
A descolonização da África foi o estopim para tais mudanças, tais necessidades de organização. Por
isso, nos atemos tanto ao contexto histórico: devemos saber como o pensamento social se modificou e
se modifica em razão das ações das pessoas.
Na Unidade III, propusemo-nos a iniciar um caminho de análises e reflexões sobre como moldar a
organização necessária para que culturas diversas possam conviver juntas. Refletimos sobre o relativismo
cultural de forma crítica: seria esse um caminho para segregação e manutenção do status quo de vários
grupos, ou uma ferramenta emancipatória?
Buscamos mostrar um caminho comunicativo, em que as culturas possam dialogar entre si, no qual
os cientistas sociais sejam mediadores, em que pessoas oriundas de toda e qualquer cultura tenham o
direito de se expressar e de argumentar.
Essa teoria está de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em que o indivíduo é
a máxima; preveni-los de todos de sofrimentos e degradações é a premissa, e não sua cultura sendo a
máxima de pensamento, como acreditam os relativistas.
Propusemos, nessas três unidades, reflexões acerca dos parâmetros do pensamento social atual. Não
nos preocupamos em difundir soluções, tampouco dar respostas a tais questões. Ao lidarmos com pessoas,
estamos sempre imersos no universo subjetivo: não existem parâmetros objetivos de investigação e
intervenção social, pois jamais poderemos prever os atos escolhidos pelos indivíduos.
103
Unidade III
Conscientes dessa subjetividade, de que teremos de tomar decisões baseadas em nossos próprios
julgamentos, é que devemos nos dedicar a conhecer todas as formas possíveis de se compreender
o mundo. Essa jornada que percorremos nesse livro texto foi parte deste processo: refletir sobre
possibilidades de ação, analisando seus prós e contras.
As análises de Florestan Fernandes (FERNANDES, 1978), por exemplo, refletiam uma tendência geral
de interpretar a história do Movimento Negro como uma linha evolutiva, apresentando avanços de
acordo com a modernização da sociedade brasileira. Esses estudos partem da ideia de que o movimento
teve origem num estágio de anomia social dos negros, recém-saídos da escravidão, passando pela fase
da organização de seus primeiros jornais, até chegarem a um estágio mais consciente no qual puderam
refletir sobre a realidade racial brasileira.
Essa forma de analisar a história do Movimento Negro brasileiro tinha como concepção o modelo
estrutural-funcionalista, o qual associava as razões dos protestos apenas às causas econômicas. Desse
modo, a organização negra estaria voltada a integrar aquela população à sociedade, buscando um estilo
democrático de vida, inexistindo, assim, uma consciência de raça.
Nessa mesma linha, Georg Andrews (ANDREWS, 1998), apesar das críticas a Florestan Fernandes,
entende o Movimento Negro como resultado do processo de industrialização e considera as décadas de
1970 e 1980 como marco de sua conscientização racial.
Para os novos estudos sobre a temática, entender a identidade coletiva tornou-se a questão central,
uma vez as abordagens econômicas começam a ser questionadas. Pesquisas como a de Regina Pinto
(PINTO, 1993), por exemplo, buscam entender o histórico do Movimento Negro associado à luta em
definir o ser negro, ou seja, construir uma identidade não estigmatizada.
Saiba mais
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Introdução ao Pensamento Antropológico
Resumo
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Unidade III
Exercícios
Questão 1. Há um mito no Brasil de que a variedade de raças que aqui se encontraram se harmonizaram
por completo em suas relações e que, nesse sentido, o país não teria sofrido com a discriminação racial
após o fim da escravidão em 1888. Essa “mistura” pacífica de raças teria permitido que brasileiros de
diferentes descendências étnicas convivessem pacificamente, construindo um verdadeiro exemplo para
o mundo. Por essa razão, somos tidos como um país que não é racista.
O professor Osmundo de Araújo Pinheiro, ao escrever artigo sobre esse assunto, afirma:
O mito do excepcionalismo racial brasileiro tem conduzido, por outro lado, à percepção
de que o caso brasileiro de relações raciais é único no mundo. Este ideia está bastante
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Introdução ao Pensamento Antropológico
desenvolvida em Gilberto Freyre, mas também em diversos autores estrangeiros. Este mito
implica o reconhecimento de uma variante específica para a escravidão brasileira, mais branda
em relação a outros países. O autor “desmascara” esse excepcionalismo demonstrando que
existiu, também aqui, a institucionalização de práticas racialmente discriminatórias no que diz
respeito a imigração, educação e políticas públicas, assim como toda a violência intrínseca ao
regime do trabalho forçado. A partir de dados de sua pesquisa empírica, Hanchard argumenta
que discursos, tanto populares como de elite, conjugam a ideia de harmonia racial ao suposto
excepcionalismo. A principal consequência disso é que o cidadão comum não consegue
identificar, no Brasil, problemas de raça, produzindo-se uma ausência de reconhecimento
de que problemas de violência, discriminação e desigualdade de base racial existem de fato
entre nós. Os elementos-chave para a não-politização e o enfraquecimento da consciência
racial no Brasil seriam, para Hanchard: a) a assunção de que, devido à democracia racial, não
existe discriminação de raça no Brasil, ao menos não na intensidade de outros países; b) a
contínua reprodução e disseminação de estereótipos negativos com relação aos negros e de
imagens positivas associadas aos brancos, o que resulta em dificuldades para a ação coletiva
organizada; c) coerção e ameaças para os negros que pretendem ir de encontro a padrões
assimétricos de relações raciais.
Hanchard analisa as tentativas históricas de organização política dos negros no Brasil e chama
a atenção para as transições na ênfase ideológica e na ação política dos diversos movimentos
negros históricos. O autor procura destacar a transição de movimentos integrativos ou
assimilacionistas, característicos da primeira metade do século XX, para o afro-marxismo
contemporâneo, emergente a partir dos anos 70, definido como tendo desenvolvido uma
crítica global à sociedade e não mais mobilizado por uma demanda meramente reinvidicativa.
A questão cultural foi decisiva neste período formativo do moderno movimento negro e parece
central na crítica que Hanchard dirige a estes grupos. Expressões como black, blackness e
negritude passaram a dominar o vocabulário da época. Grande parte dos grupos concentrou
sua ação simbólica sobre raízes africanas, baseando sua prática a partir daí, de modo que a
negritude passou a ser a pedra fundamental para a definição de determinado sujeito político
negro. Este processo associou-se à onda black soul na ênfase para a aparência, os cabelos
etc.
a luta armada foram ignorados. Mais importante, não teriam existido versões brasileiras de
boicotes, piquetes, desobediência civil ou luta armada.
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-546X2002000200009>.
Acesso em: 4 abril 2011.
a) A construção de uma visibilidade internacional não racista contribuiu muito para favorecer a
entrada de imigrantes no Brasil e, com isso, aumentar a produtividade e a evolução econômica.
b) O mito em torno da pacífica convivência racial no Brasil serviu para desestimular os
negros a se organizarem para lutar por seus direitos, ao contrário do que ocorreu nos
Estados Unidos da América do Norte, em que a tensão permanente entre brancos e
negros conduziu à formação de um movimento de enfrentamento e de luta por direitos
iguais para ambos.
c) A harmonia racial não é um mito, ao contrário, é parte significativa da realidade brasileira, e não
pode ser considerada negativa. Reconhecer a igualdade formal entre os habitantes do país serviu
para evitar que movimentos negros construíssem um distanciamento entre as raças no Brasil,
como aconteceu em outros países.
d) A proximidade das diferentes raças no Brasil se expressa na cultura e no acesso ao trabalho e à
educação, razão pela qual os movimentos que tentaram debater a questão da discriminação racial
não tiveram êxito algum.
e) O brasileiro tem traços de população pacífica e ordeira desde as épocas mais remotas. Por aqui são raros
movimentos que concentram a população e as leva para as ruas, por exemplo, para reivindicar direitos.
Por isso não conhecemos ao longo da história revoltas ou atitudes reivindicatórias dos negros.
A) Incorreta.
Justificativa: não está correta porque os imigrantes que vieram para o Brasil levaram em conta,
principalmente, as possibilidades de êxito econômico e o fato de o país não possuir histórico de
envolvimento em conflitos internos ou externos.
B) Correta
Justificativa: Para o sociólogo ErvinGoffman (1988), atributos indesejados como a cor da pele,
religião, opção sexual, deficiência física, entre tantas possibilidades, são considerados estigmas. Goffman
108
Introdução ao Pensamento Antropológico
aponta que o estigma estabelece uma relação impessoal entre indivíduo estigmatizado e o indivíduo não
estigmatizado. O sujeito estigmatizado não aparece na relação com o outro como uma individualidade
independente, mas como sendo uma representação; representação de certas características típicas,
e não mais a pessoa que é. É o que Goffman chama de identidade virtual (as representações que
são atribuídas ao sujeito estigmatizado) e identidade real. Nasce, aqui, um conflito. Para o autor, os
estigmatizados não recebem da sociedade as mesmas oportunidades, não têm o mesmo valor social
e são identificados por uma imagem deteriorada. No Brasil, apesar da influência das teorias sociais
racistas que surgiram no século XIX e pretendiam o embranquecimento da população com vistas à
aproximação do ideal racial europeu, criou-se o mito da democracia racial, ou seja, a crença de que
o Brasil é uma terra sem impedimentos legais e institucionais para a igualdade racial. George Reide
Andrews, que realizou pesquisa sobre as relações sociais em São Paulo, durante o período de 1940 a
1988, descreveu a discriminação sofrida pela população negra no mercado de trabalho, nos clubes sociais
e nas associações privadas. As consequências dessas barreiras raciais se refletem na subordinação social
e econômica do grupo negro. Mas o mito da suposta harmonia racial também trabalhou no sentido de
retardar a organização de movimentos negros de reivindicação e debate por direitos, porque os que
participavam desses movimentos eram duplamente estigmatizados, como negros e como “injustos”,
porque supostamente não havia tensão racial no Brasil. Somente com muita persistência a questão
negra adquiriu contornos de um debate mais amplo, mais presente na sociedade brasileira que hoje
possui um ministério do governo executivo para tratar de políticas públicas específicas para os negros.
Mas o debate em torno de cotas raciais e de resgate da dívida brasileira com a população negra ainda
está no início e é bastante polêmico.
C) Incorreta.
Justificativa: não está correta porque o Brasil possui manifestações racistas contra negros, embora
trate esse tema com menor amplitude de maneira a cultivar o mito da harmonia racial. As principais
manifestações racistas estão presentes nas oportunidades de acesso a emprego, a educação e as demais
formas de ascensão social.
D) Incorreta.
Justificativa: não está correta conforme se pode compreender com a leitura da afirmação acima.
E) Incorreta.
Justificativa: não está correta porque a história brasileira tem muitos momentos de manifestação
da população negra, desde o Quilombo dos Palmares. Os movimentos sociais pela igualdade de direitos
dos negros sempre existiram no Brasil e, exatamente por isso, houve uma preocupação institucional
em se constituir um espaço governamental específico para tratar de políticas públicas que garantam a
igualdade racial no país.
Questão 2. A prática de Serviço Social sob o prisma da teoria da ação comunicativa propõe ao
profissional que atue em condições de expressar suas opiniões sem o constrangimento de nenhum
dilema existencial, porque reconhece no outro a capacidade de argumentação. Além disso, o assistente
109
Unidade III
social deve primar por levar em conta a autonomia dos grupos sociais objeto de seu trabalho, porque
todas as culturas são capazes de escolher seus próprios destinos. O diálogo é o elemento fundamental
da prática do profissional de Serviço Social. Por meio de um diálogo encorajador e aberto, podemos
afirmar que o que se espera atingir como objetivo é:
110
Introdução ao Pensamento Antropológico
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Disponível em: L’etios jeune afrique du continent african. Paris, Les Éditions du Jaguar, 1993.
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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000